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Instituto de Ciências Sociais - ICS Departamento de Sociologia - SOL Disciplina: Sociologia Brasileira Docente: Mariza Veloso Discente: Verônica Louzeiro Castro Pereira Matrícula: 150150652 ANDERSON, Benedict - Nação e Consciência Nacional, 1984. São Paulo: Editora Ática. O texto inicia apontando a contradição que o nacionalismo impôs no pós Segunda Guerra, tanto a teoria marxista quantos aos regimes que foram estabelecidos tendo como base. Nenhuma revolução havia triunfado no século XX fora de termos nacionais, revolução chinesa, revolução cubana… Sem contar as diversas disputas fronteiriças entre potências como URSS e China e conflitos fratricidas como Vietnã vs Camboja, mesmo no “Ocidente Democrático”, o velho nacionalismo voltara a pulsar. O objetivo do livro, é portanto, oferecer alternativas exploratórias conceituais para esse incômodo e sempre presente fenômeno. Inicia-se uma discussão da própria definição de nação, nacionalidade, nacionalismo e os paradoxos que os acompanham. Sendo estes paradoxos: “1. A modernidade objetiva das nações aos olhos do historiador vs. sua antiguidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas; 2. A universalidade formal da nacionalidade como conceito sociocultural vs. a particularidade irremediável de suas manifestações concretas; 3.O 'Poder político' do nacionalismo vs. sua pobreza, e até mesmo incoerência, filosófica.” (p.13) O autor aponta que um dos problemas para entender o nacionalismo, é a sua comum classificação como ideologia, ao lado de liberalismo, socialismo, faria mais sentido aproximá-lo de categorias como parentesco ou religião. E dentro dessa perspectiva antropológica é que defini-se a nação como uma “comunidade política imaginada e imaginada como implicitamente limitada e soberana" (p.14) Imaginada pois todos seus membros jamais se conhecerão, mas em mente estão em comunhão, são limitadas pois possuem fronteiras, nenhuma nação se pensa como coextensiva com a humanidade. São imaginadas como soberanas, pois nascem com o Iluminismo e os Estados Absolutistas. E é sempre concebida como comunidade por conta de uma fraternidade profunda e horizontal entre seus membros. A questão fundamental sobre o nacionalismo é compreender como ele é capaz de mover esforços e paixões tão gigantescos, e por conseguinte, deixar milhões de mortos ao longo de uma relativamente curta história. Não por acaso, a figura que melhor o representa é a do Túmulo do soldado desconhecido. Seu alvorecer é paralelo ao “crepúsculo da religião”, em meados do século XVIII: “com o refluxo da fé religiosa, não desapareceu o sofrimento que a fé em parte mitigava. [...] O que se demandava, então, era uma transformação secular da fatalidade em continuidade, da contingência em continuidade. [...] A mágica do nacionalismo consiste em transformar o acaso em destino.” (p.19-20). O nacionalismo, então, deve ser compreendido, não como as ideologias conscientemente adotadas, mas paralelo a sistemas culturais mais profundos, tais quais, a comunidade religiosa e o reino dinástico. As grandes religiões incorporaram perspectivas de enormes comunidades, comumente identificadas através de uma linguagem sagrada e um texto escrito. “Contudo, se as mudas línguas sagradas eram o meio pelo qual as grandes comunidades globais do passado eram imaginadas, a realidade de tais aparições dependia de uma ideia em grande medida estranha ao pensamento ocidental contemporâneo: a não-arbitrariedade do signo”. (p.22) A realidade ontológica só era pensada através da “língua-verdade”, seja do latim da Igreja, ou o árabe do Alcorão. Cuja a escrita era seleta a uma pequena camada de sacerdotes e intelectuais. Contudo, sua decadência não tardou, os motivos relatados para tal, são: a descoberta do “Novo Mundo”, ampliando enormemente os horizontes culturais e geográficos, e também as crenças sobre a própria existência humana. Por consequência, ou não, ocorre uma própria deterioração da língua sacra. “Em suma, a decadência do latim exemplifica um vasto processo em que as comunidades sagradas, integradas pelas antigas línguas sagradas, gradualmente se fragmentavam, pluralizavam e territorializavam”(p.27) Discutindo reino dinástico, o autor nos desenha a imagem de um mudo centralizado e limitado, apesar que estes Estados se definiam por centros, e suas fronteiras eram muito mais indefinidas e convergentes que hoje. Expandiram-se não só por meio da guerra, mas também uma “política sexual”, que por exemplo, permitiu aos Habsburgo estabelecer uma dinastia que reinava de sérvios a austríacos e alemães. Entretanto, este poder mesmo aparentemente inabalável, também começa a ruir, em meados do século XVII, apesar de muitas destas dinastias persistirem até o século XX, em boa parte graças aos nacionalismos. O que explicaria a decadência tanto das monarquias quanto a fé religiosa seria uma nova forma de apreender o mundo, “que, mais do que qualquer outra coisa, tornou possível, “pensar a nação” (p.31) Durante a Idade Média nos deparamos com uma representação do mundo essencialmente visual e auditiva, havia uma justaposição entre o sagrado-profano, universal-cósmico, uma maneira diversa da nossa de compreender o tempo, uma ideia de simultaneidade entre passado-presente-futuro estranha a nós. Walter Benjamin aponta que o que toma o lugar desta concepção é uma ideia de “tempo homogêneo e vazio”. É uma transformação tão importante ao “nascimento da comunidade imaginada”, que pode ser observada pelas primeiras formas de imaginar, disseminadas na Europa do século XVIII: o romance e o jornal. São recursos que apresentam o que é a comunidade imaginada nação. E para exemplificar, Anderson, discorre acerca de quatro romances de distintas épocas e lugares, a fim de exemplificar as diversas formas de se pensar o indivíduo, o local, a própria sociedade, seja nas Filipinas, no México colonial ou na Europa Medieval. Os romances modernos, ou de afirmação nacional, são essencialmente simplistas e realistas, apresentam uma visão que, sem dúvidas, contribui ao se pensar a comunidade homogênea. “A ideia de um organismo sociológico que se move pelo calendário através do tempo homogêneo e vazio apresenta uma analogia precisa com a ideia de nação, que também é concebida como uma comunidade compacta que se move firmemente através da história” (p.35) Em certa medida, o livro é a primeira mercadoria produzida em grande escala da Era Moderna, e o jornal, “não passa de uma forma extrema do livro, vendido em escala imensa, porém efêmero” (p.43). Hegel ousa dizer até que os jornais tomaram o lugar das orações matinais. É uma epítome da comunidade imaginada ver réplicas aos milhares sendo lidas por seus “semelhantes” em todos os locais cotidianos. E a sensação de pertencimento é deveras reconfortante. Ao discorrer sobre as origens da consciência nacional, nos é apontado como o desenvolvimento da imprensa tal qual empresa capitalista, é essencial para entender o surgimento de novas ideias e sua expansão. É uma alavanca para se pensar de outra maneira a temporalidade, e por conseguinte, o próprio ser e a sociedade, também os relacionamentos interpessoais. Assim como o “impulso revolucionário” do capitalismo para a utilização de línguas vulgares, especialmente como instrumento de centralização administrativa. Também é um fator, a Reforma Protestante. "Num sentido positivo, o que tornou imagináveis as novas comunidades foi uma interação semi fortuita, mas explosiva, entre um sistema de produção e de relações produtivas (capitalismo), uma tecnologia de comunicações (imprensa) e a fatalidade da diversidade linguística do homem.”(p.52) As “línguas impressas”, foram formadoras da consciência nacional de três modos: criaram campos unificados de intercâmbio e comunicação abaixo do latim e acima das línguas vulgares faladas. O segundo ponto é que o capitalismo editorial atribuiu nova fixidez à língua, que a longo prazo, ajuda a construir a ideia de antiguidade, tão cara a subjetividadeda ideia de nação. Por último, criaram-se “línguas de poder”. A proposta de repensar o nacionalismo essencialmente em termos antropológicos, o acomodando ao lado de categorias como religião ou parentesco, ou seja, reconhecendo sua natureza de totalidade ontológica é o grande trunfo do autor. Desta maneira, é possível localizar na história e melhor compreender o surgimento das comunidades imaginadas e da consciência nacional, ao compasso do avanço da modernidade. Conclui-se que as comunidades passam a ser imaginadas no sentido da nação moderna, através da convergência do desenvolvimento do capitalismo e da tecnologia das comunicações, na forma de imprensa, por sobre a fatal diversidade das línguas humanas.
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