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3. PROPRIEDADES DAS PARTÍCULAS SÓLIDAS A forma das partículas minerais é também uma das características que regem o comportamento mecânico do solo. Neste capítulo discute-se de uma maneira simples e objetiva as diferentes formas das partículas dos solos, e também das suas estruturas acompanhadas de seus respectivos mecanismos. 3.1 Composição Química e Mineralógica As propriedades química e mineralógica das partículas dos solos irão depender fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da região. Estas propriedades, por sua vez, irão influenciar de forma marcante o comportamento mecânico do solo. Os minerais são partículas sólidas inorgânicas que constituem as rochas e os solos, e que possuem forma geométrica, composição química e estrutura própria e definidas. Eles podem ser divididos em dois grandes grupos: • Primários: são encontrados nos solos e sobrevivem a transformação da rocha (advêm portanto do intemperismo físico); • Secundários: foram formados durante a transformação da rocha em solo (ação do intemperismo químico); As partículas dos solos grossos, dentre as quais se apresentam os pedregulhos, são constituídas algumas vezes de agregações de minerais distintos, sendo mais comum, entretanto, que as partículas sejam constituídas de um único mineral. Estes solos são formados, na sua maior parte, por silicatos (90%) e possuem também na sua composição óxidos, carbonatos e sulfatos. • Silicatos – feldspato, quartzo, mica, serpentina; • Óxidos – hematita, magnetita, limonita; • Carbonatos – calcita, dolomita; • Sulfatos – gesso, anidrita. O quartzo, presente na maioria das rochas, é bastante estável, e em geral resiste bem ao processo de transformação rocha-solo. Sua composição química é simples, SiO2, as partículas são equidimensionais, como cubos ou esferas e ele apresenta baixa atividade superficial (devido ao tamanho de seus grãos). Por conta disto, o quartzo é o componente principal na maioria dos solos grossos (areias e pedregulhos). Os solos finos possuem uma estrutura mais complexa e alguns fatores, como forças de superfície, concentração de íons, ambiente de sedimentação, entre outros que podem intervir no seu comportamento. As argilas possuem uma complexa constituição química e mineralógica, sendo formadas por sílica no estado coloidal (SiO2) e sesquióxidos metálicos (R2O3), onde R = Al, Fe, etc. Os feldspatos são os minerais mais atacados pela natureza, dando origem aos argilo- minerais, que constituem a fração mais fina dos solos, geralmente com diâmetro inferior a 2mm. Não só o reduzido tamanho, mas, principalmente, a constituição mineralógica faz com que estas partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado em relação ao dos grãos de silte e areia. O estudo da estrutura dos argilo-minerais pode ser facilitado "construindo-se" o argilo- mineral a partir de unidades estruturais básicas. Este enfoque é puramente didático e não representa necessariamente o método pelo qual o argilo-mineral é realmente formado na natureza. Assim, as estruturas apresentadas neste capítulo são apenas idealizações. Um cristal típico de um argilo-mineral é uma estrutura complexa similar ao arranjo estrutural aqui idealizado, mas contendo usualmente substituições de íons e outras modificações estruturais que acabam por Propriedades das Partículas Sólidas |34 formar novos tipos de argilo-minerais. As duas unidades estruturais básicas dos argilo-minerais são os tetraedros de silício e os octaédros de alumínio (Figura 3.1). Os tetraedros de silício são formados por quatro átomos de oxigênio equidistantes de um átomo de silício enquanto que os octaedros de alumínio são formados por um átomo de alumínio no centro, envolvido por seis átomos de oxigênio ou grupos de hidroxilas, OH-. A depender do modo como estas unidades estruturais estão unidas entre si, podemos dividir os argilominerais em três grandes grupos. a) Caulinita: formada por uma lâmina silícica e outra de alumínio, que se superpõem indefinidamente. A união entre todas as camadas é suficientemente firme (pontes de hidrogênio) para não permitir a penetração de moléculas de água entre elas. Assim, as argilas cauliníticas são as mais estáveis em presença d'água, apresentando baixa atividade e baixo potencial de expansão. b) Montmorilonita: formada por uma unidade de alumínio entre duas silícicas, superpondo-se indefinidamente. Neste caso a união entre as camadas de silício é fraca (forças de Van der Walls), permitindo a penetração de moléculas de água na estrutura com relativa facilidade. Os solos com grandes quantidades de montmorilonita tendem a ser instáveis em presença de água. Apresentam em geral grande resistência quando secos, perdendo quase que totalmente a sua capacidade de suporte por saturação. Sob variações de umidade apresentam grandes variações volumétricas, retraindo-se em processos de secagem e expandindo-se sob processos de umedecimento. c) Ilita: possui um arranjo estrutural semelhante ao da montmorilonita, porém os íons não permutáveis fazem com que a união entre as camadas seja mais estável e não muito afetada pela água. É também menos expansiva que a montmorilonita. Figura 3.1 – Arranjos estruturais típicos dos três principais grupos de argilo-minerais Fonte: Machado (UFBA) Como a união entre as camadas adjacentes dos argilo-minerais do tipo 1:1 (grupo da caulinita) é bem mais forte do que aquela encontrada para os outros grupos, é de se esperar que estes argilo-minerais resultem por alcançar tamanhos maiores do que aqueles alcançados pelos argilo-minerais do grupo 2:1, o que ocorre na realidade: Enquanto um mineral típico de caulinita possui dimensões em torno de 500 (espessura) x 1000 x 1000 (nm), um mineral de montmorilonita possui dimensões em torno de 3x 500 x 500 (nm). Propriedades das Partículas Sólidas |35 A presença de um determinado tipo de argilo-mineral no solo pode ser identificada utilizando-se diferentes métodos, dentre eles a análise térmica diferencial, o raio x, a microscopia eletrônica de varredura, etc. 3.2 Superfície Específica Denomina-se de superfície específica de um solo a soma da área de todas as partículas contidas em uma unidade de volume ou peso. A superfície específica dos argilo-minerais é geralmente expressa em unidades como m²/m³ ou m²/g. 𝑠 = ∑ 𝐴𝑖 𝑃 𝑜𝑢 𝑉 Onde: s: superfície específica, em cm²/g ou cm²/cm³ A: área total da superfície, em cm² P: peso do solo, em g; V: volume do solo, em cm³. Quanto maior o tamanho do mineral menor a superfície específica do mesmo. Deste modo, pode-se esperar que os argilo-minerais do grupo 2:1 possuam maior superfície específica do que os argilo-minerais do grupo 1:1. A montmorilonita, por exemplo, possui uma superfície específica de aproximadamente 800 m²/g, enquanto que a ilita e a caulinita possuem superfícies específicas de aproximadamente 80 e 10 m²/g, respectivamente. A superfície específica é uma importante propriedade dos argilo-minerais, na medida em que quanto maior a superfície específica, maior vai ser o predomínio das forças elétricas (em detrimento das forças gravitacionais), na influência sobre as propriedades do solo (estrutura, plasticidade, coesão, etc.). 3.3 Forma das Partículas Nos solos grossos a forma característica é equidimensional, o qual as três dimensões da partícula são de magnitude semelhantes. De acordo com a intensidade e o tempo em que os agentes mecânicos tenham atuado na formação destes solos, se produzem variedades na forma equidimensional, das quais podem ser arredondadas, subarredondadas, subangulares, ou angulares, em escala decrescente (Figura 3.2). Figura 3.2 – Forma das partículas granulares Fonte: Holtz e Kovacs (1981) Propriedades das Partículas Sólidas |36 A forma arredondada é praticamente esférica, enquantoque angulares é a que apresenta arestas e vértices pontiagudos (por exemplo, pedra britada). Quando estas arestas e vértices estão arredondados pelo efeito de rolamento e abrasão mecânica, se tem a forma sub- angular, que ao sofrer um processo mais intenso da erosão podem torna-se sub-arredondada. As formas angulares são típicas de areias residuais, e as areias vulcânicas apresentam essa forma em partículas cristalizadas. As areias marinhas são geralmente angulares. A forma arredondada é frequente nas areias de rio e em algumas formações de praia, se bem que no primeiro caso, predominam as formas sub-arredondada e subangular, pois as partículas que não se arrastam, não sofrem o efeito da abrasão ou rolamento; naturalmente que o anterior é mais correto em partículas de pequeno tamanho, por sua maior facilidade para manter- se em suspensão. Nos solos finos a forma das partículas tende a ser achatada, porque os minerais das argilas, em sua maior parte se adotam a forma laminar; com exceção de alguns minerais que possuem forma fibrosa. Nestes materiais a influência da forma é muito importante, pois a cada um dos dois mencionados corresponde a uma diferente relação entre área e volume da partícula e, portanto, uma atividade superficial muito distinta, no que se refere à absorção. Figura 3.3 – Forma das partículas dos solos finos: (a) laminar e (b) fibrosa A partícula de forma laminar tem duas dimensões muito maiores que a terceira (Figura 3.3a); na forma fibrosa uma dimensão da partícula é muito maior que outras duas (Figura 3.3b). A forma laminar é a mais frequente nos minerais de argila. A forma fibrosa é muito mais rara (haloisita, e algumas outras formas mineralógicas não muito comuns). Durante muitos anos acreditou-se que o tamanho das partículas era o fator dominante em algumas importantes propriedades mecânicas, concretamente na compressibilidade. Hoje se estima que a forma das partículas exerce um papel muito mais preponderante nesta propriedade. Uma experiência clássica que prova esta afirmação consiste no preenchimento de provetas de 1000 cm³, uma com areia e outra com plaquetas de mica, de tamanho análogo; aplicando uma pressão muito pequena na areia com pistão, esta compressão por ser muito pequena, que dificilmente se faz sentir; e se as mesmas pressões fossem aplicadas na mica podem produzir reduções volumétricas de até 80%. A redução de volumes de um solo pode ser alcançada por aplicação de pressão estática, por meio de vibração ou por combinação de ambos os métodos. Mesmo que a amostra da areia não seja afetada pela pressão estática de forma apreciável, se for aplicada uma vibração se nota uma redução volumétrica da ordem de 10%. A vibração afeta também as plaquetas de mica, porém menos que a pressão estática. Terzaghi foi o primeiro a emitir uma opinião de que a proporção de partículas laminares contidas no solo é a causa fundamental da variação tão acentuada observada no comportamento dos mesmos, em relação à compressibilidade. Propriedades das Partículas Sólidas |37 A forma das partículas na mistura com dimensões de “argila” (< 2μ) depende da sua composição química e da sua estrutura cristalina. Quanto as partículas de argila, dado que a sua estrutura cristalina, consiste de uma sucessão de lâminas contendo sílica, alumina, oxigênio e hidrogênio, a sua forma corrente é de placas. É o caso das argilas pertencentes aos grupos da caulinita, ilita e montmorilonita. A haloisita é uma exceção, pois as suas partículas têm forma alongada. 3.4 Estrutura dos Solos Primeiramente convém insistir na afirmação de que o solo nunca é um mero agregado desprovido de organização, ao invés disso, suas partículas se dispõem sempre na forma organizada, seguindo algumas leis fixas e segundo a ação de forças naturais susceptíveis a análises. Nos solos formados por partículas relativamente grandes (pedregulhos e areias) as forças que intervém na formação de estruturas são bastante conhecidas e seus efeitos são relativamente simples de qualificar; por isso, praticamente não existe discussão em relação ao mecanismo de estruturação que, por sua vez, pode ser verificada visualmente. Por outro lado, nos solos formados por partículas muito pequenas (siltes e argilas), as forças que intervém nos processos de estruturação são de caráter muito mais complexo e as estruturas resultantes só podem ser parcialmente verificadas por métodos indiretos, relativamente complexos e ainda em pleno desenvolvimento. Tudo isso faz que os mecanismos de estruturação e ainda as mesmas estruturas resultantes são em relação aos solos, matéria de hipótese. Tradicionalmente se tem considerado como básicas para os solos as estruturas simples, alveolar e floculenta. Em épocas atuais tem-se procurado superar aquele quadro tradicional introduzindo modificações à luz de alguns resultados obtidos em experimentos realizados com técnicas mais modernas. Neste contexto, é favorável o surgimento de novas estruturas como é o caso da estrutura dispersa, que não estava incluída no quadro tradicional. 3.4.1 Estrutura Simples É aquela produzida quando as forças devidas ao campo gravitacional terrestre são claramente predominantes na disposição das partículas, é típica de solos com grãos grossos (pedregulhos e areias) de massas comparativamente importantes. As partículas se dispõem apoiando-se diretamente umas sobre as outras e cada partícula possuem vários pontos de apoio. Como um ponto de vista da engenharia, o comportamento mecânico e hidráulico de um solo de estrutura simples, é definido principalmente por suas características, compacidade do manto e orientação das partículas. O termo compacidade se refere ao grau de acomodação alcançada pelas partículas do solo, deixando mais ou menos vazios entre elas. Num solo muito compacto, as partículas sólidas que o constituem tem um alto grau de acomodação e a capacidade de deformação sob carga do conjunto será pequena. Em solos pouco compactos o grau de acomodação é menor; em solos com volumes de vazios e, por consequência as capacidades de deformação, serão maiores. Uma base de comparação para ter uma ideia da compacidade alcançável por uma estrutura simples, se tem estudado a disposição de um conjunto de esferas iguais. Na figura abaixo mostra-se, perfil ou planta, os estados mais soltos e mais compacto possível de tal conjunto. Os valores da porosidade (n) e índice de vazios (e) correspondentes a ambos os casos podem ser calculadas facilmente. Propriedades das Partículas Sólidas |38 As areias naturais muito uniformes em tamanho possuem valores da porosidade e índice de vazios muito próximos do acima descrito. Mas nas areias comuns, os valores podem diminuir consideravelmente e uma pequena porcentagem de partículas laminares aumenta sensivelmente o volume de vazios no estado mais solto; em areias bem graduadas, com ampla gama de tamanhos, os estados mais fofos e mais compactos tem valor da porosidade e índice de vazios muito menores que os que correspondem a acumulação de esferas iguais. Para medir a compacidade de uma camada de estrutura simples, Terzaghi introduziu uma relação empírica, determinável em laboratório, chamada Compacidade Relativa (Cr): 𝐶𝑟(%) = 𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒𝑛𝑎𝑡 𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒𝑚í𝑛 Onde: emáx = relação de vazios correspondente ao estado mais fofo; emín = relação de vazios correspondente ao estado mais compacto; enat = relação de vazios da amostra no estado natural. As determinações do emáx, emín e enat do solo são feitas em laboratório segundo procedimentos padronizados. Para o caso de areias grossas e puras, os valores de e nas condições mais compactas e mais fofas podem ser determinadas no estado seco ou no estado completamente saturado, devendo ser determinadas preferencialmente na primeira condição. Nas areias finas deve haver grandediferença nos resultados de acordo com cada estado. Além disso, quando se fazem determinações no estado seco, os resultados dependem do tempo transcorrido a partir do momento da extração da amostra da estufa ou secador, pois o ar pode transmitir umidade. Também influenciam os resultados: o tamanho do recipiente de onde se compacta a amostra (para a determinação do emín) e o método de compactação; têm-se propostos vários métodos, porém até hoje, nenhum é considerado perfeito. Por exemplo, em um solo bem graduado, com 10% de partículas de tamanho menor que 0,04 mm de diâmetro foi encontrado que sua relação de vazios variava entre 0,57 e 0,62 no estado mais fofo, e entre 0,28 e 0,30 no mais compacto; estas flutuações foram atribuídas à umidade higroscópica, pois se tem encontrado variações de 0,01 na relação de vazios ao se retirar a amostra do secador e expô-la ao ar durante 10 ou 15 minutos. Em outra amostra do mesmo solo se obtiveram valores de 0,32 e 0,6 para as relações correspondentes aos estados mais compactos e mais fofos, respectivamente. As variações anteriores são suficientes para produzir uma diferença na compacidade relativa na ordem de 10%. Para tanto, a dita compacidade relativa não pode ser considerada como uma quantidade fixa e, em cada caso, deve ser descrito detalhadamente o método de determinação empregado. As orientações das partículas de areia sedimentar e na água são mais pronunciadas quanto mais se afasta da sua forma esférica; esta orientação produz, como efeito principal, uma permeabilidade do solo muito distinta; o efeito aumenta profundamente se o solo contém uma porcentagem apreciável de partículas laminares. Ainda em areias naturais com formas praticamente equidimensionais o efeito da orientação sobre a permeabilidade é apreciável. Propriedades das Partículas Sólidas |39 3.4.2 Estrutura Alveolar Esta estrutura é típica de grãos de pequeno tamanho (0,02 mm de diâmetro ou algo menor), que se depositam em um meio contínuo, normalmente água e, algumas vezes, ar. Nestas partículas, a gravidade exerce um efeito que faz com que tendam a se sedimentar, mas dada sua pequena massa, outras forças naturais podem ter uma magnitude significativa. A partícula, antes de chegar ao fundo do depósito, toca a outra partícula já depositada, a força de aderência desenvolvida entre ambas, pode neutralizar o peso, fazendo com que a partícula seja detida antes de completar seu percurso; outra partícula pode agora ter o mesmo comportamento e assim elas poderão chegar a formar um arco, com quantidade importante de vazios. 3.4.3 Estrutura Floculada Quando no processo de sedimentação, duas partículas de diâmetros menores que 0,02 mm chegam a se tocar, se aderem com força e se sedimentam juntas; assim, outras partículas podem unir-se ao grupo, formando um grumo, com estrutura similar a um painel. Este mecanismo produz uma estrutura muito frágil e solta, com grande volume de vazios, chamada floculenta, ou algumas vezes, alveolar de ordem superior. As partículas menores que 0,0002 mm (0,2 micra) já são consideradas colóides; estas partículas podem permanecer em suspensão indefinidamente, pois nelas o peso exerce pouca influência em comparação com as forças elétricas desenvolvidas entre as partículas carregadas negativamente; quando duas destas partículas tendem a se aproximar, suas cargas exercem uma repulsão que as afasta novamente; as vibrações moleculares da água impedem que as partículas se precipitem; o resultado é um movimento característico em rápido zig-zag, conhecido como movimento browniano (observado pela primeira vez pelo botânico inglês Brown ao estudar suspensões de clorofila no microscópio). Por esse mecanismo, as partículas coloidais do solo em suspensão não se sedimentam jamais. As cargas elétricas das partículas coloidais podem, sem dúvida, neutralizar-se sob a influência da adição de íons de carga positiva oposta: um eletrólito, por exemplo, os ácidos clorídricos, quando se dissocia em água origina íons positivos e negativos (Cl- e H+). Pelo efeito dos íons H- em solução, os colóides neutralizam suas cargas e chocam entre si, mantendo unidos pelas forças de aderência que se desenvolvem. Desta maneira podem começar a formar flocos de massa maior, que tendem a se depositar. Na água do mar, os sais atuam como eletrólito, fazendo possível a geração do mecanismo antes descrito: nas águas naturais a dissociação normal de algumas moléculas (H+, OH-) que sempre são geradas ou a presença de sais levam ao mesmo efeito. Os flocos se unem entre si para formar painéis, que se depositam conjuntamente, formando novos painéis ao tocar o fundo e dando lugar a uma forma extraordinariamente difusa de estrutura floculenta. 3.4.4 Estruturas Compostas Considera-se que as estruturas anteriores raramente se apresentam “puras” na natureza, pois a sedimentação compreende partículas de todos os tamanhos e tipos, para as que regem as leis da natureza de modo diferente. Segundo as ideias até aqui expostas sobre Propriedades das Partículas Sólidas |40 estruturação, seria comum encontrar nos solos reais estruturas como a ilustrada na Figura 3.4. Nestas formações define-se um esqueleto constituído por grãos grossos e massas coloidais de flocos que proporcionam união entre elas. A estrutura é formada em condições que permitem a sedimentação de partículas grossas e finas simultaneamente; isto ocorre frequentemente na água do mar ou lagos, com conteúdo apreciável de sais, pois neste caso o efeito floculante dos sais coexiste com o arraste de ventos, correntes de água, etc. O processo de acúmulo de sedimentos acima de um certo nível faz com que as camadas inferiores se consolidem sob o peso das sobrejacentes; as partículas mais grossas se aproximam fazendo com que a argila floculada ao tocar o fundo diminua de volume; a compressão resultante da argila é maior nas zonas onde se encontre mais confinada, isto é, nas regiões de aproximação entre os grãos mais grossos, sempre que não haja fluxo lateral da massa nestas regiões. Se o incremento da carga é rápido, existirá um fluxo lateral e, consequentemente, a massa coloidal sofrerá um decréscimo de volume mais uniforme; mas na natureza a carga cresce muito lentamente, pelo que o fluxo lateral tende a se produzir em escala muito menor e as propriedades tixotrópicas da matéria coloidal podem ajudar eficazmente no impedimento quase por completo. Figura 3.4 – Representação de uma Estrutura Composta Fonte: Caputo (1988) Assim se produz nas regiões de aproximação entre os grãos grossos uma liga argilosa coloidal altamente consolidada, que define fundamentalmente a capacidade do esqueleto para suportar cargas. Estas ligas argilosas estão sujeitas a pressões muito maiores que o meio da massa do solo, mesmo que a argila preencha os vazios do esqueleto se mantenha branda e solta, sujeito a pressões comparativamente muito menores. É fácil entender a diferença que apresentam as argilas nas propriedades mecânicas quando se encontram nos estados indeformado e deformado. O amolgamento destrói a liga de argila altamente consolidada entre as partículas grossas e permite que a argila a cubra em volta, atuando como lubrificante entre elas; como resultado, a consistência no estado amolgado será muito fraca. Embora não sejam destruídas as ligações consolidadas, a argila se comporta elasticamente e possui resistência à ação das cargas, que depende principalmente da pressão a que foi consolidada na natureza; a deformação da massa decresce a uma maior consolidação prévia e a uma maior diferença entre a pressão nas zonas argilosas de envolvimento e a pressão Propriedades das Partículas Sólidas |41 média em toda a massa: esta diferença é tanto maior quanto mais complexa for a estrutura (argila marinha, por exemplo). Alguns autores têm atribuído exclusivamentea diferença de comportamento mecânico das argilas, entre o estado inalterado e amolgado, às propriedades tixotrópicas destes materiais. Com efeito, a tixotropia produz certa rigidez reversível na massa plástica, aumentando a aderência nos pontos de contato: como este aumento depende da posição relativa das partículas, existe uma deformação crítica que rompe a aderência e devolve a fraqueza ao material. É muito provável como dito anteriormente, que a tixotropia coopere com a formação da estrutura composta e a coerência de seu esqueleto, impedindo o fluxo lateral da massa coloidal nas regiões de predominância de grãos grossos: assim quanto maior grau a propriedade se apresente nas massas coloidais, é maior a possibilidade de manter-se no depósito muito solto sob grandes cargas. Sem dúvida, a resistência do material da liga de argila, não é função da tixotropia, senão da intensa concentração da carga daquelas ligas, a qual, por sua vez, depende da estrutura adotada e da carga máxima do extrato já tenha suportado ao longo da sua história geológica. 3.4.5 Estrutura em “Castelo De Cartas” Alguns investigadores como Goldschmidt e Lambe tem sugerido uma interpretação diferente sobre a gênese de uma estrutura floculenta e a estrutura resultante entre si. Segundo estas ideias a forma lamelar típica dos minerais de argila é fundamental no resultado da estruturação dos solos finos. As investigações realizadas em partículas de caulinitas, ilitas e montmorilonitas demonstram que os seus comprimentos são da mesma ordem das suas larguras e que as espessuras variam de 1/100 destas dimensões nas montmorilonitas, a 1/10 nas caulinitas, ocupando as ilitas uma posição intermediária. Com estes dados é possível estimar a superfície específica destas partículas (metro quadrado de área superficial por grama de peso) é da ordem de 10 em caulinitas, 80 nas ilitas e 800 nas montmorilonitas; estes valores cobrem toda sua importância ao considerar a ação das forças superficiais como fator que intervém na estruturação, não sendo difícil conceber que tal fator chegue a ser determinante. Além disso, nas investigações de referência nota-se que, embora a partícula do solo tenha carga negativa parece certo que nas suas arestas exista uma concentração de carga positiva que faz com que essa zona localizada se atraia com outra superfície qualquer de uma partícula vizinha. Tomando isto como consideração, os investigadores mencionados propuseram para as argilas uma estrutura denominada de “castelo de cartas”. Deve ser notado que, segundo esta hipótese de estruturação, também oferece ao solo um importante volume de vazios e que os reflexos anteriores sobre consolidação das zonas baixas sob o peso das sobrejacentes conservam a sua validez. 3.4.6 Estrutura Dispersa Alguns estudos têm indicado que uma hipótese estrutural do tipo de “castelo de cartas”, na qual as partículas têm contatos mútuos, embora se possa aceitar como real em muitos casos, talvez não seja a mais estável. Qualquer perturbação que possa existir, como deformação por esforço cisalhante, tende a diminuir os ângulos entre as diferentes lamelas do material. Conforme isso esteja ocorrendo, atuam entre as partículas pressões osmóticas inversamente proporcionais ao espaçamento entre Propriedades das Partículas Sólidas |42 elas. As pressões osmóticas tendem a fazer com que as partículas se separem e assumam uma posição tal como mostrado esquematicamente na Figura 3.5. Em (a) e (b) mostra-se o mecanismo pelo qual a pressão osmótica tende a atuar, para chegar a uma condição mais uniforme, em que as partículas se separem. Mostra-se em (c) a estrutura na condição final. É fácil perceber que as estruturas em “castelo de cartas” ou dispersa podem gerar estruturas compostas análogas aquelas já tratadas com as formas estruturais mais clássicas. Figura 3.5 – Representação esquemática da estrutura dispersa
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