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2016 Metodologia do ensino de lutas Prof. Amadeo Félix Salvador Copyright © UNIASSELVI 2016 Elaboração: Prof. Amadeo Félix Salvador Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 796 S182m Salvador; Amadeo Félix Metodologia do ensino de lutas / Amadeo Féliz Salvador: UNIASSELVI, 2016. 186 p. : il. ISBN 978-85-515-0045-3 1.Educação Física – Jogos Esportivos. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III apresentação Bem-vindos acadêmicos, este caderno é destinado ao ensino das Lutas. Na primeira unidade teremos a satisfação de aprender sobre o fantástico mundo das lutas. Trataremos da influência sobre os conhecimentos de lutas e artes marciais de vários conceitos em nossa formação. Nesse momento, estar em uma universidade permite a você ser parte integrante do processo de aprendizagem. Na Unidade 1, especificamente, estaremos abordando as origens e histórias de cada luta e de cada arte marcial, são várias as versões históricas de cada luta. Traremos o contexto histórico de cada luta no Brasil, desde a sua chegada até os dias atuais. Além disso, entenderemos o significado e o estudo do nome luta e do nome arte marcial. Iremos abordar, também, as principais regras das mais variadas artes marciais, além de os seus principais movimentos e golpes. Complementando cada luta, teremos as principais associações e federações e muitas curiosidades das mais diversas lutas e culturas marciais. Na Unidade 2, convido você a ser mensageiro das artes marciais para o mundo escolar, levar o conhecimento descoberto nas lutas como ensinamento para os alunos. Nessa unidade, trataremos, primeiramente, dos direitos e deveres como licenciados em Educação Física perante o ensino das artes marciais através do estudo das legislações e PCN que falam sobre o assunto. Depois disso, trataremos sobre os possíveis aspectos pedagógicos das lutas, desde como ensinar, princípios relevantes e, por fim, os aspectos universais das lutas. No segundo tópico da unidade, estudaremos a classificação das lutas, que nos permite separar e fracionar o ensino e a aprendizagem. Ainda nos modelos de classificação, estudaremos as ações realizadas, assim como as ações esperadas no ensino das lutas, tanto de forma individual como coletivamente. Como conclusão dessa unidade traremos, no terceiro tópico, uma série de exemplos de atividades que podem ser utilizados no ensino das lutas, seja em sala de aula ou no tatame. Na nossa última unidade temos muito ainda para aprender sobre o fantástico mundo das lutas e como transmitir esse conhecimento aos nossos alunos. O esporte é sim uma ferramenta educativa, assim como o ensino das lutas e artes marciais, ou ainda, o esporte de lutas pode ser um conteúdo educacional, pois é muito mais do que simples gestos repetidos em ordem (DARIDO; RANGEL, 2005). Assim, na Unidade 3, iremos trabalhar as atividades de ações inesperadas que devem ter extremo foco devido à necessidade de um IV controle do professor ainda maior que as atividades de ação esperada. Ainda na Unidade 3, abordaremos a arte da Capoeira, aspectos históricos, conceito de Capoeira, principais movimentos e letras de música. Por fim, abordaremos o ensino das lutas para pessoas com deficiência, como por exemplo, a luta para deficientes intelectuais, auditivos, visuais, físicos, entre outras deficiências. Durante o estudo dessa unidade, como nas demais, coloque-se no ambiente de ensino e tome notas para que quando for a hora de ensinar esteja mais preparado. Vamos lá! Bons Estudos! Prof. Amadeo Félix Salvador Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! UNI V VI VII suMário UNIDADE 1 – CONHECENDO AS LUTAS ...................................................................................... 1 TÓPICO 1 – CONCEITUAÇÃO DAS LUTAS .................................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CONCEITOS ......................................................................................................................................... 3 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 7 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 8 TÓPICO 2 – ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS .................................................................... 11 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 11 2 HISTÓRIA GERAL DAS LUTAS ..................................................................................................... 11 3 HISTÓRIA DAS LUTAS COMO PRÁTICA ESPORTIVA .......................................................... 16 3.1 JUDÔ ................................................................................................................................................ 18 3.1.1 Breve história do judô no Brasil ........................................................................................... 19 3.1.2 Breve resumo do judô e algumas regras ............................................................................ 19 3.2 JIU-JÍTSU .......................................................................................................................................... 22 3.2.1 História do jiu-jítsu no Brasil ............................................................................................... 24 3.2.2 Breve resumo das regras do jiu-jítsu ................................................................................... 26 3.2.3 Principais movimentos do jiu-jítsu ..................................................................................... 27 3.3 CARATÊ ........................................................................................................................................... 28 3.3.1 Breve história do caratê no Brasil ........................................................................................ 31 3.3.2 Breveresumo das regras do caratê ...................................................................................... 32 3.4 KUNG FU ......................................................................................................................................... 34 3.4.1 História do kung fu ................................................................................................................. 34 3.4.2 A história do kung fu no Brasil ............................................................................................. 37 3.4.3 Breve resumo das regras do kung fu .................................................................................... 38 3.5 SUMÔ ............................................................................................................................................... 39 3.5.1 História do Sumô ................................................................................................................... 39 3.5.2 História do Sumô no Brasil .................................................................................................. 41 3.5.3 Resumo breve das regras do Sumô ..................................................................................... 41 3.6 BOXE ................................................................................................................................................ 43 3.6.1 Breve resumo das regras do boxe ........................................................................................ 45 3.7 LUTA GRECO-ROMANA E LUTA LIVRE ................................................................................ 47 3.7.1 História da luta greco-romana ............................................................................................. 48 3.7.2 História da luta greco-romana no Brasil ............................................................................ 49 3.7.3 Breve resumo das regras das lutas ...................................................................................... 50 3.8 ESGRIMA ........................................................................................................................................ 51 3.8.1 História da esgrima no Brasil ............................................................................................... 52 3.8.3 Breve resumo das regras da esgrima .................................................................................. 53 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 56 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 60 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 62 VIII UNIDADE 2 – LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR ......................................................................... 65 TÓPICO 1 – PEDAGOGIA ESCOLAR DA LUTA ........................................................................... 67 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 67 2 LEGISLAÇÃO E NORMATIVAS ESCOLARES SOBRE LUTAS ............................................... 67 3 RESPONSABILIDADES E DIFICULDADES DOS PROFESSORES AO ENSINAR LUTAS NA ESCOLA ......................................................................................................................................... 68 3.1 PROPOSTAS PARA O ENSINO DE LUTAS .............................................................................. 74 3.2 COMO ENSINAR AS LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR? .................................................... 75 3.2.1 Dimensão conceitual ............................................................................................................. 76 3.2.2 Dimensão procedimental ...................................................................................................... 77 3.2.3 Dimensão atitudinal .............................................................................................................. 78 4 PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS RELEVANTES PARA O ENSINO DE LUTAS NA ESCOLA ................................................................................................................................................. 79 4.1 AVALIAÇÃO ESCOLAR PARA AS LUTAS ............................................................................... 79 4.1.1 A abordagem dos conteúdos ................................................................................................ 80 4.1.2 Critério de inclusão ............................................................................................................... 80 4.1.3 A questão do gênero .............................................................................................................. 82 4.1.4 Respeito e preconceito nas práticas de lutas ...................................................................... 83 4.2 ASPECTOS UNIVERSAIS DAS LUTAS ...................................................................................... 84 4.2.1 Imprevisibilidade ................................................................................................................... 84 4.2.2 Oposição .................................................................................................................................. 85 4.2.3 Regras ...................................................................................................................................... 85 4.2.4 Nível de contato ..................................................................................................................... 86 4.2.5 Ataque e defesa simultâneos ................................................................................................ 86 4.2.6 Oponente móvel ..................................................................................................................... 87 4.2.7 Enfrentamento físico ............................................................................................................. 88 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 90 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 92 TÓPICO 2 – CLASSIFICAÇÃO E AÇÕES DAS LUTAS ................................................................ 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 95 2 CLASSIFICAÇÃO DAS LUTAS ....................................................................................................... 95 2.1 AS AÇÕES DE AGARRE ............................................................................................................... 96 2.2 AS AÇÕES DE TOQUE .................................................................................................................. 97 2.3 AS AÇÕES MISTAS: AGARRE + TOQUE ................................................................................... 98 3 INTENÇÃO DA AÇÃO ...................................................................................................................... 99 4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO LOCAL DE SURGIMENTO ................................................ 100 5 AÇÕES ESPERADAS PARA O ENSINO DE LUTAS ................................................................... 100 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 102 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................103 TÓPICO 3 – ATIVIDADES POSSÍVEIS NO ENSINO DAS LUTAS ........................................... 105 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 105 2 ATIVIDADES DE CUNHO ATITUDINAL .................................................................................... 105 2.1 ATIVIDADE COM FILMES .......................................................................................................... 105 3 MOSTRA DE ARTES MARCIAIS NA ESCOLA .......................................................................... 109 3.1 ATIVIDADES TEÓRICAS DE ARTES MARCIAIS NA ESCOLA ........................................... 109 3.2 ATIVIDADES COM AÇÕES ESPERADAS REALIZADAS DE MODO INDIVIDUAL ....... 110 3.3 ATIVIDADES COM AÇÕES ESPERADAS REALIZADAS DE FORMA COLETIVA .......... 113 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 116 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 117 IX UNIDADE 3 – ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE .......................... 119 TÓPICO 1 – ATIVIDADES COM AÇÕES INESPERADAS .......................................................... 121 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 121 2 DESENVOLVIMENTO ESCOLAR .................................................................................................. 121 3 VISÃO DO PROFESSOR ................................................................................................................... 135 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 138 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 140 TÓPICO 2 – CAPOEIRA ........................................................................................................................ 141 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 141 2 O QUE É CAPOEIRA? DANÇA? LUTA? TEATRO? ..................................................................... 141 3 ORIGEM DA CAPOEIRA .................................................................................................................. 142 3.1 O NOME CAPOEIRA .................................................................................................................... 146 3.2 OS MESTRES E A SUA INFLUÊNCIA DA CAPOEIRA .......................................................... 146 3.3 SISTEMA OFICIAL DE GRADUAÇÃO ..................................................................................... 148 3.4 O JOGO DA CAPOEIRA, COMO FUNCIONA? ....................................................................... 149 3.5 TOQUES DA CAPOEIRA ............................................................................................................. 150 3.6 PRINCIPAIS MOVIMENTOS DA CAPOEIRA .......................................................................... 150 3.6.1 Ginga ....................................................................................................................................... 151 3.6.2 Cocorinha ................................................................................................................................ 151 3.6.3 Aú ............................................................................................................................................. 152 3.6.4 Bênção ...................................................................................................................................... 152 3.6.5 Negativa .................................................................................................................................. 152 3.6.6 Armada .................................................................................................................................... 153 3.6.7 Cabeçada ................................................................................................................................. 153 3.6.8 Queixada ................................................................................................................................. 154 3.6.9 Meia lua de frente .................................................................................................................. 154 3.6.10 Rasteira .................................................................................................................................. 155 3.6.11 Macaco ................................................................................................................................... 155 3.6.12 Martelo .................................................................................................................................. 156 3.6.13 Floreios ou flick flack ............................................................................................................ 156 3.7 INSTRUMENTOS ........................................................................................................................... 156 3.7.1 Berimbau ................................................................................................................................. 157 3.7.2 Pandeiro .................................................................................................................................. 157 3.7.3 Caxixi ....................................................................................................................................... 158 3.7.4 Atabaque ................................................................................................................................. 158 3.7.5 Ganzá ou Reco-Reco .............................................................................................................. 159 3.7.6 Agogô ...................................................................................................................................... 159 3.8 LETRAS E CANTOS DE MÚSICAS DA CAPOEIRA ............................................................... 160 4 ATIVIDADES DA CAPOEIRA ......................................................................................................... 161 5 VISÃO DO PROFESSOR SOBRE A CAPOEIRA .......................................................................... 162 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 165 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 166 TÓPICO 3 – LUTAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ........................................................ 167 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 167 2 CONHECENDO O MUNDO DAS NECESSIDADES ESPECIAIS ........................................... 167 3 TERMINOLOGIA ................................................................................................................................ 168 4 TIPOS DE DEFICIÊNCIAS ................................................................................................................ 170 4.1 DEFICIÊNCIA VISUAL ................................................................................................................. 170 4.2 DEFICIÊNCIA AUDITIVA ............................................................................................................171 X 4.3 DEFICIÊNCIA FÍSICA ................................................................................................................... 172 4.4 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ................................................................................................... 173 4.5 DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA ........................................................................................................... 174 4.6 SURDOCEGO ................................................................................................................................. 174 5 VISÃO DO PROFESSOR SOBRE A LUTA E AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ............... 175 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 178 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 180 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 181 1 UNIDADE 1 CONHECENDO AS LUTAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • conhecer o contexto das lutas e suas aplicações no mundo profissional; • conhecer as várias modalidades de lutas, suas histórias e origens; • aprender as principais regras e normas de cada luta; • conhecer os espaços, equipamentos e vestimentas de cada luta; • reconhecer os principais golpes de cada luta e como estes são aplicados de acordo com a regra. Esta unidade está dividida em dois tópicos. Em cada um deles você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – CONCEITUAÇÃO DAS LUTAS TÓPICO 2 – ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONCEITUAÇÃO DAS LUTAS 1 INTRODUÇÃO 2 CONCEITOS Neste primeiro tópico da Unidade 1, convido você, acadêmico, a viajar no mundo milenar das lutas e vir, junto com dezenas de mestres, aprender como o ensino das lutas é essencial. A intenção deste caderno de estudos é desmistificar essa ideia e demonstrar de que modo as artes marciais e as lutas se constituíram como uma prática de atividade física interessante para a escola. Você sabia que, apesar de as lutas serem um conteúdo oficial da disciplina de Educação Física, apresentado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, este ainda é muito negligenciado? (RUFINO, 2015). Para mudarmos este entendimento errôneo de como o mundo das lutas está ausente do mundo escolar, temos que entender, primeiramente, a conceituação de lutas. De acordo com Duarte (2004), apresentamos uma lista de conceitos. Caro acadêmico, leia criticamente e absorva o melhor que estes conceitos podem fornecer. 1. Antigamente, a terminologia “artes marciais” referia-se às lutas de origem militar. Entendendo-se como o sistema de combate somado ao conjunto de regras, regulamentos e preceitos filosóficos. 2. É um jogo de oposição, entre duas ou mais pessoas. Deve usar meios de ataque e defesa, derrotar o oponente. Precisa, necessariamente, do oponente e tudo acontece simultaneamente. 3. O substantivo luta, do latim lucta, significa “combate, com ou sem armas, entre pessoas ou grupos; disputa”. 4. A expressão artes marciais é uma composição do latim arte, e martiale (“referente à guerra; bélico”). Outra definição bem notável é a demonstrada por Pucinelli (2004, p. 11), em que o autor descreve as lutas como: […] uma prática de oposição geralmente entre duas pessoas, na qual realize-se uma ação (toque ou agarre) com o objetivo de dominar a outra, dentro das regras específicas. Duas condições são essenciais para considerarmos atividade como luta: o alvo da ação ser própria pessoa e a possibilidade de finalização do ataque ser mútua, a qualquer momento, inclusive, simultânea. UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 4 Com grande semelhança, por partir de origem conceitual parecida, Gomes (2008, p. 49) propõe a luta como: Prática corporal imprevisível, caracterizada por determinado estado de contato, que possibilita a duas ou mais pessoas se enfrentarem numa constante troca de ações ofensivas e/ou defensivas, regida por regras, com o objetivo mútuo sobre o alvo móvel personificado no oponente. Acadêmico, perceba como os autores utilizam as nomenclaturas contato, regras, objetivo e ações. Estas são, sem dúvida, terminações que serão muito utilizadas no decorrer do nosso caderno de estudos, porque toda luta necessita de REGRAS para controlar o nível de CONTATO e declarar quais AÇÕES são permitidas para o alcance do OBJETIVO (PUCINELI, 2004; GOMES, 2008; RUFINO, 2015). Para maior entendimento e criação de uma mente ainda mais crítica, você pode ler o artigo: Lutas, artes marciais e modalidades esportivas, neste link: <http://www. efdeportes.com/efd158/lutas-artes-marciais-uma-questao-de-terminologia.htm>. As lutas e as artes marciais apresentam origens diversas, tanto quanto ao local de surgimento, quanto aos objetivos de criação e surgimento das mesmas. Dentre os objetivos de criação, o mais comum de ouvirmos são os motivos militares (kung fu), porém também existem os motivos de sobrevivência, que deram início às primeiras artes marciais e tipos de defesa pessoal, por exemplo, a capoeira brasileira, e também as criações por motivos de atividade física, além das implicações das tradições culturais, religiosas e filosóficas. Alguns aspectos podem ser utilizados para diferenciar os termos luta e artes marciais. As artes marciais são práticas corporais de ataque e defesa, podendo ser também caracterizadas como lutas. A principal diferença entre as duas é que os praticantes de artes marciais, principalmente as de origem oriental, consideram que os conteúdos da cultura de origem da atividade teriam uma orientação filosófica que determinaria a sua diferença para com as lutas (FERREIRA, 2006). As lutas fizeram e fazem parte da cultura corporal do ser humano, ou seja, são práticas historicamente importantes e que acompanham os seres humanos ao longo de sua vida e também ao longo de décadas e – por que não? – milênios (RUFINO, 2015). DICAS TÓPICO 1 | CONCEITUAÇÃO DAS LUTAS 5 FIGURA 1 - KUNG FU – UMA ARTE MILENAR QUE É MANTIDA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO FONTE: Disponível em: <https://www.pinterest.com/guscorreia/paisagens-e-templos- japoneses/>. Acesso em: 1º ago. 2016. Assim como outros tipos de atividades, como danças, atividades rítmicas, esportes, jogos, brincadeiras, atividades de circo, entre outras, as lutas também são manifestações inseridas pela população em uma esfera cultural. O implementar das lutas na sociedade altera a maneira como os cidadãos interagem entre si, mudando o jeito com que pensamos e agimos (RUFINO, 2015). Os grandes mestres (como são denominados os treinadores nas artes marciais do Oriente) ressaltam que a luta é muito mais que uma simples repetição de gestos físicos, é o total controle mental (GOMES, 2008). Caro acadêmico, com o conhecimento dos vários motivos supracitados, o entender das lutas torna-se fundamental no âmbito escolar, ainda mais quando nos deparamos com os conteúdos pertencentes à esfera da cultura corporal da educação. Mesmo com a importância das lutas e o seu aprendizado tão elucidado por vários motivos, este conhecimento apresenta muita resistência, impulsionada pelos argumentos de falta de capacitação, falta de espaço, falta de materiais de treinamento e de materiais de segurança, falta de uniforme ou vestimenta adequada da modalidade e, sobretudo, com o preconceito nas questões de violência (DARIDO; RANGEL, 2005). Ficou nítido que necessidades mínimas são necessárias para a prática, porém, conforme elucidado por Eduardo Carreiro (2005, p. 244): [...] o professor deve saber esclarecer que este conteúdo não significa necessariamente violência e, assim, deve ter argumentos para esta discussão. UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 6 FIGURA 2 – ALUNOS SE CUMPRIMENTAMDIANTE DA PROFESSORA FONTE: Disponível em: <http://novaescola.org.br/educacao-fisica/pratica- pedagogica/luta-sinonimo-paz-424330.shtml>. Acesso em: 2 ago. 2016. Por fim, a intenção desta unidade é trazer a você, acadêmico, o entendimento de como as artes marciais e as lutas tomaram a forma e importância que têm hoje, desde os tempos de sua origem no país-sede até a sua chegada ao Brasil. Venha, junto conosco, desfrutar deste mais novo conhecimento, e tenho certeza de que no final deste estudo você será um entendedor das principais lutas praticadas no mundo. 7 Neste tópico, você aprendeu que: • Apesar de as lutas serem um conteúdo oficial da disciplina de Educação Física, apresentado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, este ainda é muito negligenciado. • É um jogo de oposição, entre duas ou mais pessoas. Deve usar meios de ataque e defesa, derrotar o oponente. Precisa, necessariamente, do oponente e tudo acontece simultaneamente. • O substantivo luta, do latim lucta, significa “combate, com ou sem armas, entre pessoas ou grupos; disputa”. • A expressão artes marciais é uma composição do latim arte, e martiale (“referente à guerra; bélico”). • Toda arte marcial necessita de REGRAS para controlar o nível de CONTATO e declarar quais AÇÕES são permitidas para o alcance do OBJETIVO. • As lutas e as artes marciais apresentam origens diversas, tanto em relação ao local de surgimento quanto aos objetivos de criação das mesmas. Dentre os objetivos de criação das lutas podemos constatar: motivos militares, de sobrevivência, de defesa pessoal, além das implicações das tradições culturais, religiosas e filosóficas. • Assim como outros tipos de atividades, as lutas também são manifestações inseridas pela população em uma esfera cultural. O implementar das lutas na sociedade altera a maneira como os cidadãos interagem entre si. • O professor deve saber esclarecer que este conteúdo não significa necessariamente violência e, assim, deve ter argumentos para esta discussão. RESUMO DO TÓPICO 1 8 1 De acordo com a citação encontrada no Tópico 1, a qual se refere ao contexto de lutas: “o professor deve saber esclarecer que este conteúdo não significa necessariamente violência e, assim, deve ter argumentos para esta discussão” (CARREIRO, 2005, p. 244), se você estivesse em uma situação de professor, quais argumentos usaria para defender tal testamento? 2 De acordo com os estudos de conceituação de lutas e artes marciais vistos neste tópico, preencha as lacunas com V para alternativas verdadeiras e F para alternativas falsas. ( ) O termo luta pode ser definido como um jogo de oposição, entre duas ou mais pessoas, e são permitidas somente ações de defesa, sendo o ataque não permitido por uma questão moral. ( ) O substantivo luta, do latim lucta, significa “combate, com ou sem armas, entre pessoas ou grupos; disputa”. ( ) A expressão artes marciais é uma composição do latim artes, e martiale (“referente à guerra; bélico”). Assim, podemos dizer que as lutas têm relação direta com os confrontos bélicos que aconteceram. ( ) Os termos luta ou artes marciais remetem a algo bagunçado e até mesmo violento, e por estes motivos não podem ser abordados em ambiente escolar. Selecione a alternativa que preenche de forma correta as lacunas acima: a) ( ) V – V – V – V. b) ( ) V – F – V – F. c) ( ) V – F – F – F. d) ( ) F – V – V – F. 3 Escolha a alternativa que preenche corretamente as lacunas encontradas na frase estudada: Toda arte marcial necessita de ________ para controlar o nível de ________ e declarar quais ________ são permitidas para o alcance do _________. I - REGRAS II - CONTATO III - EQUIPAMENTOS IV - OBJETIVO V - AÇÕES a) ( ) I – II – III - IV. b) ( ) I – III – IV - V. c) ( ) II – IV – III - I. d) ( ) I – II – V - IV. AUTOATIVIDADE 9 4 Durante o estudo do Tópico 1 na Unidade 1, listamos e estudamos quatro motivos para a criação das artes marciais. Por favor, liste três deles e explique cada um que for mencionado. 10 11 TÓPICO 2 ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO 2 HISTÓRIA GERAL DAS LUTAS Neste tópico, abordaremos a origem das mais variadas lutas, o caminho histórico percorrido por estas no mundo e no Brasil, um breve resumo de cada luta, atletas, técnicos ou mestres marcantes da modalidade e os atuais nomes do esporte, e, claro, muitas curiosidades sobre o fantástico mundo das lutas. Serão abordadas as seguintes lutas: judô, jiu-jítsu, boxe, caratê, kung fu, sumô, luta greco-romana e esgrima. Antes de você se perguntar sobre a capoeira, consideramos esta uma arte marcial diferenciada para os brasileiros, por diversos motivos, e por isso, especificamente, a capoeira será enfatizada na Unidade 3, com evoluções históricas, regras, atividades e metodologia do ensino. Sabemos que não foram listadas todas as lutas, e infelizmente não teríamos tempo e nem espaço para contemplarmos todas elas. Porém, isso não quer dizer que, caso houver uma luta de seu interesse que não foi abordada, você não possa estudá-la. Que tal conferir a grande quantidade de lutas e seus variados estilos e modelos? 100 estilos de luta? 150? Mais? Clique no link para ver a grande maioria dos estilos de luta existentes no mundo, você vai se surpreender: <http://www.blackbeltwiki.com/martial-arts-styles>. Sabemos que a origem da luta é algo muito amplo para podermos dizer que começou aqui ou começou nesta cidade, isto é, há um fator dependente para cada luta, e é preciso investigar o quanto o fator proteção ou ataque foi determinante para cada luta, conforme mencionado no tópico anterior, sobre conceitos e terminologias. DICAS UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 12 Confira no vídeo a História das Lutas <https://www.youtube.com/watch?v=pjSxJWv3- Is>- um vídeo muito interessante que rapidamente vai preparar sua mente para o conteúdo a seguir. Entretanto, sabemos que o ser humano se utiliza do corpo para conseguir sua sobrevivência, ou para conseguir seu alimento através da caça e colhendo vegetais ou travando combates com outros seres humanos ou animais em defesa de seu território, ou mesmo, se defendendo de moléstias (PINTO et al., 2009). Estes atos de defesa ou ataque gerando combate humano têm vários momentos e lugares épicos, por exemplo, nas Américas, povos como os incas, os maias e astecas realizavam danças para as divindades, bem como lutas que deveriam terminar na morte de um sacrificado e ofertado aos deuses. Já os chineses, em grandes parques que simulam áreas de treinamento atuais, realizavam exercícios de corpo livre, evoluções de ordem unida com coreografias de danças militares. As evoluções de ordem unida, executadas como se devessem enfrentar um inimigo, foram primordiais para a notável superioridade do povo chinês sobre os demais, a qual se manteve por séculos (DUARTE, 2004). FIGURA 3 – RITUAIS MISTURAM DANÇAS E ARTES MARCIAIS EM TREINAMENTOS NO EXÉRCITO CHINÊS FONTE: Disponível em: <http://port.pravda.ru/photo/album/3638/>. Acesso em: 25 jul. 2016. DICAS TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 13 FIGURA 4 - TREINAMENTO MILITAR EM ESPARTA: A EDUCAÇÃO DA ÉPOCA FONTE: Disponível em: <https://mundodesalienado.wordpress.com/tag/historia-da- educacao/>. Acesso em: 23 jul. 2016. Do ponto de vista militar, e assim objetivando as lutas, os japoneses tinham como líderes na educação física e no ensino das lutas os famosos samurais. As principais artes marciais eram a esgrima com o sabre, a esgrima com a lança, caratê, sumô e o judô. Tanto o caratê quanto o judô miravam o desenvolvimento corporal aliado ao espiritual, além da autodisciplina e autodefesa. Tais conhecimentos e ensinamentos são procurados ainda hoje por pessoas que querem conseguir o controle espiritual através da luta. Já o sumô era a forma mais antiga de luta, com valorização ao peso dos atletas (DUARTE, 2004). Quando olhamos atentamente a história dos egípcios, no OrienteMédio, é clara a relação fundamental que existia entre a eficiência física e o rito religioso; de fato, em ocasiões das mais importantes festas religiosas, executavam-se diversas demonstrações, dentre elas a antiquíssima luta com bastões (CRAMER; CAMPOS, 2007). Os indianos também utilizavam muito as demonstrações de esgrima com sabre e até mesmo o pugilato. Sobre o pugilato, existem tendências que indicam seu surgimento entre os espartanos. Ah! Esparta. Como falar da história da luta e não falarmos do forte e rigoroso sistema de treinamento militar espartano? A extraordinária importância que teve a ginástica na educação do cidadão espartano permitiu a invenção do pugilato e do pancrácio. Pancrácio era uma espécie de combate ou prova atlética dos gregos e romanos antigos, envolvendo elementos de luta livre e pugilato (DUARTE, 2004). UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 14 Na Grécia antiga, a luta era considerada não somente uma das disciplinas gímnicas mais apaixonantes, mas também um exercício indispensável para o reforço do físico e do caráter dos jovens. As formas de luta que se praticavam na Grécia eram, substancialmente, quatro, e todas razoavelmente distantes, esteja bem claro, da luta que hoje, diríamos arbitrariamente, chamamos de “greco-romana”. Por muito tempo acreditou-se – de maneira um pouco superficial – que o termo “greco-romana” indicasse naturalmente um tipo de combate de origem grega, oportunamente modificado pelos romanos. E baseando-se no fato de que a posição do lutador com as palmas das mãos e os joelhos pousados sobre a terra e o corpo levantado, como para caminhar com quatro pés, é até hoje denominada como de origem grega. Considerou-se que a luta grega fosse aquela da posição deitada e que a romana fosse aquela em pé (perpendicularmente). Assim teria surgido o termo “greco-romana” para designar a nossa luta, que se desenvolve tanto em pé quanto deitada (DUARTE, 2004). FIGURA 5 - DETALHE EM OBRA DA GRÉCIA ANTIGA DEMONSTRANDO A LUTA GRECO-ROMANA FONTE: Disponível em: <http://lalaruiz.com.br/2016/03/ha-poesia-nos-jogos- olimpicos-e-um-simposio-em-sao-paulo-vai-mostrar/>. Acesso em: 28 jul. 2016. Cabe ressaltar também a luta determinada Pancrácio, que divergia do próprio e verdadeiro pugilato pela ausência de “luvas”, porque os lutadores combatiam com o punho nu e era muito mais perigoso que o pugilato, já que os competidores podiam bater no adversário mesmo este estando caído em terra, sem limitações de socos. Era de fato consentido dar cabeçadas, morder e até mesmo atacar com os dedos os olhos do rival. O mais celebrado de todos os lutadores, talvez de todos os atletas gregos, foi Milon de Crotona, homem de força sobre- humana. Conseguiu seis vitórias consecutivas na modalidade de luta em Olímpia. TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 15 FIGURA 6 - MILON DE CROTONA, SEIS VEZES CAMPEÃO DE OLÍMPIA FONTE: Disponível em: <http://tistimavo.blogspot.com.br/2012/08/ milone-di-crotone.html>. Acesso em: 3 ago. 2016. A instituição de combates físicos entre seres humanos (exaustivos e muitas vezes até à morte) foi, ao longo da história, assumindo significados distintos, como podemos ver nos parágrafos anteriores, isso de cultura para cultura, povo para povo e período a período. Com a evolução das sociedades, foram surgindo formas sistematizadas e diferenciadas de combates corporais, a ponto de estas formas assumirem caráter de estilos baseados em filosofias que agregavam valores e atrelavam um número significativo de pessoas a fim de organizar grupos militares para proteção das nações (PINTO et al., 2009). Com o avanço da indústria bélica, novas formas de combate foram criadas, e as armas de fogo tomaram o lugar do combate corpo a corpo. Todos os acontecimentos históricos projetaram uma troca no entendimento do combate corporal, resumindo-se assim o objetivo e a eficácia da habilidade física organizada em modalidade de luta apenas à prática esportiva ou de simples lazer (DUARTE, 2004; CRAMER; CAMPOS, 2007). UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 16 PRINCÍPIO DA SOBRECARGA Caro estudante, no futuro, nas disciplinas de Treinamento e/ou Fisiologia do Exercício, você ouvirá sobre o princípio da sobrecarga. Este princípio baseia-se no entendimento de que após a aplicação de uma carga de trabalho existe uma recuperação do organismo visando restabelecer a homeostase (DANTAS, 2003). O interessante é que você, estudante, deve estar se perguntando: “Por que ele está discutindo sobre este assunto específico agora?” Pois então, lembra do Milon de Crotona, que estudamos agora há pouco? Segundo as lendas, ele é a forma histórica deste princípio. Mílon, da época de 500 a 580 a.C., na Itália, foi atleta olímpico de luta, além de discípulo do matemático Pitágoras. Tudo indica que através dele o método de treinamento mais antigo da humanidade, utilizado até hoje, a evolução progressiva da carga, foi criado. Este atleta corria com um bezerro nas costas, para aumentar as forças dos membros inferiores, e quanto mais pesado o bezerro ficava, proporcionalmente sua força aumentava. Nos jogos antigos teria ganho 12 competições: seis vezes nos Jogos Olímpicos e seis vezes nos Jogos Píticos. O nome da cidade de Milão foi dado em sua homenagem. Agora, quando você for questionado sobre treinamento, já saberá tudo sobre o quanto essencial a sobrecarga é no dia a dia do treinamento, e como tudo surgiu. MÍLON DE CROTONA E A EXPLICAÇÃO ILUSTRATIVA DO PRINCÍPIO DE SOBRECARGA Disponível em: <http://revistasuaacademia.com.br/materia/um-pouco-mais-sobre-a-historia- da-musculacao/363>. Acesso em: 25 ago. 2016. 3 HISTÓRIA DAS LUTAS COMO PRÁTICA ESPORTIVA Conforme mencionado anteriormente, as lutas passaram aos poucos de um ato de defesa e ordem militar para a prática esportiva, que pode ser evidenciada até os dias de hoje. Alguns autores acreditam que as transformações das lutas acarretaram uma perda do ideal e valores delas, pois, no mundo do alto desempenho, o que mais importa para os grandes lutadores tem sido pura e simplesmente a vitória. Independentemente das mudanças, as lutas ainda continuam sendo praticadas IMPORTANT E TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 17 pelo mundo inteiro e, além das competições com instâncias mundiais, nacionais, estaduais e regionais, o marco mais histórico para estas modalidades tem sido os grandiosos Jogos Olímpicos. Infelizmente, não são todas as modalidades de lutas e artes marciais que estão nos Jogos Olímpicos, pois o Comitê Olímpico leva em consideração uma série de fatores para a introdução de determinada modalidade ao quadro de práticas olímpicas (COI, 2016). Podemos dizer que a busca por modalidades de artes marciais tem aumentado, devido ao grande incentivo da mídia ao Mixed Martial Arts (que significa artes marciais mistas) e porque há um grande mercado consumidor de entretenimento através do UFC (Ultimate Fighting Champioship). As lutas olímpicas, por fim, acabam conseguindo assim também maior visibilidade, já que determinados elementos seus podem ser utilizados nestas lutas (MMA) de poucas regras, podendo também atingir um público maior e exibir suas qualidades e curiosidades (VASQUES; BELTRÃO, 2013). Atualmente, as lutas disputadas em nível olímpico são o boxe, o judô, a luta greco-romana, esgrima, luta livre e o tae kwon do (COI, 2016) (mais adiante iremos explicar cada uma destas lutas de forma mais detalhada, com exceção do tae kwon do). Para conhecimento e visibilidade da população, consequentemente serão as modalidades em média mais conhecidas pelos estudantes em nível escolar. O judô e a esgrima são as lutas mais procuradas e assistidas pela sociedade, apresentando uma preferência maior. Além destas, o pugilismo também apresenta determinado grau de interesse, e ainda maior quando a aposta brasileira é de confiança, quando o atleta indicado à competição já se apresenta vitorioso em diferentes situações ao longo dos anos. Por exemplo, como podemosesquecer o impulso dado ao boxe pelo atleta Acelino Popó Freitas? Assim, podendo também despertar o interesse durante as Olimpíadas, se fazendo então uma das lutas principais (AIBA, 2016; CBB, 2016). FIGURA 7 - CONFIRMAÇÃO DA PRIMEIRA MEDALHA DE OURO NOS JOGOS OLÍMPICOS DO RIO 2016, COM A TORCIDA APOIANDO A CAMPEÃ FONTE: Disponível em: <http://esporte.uol.com.br/lutas/album/2013/08/28/terceiro- dia-de-disputas-do-mundial-de-judo-no-rio-de-janeiro.htm>. Acesso em: 25 ago. 2016. UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 18 3.1 JUDÔ Uma arte marcial esportiva e que pode, sim, ser letal. Foi criada no Japão, em 1882, de uma adaptação do jiu-jítsu, pelo professor de Educação Física Jigoro Kano (JANICOT; POUILLART, 1999). Pessoa de alta cultura geral, ele era um esforçado cultor de ju-jítsu. Procurando encontrar explicações científicas aos golpes, baseados em leis de dinâmica, ação e reação, selecionou e classificou as melhores técnicas dos vários sistemas de ju-jítsu, dando ênfase principalmente no ataque aos pontos vitais e nas lutas de solo do estilo Tenshin-Shinyo-Ryu e nos golpes de projeção do estilo Kito-Ryu. Inseriu princípios básicos como o do equilíbrio, gravidade e sistema de alavancas nas execuções dos movimentos lógicos. Na criação desta arte marcial, Kano tinha como objetivo criar uma técnica de defesa pessoal, além de desenvolver o físico, espírito e mente. O judô teve uma grande aceitação no Japão, espalhando-se, posteriormente, para o mundo todo, pois possui a vantagem de unir técnicas do jiu-jítsu (arte marcial japonesa) com outras artes marciais orientais. Esta arte marcial chegou ao Brasil no ano de 1922, em pleno período da imigração japonesa (KANO, 1994). FIGURA 8 - JIGORO KANO E SUA VESTIMENTA FONTE: Disponível em: <http://www.burnabyjudoclub.ca/about- judo/jigoro-kano-founder-of-kodokan-judo/>. Acesso em: 25 ago. 2016. TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 19 3.1.1 Breve história do judô no Brasil 3.1.2 Breve resumo do judô e algumas regras Esta arte milenar chegou ao Brasil por meio do Conde Koma, cujo nome seria Mitsuyo Maeda. Apesar de ter aparecido anos após a entrada dos primeiros imigrantes japoneses, o Conde Koma, primeiramente, foi aos Estados Unidos como enviado especial da Kodocan para divulgar o judô, juntamente com quatro lutadores importantes, Tomita, Sakate, Ono e Ito. Percorreram desde os Estados Unidos, América Central até a América do Sul e, por fim, chegaram ao Brasil. As histórias dizem que a primeira demonstração de judô aconteceu no Brasil (KANO, 1994; JANICOT; POUILLART, 1999). Você sabia que o judô é o esporte individual que mais deu medalhas olímpicas para o Brasil? Interessante, não é? São 19, sendo três ouros, três pratas e 13 bronzes. O primeiro ouro olímpico do judô brasileiro veio com o também meio pesado Aurélio Miguel, nos Jogos de Seul, em 1988. E o segundo veio na edição seguinte das Olimpíadas, em 1992, com Rogério Sampaio no meio leve (CBJ, 2016). Ketleyn Quadros virou história do judô feminino brasileiro, sendo a primeira judoca mulher brasileira a conquistar uma medalha olímpica, com a importantíssima e muito suada medalha de bronze, nos Jogos Olímpicos de Pequim (FJERJ, 2016). Atualmente, temos que destacar que a primeira medalha de ouro dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro veio com Rafaela Silva. A atleta judoca derrotou Dorjsürengiin Sumiya, da Mongólia, na final na categoria até 57 quilos feminino (CBJ, 2016). Também com muita importância, o judô brasileiro ganhou mais duas medalhas olímpicas neste evento: Mayara Aguiar (peso meio-pesado) ficou com o bronze e Rafael Silva também conquistou bronze (na categoria acima de 100 quilos). O local de prática das lutas de judô é um tatame com formato quadrado (14 a 16 metros de lado). O tatame deve ser capaz de manter uma pisada firme de modo que não prejudique os movimentos da prática e, claro, deve absorver os impactos das quedas e golpes. Para maior praticidade e menor custo, nas academias são usados tatames sintéticos de EVA (REAY, 1985). UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 20 FIGURA 9 - ÁREA DE COMPETIÇÃO DE JUDÔ FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuPYAF/regulamento- competicoes-judo#>. Acesso em: 25 ago. 2016. O tempo de duração de cada luta é de aproximadamente cinco minutos. Vence quem conquistar o gesto ou movimento denominado ippon primeiro. Se no terminar da luta nenhum judoca conseguir o tal ippon, vence aquele que tiver mais vantagens. Agora você deve estar se perguntando o que é ippon. Pois então, ippon nada mais é que o maior objetivo do judô (um ponto completo). O ippon é conquistado quando um judoca consegue derrubar o adversário, imobilizando-o, com as costas ou ombros no chão durante 30 segundos. Quando o ippon é concretizado, o combate se encerra (REAY, 1985; KANO, 1994; JANICOT; POUILLART, 1999). Outra forma de pontuação no judô é o wazari, que vale meio ponto (vantagem). O wazari nada mais é que um ippon que foi aplicado de forma incompleta, ou seja, o adversário cai sem ficar com os dois ombros no tatame. Existe também o yuko, que é quando o adversário vai ao solo de lado, sendo que cada yuko vale um terço de ponto. Por fim, o koka é considerado a menor pontuação do judô, valendo um quarto de ponto. Este golpe é classificado pela queda sentada do adversário no tatame. Uma exceção é que quatro kokas não geram o final da luta automaticamente, embora ele seja cumulativo (REAY, 1985). O traje usado para praticar o judô é muito respeitado dentro do mundo dos judocas, sendo que deve ser construído de forma que proteja e não venha a lesionar o adversário; este, chama-se "JUDOGUI". Consiste numa vestimenta ampla, geralmente branca, composta de duas peças principais: O blusão, conhecido também como wagui, e a calça, conhecida também como zubon. Em torno da cintura o judoca usa a faixa obi amarrada com um nó direto, a faixa define as graduações (próximo subtópico) e, segundo as histórias, a faixa não deveria ser lavada, pois o quão “desgastada” ou “usada” a faixa está, mais treinos e lutas determinado judoca tem (FJERJ, 2016). TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 21 FIGURA 10 - JUDOGUI E SEUS PADRÕES FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuPYAF/regulamento- competicoes-judo#>. Acesso em: 25 ago. 2016. Conforme mencionado anteriormente, as graduações no judô são feitas através de faixas e suas diferenciações. Existem vários padrões de graduação no mundo inteiro, o Brasil adota um sistema com diferenciação de acordo com a idade do praticante (JANICOT; POUILLART, 1999). O judô utiliza federações e confederações para organizar as competições e regularizar a sua prática, sendo as questões internacionais organizadas pela IJF - International Judo Federation (Federação Internacional de Judô). Já as questões nacionais são organizadas pela CBJ (Confederação Brasileira de Judô). UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 22 FIGURA 11 - GRADUAÇÃO NO JUDÔ FONTE: Disponível em: <http://www.judorecife.com.br/#!As-Faixas-do-Jud%C3%B4- Gradua%C3%A7%C3%B5es/csso/5706a61e0cf2efb3747ecb97>. Acesso em: 25 ago. 2016. A Federação Internacional de Judô mantém um ranking atualizado em seu site e é interessante você conferir os lugares em que o Brasil se encontra. Você pode acessar através deste link:<http://www.intjudo.eu/fo-Rankingir>. 3.2 JIU-JÍTSU As crenças de como determinada arte se tornou o grande jiu-jítsu são das mais variadas origens, porém, a crença com mais força é de que tudo teve início na Índia, por isso mesmo a índia é conhecida como “berço das artes marciais”, onde o jiu-jítsu era praticado por monges. Os contos diziam que, por questões religiosas, os monges eram proibidos de usar armas para se defender. Porém, em suas longas jornadas, tais monges eram constantemente atacados por ladrões e DICAS TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 23 assassinos de tribos mongóis do norte da Ásia. Assim, a ideia dos monges era simples e consisteno jiu-jítsu até os dias de hoje, ou seja, era transformar o corpo em uma verdadeira arma. Os monges forjaram técnicas de luta e defesa pessoal baseadas nos princípios do equilíbrio, do sistema de articulação do corpo e das alavancas, evitando o uso da força e de armas. A grande eficiência desta luta nasceu, obviamente, da necessidade, visto que sem o uso de armas a habilidade do corpo e de seu controle era essencial para afastar o assaltante ou até mesmo aproximar para desarmá-lo (JJGF, 2016). O jiu-jítsu ultrapassou as barreiras da China, e o interessante é que inicialmente, nesta região, além de ser proibida a referência escrita ou falada (numa forma de defensa, para evitar que esta arte caísse em mãos inimigas), também era proibido o ensinamento desta técnica para pessoas ditas normais, comuns. Este tipo de técnica de luta somente era permitido para os monges, e ministrado para os seus discípulos. FIGURA 12 - MONGES USAVAM O JIU-JÍTSU COMO TÉCNICA DE DEFESA SEM O USO DE ARMAS FONTE: Disponível em: <http://www.milfont.org/gladiatorium/2008/a- verdadeira-historia-do-jiujitsu/>. Acesso em: 25 ago. 2016. Entretanto, apesar da grande influência dos países pioneiros, foi no Japão que o jiu-jítsu tomou um grande impulso, sendo a entrada deste no Japão anterior até mesmo ao nascimento de Cristo. Caro acadêmico, acreditamos que agora você compreende o quão antiga esta luta é e quanto de estudo já recebeu para o seu aprimoramento. No Japão, a forma de chamar essa arte poderia ser ju-jítsu ou jiu- jítsu. O significado das duas palavras é o mesmo, bem como o ideograma usado em japonês para escrevê-las (ju significa suave e jítsu, arte ou técnica). Os samurais do antigo Japão feudal, ao travar um combate corpo a corpo sem armas, estavam pondo em prática o jiu-jítsu. UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 24 Apenas temos que ressaltar que existem alguns autores que não acreditam que a origem do jiu-jítsu seja do país indiano. Esses autores acreditam que não se tenha um único e específico lugar e que este surgimento se deu por uma mistura de artes e conhecimento, pois desde os tempos mais remotos o homem conhecia estilos de luta baseados em grappling (lutas de pegada), conforme relatos na Bíblia, de filósofos gregos, do Egito dos faraós ou em cavernas da França no tempo dos mamutes e tigres-de-dente-de-sabre por volta de dez mil anos antes de Cristo. Hércules era conhecido como um exímio wrestler na mitologia grega antiga (IBJJF, 2016; JJGF, 2016). Incontáveis outras artes marciais surgiram do jiu-jítsu. Iremos falar especificamente de cada uma no seu próprio espaço durante a escrita do caderno, porém algumas delas seriam: sumô, judô, caratê, kempo, aikido. 3.2.1 História do jiu-jítsu no Brasil A partir do final do século XIX, alguns mestres de jiu-jítsu migraram do Japão para outros continentes, vivendo do ensino da arte marcial e das lutas que realizavam. Esai Maeda Koma, conhecido como Conde Koma, o mesmo sujeito que comentamos acima na formação do judô do Brasil discutida neste caderno, foi um deles (CORREA et al., 2010). Chegou ao Brasil em 1914 e conheceu Gastão Gracie. Gastão tornou-se um divulgador e incentivador da prática no Brasil. Levou o que se tornaria famoso depois, seu filho mais velho, Carlos Gracie, para aprender a luta com os japoneses. Sim! Gracie é um nome que você vai ouvir muito na história do jiu-jítsu. Muito magrinho por destino da genética, nos seus 15 anos de idade, Carlos Gracie fez do jiu-jítsu o seu meio de realização pessoal. Aos 19 anos, já no Rio de Janeiro com a família, adotou a profissão de lutador profissional e professor dessa arte marcial. Por todo o Brasil, Carlos começou a ministrar aulas de jiu-jítsu e a vencer até com certa facilidade adversários bem mais fortes fisicamente e mais pesados. No Rio de Janeiro, em 1925, abriu a primeira Academia Gracie de Jiu-jítsu, com a ajuda e assessoria de seus irmãos Oswaldo Gracie e Gastão Gracie. Além disso, auxiliou na criação e educação de seus pequenos irmãos George Gracie, com 14 anos de idade, e Hélio Gracie, com apenas 12 anos de idade. A adaptação do jiu-jítsu para a genética da família Gracie, franzina fisicamente, tornou-se muito famosa para o mundo competitivo. Além disso, a família Gracie transformou o jiu-jítsu em uma filosofia de vida, influenciando até na alimentação, com uma dieta especializada para atletas, a Dieta Gracie. Anos depois, a arte marcial japonesa passou a ser denominada de jiu-jítsu brasileiro (brazilian jiu-jítsu), sendo exportada para o mundo todo, inclusive para o Japão. TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 25 FIGURA 13 - A MAIS FAMOSA FAMÍLIA DAS ARTES MARCIAIS: OS GRACIE FONTE: Disponível em: <http://jiujitsuportugal.com/2014/02/21/a-familia-gracie-a- historia-do-jiu-jítsu-video/>. Acesso em: 25 ago. 2016. Depois de Carlos Gracie, Hélio Gracie deu início a um novo período do jiu-jítsu brasileiro, com um tipo de jiu-jítsu mais agressivo e letal. Porém, o mais fantástico era a capacidade de Hélio de não se cansar durante a luta, pois seu estilo de luta suplantava a forma física do oponente. Posteriormente, foi a vez de seu sobrinho, Carlson Gracie, ser o sucessor da linha Gracie de jiu-jítsu. E, finalmente, Rickson Gracie, que foi um ótimo e sucessor lutador, apontado até como o melhor lutador de jiu-jítsu do mundo, pois nunca perdeu nenhuma das 400 lutas de que participou. Uma entrevista que ensina muito sobre o próprio jiu-jítsu e sobre a vida, com Rorion Gracie. Confira no link que segue: <https://www.youtube.com/ watch?v=P6t8AfzUD18> Apesar de não ser uma modalidade olímpica, o jiu-jítsu brasileiro continua ganhando espaço e está sendo muito incentivado pela utilização do mesmo nas lutas de octógono do Ultimate Fighting Championship, campeonato mundial de lutas de artes marciais mistas. DICAS UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 26 3.2.2 Breve resumo das regras do jiu-jítsu Lembrando que o jiu-jítsu não é uma modalidade olímpica, como acontece com o judô, quando olhamos para esta arte como modalidade esportiva, temos como propósito principal a derrubada de seu oponente, isso para cada um dos lutadores, e também a sua imobilização. Com exceção de vestimentas, para atingir este objetivo o corpo é a única arma que pode ser usada. A vestimenta é muito semelhante à utilizada no judô, nas cores azul, preta ou branca. O espaço para realização do jiu-jítsu é muito semelhante ao do judô, porém com algumas pequenas alterações. É muito importante para você, futuro professor, lembrar que a prática desta modalidade diz respeito a área de segurança. O método MENKYO de classificação de atletas é adotado pelos estilos mais tradicionais do ensino do jiu-jítsu. Este método realiza a divisão dos praticantes aprendizes levando em consideração seu desempenho e com determinada sequência de cores. O sistema de graduação por faixas no jiu-jítsu foi criado com a proposta inicial de uniformizar e facilitar o ensino e prática do jiu-jítsu brasileiro para todas as idades e gêneros, como você pode observar na figura a seguir, separando tipos de classificação diferentes para diferentes faixas etárias. O sistema de graduação também é muito útil nas competições. FIGURA 14 - SISTEMA DE GRADUAÇÃO POR FAIXAS COM DIFERENTES CORES UTILIZADO NO JIU-JÍTSU FONTE: Disponível em: <http://jiujitsuportugal.com/2014/02/21/a-familia-gracie-a-historia-do-jiu- jítsu-video/>. Acesso em: 25 ago. 2016. TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 27 3.2.3 Principais movimentos do jiu-jítsu QUADRO 1 - PRINCIPAIS MOVIMENTOS DO JIU-JÍTSU E SUAS DESCRIÇÕES FONTE: Adaptado de IBJJF (2014) As lutas são fiscalizadas sempre por pelo menos um árbitro que fica circulando ao redor dos lutadores, sempre tentando buscar uma visão que permita identificação melhor dos golpes e perigos. As lutas têm duração dependente de uma gama de variedades, dentre elas, faixa etária, peso corporal e faixa de graduação em que o atleta se encontra. Os movimentosque serão destacados em seguida podem marcar ou retardar pontos ao praticante. As punições de movimentos podem acarretar a perda de um, dois, três ou quatro pontos, de acordo com a sua gravidade, e os ganhos de pontos são igualmente pontuados acima. Por fim, quanto aos movimentos: a queda, raspagem e joelho na barriga podem acarretar dois pontos ganhos, três pontos por uma passagem de guarda, e quatro pontos por montada e pegada pelas costas. Obviamente o lutador que tiver a maior pontuação no final da luta será o vencedor. Caro acadêmico, confira os principais movimentos utilizados no jiu-jítsu no quadro a seguir. Movimento Descrição Queda ou projeção Qualquer falta de equilíbrio causada ao adversário que o leve ao chão. Passagem de guarda Quando o atleta lutador se encontra em cima do adversário, estando entre suas pernas, e passa para o lado do adversário, ficando em posição transversal e mantendo-o dominado. Joelho na barriga Quando o atleta lutador está por cima de seu adversário e põe o joelho sobre a sua barriga e assim levando-o à imobilização. Montada É quando o lutador monta em seu adversário tendo os seus joelhos e seus pés no solo. Pegada pelas costas Movimento em que o lutador pega seu adversário pelas costas utilizando os pés. Raspagem Movimento em que o lutador está por baixo, com o adversário entre suas pernas, e consegue inverter as posições. Por uma questão de tempo e foco, não poderemos mostrar ilustrações para todos os movimentos do jiu-jítsu, pois acreditamos que o enfoque não seja ensinar os movimentos, mas sim como eles podem trazer consciência corporal aos alunos do nível escolar. Porém, existe um movimento denominado rolamento (frente, costas e lateral) que é ensinado em várias lutas, e este movimento, classificado como quedas, nas próximas unidades será melhor abordado. O rolamento nada mais é que movimento de queda do ser humano com segurança. Deveria ser UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 28 ensinado nas primeiras aulas de Educação Física escolar, pois permitirá que no futuro, quando adolescente e/ou adulto, já com mais massa corporal, saiba cair adequadamente (RUFINO, 2015). FIGURA 15 - ROLAMENTO: MOVIMENTO DE QUEDA ENSINADO EM AULA DE JIU-JÍTSU E OUTRAS ARTES MARCIAIS FONTE: Disponível em: <http://portalhapkido.blogspot.com.br/p/dicas-de-treino.html>. Acesso em: 25 ago. 2016. As principais instituições que organizam o Jiu-jítsu no mundo e no Brasil são a JJGF – Jiu Jitsu Global Federation (http://jjgf.com/) e a IBJJF – International Brazilian Jiu-jítsu Federation (http://ibjjf.org/). Vale a pena conferir os sites para se aproximar desta fascinante prática. 3.3 CARATÊ A terminologia caraté ou karaté (provinda do português europeu), caratê ou karatê (português brasileiro) ou até mesmo karate-dô tem o igual significado, porém os mais usados no Brasil são caratê e karatê. Esta palavra tem origem japonesa e o significado de “mãos vazias”, que pode ser entendido como o ato de lutar sem armas, usando somente o corpo e a mente, pernas e braços e o resto do corpo como um elemento de defesa pessoal. As crenças antigas do caratê acreditam que, além de luta, o significado pode ser levado para vida, onde você não precisa viver e vencer os problemas diários visando a riqueza material, assim, mãos vazias significaria que você é tudo que precisa para viver. Você consegue perceber a semelhança entre o caratê, judô e jiu-jítsu? Claro, todas têm origens semelhantes e por isso é importante estudar as histórias das lutas. Já sabemos que a origem do caratê deve ser creditada a variações das artes marciais vindas do berço das artes, a Índia. Passou pela China até chegar ao Japão e desenvolver-se especificamente na pequena ilha de Okinawa. DICAS TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 29 FIGURA 16 - ILHA DE OKINAWA E PRATICANTES DO ANTIGO CARATÊ FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4b/Karate_ ShuriCastle.jpg>. Acesso em: 25 ago. 2016. Okinawa situa-se a aproximadamente 1.600 quilômetros de Tóquio, é uma ilha pequena que está a 480 quilômetros ao sul da extremidade continental do Japão. Durante a dinastia Sho, do imperador Sho Hashi, foi lançado um decreto que proibia a propriedade privada de armas, e ainda é estudado como este povo conseguia viver em harmonia sem a utilização de armas, porém isso não era sinônimo de fraqueza ou fragilidade. Foi nesta cidade considerada a base do caratê que, no começo, as artes marciais eram praticadas em segredo, para evitar que os senhores de Satsuma ficassem observando. Por motivo de disfarce, muitos movimentos do caratê foram colocados nas danças folclóricas. O caratê era praticado à noite, atrás dos muros de jardim, no interior das florestas ou ao longo das praias desertas. Além disso, era proibido transformar os estudos das artes em papel ou informação falada, e por isso há bem poucos registros a respeito do caratê na ilha de Okinawa (FROSI; MAZO, 2011; CBK, 2016). UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 30 FIGURA 17 - GICHIN FUNAKOSHI (1868-1957), CONSIDERADO POR MUITOS O PAI DO CARATÊ FONTE: Disponível em: <http://www.budokan.com.br/historia/ funakoshi.htm>. Acesso em: 27 ago. 2016. A transformação do caratê antigo ao caratê moderno deve-se ao grande mestre Gichin Funakoshi. Nascido em Shuri, a capital de Okinawa, no ano de 1968, Funakoshi atualizou a arte de luta da ilha. Diferentemente de Jigoro Kano (o mestre do judô), a infância deste mestre foi repleta de intelectualidade, pois seu avô era tutor da família real. Com suas brilhantes demonstrações, conseguiu levar a arte do caratê para além das barreiras sociais da ilha, e assim divulgando para o mundo através dos seus alunos. O marco de grande importância foi a demonstração realizada numa exposição de Educação Física promovida pelo governo japonês em Tóquio. Mestre Gichin Funakoshi foi escolhido como representante da ilha para fazer a primeira demonstração pública da arte. Deste momento em diante o caratê começou a se espalhar para o mundo (FROSI; MAZO, 2011; CBK, 2016). Lembramos que o caratê é dividido entre estilos, que serão melhor discutidos à frente, porém, por uma questão de respeito e representatividade histórica, fizemos uma pequena lista dos estilos mais conhecidos e presentes no Brasil, seguidos de seus criadores e fundadores. Shotokan - O fundador do estilo foi o Mestre Gichin Funakoshi (1868-1957). Gojuryu - O fundador do estilo foi o Mestre Chojun Miyagi (1888-1953). Wadoryu - O fundador do estilo foi o Mestre Hironori Otsuka (1892/1982). TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 31 Shorin-Ryu - O fundador do estilo foi o Mestre Choshin Chibana (1892/1969). Kenyuryu - O fundador do estilo foi o Mestre Ryusho Tomoyori (1905/1977). 3.3.1 Breve história do caratê no Brasil Esta magnífica arte veio ao Brasil através dos imigrantes japoneses no ano aproximado de 1908, com a colônia que se instalou no interior de São Paulo e na capital. Durante os anos seguintes, o professor e mestre Akanime repassou os conhecimentos da mão vazia aos jovens nipônicos e a alguns brasileiros que se mostravam interessados pela nova arte que acabava de chegar ao Brasil (FROSI; MAZO, 2011; CBK, 2016). Cada estilo de caratê tem uma história diferente no Brasil. Vários fundadores que vieram ao Brasil estudar e/ou trabalhar acabavam por trazer o seu estilo. Como a maioria dos colonizadores japoneses veio para São Paulo, grande parte da história brasileira do caratê surge de lá, porém, Rio de Janeiro e Belo Horizonte também são polos berços desta modalidade de arte marcial (FROSI; MAZO, 2011; CBK, 2016). A primeira academia de caratê foi criada em 1956 pelo professor Mitsuke Harada, no centro da capital paulista. Posteriormente ao surgimento desta academia foi fundada a Associação Brasileira de Caratê, no ano de 1960, também em São Paulo, pelo professor Shikan Akamine. As principais instituições que organizam o caratê no mundo e no Brasil são aWKF - World Caratê Federation (http://www.wkf.net/) e CBK – Confederação Brasileira de Caratê (http://www. karatedobrasil.com/). Recentemente, o caratê foi adicionado ao grupo de esportes considerados olímpicos. Isso mesmo, em Tóquio, no ano de 2020, teremos a modalidade de caratê. Tudo bem que estamos bem representados no Brasil com o caratê, mas os japoneses conseguiram levar uma boa competição para sua casa. O principal nome do caratê brasileiro é o atleta Douglas Brose, considerado por muitos do meio do esporte como o maior carateca brasileiro de todos os tempos (CBK, 2016). Em suas participações nos Jogos Pan-Americanos do Rio em 2007, e nos Jogos de Guadalajara em 2011, foi medalha de bronze nas duas competições. Em 2015, sagrou-se campeão dos Jogos Pan-Americanos em Toronto, no Canadá. Que tal ver uma luta sensacional de Douglas? Acesse o link: <https://www.youtube. com/watch?v=iNPUI6UKmwk>. DICAS UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 32 Para você, futuro professor escolar, é importante conhecer o que existe no cinema sobre a modalidade de luta caratê. Um dos maiores sucessos do cinema de luta para o público infantil é o filme Karatê Kid - A Hora da Verdade, do diretor John G. Avildsen. Vale a pena conferir. FIGURA 18 - DOUGLAS BROSE, CONSIDERADO O MELHOR CARATECA BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS FIGURA 19 - ESPAÇO DE COMPETIÇÃO COM ÁRBITRO DETERMINANDO PONTO A UMA ATLETA FONTE: Disponível em: <http://www.karate-live.com/interview-with-douglas-brose>. Acesso em: 27 ago. 2016. FONTE: Disponível em: <http://blogdasachikokarate.blogspot.com.br/2015/07/diferenca- entre-karate-oficial-olimpico.html>. Acesso em: 24 ago. 2016. 3.3.2 Breve resumo das regras do caratê A área de competição do caratê é constituída por uma área de combate e uma área de segurança, conforme as outras lutas estudadas até então. No caratê existem duas marcações para posicionar os lutadores no início, final ou a cada pontuação realizada. Para o controle da luta existem arbitrador, árbitro e, por fim, os juízes que estão na área de segurança (CBK, 2016; WKF, 2016). TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 33 FIGURA 20 - GRADUAÇÕES NO CARATÊ E O SEU TEMPO MÍNIMO DE DURAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://www.karate-live.com/interview-with-douglas- brose>. Acesso em: 27 ago. 2016. Os equipamentos utilizados no caratê podem variar de acordo com a competição ou mostra, porém, o padrão é um caratê gi (um tipo de quimono) branco sem marcas, riscas ou canelados. Sendo que um dos lutadores deverá usar um cinto vermelho e um lutador deverá usar um cinto azul. Por questões de segurança, o uso de protetor bucal é obrigatório e cabe lembrar que em grande parte das competições é usado protetor de pé e luvas de proteção, diminuindo os danos causados com os golpes (COI, 2016). Quanto à duração das lutas para seniores do sexo masculino, o combate terá uma duração de três minutos e para seniores do sexo feminino, assim como juniores e cadetes de ambos os sexos, o combate tem a duração de dois minutos (CBB, 2016). Quanto às pontuações do caratê, elas são distribuídas em: IPPON que vale três pontos, WAZA-ARI que vale dois pontos e YUKO que vale um ponto. Porém, para a marcação ser considerada válida ela deve atender aos seguintes critérios: boa forma, atitude esportiva, aplicação vigorosa, alerta (ZANSHIN), tempo apropriado e distância correta (WKF, 2016). Sendo o IPPON atribuído para chutes Jodan (nível alto do pescoço para cima) e qualquer técnica que pontue realizada sobre um oponente derrubado ou caído. Já o WAZA-ARI é atribuído para chutes Chudan (nível médio altura do peito) e, por fim, o YUKO é atribuído para golpes Chudan ou Jodan Tsuki (golpes com o punho) e/ou Chudan ou Jodan Uchi (golpes com membros superiores exceto com punhos). Os ataques na arte marcial do caratê estão limitados às áreas da cabeça, rosto, pescoço, abdômen, peito, costas e laterais (WKF, 2016). As graduações no caratê também são realizadas através de faixas, assim como no judô e jiu-jítsu. A progressão acontece por uma série de fatores, entre eles estão: atitude, amadurecimento, responsabilidade, além de conhecimentos técnicos e qualidades gestuais dos movimentos de luta. UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS 34 3.4 KUNG FU Kung fu e wushu têm o mesmo significado? Primeiramente, antes de começarmos a falar do kung fu propriamente dito, iremos desmistificar a diferença entre wushu e kung fu. Wushu é um termo de origem chinesa que significa realmente a arte da guerra, sendo que se designa a todas as artes guerreiras, militares e marciais (TZU, 1995). Já o kung fu é um estilo de luta também desenvolvido na China, porém este é somente um estilo que vem se adaptando. Curiosamente, este estilo foi criado através dos estudos dos animais, observando os movimentos de cada animal. 3.4.1 História do kung fu Por motivo da longa jornada que o kung fu já passou em território chinês e posteriormente em território internacional, não se pode datar com exatidão quando foi o seu surgimento, porém existem relatos de mais de dois mil anos. Outro fator limitante do estudo da história desta arte marcial é a grande quantidade de lendas e histórias místicas que tornam muito complicada qualquer chance de uma história baseada em fatos reais. No entanto, este caderno reuni somente os fatos mais contundentes e reais. FIGURA 21 - DEZ MIL ESTUDANTES DEMONSTRAM GRANDE ACURÁCIA EM DEMONSTRAÇÃO DE KUNG FU NA CHINA FONTE: Disponível em: <http://www.dailymail.co.uk/news/article-2158133/China-10-000- students-perform-incredible-display-kung-fu-choreography-celebrate-countrys-rich-history. html>. Acesso em: 26 ago. 2016. TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS 35 Caro acadêmico, para você ter ideia do quanto é antigo o kung fu, os primeiros registros desta arte foram encontrados em cascos de tartarugas da Dinastia Shang (1766-1122 a.C.). Ch’uan fa, ou estilo do punho, como era chamado o kung fu no início, ganhou popularidade quando os guerreiros de Chou venceram a Dinastia Shang e a arte começou a florescer. Durante as dinastias Ch’in (221-206 a.C.) e Han (206 a.C. – 220 d.C.) foram desenvolvidas e especializadas novas artes marciais, como o shoubo (variável da luta romana) e o jiaodi, confronto onde nada mais nada menos que chifres de bois na cabeça eram usados para a luta. O seguinte grande desenvolvimento da história do kung fu também veio durante as dinastias do Norte e do Sul: a chegada de Bodhidharma (CBKW, 2016). Existem histórias segundo as quais o criador do kung fu foi um monge budista Bodhidharma membro do monastério Shaolin. Acredita-se que por ser um monastério, Shaolin abrigasse muitos fugitivos, estes também guerreiros hábeis, tornavam-se monges (TZU, 1995). Assim, por necessidade dos moradores do monastério Shaolin, acredita-se que Bodhidharma tenha fundado uma série de exercícios que ajudavam a unir a mente e o corpo – exercícios que os monges guerreiros achavam benéficos a seu treinamento. Conforme mencionado, a história do kung fu é muito mística, e depois do conhecimento desta parte inicial, esta arte marcial começou a se dividir em vários estilos e a se espalhar pelo mundo, e infelizmente não podemos comentar a história de todos os estilos (CBKW, 2016). Segue a explicação de alguns dos vários estilos do kung fu: • Estilo Águia – utiliza as bases do movimento da águia e é caracterizado pelo treinamento visando o fortalecimento dos dedos: polegar, indicador, médio e anelar. Este estilo torna o praticante um especialista em torções. • Estilo Dragão – baseado nos poderes e movimentos “incríveis” do dragão, este estilo remete a movimentos muito longos, coerentes e que acontecem de forma contínua, sendo os ataques mais comuns com o cotovelo, joelho, juntas e tornozelo, alguns lutadores confundem este estilo de kung fu com a arte marcial denominada Muay Thai. • Estilo Chin’Na – estilo que utiliza mais de imobilização, prender o adversário, porém existem técnicas muito avançadas
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