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Centro Universitário da Região da Campanha Curso de Farmácia CARTILHA DE PLANTAS MEDICINAIS Alto do Camaquã/RS · Distrito de Palmas · Município de Bagé/RS Organizadores Guilherme Cassão Marques Bragança Patrícia Albano Mariño Guilherme Cassão Marques Bragança Patrícia Albano Mariño Cartilha de plantas medicinais Alto do Camaquã/RS · Distrito de Palmas · Município de Bagé/RS Ediurcamp Bagé/2020 Editora do Centro Universitário da Região da Campanha Av. Tupy Silveira, 2099 CEP 96400-110 - Bagé - RS - Brasil Telefone: (53) 3242-8244 – Ramal 231 e-mail: ediurcamp@urcamp.edu.br site: www ediurcamp.urcamp.edu.br FAT - Fundação Áttila Taborda Presidente: Lia Maria Herzer Quintana URCAMP – Centro Universitário da Região da Campanha Reitora: Lia Maria Herzer Quintana Vice-reitor: Fabio Josende Paz Pró-Reitora de Ensino: Virgínia Paiva Dreux Gerente Financeiro: Nélson Sonaglio Editor(a) chefe: Ana Cláudia Kalil Huber Editor(a) Auxiliar: Clarisse Ismério Assessora Técnica: Bibl. Maria Bartira N. C. Taborda Diagramação e arte gráfica: Vinícius R. da Silva CONSELHO EDITORIAL Ana Cláudia Kalil Huber Dra. (Urcamp) Clarisse Ismério Dra. (Urcamp) Elisabeth Cristina Drumm Me. (Urcamp) Fábio Josende Paz Me. (Urcamp) Fernando Pereira de Menezes Dr. (Urcamp) Marilene Vaz Silveira Me. (Urcamp) Sandro Moreira Tuerlinckx Dr. (Urcamp) Os textos aqui reproduzidos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C327 Cartilha de plantas medicinais: Alto do Camaquã/RS,distrito de Palmas, município de Bagé/RS./ Organizadores Guilherme Cassão Marques Bragança e Patrícia Albano Mariño. - Bagé: Centro Universitário da Região da Campanha – URCAMP Curso de Farmácia, 2020. C327 16p. C327 ISBN: 978-65-86471-00-7 C327 1.Plantas Medicinais – Bagé, RS. I.Bragança, Guilherme Cassão Marques. Org. II.Mariño, Patrícia Albano. Org. III.Título. CDD: 581.634 Catalogação elaborada pelo Sistema de Bibliotecas FAT / Urcamp Bibliotecária Responsável: Maria Bartira N. C. Taborda CRB: 10/782 3 A URCAMP NA COMUNIDADE: O CURSO DE FARMÁCIA E SUA RESPONSABILIDADE SOCIAL O Centro Universitário da Região da Campanha – URCAMP – é mantido pela Fundação Átilla Taborda, uma instituição comunitária e autônoma financeira e administrativamente. Apresenta hoje 5 Campi, e tem em Bagé sua sede, onde é ofertado o Curso de Farmácia. Localizada na Região da Campanha, promovendo o desenvolvimento regional através do ensino, da pesquisa e da extensão, a URCAMP tem por missão “Produzir e socializar o conhecimento para a formação de sujeitos socialmente responsáveis que contribuam para o desenvolvimento global”. A responsabilidade social da URCAMP reafirma-se nas suas conquistas que trazem visibilidade e desenvolvimento para a nossa região, possibilitando o seu estabelecimento como pólo de investimento em diferentes setores. O compromisso com a comunidade está encravado em sua essência, pois é uma instituição comunitária, ou seja, não visa lucro e não é mantida pelo governo, constituindo-se de um patrimônio público, o que fortalece a participação social, edificando a co-participação onde todos são protagonistas. Em 1996 constituiu-se oficialmente o Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung) do qual a URCAMP faz parte. Este consórcio tem por objetivo fortalecer as instituições, favorecendo a comunidade acadêmica gaúcha, com conseguinte retorno das ações como respostas às questões sociais. Formando uma consolidada estrutura de educação com base na ciência e tecnologia, o Comung é hoje o maior sistema de educação superior que atua no Rio Grande do Sul, promovendo através de políticas públicas a formação de profissionais e o desenvolvimento dos mais diferentes setores em todas as regiões do estado. A Campanha Gaúcha ou Região da Campanha foi o ponto escolhido para que se alicerçasse a URCAMP, posteriormente difundida a outros confins do Estado. Esta região é marcada por uma natureza exuberante, farta em fauna e flora com pontos ainda intocados pelo homem. Com formações rochosas, animais silvestres e adaptados, plantas nativas e cultivadas, a Campanha é uma das mais importantes setorizações territoriais do Rio Grande do Sul, inserida totalmente no Bioma Pampa, sendo a economia embasada na agricultura e pecuária. Historicamente o Curso de Farmácia consolida-se na Região, visto que a partir de uma demanda regional fortemente estabelecida foi implementado na URCAMP no ano de 1999, não havendo à época, como ainda se observa, cursos nesta área em nossa região. Neste sentido, o Curso provê profissionais que são absorvidos pelo mercado e permite a qualificação continuada dos profissionais Farmacêuticos. Em Bagé, local de nascimento da URCAMP, há uma região que antes mesmo da fundação da cidade ocorrida a 1811 atraía famílias por sua beleza natural, campos férteis e abundância de água. Em meados dos anos 1700 os campos de Bagé serviram de leito para guardiões históricos dos ideais revolucionários, cada qual com suas particularidades e lutando pelas causas que julgavam melhor respeitar seus preceitos. Com riqueza natural, muitas famílias pensaram aqui fixar residência, e o fizeram às margens do Rio Camaquã, região à época, dominada por grandes palmeiras, de onde surgiu o nome PALMAS. 4 Região forte por excelência, conta ainda com moradores descendentes dos primeiros povoadores, como é o caso das famílias Cassão, Collares, Franco e Simões Pires, dentre outras. Como já mencionado, a região apresenta recursos vegetais inestimáveis, utilizados, sobretudo, para a alimentação e como recursos medicinais para prevenção e tratamento de doenças. As utilizações terapêuticas advindas de estruturações culturais e sociais trazem consigo uma história de força e energia adornadas de simbologias relacionadas diretamente com elementos da natureza como lua, sol, estrelas, florações e mesmo comportamentos animais. As preparações medicinais em sua maioria guardam ainda seus usos pelas transmissões familiares embasadas na experimentação empírica e dedutiva, com as mais diversas contextualizações que auxiliam nas compreensões de colheita, armazenagem e utilização, tendo por base os resultados observados. Todavia, torna-se importante a materialização dos conhecimentos a fim de que os mesmos possam ser desfrutados pelas gerações vindouras, no sentido claro do entendimento histórico, antropológico e científico das concepções outrora estabelecidas e tão fortemente prevalentes. Com esta grande e profunda motivação, atendendo a uma demanda da comunidade Palmense, em nome da Associação para Grandeza e União de Palmas (AGrUPa), o Curso de Farmácia da URCAMP realizou uma visita à região, guiados pelo Prof. Guilherme Cassão Marques Bragança – também Palmense de nascimento –, sendo recebido pela Presidente da entidade, a Srª Vera Collares, e pela moradora e grande conhecedora das plantas e seus usos, Srª Rita Geisler. A visita que durou uma manhã contou com três grandes momentos, o primeiro foi uma breve explanação sobre as plantas que seriam encontradas, seguindo de uma visita guiada ao campo para identificação das espécies e familiarização com as mesmas. Em seguida, todos foram recepcionados na casa da Srª Vera Collares, onde esperados com um maravilhoso bolo, sobre um quiosque coberto de Capim Santa Fé, procederam as entrevistas quanto ao uso dos chás. Então, sob orientação da Profª Patrícia Albano Mariño, os acadêmicos do Módulo IV (O Farmacêutico na Ciência e Tecnologia de Produtos Naturais) desenvolveram uma cartilha ilustrada que traz de forma clara, objetiva e didática a consolidação dos aspectos aprendidos na comunidade, com embasamento científico e prezando pela saúde. As ilustrações são obras do também acadêmico do Curso de Farmácia, Lucas Ollé, que com extrema maestria traduziu os delicados e fundamentais entendimentos, eternizando-os a nanquim nas alvas folhas que contemplam nosso trabalho. Neste sentido, o Curso deFarmácia da URCAMP oferece esta cartilha com o objetivo de permitir a manutenção da história e a sua indissolúvel relação com a promoção da saúde. 5 O uso de plantas com finalidade terapêutica pela sociedade é uma prática tradicional, passada entre as gerações e visa, além da cura ou redução de sinais e sintomas de moléstias, a manutenção acerca dos conhecimentos sobre a vegetação do ambiente habitado por uma determinada comunidade. Mesmo após o desenvolvimento da indústria farmacêutica e do surgimento de fármacos sintéticos, o uso de produtos naturais ainda é concebido como forma de tratamento em diversas regiões do mundo. Em países desenvolvidos, verifica-se inclusive, no dias atuais, um aumento na procura por métodos naturais de tratamento, muitas vezes ocasionado pela não resposta biológica e/ou pelo aparecimento de reações adversas decorrentes do uso de medicamentos industrializados. Enquanto isso, em países mais pobres, o uso de plantas medicinais é impulsionado por políticas públicas de saúde carentes, acompanhadas em dificuldades de acesso tanto à consulta médica quanto ao medicamento. Entretanto, mesmo sendo produtos oriundos da natureza, as plantas medicinais devem ser ingeridas com cautela, uma vez que as atividades farmacológica e tóxica estão relacionadas à produção de substâncias (metabólitos secundários) pelas mesmas. Vários são os fatores que influenciam a produção de metabólitos secundários em uma espécie vegetal, como o tipo e condições do solo onde a mesma se encontra, presença de poluentes no ambiente, índice pluviométrico, época do ano, idade no momento da colheita da planta, dentre outros. Igualmente, os diferentes métodos de preparo e solventes utilizados previamente ao uso das plantas, interferem nos metabólitos extraídos. Como qualquer outro medicamento, o uso irracional de plantas medicinais pode não traduzir os efeitos benéficos esperados ou até mesmo conduzir ao aparecimento de efeitos adversos ou tóxicos. Muitas vezes as pessoas desconhecem as propriedades químicas e os malefícios que o uso incorreto das mesmas pode ocasionar. A crença na “naturalidade inócua” dos produtos naturais não é facilmente contradita, pois as evidências de intoxicações e reações decorrentes de seu uso dificilmente chegam aos usuários.Associado a isto, o consumo de plantas ocorre, em sua maioria, por automedicação, através da indicação de parentes e amigos. Assim, esta cartilha foi elaborada com o objetivo de colaborar com uso racional de plantas medicinais utilizadas pela comunidade residente na região do Alto do Camaquã/RS, não se configurando como um manual de automedicação. O farmacêutico é um profissional de saúde habilitado ao aconselhamento e prescrição de produtos naturais, uma vez que é contemplado durante a academia com disciplinas que abordam o estudo dos princípios ativos naturais, sejam eles vegetais ou animais. O USO DE PLANTAS MEDICINAIS 6 1. Infusão A infusão geralmente é indicada no preparo de plantas medicinais onde se utiliza as partes moles da mesma como folhas, flores, inflorescências e ramos. Para o preparo da infusão deve-se derramar água fervente sobre a quantidade da planta indicada em um recipiente. Tampar/cobrir este recipiente, abafando por 5-10 minutos e, após este tempo, coar antes de beber (Figura 1). Figura 1: Ilustração sobre modo de preparo de chá por Infusão. Arte: Lucas Ollé PREPARO DAS PLANTAS MEDICINAIS 7 2. Decocção ou cozimento A decocção é o modo de preparo indicado na utilização das partes duras das plantas, como caules, raízes, cascas, cipós, frutos ou sementes. Para seu preparo, deve-se ferver juntamente com a água a quantidade da planta indicada por aproximadamente 10 a 20 minutos e após, coar, esperar amornar e beber (Figura 2). 3. Maceração No preparo de plantas através da maceração, deve-se amassar ou picar a planta a ser utilizada. Em seguida, cobrir a planta com o líquido indicado frio e deixar descansar. Após decorrido o tempo indicado, deve-se coar e estará pronto para o consumo (Figura 3). O tempo no qual a planta ficará em repouso dependerá da parte utilizada: - partes duras (raízes, cascas, sementes, cipós): de 10 a 24 horas - partes moles (folhas, flores, ramos): de 10 a 12 horas Muitas vezes utilizam-se misturas de álcool e água no preparo por maceração, sendo também conhecidos como Tinturas ou Alcoolaturas caseiras. Esta mistura com álcool ajuda na Figura 2: Ilustração sobre modo de preparo de chá por Decocção. Arte: Lucas Ollé 8 conservação, porém é recomendado diluir esta preparação em água antes da ingestão. Deve-se atentar para a contaminação microbiana dos macerados antes da ingestão, principalmente em épocas do ano de altas temperaturas e umidade. 4. Xarope O xarope geralmente é preparado com plantas utilizadas para problemas respiratórios. O modo de preparo consiste em colocar 1 xícara de açúcar e uma xícara de água numa panela e aquecer até reduzir em ponto de calda, com cuidado para não caramelizar. Em seguida, colocar o chá do vegetal desejado (já coado) à esta calda e, se necessário, aquecer por cerca de 3 minutos. Após, colocar em frasco bem fechado e conservar em geladeira. Cuidados especiais: por conter açúcar em sua formulação, esta preparação pode fermentar com facilidade e, por isso, deve ser guardado em geladeira e em recipientes limpo e bem fechado. Antes de consumir, verificar se não há grumos brancos (mofo) e cheiro azedo. Figura 3: Ilustração sobre modo de preparo de chá por Maceração Arte: Lucas Ollé 9 5. Suco O suco é obtido espremendo-se o fruto ou numa peneira ou em um liquidificador. Deve ser preparado no momento em que vai ser usado. Pode ser adoçado com açúcar ou adoçante, à gosto. 6. Sumo Para o prepraro do Sumo das plantas, com o uso de um pilão deve-se socar as folhas ou frutos da planta escolhida até extrair o seu suco. Depois, basta coar e está pronto para uso. Se as folhas ou frutos da planta utilizada conterem pouca água, pode-se deixá-los de molho por 12 horas em um recipiente com água antes de preparar o sumo. 7. Unguento O unguento pode ser preparado a partir do sumo da planta, utilizando gordura animal ou vegetal. Deve-se aquecer no fogo a gordura escolhida até derreter. Em seguida, adicionar o sumo da planta e misturar até esfriar e está pronto para uso local. 8. Compressas e Emplastos/Cataplasmas Geralmente estas preparações são úteis para o alívio de dores articulares ou contusões. Compressas: prepara-se um chá da planta por decocção bem concentrado. Após esfriar, aplicar no local dolorido com um pano limpo ou algodão. Emplastos: consiste em socar/amassar a planta fresca num pilão até formar uma pasta que deve ser aplicada no local afetado enrolada em pano fino, algodão ou gaze. Não deve ser utilizao em ferimentos abertos. 9. Uso em inalação As plantas utilizadas por inalação geralmente apresentam a indicação para tratamentos de problemas respiratórios como gripes e resfriados. Para o preparo, deve-se ferver a água e verter sob uma colher de sopa da planta escolhida. Depois de um pouco mais frio, deve-se inalar este vapor. 10. Uso em gargarejo O uso de plantas na forma de gargarejo é útil no tratamento de afecções da boca e garganta. Prepara-se um chá bem concentrado da planta por decocção e, após esfriar, faz-se o bochecho ou gargarejo até 3x ao dia. 10 DOSAGEM USUAL DOS CHÁS - Adultos: consumir 1 xícara de chá até 4x por dia - Crianças: a dosagem em crianças varia conforme a idade: · 1 a 2 anos: meia xícara de chá 2 x por dia · 2 a 5 anos: meia xícara de chá 3 x por dia · 6 a 15 anos: meia xícara de chá 4 x por dia DICAS GERAIS IMPORTANTES - Somente utilizar plantas que são conhecidas; - Preferencialmente coletar as plantas que irá utilizar em locais não poluídos e sempre escolher por plantas sem machucados, queimaduras do sol ou geada e sem pragas; - Utilizar água filtrada ou fervida; - Lavar as mãos e as unhas antes do preparo das plantas medicinais; - Manteros cabelos presos durante o preparo das plantas; - Observar se todos os utensílios que serão utilizados estão limpos; - Não armazenar os chás, pois são feitos com água e estragam rapidamente. 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 Referências Bibliográficas ARGENTA, S. C. et al. Plantas medicinais: cultura popular versus ciências. Vivências. vol.7, n.12: p.51-60, 2011. BADKE, M.R. Saberes e práticas populares de cuidado em saúde com o uso de plantas medicinais. Texto Contexto Enferm. vol. 21, n. 2: p. 363-70, 2012. MATOS, F. J.; BANDEIRA. M. A. Manual de orientação farmacêutica sobre preparação de remédios caseiros com plantas medicinais. Fortaleza : Projeto Farmácias Vivas, 2010. 40 p. SCHNORR, D. M.; FIORENTIN, G. L.; DIAS, P. R. (org.). Cartilha ilustrativa: plantas medicinais. Unisinos, 22 p. SILVA, F. J. et al Plantas medicinais e suas indicações ginecológicas: estudo de caso com moradoras de Quixadá, CE, Brasil. R. Bras. Bioci. v. 14, n.3, p. 193-201, 2016. SHULZ, V.; HANSEL, R.; TULER, V. Fitoterapia racional: um guia de fitoterapia para as ciências de saúde. 4 ed. Manole : São Paulo, 386 p. VEIGA-JUNIOR, V.F. Estudo do consumo de plantas medicinais na Região Centro-Norte do Estado do Rio de Janeiro: aceitação pelos profissionais de saúde e modo de uso pela população. Rev Bras Farmacogn, v. 18: p. 308-313, 2008. 27 Produzir e socializar o conhecimento para a formação de sujeitos socialmente responsáveis que contribuam para o desenvolvimento global. M IS S Ã O
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