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1 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE POLITRAUMATIZADO APRESENTANDO CHOQUE HIPOVOLÊMICO: VISÃO INTRA HOSPITALAR NURSING PATIENT ASSISTANCE POLYTRAUMA PRESENTING HYPOVOLEMIC SHOCK: VISION INTRA HOSPITAL RESUMO Estudos realizados por Andrade et al (2001) dão conta de que o trauma provoca a morte de mais de 90 mil pessoas por ano no Brasil e faz com que mais de 200 mil apresentem sequelas. Um risco muito comum aos pacientes politraumatizados é o choque hipovolêmico, o qual deve ser reconhecido de imediato pelos profissionais de enfermagem e todas as medidas tomadas para que o mesmo seja freado. Para tanto, necessário se faz que estes profissionais saibam de todos os sintomas, bem como dos procedimentos a serem adotados para sanar o problema. Este artigo tem por objetivo, através de um estudo estritamente bibliográfico, demonstrar como se dá a assistência de enfermagem ao paciente politraumatizado apresentando choque hipovolêmico. PALAVRAS-CHAVE: POLITRAUMATIZADO. CHOQUE HIPOVOLÊMICO. ENFERMAGEM. ABSTRACT Studies by Andrade et al (2001) note that the trauma causes the death of over 90,000 people per year in Brazil and causes more than 200,000 present consequences. A common risk to patients with multiple trauma is the hypovolemic shock, which must be recognized immediately by nursing professionals and all measures taken so that it is braked. To this end, we have to these professionals know all the symptoms as well as the procedures to be adopted to remedy the problem. This article aims, through a strictly bibliographical study, demonstrate how is the nursing care for polytrauma patient with hypovolemic shock. KEYWORDS: POLYTRAUMA. HYPOVOLEMIC SHOCK. NURSING. INTRODUÇÃO Epidemiologicamente falando o trauma representa atualmente a terceira causa de morte mundial, estando tais dados diretamente relacionados com as 2 explosões demográficas e os altos índices de violência e falta de cuidado, principalmente no trânsito. Toda vítima de trauma é considerado parcialmente grave, uma vez que rapidamente várias partes do corpo poderão ser afetadas de forma rápida, colocando o paciente em risco de morte. Observa-se que apesar dos esforços no atendimento a vítimas politraumatizadas há um enorme índice de morbidade, principalmente se ocorrer choque hipovolêmico no decorrer do atendimento. Para que o atendimento aos pacientes politraumatizados seja feito de forma eficaz, necessário se faz que o profissional de enfermagem saiba exatamente o que deverá ser feito, principalmente nos casos de choque hipovolêmico. Conhecendo todo o processo os profissionais de enfermagem serão capazes de reconhecer e intervir em situações que representem risco iminente para as vítimas. 1 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM De acordo com Peduzzi (2001), a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) configura-se como uma metodologia para organizar e sistematizar o cuidado, com base nos princípios do método científico. Tem como objetivos identificar as situações de saúde-doença e as necessidades de cuidados de enfermagem, bem como subsidiar as intervenções de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo, família e comunidade. Ainda para o autor, ao se desdobrar em diferentes categorias profissionais, a enfermagem gera dificuldades para definição de um processo de trabalho único, tendo em vista que cada trabalhador executa uma parcela de trabalho com peculiaridades de desempenho. Meier (2004, p. 168) afirma ser o processo de enfermagem uma tecnologia, assim: Tecnologia de enfermagem compreende o conhecimento humano (científico e empírico) sistematizado, requer a presença humana, visa à qualidade de vida e se concretiza no ato de cuidar, considerando a questão Ética e o processo reflexivo. Os materiais e equipamentos requerem conhecimentos agregados para sua aplicação, sendo assim considerados, tecnologia de Enfermagem. 3 A avaliação cuidadosa e a intervenção imediata auxiliam o paciente no retorno rápido, seguro e o mais confortável possível para as suas atividades normais, cuidados contínuos na comunidade, por meio dos cuidados domiciliares, visitas clínicas, visitas de consultório ou acompanhamento telefônico, facilita uma recuperação sem complicações. 1.1 Etapas da sistematização De acordo com Almeida e Rocha (1993) a primeira etapa é a investigação ou coleta de dados, onde é feita uma investigação sobre o estado de saúde do paciente e a partir daí será possível fazer os diagnósticos de enfermagem (DE). Ela é de suma importância para o processo de enfermagem e constitui base para as demais etapas. A Investigação é dividida em duas subfases: coleta de dados e exame físico. É a partir da investigação que pode-se ter acesso de forma rápida às informações sobre o indivíduo que está sob os cuidados de enfermagem, auditar a prática de enfermagem e com isso identificar os acertos e erros no processo, qualificando a assistência prestada, bem como pesquisar em enfermagem pois, há qualidade e quantidade nos dados descritos. É o meio de comunicar as informações sobre o paciente aos outros profissionais da saúde (ALMEIDA E ROCHA, 1993). A segundo etapa, segundo Almeida e Rocha (1993) é o diagnóstico de enfermagem, o qual é reconhecido na definição da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) como “um julgamento clínico acerca das respostas do indivíduo, da família ou da comunidade aos problemas reais ou potenciais de saúde ou processos de vida”. No entender de Ursi e Galvão (2006, p. 395), “os diagnósticos de enfermagem (DE) constituem a base para a seleção de intervenções de enfermagem, para que se encontre os resultados pelos quais a enfermagem é responsável”. A terceira etapa é o diagnóstico de enfermagem, que segundo Almeida e Rocha (1993, p. 54) é “uma forma de expressar as necessidades de cuidados que identificamos naqueles de quem cuidamos”. 4 Em 1973 a NANDA publicou sua primeira lista de diagnósticos. A classificação proposta pela NANDA não é a única existente. Surgiram nas últimas décadas várias outras classificações, em diversos países, porém, no Brasil, é sobre ela que existem mais estudos e bibliografias publicadas (ALMEIDA E ROCHA, 1993). A quarta etapa é o planejamento da assistência de enfermagem, onde de acordo com Souza e Souza (2005) o planejamento de enfermagem pode ser descrito como a determinação do que pode ser feito para ajudar o paciente. Envolve metas e objetivos, o julgamento de prioridades e o desenvolvimento de métodos para a solução de problemas reais ou potenciais. O estabelecimento de metas e objetivos derivam dos DE e são estabelecidos para cada um dos diagnósticos listados. O plano é um documento redigido para as ações de enfermagem, com o objetivo de auxiliar o cuidador a prestar o cuidado de qualidade ao paciente. Deve ser discutido com o cliente e sua família as metas e objetivos, buscando assim alcançar os resultados traçados (SOUZA E SOUZA, 2005). Para Souza e Souza (2005), as metas podem ser pertinentes à reabilitação, à prevenção, à capacidade do cliente para adaptar-se aos estressores, entre outras. Os objetivos são determinados pelas metas e devem ser declarados em termos de comportamentos observáveis. Os comportamentos em questão referem-se às atividades psicológicas, fisiológicas, sociais, culturais, intelectuais ou outras, cujas respostas possam ser observadas. É importante ressaltar que o planejamento dever ser descrito em frases, levando em consideração as metas e objetivos, e estas frases devem conter um realizador (paciente), um realizado ( a ação) e uma mudança de comportamento a ser atingida ( objetivo). O plano de cuidados de enfermagem lida com problemas (DE) reais ou potenciais. As ações são baseadas em princípios científicos e em teorias de enfermagem.O planejamento nada mais é do que a prescrição dos cuidados de enfermagem, identificados pela enfermeira nos DE (SOUZA E SOUZA, 2005). O plano de ação é necessário porque ajuda no uso do tempo de maneira eficiente e organizada. Orienta a equipe para o cuidado qualificado, direcionado ao alcance das metas pré-definidas e contínuo a quem presta o cuidado. 5 A quinta etapa diz respeito à implementação da assistência de enfermagem, onde de acordo com Almeida e Rocha (1993) refere-se às ações iniciadas para a obtenção das metas e objetivos definidos. Ou seja, é a prestação dos cuidados de enfermagem, colocando em ação o plano de cuidados previamente definido e prescrito. A fase de implementação engloba todas as ações de enfermagem dirigidas à resolução dos problemas e as necessidades de assistência de saúde do paciente. As ações de enfermagem podem ser realizadas pela enfermeira que desenvolveu o planejamento, por outras enfermeiras, por auxiliares e técnicos de enfermagem e ainda pelo paciente ou sua família. Para Almeida e Rocha (1993) ao planejar e implementar as ações de enfermagem, é importante considerar o conjunto de consequências, que podem ser tanto positivas quanto negativas. O conhecimento das consequências é um aspecto importante nessa fase, a qual está completa quando as ações de enfermagem são finalizadas e os resultados são registrados em relação a cada diagnóstico e seu devido planejamento. Não é necessário que o resultado obtido seja definitivo, isto é, depende do tempo que foi estipulado no planejamento, para o cumprimento das metas. A sexta etapa é a avaliação, onde de acordo com Almeida e Rocha (1993) é a estimativa das modificações comportamentais do paciente resultante das ações de cuidado. Apesar da avaliação ser considerada a fase final, ela frequentemente não termina o processo, podendo levar a reinvestigação, replanejamento, que pode resultar em um novo processo de enfermagem, não na sua integridade, mas em parte dele onde não houveram mudanças comportamentais significativas às ações planejadas ou implementadas (ALMEIDA E ROCHA, 1993). As questões a serem levantadas na avaliação são: Foram preenchidas as metas e os objetivos? Houveram modificações visíveis no comportamento do cliente/paciente? Sim. Por quê? Não. Por que não? De acordo com Almeida e Rocha (1993) essas questões ajudam a enfermeira determinar se foram resolvidos os problemas e quais ainda devem ser reinvestigados ou replanejados. A enfermeira e o paciente são responsáveis pela avaliação dos resultados. 6 2 POLITRAUMATISMO De acordo com Andrade et al (2001), no Brasil o trauma provoca a morte de mais de 90 mil pessoas por ano e faz com que mais de 200 mil apresentem sequelas, uma vez que em pessoas com menos de 45 anos de idade é a primeira causa de mortalidade. Segundo Farage et al (2002), o trauma pode ser descrito como “qualquer agressão que acarrete lesão anatômica, comprometimento funcional ou ambos”. Por envolver o córtex cerebral, o tronco cerebral ou os nervos cranianos o mesmo causa problemas motores, falta de coordenação motora, ataxia, espasticidade ou hipertonia, rigidez, dentre outros. Costa (2009, p. 52) define paciente politraumatizado como: O indivíduo vítima de traumatismo de média e grande intensidade que atinja no mínimo dois compartimentos corporais representados por crânio, tórax, abdome, coluna vertebral e extremidades exigindo necessidade imperiosa de intervenção cirúrgica com objetivo de salvar a vida ou recuperar funções orgânicas bem como do aparelho locomotor. Ainda de acordo com o autor, para um atendimento eficaz necessário se faz que haja uma avaliação rápida e sistemática das lesões, sendo as medidas terapêuticas aplicadas de imediato. Andrade et al (2001) afirma que a avaliação inicial deve consistir de: exame primário ou reanimação, medidas auxiliares ao exame primário e reanimação, exame secundário, reavaliação e cuidados definitivos. No exame primário devem ser priorizados: vias aéreas com proteção da coluna cervical, respiração e ventilação, circulação com controle da hemorragia, avaliação neurológica e exposição controle ambiente (ANDRADE et al, 2001). Os passos a serem seguidos, de acordo com os autores chamam-se ABCD do trauma, sendo que as primeiras letras definem cada passo do procedimento com os nomes em inglês, assim, de acordo com o quadro abaixo pode-se observar: PASSOS DEFINIÇÃO Passo A (Airway) Avaliação de vias aéreas com controle cervical 7 Passo B (Breathing) Avaliação da respiração (existência de qualidade) Passo C (Circulation) Avaliação da circulação com controle de hemorragias Passo D (Disability) Avaliação do estado neurológico Passo E (Exposure) Quadro 1: Passos da abordagem primária ABCD Fonte: Manual de defesa civil do estado do Paraná, 2007. A reanimação é descrita por Beserra et al (2008) como sendo o momento de identificar os riscos o mais rápido possível e monitorá-los, observando se há indícios de parada respiratória e se preciso for fazer compressões no tórax. A avaliação secundária de acordo com os autores é a que tem por finalidade verificar se há lesões por todo o corpo, os quais não foram vistos no exame primário, devendo o mesmo ter início logo após a finalização da abordagem primária. O tratamento definitivo é desenvolvido em unidade hospitalar logo após a identificação das lesões e tratamento emergencial das mesmas. 3 CHOQUE HIPOVOLÊMICO E A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM De acordo com dados do Ministério da Saúde (2012), a maioria dos indivíduos atendidos em urgência e emergência com politraumatismo evoluíram com choque hipovolêmico e foram a óbito sem que o mesmo fosse identificado. Cecil (2008, p. 48) descreve o choque hipovolêmico como sendo: Uma condição clínica em que o sistema cardiovascular fica impossibilitado de manter a perfusão tecidual adequada, causando graves danos ao metabolismo celular. A demora no seu reconhecimento e tratamento predispõe a falência múltipla dos órgãos e a morte. Assim sendo, necessário se faz que o profissional de enfermagem tenha conhecimentos suficientes para que o mesmo seja capaz de identificar tal situação, fazendo com que a vida do paciente seja preservada. Para Cecil (2008, p. 438) a hemorragia é a maior causa de choques hipovolêmicos, principalmente nos órgãos internos, já o choque não hemorrágico “pode ocorrer por diarréia de difícil controle, poliúria, queimaduras extensas e desidratação”. 8 Afirma o autor que para um atendimento eficaz é necessário identificar o choque precocemente e fazer uma estabilização hemodinâmica, sendo de suma importância que o profissional de enfermagem faça a compressão da lesão e alinhe o membro em caso de fraturas para assim controlar o sangramento, evitando o choque. Cecil (2008) atenta para o fato de que a gravidade do choque será determinada pela quantidade de sangue perdido, devendo-se observar a perda sanguínea e dar início ao tratamento adequado, bem como avaliar a resposta volêmica. Andrade et al (2001) registra a importância do profissional de enfermagem em identificar os sinais de choque hipovolêmico, onde devem ser observados se o paciente encontra-se em estado de ansiedade, seguido de confusão mental. No caso de hemorragias observar se a pele está pálida e fria, o que seria um sinal de que os mecanismos compensatórios do organismo do paciente estariam reagindo, no intuito de garantir a condução de sangue para órgão como o coração, cérebro e pulmão. Igualmente importante de acordo com Andrade et al (2001) é observar a sensibilidade à isquemia, caso ocorra e o processo não seja revertido o paciente apresentará queda de pressão, aumento da retenção de sódio e água pelos rins. Para o autor: A hipoperfusão decorrente mecanismo compensatório muda o metabolismocelular o aeróbico para o anaeróbico, provocando diminuição de energia necessária para a atividade celular. A permeabilidade da membrana celular fica alterada, favorecendo a entrada de sódio e água na célula, levando potássio e ácido lático para o sangue. A partir daí, a acidose metabólica se instala, juntamente com o edema celular. A célula comprometida se rompe e libera lisozima, esta por sua vez, induz a um processo de autodigestão celular, causando a morte celular, e posteriormente, a falência de múltiplos órgãos, levando o paciente a morte. É preciso que o profissional de enfermagem atente para o fato de que alguns fatores podem confundir a identificação dos sinais de choque, o que poderá provocar a morte do paciente, sendo assim necessário se faz que o profissional de enfermagem realmente tome consciência de todos os sintomas que podem representar perigo para o paciente no que diz respeito ao choque hipovolêmico. 9 Para Carpenito (2002) no que diz respeito à fisiopatologia, pode-se afirmar que quando ocorre a hemorragia o corpo humano ativa quatro sistemas fisiológicos: hematológico, cardiovascular, renal e neuroendócrino. Ao fazer isso o sistema hematológico contrai os vasos da hemorragia e ativa as plaquetas; o sistema cardiovascular estimula o sistema nervoso central, momento em que há um aumento da freqüência cardíaca e vasoconstrição periférica; os rins tendem a absorver uma maior quantidade de sódio e água; o sistema neuroendócrino faz com que haja um aumento de reabsorção de água e sal. Não só essas manifestações clínicas são observadas, podendo também de acordo com o autor serem observados psiquismo, alterações na pele , circulação e respiração. Carpenito (2002) atenta para o fato de que no psiquismo observa-se uma apatia precedida de angústia e agitação, por parte do paciente. A pele poderá ficar fria, principalmente nas extremidades, pálida, com turgor cutâneo diminuído. A pulsação fica rápida, fraca e irregular, podendo ocorrer hipotensão sistólica e diastólica, bem como pressão venosa central baixa. A respiração torna-se curta, irregular e rápida. 10 Figura 1: Choque hipovolêmico Fonte: Cecil, 2008. Segundo Cecil (2008) nos casos de necessidade de sedação do paciente é fundamental que o profissional de enfermagem conheça as ações e efeitos colaterais da droga a ser utilizada. A reposição volêmica é feita por meio da infusão de soluções intravenosas como ringer lactato e soro fisiológico 0,9%. Ao instalar os dois acessos venosos periféricos, é necessário atentar para o calibre dos cateteres periféricos (14G ou 16G), sempre na região antecubital. O controle do débito urinário é um parâmetro essencial de resposta ao tratamento do choque, sendo importante que o profissional de enfermagem realize a sondagem vesical de demora (SVD) assim que possível (CECIL, 2008, p. 458). Igualmente importante de acordo com o autor são os exames laboratoriais, os quais devem ser coletados pelo profissional de enfermagem e observados os resultados para que não ocorra o agravamento do quadro e consequente morte do paciente. Outro fator importante para Cecil (2008) é a monitorização dos sinais vitais, nível de consciência, aquecimento do paciente e ministrar drogas inotrópicas e vasoativas. Como forma de tratamento Carpenito (2002) cita a necessidade de se restaurar o volume vascular, redistribuir o volume hídrico e corrigir a causa básica. Cecil (2008) afirma que no tratamento de causa básica a primeira coisa a ser feita é interromper a hemorragia o mais rápido possível, senão através da compressão do local utilizando-se a cirurgia. Em caso de hipovolemia por diarréia ou vômito deverá ser ministrado medicamento. Nos casos de reposição hídrica e sanguínea o primeiro passo, de acordo com o autor, é colocar dois acessos intravenosos, os quais servirão como meios a serem utilizados para administrar líquidos e derivados do sangue. Ringer lactato e cloreto de sódio: são líquidos cristalóides, isotônicos, que se deslocam livremente entre os compartimentos líquidos do corpo, não permanecendo no sistema vascular. Colóides: albumina e dextran a 6 %. O dextran não é indicado se a causa do choque hipovolêmico for hemorragia, pois ele interfere com a agregação plaquetária. E a albumina, expande rapidamente o volume plasmático, porém depende de doadores humanos. Derivados do sangue: só podem ser usados se a causa do choque for uma hemorragia. A papa de hemácia é dada para melhorar a capacidade de transporte de oxigênio do paciente e juntamente com outros líquidos que 11 irão expandir o volume. Auto transfusão: coleta e retransfusão do próprio sangue do paciente, e pode ser realizada quando o paciente está sangrando para dentro de uma cavidade fechada, como tórax ou abdome (CECIL, 2002, p. 479). No que diz respeito à redistribuição de líquidos o paciente deve ser posicionado de forma correta, elevando-se as pernas do mesmo, onde o retorno venoso será beneficiado, conforme Cecil (2002). Em caso de hipovolemia por desidratação deverão ser prescritos medicamentos, por exemplo, insulina, bem como medicamentos para diarréia e vômito. Nos casos de choque hipovolêmico, segundo Cecil (2002), o profissional de enfermagem deverá remover imediatamente o que está causando o choque hipovolêmico, estancar a hemorragia, repor o volume de líquidos, em caso de hemorragia grave fazer transfusões de sangue, fornecer aporte calórico, reposição hídrica oral, observar a pressão venosa jugular. Cecil (2008), no que diz respeito à resposta hipovolêmica, afirma que são de três tipos: resposta rápida, resposta transitória e resposta mínima ou ausente. A resposta rápida ocorre com um pequeno número de pacientes, os quais respondem rapidamente à reposição volêmica, permanecendo com os sinais vitais normais, ocorrendo normalmente com perdas volêmicas menor do que 20%. A resposta transitória abrange pacientes que tiveram uma perda volêmica de 20 a 40%, à medida que se reduz a velocidade de infusão, a perfusão periférica piora, fazendo com que os sinais vitais e a diurese se alterem, o que significa sangramento persistente ou reanimação inadequada. No caso da resposta mínima ou ausente, a mesma ocorre em uma pequena porcentagem de pacientes, indica um forte sangramento ou falência do coração. Para reanimação é necessário intervenção cirúrgica. Para Cecil (2008), o choque é uma característica grave e denota perigo de vida, assim sendo, todo paciente politraumatizado que se encontrar na sala de emergência com sintomas de palidez ou frio e com taquicardia, deve ser encarado como um paciente em choque e tratado como tal. O tratamento deve se basear no Choque Hemorrágico, pois perfaz 90% dos estados de choque, então inicia-se a infusão de líquidos em bolo e rapidamente. 12 O objetivo do tratamento do Choque é restabelecer a perfusão orgânica e a oxigenação tecidual, avaliadas posteriormente pela normalização do débito urinário, da função do sistema nervoso central, da cor da pele, da freqüência cardíaca e respiratória, e da pressão arterial. De acordo com Cecil (2008), quando o doente não responde ao tratamento, considere a possibilidade de existir perdas volêmicas não reconhecidas, Choque Cardiogênico-Tamponamento Cardíaco, Contusão Miocárdica, IAM ou Pneumotórax Hipertensivo; Choque Neurogênico ou Distensão Gástrica. Nestes casos a reavaliação do paciente deve ser constante e o diagnóstico do tipo e da gravidade do Choque deve ser reconsiderado. O choque hipovolêmico pode ser caracterizado por quatro estágios, de acordo com Cecil (2008), conforme quadro abaixo: Quadro 2: Classificação do choque hipovolêmico Fonte: Cecil (2008). 13 Na classe 1 estão enquadrados os pacientes com perda sanguínea de até 750 ml, ou seja, até 15%, com freqüência cardíaca menorque 100, pressão arterial e preenchimento capilar normais, débito urinário 30 ou mais ml/hora, estado mental ligeiramente ansioso, fluidoterapia crislalóide (CECIL, 2008). Na classe 2 estão enquadrados os pacientes com perda sanguínea entre 750 e 1500 ml, ou seja, entre 15 e 30%, com freqüência cardíaca menor que 100, pressão arterial normal e preenchimento capilar diminuído, débito urinário entre 20 e 30 ml/hora, estado mental moderadamente ansioso, fluidoterapia crislalóide (CECIL, 2008). Na classe 3 estão enquadrados os pacientes com perda sanguínea entre 1500 e 2000 ml, ou seja, entre 30 e 40%, com freqüência cardíaca menor que 120, pressão arterial diminuída e preenchimento capilar diminuído, débito urinário entre 5 e 15 ml/hora, estado mental ansioso confuso, fluidoterapia crislalóide colóide (CECIL, 2008). Na classe 4 estão enquadrados os pacientes com perda sanguínea maior que 2000 ml, ou seja, maior que 40%, com freqüência cardíaca menor que 140, pressão arterial diminuída e preenchimento capilar diminuído, débito urinário praticamente ausente, estado mental confuso letárgico e fluidoterapia crislalóide colóide (CECIL, 2008). CONCLUSÃO Por ser o politraumatismo uma das maiores causas de morbidade mundial, necessário se faz que os profissionais de enfermagem tenham conhecimento de todo procedimento a ser adotado nestes casos, principalmente quando os mesmos envolverem choque hipolovêmico. Os pacientes quando recebem atendimento inicial de forma correta e rápida têm sua sobrevida aumentada significativamente, onde deve ser utilizado o método ABCDE como atendimento pré hospitalar, e posteriormente dar-se-á continuidade à assistência através de avaliação secundária da vítima. No que diz respeito ao choque hipovolêmico, necessário se faz que os profissionais de enfermagem tenham conhecimento suficiente para um atendimento eficaz, onde o seu reconhecimento precoce é determinante para corrigir as disfunções por ele provocadas e salvar a vida do paciente. 14 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. C. P.; ROCHA, U. S. Y. O saber da enfermagem e sua dimensão prática. São Paulo: Cortez, 1993. ANDRADE, A. F., MARINO, R. J., MIURA, F. K., CARVALHAES, C. C., TARICO, M. A., LÁZARO, R. S. Diagnóstico e conduta no paciente com traumatismo cranioencefálico leve. Sociedade Brasileira de Neurocirurgia; 2001. Projeto diretrizes da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. BESERRA. R. 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