Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS CCSA – Centro de Ciências Sociais Aplicadas DPCS – Departamento de Política e Ciências Sociais Curso de Graduação em Ciências Sociais Tamires Clei Nunes ESTUDO DIRIGIDO ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA 1945-2010 Montes Claros Agosto de 2018 Tamires Clei Nunes ESTUDO DIRIGIDO: ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA 1945-2010 Trabalho apresentado ao Curso de Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros como requisito parcial para aprovação na disciplina Econômia Brasileira. Prof(a).: Sidinéia Souza Montes Claros Agosto de 2018 1) Por que podemos afirmar que o governo do Sarney buscou a legitimidade das ruas durante os anos que foi presidente? José Sarney assume a presidência num momento histórico de grande comoção nacional, após a morte de Tancredo Neves, antes mesmo de assumir o poder, fato do qual gerou grande estabilidade na conjuntura econômica. Esses fatores geraram uma crise na legitimidade durante os cinco anos de seu mandato. O Brasil que emergia após duas décadas do regime militar encarava além da crise política envolta ao processo de redemocratização, as duras adversidades econômicas representadas pelo colapso externo e, principalmente, a inflação. Abandonado pelas lideranças políticas, Sarney procurou nas ruas o apoio indispensável a um governante deslegitimado. O lançamento de medidas econômicas de repercussão popular foi à maneira pela qual o presidente tentou ganhar popularidade ao seu governo. A primeira e mais conhecida delas foi o lançamento do Plano Cruzado, em fevereiro de 1986. Exitoso em seu objetivo político, o sucesso inicial do plano heterodoxo de estabilização elevou Sarney à uma suposta condição de estadista durante todo o ano de 1986, período em que atingiu os mais elevados níveis de aprovação já atribuídos por um presidente brasileiro até então. Giambiagi recorre a Bobbio para sintetizar esse momento de transição da democracia A transição para a democracia precisava mesmo conciliar as diferentes opiniões existentes acerca dos rumos do país. Nas palavras de Bobbio, citado na epígrafe deste capítulo, não havia espaço para ser preto ou branco, era preciso ser cinza. Mas, enquanto Tancredo tinha grande habilidade para administrar forças antagônicas, seu vice, José Sarney, o novo presidente do Brasil, era visto como o elo mais fraco da “Aliança Democrática” que havia elegido Tancredo. Assim, sem a legitimidade das urnas, Sarney buscou a legitimidade das ruas, com o Plano Cruzado. (GIAMBIAGI, 2011, p. 99 apoud BOBBIO) 2) Em 1984 existiam basicamente 4 propostas de desindexação da economia sendo discutidas. Cite e explique cada uma. No subcapitulo “O Debate sobre as Causas da Inflação no Brasil” entre as páginas 101 a 105 Giambiagi diz que: Diante da ineficácia das medidas fiscais e monetárias implementadas na primeira metade dos anos 1980, fortaleceu-se a tese de que o princípio da correção monetária, introduzido no Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), tornara-se um elemento de dificuldade para o combate à inflação. Mas, embora houvesse certa unanimidade quanto à necessidade de promover a desindexação da economia brasileira, o modo de fazê-lo estava longe de ser consensual. Em 1984, havia basicamente quatro propostas de desindexação sendo discutidas: (1) “Pacto Social”, proposto por economistas do PMDB e da Unicamp; (2) o “Choque Ortodoxo”, defendido, sobretudo, por alguns economistas da FGV; (3) o “Choque Heterodoxo” de Francisco Lopes, da PUC-Rio; e (4) a “Reforma Monetária” de André Lara Resende e Pérsio Arida, ambos também da PUC-Rio. (1) Sinteticamente, os proponentes do “Pacto Social” defendiam que a inflação no Brasil resultava de uma disputa entre os diversos setores da sociedade por uma participação maior na renda nacional — o chamado “conflito distributivo”. Nele, cada grupo buscava se apropriar de uma parcela da renda maior para si, que, somadas, eram incompatíveis com a renda agregada da economia. Assim, a cada momento, uma parcela da população conseguia aumentar sua fatia na renda real através da reivindicação de um aumento de seus rendimentos (por exemplo, aumentos nominais de salários). No momento seguinte, porém, outro grupo reivindicava o direito ao aumento (seguindo o exemplo, os empresários subiam os preços de seus produtos), corroendo o ganho real obtido pelo primeiro, e assim sucessivamente. Em resumo, era até possível, transitoriamente, alterar a participação de uma determinada categoria na renda nacional, mas, ao longo do tempo, a distribuição permanecia a mesma. O resultado para a economia, todavia, era um processo inflacionário. (2) Em contraposição aos defensores do Pacto, encontrava-se o grupo do “Choque Ortodoxo”. Baseado na teoria quantitativa da moeda, este último defendia que a inflação no Brasil não tinha nada de peculiar. Como no resto do mundo, a inflação era causada pela excessiva expansão monetária e esta nada mais era do que uma forma espúria de financiar um governo que gastava além de sua capacidade de arrecadar receitas. Em suma, a causa da inflação brasileira era o excessivo gasto público numa economia em que o Estado crescera demais. Alegava-se que a ineficácia no combate à inflação no início dos anos de 1980 — com a adoção do programa do FMI — não era culpa da terapia, mas sim do modo incompleto e ineficiente com que esta havia sido sempre aplicada no Brasil. De acordo com esses economistas, era preciso promover um “Choque Ortodoxo”. Ou seja, eram precisos: severos cortes de gastos, aumento de receitas e tributos e corte brusco da emissão de moeda e de títulos da dívida. Ao mesmo tempo, dever-se-ia promover a desindexação da economia e a liberalização total de seus preços. (3) Por fim, tanto a proposta do “Choque Heterodoxo” quanto a da “Reforma Monetária” eram defendidas por alguns economistas da PUC-Rio e estavam baseadas em estudos econométricos que mostravam dois fatos estilizados. O primeiro, que o componente de realimentação pela inflação passada (componente inercial) era a principal causa da inflação do ponto de vista estatístico. O segundo indicava que a influência sobre a inflação de variações no hiato do produto (componente da “Curva de Phillips” da inflação) era muito pequena. Nesse sentido, um hiato de produto de cerca de 15% reduziria a inflação em apenas 4% ou 6% ao ano. Isso seria insignificante, dada à dimensão da inflação no país, além de ser politicamente insustentável. Os economistas questionavam também a relevância do déficit público como causa da inflação. Descontados os efeitos da correção monetária e cambial, o déficit público no Brasil atingira apenas 3,0% do PIB. Esse nível era semelhante ao verificado (nessa época) em países como Estados Unidos e França e inferior ao verificado na Itália e no Canadá — países com inflações anuais muito inferiores às taxas brasileiras. (4) A ineficácia dos programas do FMI para estabilizar a economia brasileira, na primeira metade dos anos 80, era vista como prova cabal de que a inflação brasileira não era resultado de um sobreaquecimento da demanda em relação à estrutura da oferta. A inflação seria resultado, primordialmente, de cláusulas de indexação que a perpetuavam ao longo do tempo. Mas, ao contrário dos economistas do PMDB (que também acreditavam que o déficit público não era a principal causa da inflação), os economistas da PUC não acreditavam na viabilidade de um Pacto Social. Essencialmente, o argumento era de que o Brasil não dispunha de uma estrutura política que permitisse acordos tripartites (governo, trabalhadores e empresários)muito abrangentes, sendo muito difícil evitar que determinados grupos rompessem o Pacto. O fim da inflação, portanto, passaria pela desindexação, mas esta não ocorreria através de um acordo voluntário. Do ponto de vista político, existiam dois grandes atrativos nas propostas dos economistas da PUC. O primeiro deles era prometer a estabilização dos preços sem adotar políticas restritivas de demanda. Ao contrário, seria possível até aumentar a oferta de moeda — já que o fim da inflação traria consigo um natural processo de remonetização da economia durante os meses iniciais. O outro atrativo era seu caráter “neutro” do ponto de vista distributivo. Embora a desindexação não trouxesse a solução para a má distribuição de renda do Brasil, sua adoção poria salários e outras rendas em seus respectivos valores médios de equilíbrio (daí a caracterização de “choque neutro”). Posteriormente, com o fim da inflação, melhoraria a situação dos menos abastados (aqueles que mais sofrem com a inflação, pois tem menor acesso a ativos indexados). O que é inflação inercial? De acordo com Francisco Lopes, a inércia inflacionária decorre da existência de contratos com cláusulas de indexação. Numa economia indexada, a tendência inflacionária torna-se a própria inflação do período anterior e pode ser agravada, ocasionalmente, por flutuações decorrentes de choques de oferta (choques agrícolas, choque do petróleo etc.) ou de choques de demanda (causados por um descontrole fiscal, por exemplo). O ponto fundamental é que essas possíveis fontes de flutuação, em vez de passageiras, são incorporadas à tendência. (GIAMBIAGI, 2011, p. 105) 3) Qual o objetivo do Consenso de Washington em relação a economia brasileira? Entre as paginas 135 e 136 Giambiagi explica: A crise financeira do Estado foi, ainda, decididamente agravada pelos sucessivos fracassos no combate à inflação. De fato, se considerarmos o período de 1986 a 1991, a economia brasileira foi submetida a diversos Planos de Estabilização (Plano Cruzado, Bresser, Verão, Collor I e Collor II). Enquanto o país se debatia em tentativas de combate à inflação, a indústria deixava de acompanhar os avanços tecnológicos e organizacionais em rápida propagação nas economias desenvolvidas. A retração do investimento prejudicaria particularmente a indústria de bens de capital. [...] Enquanto a renda per capita da economia brasileira diminuía mais de 0,5% ao ano em média na década, surgiam no cenário internacional o chamado Consenso de Washington e o Plano Brady, ambos em 1989. Por ocasião de um encontro do Institute for International Economics em Washington, D.C., o economista John Williamson listou uma série de reformas que os países em desenvolvimento deveriam adotar na área econômica para que entrassem em uma trajetória de crescimento autossustentado. Essa lista foi intitulada pelo próprio Willianson de “Consenso de Washington”, pois ele acreditava ser um conjunto de medidas com que a maioria dos economistas ali presentes estaria de acordo. Sumariamente, as propostas de Williamson visavam assegurar a disciplina fiscal e promover ampla liberalização comercial e financeira, além de forte redução do papel do Estado na economia. 4) Quais as medidas adotadas no I Plano Collor? O Plano Collor I foi lançado já no dia 15 de março de 1990, mesmo dia da posse do novo presidente da República, Fernando Collor. Através deste, o cruzeiro foi reintroduzido como padrão monetário e foi promovido um novo congelamento de preços de bens e serviços. Como o plano foi lançado na metade do mês, os trabalhadores tiveram apenas garantida a inflação de fevereiro, perdendo a variação ocorrida nos primeiros dias de março. As medidas de congelamento foram, todavia, desrespeitadas e pouco caracterizam o Plano. De fato, após sucessivos choques semelhantes, tais ações não contavam com a menor credibilidade. Duas grandes áreas foram diretamente afetadas, a financeira e a fiscal: Foi na área financeira que se deu a maior (e bastante traumática) mudança: o sequestro de liquidez. Todas as aplicações financeiras que ultrapassassem o limite de NCr$50.000 (cerca de US$1.200, ao câmbio da época) foram bloqueadas por um prazo de 18 meses. No que tange às medidas fiscais, o Plano Collor I promoveu um aumento da arrecadação, através da criação de novos tributos, aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Obrigações Financeiras (IOF) e outros; redução de prazos de recolhimento; suspensão de benefícios e incentivos fiscais não garantidos pela Constituição, além de uma série de medidas de combate à sonegação. (GIAMBIAGI, 2011, p. 138 e 139) 5) O Plano Real é um Plano de Estabilização idealizado em 3 fases. Quais são elas? Explique. O Plano Real foi originalmente concebido como um programa em três fases: a primeira tinha como função promover um ajuste fiscal que levasse ao “estabelecimento do equilíbrio das contas do governo, com o objetivo de eliminar a principal causa da inflação brasileira”; a segunda fase visava “a criação de um padrão estável de valor denominado Unidade Real de Valor — URV”; finalmente, a terceira concedia poder liberatório à unidade de conta e estabelecia “as regras de emissão e lastreamento da nova moeda (real) de forma a garantir a sua estabilidade”. (GIAMBIAGI, 2011, p. 142) FASE I: A chamada “primeira fase” do Plano Real foi composta, conforme explicitava a própria Exposição de Motivos, por dois esforços de ajuste fiscal: o Programa de Ação Imediata (PAI) e o Fundo Social de Emergência (FSE). O PAI, a rigor, já havia sido lançado em maio de 1993, tendo por foco a redefinição da relação da União com os Estados e do Banco Central com Bancos Estaduais e Municipais, além de um programa de combate à sonegação. Dando continuidade a esses esforços, propunha-se, em fevereiro de 1994, a aprovação do FSE. Este seria constituído através da desvinculação de algumas receitas do governo federal, visando atenuar a excessiva rigidez dos gastos da União ditada pela Constituição de 1988. No discurso do governo, pretendia-se, com o FSE, resolver a questão do financiamento dos programas sociais brasileiros, identificados como prioritários. Seu caráter “emergencial” se devia ao fato de que, originalmente, era previsto vigorar por um período de apenas dois anos (1994-95), embora tenha sido sistematicamente prorrogado, com outros nomes. FASE II: A segunda fase do Plano buscava eliminar o componente inercial da inflação. Partiu-se do princípio de que para acabar com a inflação era preciso “zerar a memória inflacionária”. Mas, em vez da utilização de congelamentos de preços, a desindexação seria feita de forma voluntária, através de uma quase moeda, que reduziria o período de reajustes de preços. A estratégia de redução do reajuste dos preços (superindexação) para posterior desindexação partia da observação de que, paradoxalmente, é mais fácil combater uma hiperinflação do que eliminar inflações altas e institucionalmente enraizadas (alta inflação). Historicamente, as hiperinflações terminam de forma abrupta, enquanto inflações mais moderadas podem se revelar persistentes ao longo de anos, como ocorreu, em alguns países latino-americanos. Por que isso ocorre? Para a corrente que defendia a necessidade da desindexação para o sucesso do Plano Real, o problema decorre, basicamente, do fato de que, na alta inflação, os preços ainda acompanham movimentos da inflação passada; enquanto na hiperinflação os preços passam a seguir diariamente os movimentos de outra moeda, em geral o dólar. Retiram-se, portanto, os vínculos dos preços com o passado e criam-se as pré-condições para acabar com a inflação, através de uma “nova moeda”, sem memória. Em suma, através da URV, ao invés de esperar que o encurtamento do período de reajustes dos contratos viesse em consequênciade uma aceleração da taxa de inflação (como ocorrera nos países que viveram episódios dramáticos de hiperinflação), propunha-se uma reforma monetária que anulasse a memória inflacionária do sistema, de forma a simular uma hiperinflação, sem viver suas consequências. FASE III: A Medida Provisória (MP) 542, que deu início à terceira fase do Plano Real, apresentava um conjunto de medidas sobrepostas. Eram elas, entre outras: (1) o lastreamento da oferta monetária doméstica (no conceito de base monetária) em reservas cambiais, na equivalência de R$1 por US$1 (Art. 3 da MP) ainda que essa paridade pudesse ser alterada pelo Conselho Monetário Nacional; (2) a fixação de limites máximos para o estoque de base monetária por trimestre (até março de 1995), podendo as metas serem revistas em até 20%; e (3) a introdução de mudanças institucionais no funcionamento do Conselho Monetário Nacional, buscando dar passos em direção a uma maior autonomia do Banco Central. Não foi por outro motivo que logo após a divulgação de seu conteúdo, diversos economistas criticaram a MP pela indefinição, na prática, de certos mecanismos referidos no documento. Em primeiro lugar, o governo estabeleceu o lastro sem garantir a conversibilidade entre o dólar e o real — o que retirava parte de sua credibilidade. Em segundo lugar, sabia-se que a redução da inflação pela URV levaria a uma natural remonetização da economia, mas a magnitude em que se daria o fenômeno era ainda desconhecida. Nesse sentido, o risco de as metas monetárias estabelecidas pela MP serem ultrapassadas era bastante alto. Por fim, e mais importante, a MP foi acusada de conter uma grave inconsistência econômica ao lançar, simultaneamente, âncoras monetária e cambial em uma economia com mobilidade de capitais. Quanto a esse aspecto, poucos dias depois, foi esclarecido que o real adotaria âncora monetária (metas) e o câmbio seria livre para oscilar para baixo, mas teria o teto fixo em 1 real = 1 dólar (banda assimétrica). Além dessas medidas, o Banco Central anunciou um enorme aperto de liquidez. Os recolhimentos compulsórios sobre depósitos à vista (novos) foram, em junho, aumentados de 40 para 100%, enquanto os de depósitos compulsórios a prazo e de poupança foram fixados em 20%. Os compulsórios foram sendo gradualmente reduzidos. Esse significativo aperto de liquidez logo após o lançamento da nova moeda é uma das maiores características do Plano Real em contraposição a planos de estabilização da segunda metade dos anos 1980. O objetivo desse aperto era conter o impulso de demanda que se verificara após a estabilização no Brasil. (GIAMBIAGI, 2011, p. 142 a 151) 6) No fim do seu mandato, a questão da fome ganha relevo entre a população. Fernando Henrique Cardoso foi sucedido pelo candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Luís Inácio Lula da Silva, na presidência da República. Explique. Para responder a esta questão recorro à uma pesquisa feita pelo IPEA no ano no ano de 2000 publicada no Jornal Folha de São Paulo por André Soliani A pobreza voltou a crescer no país no primeiro ano do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 1999, mais 3,1 milhões de brasileiros passaram a não ter renda suficiente para comer, vestir-se e cuidar da saúde e da educação. Segundo pesquisa de Sônia Rocha, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, havia, em 1998, 33,4% da população brasileira vivendo na pobreza. No ano passado, o percentual de pobres subiu para 34,9%, um total de 54,1 milhões de brasileiros. Desde 1996, a porcentagem de pobres não crescia no país. Na série de levantamentos sobre a pobreza elaborada por Rocha, esse é o pior resultado do governo Fernando Henrique Cardoso, não apenas em números absolutos, mas em porcentagem da população. A pobreza só foi maior em 1993, ano em que atingia 44,1% da população (cerca de 62,4 milhões de pessoas). A crise cambial de 1999 e as políticas sociais colocadas em prática não permitiram que FHC, após a reeleição, cumprisse a principal bandeira levantada na campanha. "A luta contra a fome e a miséria é a razão maior do programa. Todo o restante (estabilidade, crescer e gerar emprego, radicalizar a democracia e indicar a co- responsabilidade da sociedade) só se justifica por este objetivo maior", diz extrato do programa de governo apresentado na época da campanha pela reeleição. Mas o resultado da crise de 1999 poderia ter sido pior, afirma a pesquisadora do Ipea. Embora a pobreza tenha crescido, a indigência diminuiu. Em 1998, 13,9 milhões de brasileiros -9% da população- não tinham renda nem para uma alimentação decente. No ano passado, esse número caiu para 13,6 milhões - 8,7% da população. A velocidade da redução da miséria absoluta, no entanto, não é o suficiente para FHC cumprir a principal promessa relativa à redução de pobreza: ""resgatar" mais de 5 milhões de famílias da indigência. A meta aparece com destaque programa de governo do então presidente- candidato, chamado "Avança Brasil". Pelas contas de Sônia Rocha, FHC prometeu salvar mais miseráveis do que os que existem no país. Os dados da pesquisadora mostram que havia em 1998 cerca de 4 milhões de famílias indigentes no Brasil. O governo trabalha com outros números de indigência, cerca de 6,1 milhões de famílias. Segundo números do IBGE, cada família brasileira tem, em média, 3,5 componentes. "Eu acho que o presidente quis dizer que resgataria da indigência 5 milhões de pessoas", comentou Sônia Rocha. Tirar da miséria 5 milhões de pessoas até dezembro de 2002 também é considerado improvável pela pesquisadora. "O fim da inflação permitiu a redução dos índices de miséria no país, e isso não se repete", afirma a pesquisadora. Segundo ela, a redução da indigência e da pobreza vai acontecer num ritmo mais lento nos próximos anos de governo FHC. Foi em 1995, ano seguinte ao lançamento do plano de estabilização, que a pobreza mais caiu. Ficou em 33,2% da população, graças ao controle da inflação e também a um aumento mais efetivo do salário mínimo. Em 1996, voltou a crescer discretamente, para cair mais uma vez em 1998. De 1993 (não existem dados sobre pobreza para o Brasil em 1994) a 1998, saíram da indigência cerca de 8 milhões de pessoas (2,28 milhões de famílias), segundo os dados do Ipea. A redução dos índices globais de pobreza e de miséria esconde uma realidade dura para as principais metrópoles do país. Em São Paulo, por exemplo, a pobreza cresceu no primeiro mandato de FHC. Em 1995, 26,89% da população paulista era pobre. Em 1998, 32,96%. Os dados de 1999 ainda não estão disponíveis. "De uma maneira geral, a pobreza diminuiu nas áreas rurais e piorou nas principais capitais", diz Sônia Rocha. Segundo ela, o aumento do desemprego, principalmente entre os trabalhadores menos qualificados, explica o comportamento. Os dados que o Palácio do Planalto usa para acompanhar a pobreza ainda não foram concluídos. Mas a tendência deverá ser a mesma apontada pelo estudo do Ipea. O chefe da assessoria especial do presidente Fernando Henrique Cardoso, Vilmar Faria, afirmou que os levantamentos apresentam números diferentes, mas tendências iguais. O governo usa uma tabela que também é elaborada por pesquisadores do Ipea. O número total de pobres é praticamente o mesmo, mas o de indigentes difere bastante. Nos dados que o governo divulga, é indigente quem ganha metade da renda necessária para estar acima da linha de pobreza. Sônia Rocha usa o custo da cesta básica de alimentos em cada região do país para traçar sua linha de indigência, uma conta considerada mais precisa. Os números de indigência apontados pela pesquisadora são mais favoráveis para o governo. Em 1998, a tabela oficial apontava a existência de 21,4 milhões de indigentes (13,9% da população). Segundo esses dados, 6,4milhões de pessoas foram resgatadas da miséria absoluta durante o primeiro governo FHC. A promessa de resgatar 5 milhões de famílias (cerca de 17,5 milhões de pessoas) seria, portanto, um objetivo mais ambicioso que o alcançado graças ao fim da inflação em 1994. E mesmo alguns colaboradores do presidente consideram improvável repetir aquele resultado. (SOLIANI, 2000) 7) A posse de Lula em 2003 teve dois significados importantes. Quais? A sua posse do presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva em 2003 teve dois significados importantes. Em primeiro lugar, em termos político-ideológicos, representou a ascensão da esquerda ao poder, através do Partido dos Trabalhadores (PT). Pelas posições deste desde a primeira vez que Lula foi candidato a presidente, em 1989, o novo governo parecia encarnar uma mensagem de transformação talvez apenas comparável, na América do Sul, à posse de Salvador Allende no Chile, nos anos de 1970. Em segundo lugar, a perspectiva de um governo Lula servia como um teste importante para a economia brasileira. De fato, durante anos, inicialmente com as reformas dos governos Collor/Itamar Franco e, mais especialmente, após o Plano Real, as autoridades tinham assumido o discurso das mudanças estruturais. Isso implicava afirmar que a defesa da estabilidade e, a partir do final dos anos 90, a austeridade fiscal, seriam transformações permanentes, que cristalizariam ambições nacionais, e não do partido A ou B. Esse discurso, porém, tinha dificuldades para convencer muitos analistas, tanto no mercado doméstico como no internacional, como se conclui à luz dos prêmios de risco e das taxas de juros ainda bastante elevadas observadas na prática ao longo de todo o período de 1999- 2002. Em outras palavras, o mercado pareceu durante muito tempo entender que o compromisso com a estabilidade e a austeridade era do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), junto com seu ministro da Fazenda (Pedro Malan) e o Banco Central (BC). Havia dúvidas, porém, sobre até que ponto esses compromissos seriam mantidos pelo governo seguinte. (GIAMBIAGI, 2011, p. 198) 8) Porque o autor afirma que houve uma mudança do PT para o centro? Ao longo dos anos — e à medida que crescia — o PT, bem como seu candidato a presidente da República, Lula, lançado pelo partido desde as eleições de 1989, passaram por um processo de moderação. A frase de Luiza Erundina “Sou mais madura, mais experiente, mais consciente das limitações de ser Governo. Sou mais tolerante na convivência com outras forças políticas e entendo que um governo tem de ser mais amplo. Mudei muito.” na epígrafe deste capítulo nº 08 — embora ela não faça mais parte do PT — é a expressão desse processo. Como é comum em partidos de esquerda que, tendo a perspectiva do poder, se aproximam do centro político, o PT foi abandonando algumas bandeiras que empunhou historicamente, como, por exemplo, a defesa específica da moratória da dívida externa. (GIAMBIAGI, 2011, p. 198) REFERÊNCIAS: Pobreza volta a crescer no segundo mandato de FHC Disponível em < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0910200002.htm>. Acesso em 07 de agosto de 2018. CASTRO, L. B. Esperança, Frustração e Aprendizado: A História da Nova República. (1985_1989). In: Economia Brasileira Contemporânea. Cap. 5. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 3ª reimpressão. Privatização, abertura e Desindexação: A Primeira metade dos anos 90 (1990-1994) In: Economia Brasileira Contemporânea. Cap. 6. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 3ª reimpressão. GIAMBIAGI, Fabio; VILELA, André; CASTRO, Lavinia Barros de & HERMANN, Jennifer. Economia brasileira contemporânea ( 1945 – 2004). Cap. 7. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. GIAMBIAGI, Fabio. et all. Economia Brasileira Contemporânea (1945-2010). Cap. 8 . 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2011. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0910200002.htm
Compartilhar