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As condições de Ascensão do Imperador Nero

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
As Condições de Ascensão do Imperador Nero
Evelyn Gonçalves da Silva Lopes / 190086904
BRASÍLIA – DF
2021
Introdução:
Uma das principais fontes sobre a vida do imperador Nero decorrem da leitura da obra de Suetônio, “Vida dos doze Césares”. Outros autores com escritos sobre o principado neroniano são Tácito (Anais. XII, 69 a XVI, 25) e Dião Cássio (História Romana. LXI, 35 – LXIII, 3), ambos foram compostos entre a primeira metade do século II e a primeira metade do século III. A maioria das obras de caráter histórico que existem sobre Nero tendem a seguir o plano narrativo das fontes disponíveis dos três autores citados. De acordo com o padrão seguido em sua obra, Suetônio divide o capítulo sobre Nero em duas partes, com algumas subdivisões. A primeira comenta características de seu governo consideras positivas, enquanto na segunda parte enfatiza os traços negativos de seu principado. O autor não se prende a cronologia, mesclando eventos situados em períodos diferentes, cobrindo quase toda a extensão de seu governo.
O imperador Nero é uma figura que marcou a história romana, mas não pelas melhores razões. A imagem dele que se cristalizou no imaginário ocidental é como um tirano, sanguinário e insano. Conhecido também por ter sido intolerante com o cristianismo, religião que considerava supersticiosa e ameaçadora. Durante seu reinado, cristãos foram perseguidos, torturados e mortos. Um dos eventos mais marcantes do seu governo foi o incêndio de Roma em 64 d.C. que durou cinco dias e afetou dez dos 14 distritos romanos, destruindo milhares de residências. É bastante popular a teoria criada por Suetônio de que Nero teria causado a tragédia com objetivo de reconstruí-la novamente, da forma que fosse mais conveniente ao imperador. Para Tácito, foram os romanos que incendiaram a cidade, ao perseguir os cristãos. O fim do último representante da dinastia Júlio-Claudiana aconteceu em 68 d.C. por pressões do exército e do senado. 
Este ensaio pretende refletir sobre a vida e a ascensão do imperador da Antiguidade Clássica Romana, Nero Cláudio César Augusto Germânico, com base nas fontes escritas principalmente de Suetônio, com apoio das obras de Tácito e Dião Cássio. Para tanto observaremos e buscaremos compreender o ambiente imperial que Nero estava inserido, sua trajetória, sua ascensão e sua queda. Será abordado também a utilização da obra de Suetônio para a construção de uma memória negativa do Imperador Nero ao longo de muitos séculos. Nesse sentido, um diálogo entre as fontes que temos sobre este imperador será imprescindível para apontarmos as ambiguidades que temos a respeito de Nero, assim como para pontuarmos os principais acontecimentos e personagens de seu governo.
Desenvolvimento: 
No início de Vida de Nero, capítulo do livro “Vida dos doze Césares” de Suetônio, o autor comenta sobre os membros da família domicía com o intuito de “(...) para que se evidencie melhor que, se Nero degenerou das virtudes dos seus antepassados, contudo, reproduziu os vícios de cada um deles, como se houvesse herdado pelo sangue” (Suetônio, p. 201). Nascido como Lúcio Domício Enobarbo, Nero nasceu em 15 de dezembro 37 d.C., em Âncio, perto de Roma. Ele era o único filho de Cneu Domício Enobarbo com Agripina Menor, irmã do Imperador Calígula, filha de Germânico, um general muito importante durante o governo de Tibério, e neta de César Augusto. O seu pai era neto de Cneu Domício Enobarbo e Emília Lépida, através do seu filho Lúcio Domício Enobarbo. O pai de Nero, serviu como membro da guarda pessoal de Calígula durante a viagem do futuro imperador para Oriente. Segundo Suetônio, Cneu Domício Enobarbo era um assassino e o imperador Tibério acusou-o de traição, adultério e incesto. Somente a morte do próprio Tibério fez com que se livrasse daquelas acusações. Nero nasceu nove meses após a morte do imperador, e perdeu o pai para um edema em 39 d.C., quando tinha apenas três anos de idade.
Nero tinha possibilidades escassas de ascender ao trono por seu tio Calígula ter começado seu reinado ainda jovem, com a idade de 24 anos, tempo mais que suficiente para ter e nomear os seus próprios herdeiros. Após a morte de seu marido, Agripina esteve em exílio, e quem administrava a herança de Nero era Calígula, considero co-herdeiro. Ainda durante sua infância, era um dos atores mais assíduos nos jogos troianos do Circo. Em 41 d.C., Cláudio, tio do finado imperador, ascende ao trono após o assassinato de Calígula, sua esposa e sua filha. Em seu reinado permitiu que Agripina regressasse do desterro, e em 49 d.C., houve o matrimônio entre os dois. Para apoiar-se em um herdeiro, Cláudio adotou Nero quando ele tinha 12 anos, passando a se chamar Cláudio Nero César Druso. Com 14 anos Nero foi proclamado adulto, foi nomeado procônsul e realizou suas primeiras aparições públicas junto a seu pai-adotivo. 
Nero foi educado e recebeu o auxílio de seu preceptor, o filósofo Sêneca. Quando tinha apenas 17 anos, Cláudio morreu e Nero ascendeu ao trono como o seu imediato sucessor. Alguns historiadores apontam o novo imperador e sua mãe como os responsáveis por um suposto envenenamento do antigo imperador. Iniciando o seu reinado declarou que “reinaria de acordo com os princípios de Augusto” e entregou à sua mãe a administração soberana de todos os negócios públicos e privados, sendo fortemente influenciado por ela e por seu tutor Sêneca. Os primeiros anos de seu império são conhecidos como um exemplo de sua administração, e Suêtonio durante a primeira parte do capítulo enfatiza essas características positivas do início de seu governo. Alguns desses feitos foram:
· Abolição ou diminuição dos impostos mais pesados
· Distribuição às cortes pretorianas uma ração de trigo anual gratuita
· Oferecimento de espetáculos de todos os gêneros, jogos da juventude, jogos do circo, jogos cênicos e combates de gladiadores
· Distribuição ao povo de presentes de todas as espécies
· Oferecimento de diplomas de cidadania romana
· Organização de uma naumaquia em que monstros enormes nadavam na água do mar
· Apresentação de cidadãos para matar feras e exercer diversos empregos na arena
· Estabeleceu pela primeira vez em Roma, jogos quinquenais, como exemplo dos gregos
· Concurso tríplice: musical, gínico e equestre, a que deu o nome de “neroniano”
Resumidamente, Nero foi um jovem e excêntrico imperador, um profundo admirador da música, do circo, do teatro e do esporte, tendo a abertura de um concurso de música em Olímpia como um de seus feitos. Exerceu quatro consulados, e em suas funções judiciárias, quase não respondia aos demandistas. Em audiências, sempre procurou ouvir as partes de cada ponto de um debate. Ao longo de seu reinado, promoveu mudanças urbanísticas e arquitetônicas profundas na cidade de Roma, inventando um novo estilo de edifícios urbanos. Sob seu reinado pregava uma separação bem definida entre sua vida particular e sua atuação como político. Essa divisão agradava o Senado e possibilitou o imperador a desenvolver seus interesses pessoais. 
Com o passar dos anos, o imperador começou a adotar uma postura polêmica e desequilibrada em muitos níveis. Historiadores acreditam que essa mudança tenha ocorrido em função dos choques de interesse entre os muitos mentores que cercavam Nero. O distanciamento e divergências do imperador com o Senado podem também ter contribuído para esse comportamento mais autoritário. Na segunda parte do capítulo, Suetônio se ocupa de comentar o lado negativo do seu principado, dizendo preliminarmente que “A petulância, a libertinagem, o luxo, a avareza e a crueldade foram vícios a que se entregou a princípio, gradualmente, às ocultas, como desviado pela juventude. Mesmo então ninguém mais duvidava que esses vícios proviessem menos da idade do que da natureza” (Suetônio, p. 214). Alguns de seus feitos polêmicos foram as relações sexuais com homens livres e suas libidinagens com mulheres casadas. Acredita-se também, que praticavaatos incestuosos com sua mãe, Agripina. 
Sua vida afetiva de maneira geral foi bastante conturbada. O imperador casou quatro vezes. A primeira esposa foi sua meia-irmã, filha de Cláudio, Cláudia Octávia. Durante o matrimônio, Nero engravidou Popeia Sabina, em uma relação extraconjugal. Com esse feito, divorciou-se de Claudia Octávia e a baniu de Roma com uma acusação falsa de adultério. O banimento de sua primeira esposa que era querida pelo povo romano, gerou inúmeros protestos. Logo depois, casou-se com Popeia Sabina que gerou sua única filha, porém, a criança faleceu com apenas 4 meses de vida. Segundo Tácito, a nova imperatriz era ambiciosa e implacável. A causa e a data de sua morte é incerta e não existe um consenso entre os três autores. A concessão entre ambos seria de que Nero teria sido o causador de seu falecimento. Historiadores modernos ao contrário, acreditam que a morte teria sido causada por complicações naturais do parto ou por aborto espontâneo. Há relatos que o corpo da segunda esposa não foi cremado, como era de costume na época. E sim, estufado e embalsamado com ervas aromáticas, e logo depois colocado no Mausoléu de Augusto. Em seguida, casou-se com Estacília Messalina, que para conseguir este feito, Nero degolou seu marido Ático Vestino, cônsul no exercício do seu cargo. O seu quarto casamento foi com Esporo, um escravo liberto que era favorito do imperador, e que foi posteriormente castrado a mando de Nero. Durante este matrimônio Esporo apareceu em pública como uma imperatriz, usando vestimentas que era de uso costumeiro da posição. O autor Dião Cássio dá uma visão mais detalhada dessa união, de acordo com ele, Esporo tinha uma semelhança física muito grande com Sabina, e Nero o chamava pelo nome de sua esposa morta.
Os historiadores romanos Tácito e Dião Cássio afirmam que Nero e sua mãe conspiraram e envenenaram seu meio-irmão Britânico, para garantir seu poder. O filho legítimo de Cláudio possuía o apoio de parte do senado e era uma ameaça ao governo de Nero. No dia antes de atingir a maioridade, Britânico faleceu em decorrência de um ataque epilético visto como suspeito. Suetônio afirma que não houve nenhum parentesco de Nero que não tivesse sido rompido com delitos. Exemplos disso foi ter obrigado seu antigo tutor, Sêneca a suicidar-se, e ter planejado o assassinato de sua mãe, a quem tinha relações conflituosas e começou a ter fortes desconfianças. Ele acreditava que Agripina conjurava para tirar o Império de suas mãos. Sobre isso, ainda segundo ao autor: 
 “Sem demora, tramou o assassínio da mãe e sustentava a todos que ela se havia suicidado ao ser descoberto o crime que premeditara. A isto, acrescentam-se detalhes mais atrozes, mas provindos de fontes pouco autorizadas. Por exemplo: que ele correu para ver o cadáver daquela que mandara matar, apalpando-lhe os membros, criticando uns e louvando outros e, para calmar a sede, de intervalo a intervalo bebendo. Entretanto, não conseguiu então, nem depois, sufocar os remorsos do seu crime.” (Suetônio, p.219)
Após isso, Nero começou a matar sem escolha e sob qualquer pretexto, passando a perseguir aqueles que entendia como inimigos ou que representasse alguma ameaça a seu poder. Os cidadãos de Roma foram alvo desses atos também. Suetônio afirmava que o imperador foi o responsável pelo Grande Incêndio de Roma, apesar de ainda hoje discutir-se sobre a sua verdadeira causa. O incidente foi iniciado em um depósito de material inflamável no Circo Máximo, em 64 d.C., e afetou vários distritos romanos. Este acontecimento também divide a opinião dos autores principais deste ensaio. Nero é acusado por Suetônio de ter causado tal atrocidade com o objetivo de construir um novo complexo de palácios. O imperador culpou os cristãos pelo trágico incêndio, como forma de se defender, o que lhe deu uma vantagem, visto que era contra o culto religioso no império. Como punição, muitos fiéis foram perseguidos até uma brutal morte. Depois do fogo, Nero deu início a reconstrução da cidade, incluindo o seu palácio “Casa Dourada”, o que acabou significando o aumento de impostos e descontentamento da população. Diante disso, o imperador passou a enfrentar cada vez mais uma oposição das autoridades políticas.
No ano de 68 d.C., o Senado declarou Nero inimigo público e apoiou a coroação de Galba. O imperador decidiu fugir de Roma, mas segundo relatos, ao ser alcançado por um soldado romano, optou por tirar a própria vida com a ajuda de seu secretário Epafródito, enterrando um ferro em sua garganta. Após sua morte, seguiu-se um período de instabilidade no poder romano conhecido como "o ano dos quatro imperadores"(68-69 d.C.). Nesse período governaram Galba, Otão, Vitélio e Vespasiano, que ficou no poder até 79 d.C. Segundo os historiadores contemporâneos, a morte de Nero deu continuidade à sua figura dúbia. Ao que parece, a classe dos poderosos de Roma e mais algumas parcelas da população comemoraram a sua morte, enquanto uma parte das camadas mais populares sofreu por sua perda. Nas páginas finais de Vida de Nero, Suetônio afirma: 
“Sonhava eternizar seu nome e perpetuar sua memória, sonho,
porém, irrefletido. Mudou a denominação de várias coisas e de vários lugares, para substituí-los por um designativo tirado do seu nome. Chamou
ao mês de abril “o mês de Nero”. Projetava substituir “Roma” por “Neró-
polis”. (Suetônio, p. 231-232)
Como se vê, as atitudes de Nero são muitas e também podem ser interpretadas de maneira distintas entre os autores até então citados. O caso de Suetônio, em específico, nos é mais claro por pontuar elementos que podem nos direcionar a um entendimento sobre aquilo que são “boas” ou “más” atitudes esperadas de um imperador. Porém, apesar disso, ainda é preciso dizer que, mesmo com esses critérios bem divididos, ainda é possível que convivamos com a ambiguidade até então defendida e que não foi corrigida até hoje. Assim, se coloca em questão a veracidade dos eventos relatados e a narrativa construída acerca de Nero. É certo que ele foi severo com seus opositores, ordenando diversas execuções. Porém, boa parte do que se sabe ainda hoje sobre o jovem imperador romano, compreendido como louco, é uma interpretação com base em historiadores que eram seus opositores. A verdade sobre Nero permanece como um mistério, muito difícil de ser revelada, repleta de contradições, mas que movimenta muitas pesquisas atualmente.
O contraste entre Suetônio e Tácito se dá em níveis temáticos e estilísticos. Por um lado, cobra-se dos autores a análise das relações entre o imperador e o Senado que a historiografia senatorial costumava abordar como uma tensão entre liberdade e escravidão. E por outro, critica-se a falta de uma narrativa propriamente cronológica e não uma coleção de fatos. No livro de Dião Cássio predomina-se o tom hostil, diferentemente de Suetônio e Tácito, que se mostram ambíguos na avaliação da atuação de Nero, misturando elementos positivos e negativos, o que exige uma análise que busque mapear os pressupostos políticos de tais avaliações. É justamente nesse aspecto que a respeito das diferenças estilísticas, as narrativas de Tácito e Suetônio confluem, transmitindo uma similar representação do principado neroniano e, portanto, aproximando o biógrafo da tradição historiográfica senatorial.
Suetônio em seus escritos, empenhou-se no estudo da história, nos costumes de seu povo e da época. Relatou cerimônias, vícios, fofocas dos imperadores, espetáculos romanos, vestuário e o crescimento da burocracia. Considerado como um homem culto, apresenta em suas obras uma curiosidade típica dos aspectos humanos do personagem, sendo isto uma contribuição para os escritos da época, além da herança helenística da biografia. Foi um historiador que influenciou a literatura mundial. Ele aprofunda-se mais e mais na vida de seus biografados ao sondar seus vícios, ditando suas virtudes, ou desprestigiando valores até então intocáveis. Ao retratar o personagem imperador, demonstra atração ao cenário por ele retratado, a sociedade aristocrática deRoma. Estes princípios interpretativos serão dados como pressupostos na análise literária a ser realizada. O autor trata os imperadores como seres humanos comuns que vão praticando atos exóticos, inusitados e criminosos. Seu intuito é refletir o pensamento geral existente nos círculos intelectuais romanos, a construção de suas biografias mostra bem isso se observarmos. Uma das teses levantadas sobre o seu estudo é de que ele promove a propaganda política para a elite romana, e é criando representações do bem e do mal que o autor crítica e analisa a figura dos imperadores.
Conclusão
De acordo com Mary Beard (2017, p. 506), independentemente da visão de Suetônio e de outros escritores antigos, as qualidades e personalidades individuais de cada imperador não importavam muito para os habitantes do Império, ou para a estrutura da história romana e seus principais desdobramentos. Apesar disso, existiam certos tipos de limites para qualquer governante, mesmo dentro de suas mais íntimas insanidades, quando este administrava um Império tal como era o Império romano composto das suas tão conhecidas conspirações. Ou seja, era preciso mesmo para um governante despótico, trabalhar dentro de determinados “constrangimentos” políticos e sociais para manter o apoio de grupos, como o Senado, que justificavam a sua posição enquanto tal. 
Por conta do intenso ataque aos cristãos, Nero ficou conhecido como “anticristo”. Isso contribuiu para sua péssima fama e para a ampliação da narrativa de seus opositores, após a ascensão cristã na Europa. É meu intuito o de apontar para o fato de que existem argumentos que sustentam a noção de que Nero era um imperador louco e tirano, mas ainda é possível atentar para partes que o seu governo foi bom e que a crítica para sua atitude, mesmo sendo ela um assassinato, acaba sendo entendido como um ato de salvação da república. Uma das maiores personalidades da história da humanidade, sua figura ainda hoje é tema de debate, fonte de algumas incertezas e ambiguidades. Isso se dá porque a maioria dos relatos de sua época foram perdidos e a maior parte da documentação preservada são posteriores ao seu mandato, contando com uma forte oposição ao seu governo. 
As visões construídas sobre Nero que privilegiam a sua postura como um tirano ou monarca, inclusive nas fontes, devem ser lidas com muito cuidado. Dessa maneira, podemos afirmar que para compreender os principados dos imperadores e, principalmente o de Nero, não devemos fazê-lo através de críticas às condutas individuais de “bons” ou “maus”. Mas através da noção de que o principado pode ser entendido como um sistema de governo onde todas as posições hierárquicas poderiam ser alcançáveis, especialmente pelos membros do Senado romano. Nero tendo sido ou não um bom governante, isso não significa dizer que a sua memória a tradição que foi construída sobre ele não deve ser colocada à prova. Assim como todos os parâmetros e normas de composição dos discursos que temos sobre este polêmico imperador. 
Referências Bibliográficas 
BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga. São Paulo: Crítica, 2017.
BELCHIOR, Ygor Klain. Nero: Bom ou Mau Imperador? Retórica, política e sociedade em tácito (54 a 69 d.C). Curitiba, Prismas, 2015.
BELCHIOR, Ygor Klain. Tácito e o principado de Nero. Dissertação (Mestrado em História). Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2012.
COELHO, Ana Lucia Santos. Os retratos de um imperador: contribuições ao debate historiográfico sobre Nero e seu Principado. Artigo (Doutorando em História). Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2019. 
CÁSSIO, Dião. História Romana. (LXI, 35 – LXIII, 3)
GRANT, Michael. História de Roma. São Paulo: Civilização Brasileira, 1987.
JOLY, Fábio Duarte. Suetônio e a tradição historiográfica senatorial: uma leitura da Vida de Nero. Artigo (Doutorando em História Econômica). Departamento de História, FFLCH, Universidade de São Paulo-USP, 2005.
SUETÔNIO, A Vida dos Doze Césares. (sécs. I-II E.C.).
TÁCITO. Anais. Tradução de J.L. Freire de Carvalho. São Paulo: W.M. Jackson Inc. Editores, 1952 (Clássicos Jackson, Vol XXV).

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