Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 A entrevista no contexto da avaliação psicológica Luzia de Miranda Meurer – luziameurer@gmail.com Avaliação Psicológica Instituto de Pós-Graduação - IPOG Florianópolis, SC, 30 de junho de 2017 Resumo Este trabalho apresenta uma pesquisa que teve como objetivo discutir o papel da Entrevista no processo da Avaliação Psicológica. Pesquisadores da área da Avaliação Psicológica têm evidenciado crescente interesse em aperfeiçoar seus construtos teóricos e os instrumentos de testagem no sentido de assegurar a qualidade das técnicas e recursos psicológicos utilizados. Dentre as técnicas utilizadas nos processos de avaliação psicológica, encontra-se a Entrevista. Denota-se que neste estudo, interessa-se particularmente pela Entrevista Psicológica. A pergunta de partida que norteou este estudo consiste em esclarecer se a Entrevista apresenta confiança e qualidades que possam contribuir com a elucidação dos fenômenos psicológicos no contexto da avaliação psicológica. De acordo com os teóricos que tem dedicado suas pesquisas nesta direção têm-se demonstrado evidências teóricas e empíricas que justificam o emprego da Entrevista como técnica válida a ser utilizada nos diversos contextos de atuação da(o) psicóloga(o) e em específico no processo de Avaliação Psicológica, no qual são utilizados os testes psicológicos e outros recursos como a observação sistêmica. De acordo com sua classificação, esta pesquisa se caracteriza, quanto à sua natureza como aplicada por objetivar gerar conhecimentos para aplicação prática, quanto à abordagem do problema, como qualitativa por compreender um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados, quanto ao objetivo, como descritiva por estabelecer relações entre variáveis, os procedimentos técnicos foram caracterizados como pesquisa bibliográfica por utilizar materiais já publicados. Os resultados encontrados indicam que no campo da Avaliação Psicológica psicólogas(os) têm se utilizado da técnica da Entrevista como um instrumento indicado e apropriado para elucidar os fenômenos psicológicos que são avaliados nos diversos contextos como a clínica, educacional, orientação vocacional, organizacional, forense e da saúde. Neste sentido, as evidências têm indicado que a Entrevista pode contribuir efetivamente em assegurar a qualidade do trabalho no processo da Avaliação Psicológica. Palavras-chave: Avaliação Psicológica. Entrevista Psicológica. Testes Psicológicos. 1. Introdução Psicólogas(os) atuantes na área da Avaliação Psicológica têm enfrentado diferentes desafios com o crescente desenvolvimento e atualização, indicando o caminho da permanente discussão de temáticas referentes tanto à prática quanto à formação das(os) psicólogas(os). A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 Esta área é um campo de atuação baseado no método científicos, que se apoia em diferentes recursos para promover uma compreensão mais completa do indivíduo. Entre as principais práticas deste processo estão a coleta de informações por meio de instrumentos psicológicos e diversas formas de medida para averiguar dimensões específicas do sujeito, do seu ambiente e da relação entre eles. A utilização da Entrevista é usual no exercício profissional da(o) psicóloga(o). No entanto, apesar de usual, a entrevista é um instrumento que apresenta diversas possibilidades e recursos e pode ser utilizada de diversas formas, como por exemplo, seu uso e aplicação está diretamente influenciado tanto pelo contexto da atuação psicológica quanto pela abordagem teórica do profissional. Diante da diversidade de possibilidades deste recurso, este estudo contemplou investigar a Entrevista Psicológica no contexto da Avaliação Psicológica devido ao interesse em se aprofundar o tema diante de uma pós-graduação em Avaliação Psicológica. Neste sentido, este estudo teve como objetivo discutir o papel da Entrevista no processo da Avaliação Psicológica. Para tanto, utilizou-se de uma pesquisa bibliográfica, na qual os dados utilizados para este trabalho foram coletados em livros, artigos científicos, cartilhas e resoluções do Conselho Federal de Psicologia. O trabalho investigativo apresenta como pergunta de partida: A Entrevista apresenta confiança e qualidades que possam contribuir com a elucidação dos fenômenos psicológicos no contexto da avaliação psicológica. Este artigo aborda a relevância da entrevista no contexto da avaliação psicológica. Para tanto, inicialmente são apresentadas reflexões sobre avaliação psicológica e entrevista enquanto ferramenta de elucidação no processo de avaliação. Neste sentido, são abordados conceitos de entrevista, suas finalidades, a entrevista enquanto um processo, as habilidades interpessoais da(o) psicóloga(o) na sua condução, bem como recomendações à(ao) psicóloga(o) que busca acessar este sujeito: o examinando. 2. Fundamentos téoricos da Entrevista no contexto da Avaliação Psicológica Gil (2010) delineia a classificação das pesquisas e, por sua vez, de acordo com este autor, esta pesquisa classifica-se, quanto à sua natureza como aplicada por objetivar gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Quanto à abordagem do problema, como qualitativa “por se tratar de um conjunto de práticas interpretativas de investigação, principalmente por proporcionar um espaço para discussão” (ESTEBAN, 2010: 127). Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. (NEVES, 1996). Quanto ao objetivo, como descritiva, buscando correlacionar os dados obtidos. A pesquisa descritiva, de acordo com GIL (2010) tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relação entre variáveis. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). Os procedimentos técnicos foram caracterizados como pesquisa bibliográfica por utilizar materiais já publicados em livros, artigos científicos e fontes do Conselho Federal de Psicologia. Uma das vantagens da pesquisa bibliográfica é o A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 fato dela permitir ao investigador a cobertura de uma série de fenômenos de forma mais ampla do que outra qualquer que poderia pesquisar diretamente (GIL, 2010). A Entrevista Psicológica (doravante EP) é um instrumento de trabalho e pesquisa da(o) psicóloga(o) de reconhecido valor na sua atuação profissional em diferentes abordagens teóricas e contextos de trabalho. Este trabalho apresenta uma pesquisa que teve como objetivo discutir o papel da Entrevista no processo da Avaliação Psicológica. Em revisão à literatura da área de Avaliação Psicológica (doravante AP), identifica-se que a preocupação com a qualidade psicométrica dos instrumentos vêm expressa em muitos anos tanto em nível nacional quanto internacionamente. Pesquisadores brasileiros têm dedicado especial atenção nas últimas duas décadas no sentido de se organizarem em associações científicas como o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica – IBAP – objetivando a melhoria da qualidade das técnicas psicológicas. Tais pesquisadores têm evidenciado a necessidade permanente de análise e de revisão dos parâmetros norteadores da AP, como a validade, a precisão,a fidedignidade e as normas avaliativas para cada contexto sociocultural de sua utilização. Este movimento também fica evidenciado com a Resolução CFP nº 002/2003 do Conselho Federal de Psicologia ao instituir uma Comissão Consultiva de Avaliação Psicológica a partir de 2002 (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013). A AP abrange diferentes áreas de atuação da(o) psicóloga(o) e analisa dados de pessoas de diferentes faixas etárias, em contextos variados, desde a infância até a velhice. Avaliação Psicológica é compreendida como [...] um processo técnico e científico realizado com pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada área de conhecimento, requer metodologias específicas. Ela é dinâmica e constitui-se em fonte de informações de caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos, com a finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuação do psicólogo, dentre eles, saúde, educação, trabalho e outros setores em que ela se fizer necessária. Trata-se de um estudo que requer um planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins para os quais a avaliação se destina. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013: 13). Nesta concepção, depara-se que a AP é realizada em contextos específicos e busca o esclarecimento de fenômenos psicológicos objetivando, dentre outros objetivos: prover informações precisas para a tomada de decisões nas diversas áreas da psicologia em um curto espaço de tempo, propiciar o autoconhecimento e desenvolvimento individual, bem como viabilizar as pesquisas psicológicas. Ao referir-se ao contexto da AP, (PASQUALI, 2010) destaca o uso do teste psicológico. Este, segundo o autor, é um instrumento sofisticado, o qual tem em vista três características: é baseado em uma determinada teoria psicológica, sua construção é baseada no método científico e constitui-se instrumento importante para o desenvolvimento do conhecimento científico em psicologia. Além dos testes psicológicos, outros recursos são utilizados no processo de AP, a saber: observações (naturalísticas, de laboratório), entrevistas (estruturada, semiestruturada, aberta), questionários, checklist, dinâmicas de grupo, escuta e intervenções verbais, dentre outras. A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 Dada a premissa de que os testes são utilizados para auxiliar ou orientar um processo de tomada de decisão a respeito de pessoas, há uma grande responsabilidade do profissional, que permeia desde a escolha do instrumento até o relato de seus achados, os resultados propriamente ditos. Os contextos nos quais são requeridas as AP são diversos, tais como, a psicologia clínica, psicologia da saúde e/ou-hospitalar, psicologia escolar e educacional, neuropsicologia, psicologia jurídica e forense, psicologia do trabalho e das organizações, psicologia do esporte, social e comunitária, psicologia do transito, orientação vocacional e orientação de carreira, avaliação para porte de arma, dentre outros. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013) No entanto, para Pasquali (2010) a AP também possui as suas contraindicações, como por exemplo, quando o seu objetivo é desconhecido ou não está bem claro à(ao) psicóloga(o), se desconhece as aplicações dos resultados, o indivíduo (o examinando) possa sofrer algum dano ou discriminação, o local e as condições de testagem são inadequadas. Pasquali (2010) compreende a AP como um processo, o qual requer cuidados preliminares à sua execução. Desta forma, são indicados averiguar-se alguns cuidados, tais como, de quem procede a solicitação da avaliação, como a demanda está formulada, sua indicação é compulsória (advinda de médico, educador, advogado, juiz, outros), a elaboração do contrato e o termo de consentimento. No contrato de trabalho, cabe à(ao) psicóloga(o) estar atento à alguns indicadores de qualidade como a estimativa de tempo, os papeis dos envolvidos, os direitos e as responsabilidades dos envolvidos e os custos do serviço. A seguir, apresenta-se as etapas deste processo. Segundo a autor supracitado, o planejamento da AP é um momento de crucial importância no asseguramento do êxito do trabalho. Desta forma, se faz necessário à(ao) psicóloga(o) ser cauteloso quanto a determinados fatores como a identificação dos recursos que permitirão atingir os objetivos da avaliação e verificação das hipóteses; exprimir as perguntas a serem respondidas,; honorários e forma de pagamento, período da realização; definição preliminar de quem terá acesso aos resultados; caso ao final não se tenha chegado a uma conclusão confiável, as sessões não previstas no contrato de trabalho devem ser oferecidas sem custos ao sujeito; organizar a ordem das sessões de acordo com a natureza, tipo, grau de dificuldade, tempo de aplicação, conteúdo do teste, qualidade ansiogênica, características específicas do sujeito e; flexibilidade a depender do que se coleta de informação durante o processo, e em casos de haver necessidade de estender muito mais o trabalho, recomenda-se revisão do contrato de trabalho e estabelecer novo planejamento. Por conseguinte, parte-se para a terceira etapa que consiste na coleta de informações pelos meios escolhidos, utilização das entrevistas iniciais, bem como a administração dos testes. Nesta etapa, é requerido da(o) psicóloga(o) as seguintes ações, averiguar se o ambiente físico possui as condições necessárias, preparar o material com antecedência, estabelecer o rappor, esclarecer os objetivos da avaliação, explicar e colher assinatura do termo de consentimento, atentar-se ao comportamento do examinando durante a avaliação, permanecer no local em tempo integral, seguir rigorosamente as instruções do manual e responsabilizar-se pela aplicação correta dos testes. A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 Na quarta etapa, que é a correção e a interpretação dos resultados, a(o) psicóloga(o) avaliador deve ater-se a seguir os critérios e as tabelas apropriadas, avaliar quantitativamente e qualitativamente, considerando as observações feitas durante o processo, verificar a normatização, manter-se sempre presente e arquivar o material de forma confidencial por no mínimo cinco anos. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013) Na etapa concluinte, a qual denomina-se Entrevista Devolutiva, a(o) psicóloga(o) avaliador deve procurar não se deixar influenciar por suas crenças e valores pessoais, elaborar o relatório de maneira clara e abrangendo o indivíduo em todos os seus aspectos contemplados na demanda inicial da avaliação, na qual são enfatizados a natureza dinâmica e circunstancial dos dados apresentados, utilizar-se de linguagem adequada ao destinatário – incluindo recomendações específicas para os solicitantes, manter sigilo das informações e conclusões disponibilizando-as apenas a quem de direito e elaborar relatórios para arquivar junto ao material. Vale ressaltar o lugar de destaque da entrevista ao longo do processo de AP. A este propósito, elucida-se que, na etapa do rappor e entrevista inicial, são primordiais alguns cuidados e averiguações quanto às condições físicas e psicológicas, motivações e interesses do examinando em submeter-se à avaliação, clima agradável e de aceitação, verificar se o examinando compreende a demanda de avaliação, observar a apresentação pessoal, pergunta- se tudo e não se pressupõe nada e assegurar-se que o indivíduo está entendendo as orientações apresentadas. Cabe levantar diretrizes a respeito da entrevista psicológica que, consiste num instrumento de trabalho de psicólogas(os) em diferentes abordagens teóricas. Santos (2014) compreende a entrevista em avaliação psicológicacomo “um processo de coleta de informações sobre a pessoa em avaliação, para que seja possível fazer algum tipo de entendimento a respeito dela” Neste sentido, a entrevista cumpre uma função ampla de recolha de informações do examinando, como, sua história evolutiva, história laboral e profissional, situação socioeconômica e familiar, dentre outras. A entrevista psicológica ainda, pode ser considerada como um diálogo, uma comunicação, um encontro. Pode ser compreendida como uma relação, com características particulares, na qual um dos integrantes deve procurar saber o que está acontecendo e deve atuar segundo esse conhecimento. (BLEGER, 1980) De acordo com o Código de Ética Profissional do Psicólogo (CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA, 2010), em seu Art. 1º - São deveres fundamentais dos psicólogos, alínea c: “Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional. Neste contexto, inclui-se a entrevista psicológica como um instrumento de reconhecido saber científico. A utilização da entrevista para a Psicologia pode ser definida como um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador que esteja treinado e que utiliza conhecimentos psicológicos na relação profissional, no qual, seu objetivo é o de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos em um processo que visa intervenções, recomendações ou encaminhamentos em benefício do cliente. Pode-se entender que a técnica contempla um série de procedimentos que possibilitam a investigação dos temas A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 em questão. A investigação pode possibilitar os principais objetivos de uma entrevista, que são descrever e avaliar, pressupondo o levantamento das informações (CUNHA, 2000). Na consideração da entrevista como técnica, inclui-se dois aspectos. O primeiro prima pelas regras ou indicações práticas de sua execução e o segundo pelos pressupostos teóricos que fundamentam as primeiras. Para Bleger (1980, p. 1) “A entrevista é um instrumento fundamental do método clínico e é, portanto, uma técnica de investigação científica em psicologia”. Acrescenta o autor que a entrevista pode ter múltiplos usos, ou seja ser utilizada por diversos profissionais de diferentes áreas do conhecimento. No entanto, neste estudo, interessa a entrevista psicológica compreendida como aquela na qual se buscam objetivos psicológicos como investigação de fenômenos psicológicos, psicodiagnóstico, e pesquisa científica. Para Machado e Morona (2007) a entrevista psicológica é uma conversação dirigida a um propósito definido de avaliação. Sua função básica é prover ao avaliador subsídios técnicos acerca da conduta do cliente, completando os dados obtidos pelos demais instrumentos utilizados. Em outros termos, inclui-se a técnica e os pressupostos teóricos da entrevista psicológica. Para Bleger (1980) seu objetivo é o estudo e a utilização do comportamento total do indivíduo em todo o curso da relação estabelecida com o profissional, durante o tempo em que essa relação durar. De acordo com Tavares (2000, p. 45), em psicologia a entrevista: [...] é um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um processo que visa a fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas. Nos aspectos técnicos da entrevista psicológica, Tavares (2000: 45) compreende: [...] uma série de procedimentos que possibilitam investigar os temas em questão. A investigação possibilita alcançar os objetivos primordiais da entrevista, que são descrever e avaliar, o que pressupõe o levantamento de informações, a partir das quais se torna possível relacionar eventos e experiências, fazer inferências, estabelecer conclusões e tomar decisões. Essa investigação se dá dentro de domínios específicos da psicologia. Almeida (2004) em corroboração com os autores acima citados, considera que a entrevista psicológica possui finalidades específicas. Para o autor, seu objetivo é o de resolver um dos problemas que entram normalmente no quadro da psicologia: avaliação psicológica, pesquisa científica, seleção e orientação profissional. De acordo com Sullivan (1970), apud Almeida (2004) a entrevista tem “o propósito de elucidar formas características de vida das pessoas entrevistadas, e vividas por elas como particularmente penosas ou especialmente valiosas e, de cuja elucidação ela espera tirar algum benefício”. Para Bleger (1980: 1) a entrevista psicológica além de instrumento, como técnica, tem seus próprios procedimentos empíricos por meio dos quais ela se concretiza e se aplica o A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 conhecimento científico. O autor assinala que, na consideração da entrevista psicológica como técnica, ela tem seus próprios procedimentos ou regras empíricas: Com os quais não só se amplia e se verifica como também, ao mesmo tempo, se aplica o conhecimento científico. Essa dupla face da técnica tem especial gravitação no caso da entrevista porque, entre outras razões, identifica ou faz coexistir no psicólogo as funções de investigador e de profissional, já que a técnica é o ponto de interação entre a ciência e as necessidades práticas; é assim que a entrevista alcança a aplicação de conhecimentos científicos e, ao mesmo tempo, obtém ou possibilita levar a vida diária do ser humano ao nível do conhecimento e da elaboração científica. E tudo isso em um processo ininterrupto de interação. Outrossim, o entrevistador pode ser considerado um observador participante, pois, a observação é um componente essencial da interação dinâmico participante entre entrevistador e entrevistado. Segundo Almeida (2004) a observação participante, como diz Sullivan (1970), ou a observação da interação, ou a observação do campo, segundo Bleger (1998), é o ponto básico e principal dessa técnica. Nesse contexto, a observação é um elemento essencial que deve ser inerente ao papel do entrevistador, ou observador participante. Questão esta especialmente relevante no processo de avaliação psicológica. Outro aspecto levantado é o de que o objeto da entrevista psicológica e da observação é a relação entre entrevistador (a quem se pede ajuda) e o entrevistado (aquele que pede ajuda). A observação é participante, uma vez que o entrevistador também compõe, com as suas vivências, o campo da entrevista. Rolla (1981), apud Almeida (2004) sugere que o entrevistador fique atento à organização de três momentos da entrevista. O primeiro é a chegada do entrevistado, o segundo o curso intermediário da conversa e último, o momento final da entrevista quando se dá a separação. Propõe também incluir nas análises elementos como a ansiedade e as defesas reveladas nesses momentos. Ao mesmo tempo em que os dados objetivos são coletados, sugere-se observar o processo de comunicação que se estabelece entre o cliente e o profissional que o atende. Quando se processa uma entrevista, recomenda-se à(ao) psicóloga(o) ter em mente que há outras formas de comunicação, além da verbal, que seria a mais tradicional e óbvia. A comunicação não-verbal muitas vezes é mais intensa e rica, complementando ou não a exposiçãooral. Mais ainda, pode-se considerar que a entrevista psicológica pode contemplar diversas funções. Inicialmente, uma ampla coleta de informações do cliente (história evolutiva, história laboral e profissional, situação socioeconômica e familiar). A seguir, aspectos motivacionais como o estabelecimento de uma relação positiva, mudança de atitudes e expectativas, compreensão dos problemas apresentados pelo cliente). E, terapêutica no sentido de dotar o cliente de estratégias de intervenção psicológica. Para (MACHADO; MORONA, 2007), apesar de suas vantagens, a entrevista está sujeita à interpretações subjetivas do examinador (valores, estereótipos, preconceitos, outros). Deve-se, portanto, planejar e sistematizar indicadores objetivos de avaliação correspondentes ao perfil do examinando. Vale lembrar uma questão importante que é a compreensão da entrevista enquanto um processo. A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 De modo geral, para as autoras supra citadas, o desenvolvimento da entrevista é um processo que exige uma série de passos desde a elaboração até à interpretação. As fases para o desenvolvimento da entrevista são: Em princípio, a preparação da entrevista que consiste em abolir a improvisação e ter claro o que se quer avaliar. O roteiro da entrevista é uma estratégia metodológica, quanto melhor preparado, melhores as chances do bom resultado. A preparação refere-se ao conhecimento que se tem do cliente, o seu problema, a história clínica, escolar, profissional, etc. Estas informações prévias dependem em grande medida do local em que a(o) psicóloga(o) se encontra. Em síntese, para saber o que perguntar se faz necessário o conhecimento do tema concreto acerca do qual será realizada a entrevista. Em seguida, vem a fase inicial da entrevista propriamente dita, cujo objetivo é estabelecer um rapport adequado. Iniciar por realizar uma breve apresentação com o intuito de eliminar as falsas expectativas do cliente, explicar o processo de avaliação e os objetivos pretendidos. Na fase inicial define-se a natureza da relação profissional, os papeis dos participantes, a natureza do pedido, as partes envolvidas e o uso provável dos serviços prestados ou informação obtida. Também é necessário informar da confidencialidade das informações fornecidas e do sigilo profissional e explorar as possibilidades de contrastação da informação por meio de outras fontes de informação. Por sua vez, o corpo da entrevista inicia-se com um momento aberto e facilitador, no qual o entrevistador realiza perguntas abertas e o entrevistado responde às perguntas sem ser interrompido. A seguir, seguem-se as especificações, neste momento, realizam-se perguntas mais fechadas e diretivas. Em seguida, caminha-se para a finalização da entrevista que, deve ocorrer quando se tenha finalizado o tempo previsto e ou se observar sinais de cansaço no examinando ou na(o) psicóloga(o) que possam dificultar a tarefa. Nesta fase há algumas tarefas específicas que devem ser realizadas, a saber: Fazer com o entrevistado um resumo da entrevista para garantir que a informação foi bem compreendida por ambos; orientar a conversa para o futuro: expectativas de êxito, realização de tarefas para a próxima entrevista; finalizar a entrevista de forma positiva (não terminar a entrevista de forma abrupta deixando problemas por tratar ou quando o entrevistado manifesta (de forma verbal ou não verbal) estados de humor negativos. E ainda, seria aconselhável perguntar ao examinando se há alguma informação que não foi tratada até aquele momento e ele gostaria de abordar. Finalmente, ocorre a recolha da informação, isto é, se faz sempre necessário registrar a informação. E ainda, será preciso interpretar as informações obtidas, pois, a memória é limitada e a distorção da informação aumenta à medida que aumenta a quantidade de informação e o tempo desde que se recebe essa informação até que se interpreta. Basicamente, existem quatro modalidades de recolha da informação, interessante ressaltar que as anotações são apenas um complemento da entrevista, nunca são o objetivo da mesma. A primeira modalidade consiste em recolher a informação de forma simultânea enquanto o entrevistado fala. A outra seria recolher a informação imediatamente após a finalização da entrevista. Ou ainda, tomar algumas notas durante a entrevista e completar a informação no final da mesma. Ou, além disso, recorrer a procedimentos mecânicos ou digitais para registrar a entrevista, A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 como gravar a entrevista recorrendo a um gravador de áudio ou vídeo. Deve ser realizada de forma aberta e consentida por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do entrevistado. De modo geral, a interpretação minuciosa de cada dado, desde o proferimento objetivo, subjetivo, interdito, ou não dito caracteriza a riqueza das possibilidades da entrevista. O processo de interpretação pode ser mediado pelos métodos da análise sócio histórica, como também pelos métodos da análise formal ou discursiva. Para Remor; Remor (2012: 967), por meio da entrevista, o sujeito tem a possibilidade de externar a enorme gama de sentidos que ficam inibidos, entreditos ou até interditados no discurso: As línguas e as linguagens são formas que permitem algum acesso à realidade, como mediadora, como representante. A fala é um texto, a compreensão é uma leitura. A partir da palavra se pode fazer alguma leitura, é ela que permite interpretação. Ao mesmo tempo em que a palavra relaciona o sujeito com o objeto, é ela mesma que os separa. A leitura é capaz de realizar essa mediação entre sujeito e objeto. Os dados a serem obtidos deverão ser observados de acordo com o contexto no qual o atendimento está sendo realizado (MACHADO; MORONA 2007). Assim, em determinados contextos, certas informações são imprescindíveis, enquanto que em outros, algumas informações se tornam irrelevantes. As autoras consideram como importantes, nos mais diversos contextos, a investigação das seguintes informações, a saber; dados de identificação, dados socioculturais, história familiar, história escolar, história e dados profissionais, história e indicadores de saúde/doença, aspectos da conduta social, visão e valores associados a temática investigada, características pessoais e expectativas de futuro, entre outros. Cabe levantar outra questão importante (MACHADO; MORONA, 2007), que é a forma de organização espacial, a localização, os gestos, o olhar e a voz, os quais irão fornecer à(ao) psicóloga(o) experimentado adequadamente dados confiáveis a respeito dos sentimentos do cliente, assim como sobre as condições da comunicação que está acontecendo (colaboração com a comunicação, bloqueios, inseguranças). No emprego da entrevista psicológica, é imprescindível considerar alguns cuidados. Para isto, se fará necessário, por parte da(o) psicóloga(o), ouvir, vivenciar e observar, de tal maneira que o comportamento do entrevistado possa de fato ser apreendido. Tendo-se em vistas estes cuidados, aumentarão as chances da(o) psicóloga(o) obter dados o tanto quanto possível completos do comportamento de uma pessoa no decorrer da entrevista. Na tradição clínica brasileira, a AV, historicamente também designada como Processo Psicodiagnostico, recebeu a contribuição de importantes teóricos, dentre os quais, destaca-se neste estudo Cunha (2000). A autora parte da abordagem psicanalítica e almeja com este processo uma compreensão profunda e abrangente sobre o cliente e/ou grupo familiar buscando identificar aspectos passados, presentes e futuros (prognóstico), que incluamaspectos patológicos e adaptativos. O psicodiagnóstico acenou para uma nova visão da AP, diversamente da realizada pelos psicólogos da época, conhecidos como testólogos da psicometria. Ao adotar uma perspectiva A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 clínica, mais identificada com a teoria psicanalítica ou fenomenológica, se passa a enfatizar a importância da subjetividade presentes na relação. Segundo Araújo (2007:131) [...] “o uso dos testes passou a ser complementado com outros procedimentos clínicos, com o objetivo de integrar os dados levantados nos testes e na história clínica, para obter uma compreensão global da personalidade”. Dentre os outros procedimentos, contempla-se a entrevista. É interessante verificar a entrevista psicológica no contexto psicodiagnóstico. Cunha (2000: 26), considera, psicodiagnóstico como: [...] um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base dos quais são propostas soluções, se for o caso. Portanto, pode-se considerar que o psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica, desenvolvida com propósitos clínicos [...] com foco na existência ou não de psicopatologia. É uma prática exclusiva do psicólogo que, para tanto, utiliza testes psicológicos e outros instrumentos como a entrevista psicológica. Segundo Cunha (2000) a ênfase atual consiste na utilização de instrumentos mais objetivos e o interesse por entrevistas diagnósticas mais estruturadas. E ainda, no psicodiagnóstico o psicólogo clínico faz uso dos instrumentos psicológicos para avaliar um sujeito de forma científica, sistemática e orientada para a resolução de problemas (CUNHA, 2000). Em vista disto, Cunha (2000) complementa que o processo de psicodiagnóstico envolve algumas etapas como: o levantamento prévio de hipótese, a qual implicará na indição ou não da seleção e administração de uma bateria de testes. Os dados coletados devem ser inter- relacionados com as informações da história clínica, da história pessoal e outros dados levantados, sendo que a abordagem leva a uma integração dos resultados das entrevistas e do material de testagem baseados em pressupostos teóricos. E a comunicação dos resultados a quem de direito cabe, podendo oferecer subsídios para decisões ou recomendações. Nesta proposta está implícito a intenção de beneficiar o cliente em decorrência das recomendações a serem acertadas e seguidas. Já os passos do diagnóstico psicológico de natureza clínica segundo Cunha (2000) são: o levantamento de perguntas relacionadas com os motivos da consulta e definição das hipóteses iniciais e dos objetivos do exame; o planejamento, seleção e utilização de instrumentos de exame psicológico; o levantamento quantitativo e qualitativo dos dados; a integração de dados e informações e; a formulação de inferência pela integração dos dados. A autora adverte que, tendo estes pontos como referências, as hipóteses iniciais e os objetivos do exame e a comunicação dos resultados, orientação sobre o caso apontam para o encerramento do processo. Importa mencionar que, para o bom andamento da entrevista psicológica, algumas habilidades interpessoais do entrevistador se fazem necessárias. O sucesso da entrevista dependerá da qualidade geral de um bom contato social, sobre o qual se apoiam as técnicas específicas. Tavares (2000) sugere que o entrevistador deve ser capaz de inicialmente, estar presente, no A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 sentido de estar inteiramente disponível para o outro naquele momento, e poder ouvi-lo sem a interferência de questões pessoais. Na sequência, ajudar o entrevistado a se sentir à vontade e a desenvolver uma aliança de trabalho. Também, facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa a ser encaminhada ou a buscar ajuda. Em seguida, buscar esclarecimento para colocações vagas ou incompletas. E durante o processo, gentilmente, confrontar esquivas e contradições. Além destas, tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista. Em prosseguimento, reconhecer defesas e modos de estruturação do sujeito, especialmente quando elas atuam diretamente na relação com o entrevistador. É imprescindível assumir a iniciativa em momentos de impasse e ainda, dominar as técnicas que utiliza. No que diz respeito à formulação das questões, o entrevistador deve ter cuidado com as perguntas ambíguas, deslocadas ou as perguntas tendenciosas. É indicado as perguntas seguirem a sequência do pensamento do examinando, ou seja, procurar dar continuidade a conversação. Com relação ao assunto que envolva a história de vida do indivíduo dentro da entrevista, existem dois tipos, que são a completa, que retrata todo o conjunto da experiência vivida e a tópica, que focaliza uma etapa ou um determinado setor da experiência em questão (MINAYO, 1993 apud 1996, BONI; QUARESMA, 2005). A história de vida servirá para permitir que o entrevistado retome sua vivência de forma retrospectiva. Em síntese, para estar presente e poder ouvir o outro, o entrevistador deverá focalizar sua atenção no examinando. Para Tavares (2000: 52) o vínculo de trabalho é composto por dois fatores. “O primeiro consiste na percepção de estar recebendo apoio e, a segunda ter a compreensão de estarem trabalhando juntos. Essa percepção fortalece a relação e favorece uma atitude colaborativa e participativa por parte do examinando em situação de entrevista”. Diante do exposto, se pretendeu articular a utilização da entrevista compreendida como método e técnica científica enquanto instrumento de trabalho da(o) psicólga(o0 durante o processo de AP. Neste sentido, compreende-se que a entrevista possa desde o início do processo, introduzir o examinando no propósito da avaliação psicológica de modo a posicioná-lo quanto aos objetivos e finalidade da mesma, engajando-o. Também no decorrer do processo, seja por meio do inquérito ou de todos os possíveis esclarecimento necessários no sentido de contextualiar os resultados obtidos por meio da testagem. Até o momento do fechamento, por meio da entrevista devolutiva, na qual o examinando têm acesso aos resultados obtidos, bem como as recomendações indicadas. Ressaltam-se os aspectos do sigilo e da ética profissional envolvidos no sentido de assegurar a confidencialidade da AP e disponibilizar as conclusões apenas a quem de direito esteja reservado. 3. Conclusão Pesquisadores e profissionais da psicologia têm demonstrado especial atenção ao rigor nos procedimentos de Avaliação Psicológica (AP). Tal preocupação tem se apresentado, seja por meio de estudos teóricos e empíricos sobre o uso de procedimentos avaliativos, incluindo-se os testes psicológicos, seja por meio de regulamentação específica sobre essa prática por parte do Conselho Federal de Psicologia (CFP), órgão que regulamenta a profissão e orienta os profissionais psicólogas(os) nos mais variados contextos, destacando-se a Cartilha Avaliação Psicológica (CFP, 2013). Nesta concepção, o CFP compreende que a AP é um processo A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 amplo e integrativo de informações provenientes de fontes diversas além dos testes psicológicos, dentre elas entrevistas, observações, dinâmicas, recursos lúdicos e análise de documentos, ou seja,métodos e técnicas reconhecidos pela ciência psicológica. Portanto, a área da AP abrange uma pluralidade de práticas diagnósticas que podem ou não recorrer a instrumentos estruturados e padronizados, como os testes psicológicos, tanto quanto a outras técnicas e procedimentos menos estruturados, como jogos, brinquedos, desenhos e estórias. A flexibilização na escolha das estratégias é influenciada pela experiência da(o)o psicóloga(o), seu referencial teórico e objetivo da avaliação propriamente dita. O contexto e as novas demandas da Psicologia apontam para o crescente interesse desta prática profissional. Neste sentido, compreende-se que o permanente aperfeiçoamento da(o) psicóloga(o) pode facilitar a apropriação científica da Entrevista Psicológica (EP) enquanto uma variável de mensuração do indivíduo em processo de AP nos diversos contextos nos quais a mesma se propõe atuar. Por sua vez, a EP constitui-se num espaço exclusivamente reservado ao examinando, espaço este potencialmente esclarecer e elucidativo contribuindo para a compreenssão da situação/fenômeno psicológico avaliado. Este estudo teve como proposta discutir o papel da Entrevista no processo da AP por meio de uma pesquisa bibliográfica, a qual debruçou-se na revisão de literatura da área da Avaliação Psicológica e da Entrevista Psicológica. Foram levantados conceitos, finalidades, manejo por meio dos quais diferentes autores compreendem a EP enquanto uma técnica de caráter científico reconhecido pela ciência psicológica. Compreendeu-se neste estudo que a AP, seguida dos rigores éticos e científicos que a sustentam pode contribuir não apenas com o resultado imediato proporcionado, mas com benefícios sociais advindos do seu uso. E para tanto, a entrevista tem seu papel relevante na contextualização dos fenômenos psicológicos analisados e avaliados. Da mesma forma elucidou-se que o planejamento e a execução das sessoes, bem como suas repercussões sobre o examinando, podem constituir uma oportunidade promissora de demonstrar a validade sequencial dos instrumentos utilizados, dentre eles, a entrevista. Referências ALMEIDA, Nemésio Vieira. A entrevista psicológica como um processo dinâmico e criativo. PSIC: Revista de Psicologia da Vetor Editora, Vol. 5, no. 1, 2004, p. 34-39. ARAÚJO, Maria de Fátima. Estratégias de diagnóstico e avaliação psicológica. Psicologia: Teoria e Prática. São Paulo , v. 9, n. 2, p. 126-141, dez. 2007 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 36872007000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 jun. 2017. BLEGER, José. Temas de Psicologia: entrevista e grupos. São Paulo: Martins Fontes, 1980. A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Em Tese, Florianópolis, v. 2, n. 1, p. 68-80, jan. 2005. ISSN 1806-5023. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/emtese/article/view/18027>. Acesso em: 06 Maio. 2017. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Cartilha Avaliação Psicológica. Brasília -DF: CFP, 2013. CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA (12. REGIÃO). Guia para o exercício profissional do psicólogo. Florianópolis: CRP – 12, 2010. CUNHA, Jurema Alcides. A história do examinando. In: CUNHA, Jurema Alcides (Col.). Psicodiagnóstico V. 5 ed. Porto Alegre: Artemed, 2000. CUNHA, Jurema Alcides. Fundamentos do Psicodiagnóstico. In: CUNHA, Jurema Alcides (Col.). Psicodiagnóstico V. 5 ed. Porto Alegre: Artemed, 2000. CUNHA, Jurema Alcides. Passos do processo psicodiagnóstico. In: CUNHA, Jurema Alcides (Col.). Psicodiagnóstico V. 5 ed. Porto Alegre: Artemed, 2000. ESTEBAN, M. P. S. Bases conceituais da pesquisa qualitativa. In.: Pesquisa Qualitativa em Educação: Fundamentos e tradições. Porto Alegre, RS: AMGH Editora, 2010. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MACHADO, Adriane Pichetto; MORONA, Valéria Cristina. Manual de Avaliação Psicológica. Curitiba: Unificado, 2007. NEVES, José Luis. Pesquisa Qualitativa – Características, usos e possibilidades. Disponível em < http://www.regeusp.com.br/arquivos/C03-art06.pdf >. Acesso em 04 junho. 2017. PASQUALI, L. Instrumentação Psicológica: Fundamentos e Práticas. Porto Alegre: Artmed, 2010. REMOR, Carlos Augusto Monguilhott; REMOR, Lourdes de Costa. A entrevista: fundamentos da hermenêutica e da psicanálise. Texto contexto - Enfermagem, Florianópolis, v. 21, n. 4, dez. 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 07072012000400029&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 14 maio 2017. SANTOS, Seille Garcia. A entrevista em avaliação psicológica. Revista Especialize On-line IPOG. Goiânia – GO: Edição Especial, Vol. 01, no 008, set. 2014. https://periodicos.ufsc.br/index.php/emtese/article/view/18027 http://www.regeusp.com.br/arquivos/C03-art06.pdf A entrevista no contexto da avaliação psicológica Julho/2018 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 TAVARES, Marcelo. A entrevista clínica. In: CUNHA, Jurema Alcides (Col.). Psicodiagnóstico V. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
Compartilhar