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Faculdades João Paulo II Curso de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania Prof.: Alexandre G. Maluf Acadêmicos: Bruna Lopes, Diego Prates, Gabriela Schramm, Thalya Ghisio, Ingridh Dier. Sumário Introdução ......................................................................................................................... 1 Biografia do autor ............................................................................................................. 2 Contexto histórico ............................................................................................................. 2 Estilo literário ................................................................................................................... 2 Análise de Bartleby (a negação) ....................................................................................... 3 Análise do advogado (a compaixão) ................................................................................ 4 Introdução O escrevente trata-se de um conto remetendo ao estilo literário absurdista referindo-se às ideias e preposições sem sentido. O conto traz a história de um simples e confiável escritório de advocacia situado na famosa Wall Street, comandado pelo advogado e que é o narrador da história que emprega dois copistas, Nippers e Turkey, e o officie boy Ginger Nut. Mesmo com a divisão de trabalho entre seus funcionários, com a demanda de cópias a serem feitas o trabalho aumenta levando o advogado a publicar um anúncio procurando um terceiro copista, é quando Bartebly aparece disposto a assumir o cargo. O advogado aparentemente desesperado, o contrata. De início Bartebly demonstra-se um funcionário excelente, executando suas tarefas com calma e maestria, trabalhando pelo dois outros copistas, por assim dizer, revelando-se eficiente e interessado, como se tivesse sede de trabalho. Certo dia, o narrador pede a Bartebly que o ajudasse a conferir alguns documentos, quando o jovem simplesmente responde: “Preferia não”, sendo essa a primeira de muitas recusas de pedidos que a ele foram solicitados sempre seguido da mesma resposta “Preferia não”. Biografia do autor Herman Melville nasceu em 1º de agosto de 1819 em Nova York, em uma família de origens inglesas e holandesa, em 1830 o pai de Melville veio a falecer e ele teve que largar os estudos aos 15 anos para auxiliar no sustento da família, tendo várias ocupações como bancário, vendedor de peles na loja de seu irmão, professor e colono. Passou 5 anos da sua vida em viagens, trabalhando em navios e escrevendo alguns livros, sendo entre eles. As histórias de aventura de Taipi (sua primeira obra) que lhe rendeu sucesso imediato e um vasto público. Em 1847 casou-se e mudou-se para uma fazenda, no estado norte-americano de Massachusetts, onde começou a escrever Moby Dick, considerado por inúmeros estudiosos como um dos romances mais importantes da literatura ocidental. Nos seus últimos anos de vida, Melville abandonou a escrita em prosa (assim como abandonara a ideia de uma carreira bem-sucedida de escritor), dedicando-se apenas a versos, incluindo poemas sobre busca religiosa. Morreu em Nova York, sua cidade natal, em 28 de setembro de 1891, deixando alguns manuscritos incompletos. Contexto histórico A história se passa em nova Iorque, na metade do século 19, ano 1850, em uma rua chamada Wall Street (rua de muro), que é um lugar um tanto quanto estranho, pois ao mesmo tempo que é uma rua cheia de pessoas obcecadas pelo trabalho, é também o símbolo do capitalismo financeiro. Naquela época era comum o emprego de pessoas que faziam cópias a mão de documentos, pois não existiam máquinas copiadoras. Bartleby trabalha nessa rua de lógica torta: a rua que possibilitou que tantos ricos preferissem não fazer mais as coisas, não mais lidar com funcionários, não mais produzir. O advogado do conto chega a dizer que "nada irrita mais uma pessoa honesta do que a resistência passiva", e por conta dessa resistência, alguns críticos chegam a comprá-lo a Gandhi (principal personalidade da independência da Índia, então colônia britânica. Ganhou destaque na luta contra os ingleses por meio do seu projeto de não violência) Estilo literário: Absurdismo O absurdo é o termo literário usado para definir o que fica depois de nós nos perguntamos qual o sentido da existência, este termo está relacionado com existencialismo francês- que para os filósofos existencialistas prega que o ser humano possui liberdade incondicional- essa linha filosófica diz que há uma tendência humana de buscar o significado da vida, gerando um conflito, já que seria “humanamente impossível” de encontra-lo. Ele é ao contrário, resultado da contrariedade inerte ao convívio do espírito com o mundo. Contando com alguns principais escritores que aderiram a essa teoria absurdista para escrever suas obras, entre eles estão: Albert Camus, escritor, filósofo e romancista, famoso por sua obra “O estrangeiro” seu trabalho baseava- se na consciência do absurdo da condição humana e na revolta como uma resposta para esse absurdo. O universo de Camus, é um mundo feito de despropósitos, onde nada tem valor ou sentido. Franz Krafka, que para ele o absurdo consistia na incomunicabilidade do homem com o homem, formando relações pessoais “sem” sentido impostas por circunstâncias alheias ao homem. O sentido da vida: De acordo com o absurdismo, os homens têm tentado encontrar o sentido para suas vidas ao longo de toda a sua história. Esta busca costumava a resultar um uma das duas conclusões: ou que a vida não tem sentido, ou a vida contém nela um propósito definido por uma força maior, uma crença em Deus, ou a aderência a alguma religião ou outro conceito absurdo. Ilusão: Camus percebe que se preencher a falta de alguma crença é um ato e ilusão; isto é, evitar contornar ao invés de reconhecer e abraçar o absurdo. Para Camus a ilusão é uma falha fundamental na religião, no existencialismo. Se o indivíduo escapa do absurdo, então ele não poderá confronta-lo. Deus: Camus, sugere que acreditar em Deus é “negar um dos termos de contradição’’ entre a humanidade e o universo (portanto não-absurdo). Sentido pessoal: Para Camus, é a beleza que as pessoas encontram na vida que a faz valer a pena. As pessoas podem criar um sentido para suas vidas, que não pode ter um sentido filosoficamente objetivo, mas ainda assim pode prover algo pelo que lutar. Entretanto, que deve sempre manter uma distância entre esse significado inventado e o conhecimento do absurdo, de formaque o significado não tome o lugar do absurdo. Análises de Bartleby Bartleby era um sujeito misterioso, sem pistas sobre o seu passado. Tudo o que sabemos sobre ele é o que o narrador nos apresenta, baseando-se no que viu e conheceu dele. Ao abrir uma oportunidade de emprego para o cargo de copista em seu escritório, o narrador recebe a candidatura de “um jovem quieto […], figura pouco arrumada, apresentada de forma lamentável […] um homem cujo aspecto era de uma sobriedade tão particular […]”. No decorrer da trama, Bartleby muda de um estado produtivo de trabalho para um estado gradativo de recusa das atividades, com a simples frase: “prefiro não fazer”. Com o aprofundamento do processo, o narrador acaba por se afastar fisicamente de Bartleby. Com o tempo, Bartleby é designado à prisão, e, por fim, vem a falecer. No final da trama, o narrador relata um boato que veio a escutar sobre o passado do escrivão: ele era um ex- funcionário de um departamento de “cartas perdidas” e, através dele, muitas histórias, sem encontrar seu destino, se perdiam para sempre. Neste contexto, Carolina Ponzi traz uma reflexão importante sobre dois estados patológicos da mente humana, onde a analogia com a obra de Melville ajuda no processo de compreensão dos mesmos.O primeiro estado seria a melancolia, transtorno conhecido desde Hipócrates, porém de difícil identificação, podendo ser confundido com depressão ou estado de luto. Para Freud, as principais demonstrações sintomáticas da Melancolia são desânimo, perda de interesse pelo mundo externo, o que envolve a cessação e quaisquer atividades; perda da capacidade de amar, diminuição dos sentimentos de autoestima. O segundo estado seria a Síndrome de Cotard, descrita em 1880 pelo psiquiatra Jules Cotard. Também conhecida como Delírio de Negação, possui como sintomas são a negação do corpo, seus órgãos são descritos como inexistentes, podres ou extraídos, usualmente; dos objetos fora do campo de visão do paciente; ou também do mundo a sua volta, é comum que afirmem a inexistência de amigos, familiares ou de quaisquer outros objetos ligados ao mundo externo. Conforme relato do narrador: “Imagine um homem que é, por natureza ou má sorte, sujeito a uma triste desesperança; poderia algum emprego parecer mais adequado para aumentá-las [...]” Análises do advogado Ao contratar um novo copista para seu escritório, o advogado de sessenta nãos não imagina sequer por um segundo como seria confrontado posteriormente, no âmbito de suas crenças e valores. Logo na primeira negação que Bartleby faz ao seu chamado, ele fica perplexo e consternado, mas teve algo que o impediu de colocar Bartleby para fora do escritório. Um sentimento muito estranho e que ele não podia compreender. Mesmo que a tarefa a ser desempenhada pelo escrevente fosse legítima se ele a fizesse. Na segunda tentativa de obter ajuda de Bartleby, ele começa a duvidar de sua petição (se era realmente comum, legítima, aceitável), então convoca os outros funcionários para com ele reforçar o tom razoável de seu pedido, e que nada tinha de ofensivo para merecer ser recusado. Com a atitude Bartleby, o advogado começa a pôr em xeque suas crenças sobre si mesmo, se é um homem bom realmente, se ele é contido e não se deixa levar por tentações de acessos de raiva. Voltando ao escritório quando Bartleby não estava mais lá e examinando como as coisas estavam dispostas no escritório, deu-se a entender que o copista havia feito do local de trabalho o seu próprio domicílio. O prédio que durante a semana era muito movimentado, aos domingos, no entanto, era silencioso e solitário de se ficar, o advogado fica muito constrangido e com dó da situação em que Bartleby se encontrava. Diante de tamanha calamidade humana, o advogado é tomado por um sentimento jamais vivido anteriormente. Naquele momento teve uma afinidade com Bartleby, o advogado viu que ambos eram nada mais que humanos, dignos de amor fraterno e compaixão, e viu que Bartleby não recebia de ninguém tais sentimentos, talvez fosse este um dos motivos de ser assim. A partir deste momento, o advogado revela um turbilhão de sentimentos e reflete sobre o que sente a respeito de Bartleby: ora melancolia e piedade, ora medo e repulsa. Melancolia e piedade por se sensibilizar com a condição quase desumana desse homem e medo e repulsa de si mesmo por não conseguir levar uma ajuda efetiva à ele, visto que o que se passava com Bartleby o material já não podia suprir, era sua alma que sofria, e essa o advogado não conseguia atingir. Para pôr um fim aos desconfortáveis boatos que surgiram em decorrência da estadia permanente de Bartleby no escritório, o advogado decide deixar o local e alugar uma nova sala. Essa decisão de “abandonar” o escrevente deixava cada vez mais o advogado com peso na consciência. Mas por que razão? Porque a situação de Bartleby incomodava tanto o advogado? Por acaso ele ainda era seu empregado ou alguém responsável por ele? O escrevente se negava dia após dia se retirar do local. A atitude de ele mesmo se retirar parecia razoável, mas a ideia de deixa-lo ali, sem nada ao redor, e sabendo que ele não se retiraria por conta própria e ficaria como se fosse o único móvel que havia sido deixado para trás, era uma ideia desumana demais. Era esse o peso na consciência do advogado. Bartleby não era mais seu empregado, ele era nada além de outro homem, um ser humano. O advogado, num ato de compaixão, até cogita levar o escrevente para morar em sua própria casa para tirá-lo dessa situação. A maioria de nós não quer se envolver com alguém que não significa nada para nós, um estranho. Mas existe uma questão: há alguém, realmente, que não signifique nada para nós? O advogado recorda uma passagem bíblica que diz “um novo mandamento vos dou: que amem uns aos outros”. O significado da história possivelmente seria o de que quando se ama o outro é o que faz o homem ser humano de verdade. Essa história é sobre o amor que um homem deve ao outro apenas pelo fato de ele ser humano e não um animal. Se trata da bondade que muitas vezes podíamos oferecer, mas recusamos. Esse sentimento que nos toma quando vemos alguém em apuros, sentimos que devemos ajudar, mas temos o impulso de virar as costas para resolver nossos problemas, damos a desculpa de que não temos tempo. Este é um problema tremendamente importante, não só para o advogado, mas para todos nós. É um dos grandes problemas da humanidade. Este conto reflete o desespero e o desprezo pela hipocrisia humana e pelo materialismo que o possuí cada vez mais a nossa sociedade. Embora dissesse a si mesmo que havia feito de tudo para solucionar o caso de seu antigo funcionário, o advogado ao final sente que poderia ter feito mais por ele.
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