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Ensaio - POLÍTICAS PÚBLICAS E ATER PARA A AGRICULTURA FAMILIAR

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POLÍTICAS PÚBLICAS E ATER PARA A AGRICULTURA FAMILIAR 
 Tamires Clei Nunes¹ 
1. Introdução 
Neste ensaio faz-se uma breve revisão da trajetória dos serviços de Assistência Técnica e 
Extensão Rural (ATER), trazendo também pontos relevantes sobre as políticas públicas de 
desenvolvimento rural no Brasil, evidenciando os dilemas entre as políticas de natureza 
produtiva e os programas de naturezas assistenciais para a agricultura familiar. 
Por volta dos anos 1960 e 1970, inicia-se uma discussão do modelo dominante de inovação e 
difusão tecnológica no âmbito da agricultura brasileira. Posteriormente a partir da metade dos 
anos de 1990, num ambiente de políticas neoliberais, destaca-se o processo de extinção da 
Empresa Brasileira de Extensão Rural (EMBRATER) da qual atingiu diretamente a 
agricultura familiar, colocando-a numa posição secundária nas discussões das politicas de 
extensão rural. Com a extinção desta Empresa o Estado brasileiro iniciou a elaboração de um 
conjunto de políticas públicas direcionadas à agricultura familiar, das quais cada estado da 
federação assume a responsabilidade dos serviços de ATER (SILVA, 2017, p. 3). 
Segundo Cazella et al. (2016, p. 50), “a partir de mobilização de organizações sociais rurais e 
a concentração de estudos técnicos e científicos demonstraram a importância sócio econômica 
do seguimento social voltado para a agricultura familiar”. Para viabilizar as políticas 
específicas para a agricultura familiar, foi necessário o aparato do Estado para as unidades 
agrícolas familiares, isso se deu diante das pressões sociais que ambicionavam a reforma 
agrária. Isso explica o fato do Brasil ter sido um caso raro a apresentar dois ministérios 
dedicados à gestão de políticas públicas de desenvolvimento rural e agrícola. Dos quais eram 
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que se ocupava do mercado 
de commodities e às agroindústrias de grande porte e o outro, o Ministério do 
Desenvolvimento Agrário (MDA), criado em 1999, no governo FHC, para mediar as politicas 
fundiárias e amparar a agricultura familiar. É importante ressaltar que a categoria de análise 
foi reconhecida legalmente com a Lei de Agricultura Familiar nº 11.326 de julho de 2006 
(BRASIL, 2006) e posteriormente inserida na agenda politica. Nesse período já havia 
políticas públicas especificas de diversas naturezas voltadas à produção de alimentos para os 
1 Bacharel em ciências sociais – Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) 
mercados internos, ao acesso a terra, ao desenvolvimento territorial em zonas rurais, 
previdência rural e etc (Cazella et al. 2016, p. 50). 
É possível verificar que a década de 1990, foi significativa para as transformações dentro das 
iniciativas públicas de desenvolvimento rural, das quais podemos aglomerar em três gerações 
de políticas, embora não apresentam uma linearidade temporal, como aponta Cazella (2016 
apud GRISA; SCHNEIDER, 2015, p. 50), gerações essas que em suma podemos definir como 
A primeira geração, associada a demandas de segmentos sociais da 
agricultura familiar organizados em sindicatos e movimentos sociais, está 
ligada principalmente a questões agrícolas e agrárias. A segunda foi marcada 
pela criação e expansão de políticas de assistência social, ainda que o 
processo de reformulação da previdência rural – a principal ação de Estado 
nessa área – teve início com a Constituição de 1988. E a terceira geração está 
relacionada à construção de novos mercados para os produtos e serviços 
oriundos da agricultura familiar, tendo como foco a segurança alimentar e a 
sustentabilidade. (Cazella et al. 2016, p. 51) 
Já em 2003, no governo Lula com a Política Nacional de Extensão Rural (PNATER), 
recupera-se a discussão sobre extensão rural com um novo viés, após a extinção da 
EMBRATER na década de 90, a nova demanda é valorizar a participação dos diversos 
sujeitos sociais rurais. Neste novo cenário nacional evidencia-se uma alternativa ao modelo 
dominante de inovação e difusão tecnológica na agricultura, do qual é crescente a 
incorporação dos saberes tradicionais dos agricultores (SILVA, 2017, p. 4). 
Entretanto esse processo se estendeu por pouco mais de uma década como mostra o estudo 
apresentado por Edna Maria da Silva (2017) 
Essa nova política de ATER construída de forma democrática e participativa, 
no período de 2003 a 2015, vinha se fortalecendo no campo e a pergunta que 
se colocava era: o modelo alternativo de ATER será capaz de superar o 
modelo dominante dos serviços de ATER, com transferência de tecnologia 
unidirecional e unilateral? No entanto, no ano de 2016, com o governo 
Temer, algumas mudanças institucionais sinalizam o enfraquecimento das 
ações direcionadas para a agricultura familiar, dentre elas, a extinção do 
Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) que era responsável pela 
condução da PNATER. Nessa nova conjuntura de imposição de medidas 
conservadoras, que vem trazendo retrocesso das políticas públicas e sociais 
no Brasil, faz-se necessário analisar o estado das artes das ações de ATER. 
Desse modo, pergunta-se: como tem sido executada a proposta de ATER nas 
políticas públicas federais? Tem avançado no sentido da ruptura com o 
modelo difusionista, conforme proposta da PNATER, ou seguiu os 
retrocessos das políticas publicas nacionais? Para responder essas questões 
baseia-se em uma revisão de literatura sobre a temática. Este trabalho é parte 
do projeto de tese de doutorado que está ainda em construção. (SILVA, 2017, 
p. 4). 
Este ensaio é composto por esta breve introdução e por mais três seções. Na segunda seção, 
discute-se a Políticas Públicas para agricultura familiar: produtivas e assistenciais. Na terceira 
seção apresentam-se A trajetória da Assistência Técnica e Extensão Rural. E, por fim, as 
considerações finais. 
 
2. Políticas Públicas para agricultura familiar: produtivas e assistenciais 
Ao iniciar esta discussão é importante salientar que existe uma separação entre as políticas de 
cunho produtivo das políticas voltadas ao assistencialismo e, além disso, um caráter analítico, 
dado que a maioria das políticas produz sempre resultados, tanto em caráter econômico 
quanto social, de difícil distinção. Apesar de os objetivos e resultados esperados dessas 
políticas tenderem para um desses outros polos: econômico-produtivo ou social. (Cazella et 
al. 2016, p. 53). 
Ao decorrer do estudo de Cazella et al. (2016) são apresentadas diversas indagações sobre a 
efetivação prática dessas políticas de natureza produtivas atribuídas a agricultura familiar, 
sobre a Reforma Agrária é questionado pelos autores: favela rurais ou salvaguarda da 
agricultura familiar? Mais adiante questionam sobre o Programa Nacional de Fortalecimento 
da Agricultura Familiar: crédito para o “agronegocinho”? E por fim sobre as politicas de 
mercado para a agricultura familiar, tendo como exemplo de destaque o Programa Fome Zero 
de 2003. Sobre todos esses questionamentos são mostrados, com dados extraídos a partir de 
órgãos ligados ao governo federal, à aplicabilidade dessas políticas públicas apresentando 
seus êxitos e fracassos. 
No que se tange às políticas de natureza assistenciais os autores recorrem aos casos da 
Previdência Social Rural e do Bolsa Família, entretanto o tema da previdência social rural foi 
incluído nesta analise por se tratar da principal politica social e de distribuição de renda no 
meio rural brasileiro 
Considerado por Delgado (2015) o “vagão tardio do direito social trabalhista 
brasileiro”, o sistema previdenciário dos agricultores familiares foi ampliado 
com a Constituição de 1988 e aplicado de fato a partir de 1992. Até então, 
prevalecia o chamado Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador 
Rural (Funrural), criado em 1971, que assegurava o direito de aposentadoria 
especial somente ao chefe do estabelecimento e no valor de meio salário 
mínimo.Após a nova Constituição, esse direito foi estendido ao cônjuge, no 
valor de um salário mínimo por beneficiário. (Cazella et al. 2016, p. 66). 
Ainda considerando Delgado (2015) sobre o impacto dessa política para as famílias rurais 
Ao longo das duas décadas de vigência do sistema da Previdência Rural, 
verifica-se que esse sistema de direito social, combinado com a política de 
valorização do salário mínimo, tem efetivo impacto distributivo para as 
 
famílias rurais. Essa política irá alterar o padrão de distribuição da renda 
familiar, independentemente das condições produtivas dos estabelecimentos 
rurais familiares. (DELGADO, 2015, p. 436). 
Nesse sentido, das políticas assistencialistas para o rural, podemos destacar também o 
Programa Bolsa Família, que se tornou referencia nacional no quadro das políticas sociais, 
enquanto redistribuição de renda. Essas políticas ganharam ênfase “a partir de 2003, o 
enfrentamento da pobreza via intervenção pública enfatizou as políticas de segurança 
alimentar” (Cazella et al. 2016, p. 68). O primeiro passo implantado, e também de maior 
destaque, para consolidar essas práticas foi com o conjunto de politicas previstas no programa 
Fome Zero, do qual objetivava garantir o direito a alimentação a todos. A trajetória deste 
programa se deu a partir de sua instituição em outubro de 2003, vinculado inicialmente à 
Presidência da República (COHN, 2012). A partir de 2004, esse Programa foi transferido para 
a Secretaria Nacional de Renda e da Cidadania, do Ministério de Desenvolvimento Social e 
Combate à Fome. (Cazella et al. 2016, p. 69). 
Ainda sobre os programas assistenciais Cazella et al. (2016) descreve os critérios do 
Programa Bolsa Família e sobre o sistema CadÚnico 
Em julho de 2016, o Programa Bolsa Família passou a considerar pobres as famílias 
com renda mensal per capita entre R$ 85,01e R$ 154,00, e extremamente pobres as 
que possuem renda mensal per capita inferior a R$ 85,00. Atualmente, o PBF está 
calcado em três eixos: i) transferência de renda via repasse de recursos monetários 
para aliviar imediatamente a pobreza; ii) as condicionalidades, que são os 
compromissos assumidos tanto pelas famílias beneficiárias quanto pelo Estado, 
visando ampliar o acesso dessas famílias aos seus direitos sociais básicos nas áreas de 
saúde, educação e assistência social; e iii) as ações e programas complementares, que 
objetivam contribuir para que as famílias beneficiárias superem a condição de 
pobreza19. De acordo com o Portal da Transparência, em 2014, o Governo Federal 
destinou aproximadamente R$ 27,2 bilhões ao PBF, distribuídos entre 14,1 milhões de 
famílias beneficiárias s, o que representa uma média mensal de R$ 161,00 por família 
(BRASIL, 2015c). Desde 2001, o MDS utiliza um cadastro unificado como 
ferramenta para identificar, armazenar e atualizar as informações declaradas por 
famílias de baixa renda20. Denominado de CadÚnico, esse sistema vem sendo 
aperfeiçoado a partir da implantação do PBF, com o objetivo principal de conhecer 
melhor as populações empobrecidas. A identificação de famílias pertencentes a 
Grupos Populacionais Tradicionais ou Específicos (GPTE), iniciada em 2005, foi 
mobilizada neste artigo com o propósito de avaliar o número de agricultores familiares 
beneficiados pelo Bolsa Família. (Cazella et al. 2016, p. 69). 
A identificação das famílias acima mencionadas como beneficiadas pelo PBF, foram 
aglomeradas nos seguintes grupos através do sistema CadÙnico (2014) : agricultores 
familiares, assentadas da reforma agraria, beneficiários Programa Nacional de Crédito 
 
Fundiário², extrativistas, pescadores artesanais, quilombolas, ribeirinhas, atingidos por 
empreendimentos e indígenas. 
Cazella et al. (2016) afirma que é preciso conhecer mais para melhor intervir, diante das 
informações referentes aos agricultores familiares beneficiados pelas políticas públicas 
discutidas anteriormente são comparadas com o propósito de demonstrar a prevalência de 
uma dicotomia entre as ações públicas de caráter produtivo e aquelas cuja finalidade principal 
é o assistencialismo social. A análise em caráter superficial dessas políticas públicas, aqui 
realizada, revela a existência de um número significativo de unidades agrícolas familiares que 
se encontra numa situação de obscuridade. Isto é, pouco se conhece sobre suas principais 
estratégias de reprodução social e projetos de futuro. Esses agricultores familiares 
representam um número expressivo de beneficiados pelo Bolsa Família, que denota um 
contingente expressivo de agricultores que não integra a agenda de trabalho das principais 
organizações profissionais agrícolas. (Cazella et al. 2016, p. 71) 
3. A trajetória da Assistência Técnica e Extensão Rural 
No período de desenvolvimentismo no Brasil, por volta dos anos 50, com um grande 
crescimento na produção agrícola a extensão assume o seu papel na promoção da 
transição do país, que sai de um modelo agrário exportador para industrial, tendo como 
baseada na politica de crédito privilegiado aos médios e grandes produtores, “eis o fim a 
que se destina a ATER”. (SILVA, 2017, p. 8). De acordo com Silva (2017), na trajetória 
de ATER houve várias modificações que podemos sintetizar nos seguintes períodos: em 
1974, o governo cria a EMBRATER, vinculada ao ministério da Agricultura, da qual 
passa a coordenar os serviços de ATER em todo o pais (PEIXOTO, 2008 apud SILVA, 
2017, p. 9). Nos anos 90 com o desmonte da EMBRATER, as ações de ATER são 
orientadas pelas politicas dos governos dos estados federados. Logo mais, ainda nos anos 
90, diante da pressão social num ambiente de redemocratização, os movimentos sociais 
exigiram do governo respostas as suas demandas. Em 1995, acontece em Brasilia o 
Seminário Nacional Agricultura Familiar e Extensão Rural. No ano seguinte, cria-se o 
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Neste 
________________________ 
² Trata-se de uma politica pública complementar a reforma agrária, que empresta recursos financeiros para que 
os agricultores com pouca terra adquiram-nas. (BRASIL, 2015) 
momento os movimentos sociais pressionavam pela ampliação do crédito, serviço de 
ATER público e gratuito. Assim começa a reconstrução de ATER 
Culminando em 2004, com a nova PNATER, vinculada ao MDA, que definiu 
as diretrizes para a elaboração do Programa Nacional para Assistência 
Técnica e Extensão Rural (PRONATER), publicado em maio de 2005 
(MDA, 2005). A partir de então a ATER, conduzida pelo MDA, é 
direcionada para os agricultores familiares de baixa renda. A construção da 
PNATER começa por uma análise crítica do modelo dominante vigente, 
materializado no produtivismo agrícola. A sociedade civil através dos fóruns 
de debates dá sua contribuição para a concepção da PNATER, suas diretrizes 
e ações. Tenta-se uma mudança de paradigma na base da produção agrícola, 
pois a nova política incorpora o conceito de agroecologia, a diversificação 
das culturas, o saber tradicional, dentre outros (CAPORAL, 2016). A 
proposta de um modelo alternativo de ATER foi construída e debatida em 
muitas instâncias na sociedade. Esse modelo vem sendo executado com 
projetos pontuais financiados pelo Estado, através de chamadas públicas, que 
incorpora a agroecologia e a segurança alimentar das famílias. No entanto, o 
volume de recursos disponibilizado para o programa não atendia à demanda 
de todas as famílias rurais brasileiras. Nesse ambiente de desenvolvimento da 
agricultura capitalista é pouco provável que uma política pública seja capaz 
de romper com a estrutura “científica” já consolidada para a monocultura 
inserida em estruturas de mercado oligopolizadas. Esse desenvolvimento 
agrícola, proposto e defendido pela ciência tradicional, pautado nas grandes 
propriedades rurais e com produção orientada sobretudo para o mercado 
externo é uma escolha do Estado. Aqui cabe destacara coexistência do 
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do antigo 
MDA como expressão desse conflito de classes e, ao mesmo tempo, de 
tentativa por parte do Estado de mediar iniciativas do modelo produtivista 
direcionado para médias e grandes propriedades e do modelo voltado para o 
atendimento das demandas dos agricultores familiares. (SILVA, 2017, p. 10) 
 
Após fazer toda essa trajetória da construção é possível progresso da PNATER, Silva (2017) 
evidencia que em 2009 instituiu-se uma nova PNATER – pela Lei nº 12.188, de janeiro de 
2010, que define a ATER como um serviço de educação formal, de caráter continuado no 
meio rural, que promove processos de gestão, produção, beneficiamento e comercialização da 
produção e dos serviços agrícolas e não agrícolas, inclusive das atividades agroextrativistas, 
florestais e artesanais (BRASIL, 2014). Logo em seguida o governo ampliou as ações de 
ATER através de chamadas publicas, que eram conduzidas pelo MDA, mesmo assim ainda 
era grande o numero de agricultores familiares que não tinham acesso a esse serviço. 
Em 2016 foi extinto o MDA no governo Temer, e houve também a suspensão 
ou paralisação das chamadas públicas federais para ATER. Embora existam 
muitas críticas sobre o modo de condução da ATER e sobre o volume de 
recursos disponibilizados nos governos Lula e Dilma, o retrocesso na 
condução das políticas públicas de inclusão social é evidente no atual 
governo e o futuro do modelo alternativo de ATER é duvidoso. (BRASIL, 
2016 apud SILVA, 2017, p. 11) 
Diante desta discussão busca-se uma nova reflexão para um modelo alternativa de ATER, 
capaz de abarcar os saberes dos sujeitos sociais e diversificação da agricultura familiar, esse 
processo seria capaz de garantir visibilidade aos “invisíveis”, de garantir condições de 
qualidade de vida para os agricultores familiares e aos povos e comunidades tradicionais. 
Existem inúmeros espaços que devem ser ocupados por esses sujeitos sociais e pelo poder 
público. “O desenvolvimento local refere-se à capacidade efetiva de participação da 
cidadania.” (SILVA, 2017, p. 12). 
Sobre o conceito de desenvolvimento agrícola Silva (2017) afirma que é necessário entender o 
objetivo do sistema capitalista 
Para se compreender de forma adequada o conceito de desenvolvimento 
agrícola é necessário entender que o objetivo do sistema capitalista é se 
reproduzir, pela via de acumulação de riqueza, modificando as relações 
sociais no campo. Nessa direção a ATER difusionista foi construída sem a 
participação da sociedade civil e tendo como objetivo o desenvolvimento da 
agricultura em bases capitalistas, sem incorporar nesse processo qualquer 
preocupação social com os agricultores familiares, nem tampouco qualquer 
preocupação ambiental. O avanço da agricultura capitalista no campo que 
intensificou o êxodo rural de um grande número de agricultores, resultou 
num inchaço das cidades que não estavam estruturadas para recebe-los, bem 
como não havia espaço para o trabalho digno do migrante, seja, na indústria 
ou no setor de serviços. Assim os migrantes continuam na condição de 
excluído, de invisível, seguindo a sina de perambular em busca de melhores 
condições de vida. (SILVA, 2017, p. 12). 
Concluindo essa sucinta análise da trajetória de ATER é válido salientar as assertivas de Silva 
(2017, p. 13) e Intini (2017), sucessivamente: “as políticas públicas, admitindo seus sucessos 
e fracassos, são resultados de anos de lutas dos movimentos sociais e das organizações de 
classes que vinham atuando em uma democracia participativa em consolidação”. “O 
retrocesso social, o desmonte das politicas públicas é a perda de diretos”. 
A extinção do MDA é a expressão do retrocesso social, pois era uma entidade 
estruturante e onde se dava as lutas e conquistas dos povos através da 
representação e participação na elaboração das políticas públicas. Nos 
governos anteriores havia um processo em construção no qual participava 
diferentes sujeitos sociais, dentre eles, destacam os agricultores familiares, 
indígenas, povos tradicionais e assentados de reforma agrária. Assim, o 
desmonte do MDA também é o desmonte dessa construção coletiva de 
políticas e programas com sujeitos da história envolvidos no processo. O 
processo do desmonte das políticas públicas promovido vem ocorrendo de 
diferentes maneiras: paralisação, suspensão ou revogação das políticas. A 
paralisação se dá através do desmonte das equipes técnicas, das cadeias de 
comando e da suspensão de pagamentos e repasses de dinheiro. Quando se 
desfaz uma equipe técnica perde-se a “memória institucional”, quando se 
desmonta a cadeia de gestão compromete-se a manutenção dos atos 
administrativos. Essas situações foram identificadas no MDA e no INCRA, 
vez que a cadeia de comando e de gestão do MDA e do INCRA foi 
exonerada, inclusive nos Estados da federação. Quando ocorre a suspensão 
de pagamentos, repasses orçamentários e financeiros fica bastante evidente a 
paralisação dos serviços. Essa situação pode ser exemplificada com a 
suspensão dos recursos garantidos no Plano Safra da Agricultura Familiar e 
nos acordos de cooperação já firmados, aqui pode-se dizer que é “nítida a 
paralisia nos serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural e nas 
aquisições de alimentos por parte da CONAB, no âmbito do PAA” (INTINI, 
2017 apud SILVA, 2017, p. 14). 
 
4. Considerações finais 
Dentre as politicas publicas para a agricultura familiar, no presente ensaio delimitamos as 
diferenças entre as politicas produtivas e assistencialistas. No âmbito das produtivas, foram 
apenas colocadas em questão as indagações do estudo de Cazella et al. (2016), sobre suas 
vertentes como destaque ao Programa Fome Zero. Já nas politicas assistenciais foram 
evidenciados os casos da Previdência Social Rural e do Programa Bolsa Família. Ao fim da 
seção conclui-se de acordo com os autores, que é preciso conhecer mais para melhor intervir, 
já que as dicotomias entre as duas formas de politicas, que se dizem voltadas para a 
agricultura familiar, de um lado, estão as produtivas que historicamente beneficiaram os 
médios e grandes agricultores; de outro as assistenciais, cuja finalidade é puro e simplesmente 
o assistencialismo através de programas de redistribuição de renda. 
No segundo momento pautado no estudo produzido por Silva (2017) e apresentado no XXXI 
Congresso ALAS no Uruguai, fora discutido a trajetória da assistência técnica e extensão 
rural, de forma sucinta. Desde sua notória participação para a transição de um modelo 
agroexportador para o industrial, até a nova proposta para que se incorpore praticas 
agroecológicas e valorização dos saberes tradicionais nas metodologias de ATER. Por fim, 
fica evidente o descontentamento da autora em relação ao desmonte das politicas públicas, 
isso há dois. Sem entrar em méritos que não foram debatidos neste ensaio. Atualmente 
podemos constatar o quanto esse desmonte tem crescido, com pouco mais de um mês de 
posse do atual governo. 
Referências 
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Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2014. 
BRASIL. Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da 
Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Diário 
Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 jul. 2006. Disponível em: . Acesso 
em: 15 mar. 2015. 
CAPORAL, Francisco Roberto. Extensão rural como política pública: a difícil tarefa de 
avaliar. Disponível em: < http://www.carbonojuruena.org.br/framework/fw_files/ >. Acesso 
em: 21 set. 2016. 
CAZELLA, Ademir Antonio et al. Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil: o 
dilema entre inclusão produtiva e assistência social. Política & Sociedade, [s.l.], v. 15, p.49-
79, 14 mar. 2017. Universidade Federalde Santa Catarina (UFSC). 
http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2016v15nesp1p49. 
COHN, A. Cartas ao Presidente Lula: Bolsa Família e direitos sociais, Rio de Janeiro: 
Pensamento Brasileiro, 2012. 
DELGADO, G. C. Previdência social e desenvolvimento rural. In: GRISA, C.; SCHNEIDER, 
S. (Org.). Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre: Editora da 
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https://www.brasildefato.com.br/2016/07/06/40-dias-de-temerridades-no-
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PEIXOTO, Marcus. Extensão rural no Brasil: uma abordagem histórica da legislação. 
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Disponível em: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-
estudos/outras-publicacoes. Acesso em: 10 out. 2014 
SILVA, Edna Maria da. A trajetória da Assistência Técnica e Extensão Rural no 
Brasil. XXXI Congresso Alas, Montevideo, v. 19, n. 1, p.1-19, dez. 2017.

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