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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH Licenciatura em História - EAD UNIRIO/CEDERJ Juliana Sousa Gomes – 19216090108 AS CONTRIBUIÇÕES DE A. HUMBOLDT E A. BONPLAND PARA A AMÉRICA E O BRASIL OITOCENTISTA Alexander von Humboldt e Aimé Bonpland foram importantes cientistas nos anos mil e oitocentos, que tiveram muita relevância no Brasil. Assim sendo, a autora Karen Macknow Lisboa dedicou a eles um trabalho intitulado: “Seguindo os passos não dados de Alexander von Humboldt e A. Bonpland no Brasil oitocentista”, o qual serviu de base para esta resenha crítica. Karen é mestre e doutora em História Social, seus focos de trabalho são: “transferências culturais e de saberes (sobretudo entre Alemanha e Brasil), relação entre historiografia e literatura de viagem, discurso racial, lugares da memória, narrativas de imigrantes” (LISBOA, 2018). O texto de Lisboa (2019) começa informando ao leitor que Alexander von Humboldt e Aimé Bonspland em 1800 não puderam entrar no Brasil, entretanto, eles disseminaram sua “ciência de viagem” entre os viajantes e naturalistas, que por aqui passaram. Assim sendo, ela afirma que a obra dos dois cientistas se espalhou pelo Brasil por meio desses autores viajantes, que segundo Lisboa (2019), deixaram obras relevantes. Alguns dos autores são citados na página 764, são eles: Johann von Spix e Carl von Martius, Moritz Rugenas, Wilhelm von Eschwege, príncipe Maximilian de Wied- Neuwied, Auguste de St. Hilaire, Charles Darwin, Henry Beates e Alfred Russel Wallace. A autora então explica a metodologia por trás do seu trabalho, que foi dividido em duas partes, sendo a primeira uma verificação da presença de Humboldt como antiescravagista em obras importantes de intelectuais brasileiros críticos à escravidão; e na segunda parte, ela busca referências sobre Humboldt no Jornal do Commercio, que era uma importante fonte de informação na época oitocentista. Lisboa (2019, p. 764) ainda afirma que seu objetivo não é apenas verificar a aceitação do trabalho de Humboldt no Brasil, mas também apurar as “menções aos próprios personagens (aspectos bibliográficos, referências culturais, usos mercadológicos) e aos livros como produtos do mercado livreiro”. Ao começar o primeiro tópico, segundo sua metodologia, Lisboa (2019) informa que há especulações de uma amizade entre Humboldt e José Bonifácio de Andrada e Silva, um grande intelectual da primeira metade do século XIX. Entretanto, a autora acentua que há controvérsias a respeito da amizade, visto que eles frequentaram a Academia de Freiberg em momentos separados. Lisboa (2019) cita a visão do autor Maio Barata (1963), que considera que para José Bonifácio, a geografia e a história eram importantes e deviam ser estudadas. A autora ainda faz ligação entre as obras de Humboldt e de José Bonifácio, evidenciando que suas linhas de pesquisa e pensamentos eram similares e entravam de acordo, não só na parte naturalista quanto também, suspeita a autora, em seus ideais antiescravagistas. A seguir, Lisboa (2019) conta que o autor Costa (1988) menciona as palavras de Humboldt sobre a agricultura com muito potencial no México, tal como o belíssimo trabalho de nativos na região. Dessa forma, Costa (1988) demonstra a preocupação de Humboldt quanto à mão de obra escrava de negros, enquanto ao invés disso, se poderia aproveitar a mão de obra local, pois ao contrário do que pregavam alguns escritores contemporâneos dele e de Humboldt, os indígenas eram capacitados para trabalhos penosos. Costa (1988) ainda afirma que Humboldt sabia que o trabalho de nativos era menos lucrativo do que o de escravos, e exalta sua obra Ensaio político sobre o México. Outros autores são mencionados por Lisboa (2019), são eles: Frederico Leopoldo César, que utiliza relatos de viagem de Humboldt para criticar o tráfico negreiro pelo atlântico, tal como a continuação de entrada de negros no Brasil, entrada essa que era ilegal; André Rebouças, que menciona brevemente Humboldt em uma das suas obras, quando fala sobre o desmatamento por causa da cultura do café na Europa e pede por reforma agrária; Joaquim Nabuco, que em sua obra O abolicionismo, escrita em 1883 também faz uma menção à Humboldt, juntamente com José Bonifácio, Agassiz e Darwin, colocando-os em um lugar de homens de ciência que viajaram por países americanos e se voltaram contra a escravidão. No livro Minha formação, ainda de Nabuco, Humboldt aparece mais duas vezes. Assim, Lisboa (2019) encerra a sessão concluindo que Humboldt e Bonpland aparecem timidamente em obras contemporâneas deles, e suas aparições são variadas, entretanto, a autora não cita nenhuma obra onde Bonpland aparece. Na segunda sessão de análises das menções dos nomes de Humboldt e Bonpland, a autora verifica o Jornal do Commercio”. Este periódico teve publicações de 1º de outubro de 1827 a 29 de abril de 2016, e foi um dos principais meios de comunicação oitocentista. A autora sinaliza que o periódico iniciou com assuntos econômicos e comerciais, e que a partir da década de 1830, passou a expressar afinidades com a política conservadora. Nos anos 1840, com a coroação de Pedro II, o jornal passou a ser uma importante fonte de informações sobre o Império, passando a defender os interesses imperiais. Lisboa (2019) informa que usou como fonte de pesquisa 82 anos de publicações do jornal, entre 1827 e 1899, usando a palavra-chave “Humboldt”, e encontrou 711 ocorrências com tal termo. A década de 1870 foi a que mais publicou sobre Humboldt, tendo 278 registros, e a autora afirma que o aumento de publicações relacionadas a Humboldt ocorreu a partir da década de 1860. A autora, na página 767, explica que muitas das aparições de Humboldt no jornal eram propagandas, mas se ignoradas essas, o nome de Humboldt aparece mencionado em matérias de assuntos científicos, tais como: “botânica, zoologia, antropologia, arqueologia, geografia, mineralogia e astronomia”. Ela diz que Bonpland é pouco citado no periódico e que se surpreende com a falta de artigos escritos sobre a dupla e suas obras. A seguir, a autora detalha alguns dos artigos onde Humboldt aparece, aparições essas que não são necessárias repetir, mas que exaltam o trabalho de Humboldt. Ainda é comentada a aparição de Bonpland na sessão “notícias diversas”, que narra a nomeação deste pelo presidente Luiz Napoleão como oficial da ordem da Legião de Honra; na menção, Bonpland é caracterizado como “sábio botanista” e também “companheiro do célebre Humboldt”. Um aspecto que a autora evidencia e chama a atenção é a demora para o jornal declarar a morte de Humboldt, enquanto a de Bonpland foi publicada apenas 6 semanas após o acontecido, e foi lembrado em duas edições seguidas. A morte de Humboldt foi publicada com 8 meses de atraso, por Joaquim Manoel Macedo, que homenageou o cientista, comparando-o a grandes nomes como Napoleão Bonaparte e Cristóvão Colombo. Macedo ainda afirma em sua homenagem póstuma, que não sente necessidade de enumerar as obras importantes de Humboldt, uma vez que quem não as conhece, não pode ter estudado sobre a história da América e do Brasil. Lisboa (2019) continua exaltando a influência de Humboldt nas suas áreas de atuação. Ela cita, na página 771, uma passagem do Jornal do Commercio, de 1872, que fala sobre Humboldt, que já havia falecido nessa época: “Não conheço nada mais esmagador que um sábio alemão; e se o sábio é barão, ainda o sábio é maior. Lembrem- se de Humboldt”. Outras citações interessantes sobre o naturalista retiradas do periódico e feitas pela própria autora, se encontram nas páginas 771 e 772: “popularizou o conhecimento geográfico na América Meridional”; “Humboldt foi um dos autores relevantes a enxergar as vantagens da América equinocial em relação a outras regiões equatoriais do Globo”;“também é o naturalista Humboldt que abre os olhos para a degradação ambiental”; “Humboldt como profeta da civilização dos trópicos”. Com esses pensamentos a frente de seu tempo, Humboldt influenciou Manoel Francisco Correia, que palestrou em 1878, para diversas pessoas, incluindo o imperador, afirmando a necessidade de educação moral, intelectual e física da “raça” brasileira para que o “dizer profético do mais ilustres dos verdadeiros sábios da nossa época, Humboldt”, venha se concretizar, pois “é essa raça digna de dominar uma região, como a nossa, onde a civilização do globo tem de concentrar-se um dia” (LISBOA, 2019, p. 772). Lisboa (2019) afirma que Humboldt é visto como um dos principais veiculadores de conhecimento sobre a América na Europa, e também e visto no Brasil como o “inaugurador de uma história da civilização na contramão do eurocentrismo”. Ela usa como referência para tal afirmação, publicações do periódico Jornal do Commercio, como uma feita em 1888, por Salvador de Mendonça, que coloca Humboldt como um gênio vidente e afirma que em tempos pré-históricos, havia um povo dominador, os maias, de quem saíram as civilizações da Ásia, Egito e Europa. Outro autor que combate a visão eurocêntrica é o general Couto Magalhães, que ressalta e exalta a importância dos índios na conquista, mas que na história contada e escrita pelos europeus, esse povo é colocado como “antropófagos, infiéis, gutões”. Ele se utiliza dos relatos de viagens de Humboldt, Martius, Darwin e Saint-Denis para defender sua tese de que os índios foram “heróis”. Ainda salienta que eles foram erroneamente nomeados “índios” e seus descendentes “mestiços”, afirmando que o termo correto seria “americanos”. A autora chega à conclusão da sua pesquisa, informando que Humboldt tem uma presença variada, sendo citado em diversos assuntos, enquanto Bonpland não é mencionado. Ela passa a detalhar como o naturalista prussiano teve influência sobre os autores brasileiros como José Bonifácio de Andrada, João Severiano Maciel da Costa, Frederico Leopoldo Cezar Bulamarqui, André Rebouças e Joaquim Nabuco. Entretanto, apesar da influência de Humboldt, a autora chama a atenção para o fato de que os ideais abolicionistas dele, não entram no Jornal do Commercio, provavelmente porque este representava os interesses do império, mantendo assim, apenas a imagem do barão prussiano como grande ilustrado, o descobridor da América, o reinventor das narrativas de uma natureza edênica, o crítico literário que liga os versos camonianos à história da expansão marítima, o novo Colombo que enxerga uma vindoura civilização nos trópicos, o arqueólogo na contramão do eurocentrismo, o valorizador da população original americana (LISBOA, 2019, p.774). Assim sendo, podemos concluir que o trabalho minucioso de Lisboa (2019) traz luz às diversas e importantes contribuições de Humboldt para o Brasil, de modo que ele foi importante interlocutor entre a América e a Europa, buscando desmistificar a ideia de superioridade racial dos europeus sobre os americanos; acabar com a visão de que o indígena é incapaz, colocando em pauta a questão do tráfico de escravos e a própria escravidão, que em seu ver, era inaceitável; tentando abrir os olhos de seus leitores sobre o desmatamento e suas consequências; entre tantas outras contribuições que deu ao mundo com seus conhecimentos que adquiriu em suas viagens exploratórias pelo continente americano. Humboldt foi um grande exemplo para o mundo com seus escritos, mas principalmente para o Brasil e a América, num geral, sendo conhecido inclusive como o novo Colombo. Sobre Bonpland, infelizmente sua obra não foi valorizada nos canais pesquisados como a de Humboldt, o que culminou, especificamente no trabalho de Lisboa (2019), na não exploração de suas contribuições. Referências: LISBOA, Karen Macknow. Seguindo os passos não dados de Alexander von Humboldt e A. Bonpland no Brasil oitocentista. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.27, n.3, jul.-set. 2020, p.763-779. LISBOA, Karen Macknow. Currículo do sistema currículo Lattes. São Paulo, 12 nov. 2018. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/2640696034748405>. Acesso em: 15 mar. 2021. http://lattes.cnpq.br/2640696034748405
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