Buscar

ARTIGO COMPLETO - 6SSS

Prévia do material em texto

A IMPORTÂNCIA DA MATA CILIAR PARA A QUALIDADE DOS 
RECURSOS HÍDRICOS EM MANANCIAL DE ABASTECIMENTO 
 
1 Márcio Santos da Silva, 2 Maristela Denise Moresco Mezzomo 
 
1 Companhia de Saneamento do Paraná-Sanepar, marcioss@sanepar.com.br; 2Universidade Tecnológica Federal do 
Paraná, mezzomo@utfpr.edu.br 
 
Palavras-chave: Bacia Hidrográfica; Degradação; Restauração 
 
 
Resumo 
 
A quantidade e qualidade de água para abastecimento público é uma preocupação constante das concessionárias ou autarquias 
responsáveis por este serviço nos municípios. Considerando esta preocupação, este trabalho fez uma análise da bacia hidrográfica 
do ribeirão Bolívar, manancial de abastecimento do município de Cianorte, localizado na região noroeste do Paraná, com intuito 
de identificar áreas degradadas que podem comprometer o abastecimento. Os dados foram coletados por meio de registro 
fotográfico aéreo, análise físico-química de turbidez com e sem chuva e pesquisa bibliográfica. Os resultados obtidos indicaram 
que a mata ciliar está degradada em alguns pontos e que, em períodos chuvosos, a turbidez aumenta significativamente, pois a 
ausência da mata ciliar provoca o aumento da velocidade de escoamento superficial e sem um filtro para retenção dos sedimentos, 
eles vão diretamente para o ribeirão, provocando assoreamento, alteração na turbidez e interrupção do processo de captação, 
tratamento e distribuição de água. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Muitos mananciais de abastecimento público no Brasil apresentam áreas com alta suscetibilidade a erosão e degradação 
da mata ciliar das faixas marginais de proteção (INEA, 2018). Essa situação, para Oliveira-Filho et al. (1994), tem contribuído 
 
para o desequilíbrio do regime de cheias, assoreamento, aumento da turbidez das águas, erosão das margens de grande número 
de cursos d’água, além do comprometimento da fauna silvestre. 
Ainda, o processo de degradação da mata ciliar e sua substituição por atividades agropecuárias e expansão urbana vêm 
causando alterações na qualidade das águas e afetando o abastecimento público (DAVIDE et al., 2002; PINTO, 2003; GROSSI, 
2006). 
Essa situação pode ser constatada na bacia do ribeirão Bolívar, manancial de abastecimento de Cianorte, Paraná. De 
acordo com a Companhia de Saneamento do Paraná - SANEPAR, concessionária que administra o abastecimento nesse 
município, a barragem da captação de água do ribeirão Bolívar apresenta assoreamento constante em períodos chuvosos e que, 
em virtude disso, o nível da turbidez pode chegar a mais de 3.000NTU, o que, de acordo com os operadores da Estação de 
Tratamento de Água (ETA), impossibilita o tratamento da água cuja captação é interrompida, podendo comprometer o 
abastecimento público. 
O referido manancial, de acordo com informação obtida com o responsável pelo setor na SANEPAR, atende 
aproximadamente 62% da população urbana do município; portanto, a preservação da sua bacia é de suma importância para 
minimizar esse risco. Nesse contexto, a mata ciliar tem um papel de destaque, pois ela exerce as funções hidrológicas e ecológicas 
de proteção aos solos e aos recursos hídricos; regulariza os cursos d’água e; conservação na biodiversidade (RODRIGUES, 
2004). 
Considerando a importância da mata ciliar para todo o ecossistema da bacia do manancial de abastecimento, 
principalmente, para a conservação da qualidade e quantidade da água, foi realizada uma análise da bacia hidrográfica do ribeirão 
Bolívar, a montante do local onde é feita a captação, como forma de identificar as áreas degradadas e a importância da sua 
restauração para a preservação desse manancial, evitando situações de assoreamento, aumento de turbidez e risco de 
desabastecimento. 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
De acordo com Castro et al. (2017), as matas ciliares, também conhecidas como florestas ripárias, matas de galerias e 
florestas ribeirinhas, podem ser compreendidas como cobertura vegetal nativa, assim como, por sistema florestal comumente 
situado em faixas de margens de rios, outros corpos de água, entorno de nascentes, lagos, represas artificiais ou naturais. Elas 
atuam também como uma espécie de barreira que segura os materiais terrosos que chegam com as chuvas (enxurradas), 
impedindo ou dificultando o assoreamento do curso d’água. Essa barragem contribui para segurar toda espécie de materiais 
estranhos que afeta a qualidade das águas do rio, como por exemplo, os excessos de adubo e agrotóxicos utilizados na 
agropecuária e em outras atividades (NICÁCIO, 2001). Ainda, as matas ciliares são consideradas como Área de Preservação 
Permanente (APP), pela Lei nº 12.651 de maio de 2012, que instituiu o novo código florestal brasileiro, e sua vegetação é 
considerada como um processo de preservação da diversidade do meio ambiente. Para os efeitos dessa Lei, entende-se por APP 
a área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a 
estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das 
populações urbanas (BRASIL, 2012). 
O artigo 4º da referida Lei determina a largura mínima da APP no entorno das nascentes e ao longo das faixas marginais 
dos corpos d’água. No entanto, para a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES)-SP (2012), o Novo 
Código Florestal reduziu de forma significativa a faixa de proteção dos reservatórios artificiais destinados a geração de energia 
ou abastecimento público cujos os limites poderão ser inferiores aos 100m anteriormente estabelecidos. 
 
Além disso, para Alves (2013), a nova lei estabelece, como agravante, a inserção da área rural consolidada, ou seja, 
permite a legalização das áreas que foram ilegalmente desmatadas, pois eram legais ao tempo da prática e passaram a ser 
irregulares após a alteração legislativa superveniente. Assim, alterou a faixa de preservação obrigatória da mata ciliar dos rios 
com menos de cinco metros de largura, passando de 30 metros nessas espécies de rios para 20 metros, representando uma via 
para o desmatamento das APPs. 
De acordo com Costa e Gabrich (2018), o novo Código Florestal legitimou os danos ambientais e anistiou o dever de 
reparação aos prejuízos ambientais sofridos, reduzindo o direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
Estas alterações no Novo Código Florestal promovem, consequentemente, o aumento dos riscos de erosão no entorno e 
nas margens dos rios, bem como o assoreamento de corpos hídricos, devido ausência ou diminuição da mata ciliar. Estas 
situações em áreas de manancial de abastecimento público são ainda mais agravantes, devido ao desencadeamento de outros 
problemas relacionadas a qualidade e quantidade de água bruta. 
De acordo com a Portaria nº 149 de 26 de março de 2015, manancial é “qualquer fonte hídrica, superficial ou 
subterrânea, que possa ser utilizada para atender às diversas demandas consuntivas” (ANA, 2015, p. 24). Ainda, corresponde às 
porções do território de interesse para ordenamento, proteção e recuperação, afim de manter a disponibilidade de água e evitar a 
sua contaminação por atividades antrópicas nas bacias hidrográficas que constituem as áreas dos mananciais superficiais, situadas 
a montante dos pontos de captação, e nas áreas de mananciais subterrâneos que compreendem a área total de captura de recarga, 
ou seja, nas áreas onde toda a água de recarga do aquífero é captada pelo poço de abastecimento (INEA, 2018). 
As áreas de mananciais podem abranger territórios extensos, que, segundo o INEA (2018, p. 34), geralmente são 
“subdivididas em diferente unidades, zonas e/ou perímetros de proteção, onde podem ser estabelecidas restrições de uso do solo 
diferenciados em função do seu grau de importância e influência na disponibilidade hídrica”. 
A proteçãodesse recurso hídrico, de acordo com a alínea B do capítulo 18.12 da Conferência das Nações Unidas Sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento, está a cargo dos Estados que podem 
 
Integrar medidas de proteção e conservação de fontes potenciais de abastecimento de água 
doce, entre elas o inventário dos recursos hídricos, com planejamento do uso da terra, 
utilização de recursos florestais, proteção das encostas de montanhas e margens de rios e 
outras atividades pertinentes de desenvolvimento e conservação (ONU, 1977, p. 3). 
 
Essas medidas devem-se ao fato de que o abastecimento público de água em termos de quantidade e qualidade é uma 
preocupação crescente da humanidade, em função da escassez do recurso água e da deterioração da qualidade dos mananciais 
(BRASIL, 2006, p. 18). 
 Um dos principais aspectos a serem considerados neste contexto, se refere a turbidez da água. Turbidez, segundo Correia 
et al. (2008, p. 2), pode ser definida como a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar certa quantidade de água em 
virtude da suspensão de partículas. Ela é “particularmente alta em regiões com solos erosivos, onde a precipitação pluviométrica 
pode carrear partículas de argila, silte, areia, fragmentos de rocha e óxidos metálicos do solo” (BRASIL, 2014, p. 19). 
A água apresenta turbidez natural que, geralmente, está compreendida na faixa de 3 a 500 unidades fins de potabilidade 
e deve ser inferior a 1 unidade, pois ela influencia os processos usuais de desinfecção, agindo como escudo para os micro-
organismos patogênicos e, consequentemente, reduz a ação do desinfetante (BRASIL, 2014, p. 19). 
A identificação da medida da turbidez é realizada pelo turbidímetro onde se realiza a comparação do “espalhamento de 
um feixe de luz ao passar pela amostra com o espalhamento de um feixe de igual intensidade ao passar por uma suspensão 
padrão. Quanto maior o espalhamento maior será a turbidez” (CORREIA et al., 2008, p. 2). O valor da turbidez é expresso em 
Unidade Nefelométrica de Turbidez (NTU). 
 
 
3 MATERIAL E METODOS 
 
O Bolívar nasce nas proximidades da área urbana de Cianorte/PR. e possui área de drenagem de 14,30km² 
(CONSÓRCIO RHA-FERMA-VERTRAG, 2016). Faz parte da bacia do Rio Ivaí e é considerado um rio classe 1 de acordo 
com a Portaria SUREHMA nº019/92 que afirma que todos os cursos d’água da bacia do rio Ivaí pertencem à classe 2, exceto os 
utizados para abastecimento público e seus afluentes, que pertencem à classe 1, desde suas nascentes até a seção de captação, 
quando a área desta bacia de captação ou igual a 50 km² (CONSÓRCIO RHA-FERMA-VERTRAG, 2015, p. 25). 
A bacia do ribeirão Bolívar está sendo ocupada por núcleos habitacionais que deixam o solo sem cobertura e exercem 
forte pressão sobre a área da APP o que representa um sério risco de assoreamento do ribeirão pela falta de manejo do solo que 
provoca o surgimento de sulcos erosivos 
 Foi realizado o registro fotográfico aéreo com Drone e utilizado o arquivo fotográfico da concessionária para verificar 
a situação da mata ciliar da bacia hidrográfica do ribeirão Bolívar, da nascente ao ponto de captação. 
O voo ocorreu em 10 de outubro de 2019, das 16h00 às 17h00, com um drone DJI Phantom 4 Pro V2, com altura de 
187,00m (distância ideal encontrada, entre o drone e a superfície, para qualidade e análise das fotos), para registrar as áreas 
degradas da mata ciliar e a ocupação antrópica da bacia. 
O arquivo fotográfico da SANEPAR foi utilizado para evidenciar o assoreamento da represa da captação em períodos 
chuvosos, assim como, apresentar o aspecto visual da água. 
As análises foram realizadas no dia 04 de dezembro de 2019, da 00h00 às 24h00, no laboratório da Estação de 
Tratamento de Água (ETA) de Cianorte, pelos 4 operadores da estação que se revesam em turnos de 6h, e se concentraram, 
especificamente, na turbidez medida imediatamente após a coleta, em cubeta, da água in-natura na calha de chegada da estação 
(a cada uma hora, totalizando 24 análises), para prevenir que as mudanças de temperatura e de sedimentação de partículas 
afetassem as características. Essa variável é a que sofre a maior alteração e determina se há ou não condições de tratamento. Para 
isso, foi empregado o método Nefelométrico, descrito no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, 23th 
– Method 2130 B. Nephelometric Method. Esse método baseia-se na comparação da intensidade da luz espalhada pela amostra, 
sendo que, quanto maior a intensidade da luz espalhada, maior a turbidez (IA/LAB/0027-024-SANEPAR, 2019). Os materiais e 
equipamentos utilizados foram: um turbidímetro portátil Hach 2100p; materiais e vidrarias (cubetas de vidro incolor e lenço de 
papel) e; reagentes e soluções (padrões secundários – ampolas) para padronizar o turbidímetro. 
Além disso, tendo como base bibliografia específica, foi apresentada as principais características da mata ciliar para a 
preservação do recurso hídrico e elaborada uma proposta para restauração das áreas degradas da mata ciliar, determinando as 
espécies nativas de acordo com seu estádio sucessional, crescimento e sobrevivência em condições de campo. 
 
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
O manancial de abastecimento Público de Cianorte, Paraná, é o ribeirão Bolívar, com área de 2.435,61ha da nascente 
até o exutório, no ponto de captação (figura 1). 
 
 
 
Figura 1: Croqui do manancial do ribeirão Bolívar. Fonte: Google Earth (2021) 
 
A expansão da área urbana de Cianorte-PR está ocorrendo em direção à bacia do ribeirão Bolívar (figura 2). Tal 
situação, tem provocado aumento da vulnerabilidade ambiental do manancial, em virtude da ação direta das ações antrópicas. 
Para Oliva Júnior (2012), é uma relação conflitante, pois ele agride o seu próprio habitat como forma de evoluir o seu modo de 
vida, desconsiderando os danos que essa evolução lhe causará no futuro. 
Com a ocupação antrópica na bacia do manancial veio a exploração econômica nas áreas adjacentes à APP (pecuária, 
por exemplo). Isso têm provocado a sua degradação como pode ser observado na figura 3 que ilustra uma das 5 situações 
identificadas. Segundo Lacerda e Figueiredo (2009, p. 296), a ausência da mata ciliar compromete a absorção da água 
proveniente do escoamento superficial no seu entorno, contribuindo para a formação dos processos erosivos do solo. 
 
 
 Figura 2. Ocupação antrópica na bacia do Figura 3. Abertura de clareira na mata ciliar do 
 ribeirão Bolívar. Fonte: Sanepar (2019) tributário dos Amores. Fonte: Sanepar (2019) 
 
Para Lacerda e Figueiredo (2009), a formação de processos erosivos tem como consequência o assoreamento do curso 
d’água, o que pode ser constatado no ribeirão Bolívar em períodos chuvosos (figura 4). 
Assim, o carreamento de areia e argila para dentro do manancial altera o nível da unidade de turbidez (uT) da água 
reduzindo “a eficiência da cloração pela proteção física conferida aos micro-organismos ao contato direto com os desinfetantes. 
Além disso, as partículas de turbidez transportam matéria orgânica absorvida que podem provocar sabor e odor” (BRASIL, 2014, 
p. 92). 
 A turbidez natural das águas está compreendida, geralmente, na faixa de 3 a 500 unidades para fins de potabilidade 
(BRASIL, 2014, p. 19). Essa variável no ribeirão Bolívar, em dias chuvosos, pode ultrapassar as 3.000 unidades (figura 5), 
impossibilitando o processo de tratamento de água que pode comprometer o abastecimento. 
 
 
 
 Figura 4. Assoreamento da barragem da Figura 5. Turbidez em excesso na água em 
 represa da EEB1. Fonte: Sanepar (2015) períodos chuvosos na EEB. Fonte: Sanepar (2015) 
 
 O registro fotográfico ilustra algumas das situações recorrentes em dias com precipitação expressivas que são 
identificadas na EEB1, demonstrando que aocupação antrópica da bacia hidrográfica do ribeirão Bolívar provoca impacto 
sistêmico no ecossistema, o que fica bastante evidente nos componentes abióticos (água, solo, etc.). 
 Percebe-se que o uso e manejo do solo é inadequado por apresentar locais sem cobertura vegetal que é propício para 
formação de processo erosivo. A dessedentação do gado é realizada no manancial ou nos seus tributários e a mata ciliar está 
degradada, consequentemente, em períodos chuvosos, ocorre o carreamento do solo para dentro do rio alterando a turbidez que 
é um parâmetro da variável física cuja alteração é significativa a ponto de influenciar negativamente no processo de captação da 
água. 
 Ainda, de acordo com os operadores técnicos da SANEPAR, ocorrem outros problemas como: desgaste prematuro dos 
equipamentos de sucção; necessidade de descargas constantes na adutora, floculadores, decantadores e filtros e; aumento no 
consumo de produtos químicos. Como há aumento no custo da produção, ele é repassado para os consumidores. 
 Segundo os operadores da ETA da SANEPAR, as águas do ribeirão Bolívar apresentam, normalmente, uma turbidez 
que varia entre 5 a 7 NTU. No entanto, esse valor é alterado significativamente em períodos chuvosos, como foi identificado no 
dia 04 de dezembro de 2019, quando ocorreu uma forte chuva durante a madrugada que atingiu o volume de 100mm, provocando 
significativas alterações na turbidez. 
Antes da chuva, a turbidez da água in-natura era de 7 NTU à 01h00. A partir das 02h00, quando iniciou a chuva, a 
turbidez começou a ser alterada, atingindo o pico às 12h00 com 3.750 NTU. 
 De acordo com a SANEPAR, quando a turbidez atinge 2000NTU a barragem já está em processo acentuado de 
assoreamento. No entanto, ainda é possível captar e tratar água até 3000NTU. Nessa situação, há um consumo acentuado de 
produto químico para correção de pH (Hidróxido de Cálcio) e coagulação (Policloreto de Alumínio). Ainda, ocorre a precipitação 
acentuada da saturação dos floculadores, decantadores e filtros por excesso de material sedimentado (lodo). 
 Dado ao exposto, o processo de captação pode ficar interrompido por horas. Além disso, soma-se o tempo necessário 
para descarga da barragem e limpeza dos poços de sucção (02h00) e a descarga dos floculadores, decantadores e filtros (02h00). 
 Como a produção de água é deficitária em relação ao consumo, o processo de recuperação do abastecimento é lento, 
mesmo considerando os reservatórios cujo volume atende a população, no máximo, por seis horas, dependendo do consumo. 
Nesse cenário, a possibilidade de falta de água é eminente. 
 Para evitar que tais situações se repitam e comprometam o abastecimento, é preciso evitar que o solo chegue ao rio. 
Para isso, a mata ciliar é uma das grandes responsáveis para evitar tal fenômeno. Durigan e Silveira (1999, p. 136) afirmam que 
é muito importante manter ou recuperar a cobertura florestal junto aos corpos d’água, porém, o desafio está em encontrar técnicas 
 
adequadas de revegetação e superar as barreiras culturais e socioeconômicas que impossibilitam a recuperação de matas ciliares 
em larga escala. 
Os principais procedimentos a serem adotados na revegetação da área em recuperação, de acordo com CMB (2013, p. 
287), deverão seguir as seguintes etapas: recomposição do substrato; seleção de espécies; determinação dos tratamentos-tipo; 
produção/aquisição de sementes e mudas; plantio e tratos culturais e; acompanhamento do desenvolvimento da vegetação 
recomposta e avaliação do sucesso das operações. 
Portanto, a restauração das áreas degradas da mata ciliar é essencial para preservação do ecossistema local, mas isso 
deve ser feito de maneira organizada para que o esse objetivo seja alcançado. Ainda, todos os setores da sociedade devem estar 
envolvidos, pois “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à 
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e 
futuras gerações” (BRASIL, 1998, p. 131). 
 
5. COMENTÁRIOS FINAIS 
 
A turbidez do ribeirão Bolívar, em condições normais, varia de 5 a 7NTU. Nessa situação, os processos de captação e 
tratamento de água ocorre normalmente. No entanto, em períodos chuvosos, eles podem ser interrompidos, pois a turbidez pode 
alcançar valores superiores a 3000NTU. 
 Essa situação tem relação direta com a degradação da mata ciliar, pois nos locais identificados com esse problema não 
ocorre a diminuição da velocidade de escoamento superficial e sem um filtro para retenção dos sedimentos, eles vão parar 
diretamente no corpo receptor, provocando o seu assoreamento e alterando significativamente a turbidez. 
Portanto, a restauração da mata ciliar pode ser uma alternativa para a preservação da qualidade e quantidade da água do 
manancial e, consequentemente, pode minimiza os riscos de interrupção do processo de captação, tratamento e distribuição de 
água à população. 
 Ainda, sob a perspectiva sistêmica, todo o ecossistema será beneficiado com essa iniciativa, pois a restauração da mata 
ciliar promoverá a qualidade da água, a estabilidade dos solos, a regularização dos ciclos hidrológicos e a conservação da 
biodiversidade. 
 
REFERÊNCIAS 
 
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Portaria nº 149, de 26 de março de 2015. Disponível em: 
http://arquivos.ana.gov.br/imprensa/noticias/20150406034300_Portaria_149-2015.pdf. Acesso em: 30 mar. 2020. 
 
ALVES, I. O Novo Código Florestal. 2013. Disponível em: <http://isabellealves.jusbrasil.com.br/artigos/111697485/o-novo-
codigo-florestal>. Acesso em: 30 ago. 2019. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL. ABES – SP: Código Florestal Apreciação 
Atualizada. 2012. Disponível em: <http://www.abes-sp.org.br/arquivos/atualizacao_codigo_florestal.pdf>. Acesso em: 03 out. 
2015. 
 
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 
[2016]. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf. Acesso em: 
31 mar. 2020. 
 
BRASIL. Lei nº 12.651, de 205 março de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nº 6.938, de 31 de 
agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de 
setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras 
 
providências. Disponível em: http://www.botuvera.sc.gov.br/wp-content/uploads/2014/09/lei-12651-2012-codigo-florestal.pdf. 
Acesso em: 27 mar. 2020. 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância e controle da qualidade da água para consumo 
humano/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 212 p. – (Série B. 
Textos Básicos de Saúde). ISBN 85-334-1240-1. Disponível em: 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigilancia_controle_qualidade_agua.pdf Acesso em: 30 ago. 2019. 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Manual de controle da qualidade da água para técnicos que 
trabalham em ETAS. Brasília: Funasa, 2014. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/site/wp-
content/files_mf/manualcont_quali_agua_tecnicos_trab_emetas.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020. 
 
CASTRO, J. L. S.; FERANDES, L. S.; FERREIRA, K. E. J.; TAVARES, M. S. A.; ANDRADE. J. B. L. Mata Ciliar: 
importância e funcionamento. VIII Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental Campo Grande/MS – 27 a 30 
/11/2017. Disponível em: https://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2017/XI-016.pdf. Acesso em: 27 mar. 
2020. 
 
CMB MINERAÇÃO E MEIO AMBIENTE. Relatório Ambiental 
Simplificado – RAS - PCH - rio dos Índios. Set. 2013. Disponível em: 
http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/Editais_Estudo_2019/Estudos_2019/RAS_PCH_Rio_dos_Indios.pdf.Acesso em: 14 mar. 
2020. 
 
COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ – SANEPAR. Abertura de clareira na mata ciliar do tributário córrego 
dos Amores do ribeirão Bolívar. Cianorte: SANEPAR, 2019. 1 fotografia aérea. 1920 x 1080. Data do voo 10 out. 2019. 
Arquivo Próprio. 
 
COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ – SANEPAR. Assoreamento da barragem da represa da EEB1. Cianorte: 
SANEPAR, 2015. 1 fotografia. 2592 x 1944. Data 12 jan. 2015. Arquivo Próprio. 
 
COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ (SANEPAR). IA/LAB/0027-024-SANEPAR. Determinação da Turbidez 
pelo Método Nefelométrico. Mai. 2019. 
 
COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ – SANEPAR. Ocupação antrópica na bacia do ribeirão Bolívar. 
Cianorte: SANEPAR, 2019. 1 fotografia aérea. 5472 x 3078. Data do voo 10 out. 2019. Arquivo Próprio. 
 
COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ – SANEPAR. Turbidez em excesso na água em períodos chuvosos na 
EEB1. Cianorte: SANEPAR, 2015. 1 fotografia. Data 2015. Arquivo Próprio. 
 
CONSÓRCIO RHA – FERMA – VERTRAG. RTP2 - RELATÓRIO TÉCNICO Nº 2 HÍDRICO DO PLANO DE 
RECURSOS HÍDRICOS DAS BACIAS DO BAIXO IVAÍ E CONSÓRCIO RHA – DISPONIBILIDADES, DEMANDAS 
E BALANÇO 
PARANÁ 1. Curitiba –PR, Março/2015. Disponível em: 
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=2ahUKEwjQ5dCCmavkAhUUErkGHa5-
DYEQFjAAegQIABAC&url=http%3A%2F%2Fwww.aguasparana.pr.gov.br%2Farquivos%2FFile%2FBaixo_ivai%2FPlano_
de_bacias%2FRTP2_150615_FINAL.pdf&usg=AOvVaw17OoPgBhRuIq-JvzYeEppJ. Acesso em: 30 ago. 2019. 
 
CORREIA, A.; BARROS, E.; SILVA; J.; RAMALHO, J. Análise da Turbidez da Água em Diferentes Estados de 
Tratamento. VIII ERMAC 8º Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional. 20-22 de nov. 2008. 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal/RN. Disponível em: 
http://www.dimap.ufrn.br/~sbmac/ermac2008/Anais/Resumos%20Estendidos/Analise%20da%20turbidez_Aislan%20Correia.
pdf. Acesso em: 30 mar. 2020. 
 
COSTA, B. S.; GABRICH, L. M. S. A área rural consolidada e a anistia aos danos ambientais no Código Florestal Brasileiro: 
retrocesso legitimado pelo STF. Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí Editora Unijuí – Ano 
XXVII – n. 50 – jul./dez. 2018 – ISSN 2176-6622. Disponível em: file:///D:/Documentos/Downloads/8145-
Texto%20do%20artigo-37859-1-10-20190206.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020. 
 
DAVIDE, A. C., PINTO, L. V. A., MONNERAT, P. F., BOTELHO, S. A. Nascente: o verdadeiro tesouro da propriedade 
rural – o que fazer para conservar as nascentes nas propriedades rurais. Lavras: UFLA; 2002. 
 
 
DURIGAN, G.; SILVEIRA, E. R. Recomposição da mata ciliar em domínio de cerrado. Assis, SP. Scientia Florestalis, n. 56, 
p. 135 – 144, dex. 1999. Disponível em: https://www.ipef.br/publicacoes/scientia/nr56/cap10.pdf. Acesso em: 14 mar. 2020. 
 
GOOGLE MAPS. Croqui do manancial do ribeirão Bolívar. Imagens © 2021 CNES / Airbus, Maxar Technologies, Dados 
do mapa © 2021. Escala 1.000.000. Disponível em: https://www.google.com/maps/place/Cianorte+-+PR,+87200-000/@-
23.6611758,-52.6914506,11971m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0x94ed5a1b0affdedd:0x78c211af373a5318!8m2!3d-
23.6628938!4d-52.6119284. Acesso em: 07 jul. 2021. 
 
GROSSI, C. H. Diagnóstico e monitoramento ambiental da microbacia hidrográfica do rio Queima-Pé, MT [tese]. 
Botucatu: Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista; 2006. 
 
INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTAL (INEA). Atlas dos mananciais de abastecimento público do Estado do Rio de 
Janeiro: subsídios ao planejamento e ordenamento territorial. Rio de Janeiro. Dez. 2018. 464 p. Disponível em: 
http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2019/01/Livro_Atlas-dos-Mananciais-de-Abastecimento-do-Estado-do-Rio-de-
Janeiro.pdf. Acesso em: 27 mar. 2020. 
 
LACERDA, D. M. A.; FIGUEIREDO, P. S. Restauração de matas ciliares do rio Mearim no município de Barra do Corda-MA: 
seleção de espécies e comparação de metodologias de reflorestamento. Acta Amazônica. vol. 39(2) 2009: 295 – 304. Disponível 
em: https://www.scielo.br/j/aa/a/tnRcRh5NH4FLGn86R5zyMTc/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 22 fev. 2020. 
 
NICÁCIO, J. E. M. A manutenção da mata ciliar: um ativo permanente. Revista de Estudos Sociais. Ano 3. n. 6/2001. 
Disponível em: http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/res/article/view/178/168. Acesso em: 27 mar. 2020. 
 
OLIVA JÚNIOR, E. F. Os impactos ambientais decorrentes da ação antrópica na nascente do rio Piauí – Riachão do Dantas/SE. 
Revista eletrônica da Faculdade José Augusto Vieira. Ano V – nº7, set 2012 – ISSN – 1983 – 1285. Disponível em: 
<http://fjav.com.br/revista/Downloads/edicao07/Os_Impactos_Ambientais_Decorrentes_da_Acao_Antropica_na_Nascente_do
_Rio_Piaui.pdf>. Acesso em: 21 fev. 2020. 
 
OLIVEIRA-FILHO, A. T.; ALMEIDA, R. J. de; MELLO, J. M. de; GAVILANES, M. L. Estrutura fitossociológica e variáveis 
ambientais em um trecho de mata ciliar do córrego Vilas Boas, Reserva Biológica do Poço Bonito, Lavras, MG. Revista 
Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 67-85, 1994. 
 
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre a Água, Mar del 
Plata, 14-25 de março de 1977 (publicação das Nações Unidas, número de venda: P.77.II.A.12), primeira parte, cap. I, seção C, 
par. 35. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/cap18.pdf. Acesso em: 23 abr. 2019. 
 
PINTO, L. V. A. Caracterização física da bacia do ribeirão Santa Cruz, Lavras, MG, e propostas de recuperação de suas 
nascentes [dissertação]. Lavras: Universidade Federal de Lavras; 2003. 
 
RODRIGUES, V. A. Morfometria e mata ciliar da microbacia hidrográfica. In: Rodrigues, V. A.; Starzynski, R. (orgs) 
Workshop em manejo de bacias hidrográficas. Botucatu: FEPAF: FCA: DRN; 2004. 
 
SUPERINTENDÊNCIA DOS RECURSOS HÍDRICOS E MEIO AMBIENTE (SUREHMA). Portaria nº 19/92 de 12 de maio 
de 1992. Bacia do Rio Ivai. Disponível em: http://www.iat.pr.gov.br/sites/agua-terra/arquivos_restritos/files/documento/2020-
07/enquadramento_b_ivai.pdf. Acesso em: 22 fev. 2020.

Continue navegando