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1 Ketlin T. Sauer ATM 2024.2 AMENORREIA → Pág 656 do PDF do Rotinas A etiologia é o que preocupa na amenorreia, e não a amenorreia em si. Tanto que em muitos casos as mulheres buscam a amenorreia com a utilização do anticoncepcional. Quando falamos sobre esse tema estamos falando do período fértil da mulher. INTRODUÇÃO Menstruação é o resultado de uma perfeita integração entre o eixo hipotálamo-hipófise- ovário e o útero. Variações psíquicas e/ou físicos pode influenciar na menstruação. Amenorreias: • Caso de preocupação • Relacionados a infertilidade • Normalmente?? FISIOPATOLOGIA Para que a menstruação ocorra é necessária a integridade anatômica e fisiológica do sistema reprodutor feminino. 1) Hipotálamo e o SNC que representam o controle primário do ciclo menstrual sofrendo influência endógena e do ambiente externo. 2) Hipófise anterior que como resposta ao GnRH secreta os hormônios FSH e LH atuantes no ovário. 3) Ovário secretando estrogênio e progesterona em resposta ao LH e FSH produzidos pelo eixo hipotálamo-hipófise. 4) Vagina e útero, devem ser funcionais para exteriorizar o fluxo, sendo que o útero precisa ter um endométrio responsivo às variações hormonais cíclicas. CONCEITO • Definida pela ausência de menstruação no período da mecacme. Amenorreia primária: a garota que nunca menstruou até os 14 anos + falha no desenvolvimento sexual ou ausência de menstruação aos 16 anos + desenvolvimento sexual normal. Geralmente é resultado de uma anormalidade genética ou anatômica. Contudo, todas as causas de amenorreia secundária podem se apresentar como amenorreia primária. As causas mais comuns de amenorreia primária são: disgenesia gonadal (50%|distúrbio no desenvolvimento do ovário), hipogonadismo de causa hipotalâmica (20%), ausência de útero, cérvice ou vagina (15%), septo vaginal ou hímen imperfurado (5%) e doença hipofisária (5%). NUNCA esquecer de avaliar a presença ou ausência dos caracteres sexuais secundários, a presença ou ausência de útero e os níveis de FSH. → Sem desenvolvimento mamário: FSH baixo ou normal (atraso funcional no desenvolvimento puberal) e FSH elevado (disgenesia gonadal). → Há desenvolvimento mamário: sinal de ação estrogênica e funcionamento dos ovários. → Desenvolvimento mamário + útero presente: etiologia provavelmente devem ser as mesmas das amenorreias secundárias ocorrendo antes da menarca. Criptomenorreia: ausência de fluxo menstrual devido ao bloqueio da saída da menstruação. Exame físico + ultrassonografia → avaliar a presença da anatomia esperada. Prova de progesterona → + significa uma etiologia de anovulação (anatomia íntegra e responsiva à estimulação hormonal ao estrogênio). 2 Ketlin T. Sauer ATM 2024.2 Em pacientes com vagina ausente ou curta, ou com útero ausente ou rudimentar é aconselhável a realização de cariótipo. Amenorreia secundária: após a menarca. Ausência de menstruação por 6 meses ou por 3 ciclos consecutivos. Primeira etiologia que se desconfia nesses casos é gestação, então primeiro é preciso descartar essa hipótese. • Nem sempre a amenorreia é patológica (atraso no desenvolvimento puberal, pseudo-hermafroditismo, sinequias uterinas). Alterações ovarianas 40%, disfunção hipotalâmica 35%, alterações hipofisárias 19% e patologias uterinas 5%. A avaliação das amenorreias secundárias segue um roteiro didaticamente estabelecido: • Primeiro tempo É essencial descartar gravidez, pois é a causa mais comum de amenorreia secundária (a presença de um aparente sangramento não exclui essa hipótese). A história e o exame físico vão orientar possíveis diagnósticos: 1. A síndrome de Asherman (sinequias uterinas) é a única causa uterina e deve ser excluída e buscar na história clínica. 2. Estimar o IMC, pois mulheres com IMC <18,5kh/m² tem frequencia de amenorreia funcional hipotalâmica, associada a distúrbios dietéticos ou exercícios. 3. Sintomas de deficiência estrogênica, como fogachos, secura vaginal, diminuição da libido e alterações no sono, podem estar associados a estágios iniciais de falência ovariana. 4. O uso de medicamentos que podem se associar à amenorreia deve ser investigado. 5. Sintomas de hiperandrogenismo, como acne e hirsutismo. • Segundo tempo Solicitar prolactina (para excluir hiperprolactinemia), FSH (para excluir falência ovariana) e TSH (para doenças tireoidianas). Se sinais de hiperandrogenismo, sulfato de de- hidroepiandrosterona e testosterona devem ser solicitados. Realizar teste de progesterona que avalia a competência do trato genital e a presença de estrogênio suficiente circulante para produzir proliferação endometrial. Deixou muito de ser utilizado pela praticidade dos ensaios para estradiol sérico, que em uma coleta pode aferir os níveis basais de vários hormônios. • Terceiro tempo: PRL elevada: prolactina pode estar aumentada por estresse ou alimentação. TSH diminuído/aumentado: investigar doenças da tireoide. FSH aumentado: falência ovariana precoce, solicitar cariótipo. FSH diminuído ou normal: hipogonidismo hipogonadotrófico. Teste da progesterona é boa conduta. • Quarto tempo: Diante de prova de progesterona negativa pode- se realizar o teste de estrogênio + progestágeno que determinará se o fluxo menstrual é ausente por inoperância dos órgãos-alvo ou por ausência de proliferação endometrial induzida pelo estrogênio. + quando a paciente tem sangramento. - quando a paciente não sangra. Faso negativos são relativamente altos. Na amenorreia primária não adianta fazer o teste de progesterona. • Quinto tempo: Exames de neuroimagem é indicada, pois lesões orgânicas no crânio podem causar disfunção no hipotálamo ou na hipófise. Amenorreia fisiológica: fase pré-puberal, gestação/ puerpério/lactação e pós-menopausa. 3 Ketlin T. Sauer ATM 2024.2 ETIOLOGIA • Distúrbios do sistema genital ou na saída do fluxo menstrual • Distúrbios gonódicos/ovarianos • Distúrbios hipofisários • Distúrbios hipotalâmicos Amenorreias uterovaginais: podem decorrentes da falha na resposta endometrial, de malformações uterinas ou do trajeto de saída, por agenesia ou simples obstrução. Amenorreias hipotalâmicas: origem da maioria das amenorreias secundárias; representam juntamente com as causas hipofisárias, o chamado hipogonadismo hipogonadotrófico (gonadotrofinas estão baixas e há baixa produção de FSH e LH e estrogênio e progesterona). Pode decorrer de várias causas: psicogênicas, neurogênica, iatrogênicas (principalmente o anticoncepcional hormonal), tumores, atraso constitucional da puberdade. Amenorreias hipofisárias: causa tumoral, principalmente prolactinoma (aumento da prolactina provoca disfunção do eixo, pois inibe o FSH, com isso há a diminuição do estrogênio, logo não ocorre a ovulação). Amenorreias gonadais: resistência ovariana a ação das gonadotrofinas (ovário policístico), falência precoce ovariana (menopausa precoce → idiopática, alteração autoimune), alterações do genótipo, tumores ovarianos, cirurgias, disgenesias gonadal. DIAGNÓSTICO Anamnese dirigida, principalmente na amenorreia primária observa r o desenvolvimento dos caracteres secundários. Observar o crescimento estrutural. Questionar mudanças de peso, hábitos alimentares, doenças crônicas. Verificar se há dor pélvica cíclica de caráter progressivo associado a amenorreia primária (hímen imperfurado). Sinais de hiperandrogenismo ou de deficiência estrogênica. Galactorreia pensando em hiperprolactinemia. Exame genital → principalmente em amenorreia primária. AVALIAÇÃO LABORATORIAL • B HCG: excluir gravidez • FSH: aumentado é sinal de que o ovário não está produzindo estrogênio devido os feedbacks. Se está normal,fazer ultrassonografia para ver se a mulher tem útero. Se está baixo pensar em hipogonadismo gonadotrófico (doença hipotalâmica, comum em situações de estresse e perda de peso ou alterações genômicas). • Prolactina: verificar hipófise. Pode alterar com o uso de alguns medicamentos. • TSH e T4 livre • Estradiol: não é um exame obrigatório, ajuda a determinar o hipogonadismo gonadotrófico. EXAME DE IMAGEM • Ultrassonografia pélvica • Ressonância magnética pélvica: restrita para a mal formações dos órgãos genitais. • TC para investigar prolactinomas → adenomas produtores de prolactina. CAUSAS E MANEJO É dirigido para a causa e ao que a mulher quer, como por exemplo, engravidar ou não. ANOVULAÇÃO Na anovulação não há formação de corpo lúteo nem produção de progesterona, não ocorre transformação secretora do endométrio e então não há decidualização nem menstruação. A maioria dos casos tem alguma disfunção hipotalâmica, por vezes transitória, mas alterações ovarianas e hipofisárias também são comuns. A maior parte das mulheres enquadra-se na síndrome do ovário policístico (SOP). Em geral, os níveis de LH estão aumentados, bem como os androgênicos. Há sinais de hiperandrogenismo (hirsutismo, obesidade, acne), além da amenorreia, e muitas tem subfertilidade. Avaliar o nível sérico de testosterona e de S-DHEA. Há grande associação com hiperplasia e carcinoma de endométrio e síndrome metabólica. Manejo → orientação, tratamento conforme desejo reprodutivo e controle das manifestações clínicas. A prova de progesterona pode ser realizada para induzir a menstruação e tranquilizar a paciente. CAUSAS HIPOTALÂMICAS As mesmas lesões anatômicas no tronco cerebral e no hipotálamo que produzem amenorreia primária por interferirem na secreção de GnRH podem causar amenorreia secundária. Várias medicações podem agir no hipotálamo, depletando a circulação da dopamina (inibidor da secreção da prolactina) ou ocupando seus receptores, resultando em hiperprolactinemia: antidepressivos tricíclicos, opioides, benzodiazepínicos, metoclopramida. 4 Ketlin T. Sauer ATM 2024.2 Quando o eixo hipotálamo-hipófise permanece bloqueado por longo período de tempo, pode não haver o retorno imediato da função hipotalâmica quando cessado o bloqueio. Atividade física intensa e constante pode provocar oligomenorreia ou amenorreia secundária → aumenta as betaendorfinais e catecolestrogênio que interferem em substâncias inibidoras do hipotálamo. CAUSAS HIPOFISÁRIAS As células hipofisárias podem ser lesionadas ou necrosadas em virtude de anoxia, trombose, doença autoimune ou hemorragia → síndrome de Sheehan (quando ocorre após hipotensão da gravidez ou puerpério) e doença de Simmonds (quando não se relaciona com gravidez). Por poder ocorrer lesão de toda glândula é possível que se tenha a redução de hormônios como adrenocorticotrofina/ACTH e TSH, FSH e LH. Para o diagnóstico exames de imagem e dosagens dos demais hormônios hipofisários. O tratamento é medicamentoso (reposição hormonal) e eventualmente cirúrgico ou radioterápico. CAUSAS OVARIANAS Os ovários podem deixar de produzir estrogênio suficiente para o crescimento endometrial como resultado de irradiação gonadal, quimioterapia sistêmica, infecção, alterações no seu suprimento sanguíneo ou depleção de folículos... Quando os ovários deixam de produzir estrogênios antes dos 40 anos de idade, acontece uma falência ovariana prematura (FOP/1% das mulheres nessa faixa etária). Sintomas climatéricos comumente ocorrem (fogacho, secura vaginal, diminui libido), havendo maior risco de osteoporose no futuro. Há dois tipos de FOP: 1. Ovário apresenta esclerose generalizada semelhante a gônada na pós-menopausa 2. Há numerosos folículos primordiais sem progressão de estágio, ocorre em 30% dos casos → Síndrome dos ovários resistentes às gonadotrofinas, hipofoliculogênese ovariana ou síndrome de Savage; A FOP pode ser idiopática, associada a alterações cromossômicas ou gÊnicas e associada a distúrbios automunes. A biópsia de ovário mostra folículos aparentemente normais, mas infiltrado leucocitário perifolicular. Recomenda-se investigar fator antinuclear, anticorpo antitireoperoxidase, cortisolúria de 24 hs, TSH... CAUSAS ANATÔMICAS UTERINAS Aderências intrauterinas ou sinequias podem surgir após curetagem (síndrome de Asherman), infecção pélvica (endometrite pós-parto, doença inflamatória pélvica, tuberculose), hidteroscopia, miomectomia, metroplastia ou cesariana. A suspeita relaciona-se com o início dos sintomas coincidindo com um evento cirúrgico, sendo a curetagem a mais frequente. O tratamento é a ressecção das sinequias por curetagem ou por histeroscopia. HIPERPROLACTINEMIA Pode estar associada a tumores presentes na sela túrcica ou hipotálamo, com suas diferentes manifestações de hiper ou hipofunção hormonal. O aumento dos níveis de prolactina (PRL) é a alteração endocrinológica mais comum do eixo hipotálamo-hipofisário, predominando no sexo feminino. O diagnóstico é de extrema importância, uma vez que a conduta terapêutica é dependente da etiologia. FISIOLOGIA DA PROLACTINA A prolactina é sintetizada predominantemente nas células na porção lateral da adeno-hipófise, os lactotrofos, que representam 15-25% do volume da glândula. Na gestação e lactação ocorre a hipertrofia dessas células. A secreção é pulsátil e em ritmo circadiano. A dopamina é o principal regulador com atividade inibitória sobre a síntese e a liberação da PRL. A redução da inibição da dopamina, por medicamentos, interrupção do pedículo hipofisário ou por destruição hipotalâmica, leva a aumentos moderados na secreção de PRL. Outros reguladores inibitórios: histamina, calcitonina, TGF 1. Fatores estimulantes: adrenalina e noradrenalina, oxicotina e galanina, estrogênio, sucção mamária. QUADRO CLÍNICO A hiperprolactinemia promove a inibição da secreção de GnRH com redução da secreção pulsátil das gonadotrofinas (LH, FSH), ocasionando o hipogonadismo. Sinal nas mulheres em pré-menopausa: oligo ou amenorreia. Nas que usam ACO isso pode ficar mascarado. Distúrbios sexuais com redução da libido e dispareunia devido à deficiência de 5 Ketlin T. Sauer ATM 2024.2 estrogênio estão frequentemente associados. O estado de hipoestrogenismo prolongado pode levar a osteopenia ou mesmo osteoporose. Sinal nas mulheres pós-menopausa: desaparecimento dos fogachos. • Causas fisiológicas: gravidez e amamentação, estresse, exercício, sono... • Causas farmacológicas: estrogênios, neurolépticos, metoclopramida, sulpirida, reserpina, metildopa, verapamil, heroína, morfina, antidepressivos tricíclicos, paroxetina. • Causas patológicas: tumores e outros distúrbios hipotalâmicos e hipofisários. Prolactinomas (adenoma hipofisário. Mulheres entre 20-40 anos, mais comum os microprolactinomas <10 mm). Doenças sistêmicas e distúrbios endocrinológicos (cirrose hepática ou insuficiência renal crônica, hipotireoidismo). Neurogênica. • Macroprolactinemia: elevação da PRL resulta da presença no soro de um excesso de prolactina. • Idiopática AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA • História clínica e exame físico: descartar gestação. Investigar substâncias que elevam os níveis de prolactina. Verificar sinais de alerta para tumores intracranianos (cefaleia, alteração visual e distúrbio neurológico). • Achados laboratoriais: teste de estímulo e de supressão não necessitam ser realizados pois não fornecem resultados adicionais à medida isolada da PRL. Hiperprolactinemia leve a moderada (até 5x o limite superior do valor de referência). • Exames de imagem: tomografia ou ressonância da sela túrcica permitem a visualização de prolactinomas e outros tumores dessa região. TRATAMENTOO objetivo é normalizar os níveis séricos de PRL, com o intuito de restaurar a função gonadal, cessar a galactorreia e no caso dos prolactinomas reduzir o volume tumoral, preservando a função hipofisária e evitando progressão da doença. Nos casos de PRL secundárias ao uso de medicamentos, este deve ser suspenso ou substituído sempre que possível. Caso não seja possível a suspensão pode-se utilizar ACO combinado para corrigir o hipoestrogenismo. Sempre que a causa for sistêmica tratar a causa de base. Nas assintomáticas a conduta pode ser expectante. Nessas com ciclo regular, elas não têm risco aumentado de osteoporose. 6 Ketlin T. Sauer ATM 2024.2
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