Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA DIREITO AMBIENTAL AULA 05 DAS RESPONSABILIDADES NOS DANOS CONTRA O MEIO AMBIENTE SUMÁRIO 5 DAS RESPONSABILIDADES NOS DANOS CONTRA O MEIO AMBIENTE..................2 5.1 RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL.............................................3 5.1.1 Infrações Administrativas nos moldes da Lei n° 9.605/98...........................................5 5.2 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL..................................................................9 5.3 RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL.............................................................16 5.3.1 Responsabilidade Penal conforme a Lei n° 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais)..17 REFERÊNCIAS..................................................................................................................24 FONTE: LIMA, Fabrício Wantoil. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: CLEdijur, 2014. 2 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA 5 DAS RESPONSABILIDADES NOS DANOS CONTRA O MEIO AMBIENTE No que concerne às responsabilidades nos danos contra o meio ambiente, procura-se descrever sobre a responsabilidade administrativa ambiental, civil ambiental e penal ambiental, com a finalidade de elucidar os procedimentos jurídicos que regulam as relações sociais referentes ao meio ambiente. Considera-se ‘Dano’ o prejuízo sofrido por alguém em consequência da violação de um direito. Sampaio (1993, p. 70-71) compreende a necessidade de estabelecer mecanismos jurídicos para responsabilizar aqueles que desrespeitam as normas ambientais. Apesar de os danos ambientais coincidirem com a própria existência do ser humano na face da terra, só mais recentemente se vem dedicando maior atenção ao assunto. Assim ocorre porque os milhares de desastres ecológicos verificados no Planeta, a atitude eminentemente predatória e agressiva do homem em relação à natureza, ao longo de séculos, bem como a invenção e o uso corrente de tecnologias cada vez mais aptas a dominá-la e destruí-la fizeram com que a situação ecológica mundial se agravasse a tal ponto, que se já afirma, nos dias que correm, que a grave situação ambiental é irreversível e sua forçosa evolução levará à inabilidade da Terra, pelo esgotamento dos recursos naturais imprescindíveis à manutenção da vida em suas diversas espécies. Para viabilizar a solução de tal problema, faz-se indispensável verdadeira cooperação entre governos e povos de todos os países. No plano interno, cada país pode melhor enfrentar as dificuldades que o atingem mediante regras que adaptem, entre outras coisas, o uso dos recursos naturais, a ocupação dos grandes centros urbanos e a produção à necessidade de conservação ambiental. A par disso é mister que se estabeleçam mecanismos jurídicos eficientes para responsabilização dos que transgridem as normas relativas à matéria em detrimento da coletividade. Essa última providência assume especial relevo no que se refere à obediência à regulamentação das atividades produtivas, especialmente as industriais, que, por sua própria natureza, são as que mais afetam o meio ambiente. No âmbito do Direito Civil, a regra da responsabilidade objetiva está contida na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente desde 1981 1 . O parágrafo 1 o do artigo 14 da Lei n. 6938/81 estabelece, de maneira evidente, a obrigação de indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados pela atividade, não sendo considerada a existência ou não de culpa, tal obrigação de reparação não impede a imposição das demais sanções previstas nas normas legais. A Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente efetivou a possibilidade de aplicação das sanções administrativas e penais conforme conduta lesiva ao meio ambiente 2 . No entendimento de Machado (2007, p. 351) o Direito Ambiental [...] engloba as duas funções da responsabilidade civil objetiva: a função preventiva – procurando, por meios eficazes, evitar o dano – e a função reparadora – tentando reconstruir e/ou indenizar os prejuízos ocorridos. Não é social e ecologicamente adequado deixar-se de valorizar a responsabilidade preventiva, mesmo porque há danos ambientais irreversíveis. Fiorillo (2001, p. 42) evidencia a tríplice penalização do poluidor: 1 Lei n. 6938/81, Art. 14, § 1 o - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. 2 Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 - Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. 3 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA O Art. 225, § 3°, da Constituição Federal previu a tríplice penalização do poluidor (tanto pessoa física como jurídica) do meio ambiente: a sanção penal, por conta da chamada responsabilidade penal, a sanção administrativa, em decorrência da denominada responsabilidade administrativa, e a sanção civil, em razão da responsabilidade civil. Percebe-se a possibilidade de ocorrer a tríplice penalização. A Constituição Federal recepcionou tal probabilidade, deixando evidente que essa norma é legal e válida, prevalecendo como bem maior a proteção ambiental. Trennepohl (2006, p. 30) acompanha essa linha de raciocínio e observa que [...] a obrigação de reparar o status quo ante é a garantia para coletividade de harmonia entre homem e a natureza e da qualidade de vida decorrente, enquanto a pena pecuniária ou restritiva de direitos tem objetivo de coibir ações ou omissões que possam vir a provocar a quebra desse equilíbrio. As penalidades não são alternativas, são cumulativas. Está claro que a aplicação de uma das modalidades de sanção não impede a imposição de penalidade de outra natureza, bem como a satisfação (cumprimento) de uma delas não configura, obrigatoriamente, atenuante para outra. Assim, o capítulo em comento refere-se à responsabilidade pelos danos causados ao meio ambiente, seja administrativa, civil ou penal, baseando-se nos dispositivos da Lei n. 9.605/98 e demais normas que compõem nosso ordenamento jurídico. 5.1 RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL A Administração Pública, observado o princípio da legalidade, pode estabelecer regras e condutas em relação a certos bens e fiscalizar o seu cumprimento. Isso caracteriza o que se chama de Poder de Polícia Administrativa 3 . Tal poder direciona para um aspecto específico ambiental, por exemplo, manutenção do equilíbrio ecológico; racionalização do uso do solo, água e ar; planejamento e fiscalização do uso dos recursos naturais e demais atividades utilizadas na defesa do meio ambiente. O Poder de Polícia é definido no artigo 78 do Código Tributário Nacional, conforme disposição literal da lei: Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. No exercício dessa atividade, a administração executa-a imediatamente, age, como dito, de acordo com o princípio da legalidade, limitando atividades, estabelecendo regras, controlando e fiscalizando seu cumprimento. Por intermédio das sanções possíveis que a administraçãopode disponibilizar, vale mencionar: advertência, multa, apreensão, destruição ou inutilização do produto; suspensão total ou parcial de atividades; suspensão de venda e fabricação do produto; embargo de obra ou atividade; demolição de obra; suspensão parcial ou total de atividades e restritiva de direitos. As penalidades administrativas, impostas pelo Poder Público, podem ser consideradas a melhor forma de demonstração do poder de polícia administrativa. A 3 Leia-se Poder de Polícia Ambiental. 4 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA fiscalização é a atividade do Estado destinada a verificar se o particular está cumprindo as determinações de interesse público, no caso, vinculadas à exploração dos recursos naturais. De acordo com Milaré (2007, p. 822), o poder de polícia visa exercer a tutela administrativa do meio ambiente. O poder de polícia ambiental, em favor do estado, definido como incumbência pelo art. 225 da Carta Magna, e a ser exercido em função dos requisitos da ação tutelar, é decorrência lógica e direta da competência para o exercício da tutela administrativa do ambiente. O poder de polícia administrativa é prerrogativa do Poder Público, particularmente do Executivo, e é dotado dos atributos da discricionariedade, da auto-executoriedade e da coercibilidade, inerentes aos atos administrativos. Pode ser exercido diretamente ou por delegação; tal delegação, porém, requer esteio legal, não podendo ser arbitrária, nem ampla e indefinida. Pode-se dizer que as responsabilidades administrativas e penais são ferramentas para reprimir as condutas e atividades, classificam-se como instrumentos de repressão às condutas e às atividades julgadas nocivas ao meio ambiente, diferenciando- se, nesse sentido, da responsabilização civil. Tanto a responsabilidade administrativa quanto a penal, quando aplicadas com eficiência, podem ainda auxiliar na prevenção do dano. A sanção administrativa será imposta pelo órgão competente, e deve sempre estar prevista em lei, com base no princípio da legalidade. Poderá ser imposta a sanção nas hipóteses elencadas no artigo 14, I, II, III e IV da Lei n. 6.938/81 4 ou com suporte no artigo 70 e seguintes da lei n. 9.605/98 5 . Contudo, Milaré (2007, p. 826) explica que, ao ser editada a Lei dos Crimes Ambientais, o artigo 14 deixou de ter vigência na parte em que dispõe sobre infrações administrativas. Em matéria de Infrações administrativas, a edição da Lei 9.605/1998 e do Dec. 3.179/1999 implicou a revogação do art. 14 da Lei 6.938/1981, na parte em que até então dispunha sabre as sanções administrativas aplicáveis aos transgressores das normas de proteção ambiental. [...] Vale observar que essa revogação não atingiu o § 1° do referido artigo, que trata especificamente da responsabilidade civil objetiva do causador de dano ambiental e não de infrações administrativas. É importante ressaltar que a responsabilidade administrativa nos danos contra o meio ambiente será objetiva. A propósito, merece transcrição o entendimento dos tribunais superiores: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. AUTO DE INFRAÇÃO LAVRADO POR DANO AMBIENTAL. A RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL É OBJETIVA. A LEI N. 9.605/1998 NÃO IMPÕE QUE A PENA DE MULTA SEJA OBRIGATORIAMENTE PRECEDIDA DE ADVERTÊNCIA. 1. A responsabilidade administrativa ambiental é objetiva. Deveras, esse preceito foi expressamente inserido no nosso ordenamento com a edição da Lei de Política Nacional do Meio 4 Lei n. 6938/81, Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: I - à multa simples ou diária [...]; II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público; III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; IV - à suspensão de sua atividade. 5 Lei n. 9.605/98, Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. 5 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA Ambiente (Lei n. 6.938/1981). Tanto é assim, que o § 1º do art. 14 do diploma em foco define que o poluidor é obrigado, sem que haja a exclusão das penalidades, a indenizar ou reparar os danos, independentemente da existência de culpa. Precedente: REsp 467.212/RJ, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 15/12/2003. 2. A penalidade de advertência a que alude o art. 72, § 3º, I, da Lei n. 9.605/1998 tão somente tem aplicação nas infrações de menor potencial ofensivo, justamente porque ostenta caráter preventivo e pedagógico. 3. No caso concreto, a transgressão foi grave; consubstanciada no derramamento de cerca de 70.000 (setenta mil) litros de óleo diesel na área de preservação de ambiental de Guapimirim, em áreas de preservação permanente (faixas marginais dos rios Aldeia, Caceribú e Guaraí-Mirim e de seus canais) e em vegetações protetoras de mangue (fl. 7), Some-se isso aos fatos de que, conforme atestado no relatório técnico de vistoria e constatação, houve morosidade e total despreparo nos trabalhos emergenciais de contenção do vazamento e as barreiras de contenção, as quais apenas foram instaladas após sete horas do ocorrido, romperam-se, culminando o agravamento do acidente (fls. 62-67). À vista desse cenário, a aplicação de simples penalidade de advertência atentaria contra os princípios informadores do ato sancionador, quais sejam; a proporcionalilade e razoabilidade. Por isso, correta a aplicação de multa, não sendo necessário, para sua validade, a prévia imputação de advertência, na medida em que, conforme exposto, a infração ambiental foi grave. 4. Recurso especial conhecido e não provido. (REsp 1318051/RJ , Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, DJe 12/5/2015). ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. SANÇÃO ADMINISTRATIVA. IMPOSIÇÃO DE MULTA. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. DERRAMAMENTO DE ÓLEO DE EMBARCAÇÃO ESTRANGEIRA CONTRATADA PELA PETROBRÁS. COMPETÊNCIA DOS ÓRGÃOS ESTADUAIS DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE PARA IMPOR SANÇÕES. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. LEGITIMIDADE DA EXAÇÃO. [...] 5. Para fins da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, art 3º, qualifica-se como poluidor a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. 6. Sob essa ótica, o fretador de embarcação que causa dano objetivo ao meio ambiente é responsável pelo mesmo, sem prejuízo de preservar o seu direito regressivo e em demanda infensa à administração, inter partes, discutir a culpa e o regresso pelo evento. 7. O poluidor (responsável direto ou indireto), por seu turno, com base na mesma legislação, art. 14 - "sem obstar a aplicação das penalidades administrativas" é obrigado, "independentemente da existência de culpa", a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, "afetados por sua atividade". [...] 11. Recurso especial improvido. (REsp 467.212/RJ , Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, DJ 15/12/2003, p. 193) Alguns doutrinadores contestam a possibilidade de aplicar a responsabilidade OBJETIVA nas infrações ambientais, contudo, acompanhamos o entendimento majoritário e entendemos que é primordial aplicar a RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA OBJETIVA nos danos contra o meio ambiente. 5.1.1 Infrações Administrativas nos moldes da Lei n° 9.605/98. Os artigos 70 a 76 da lei n. 9.605/98, do Capítulo VI, elencam as infrações administrativas; o Decreto n° 6.514 de 22 de julho de 2008 dispõe sobre asinfrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras providências. Nos moldes do artigo 70 da Lei dos Crimes Ambientais “considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”. 6 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de ampla defesa e o contraditório. O Processo administrativo visando apuração de infração ambiental está previsto no artigo 71 da Lei n° 9.605/98, vejamos: Art. 71. O processo administrativo para apuração de infração ambiental deve observar os seguintes prazos máximos: I - vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de infração, contados da data da ciência da autuação; II - trinta dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, contados da data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa ou impugnação; III - vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de autuação; IV – cinco dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da notificação. A Súmula n° 467 do STJ nos ensina que: “467. Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental. Rel. Min. Hamilton Carvalhido, em 13/10/2010.” De acordo com o artigo 72 da Lei dos Crimes Ambientais, as penalidades administrativas pelo descumprimento das normas jurídicas de proteção ao meio ambiente, iniciam-se com advertência, podendo chegar até a restrição de direitos. Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º: I - advertência; II - multa simples; III - multa diária; IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; VI - suspensão de venda e fabricação do produto; VII - embargo de obra ou atividade; VIII - demolição de obra; IX - suspensão parcial ou total de atividades; X – (VETADO) XI - restritiva de direitos. § 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas cominadas. § 2º A advertência será aplicada pela inobservância das disposições desta Lei e da legislação em vigor, ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções previstas neste artigo. § 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha; II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha. § 4° A multa simples pode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. § 5º A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no tempo. § 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos IV e V do caput obedecerão ao disposto no art. 25 desta Lei. § 7º As sanções indicadas nos incisos VI a IX do caput serão aplicadas quando o produto, a obra, a atividade ou o estabelecimento não estiverem obedecendo às prescrições legais ou regulamentares. § 8º As sanções restritivas de direito são: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/1998/Vep181-98.pdf 7 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA I - suspensão de registro, licença ou autorização; II - cancelamento de registro, licença ou autorização; III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; V - proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até três anos. Aplica-se a advertência pela inobservância das disposições da lei retro mencionada e da legislação em vigência, contudo, vale ressaltar que essa modalidade de sanção não impossibilita a aplicação de outras previstas no artigo 72. Para Trennepohl (2006, p. 77), a advertência deve ser aplicada como medida de precaução: A advertência é aplicável como medida de precaução, para evitar que alguma atividade resulte em dano ao meio ambiente. Por exemplo, o descumprimento de um preceito administrativo que, contrariado, possa impedir o controle do Estado ou a ocorrência do crime ambiental, enseja advertência. Quando o agente infrator for advertido e, mesmo assim, causar dificuldades à fiscalização ou deixar de sanar as irregularidades cometidas por negligência ou dolo, poderá ser imposta multa simples ou, ainda, a multa ser convertida em prestação de serviços em prol do meio ambiente. Freitas (1995, p. 76) observa que a multa é a penalidade mais comum entre as infrações administrativas: “É a penalidade mais comum em qualquer tipo de infração administrativa. Seus objetivos são os de punir o infrator, coagindo-o a não repetir a conduta ou a reparar a lesão causada”. No caso de cometimento de infração que se prolongar no tempo, pode ser imposta a multa diária para se evitar, ao máximo, este lapso temporal 6 . Machado (2007, p. 319) salienta que: a multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no tempo. [...] A multa diária é um instrumento importante para não permitir a continuidade da infração. Se aplicada a multa simples se houver a permanência do ilícito, a multa diária deverá ser cominada. Constatada a infração, todos os produtos e instrumentos utilizados para o cometimento da transgressão serão apreendidos, os animais serão libertados ou ficarão sob a responsabilidade de técnicos habilitados. Conforme preceitua o artigo 25: Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos. § 1 o Os animais serão prioritariamente libertados em seu habitat ou, sendo tal medida inviável ou não recomendável por questões sanitárias, entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, para guarda e cuidados sob a responsabilidade de técnicos habilitados. (Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014) § 2 o Até que os animais sejam entregues às instituições mencionadas no § 1 o deste artigo, o órgão autuante zelará para que eles sejam mantidos em condições adequadas de acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-estar físico. (Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014) § 3º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. (Renumerando do §2º para §3º pela Lei nº 13.052, de 2014) 6 Entende-se que a imposição de multa diária ao infrator ocasionará uma maior presteza e interesse por parte dele para deixar de cometer o ato ilícito ou evitar que se prolongue no tempo. 8 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA § 4° Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais. (Renumerando do §3º para §4º pela Lei nº 13.052, de 2014) § 5º Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua descaracterização por meio da reciclagem. (Renumerando do §4º para §5º pela Lei nº 13.052, de 2014) Segundo interpretação de Trennepohl (2006, p. 85), os instrumentos de uso e porte lícitos não podem ser apreendidos: O perdimentoautomático dos instrumentos, pelo só fato de serem apreendidos em prática ilegal, está restrito aos instrumentos com alterações em suas características, que indiquem sua destinação para a prática de atividades defesas em lei, e não aos instrumentos de uso e porte lícitos. Os produtos perecíveis serão doados para instituições, os produtos não perecíveis serão destruídos ou doados. Os produtos (madeira em tora, palmito em natura, caça, pescados, etc.) ou subprodutos (madeira serrada, palmito enlatado, carne ou pele de animais silvestres, etc.), oriundos de atividade ilícita, devem ser apreendidos no momento da constatação da infração, mediante termo próprio, dando-lhes a destinação indicada (TRENNEPOHL, 2006, p. 79). Quando um produto, a obra, a atividade ou estabelecimento não estiverem agindo, conforme as normas legais ou de acordo com regulamentos, esses poderão sofrer: suspensão de venda e fabricação de produto; embargo da obra e atividade; demolição da obra; e até a devida suspensão total ou parcial das atividades. Milaré (2007, p. 847) visualiza que a penalidade de suspensão de venda e fabricação de produto será pouco usada. Essa penalidade não vem da tradição do Direito Ambiental. Tem por objetivo a irregularidade ambiental do produto e não de sua fabricação ou produção. É penalidade usualmente aplicada pelas autoridades competentes para o licenciamento de produtos, como alimentos e remédios. Portanto, em sede ambiental, essa penalidade será pouco usada, limitada a produtos que, apesar de não estarem sujeitos ao licenciamento ambiental, possam causar danos ao meio ambiente. O embargo da obra “[...] Trata-se de medida preventiva tomada pela autoridade administrativa, a fim de evitar a construção, reforma ou atividade semelhante, feita sem a observância das normas ambientais que regem a matéria [...]” (FREITAS, 1995, p. 79). A demolição aplica-se tanto a obras anteriormente embargadas quanto a construções concluídas. É medida extrema que só deve ser tomada em caso de irregularidade insanável, de perigo à saúde pública ou de grave dano ambiental (MILARÉ, 2007, p. 848). Cabe ressaltar que a demolição de obra (em construção ou concluída) poderá ser aplicada em casos extremos (irregularidade insanável, de perigo à saúde pública ou de grave dano ambiental). Ademais, o artigo 79-A (Lei n. 9605/98) autoriza os órgãos integrantes do SISNAMA celebrar termo de compromisso, com força de título executivo extrajudicial, com o objetivo de promover as necessárias correções de suas atividades (pessoa física e jurídica). A suspensão de atividades é a mais forte das medidas punitivas, porque vai paralisar, fechar ou interditar as referidas atividades. Pode ter o caráter de suspensão parcial ou total e/ou a forma de suspensão temporária ou definitiva (MACHADO, 2007, p. 321). As sanções restritivas de direitos são as seguintes: suspensão e/ou cancelamento de registro, licença ou autorização; perda ou restrição de incentivos e 9 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA benefícios fiscais; perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; proibição de contratar com o Poder Público por período de até três anos. Milaré (2007, p. 849) orienta que “essas penalidades são, no fundo, acessórias à pena principal, eis que não tem sentido aplicá-las isoladamente, sem associação com a multa ou com a suspensão de obra ou atividade”. As sanções restritivas de direitos impõem aos grandes poluidores penas que podem ser consideradas eficazes, desde que sejam realmente aplicadas, tendo em vista que, para a pessoa jurídica sofrer uma proibição de participar em linhas de financiamentos, ela ficaria, literalmente, impossibilitada de realizar suas atividades. Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, aos fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão arrecadador. A multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto jurídico lesado. O valor da multa será fixado no regulamento 7 e corrigido periodicamente, com base nos índices estabelecidos na legislação pertinente, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o máximo de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais). As multas e demais penalidades serão aplicadas após laudo técnico elaborado pelo órgão ambiental competente, identificando a dimensão do dano decorrente da infração e em conformidade com a gradação do impacto. É importante salientar que o pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência. Acredita-se que toda atuação estatal é válida para tentar coibir a ação de pessoas físicas ou jurídicas que não se preocupam com o futuro do Planeta e, de maneira totalmente irresponsável, degradam a natureza. “Costuma-se dizer que o bolso é a parte mais sensível do corpo. [...] O melhor caminho parece ser a interrupção das atividades, fazendo cessar, há um tempo, a fonte dos lucros e a fonte dos danos ambientais” (TRENNEPOHL, 2006, p. 88). 5.2 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL O princípio do poluidor-pagador, já visto anteriormente, pode ser considerado o fundamento principal da responsabilidade civil em matéria ambiental, tendo em vista que esse obriga o poluidor a pagar ou reparar o dano causado ao meio ambiente, ou seja, exige a recomposição do dano, possuindo um efeito preventivo, coibindo a prática de atividades lesivas ao ambiente. A responsabilidade no campo civil é concretizada em cumprimento da obrigação de fazer ou de não fazer e no pagamento de condenação em dinheiro. Em geral, manifesta-se na aplicação desse dinheiro em atividade ou obra de prevenção ou de reparação do prejuízo (MACHADO, 2007, p. 341). O dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais - segundo a Lei n. 6.938/81, no artigo 3º, V, são: “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários 8 , o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera 9 , a fauna e a flora” – com consequente degradação do equilíbrio ecológico. O responsável pelos danos ambientais é o poluidor. A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6938/81) elenca que o poluidor é “a pessoa física ou jurídica, de 7 Decreto n° 6.514 de 22 de julho de 2008. 8 Um estuário é um ambiente aquático transicional entre um rio e o mar. 9 Conjunto de todos os ecossistemas da Terra. 10 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”. O artigo 14, § 1°, da referida lei, estabelece que a responsabilidade de indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros independe de existência de culpa e não impede aplicação das outras penalidades. Destarte, tal encargo é considerado como responsabilidade objetiva. PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL – CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA – RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA – ARTS. 3º, INC. IV, E 14, § 1º, DA LEI 6.398/1981 – IRRETROATIVIDADE DA LEI – PREQUESTIONAMENTO AUSENTE: SÚMULA 282/STF – PRESCRIÇÃO – DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO: SÚMULA 284/STF – INADMISSIBILIDADE. 1. A responsabilidade por danos ambientais é objetiva e, como tal, não exige a comprovação de culpa, bastando a constatação do dano e do nexo de causalidade. 2. Excetuam-se à regra, dispensando a prova do nexo de causalidade, a responsabilidade de adquirente de imóvel já danificado porque, independentemente de ter sido ele ou o dono anterior o real causador dos estragos, imputa-se ao novo proprietário a responsabilidade pelos danos. Precedentes do STJ. [...] 4. Se possível identificar o real causadordo desastre ambiental, a ele cabe a responsabilidade de reparar o dano, ainda que solidariamente com o atual proprietário do imóvel danificado. [...] (REsp 1056540/GO) Lecey (2003, p. 438) entende que a responsabilidade objetiva causada por danos aos recursos naturais [...] independe de culpa, sendo irrelevante o licenciamento da atividade, o cumprimento de padrões e até a ocorrência do fortuito. Ou seja, basta a conduta e o nexo causal, com o dano ao meio ambiente, para haver a responsabilidade pela reparação. Ainda, no tocante à responsabilidade objetiva, Machado (2007, p. 347) instrui o seguinte: A responsabilidade objetiva ambiental significa que quem danificar o meio ambiente tem o dever jurídico de repará-lo. Presente, pois, o binômio dano/reparação. Não se pergunta a razão da degradação para que haja o dever de indenizar e/ou reparar. A responsabilidade sem culpa tem incidência na indenização ou na reparação dos ‘danos causados ao meio ambiente e aos terceiros afetados por sua atividade’ (Art. 14, §1°, da Lei 6938/81). Não interessa que tipo de obra ou atividade seja exercida pelo que degrada, pois não há necessidade de que ela apresente risco ou seja perigosa. Procura-se quem foi atingido e, se for o meio ambiente e o homem, inicia-se o processo lógico-jurídico da imputação civil objetiva ambiental. Só depois é que se entrará na fase do estabelecimento do nexo de causalidade entre a ação e omissão e o dano. É contra o Direito enriquecer-se ou ter lucro à custa da degradação do meio ambiente. No direito moderno, a teoria da responsabilidade objetiva apresenta-se sob duas faces 10 : a teoria do risco e a teoria do dano objetivo. Pela última, desde que exista 10 A teoria do risco integral, pondo de lado a investigação do elemento pessoal, intencional ou não, preconiza o pagamento pelos danos causados, mesmo tratando-se de atos regulares, praticados por agentes no exercício regular de suas funções (CRETELLA, 1972, p. 69). Para Hely Lopes Meirelles (1999, p. 586) a “teoria do risco integral é a modalidade extremada da doutrina do risco administrativo, abandonada na prática, por conduzir ao abuso e à iniquidade social. Para essa fórmula radical, a Administração ficaria obrigada a indenizar todo e qualquer dano suportado por terceiros, ainda que resultante de culpa ou dolo da vítima”. No entanto, Maria Sylvia Zanella di Pietro (2009, p. 647-648) salienta que: “Ocorre que, diante de normas que foram sendo introduzidas no direito brasileiro, surgiram hipóteses em que se aplica a teoria do risco integral, no sentido que lhe atribui Hely Lopes Meirelles, tendo em vista que a responsabilidade do Estado incide independentemente da ocorrência das circunstâncias que normalmente seriam 11 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA um dano, deve ser ressarcido, independentemente da idéia de culpa. Uma e outra consagram, em última análise, a responsabilidade sem culpa, a responsabilidade objetiva. A tendência atual do direito manifesta-se no sentido de substituir a idéia da responsabilidade pela da reparação, a idéia da culpa pela do risco, a responsabilidade subjetiva pela responsabilidade objetiva. A realidade, no entanto, é que se tem procurado fundamentar a responsabilidade na idéia de culpa, mas esta é insuficiente para atender às imposições do progresso, tendo o legislador fixado os casos especiais em que deve ocorrer a obrigação de reparar, independentemente daquela noção. Para Rodrigues (1997, p.10), a responsabilidade do causador do dano é objetiva: na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação da causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha o último agido ou não culposamente. Em matéria de dano ambiental, ao adotar o regime da responsabilidade civil objetiva, a Lei 6938/1981 afasta a investigação e a discussão da culpa, mas não prescinde do nexo causal, isto é, da relação de causa e efeito entre a atividade (= fonte poluidora) e o dano dela advindo (MILARÉ, 2011, p. 1255). Conforme destaca Pereira (1990, p. 287-288), temos a TEORIA DO RISCO CRIADO, sendo a que melhor se adapta às condições de vida social, fixando-se na idéia de que, se alguém põe em funcionamento qualquer atividade, responde pelos eventos danosos que essa atividade gera para os indivíduos, independentemente de determinar se em cada caso, isoladamente, o dano é devido à imprudência, a um erro de conduta. Sobre a RESPONSABILIDADE CIVIL FUNDADA NA TERORIA DO RISCO INTEGRAL colacionamos o entendimento de Milaré (2011, p. 1256) pois “a adoção da teoria do risco integral, da qual decorre a responsabilidade objetiva, traz como consequências principais para que haja o dever de indenizar: a) prescindibilidade de investigação de culpa; b) a irrelevância da licitude da atividade; c) a inaplicação das causas de exclusão da responsabilidade civil;” Portanto, é o poluidor obrigado a reparar o dano independentemente da existência de culpa. A licitude ensejada pela autorização da autoridade competente é consideradas excludentes de responsabilidade. É o que ocorre nos casos de danos causados por acidentes nucleares (art. 21, XXIII, d, da Constituição Federal) e também na hipótese de danos decorrentes de atos terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos, contra aeronaves de empresas aéreas brasileiras, conforme previsto nas Leis nº 10.309, de 22/11/2001, e 10.744, de 9/10/2003. Também o Código Civil previu algumas hipóteses de risco integral nas relações obrigacionais, conforme artigos 246, 393 e 399.”. Em outra vertente, sobre a responsabilidade civil por dano ambiental, colhe-se da doutrina de Edis Milaré (2001, p. 428) a aplicação da Teoria do Risco Integral, senão vejamos: "A vinculação da responsabilidade objetiva à Teoria do Risco Integral expressa a preocupação da doutrina em estabelecer um sistema de Responsabilidade o mais rigoroso possível, ante o alarmante quadro de degradação que se assiste não só no Brasil, mas em todo o mundo. Segundo essa doutrina do Risco Integral, qualquer fato culposo ou não culposo, impõe ao agente a reparação, desde que cause um dano.". Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias, de forma esclarecedora e brilhante, roga severas críticas à admissão da Teoria do Risco Integral no direito brasileiro, as quais merecem transcrições como se segue: “(...) não se pode considerar correta a afirmação simplista e precipitada de que a teoria do risco administrativo suscita obrigação indenizatória só do ato lesivo e injusto causado à vítima. Bem diversos são os fundamentos dessa teoria. A responsabilidade objetiva pela teoria do risco administrativo exige a ocorrência do nexo de causalidade entre a atividade do Estado e o dano causado como conseqüência. Se não houver esse nexo, exigir-se-á o Estado de qualquer responsabilidade. Porém, na concepção doutrinária da teoria do risco, jamais se preconizou a responsabilidade do Estado em todo e qualquer caso de dano suportado pelo particular ou se cogitou da impossibilidade de se investigar a causa do evento danoso. Assim, nas situações em que há o fato (ou culpa, como querem alguns doutrinadores) da vítima ou a força maior, reconhecidas pacificamente pela doutrina como causas excludentes da responsabilidade ou situações perturbadoras do liame de causalidade, sob rigor lógico, não foi o Estado quem deu causa ao resultado lesivo, inexistindo liame de causalidade entre a atividade estatal e o dano verificado, portanto, exonerando o Estado do dever indenizatório, sendo estes os fundamentos científicos da moderna responsabilidade objetiva do Estadoapoiada na teoria publicista do risco administrativo.” A responsabilidade civil do estado e a teoria do risco integral. Hálisson Rodrigo Lopes. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br. 12 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA irrelevante, basta ocorrer a lesão para o poluidor ser responsabilizado. É inaplicável o caso fortuito, a força maior e o fato de terceiro, bem como a impossibilidade de invocação de cláusula de não indenizar 11 . Em síntese, o dano deverá ser reparado com fundamento na TEORIA DO RISCO INTEGRAL. Acerca do fato de terceiro e da teoria do risco integral, Antunes (2015, p.494), assevera a existência de julgados do STJ 12 : Existe julgado do Superior Tribunal de Justiça considerando a responsabilidade ambiental derivada do risco integral. Penso ser importante chamar a atenção para o fato de que a responsabilidade por risco integral não pode ser confundida com a responsabilidade derivada da só existência da atividade. Explico-me melhor: não se pode admitir que um empreendimento que tenha sido vitimado por fato de terceiro passe a responder por danos causados por este terceiro, como se lhes houvesse dado causa. Responsabilidade por risco integral não pode ser confundida com responsabilidade por fato de terceiro, que somente tem acolhida em nosso direito quando expressamente prevista em Lei. Para o autor não se pode admitir que um empreendimento que tenha sido vitimado por fato de terceiro passe a responder por danos causados por este terceiro, como se lhes houvesse dado causa. Responsabilidade por risco integral não pode ser confundida com responsabilidade por fato de terceiro, que somente tem acolhida em nosso direito quando expressamente prevista em Lei. No entanto, é salutar acompanhar os ensinamentos de Milaré (2011, p. 1259) e adotar a TEORIA DO RISCO INTEGRAL, pois: Em outras palavras, com a teoria do risco integral, o poluidor, na perspectiva de uma sociedade solidarista, contribui – nem sempre de maneira voluntária – para com a reparação do dano ambiental, ainda que presentes quaisquer das clássicas excludentes da responsabilidade ou cláusula de não indenizar. É o poluidor assumindo todo o risco que sua atividade acarreta: o simples fato de existir a 11 Por exemplo: um contrato de compra e venda de empresas com passivos ambientais. Este contrato será inaplicável no que tange ao dano ambiental, porém, valerá entre as partes, pois facilitará o direito de regresso. 12 REsp 442586 SP 2002/0075602-3 Relator Ministro LUIZ FUX T1 - PRIMEIRA TURMA DJ 24/02/2003 p. 196. ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. SANÇÃO ADMINISTRATIVA. IMPOSIÇÃO DE MULTA. EXECUÇÃO FISCAL. 1. Para fins da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, art 3º, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lançem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; 2. Destarte, é poluidor a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; 3. O poluidor, por seu turno, com base na mesma legislação, art. 14 - "sem obstar a aplicação das penalidades administrativas" é obrigado, "independentemente da existência de culpa", a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, "afetados por sua atividade". 4. Depreende-se do texto legal a sua responsabilidade pelo risco integral, por isso que em demanda infensa a administração, poderá, inter partes, discutir a culpa e o regresso pelo evento. 5. Considerando que a lei legitima o Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente, é inequívoco que o Estado não pode inscrever sel-executing, sem acesso à justiça, quantum indenizatório, posto ser imprescindível ação de cognição, mesmo para imposição de indenização, o que não se confunde com a multa, em obediência aos cânones do devido processo legal e da inafastabilidade da jurisdição. 6. In casu, discute-se tão-somente a aplicação da multa, vedada a incursão na questão da responsabilidade fática por força da Súmula 07/STJ. 5. Recurso improvido. 13 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA atividade produz o dever de reparar, uma vez provada a conexão causada entre dita atividade e o dano dela advindo. Segundo esse sistema, só haverá exoneração de responsabilidade quando: a) o dano não existir; b) o dano não guardar relação de causalidade com a atividade da qual emergiu o risco. Em relação ao dever de indenizar, além das normas legais que já foram salientadas, existem outras normas. Nosso ordenamento prevê, no artigo 4° da Lei n. 6938/81 13 , no artigo 927, parágrafo único do Código Civil 14 , e na Constituição Federal, artigo 21, XXIII, “d”, determinações sobre a responsabilidade 15 em danos nucleares 16 . Ao ocorrer um acidente nuclear a responsabilidade pelos danos gerados independe de culpa ou dolo, ou seja, o responsável deve ser responsabilizado civilmente. A obrigação de indenizar pressupõe determinados requisitos. No âmbito civil, podem-se destacar os seguintes: que o ato ou fato praticado seja antijurídico; que possa ser imputado a alguém; que resulte dano; que o dano possa ser juridicamente considerado como causado pelo ato ou fato praticado. Ao tratar desse assunto, não é aceitável deixar de citar a RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO nos danos contra o meio ambiente. Sem dúvida, o Estado deve proteger o meio ambiente, pois o artigo 225 impõe ao poder público o dever de defender e proteger o meio ambiente para as gerações, outrossim, a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6938/81). Nesse sentido, é importante ressaltar que o Estado tem o poder-dever de fiscalizar o cumprimento das normas ambientais, portanto, no caso de omissão o poder público deverá ser responsabilizado, porém, neste caso, a responsabilidade será subjetiva. Sobre a matéria o STJ já decidiu que: em matéria de proteção ambiental, há responsabilidade civil do Estado quando a omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar for determinante para a concretização ou o agravamento do dano causado pelo seu causador direto (AGRESP 200702476534, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, STJ – 1ª Turma, DJE: 04/10/2011). O Estado deve agir, deve fiscalizar com base no poder de polícia ambiental, proteger o meio ambiente é um dever de todos, mas, em especial, do Poder Público. Ao ocorrer a omissão no exercício desse dever a responsabilidade será solidária 17 , contudo, 13 Lei n. 6.938/81, Art. 4 o - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. 14 Lei n. 10.406/02, Art. 927. [...] Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 15 Sobre o Dano Nuclear, Machado (2007, p. 841) explica que o mesmo pode surtir os seguintes efeitos: “Um acidente radioativo produz efeitosque variam segundo a dose, a duração e a distância da fonte radioativa. As irradiações podem causar leões nas células e em especial alterações no DNA, ocorrendo mutações no patrimônio genético e risco de câncer”. 16 Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 21. [...] XXIII - [...] d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa. 17 “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES DO STJ. PROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL. (STJ, Resp. nº 771619, 2008). 1. No caso dos autos, o Ministério Público Estadual ajuizou ação civil pública por dano ambiental contra o Estado de Roraima, em face da irregular atividade de exploração de argila, barro e areia em área degradada, a qual foi cedida à Associação dos Oleiros Autônomos de Boa Vista sem a realização de qualquer procedimento de proteção ao meio ambiente. Por ocasião da sentença, os pedidos foram julgados procedentes, a fim de condenar o Estado de Roraima à suspensão das referidas atividades, à realização de estudo de impacto ambiental e ao pagamento de indenização pelo dano ambiental causado. O Tribunal de origem, ao analisar a controvérsia, reconheceu a existência de litisconsórcio passivo necessário em relação aos particulares 14 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA a execução será subsidiária, ou seja, somente se o poluidor não efetuar a reparação do dano, portanto, o Estado será acionado apenas no caso de impossibilidade do poluidor cumprir a obrigação de reparar. Eis o entendimento do STJ no caso de omissão do dever de controle e fiscalização [...] a responsabilidade ambiental solidária da Administração é de execução subsidiária (ou com ordem de preferência), o que quer dizer que “a responsabilidade solidária e de execução subsidiária significa que o Estado integra o título executivo sob a condição de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o degradador original, direto ou material (= devedor principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso (art. 934 do Código Civil), com a desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do Código Civil) (RESP 200801460435, Relator Ministro Herman Benjamin, STJ – 2ª Turma, DJE: 16/12/2010). A responsabilidade civil do Estado por omissão é subjetiva, mesmo em se tratando de responsabilidade por dano ao meio ambiente, uma vez que a ilicitude no comportamento omissivo é aferida sob a perspectiva de que deveria o Estado ter agido conforme estabelece a lei. Portanto, com base no entendimento do STJ, pode-se afirmar que a RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NO CASO DE DANO AMBIENTAL POR OMISSÃO É SUBJETIVA. “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POLUIÇÃO AMBIENTAL. EMPRESAS MINERADORAS. CARVÃO MINERAL. ESTADO DE SANTA CATARINA. REPARAÇÃO. RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR OMISSÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. (STJ, Resp. nº 647493, 2007). 1. A responsabilidade civil do Estado por omissão é subjetiva, mesmo em se tratando de responsabilidade por dano ao meio ambiente, uma vez que a ilicitude no comportamento omissivo é aferida sob a perspectiva de que deveria o Estado ter agido conforme estabelece a lei. 2. A União tem o dever de fiscalizar as atividades concernentes à extração mineral, de forma que elas sejam equalizadas à conservação ambiental. Esta obrigatoriedade foi alçada à categoria constitucional, encontrando-se inscrita no artigo 225, §§ 1º, 2º e 3º da Carta Magna. 3. Condenada a União a reparação de danos ambientais, é certo que a sociedade mediatamente estará arcando com os custos de tal reparação, como se fora auto-indenização. Esse desiderato apresenta-se consentâneo com o princípio da eqüidade, uma vez que a atividade industrial responsável pela degradação ambiental – por gerar divisas para o país e contribuir com percentual significativo de geração de energia, como ocorre com a atividade extrativa mineral – a toda a sociedade beneficia. Evidencia-se que todos os danos aos elementos integrantes do patrimônio ambiental e cultural, bem como às pessoas (individual, social e coletivamente consideradas) e ao seu patrimônio, como valores constitucional e legalmente protegidos, são passíveis de avaliação e de ressarcimento, perfeitamente enquadráveis tanto na categoria do dano patrimonial (material ou econômico), como na categoria do dano não (oleiros) que exerciam atividades na área em litígio e anulou o processo a partir da citação. 2. Na hipótese examinada, não há falar em litisconsórcio passivo necessário, e, conseqüentemente, em nulidade do processo, mas tão-somente em litisconsórcio facultativo, pois os oleiros que exercem atividades na área degradada, embora, em princípio, também possam ser considerados poluidores, não devem figurar, obrigatoriamente, no pólo passivo na referida ação. Tal consideração decorre da análise do inciso IV do art. 3º da Lei 6.938/81, que considera "poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental". Assim, a ação civil pública por dano causado ao meio ambiente pode ser proposta contra o responsável direto ou indireto, ou contra ambos, em face da responsabilidade solidária pelo dano ambiental.” 15 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA patrimonial (pessoal ou moral), tudo dependendo das circunstâncias de fato de cada caso concreto. Freitas (1995, p.24) aponta que a reparação do dano possui certas dificuldades. Finalmente, cumpre salientar a dificuldade para estabelecer a reparação do dano civil. Nem sempre é fácil avaliar prejuízos que atingem vários bens de forma indeterminada. A solução dependerá, via de regra, da elaboração da perícia. Ainda que se revele, na prática, difícil a indicação de técnicos com conhecimento específicos, tempo e interesse em participar de tais exames, este é o meio mais seguro para a liquidação. A reparação deve ser a mais abrangente possível, compreendendo danos patrimoniais, não patrimoniais, dano emergente e lucros cessantes, sem prejuízo de outras parcelas relativamente a diversos ou eventuais danos. A responsabilidade de prevenir é daquele que criou o perigo “quem cria o perigo, por ele é responsável. O perigo, muitas vezes, está associado ao dano; e, dessa forma, não é razoável tratá-los completamente separados” (MACHADO, 2007, p. 350). Em referência à reparação do dano ambiental, não há que se cogitar se o degradador deveria prever ou não o dano, se agiu com dolo ou culpa, o que importa é que o meio ambiente não pode “pagar o pato”; tudo o que for possível ser recuperado deverá ser, e, o que não for possível, deve ser indenizado em moeda corrente, revertendo esses valores para a preservação ambiental. Nesse caso, o meio ambiente deve ser restaurado, e quando não for possível, deve-se cobrar indenização em dinheiro, para que o infrator não fique impune, constituindo, assim, essa indenização como uma forma indireta de sanar o dano. Percebe-se que o dano ambiental é de difícil valoração, tendo em vista que o nosso meio ambiente possui um arcabouço que não pode ser facilmente delineado, pois em certos casos não podemos certificar, com exatidão, a extensão das sequelas deixadas pelo estrago, restando-nos, ainda, a responsabilidade de valorizar algo que pertence a todos: um direito global. Às vezes, pode ser considerado incomensurável, por tratar-se de um direito difuso, mas, sem dúvida,a responsabilidade objetiva em função ao dano ambiental, não pode ser questionada, visto ser algo tão importante, necessitando ser valorado, para evitar abusos contra a natureza, pelo simples fato de o degradador sentir- se impune; assim, quem degradar o patrimônio ambiental deve ser notificado a restaurá-lo ou indenizá-lo. 5.3 RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL É cediço ser o Direito Penal instrumento vigoroso de utilidade social, tendo por função precípua a tutela dos mais relevantes bens jurídicos da sociedade. A visão minimalista do Direito Penal é hoje largamente difundida na órbita da doutrina criminal, para qual este instrumento político – porque é assim que se deve olhar o Direito Penal – só deve ser empregado em última instância, quando os filtros de controle social, assim como os demais ramos do Direito, não conseguirem dar uma resposta adequada ao fato gerador de danosidade (CARVALHO, 2003, p. 279-280). O bem jurídico tutelado no aspecto penal é o bem ambiental, essencial à sadia qualidade de vida, e assegurado a todos o direito de desfrutá-lo e também o dever de conservá-lo. No Brasil, excluindo as Ordenações do Reino e a Legislação do Império, foi o Código Florestal de 1934 (Decreto 23.793/34), no qual registra-se a primeira previsão de crimes e contravenções. Mais tarde, o Código Penal de 1940 dispôs sobre crimes relacionados com a proteção da saúde e que, indiretamente, protegiam o meio ambiente. Posteriormente, o novo Código Florestal (Lei 4.771/65) e a Lei de Proteção à Fauna (Lei 16 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA 5.197/67) estabeleceram condutas contravencionais. Após a Constituição de 1988, sobrevieram tipos penais na Lei dos Agrotóxicos (Lei 7.802/89) e na que introduziu o crime de poluição sob qualquer forma (Lei 7.804/89). Assim, até então, era frágil a consciência ecológica e eram dispersas as normas penais em vários diplomas, regra geral pouco conhecida. Na década de noventa, a legislação do meio ambiente já se achava quase completa. O Brasil contava com a pioneira Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), com o regramento da Ação Civil Pública (Lei 7.437/85), com a Constituição Federal de 1988 a tratar de forma exemplar da questão ambiental (art. 225 e outros) e legislação avulsa de grande relevância. Faltava, todavia, a tutela penal do meio ambiente. Complemento indispensável para a ampla efetividade. Criada uma Comissão de Juristas, pelo Ministério da Justiça, foi encaminhado projeto de lei ao Poder Legislativo e, em breve prazo, foi aprovado. Daí a vigência da Lei dos Crimes Ambientais, de n. 9.605, de 12.02.1998. Sob forte polêmica, ela alterou as práticas brasileiras no cuidado ao meio ambiente, visando à melhoria, sem dúvida. Inúmeros diplomas legais extravagantes foram editados, com preocupação penal ambiental, porém, sem um acolhimento sistêmico do conteúdo. Assevera Milaré (2007, p. 915), no que concerne aos dispositivos legais: A seguir, inúmeros outros diplomas foram editados, contemplando já uma ou outra preocupação de cunho penal, mas sem um tratamento sistemático da matéria, pois dela cuidaram de maneira diluída e causal. Lembremo-nos dos seguintes: - Lei 4.771, de 15.09.1965 (Código Florestal); - Lei 5.197, de 03.01.1967 (proteção à fauna); - Lei 6.453, de 17.10.1977 (responsabilidade por atos relacionados com atividades nucleares); - Lei 6.777, de 19.12.1979 (parcelamento do solo urbano); - Lei 6.938, de 31.08.1981 (Política Nacional do Meio Ambiente); - Lei 7.347, de 18.12.1987 (proibição de pesca de cetáceos nas águas jurisdicionais brasileiras); - Lei 7.679, de 23.11. 1988 (proibição de pesca de espécies em períodos de reprodução); - Lei 7.802, de 11.07.2989 (agrotóxicos); - Lei 7.805, de 18.07.1989 (mineração); - Lei 11.105, de 24.03.2005 (biossegurança). Hoje, com a edição da Lei 9.605/98, boa parte desses textos que lhe são anteriores recebeu um tratamento mais orgânico e sistêmico, como reiteradamente reclamado. Lamenta-se apenas a oportunidade perdida de se pôr fim à pulverização legislativa imperante na matéria, uma vez que a nova lei não alcançou a abrangência que se lhe pretendeu imprimir, pois não incluiu todas as condutas que são, agora, complementadas e punidas, por vários diplomas como nocivas ao meio ambiente. Percebe-se que a proteção penal do meio ambiente, ou seja, o bem jurídico protegido partiu do legislador constituinte ao estabelecer na Constituição Federal de 1988 no Art. 225, § 3°, que “as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, às sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. 5.3.1 Responsabilidade Penal conforme a Lei n° 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais) Em relação à tipicidade “O meio ambiente – com todos os elementos que ele pode compreender – é inescapavelmente holístico 18 e sistêmico 19 , o que dificulta 18 Holístico significa totalidade, global, deve-se considerar o todo. 19 Sistêmico é algo contínuo, regular. 17 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA sobremaneira o desenho dos tipos penais destinados a tutelá-lo [...]” (MILARÉ, 2007, p. 921). No que tange ao elemento subjetivo, a culpabilidade do agente é que gera a sua parcela de responsabilidade. Com isso, “nos delitos contra o meio ambiente, a detalhada e exaustiva descrição do comportamento do agente, na maioria das vezes, mostra-se bastante difícil. [...] é necessário que a lei faça remissão a disposições externas a normas e conceitos técnicos” (FREITAS, 2002, p. 112). O sujeito ativo nos crimes ambientais pode ser qualquer pessoa, seja física ou jurídica. O sujeito passivo nos crimes ambientais é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado por determinada conduta criminosa, no caso do sujeito passivo direto, nos moldes do artigo 225 da CF/88, será sempre a coletividade por tratar-se de bem de uso comum do povo. Uma das inovações da Lei n. 9.605/98 foi a instituição da responsabilidade penal da pessoa jurídica. No artigo 3° da Lei n. 9.605/98, o legislador especificou a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Assim, temos, no Brasil, previsão constitucional e legal. Impossível, pois, cogitar de eventual inconstitucionalidade, como ofensa a outros princípios previstos explícita ou implicitamente na Carta Magna. Se a própria Constituição admite, expressamente, a sanção penal à pessoa jurídica, é inviável interpretar a lei como inconstitucional, porque ofenderia outra norma que não é específica sobre o assunto. Ressalta-se que a responsabilidade penal da pessoa jurídica é adotada, em muitos países, nos crimes contra a ordem econômica e o meio ambiente. Com efeito, prescreve o artigo 3° da Lei n. 9.605/98: Art. 3°. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. A Lei dos Crimes Ambientais adotou o sistema de dupla imputação ou co- autoria necessária, isto é, sempre que uma pessoa jurídica for responsabilizada criminalmente por crime ambiental haverá uma pessoa física que também o será. O dispositivo exige que a infração tenha sido cometida por decisão do representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. O Ministério Público, sempre que possível, deverá instruir a denúncia com cópia do contrato social ou documento análogo, a fim de informar ao juízo sobre a finalidade da empresa e quem a representa. Já a prova de que o ato foi praticado no interesse ou benefício da sociedadedeverá ser feita pela pessoa jurídica, pois, evidentemente, a vantagem se presume pela simples prática do fato delituoso. Por exemplo, se uma empresa de pesca age em desconformidade com as disposições regulamentares, presume-se que pratica esse ato em seu benefício, a fim de que seus lucros sejam maiores. A ela, portanto, cabe provar o contrário. O artigo 4º demonstra que poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica 20 sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. Cumpre ressaltar que a desconsideração da pessoa jurídica (artigo 4 º) é diferente a liquidação forçada (artigo 24). 20 O Novo CPC tratou da questão no Artigo 133 - O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. § 1 o O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei. § 2 o Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica. 18 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA A nova lei prevê, ainda, no artigo 21, a aplicação isolada, cumulativa ou alternativa às pessoas jurídicas, das seguintes penas: multa, restritiva de direitos e prestação de serviços à comunidade. Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3 o , são: I - multa; II - restritivas de direitos; III - prestação de serviços à comunidade. Ainda, há discussão doutrinária e na jurisprudência acerca dessa responsabilização penal, e tais sanções às pessoas jurídicas não devem ser interpretadas como de natureza penal, embora possam ser aplicadas no juízo criminal, por conseguinte a responsabilidade seria de natureza subjetiva e individual. As sanções previstas na Lei n. 9.605/98 são: penas privativas de liberdade; restritivas de direitos; e multa. Milaré (2007, p. 935-936) assegura que [...] as sanções previstas para as infrações cometidas por pessoas físicas compreendem: pena privativa de liberdade, restritiva de direito e multa. [...] As penas privativas de liberdade para os ilícitos penais praticados pelas pessoas físicas são as tradicionais reclusão e detenção, para os crimes, e prisão simples para as contravenções. [...] As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as penas privativas de liberdade nos casos em que se tratar de crime culposo ou for aplicada pena privativa de liberdade inferior a quatro anos, ou, ainda, a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. [...] A pena de multa instrumento tradicional de exigir ações socialmente corretas, para que mantenha sua força retributiva. Nos moldes da Lei n. 9.605/98 para imposição da penalidade, a autoridade deve observar: Art. 6 o Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará: I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; III - a situação econômica do infrator, no caso de multa. As penas restritivas de direito são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: Art. 7° [...] I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a quatro anos; II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída. Conforme o artigo 8° da referida lei as penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou total de atividades; IV - prestação pecuniária; 19 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA V - recolhimento domiciliar. A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas, em parques, jardins públicos e unidades de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na restauração desta, se possível (Art. 9 o , Lei n. 9.605/98). As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos (Art. 10 da Lei n. 9.605/98). A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às prescrições legais (Art. 11, Lei n. 9.605/98). A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator (Art. 12, Lei n. 9.605/98). O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença condenatória (Art. 13 da Lei n. 9.605/98). As circunstâncias atenuantes e agravantes estão previstas nos artigos 14 e 15 da lei. Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena: I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente; II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação significativa da degradação ambiental causada; III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental; IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental. Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I - reincidência nos crimes de natureza ambiental; II - ter o agente cometido a infração: a) para obter vantagem pecuniária; b) coagindo outrem para a execução material da infração; c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente; d) concorrendo para danos à propriedade alheia; e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso; f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos; g) em período de defeso à fauna; h) em domingos ou feriados; i) à noite; j) em épocas de seca ou inundações; l) no interior do espaço territorial especialmente protegido; m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais; n) mediante fraude ou abuso de confiança; o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental; p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais; q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes; r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções. 20 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena (SURSIS) pode ser aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos (Art. 16). A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causadopara efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório (artigo 19). A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fixado na sentença, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido (artigo 20). A pena de multa está expressa no artigo 18 da Lei n. 9.605/98, sendo calculada nos moldes do artigo 49 21 do Código Penal Brasileiro, conforme se lê a seguir: Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar- se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida. As penas restritivas de direitos atribuídas à pessoa jurídica estão elencadas nos artigos 21 até 24 da Lei dos Crimes Contra o Meio Ambiente: Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no Art. 3°, são: I - multa; II - restritivas de direitos; III - prestação de serviços à comunidade. Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: I - suspensão parcial ou total de atividades; II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. § 1° A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. § 2° A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. § 3° A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos. Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em: I - custeio de programas e de projetos ambientais; II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas; III - manutenção de espaços públicos; IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. Importante ressaltar que a pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime ambiental, terá decretada sua liquidação forçada. 21 Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias- multa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art49 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art49 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art49 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art49 21 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional. No que toca à ação penal, o ideal seria que a Lei n. 9.605/98 tivesse estabelecido regras processuais específicas para as pessoas jurídicas. A omissão legislativa foi lamentável, mas nem por isso há qualquer inconstitucionalidade ou ilegalidade no fato da ação penal seguir o rito do Código de Processo Penal. Não há nulidade sem prejuízo e a utilização de regras processuais do estatuto próprio é a via adequada. O importante é que se dê à pessoa jurídica denunciada a possibilidade de exercitar a ampla defesa, garantindo, dessa forma, a legalidade constitucional. Portanto, oferecida a denúncia, a citação far-se-á na pessoa do representante legal da empresa, cujo nome e qualificação deverão estar na peça inicial. O interrogatório deverá ser feito na pessoa do presidente da companhia ou de quem ele indicar. A colheita da prova testemunhal ou pericial, bem como a apresentação de alegações finais, terão o tratamento idêntico ao dado para as pessoas naturais. Em suma, não se vê maior dificuldade na falta de regras processuais específicas. A determinação de competência, para processar e julgar os crimes contra o meio ambiente é efetuada pelo critério da predominância do interesse de um ente federativo sobre o outro 22 . Sousa (2003, p. 157) lembra a discussão doutrinária para aplicação da pena privativa de liberdade à Pessoa Jurídica. No que tange à aplicação da pena às pessoas jurídicas [...] Para uns, as penas da parte geral devem ser aplicadas sem se levar em conta as penas privativas de liberdade previstas na parte especial. [...] Todavia, outros autores afirmam que se deve, obrigatoriamente, converter a pena privativa de liberdade prevista no tipo em uma das penas previstas na parte geral para as pessoas jurídicas. Independentemente de ser pessoa física ou jurídica a lei deverá ser aplicada com imparcialidade, uma vez que ambos os casos utilizam-se das lacunas previstas na legislação, para se escusarem de suas responsabilidades. É lamentável existir uma válvula de escape para os que cometem crimes contra o meio ambiente, pois eles podem se beneficiar da lei e conseguir o benefício da transação penal ou suspensão condicional do processo. Machado (2001, p. 689-690) demonstra que a suspensão do processo não pode ser um benefício para os degradadores: A possibilidade de suspender-se o processo penal dos poluidores ou dos degradadores da natureza não pode significar benesse à custa de todo o corpo social. Se não houver uma contrapartida de obrigações para os que transgrediram as leis ambientais penais, a suspensão do processo traduzirá um encorajamento para essas transgressões e não uma medida ressocializadora de efeito imediato. 22 Como regra, a competência, para julgar os crimes ambientais é da Justiça Comum Estadual, sendo assim, a súmula 91 do STJ foi cancelada. Excepcionalmente, com base no artigo 109 da CF/88, a competência será da Justiça Federal. Porém, havendo conexão entre crime da Justiça Estadual e da Federal, esta será competente, nos moldes da Súmula 122 do STJ. Cumpre salientar que a súmula 38 do STJ assevera: “Justiça Federal não julga contravenção penal, mesmo que haja interesse da União envolvido”. Súmula 122. Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do artigo 78, II, a, do Código de Processo Penal. Súmula 38. Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades. 22 DIREITO AMBIENTAL – PROF. DR. FABRÍCIO W. LIMA A questão ambiental, tão discutida e pouco resolvida, a cada dia ganha maior enfoque e deve, outrossim, dificultar a ação dos devastadores dos recursos naturais. A transação penal pode ser proposta ao infrator, nos moldes do artigo 27 da Lei n.
Compartilhar