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0 UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ –UVA LICENCIATURA ESPECIFICA EM HISTÓRIA. ALDENIR NEVES DE FRANÇA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA FORTALEZA-CE 2022 1 ALDENIR NEVES DE FRANÇA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA Trabalho apresentado à universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, como requisito parcial para aprovação na disciplina - Historiografia brasileira Aprovado em _______\_______\________ __________________________________________________________________ Supervisão do Curso 2 SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------- - 3 2- RESUMO----------------------------------------------------------------------------- -- 4 3- O QUE É HISTORIOGRÁFIA--------------------------------------------------- 5 4- 5- QUAL A DIFERENÇA ENTRE HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA ------ -- 6 6- VARNHAGEN FUNDADOR DA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA.-- -- 7 E 8 7- A IDENTIDADE BRASILEIRA ----------------------------------.-------------- 9 A 11 8- HISTÓRIA. DE LITERATURA DE VIAGENS------------------------------- 12 9- RELATOS DE MULHERES VIAJANTES.------------------------------------ -- 13 E 14 10- HISTORIADORES FAMOSOS E SUAS IMPRESSÕES--------------------- -- 15 11- PERGUNTAS SOBRE LITERATURA INFORMATIVA E RELATOS DE VIAGENS ---------------------------------------------------------------- 16 12- AS NOVAS ABORDAGENS E PROBLEMÁTICAS DA HISTÓRIA DO BRASIL.------------------------------------------------------------------------------ 17 13- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS------------------------------------------ 18 3 Introdução. Este trabalho convida a Conhecer a historiografia brasileira e sua importância para nossa história; Características sociais profissionais do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro mais conhecido como IHGB. Compreender porque houve a necessidade da criação do IHBG. Reconhecer a necessidade da criação do IHGB no Brasil em 1838 para o desenvolvimento dos conhecimentos geográficos e históricos no Brasil, pelo estímulo à pesquisa com reconhecimento da nossa História. Problematizar nossa historiografia , ampliar o conhecimento histórico , reconhecer os historiadores como Francisco Adolfo de Varnhagen e outros importantes para nossa historiografia. 4 Resumo A historiografia é o estudo de como a história é escrita e como nossa compreensão histórica muda com o tempo. Esse estudo considera as abordagens usadas pelos historiadores e procura entender como e por que suas teorias e interpretações diferem. Enquanto o passado em si nunca muda, a escrita da história está sempre evoluindo. Novos historiadores exploram e interpretam o passado. Eles desenvolvem novas teorias e conclusões que podem mudar a maneira como entendemos o passado. A historiografia reconhece e discute esse processo de mudança. No geral, é um estudo difícil e complexo. É um componente importante da maioria dos cursos de história da universidade, onde se espera que os alunos saibam sobre o passado e como ele foi interpretado ao longo do tempo. Atualmente, muitos cursos do ensino fundamental e médio incluem alguma historiografia básica, geralmente através do estudo de diferentes historiadores e interpretações históricas concorrentes. 5 Historiografia. O termo historiografia é composto a partir dos termos “história” (que vem do grego e significa pesquisa) e “grafia” (que também vem do grego e significa escrita). Sendo assim, o próprio nome já contém o sentido mais claro da expressão, isto é, “escrita de uma pesquisa” ou “pesquisa que precisa de uma forma escrita, de uma narrativa”. De forma sucinta: uma escrita da história. A historiografia, ou escrita da história, portanto, permeia toda a história das civilizações desde suas primeiras manifestações. Tanto as civilizações do Médio Oriente, como as que se desenvolveram na Mesopotâmia, quanto as civilização do Extremo Oriente, como a chinesa e a hindu, tiveram escribas (pessoas que dominavam a arte da escrita) que se encarregavam de escrever, além dos rituais religiosos e da contabilidade econômica das antigas cidades, as memórias das tradições que fundaram aquela civilização específica. Nesse processo de escrita da história da Antiguidade, por diversas vezes a história esteve entrelaçada com os mitos ou com a narrativa mitológica. Só com os gregos, como Heródoto e Tucídides, que a história ganhou pela primeira vez uma organização mais sistemática. Os autores da historiografia grega foram os primeiros a ter consciência de estarem produzindo uma pesquisa com a finalidade de “não deixar os fatos e feitos” de sua época perderem-se no tempo (como defendia Heródoto, considerado o “pai da história”). Como herdeiros culturais dos gregos, grandes historiadores romanos também desenvolveram sua própria historiografia. Foi o caso, por exemplo, de Cícero, Políbio e Tácito. Esse último mencionou em sua obra a presença de Jesus de Nazaré na Palestina – que era uma província do Império Romano na época. Os judeus e os primeiros cristãos também desenvolveram sua historiografia, como Eusébio de Cesareia, autor da História Eclesiástica, e Flávio Josefo, autor da História Hebraica. Houve também uma historiografia medieval, tanto cristã quanto islâmica, e uma historiografia renascentista, como a produzida por Maquiavel e Guicciardini. Mas só a partir do século XIX que a história passou a ser considerada uma disciplina propriamente “científica”, com métodos próprios e com a peculiaridade de sua escrita, de seu relato. 6 Qual a diferença entre história e historiografia? A historiografia é o estudo das melhores maneiras de interpretar as fontes históricas e os modos como a história é escrita (a investigação histórica e a história da história). Já a história é o que está escrito sobre o passado, com o objetivo de torná-lo o mais próximo possível do que aconteceu. Qual é o propósito e a importância da historiografia? Para entender a historiografia, é preciso primeiro ter a noção de que a compreensão do passado não está imune a críticas, desafios ou revisões. É preciso também entender a diferença crítica entre fatos históricos (situações apresentadas conclusivamente por evidências e aceitas como verdadeiras) e história (o estudo humano e a interpretação dessas situações). Sobre as evidências disponíveis, esses fatos são indiscutíveis. Porém, tomados por um ponto de vista restritivo, no entanto, eles podem ser isolados ou desprovidos de significado. O papel do historiador é dar sentido a esses fatos por meio de pesquisa e análise. Para fazer isso, eles examinam e interpretam evidências, formam conclusões, desenvolvem teorias e articulam suas descobertas por escrito. Os historiadores devem responder a muitas perguntas, incluindo: • Como e por que determinadas ações, eventos ou ideias surgiram (causas); • Os resultados de determinadas ações, eventos ou ideias (efeitos ou consequências); • As contribuições feitas por diferentes pessoas e grupos (ações); • A importância relativa ou impacto de diferentes pessoas, grupos ou ideias (significado); • Situações que mudaram e outras que permaneceram as mesmas durante um período de tempo (mudança e continuidade). Ao contrário das ciências físicas, a história produzmuitas respostas diferentes para a mesma pergunta. Os historiadores frequentemente estudam os mesmos conjuntos de fatos, mas acabam chegando a diferentes explicações ou conclusões. É a partir desse momento que chega o estudo historiográfico, analisando as interpretações de um tópico específico escrito por historiadores, sobre o passado. Especificamente, uma historiografia identifica pensadores influentes e revela a forma do debate acadêmico sobre um determinado assunto. O principal objetivo de escrever um artigo historiográfico é transmitir a compreensão de outros historiadores sobre um assunto particular, em vez de analisar o próprio assunto. Alternativamente, uma historiografia pode atuar como uma introdução a um grande trabalho de pesquisa, no qual você irá adicionar sua própria análise. Assim, uma boa historiografia faz o seguinte: • Aponta livros e artigos influentes que exemplificaram, moldaram ou revolucionaram um campo de estudo; • Mostra quais acadêmicos foram mais eficazes em mudar o escopo do debate; 7 Varnhagen foi um dos fundadores da historiografia brasileira A importância de Varnhagen na historiografia brasileira é imensa. Foi um dos pioneiros em adotar metodologias científicas, como o empirismo e o trato de fontes documentais, distanciando a escrita historiográfica da literatura, feita com heróis e vilões, comum nos séculos XVII e XVIII. O fundamento da História na análise documental, embora comum em nossos tempos, tem origem justamente no século XIX, especialmente com o historiador alemão Leopoldo von Ranke. Seu ofício de historiador está ligado à carreira de diplomata. Diversos documentos pertinentes ao jovem país Brasil estavam em arquivos e bibliotecas europeias, especialmente de Portugal e da Espanha, devido os domínios coloniais europeus. Documentos sobre assuntos relacionados ao Brasil também estavam em outros países sul-americanos e europeus. Os tempos de serviço no exterior permitiram a Varnhagen poder pesquisar esses arquivos e bibliotecas, coletando ou copiando vasta quantidade de documentos que foram enviados ao Brasil ou usados em sua produção intelectual. Especialmente sobre os limites e tratados de fronteira, um dos temas principais da diplomacia brasileira na época. Varnhagen foi membro do IHGB O que fez posteriormente também, como visto nos itens anteriores. Varnhagen foi membro essencial durante a missão fundadora do IHGB, a elaboração de uma história que legitimasse o novo país e, principalmente, seu regime, que patrocinava o instituto. A principal obra de Varnhagen, História Geral do Brasil, escrita em dois volumes entre 1854 e 1857, busca mostrar as particularidades desse país, contrastando com a defesa de um sistema escravista e racial, temas de controvérsia em sua obra até hoje. Varnhagen, originalmente, possuia cidadania lusitana, inclusive servindo como voluntário nas tropas liberais de D. Pedro IV de Portugal (o nosso D. Pedro I) que lutaram contra seu irmão. Apenas em 1844, aos vinte e oito anos de idade, que Varnhagen obteve a nacionalidade brasileira, posteriormente admitido na carreira diplomática. Serviu postos como Lisboa, Madrid, Paraguai, Venezuela, Nova Granada (atual Colômbia), Equador, Chile, Peru, Países Baixos e Império Austríaco. Foi na Áustria que Varnhagen faleceu, em 1878, aos sessenta e dois anos de idade. Varnhagen entrou no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1841, exercendo o cargo de primeiro- secretário. Nessa função, organizou a biblioteca do instituto, o que o aproximou do Imperador D. Pedro II. Suas credenciais de admissão eram ter sido sócio- correspondente na Academia de Ciências de Lisboa e localizado o túmulo de Pedro Álvares Cabral na Igreja da Graça, em Santarém. Em Portugal, também pesquisou nos Arquivos da Torre do Tombo. 8 Varnhagen está relacionado à história de Brasília, foi um dos pioneiros da defesa da interiorização da capital do Brasil após a independência. Realizou estudos cartográficos sobre o Planalto Central e, em 1877, viajou ao interior de Goiás com objetivo de explorar a região entre as lagoas Formosa, Feia e Mestre d’Armas (próximas da atual cidade de Formosa, estado de Goiás), escrevendo um livro sobre o assunto em 1877, A questão da capital: marítima ou no interior?. A região de Formosa é vizinha ao local onde foi estabelecida Brasília. A primeira Constituição republicana, de 1891, em seu artigo 3º, positivava a criação de uma nova capital no centro do país: “Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14 400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital federal”. 9 A identidade brasileira Foi decorrente de um processo de construção histórica, como em diversos outros países. Apesar de ter se iniciado após a Independência, em 1822, o processo de constituição da identidade nacional ganhou um impulso maior após a década de 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder. A partir disso, pôde-se perceber que a construção da identidade, para além de um processo cultural, era também um processo político. Os esforços para se constituir a identidade brasileira, que também é chamada de brasilidade, estão ligados à necessidade de uma coesão social que acompanhe a existência de um Estado que administra todo o território nacional. Dessa forma, a manutenção de uma máquina administrativa comum a todo o território nacional foi um primeiro passo na construção da identidade. Contribuiu ainda para a existência da identidade nacional o fato de a língua portuguesa ser comum a todo o território, apesar de suas particularidades regionais. A língua seria então um elemento no conjunto de elementos culturais comuns que são constitutivos da cultura nacional. Porém, durante o Primeiro Reinado e o Período Regencial, não houve grandes avanços na construção da identidade nacional, a não ser a formação de forças repressivas militares para garantir a ordem latifundiária e escravocrata em todo o território nacional. Os conflitos separatistas provinciais das décadas de 1830 e 1840 eram um obstáculo à integralidade territorial e também à coesão social do país recém-independente. A forma com que esses conflitos foram reprimidos permite perceber que a violência repressiva do Estado contra conflitos sociais que pretendiam alterar a ordem vigente passou também a ser constitutiva da identidade nacional. A cultura da violência estatal permeou desde o início a formação da identidade nacional. Ainda durante a Regência houve outros esforços nesse processo de construção identitária. A criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838 foi o primeiro passo na tentativa estatal de refletir sobre temas que estariam relacionados à nação brasileira. Anos depois, no âmbito da Literatura, o surgimento do Romantismo buscou também contribuir com a construção dessa identidade. As obras de José de Alencar foram um exemplo de aliar a imagem da nação brasileira às suas belezas naturais, como também a mitificação do indígena como componente principal da nação brasileira. Esse trabalho literário e cultural buscava criar uma interpretação genuinamente brasileira, afastada das influências estrangeiras. 10 Apesar dessas tentativas de unificação de elementos culturais do que seria a brasilidade, a grande extensão do território nacional e suas diferentes formas de ocupação resultaram em uma diversidade de manifestações culturais regionais. A Proclamação da República e o federalismo instituído na administração do Estado espelharam um fortalecimento de movimentos culturais regionais, principalmente os ligados à decadente aristocracia das regiões não afetadas pelo crescimento econômico de início do século XX. Um exemplo foi o Manifesto Regionalistade Gilberto Freyre, publicado em 1926. Porém, ao mesmo tempo, houve esforços para a criação de símbolos culturais nacionais, como a mitificação da figura de Tiradentes como um herói libertador do Brasil. O Movimento Modernista da década 1920 buscava também encontrar as raízes da sociedade brasileira, afirmando o nacionalismo como um estágio para se chegar ao universal. Para alcançar essa pretensão, Mário de Andrade realizou uma extensa viagem pelo Brasil, pesquisando, compilando e estudando os elementos que faziam parte da cultura brasileira. Um esforço nacional estatal para a difusão de uma cultura brasileira comum iria se fortalecer após a Revolução de 1930. A chegada de Getúlio Vargas ao poder representou um novo momento de centralização política, auxiliado pela criação de instituições que pretendiam uniformizar práticas administrativas, como o Ministério do Trabalho e a política de oferecimento de uma educação básica comum. Neste último caso, a padronização dos currículos escolares buscava veicular um conteúdo nacional via processo educativo institucional, levando ainda a uma erradicação dos traços culturais das minorias étnicas que não eram aceitos como componentes identitários. Vargas utilizou também os novos meios de comunicação, principalmente o rádio, para difundir essa cultura nacional uniformizada. Passaram a ganhar contornos de representação cultural nacional o samba, o futebol e pratos culinários. No exterior, existiu também uma tentativa de criar uma imagem da cultura nacional, da qual Carmem Miranda é a principal expressão. Entre as décadas de 1940 e 1960, a construção da identidade nacional passou a ser realizada levando em consideração a luta contra o que era considerado uma influência colonial, do que era vindo da Europa ou dos EUA. A partir da década de 1960, com a ditadura militar e sua centralização autoritária e repressiva, aliadas à difusão da televisão pelos domicílios, um novo momento de difusão de elementos culturais foi conhecido. As telenovelas passaram também a auxiliar na exposição de práticas sociais consideradas expoentes da brasilidade. 11 Só que a partir desse período, a entrada cada vez maior do capital estrangeiro na economia e a apresentação de um ideal de modo de vida cada vez mais próximo do estadunidense influenciaram o processo contínuo de formação da identidade nacional, momento ainda vivenciado no século XXI. 12 História de Literatura de Viagens. Os textos de informação ou literatura de viagens são importantes relatos que oferecem ao historiador uma abundante documentação. Para a literatura, os textos de informação deram origem ao gênero literário a que chamamos crônica aquela que lemos como entretenimento, embora tenha origem histórica Os primeiros textos escritos no Brasil retratavam a instauração do processo colonial e eram relatos de viajantes e missionários europeus sobre a natureza e o nativo brasileiro. Não se pode chamar tais escritos de textos literários, pois seu objetivo era relatar com objetividade aquilo que os exploradores encontravam por aqui, o que, por muito tempo, deixou textos preciosos longe dos manuais de literatura. O mais célebre relato sobre o Brasil é, sem dúvida, a Carta de Pero Vaz de Caminha. A Carta, assinada em 1 de maio de 1500, informa ao Rei D. Manoel os detalhes da viagem desde a partida de Belém, em 9 de março. O escrivão fala sobre as belezas naturais, a nudez dos nativos, a celebração da primeira missa e os degredados deixados aqui. Senhor, Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escreveram a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, quer ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que – para bem contar e falar – o saiba pior que os outros fazer. Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo, para aformosear nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu. […]Carta de Pero Vaz de Caminha. . Além da Carta, são célebres também os seguintes textos sobre o Brasil “recém- achado”: Diário de Navegação, de Pero Lopes, escrivão do grupo de Martim Afonso de Sousa (1530); Tratado da Terra do Brasil e História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, de Pero Magalhães Gândavo (1576); Narrativa Epistolar e o Tratado da Terra e da Gente do Brasil, escrito pelo jesuíta Fernão Cardim (1583); Diálogos das Grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (1618); o Diálogo da Conversão dos Gentios, Padre Manoel da Nóbrega; História do Brasil, do Frei Vicente de Salvador (1627). Com o passar do tempo, a crônica perdeu seu caráter histórico e ganhou status de arte literária. Os textos deixaram de ser a memória histórica da nação e passaram a ocupar os folhetins. Publicadas em jornais, as crônicas do século XIX eram textos para leitura rápida e reflexo da vida cotidiana – característica que chegou ao século XXI. 13 Relatos de mulheres viajantes. Maria Graham A inglesa Maria Graham escreveu um dos relatos mais conhecidos sobre o Brasil, publicado em 1824, quando ela já era uma autora consolidada de livros de viagem. Diário de uma viagem ao Brasil comenta as três vezes que esteve no país, visitando Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro entre 1821 e 1823, a princípio acompanhando seu marido, o capitão da marinha inglesa Thomas Graham, e depois da sua morte no Chile, viaja sozinha. Paralelamente às esperadas frustrações com o clima, a comida, as cidades e seus habitantes, Graham descreve as mudanças durante os encaminhamentos do processo de independência do Brasil. A autora se destacava nos círculos da elite pelo seu alto nível de instrução e suas conexões importantes, e acabou observando as insatisfações com a Coroa portuguesa de dentro dos altos escalões da sociedade e da política, inclusive tendo contato com a família de D. Pedro I; Graham se tornaria preceptora de Maria da Glória, filha do imperador, e manteve correspondência com a imperatriz Leopoldina depois do seu retorno à Inglaterra. A proximidade é tamanha que há no livro transcrições de correspondência discutindo assuntos de Estado, inclusive do próprio D. Pedro I. Quinta-feira, 10 de Janeiro – Houve ontem uma reunião da Câmara do Rio e, após uma curta deliberação, os seus membros foram em procissão, acompanhados de grande concurso de povo, ao príncipe, com uma enérgica petição contra sua saída deste país e uma viva súplica para que ele ficasse em meio ao seu fiel povo. S.A.R. recebeu-os gentilmente e respondeu que, desde que parecia ser a vontade de todos, ele permaneceria. Esta declaração foi recebida com gritos e com entusiasmo, correspondidos com descarga de artilharia e com todos os sinais de regozijo público. (Graham, 1824) Elizabeth Agassiz Assim como o livro de Graham, o relato redigido pela educadora estadunidense Elizabeth Agassiz e seu marido, o zoólogo suíço Louis Agassiz, tem uma abordagem que se volta menos ao exótico e mais a uma postura de pesquisa, tendo inclusive a preocupação em definir termos científicos usados no texto. Viagem ao Brasil é lançado em 1869 relatando a expedição Thayer, que reuniu uma equipe de pesquisadores para estudar espécies de peixes no rio Amazonas e no Rio de Janeiro. O assunto atraía atenção por estar no contexto das investigações em torno da origem das espécies e os resultados do estudo seriam um dos argumentos para Agassiz defender que o surgimento e desaparecimento das espécies estavam diretamente motivados pela ação de um criadore assim, não teriam uma relação de parentesco entre si, e sim origens isoladas; seu contemporâneo Charles Darwin, como se sabe, defendia o oposto. Agassiz estendia sua teoria aos seres humanos, afirmando que as raças humanas teriam origens e características diferentes e definidoras, sendo a miscigenação não só indesejável, como “contaminante” para as raças, apagando seus traços mais positivos e característicos, criando seres inferiores, sem caráter. Mais tarde tais teorias seriam base para pensamentos como a eugenia. A sociedade brasileira é então uma grande vitrine para os observadores estrangeiros, não tão habituados à escravidão, muito menos às proporções do tráfico de escravos no Brasil. Nos relatos, o repúdio à prática é quase um consenso, havendo em praticamente todos os textos das viajantes comentários perplexos diante das condições às quais os escravos eram submetidos. http://200.144.255.123/Imagens/Biblioteca/YAN/Media/YANR958.pdf http://200.144.255.123/Imagens/Biblioteca/YAN/Media/YANR958.pdf https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/7133 14 Ao mesmo tempo, contudo, há igual perplexidade diante da presença de negros livres na sociedade, sobretudo em círculos um pouco mais elitizados. E os negros continuavam a dançar ao clarão duma grande fogueira. De tempos em tempos, quando a sua excitação atingia o mais alto grau, eles atiçavam as chamas que projetavam estranhos e vivos clarões sobre o grupo selvagem. Não se podem contemplar esses corpos robustos, nus pela metade, essas fisionomias desinteligentes, sem se formular uma pergunta, a mesma que inevitavelmente se faz toda vez que a gente se encontra em presença da raça negra: “Que farão essas criaturas do dom precioso da liberdade?” O único meio de pôr um termo às dúvidas que nos invadem então é de pensar nas consequências do contato dos negros com os brancos. Pense-se o que se quiser dos negros e da escravidão, sua perniciosa influência sobre os senhores não pode deixar dúvidas em ninguém. (Agassiz, 1869) Ina Von Binzer A professora alemã Ina von Binzer, ou Ulla von Eck como assinava, escreve em uma das suas cartas: “Estará certa essa manifestação de boa índole e seremos nós disciplinados demais?”. A pergunta é dirigida a sua amiga na Alemanha, com quem se correspondia relatando suas muitas frustrações nos anos em que morou no Brasil. Binzer é uma das viajantes que não possuía grande riqueza, e veio ao Brasil a trabalho: educar os filhos de um fazendeiro no Rio de Janeiro e depois trabalha em São Paulo, também lecionando. As cartas de Binzer são reunidas em 1887, em um livro intitulado Alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil, publicado em português apenas em 1956. Seus relatos são repletos de comentários um tanto cômicos sobre as dificuldades de educar crianças brasileiras com métodos alemães e alguns episódios típicos de choques de culturas. Um deles se passa na noite de São João de 1882, foguetes estouravam para todos os lados formando uma nuvem de fumaça que fatalmente entrava nas casas. Gente de todas as idades e estratos sociais estourava seus foguetes e estalinhos, muitas vezes das janelas em direção às ruas. Ela descreve com muito choque as senhoras elegantes empunhando os canudos dos foguetes e se divertindo muito, assim como os estudantes aparentemente inofensivos até o momento que cruzassem com uma senhora, sobretudo se fosse estrangeira, que seria prontamente aterrorizada com estouros mirados nos seus pés. Irritada, Binzer não compreende o fascínio dos brasileiros com a brincadeira, mas dirige seus lamentos apenas à amiga alemã, guardando para si as certezas sobre a falta de civilidade dos brasileiros.Diante da novidade que esses relatos podem representar, a romantização das figuras das autoras é quase inevitável. Porém, ainda que o enfrentamento das dificuldades das longas viagens e a publicação dos relatos sejam precedentes importantes, também é verdade que nos textos não há um discurso que indique uma militância nesse sentido, e que não os textos não possuem como um todo um diferencial de estilo ou conteúdo que possa ser justificado pelo gênero. No entanto, ainda que exista a conformidade com a literatura de viagem que já era publicada aos montes na Europa graças à internacionalização do comércio e industrialização da imprensa, a dificuldade de encontrar traduções, reedições ou estudos sobre esses relatos também aponta que eles em geral não recebem atenção equivalente, apesar do óbvio valor de registro histórico que possuem; Maria Graham é uma exceção. O estudo dos Agassiz, por exemplo, muitas vezes é referido como sendo apenas de Louis Agassiz, embora Elizabeth também seja uma pesquisadora de grande porte, tenha redigido, participado da expedição e tenha seu nome impresso no livro – nas primeiras edições, apenas Senhora Agassi. https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/2697 15 Historiadores famosos e suas impressões. Para Gilberto Freyre, a miscigenação era positiva. ... Para Freyre, o Brasil colonial apresentou uma sociedade que miscigenou e integrou africanos, índios e brancos, e era isso que teria formado uma raça mais forte, mais intelectualmente capaz e com uma cultura mais elaborada. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne. Muitos clérigos, dos outros, deixaram-se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho. Gilberto Freyre FREYRE, G., Casa-Grande & Senzala. Para Manoel Luiz Salgado Guimarães a Historiografia assume o lugar do que chamamos, hoje, de história da historiografia. “[...] o trabalho historiográfico nos impõe uma interrogação da memória e de suas artimanhas, voltadas para a sacralização dos objetos sobre as quais se debruça” GUIMARÃES,Luis Salgado,Op cit.,32 Henry Koster morava em Recife, mas sentindo-se bem da doença que tinha, resolveu fazer uma viagem pelo Nordeste brasileiro que levou cerca de quatro meses: de Pernambuco seguiu pela Paraíba e adentrou o Rio Grande do Norte até alcançar o Ceará; depois retornou à Pernambuco seguindo aproximadamente a mesma rota. “[...] Sertão do nordeste, do Recife a Fortaleza, em época de seca, viajando em ‘comboio’, bebendo agua de ‘borracha’, comendo carne assada, dormindo debaixo das árvores [...]” (KOSTER, 1942, p. 22). Caio Prado Júnior Na qualidade de um “historiador materialista”, sua análise da realidade brasileira tem uma perspectiva crítica e comprometida com a sua transformação. Essas considerações nos permitem entrever as importantes consequências de ordem prática e política que derivam de uma adequada análise e interpretação teórica do assunto. A caracterização do sistema econômico dominante na agropecuária brasileira, conforme se faça ou não no sentido de sua assimilação ao agrarismo feudal, leva respectivamente num e noutro caso a conclusões de ordem práticas essencialmente distintas e da maior significação. Não é por simples luxo teórico e preocupação acadêmica que estamos aqui insistindo nesse ponto e procurando mostrar o desacerto que consiste em interpretar a nossa economia agrária e as relações de produção e trabalho nele presentes como derivações, ou remanescentes de obsoletas e anacrônicas formas e estruturas feudais. Uma interpretação como essa leva naturalmente à conclusão e é realmente o que se tem verificado no caso da defeituosa teoria da revolução brasileira até hoje consagrada de que a luta dos trabalhadores rurais brasileiros teria essencialmente por objetivo a livre ocupação e utilização da terra que hoje trabalham a título de empregados da grande exploração. E se dirigiria assim no sentido da reivindicação dessa terra. Reivindicação essaque representaria, e de fato representa à luz daquela interpretação, a superação do feudalismo agrário ou o que dele sobrasse na atual conjuntura do campo brasileiro. (PRADO JÚNIOR, 1968, p.63). https://www.pensador.com/autor/gilberto_freyre/ 16 Literatura informativa\Relatos de viagem. O que se entende por literatura informativa sobre o Brasil? (FUVEST-SP) Entende-se por literatura informativa no Brasil: conjunto de relatos de viajantes e missionários europeus, sobre a natureza o homem brasileiro. a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI. Como podemos caracterizar a literatura informativa no Brasil? A Literatura de Informação corresponde aos textos de viagens escritos em prosa e fazem parte do primeiro movimento literário do Brasil: o Quinhentismo (1500-1601). Recebem esse nome pois são textos de caráter informativo os quais eram escritos com o intuito informar sobre as novas terras descobertas. Quais são os principais nomes da literatura informativa? Os principais autores do Quinhentismo são: • Pero Vaz de Caminha; • Hans Staden; • Padre José de Anchieta; • Padre Manuel da Nóbrega. Qual a função da literatura informativa? A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, consiste em relatórios, documentos e cartas que empenham-se em levantar a fauna, flora e habitantes da nova terra, com o objetivo principal de encontrar riquezas, daí o fato de ser uma literatura meramente descritiva e de pouco valor. Qual era o objetivo da literatura de informação? Literatura de informação é um segmento do Quinhentismo, o primeiro movimento literário ocorrido no Brasil, logo após a chegada dos colonizadores portugueses. Possui esse nome pois seu principal objetivo era informar o que ocorria na colônia portuguesa. ... A literatura de informação teve seu fim no começo do século XVII. Como os relatos diários de viagem foram importantes para a construção da história do nosso país? Até o século XIX, os relatos de viagem foram um importante meio de representação do "outro" e de países distantes. ... A partir de então, reiniciou a vinda de estrangeiros oriundos das mais diversas regiões do mundo e com os mais diversos interesses no país. 17 As novas abordagens e problemáticas da história do Brasil. Tão importante quanto o papel de um rei ou de um grande líder na visão tradicional da historiografia positivista por exemplo. Depois da nova forma de abordar a História com a escola dos Annales de Bloch e Fevre, todos os seres humanos são capazes de fazer história, deixando suas marcas no tempo em que vivem ou viveram, por isso, os Homens enquanto seres humanos, são completamente importantes para o estudo social da História como ciência segundo a Escola dos Annales A História é em primeiro lugar o exercício permanente de certo olhar, de certo espírito crítico, de certo “fazer” [...]. É lamentável, quando se vê que certas orientações da concepção de história, a meu ver essenciais, não penetraram de fato o território da história: a história- problema, a história aberta a outras ciências sociais, a história que não se encerra na narrativa. O que está em jogo me parece demasiado importante para que eu me resigne a essa situação. Sim, Lucien Febvre continua tendo razão, os “combates pela história” prosseguem. [...] nunca a pesquisa histórica esteve tão viva quanto hoje. Para mim, é o que conta. Por outro lado, a demanda intelectual e social da história também me parece crescente. Os historiadores não podem esquivar-se dela. (Le Goff, 1974) Trata-se de estabelecer uma história que banaliza as formas de representação coletivas e as estruturas mentais das sociedades, cabendo ao historiador a análise e interpretação crítica dos dados. São analisados globalmente os fenômenos de longa duração, os grandes conjuntos coerentes na sua organização social e econômica e articulados por um sistema de representações homogêneo. A nova história também recorre à antropologia histórica. Por sua definição abrangente do objeto da História, essa corrente também foi designada "História total", em contraste com as abordagens que privilegiam a política ou a "teoria do grande homem" de Thomas Carlyle e outros. A nova história rejeita a composição da História unicamente como narrativa e a valorização dos documentos oficiais como única fonte básica de pesquisa. Em contrapartida, considera as motivações e intenções individuais como elementos explicativos para os eventos históricos, mantendo a velha crença na objetividade. Hoje a historiografia é discutida em vários sentidos, principalmente no que se refere à visão ideológica dos historiadores. Fala-se muito em tipos de historiografia que se ajustam de acordo com a ideologia ou a nacionalidade. É o caso, por exemplo, da “historiografia marxista”, “historiografia conservadora”, ou “historiografia brasileira” e “historiografia francesa”, ou inglesa”, entre outras. https://pt.wikipedia.org/wiki/Representa%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Carlyle https://pt.wikipedia.org/wiki/Objetividade 18 REFERENCIAS BIBIBLIOGRÁFICAS. 1- Claudio Fernandes\ https://escolakids.uol.com.br/historia/o-que-e-historiografia 2- Elizabeth e Louis Agassiz , Viagem ao Brasil, 1869 3- Filipe figueredo\https://cursosapientia.wordpress.com/2016/05/04/cinco-fatos- sobre-varnhagen/ 4- FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala, 9º ed. Rio de Janeiro. José Olympio,1958. 2 vols. 5- GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e civilização nos trópicos. Estudos Históricos n° 1. Rio de Janeiro, FGV 1988. 6- https://conversadeportugues.com.br/2010/04/descobrimento-do-brasil-e-literatura- de-viagem/ 7- Ina von Binzer, Alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil, 1883 8- Juliana bezerra\https://www.significados.com.br/historiografia 9- KOSTER,Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. Tradução e prefácio: Luiz Câmara Cascudo.11.ed atual Recife. Fundação Joaquim Nabuco. Ed. Massangana. 2002. 2 volms. 10- Maria Graham, Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823, 1824 11- Wikipedia.org › Francisco Adolfo de Varnhagen https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/7133 https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/2697 http://200.144.255.123/Imagens/Biblioteca/YAN/Media/YANR958.pdf http://200.144.255.123/Imagens/Biblioteca/YAN/Media/YANR958.pdf https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Adolfo_de_Varnhagen https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Adolfo_de_Varnhagen https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Adolfo_de_Varnhagen
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