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Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.2 DEFINIÇÕES “São sintomas e/ou sinais de disfunção de nervo periférico em pessoas com Diabetes, após a exclusão de outras causas.” Há interferência nas atividades diárias, associações a desfechos cardiovasculares, dores e parestesias/disestesias, úlceras e amputações em membros inferiores e transtornos psiquiátricos, sobretudo depressão. As manifestações dependem da fibra nervosa comprometida e pode ser grave ou assimtomático. O quadro pode ser reversível ou irrecuperável. EPIDEMIOLOGIA Presume-se que esteja presente em até 50% dos pacientes com DM após 20 anos de doença 25% das DM1 desenvolvem NPD 30% das DM2 desenvolvem NPD É a forma de neuropatia periférica mais comum Envolve-se com 50-75% das amputações não- traumáticas Subdiagnósticada Polineuropatia sensoriana crônica/ Polineuropatia diabética, ocupa 90% dos casos FATORES DE RISCO Hiperglicemia persistente Tempo de DM Dislipidemia Hipertensão Tabagismo Etilismo Idade avançada Sedentarismo Obesidade Estresse oxidativo Neurotropismo deficiente FISIOPATOGENIA A hiperglicemia atua no desenvolvimento da lesão e disfunção neuroaxonal. Mínimas alterações na glicemia podem lesionar fibras finas e causar dor neuropática. MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS 1. Glicose excessiva aumenta fluxo da via poliol, elevando enzimas que induzem estresse oxidativo, como aldose-redutase e sorbitol-desidrogenase. 2. Glicólise excessiva sobrecarrega a cadeia de transporte mitocondrial de elétrons e gera espécies espécies reativas de oxigênio. 3. Aumento da osmolaridade celular, reduzindo NADPH, que gera mais estresse oxidativo. 4. Produção elevada de ROS (espécies reativas de oxigênio) causam dano ao DNA e estresse do retículo endoplasmático. 5. Os AGE se ligam aos receptores RAGE, e iniciam cascata inflamatória e ativação de células imunes. 6. AGL lesam diretamente as células de Schwann e induzem inflamação. 7. Colesterol oxidado induz apoptose 8. LDL oxidado é um AGE, sinalizando RAGE e outros receptores como TLR4 e LOX1. 9. Sinalização de insulina alterada provoca RI neuronal e inibição da via PI3K/Akt. 10. As células endoteliais sofrem dano pela resposta defeituosa aos vasodilatadores e a diminuição do NO (que se liga aos ROS). CLASSIFICAÇÃO PND típica: mais prevalente, de evolução crônica e de longa exposição hiperglicêmica e fatores metabólicos e cardiovasculares. É simétrica, distal e sensorimotora. A presença de retinopatia e doença renal do DM assegura a etiologia pela doença. Disautonomias e dor neuropática podem ocorrer. Produtos finais da glicação avançada (AGEs) Constituem grande variedade de substâncias formadas a partir de interações amino carbonilo, de natureza não-enzimática, entre açúcares redutores ou lipídeos oxidados e proteínas, aminofosfolipídeos ou ácidos nucléicos. Os efeitos patológicos dos AGEs estão relacionados à capacidade destes compostos de gerar estresse oxidativo, alterações morfofuncionais e aumento da expressão de mediadores inflamatórios. Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.2 PND atípica: surge em qualquer época do curso do DM. A evolução é monofásica ou flutuante, com dor neuropática aguda ou subaguda. Disautonomias são comuns e aventam-se alterações autoimunes. As neuropatias sensoriomotora crônica e autonômica tem característica de aumento com a duração da DM, em progressão gradual. A neuropatias focal, multifocal e sensorial aguda tem remissão completa após instalação. Lembrar que a neuropatia diabética é um diagnóstico de exclusão! A classificação mais usada é a de Boulton e Tomas é a mais usada: Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.2 NEUROPATIA SIMÉTRICA E GENERALIZADA NEUROPATIA SENSORIAL AGUDA DEFINIÇÕES: Rara, com início agudo ou subagudo, com dor intensa que se acompanha de perda ponderal significativa, exacerbação noturna, com caquexia neuropática, depressão e disfunção erétil (masculino). Não há alteração no exame neurológico dos pés. DIAGNÓSTICO: Os diagnósticos diferenciais são HIV, intoxicação por metais pesados e consumo excessivo de álcool. ETIOLOGIA: Está envolvida com mau controle glicêmico ou momento de súbita melhora da glicemia. A mudança do fluxo da glicose por levar a isquemia transitória, além de poder haver imunomeiação. TRATAMENTO: O tratamento é com controle glicêmico e tratamento da dor neuropática. Sintomas melhoram em até 1 ano. NEUROPATIA SENSITIVO-MOTORA CRÔNICA É a mais comum, de 80-90% dos casos de NPD. Sintomas sensitivos são mais comuns que os motores. Ocorre de maneira simétrica. Inicialmente distal evoluindo em ascendência. Faz o clássico padrão em bota e luva. OS sintomas clássicos são: queimação, parestesia, hiperestesia ou dor, com piora noturna. Sintomas negativos como insensibilidade podem ocorrer, e aproximadamente 50% são assintomáticos. O diagnóstico é feito com base em anamnese e exame físico detalhado. Há vários questionários que auxiliam no exame: 1. Escore de sintomas neuropáticos 2. Escore de comprometimento neuropático Possui caráter insidioso, podendo abrir o quadro de DM2. Tem papel em 90% das ulcerações dos pés. FIBRAS NERVOSAS E DISFUNÇÕES ENVOLVIDAS Fibras finas/fibras C (sensibilidade) Dor e disautonomias Fibras grossas/fibras A (vibração e propriocepção) Quedas, úlceras nos pés e amputações Fibras motoras Hipotrofia dos músculos interósseoas dos pés e mãos. Limitação de mobilidade articular (sinal de prece). Fraqueza e câimbras nos tornozelos. SINTOMAS Parestesias Sensações anormais não dolorosas Disestesias Sensações desagradáveis Alodínia Reação dolorosa à estímulos indolores Hiperalgesia Dor intensa à simples estímulos de dor AVALIAÇÃO CLÍNICA 1. Escala da dor 2. Teste de sensibilidade – Classificando como presente, diminuídas ou ausentes. a. Sensibilidade vibratória (Diapasão) b. Sensibilidade dolorosa (Palito) 3. Testes de reflexos nervosos – O reflexo aquileu é o primeiro a ser comprometido. 4. Teste de força muscular – Caminhar sobre calcanhares ou ponta dos pés SENSIBILIDADE FIBRA TESTE Dolorosa C-fina, amielínica Palito/Pino Frio A-delta-fina, leve mielinizada Diapasão 128Hz Quente C-fina, amielínica Diapasão 128Hz Vibração A-beta-grossa, mielínica Diapasão 128Hz Pressão plantar A-beta, A-alfa-grossa, mielínica Monofilamento Semmes-Weistein 10g Reflexos aquileus A-alfa-grossa, mielínica Martelo TRATAMENTO ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS Inibição da NE e/ou recap. da serotonina Atentar para prolongamento do QT Contraindicação: o Angina instável o IAM o IC o Arritmias Dose inicial de 10-25mg, única noturna Eleva-se dose até melhora Efeito surgem rapidamente se comparado à depressão ANTICONVULSIVANTES Agentes gabapentinoides tem maior eficácia e segurança Gabapentina – modula sinais de dor pelo GABA o Dose inicial de 300mg, única noturna Pregabalina – Inibe liberação de neurotransmissores excitatórios o Dose inicial de 75mg, 2x/dia INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA E NOREPINEFRINA Duloxetina Dose inicial de 30mg/dia Doses eficientes em torno de 60-120mg Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.2 ÁCIDO ALFALIPOICO/ ÁCIDO TIÓCTICO Antioxidante potente Dose de 600mg/dia, única Reservada paracasos refratários CREME DE CAPSAISINA 0,075% Encontrado na pimenta-vermelha Inibe substância P Indicada para dor localizada OPIÓIDES Tramadol, oxicodona e metadona Segunda linha Atentar para dependência OUTROS Inibidores da aldose-redutase Inibidor de PKC-beta Inibidor de AGE Transplante pancreático Benfotiamina (antioxidante) NEUROPATIA AUTONÔMICA 2ª forma mais frequente de NPD e envolve SNA. Apresenta diversas variações dependendo do sistema acometido pelo dano no SNA. Frequentemente a doença coexiste com outra neuropatia periférica. Os órgãos recebem inervação dupla das vias simpática e parassimpática, e o nervo vago controla 75% da atividade parassimpática, alterada mais precocemente. NA CARDIOVASCULAR Alterações no controle e frequência cardíaca Eleva em 2x o risco cardiovascular Eleva em 3x eventos cardiovasculares Quadro clínico: o Diminição da variabilidade da FC o Taquicardia de repouso o Hipotensão postural (Queda da PA) o Sem resposta na FC o Intolerância ao exercício Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.2 Diagnóstico: o Fazer testes CV (CARTS) o Confirmada se 2 ou mais (+) Tratamento o Controle glicêmico o Medidas comportamentais o Medicamentoso Fludrocortisona (evitar em HAS) Octereotida Betabloqueadores NA GASTROINTESTINAL Boca – diminuição da salivação e aumento de lesões odontológicas Esôgfago – enteropatia esofágica, com diminuição da peristalse esofágica Estômago – gastroparesia diabética, com diminuição do esvaziamento gástrico e consequente empachamento. Pode gerar descontrole da glicemia. Diagnóstico dado por Cintilografia de esvaziamento gástrico. Tratamento é com correção de fatores que exacerbam gastroparesia e pró-cinéticos. Vesícula biliar – Atonia, com formação de cálculos Intestino/cólon – Diarreia e obstipação Reto – Incontinência fecal, atonia esfincteriana NA GENITOURINÁRIA Bexiga neurogênica – Infecções recorrentes Disfunção erétil – Atinge até 75% dos DM1 com mais de 60 anos. Tratada com Inibidores de fosfodiesterase tipo 5, próteses e mecanismos eretores. Ejaculação retrógrada Disfunção sexual feminina – Dispareunia e diminuição da lubrificação NA COM DISFUNÇÃO SUDOMOTORA Diminuição DA sudorese nas extremidades Aumento da sudorese, às vezes relacionado com alimentação Tratamento com amolientes e hidratantes NA COM DISFUNÇÃO METABÓLICA Hipoglicemia assimtomática Caracterizada pela diminuição da resposta simpática na presença de hipoglicemia NA COM DISFUNÇÃO PUPILAR Diminuição da resposta reflexa pupilar e adaptação ao escuro NEUROPATIA FOCAL E MULTIFOCAL Predomina em diabéticos mais idosos, resultam de vasculite ou infarto perineural, agudo, doloroso, de evolução limitada, sendo caracteristicamente assimétricas e reversíveis, com regressão espontânea entre 6 semanas e 12 meses (amiotrofia). Seu tratamento é sintomático. CRANIANAS Acometem pares cranianos, na ordem: 1. NC III (Oculomotor) 2. NC IV (Troclear) 3. NC VI (Abducente) 4. NC VII (Facial) Raro. Instalação aguda, dolorosa e limitada, com recuperação em média de 3 meses. As manifestações de oftalmoplegia (ptose palpebral, diplopia) e dor periorbital requerem afastar isquemia cerebral, aneurisma e tumores intracranianos por meio de tomografia computadorizada. MONONEUROPATIAS DOS MEMBROS E COMPRESSIVAS O início do quadro é agudo e também resulta de vasculite e subsequente isquemia ou infarto perineural. O nervo mediano é o mais acometido Membros superiores o Síndrome do túnel do carpo o Há quadro de dor intensa, em queimação e parestesias, o Hipotrofia de eminência tenar (avançado), ou mão caída (pelo envolvimento ulnar e radial) o Teste de Phalen o Teste de Tinel Membros inferiores o Nervos peroneal (pé caído) o Diferenciar de compressão de raíz L5 o Síndrome do túnel do tarso RADICULOPATIAS TRONCULARES Acomete mais idosos, podendo durar até 6 meses. A distribuição da dor é em cinta. Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.2 RADICULONEUROPATIA É rara, mais comum em idosos com DM2. Também chamada de amiotrofia diabética ou Neuropatia proximal assimétrica. Quadro agudo ou subagudo, evoluindo em semanas. O acometimento mais comum é o das raízes lombares L2, L3 e L4 , manifestando-se como dor na região dorsal da coxa. Há hipotrofia dos músculos dos quadris e da coxa, além de perda ponderal substancial. Doença estabiliza em 6 meses, a daí começa a regredir de 6-24 meses.
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