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valentes, ao passo que a criação da mais-valia se efetiva fora dessa
relação, no processo de uso produtivo da força de trabalho.
Embora não descurasse a circunstância de que, na prática do
regime capitalista, o salário pode situar-se abaixo do valor da força
de trabalho, Marx pressupõe sempre, em todas as inferências do seu
sistema teórico, a troca de equivalentes e, por conseguinte, a equiva-
lência entre salário e valor da força de trabalho. Em especial, o modo
de produção capitalista ficava marcado pela particularidade histórica
de generalizar a forma mercadoria, assumida também pela própria
força de trabalho.
Esclarecia-se, dessa maneira, que a quantidade de trabalho “co-
mandado” pela mercadoria acima do trabalho que custara, segundo a
concepção de Smith, era precisamente a mais-valia. O lucro deixava
de ser uma “dedução” do produto do trabalho e se identificava como
sobreproduto, por isso mesmo apropriado pelo comprador da força de
trabalho na sua condição de capitalista.
Em segundo lugar, a concepção da mais-valia enquanto sobre-
produto abstraído de suas formas particulares (lucro industrial e co-
mercial, juros e renda da terra). Justamente porque entenderam o
excedente imediatamente como lucro, sem se dar conta de sua natureza
originária de mais-valia, da qual o lucro é uma das formas particulares,
justamente por não disporem da categoria mediadora da mais-valia é
que Smith e Ricardo identificaram valor e preço de produção. Em con-
seqüência, colocaram a teoria do valor-trabalho em contradição discur-
siva com qualquer explicação coerente acerca do eixo em torno do qual
deviam oscilar os preços de mercado. A categoria de mais-valia veio
permitir também a superação deste impasse dos clássicos burgueses.
No Prefácio ao Livro Segundo, afirmou Engels, com inspiração
brilhante, que a façanha teórica de Marx se comparava à de Lavoisier.
Enquanto Priestley e Scheele, ao se defrontarem com o oxigênio em
estado puro, insistiram em chamá-lo de flogisto, por incapacidade de
desprender-se da teoria química vigente, Lavoisier reconheceu no gás
um novo elemento ao qual denominou oxigênio e, com isso, liquidou
a velha teoria flogística. Ao contrário dos economistas que continuavam
a identificar o sobreproduto com uma das suas aparências fenomenais
— a renda da terra, no caso dos fisiocratas, ou o lucro, no caso de
Smith e Ricardo —, Marx abstraiu a mais-valia de suas manifestações
particulares e, dessa maneira, cortou os vários nós górdios que obsta-
culizavam o desenvolvimento conseqüente da teoria do valor.
A concepção categorial da mais-valia exige, não obstante, a ca-
racterização precisa do que seja trabalho produtivo. Smith distinguiu
entre trabalho produtivo e trabalho improdutivo, conotando o primeiro
pela criação de bens materiais, dotados de consistência corpórea, e pela
lucratividade. Isto implicava a exclusão da esfera do trabalho produtivo
de atividades que não criam bens materiais, pois se consomem no ato
OS ECONOMISTAS
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