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52 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 Unidade V Unidade V 5 AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA DO TILS O Tils, até pouco tempo atrás, não era considerado profissional, ou seja, não era remunerado em qualquer situação. Não se tinha preocupação com sua formação ou treinamento para o exercício da profissão. A história da composição do ILS se embaralha com a própria história da língua de sinais (ROSA, 2008). Devido à inexistência de registros oficiais sobre a atuação do intérprete de língua de sinais na sociedade, algumas lacunas provavelmente nunca chegarão a ser preenchidas, especialmente a respeito daqueles períodos em que as relações de poder conferiam demasiado prestígio à oralidade, proibindo e desestimulando o uso da língua de sinais pela comunidade surda. No Brasil, a profissão de intérprete de língua de sinais só foi reconhecida em 2010, pela Lei nº 12.319. Por essa razão, essa atividade abarcou profissionais de diferentes áreas, como pedagogos, fonoaudiólogos, pastores, entre outros. Vale ressaltar que esse trabalho tem sido desenvolvido por profissionais que, em diversas situações, realizam o trabalho de interpretação pelo envolvimento que possuem com os grupos e/ou organizações de surdos, pois nem sempre é possível esperar remuneração (ROSA, 2003). A Língua Brasileira de Sinais – Libras foi regulamentada no Brasil pelo Decreto Federal nº 5.626/2005 e em seu reconhecimento linguístico e legal existe a menção, inclusive, ao lançamento de um teste de proficiência linguística. Anteriormente ao decreto, não havia nenhuma exigência de proficiência linguística para com o Tils, ou seja, qualquer pessoa que soubesse minimamente Libras poderia exercer a profissão. A partir do referido decreto, foi lançado, pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC, o Exame Nacional de Certificação de Proficiência em Língua Brasileira de Sinais e o Exame Nacional de Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa, o Prolibras, em 2006. Segundo Pereira (2008), antes da implantação do Prolibras já existiam entrevistas e bancas de seleção para a entrada em cursos de preparação para ILS que, explícita ou implicitamente, também se dispunham a verificar a proficiência linguística em Libras. No entanto, mesmo tendo passado por exames de proficiência, persiste por parte dos surdos e de quem os contrata uma falta de confiabilidade nos ILS. Poucas pessoas têm autoridade suficiente para determinar quem é proficiente ou não em língua de sinais. A precariedade de domínio da língua de sinais de muitos intérpretes leva a situações de descrédito nos serviços de interpretação, construção de uma imagem não profissional dos intérpretes, desvalorização da própria língua de sinais e descontinuidade no desenvolvimento da competência tradutória (PEREIRA, 2008). Logo, “devemos ter em mente que é imprescindível para o tradutor e intérprete ter uma ótima proficiência bilíngue, mas que nem toda pessoa considerada bilíngue possui competência tradutória”, como bem alerta Hurtado Albir (2005, p. 19). 53 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 TRADUÇÃO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL UM PANORAMA DA TEORIA À PRÁTICA A proficiência bilíngue e a competência tradutória são, portanto, imprescindíveis à função do intérprete. Mas, se não estamos atestando de forma eficiente a proficiência dos ILS em Libras, o que acontecerá com as habilidades que dependem dela para se desenvolverem? Segundo Pereira (2008, p. 2), A proficiência linguística dos intérpretes de língua de sinais parte da área da Linguística Aplicada e faz interfaces com os Estudos Surdos, pois os ILS trabalham diretamente com as pessoas surdas, e com os Estudos da Tradução, que fundamentam o exercício dos ILS, embora a Tradutologia seja muitas vezes esquecida nos cursos de formação de intérpretes. O estudo da Libras, como segunda língua, carece de investigações que deem suporte às práticas pedagógicas de ensino‑aprendizagem da língua de sinais para pessoas ouvintes, seja para o bilinguismo corrente dos profissionais, familiares e interessados na área da surdez, seja para o bilinguismo profissional na figura dos ILS. De acordo com Skliar (1998), os estudos surdos podem ser definidos como uma área de pesquisas e de encaminhamentos políticos que, através de um conjunto de concepções linguísticas, culturais, comunitárias e de identidades, redefine os discursos sobre as pessoas surdas a partir de uma concepção sociocultural e antropológica da surdez. 5.1 Histórico e apresentação do exame Prolibras Os Tils atuam, prioritariamente, como intermediadores entre sujeitos surdos e ouvintes. Com o objetivo de testar a competência linguística das pessoas que se intitulavam intérpretes, criou‑se o Prolibras, certificação exigida em quase todos os concursos públicos existentes no país. O exame Prolibras é uma combinação de um exame de proficiência propriamente dito e uma certificação profissional proposta pelo Ministério da Educação como uma ação concreta prevista no Decreto nº 5.626/2005, decreto que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, chamada “Lei de Libras”. Basicamente, esse exame objetiva avaliar a compreensão e produção na língua brasileira de sinais – Libras. O exame Prolibras não substitui a formação em todos os níveis educacionais (PROLIBRAS, 2006). O exame Prolibras vem resolver uma demanda de curto prazo, já que os cursos de graduação para a formação de professores de Libras e de tradutores e intérpretes de Libras e língua portuguesa começaram a ser oferecidos no país recentemente e o prazo de formação é mais longo. Os cursos de bacharelado em Tradução e Interpretação de língua de sinais tiveram início em 2008, na modalidade de ensino a distância, nas universidades públicas de algumas capitais do Brasil, tendo como instituição coordenadora a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. 54 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 Unidade V De acordo com o Decreto nº 5.626/2005, o exame Prolibras deve ser empregado da seguinte forma: Art. 7º – Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste decreto, caso não haja docente com título de pós‑graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis: I – professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pós‑graduação ou com formação superior e certificado de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovido pelo Ministério da Educação; II – instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação; III – professor ouvinte bilíngue: Libras‑língua portuguesa, com pós‑graduação ou formação superior e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação. O referido decreto ainda esclarece quais aspectos devem ser avaliados no exame de proficiência, bem como a constituição da banca avaliadora, ao dizer: Art. 8º – O exame de proficiência em Libras, referido no art. 7º, deve avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua. § 1º O exame de proficiência em Libras deve ser promovido, anualmente, pelo Ministério da Educação e instituições de educação superior por ele credenciadas para essa finalidade. § 2º A certificação de proficiência em Libras habilitará o instrutor ou o professor para a função docente. § 3º O exame de proficiência em Libras deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento em Libras, constituída por docentes, surdos e linguistas de instituições de educação superior. Vale ressaltar que aqueles intérpretes que possuem curso de pós‑graduação não precisam apresentar o teste de proficiênciado Prolibras. O próprio decreto não especifica a diferença entre um exame de proficiência de língua e uma certificação de nível superior, dando margem a diferentes interpretações sobre o mesmo assunto. Normalmente, o exame de proficiência visa identificar a proficiência de um falante em uma determinada língua, enquanto a certificação “habilita” a pessoa para o exercício da profissão. No caso específico do 55 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 TRADUÇÃO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL UM PANORAMA DA TEORIA À PRÁTICA exame Prolibras, o exame de proficiência identifica a proficiência na Libras e certifica o candidato para o exercício de duas profissões: o ensino da Libras e a tradução e interpretação da Libras e do português. A partir dessa proposição, o Ministério da Educação reuniu uma comissão de profissionais especializados em Libras para definir a forma de sua aplicação. Essa comissão discutiu sobre o caráter do exame e todos os seus membros observaram a dificuldade em realizar um exame com cunho misto: proficiência e certificação. No entanto, ao mesmo tempo, a própria comissão entendeu a necessidade de implementar o exame, conforme previsto no Decreto nº 5.626/2005. Essa comissão delineou, assim, um documento básico sobre o exame Prolibras e considerou adequado constar explicações sobre a língua de sinais, o formato do exame, o perfil dos profissionais a serem certificados e os procedimentos de aplicação, definindo, portanto, o formato das provas que avaliariam os candidatos. O documento que foi o resultado do trabalho da comissão definiu que o Prolibras seria promovido pelo Ministério da Educação – MEC em parceria com uma ou mais instituições de ensino superior, lembrando que a maior necessidade de contratação de intérpretes era para as instituições de ensino, como resultado da política de inclusão do país. De acordo com esse documento, o exame Prolibras tem como objetivos: (1) certificar a proficiência em Libras, de pessoas, surdas ou ouvintes, com escolaridade de nível superior ou médio completo, para o ensino da disciplina em cursos de formação de professores e de fonoaudiólogos e (2) certificar a proficiência em tradução e interpretação da Libras/Língua Portuguesa/Libras, para o exercício dessa função, prioritariamente, em ambientes educacionais (PROLIBRAS, 2006). O exame é realizado em duas etapas. A primeira consiste na prova objetiva em Libras, gravada em DVD, de caráter eliminatório, comum para os dois grupos de participantes, e é eliminatória. Ela é constituída de questões de múltipla escolha que avaliam a compreensão da Libras, conhecimentos sobre legislação específica da Libras e ética profissional. Essa primeira etapa é essencial, porque possibilita medir o quanto o candidato compreende da língua de sinais. A segunda etapa do Prolibras é constituída por partes diferenciadas para cada grupo participante: • certificação de proficiência em Libras: prova didática em Libras; • certificação de proficiência em tradução e interpretação de Libras: prova prática de tradução e interpretação da Libras‑Língua Portuguesa‑Libras. As provas práticas são elaboradas a partir de dois níveis de exigência em cada categoria: • Categoria Ensino de Libras: — instrutor de Libras – nível médio; — professor de Libras – nível superior. 56 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 Unidade V • Categoria Tradução e Interpretação da Libras‑Língua Portuguesa‑Libras: — Tradutor e intérprete de Libras‑Língua Portuguesa – nível médio; — Tradutor e intérprete de Libras‑Língua Portuguesa – nível superior. Para a categoria Ensino de Libras, o candidato realiza uma prova didática em Libras (sobre temas sorteados no dia da prova objetiva) com 15 minutos de duração para cada participante. Para a categoria Tradução e Interpretação da Libras‑Língua Portuguesa‑Libras, o candidato realiza uma prova prática de tradução e interpretação da Libras‑Língua Portuguesa‑Libras, com temáticas relacionadas à educação, com dez minutos de duração para cada participante. O perfil dos participantes também foi delineado pela Comissão do Exame Prolibras. Podem participar do Prolibras profissionais surdos e ouvintes, com nível médio completo ou superior completo, que possuam conhecimentos sobre o uso e o ensino da Libras ou sobre a Tradução e Interpretação da Libras‑Língua Portuguesa (ouvintes). Para que o candidato participe do exame de proficiência em Libras, é necessário ter os seguintes requisitos: • formação de nível superior, fluente em Libras, com habilidades metodológicas e didático‑pedagógicas para a função de professor de Libras; ou • formação de nível médio completo, fluente em Libras, com habilidades metodológicas e didático‑pedagógicas para a função de instrutor de Libras. Aqueles que pretendem participar do exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras ‑ Língua Portuguesa precisam ter os seguintes requisitos: • formação de nível superior, com competência para realizar a interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva; • formação de nível médio completo, com competência para realizar a interpretação de textos, palestras, conferências, discursos, eventos, aulas, atividades didático‑pedagógicas e outras. É recomendável que as pessoas certificadas pelo Prolibras busquem cursos que lhes permitam ter as condições de formação docente ou de tradução e interpretação exigidas pela Lei de Diretrizes e Bases – LDB. O exame Prolibras foi inédito no país, fato que demandou algumas definições, sem nenhum parâmetro de acerto ou erro. Como todo processo educacional e de avaliação, esse exame é passível de constante revisão e aprimoramento. 57 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 TRADUÇÃO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL UM PANORAMA DA TEORIA À PRÁTICA 5.2 Elaboração das provas No primeiro ano de execução já se observou a necessidade de algumas adequações que foram incorporadas nos exames seguintes com a anuência da própria comissão e do Ministério da Educação. As provas objetivas foram elaboradas por bancas compostas por professores surdos e ouvintes. Após elaboração e revisão em língua portuguesa, todas as provas em Libras eram filmadas e gravadas em DVD para posteriormente serem avaliadas. No primeiro Prolibras, em 2006, a provas objetivas eram compostas por dez questões. Posteriormente, esse número foi revisto e concluiu‑se que o ideal seria de 20 questões nos exames seguintes. O aumento no número de questões deveu‑se à necessidade de ter mais elementos para que a prova pudesse avaliar adequadamente a compreensão do candidato. A prova passou a avaliar a compreensão e, com isso, passou a ter mais características de um exame de proficiência de línguas. No entanto, a segunda etapa da avaliação continuou com características que vão além de um exame de proficiência, pois, além de avaliar a capacidade produtiva na língua, avalia a prática desses candidatos nas áreas específicas de ensino ou tradução e interpretação da Libras (PROLIBRAS, 2006). Não basta ao candidato saber os sinais: é necessário saber fazer uso da língua de sinais. Nesse sentido, foi grande o avanço no processo de avaliação, e, consequentemente, a qualidade dos aprovados foi maior. O aumento do número de questões foi motivado também pela possibilidade de contestação ou recurso por parte dos candidatos. Embora as bancas responsáveis sempre busquem não deixar margens para que isso ocorra (no caso de haver recurso e a banca realmente decidir pela anulação de alguma questão), o impacto em 20 questões será menor. Visando não somente atender a orientação especial da comissão, mas, principalmente, permitir que os candidatos pudessem pensar e refletir sobre cada questão, cada uma delas foi apresentada mais vezes. O procedimento adotado foi: primeiro, apresentar duas vezes cada questão, sendo que após a segunda apresentaçãoda questão, uma mensagem informava o candidato para proceder a escolha da resposta correta; depois de cinco segundos, iniciava‑se a apresentação da questão seguinte. Ao final das 20 questões, o candidato ainda tinha a oportunidade de rever mais uma vez a prova inteira, projetada mais uma vez com intervalos de três segundos entre uma questão e outra. A partir de 2007, o programa do exame do Prolibras foi detalhado conforme apresentado a seguir: • Com relação à prova objetiva, são testados os seguintes conhecimentos: — conhecimentos específicos da Libras; 58 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 Unidade V — legislação específica da Libras; — ética profissional do tradutor/intérprete da Libras; — compreensão da Libras. Apesar das melhorias, as mudanças no processo de avaliação não cessaram e, no início de 2009, o Comitê Consultivo do Exame Prolibras concluiu que os participantes do exame de proficiência em Libras deveriam ser avaliados em mais dois aspectos: a competência linguística (fluência em Libras) e a competência metodológica para o ensino. Para que o objetivo fosse alcançado, foi preciso mudar as provas objetivas dos exames Prolibras, que a partir de 2009 passaram a ter 15 questões de compreensão e cinco questões de conhecimentos nas áreas relacionadas com a Libras. Ficou assim definido que, durante a prova, o intervalo entre questões é de três segundos para resposta, pois verificou‑se que é suficiente para a marcação da resposta escolhida pelo candidato. A prova objetiva é apresentada três vezes ao candidato, mantendo o mesmo modelo aplicado em 2007 e 2008. Como as provas objetivas eram apresentadas em DVD, percebeu‑se a necessidade de possibilitar que os candidatos fizessem anotações ao final da apresentação de cada questão. Diante dessa real necessidade tomou‑se a decisão de conceder a cada candidato um caderno de rascunho, o qual, além das orientações sobre a prova objetiva, apresenta espaços identificados pelo número das questões e pelas letras correspondentes às alternativas de resposta (de “a” a “d”). Nesse caderno, os candidatos podem fazer qualquer anotação que desejarem, para posteriormente escolherem sua resposta. Esse procedimento foi pensado para facilitar a resolução da prova e não permitir o uso de folhas diversas que, com toda certeza, os candidatos solicitariam para fazer anotações. No que se refere às provas práticas, não foram efetuadas mudanças e elas apresentam a mesma estrutura desde o primeiro exame Prolibras, em 2006. No caso das provas práticas para tradução e interpretação, são produzidos dez textos em língua portuguesa e dez textos em Libras, em cada nível do exame, isto é, nível médio e nível superior. Os textos de nível médio são selecionados por uma banca de profissionais que atuam no nível médio, e os de nível superior são selecionados por uma banca de profissionais que atuam no nível superior. Cabe à banca definir o tipo textual de cada bloco de textos e selecionar um conjunto de textos para que sejam descartados cinco, por uma segunda banca, que analisa a adequação dos textos considerando o contexto de tradução e interpretação para a Libras e para a língua portuguesa. O narrador dos textos em língua portuguesa apresenta os textos em voz alta, com qualidade de estúdio, introduzindo o tema do texto e, após uma pausa, o texto propriamente dito. Os textos produzidos na Libras são estudados por tradutores/atores que discutem terminologia, esclarecem conceitos, definem a forma de apresentação e realizam a tradução para a Libras. Os textos selecionados para a aplicação da prova prática apresentam uma média de cinco minutos de duração, produzidos em ritmo normal da fala ou dos sinais. 59 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 TRADUÇÃO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL UM PANORAMA DA TEORIA À PRÁTICA Cada candidato recebe dois textos em um vídeo, com uma introdução explicando o formato da prova e informando o candidato sobre o tipo de tradução que ele estará realizando, ou seja, primeiramente o candidato fará a tradução simultânea do texto falado na língua portuguesa para a Libras e, em seguida, haverá uma segunda introdução, e o candidato fará a tradução da Libras para a língua portuguesa. Toda a prova é filmada e gravada em um DVD para cada candidato, o qual é encaminhado para a avaliação. Os textos usados para tradução/interpretação são selecionados de acordo com os seguintes critérios: • Prova prática de proficiência em tradução e interpretação – nível superior: textos de aulas de nível universitário em língua de sinais e em português, para a interpretação simultânea. • Prova prática de proficiência em tradução e interpretação – nível médio: textos de aulas de nível médio em língua de sinais e em português, para a interpretação simultânea. As provas práticas para o ensino da Libras compreendem uma apresentação pessoal do candidato, seguida pela exposição de como o candidato ministraria uma aula sobre o assunto relativo ao ponto sorteado, com antecedência de pelo menos 24 horas. Adicionalmente, o candidato deverá entregar aos fiscais do estúdio o plano de ensino da aula que será ministrada. A apresentação pessoal e a exposição dos candidatos sobre o tema sorteado são gravadas em DVD (um para cada candidato), o qual é encaminhado para avaliação. Os pontos previstos que devem ser abordados pelos candidatos na prova prática de proficiência, no uso e no ensino da Libras – nível superior são: comparativos, tipos de verbo, numerais: valores monetários, classificadores predicativos, tipos de negação, tipos de expressões faciais gramaticais, advérbios de tempo, níveis de formalidade e informalidade, pronomes e empréstimos linguísticos. Com relação à prova prática de proficiência, no uso e no ensino da Libras – nível médio, espera‑se que o candidato elabore uma aula apresentando um dos seguintes tópicos: sinais soletrados e o uso da datilologia, características das pessoas, animais e coisas, nomes das localizações e o advérbio de lugar, figuras geométricas com números e letras, sinais relacionados aos ambientes de estudos, grau de escolaridade, tipos de frases em Libras, direção – perspectiva: longe e perto, plural: quantificador, sinais: ainda não/acabado/pronto/faltar coisa. 5.3 Processo de avaliação do exame Prolibras Os critérios de avaliação do exame Prolibras foram definidos pela comissão formada pelo Ministério da Educação, considerando que a prova objetiva visa avaliar a compreensão da Libras, legislação e ética profissional, através de questões de múltipla escolha (com apenas uma resposta correta), valendo um ponto cada questão respondida corretamente. 60 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 Unidade V Os participantes do exame de proficiência em tradução e interpretação Libras‑língua portuguesa‑Libras deverão ser avaliados quanto à proficiência e competência profissional, preferencialmente no contexto educacional, cuja função será a de traduzir textos diversos de uma língua para outra, bem como interpretar conversações, palestras, aulas e outras atividades didático‑pedagógicas. As provas práticas para certificação no uso e no ensino da Libras deverão ser avaliadas quanto à proficiência e competência profissional, preferencialmente no contexto educacional, cuja função será ensinar a Libras nos cursos de graduação. Ainda que haja outros espaços para o ensino da Libras, a exigência do Prolibras se faz somente nas instituições de ensino regulamentada pelo MEC. A correção das provas práticas é realizada por professores proficientes na Libras, com pós‑graduação e com formação e atuação no magistério de nível médio e/ou superior, que tenham participado de um treinamento e preparação para a avaliação. Cabe salientar que a correção acontece em espaço físico de máxima segurança e os avaliadores assinam termo de compromisso de sigilosobre o trabalho. Existem inúmeros detalhes a serem pensados em um processo dessa natureza, para que a avaliação não seja comprometida. Nesse aspecto, a orientação ao operador de câmera e fiscais de estúdio é essencial, pois iluminação adequada, microfone posicionado de maneira a não dificultar a sinalização, posicionamento da filmadora e foco da filmagem são essenciais nessa segunda etapa. Lembrando que a Libras é visual, essa questão de iluminação pode parecer, num primeiro momento, um detalhe insignificante, mas não é, pois o candidato precisa estar bem posicionado para que seja avaliado com clareza e os sinais possam ser visualizados corretamente. Para tanto, a iluminação deve garantir a visibilidade da região espacial na qual se dá a língua de sinais, principalmente a do rosto do candidato, pois o campo semântico da língua de sinais está diretamente relacionado com as expressões faciais. Visando evitar discrepâncias em relação aos critérios de avaliação constantes no edital, a equipe pedagógica organizadora refinou os critérios de avaliação, detalhando‑os como segue: • Na prova prática para certificação no uso e no ensino da Libras – nível médio e superior, são avaliados os seguintes pontos: — fluência: vocabulário, classificadores, uso do espaço, expressão facial; — plano de aula: apresentação, organização lógica, relação do plano com a apresentação; — contextualização dos temas: coesão, coerência; — domínio do conteúdo: conhecimento do conteúdo; — utilização adequada do tempo: 15 minutos. 61 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 TRADUÇÃO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL UM PANORAMA DA TEORIA À PRÁTICA • Na prova prática para certificação em tradução/interpretação – nível médio e superior, a avaliação destaca: — fluência em Libras: vocabulário de Libras, classificadores, uso do espaço, expressão facial, estruturação textual; — interpretação de textos Libras‑português: equivalência textual entre Libras e português, adequação de níveis de registro de vocabulário e de gramática em função do nível do público‑alvo; — fluência em português: vocabulário em português, estruturação textual; — interpretação de textos português‑Libras: equivalência textual entre português e Libras, adequação de níveis de registro de vocabulário e de gramática em função do nível do público‑alvo. São notáveis os avanços conquistados nos exames de avaliação da competência linguística do Tils. Como resultado do exame do Prolibras, as pessoas que já atuam como intérpretes ou aquelas que desejam ingressar na profissão têm buscado qualificar‑se melhor para desempenhar a função de tradutor e intérprete de Libras. Nessa direção, o ganho é de todos, já que a comunidade surda pode usufruir de um serviço de tradução e interpretação de qualidade em que os profissionais alcançam reconhecimento justo e podem pleitear melhores salários. Assim, o trabalho de interpretação aos poucos se distancia do voluntariado e se aproxima da profissionalização. A proficiência linguística do Tils não é algo fácil de ser avaliada, havendo a necessidade de muitos estudos ainda para que se possa ter um entendimento mais consensual sobre suas características. Saiba mais Os livros a seguir podem propiciar uma inter‑relação com os conteúdos da unidade: GESSER, A. Libras? Que língua é essa? São Paulo: Parábola Editorial, 2009. LACERDA, C. B. F. (Org.). Intérprete de Libras em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. Porto Alegre: Mediação/Fapesp, 2009. QUADROS, R. de M. (Org.). Letras Libras: ontem, hoje e amanhã. Florianópolis: Editora da UFSC, 2014. Acesso em: 4 fev. 2016. 62 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 Unidade V Resumo A preocupação com a formação profissional do tradutor e intérprete de língua de sinais se inicia a partir do Decreto Federal nº 5.626/2005, que estabeleceu as diretrizes para a formação superior dos Tils e permitiu ao Ministério da Educação criar o Prolibras, com o objetivo de certificar as pessoas que são fluentes na língua de sinais e autorizá‑las a atuarem nas salas de aulas inclusivas exercendo a função de intérpretes. O Prolibras tem sido uma certificação exigida em quase todos os concursos públicos existentes no país. Esse exame resolveu a demanda de curto prazo, possibilitando a inclusão de alunos surdos nas classes regulares de diferentes níveis de ensino. Vale lembrar que os cursos de bacharelado em Tradução e Interpretação de Língua de Sinais começaram a ser oferecidos em 2008 na modalidade de ensino a distância nas universidades públicas de algumas capitais do Brasil e tinham como instituição coordenadora a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Anteriormente a 2008, a única forma de legitimar o Tils era por meio do exame do Prolibras. Entretanto, ele não resolveu todos os dilemas de quem contrata o Tils. Conforme Pereira (2008), a precariedade de domínio da língua de sinais de muitos intérpretes produz vários resultados, entre eles o descrédito nos serviços de interpretação, a construção de uma imagem não profissional dos intérpretes, a desvalorização da própria língua de sinais e a descontinuidade no desenvolvimento da competência tradutória. Exercícios Questão 1. De acordo com o conteúdo estudado, podemos dizer que o exame Prolibras é: A) Realizado para avaliar e excluir pessoas que se autointitulam intérpretes de Libras. B) Um exame regional que permite avaliar a fluência linguística dos intérpretes de Libras. C) Um exame difícil que tem como objetivo identificar maus profissionais que atuam nas escolas como intérpretes de Libras. D) A combinação de um exame de proficiência propriamente dito e uma certificação profissional proposta pelo Ministério da Educação. 63 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 02 /1 6 TRADUÇÃO E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL UM PANORAMA DA TEORIA À PRÁTICA E) É um exame aplicado pelo MEC, sem critérios, que certifica pessoas surdas ou ouvintes a atuarem como professores de Libras. Resposta correta: alternativa D. Análise da questão Justificativa: a proposta do exame do Prolibras é certificar pessoas competentes na língua de sinais para que possam principalmente atuar no campo educacional. Questão 2. A comissão responsável pela elaboração das provas do Prolibras definiu alguns requisitos mínimos exigidos aos candidatos. Aqueles que pretendem participar do exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras/Língua Portuguesa precisam ter quais requisitos? A) Formação de nível superior, com competência para realizar a interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva. B) Formação de nível superior, com competência para realizar a interpretação das duas línguas de forma consecutiva somente. C) Formação de nível superior, com competência para realizar a interpretação da língua portuguesa para a língua de sinais, e não o contrário, pois na sala de aula o aluno precisa aprender igual ao ouvinte. D) Formação de nível superior em Pedagogia, com competência para realizar a interpretação da língua portuguesa para a língua de sinais de maneira simultânea, ajudando o aluno surdo a compreender os conteúdos escolares. E) Pós‑graduação em Libras com competência para realizar a interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva. Resolução desta questão na plataforma.
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