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1 DIREITO PREVIDENCIÁRIO FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL Contribuições dos segurados 1. Considerações iniciais Antes de adentrar no tema propriamente dito, vale recordar que as contribuições ordinárias de seguridade social são aquelas indicadas nos incisos do art. 195 da Constituição Federal (CF/1988). Das contribuições lá indicadas, duas recebem o predicado; a qualidade de serem contribuições previdenciárias destinadas exclusivamente ao Fundo do Regime Geral de Previdência Social (FRGPS) e ao pagamento de benefícios da Previdência Social. Essas contribuições ditas previdenciárias são: a contribuição da empresa, do empregador ou do equiparado sobre a folha de pagamentos; a contribuição dos segurados ou dos trabalhadores. De efeito, segundo previsão constitucional (art. 195 da CF/1988), as contribuições previdenciárias são: 2 Ambas as contribuições elencadas são aquelas que a Lei nº 8.212/1991 (Plano de Custeio da Previdência Social – PCPS) trata. A referida lei somente trata das contribuições previdenciárias, não cuidando de quaisquer outras contribuições ordinárias de seguridade social. É a contribuição dos segurados que será alvo de exame na presente unidade. Trata-se de uma contribuição previdenciária devida pelos trabalhadores e demais segurados do Regime Geral previdenciário, prevista no art. 195, inciso II, da CF/1988, inclusive pelo aposentado que continua a desenvolver atividade laborativa e pela mulher que recebe salário maternidade. Aqui, sobre a contribuição do segurado que recebe salário maternidade, o julgamento do RE nº 576.967, que fixou a tese no tema nº 72, não afasta a contribuição por parte do segurado que recebe o benefício. Segundo o entendimento firmado, afasta-se a incidência da contribuição para o empregador, cuidado com esta nuance, Tema nº 72: “É inconstitucional a incidência de contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o salário maternidade” (Plenário, Sessão Virtual, julgado em 05.08.2020). Note-se que o inciso II, do art. 195, da CF/1988, foi recentemente alterado pela Emenda Constitucional (EC) nº 103, de 2019. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (...) II – do trabalhador e dos demais segurados da Previdência Social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não 3 incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019.) A EC nº 103/2019 promoveu a denominada Reforma da Previdência, uma vez que, operou profundas modificações no sistema de previdência social nacional, tanto para o RGPS quanto para o Regime Próprio dos Servidores Públicos (RPPS). ART. 195, II – ANTES DA EC Nº 103/2019 ART. 195, II – APÓS A EC Nº 103/2019 II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998.) II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019.) É fácil se depreender que a principal alteração promovida no inciso II, transcrito, diz respeito à instituição de alíquotas progressivas, disposição esta que vem sendo considerada inconstitucional por muitos operadores do Direito. Didaticamente, podemos afirmar que são três as contribuições previdenciárias dos segurados ou dos trabalhadores, cada uma com contornos próprios: (i) contribuição dos segurados empregado, doméstico e avulso; (ii) contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo; e (iii) contribuição dos segurados especiais. Essas contribuições previdenciárias, bem como aquelas pagas pelo empregador, são as que a Lei nº 8.212/1991 (Lei de Custeio) trata. Em outras palavras, a Lei de Custeio somente trata das contribuições previdenciárias, não tratando de outras contribuições ordinárias de seguridade social. 2. Contribuição dos segurados empregado, doméstico e 4 avulso (art. 20 Plano de Custeio da Previdência Social – PCPS) Trata-se de uma contribuição previdenciária devida pelos trabalhadores e demais segurados do RGPS prevista no art. 195, inciso II, da CF/1988, inclusive pelo aposentado que continua a desenvolver atividade laborativa e pela mulher que recebe salário-maternidade. Lembrando que não incide contribuição previdenciária sobre as aposentadorias e pensões diante da imunidade tributária prevista na parte final do inciso II do art. 195 da CF/1988. Nesta esteira, interessante mencionar que, no caso dos trabalhadores aposentados, estes não pagarão contribuição sobre os proventos da aposentadoria (art. 195, inciso II, da CF/1988; art. 28, § 9º, alínea “a”, do PCPS), porém, se permanecerem ou retornarem ao mercado de trabalho, recolherão contribuição sobre a remuneração da atividade laboral abarcada pelo RGPS (STF, RE 447923 AgR-segundo nº 447.923/RS, 12.06.2017). Não obstante, o exercente de mandato eletivo, por ser segurado obrigatório empregado do RGPS (art. 11, I, j, da Lei nº 8. 213/1991) e, nessa condição, deve recolher a contribuição em estudo. Embora não haja divergência quanto a isso, não se deve olvidar a tese que o STF (RE nº 626.837, julgado em 25.05.2017), em repercussão geral, fixou sobre o Tema nº 691: “Incide contribuição previdenciária sobre os rendimentos pagos aos exercentes de mandato eletivo, decorrentes da prestação de serviços à União, a estados e ao Distrito Federal ou a municípios, após o advento da Lei nº 10.887/2004, desde que não vinculados a regime próprio de previdência” (RE 626837, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 25/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-018 DIVULG 31-01-2018 PUBLIC 01-02-2018). 2.1. Contribuição Recentemente, a CF/1988 foi alterada pela EC nº 103/2019, e a principal alteração promovida no inciso II do art. 195 diz respeito à instituição de alíquotas progressivas de acordo com o salário de contribuição. Antes da Reforma Previdenciária, as alíquotas eram de 8%, 9% ou 11% (tabela progressiva prevista no art. 20 do PCPS) sobre o salário de contribuição. Todavia, o art. 28 da EC nº 103/2019 modificou substancialmente a sistemática de contribuição previdenciária dos segurados empregado, trabalhador avulso e empregado doméstico. A alteração é tão profunda que o art. 20 do PCPS não foi recepcionado pela Reforma Constitucional. 5 Então, segundo o art. 28 da EC nº 103/2019 (bloco de constitucionalidade), até que lei posterior altere a alíquota da contribuição prevista na Lei nº 8.212/1991, a alíquota será 7,5%, 9%, 12% e 14%. Verifique o quadro abaixo: 1. PROGRESSIVIDADE DA CONTRIBUIÇÃO DO EMPREGADO AVULSO E DO DOMÉSTICO SEGUNDO A EC Nº 103/2019 Até um salário-mínimo Alíquota de 7,5% Acima de um salário-mínimo até a R$ 2.089,60 Alíquota de 9% De R$ 2.089,61 a R$ 3.134,40 Alíquota de 12% De R$ 3.134,40 a R$ 6.101,06 Alíquota de 14% Os valores das faixas serão reajustados anualmente segundo o disposto no art. 41-A da Lei nº 8.213/1991, considerando o respeito à faixa mínima de um salário mínimo. Então, os valores acima expostos guardam relação com a atualização realizada pela portaria da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT) nº 3.659/2020, válidaa partir de 1º de março de 2020. 2.2. Arrecadação e recolhimento (art. 30, PCPS) Empregado e avulso: a empresa ou equiparado (para o segurado empregado) ou o sindicato/órgão gestor de mão de obra – OGMO (para o segurado avulso), enquanto responsáveis tributários, devem descontar a contribuição da remuneração do trabalhador e recolhê-la até o dia 20 do mês subsequente ao da competência (art. 30, inciso I, alíneas “a” e “b”, do PCPS). Não havendo expediente bancário, o recolhimento deve ocorrer no dia anterior (art. 30, § 2º, do PCPS). Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas: (Redação dada pela Lei n° 8.620, de 5.1.93) I - a empresa é obrigada a: a) arrecadar as contribuições dos segurados empregados e trabalhadores avulsos a seu serviço, descontando-as da respectiva remuneração; 6 b) recolher os valores arrecadados na forma da alínea adeste inciso, a contribuição a que se refere o inciso IV do art. 22 desta Lei, assim como as contribuições a seu cargo incidentes sobre as remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais a seu serviço até o dia 20 (vinte) do mês subsequente ao da competência; § 2º Se não houver expediente bancário nas datas indicadas: I - no inciso II do caput, o recolhimento deverá ser efetuado até o dia útil imediatamente posterior; e II - na alínea b do inciso I e nos incisos III, V, X e XIII do caput, até o dia útil imediatamente anterior. Empregado doméstico: o empregador doméstico, enquanto responsável tributário, deve descontar a contribuição e recolhê-la até o dia 7 do mês seguinte ao da competência (art. 35 da Lei Complementar – LC – nº 150/2015; art. 30, inciso V, do PCPS). O recolhimento se dá através do Simples Doméstico (art. 34 da LC nº 150/2015), que permite o recolhimento conjunto de contribuição do empregado, do empregador, seguro contra acidentes do trabalho (SAT), Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), indenização compensatória de perda de emprego (art. 22 da LC nº 150/2015) e Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF). Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas: (Redação dada pela Lei n° 8.620, de 5.1.93) V - o empregador doméstico é obrigado a arrecadar e a recolher a contribuição do segurado empregado a seu serviço, assim como a parcela a seu cargo, até o dia 7 do mês seguinte ao da competência; 2.3. Consequências do não recolhimento da contribuição pelo responsável tributário 7 Há presunção de recolhimento das contribuições pelo responsável tributário; eventual não recolhimento sujeita o responsável a fiscalização, cobrança e penalidades, não podendo o prejuízo ser carreado ao segurado. Cumpre ao segurado, apenas, comprovar o vínculo laboral e o valor da remuneração (arts. 33, § 5º, do PCPS, e 34 do Plano de Benefícios da Previdência Social – PBPS). Nesta esteira, prevê a Súmula nº 18 do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS): “Não se indefere benefício sob fundamento de falta de recolhimento de contribuição previdenciária quando esta obrigação for devida pelo empregador”. Provando o vínculo, mas não o valor da remuneração, será concedido o benefício de valor mínimo, devendo a renda ser recalculada quando da apresentação de prova dos salários de contribuição (art. 35 da PBPS – Lei nº 8.213/1991). Art. 35. Ao segurado empregado, inclusive o doméstico, e ao trabalhador avulso que tenham cumprido todas as condições para a concessão do benefício pleiteado, mas não possam comprovar o valor de seus salários de contribuição no período básico de cálculo, será concedido o benefício de valor mínimo, devendo esta renda ser recalculada quando da apresentação de prova dos salários de contribuição. Após a LC nº 150/2015, os domésticos foram igualados aos empregados e avulsos no que tange à presunção de recolhimento da contribuição pelo responsável tributário (houve revogação tácita do art. 36 do PBPS). Antes da lei complementar, os domésticos só gozavam de presunção de recolhimento de contribuição pelo responsável tributário no valor mínimo; acima do piso do salário de contribuição, o recálculo da renda do benefício dependia da prova do recolhimento das contribuições (e não da mera prova do valor dos salários auferidos). 3. Contribuição dos segurados contribuinte individual e 8 facultativo (art. 21, PCPS) Art. 21. A alíquota de contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo será de vinte por cento sobre o respectivo salário-de-contribuição. Esse agrupamento de contribuições é o mais complexo, pois temos diferentes disciplinas dentro de um único grupo. Esquematicamente, temos: (i) contribuição do contribuinte individual que trabalha por conta própria e do segurado facultativo; (ii) contribuição do contribuinte individual que trabalha para empresa; (iii) contribuição dos optantes pelo regime simplificado de recolhimento (dentro desse regime, temos uma subdivisão de contribuição mais favorecida para o MEI e segurado facultativo considerado de baixa renda). Essa diferença mencionada se justifica na medida em que o segurado que trabalha por conta própria recolhe por si, não possuindo um responsável tributário. O contribuinte individual que trabalha para uma empresa possui um responsável tributário. Basicamente, o regime simplificado de recolhimento implica uma contribuição com alíquota menor e base de cálculo também menor. Em contrapartida, esses optantes pelo regime simplificado abrem mão da aposentadoria por tempo de contribuição e da contagem recíproca de tempo de contribuição. 3.1. Contribuição Contribuinte individual que trabalha por conta própria e facultativo: alíquota de 20% sobre o salário de contribuição, com recolhimento pelo próprio segurado até o dia 15 do mês seguinte ao da competência. Para o segurado contribuinte individual, o salário de contribuição é o valor da remuneração auferida no mês, observados 9 piso e teto. Para o segurado facultativo, o salário de contribuição é o valor por ele declarado, observados piso e teto. Contribuinte individual que presta serviço a empresa ou equiparado (art. 30, §§ 4º e 5º, PCPS): alíquota 11% sobre o salário de contribuição. Essa redução de 45% (alíquota de 11% em vez de 20%) se justifica porque, nesse caso, a empresa pagará a sua própria contribuição previdenciária (cota patronal) sobre a folha de pagamentos, o que não ocorre quando o contribuinte individual não presta serviço a pessoa jurídica. O contribuinte individual que presta serviço a pessoa jurídica qualificada como entidade beneficente de assistência social continua submetido à alíquota de 20%, pois a entidade é imune à cota patronal (art. 195, § 7º, CF/1988; art. 216, § 26, do Regulamento da Previdência Social [RPS] – Decreto nº 3.048/1999). Há, neste ponto, crítica da doutrina e da jurisprudência, por ausência de amparo na lei quanto a essa previsão do regulamento e por carrear ao segurado o peso da imunidade constitucional das entidades filantrópicas. Contribuinte individual que trabalha por conta própria e facultativo optantes pelo recolhimento simplificado (art. 21, §§ 2º a 5º, PCPS): (i) alíquota 11% sobre o salário mínimo para o contribuinte individual que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado (com recolhimento pelo próprio segurado até o dia 15 do mês seguinte ao exercício da competência); (ii) alíquota de 5% sobre o salário mínimo no caso de: microempreendedor individual (MEI – LC nº 123/2006); e de segurado facultativo, sem renda própria, pertencente à 10 família de baixa renda, quese dedique exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência (dona de casa de baixa renda). Considera-se de baixa renda a família inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) cuja renda mensal seja de até dois salários mínimos. Veja que não basta ser uma família de baixa renda. O segurado deve estar inscrito no CadÚnico como família de baixa renda. A alíquota de 5% será paga pela empresa (caso de MEI que presta serviço a empresa) ou pelo próprio segurado, até o dia 15 ou dia 20 do mês seguinte ao da competência, conforme contribuição seja paga pelo segurado ou responsável, respectivamente. E se o segurado se arrepende da opção que fez? A lei diz que, querendo, o segurado poderá fazer jus à aposentadoria por tempo de contribuição ou a contagem recíproca do tempo de contribuição. Para tanto, basta complementar a contribuição mensal. Então, a qualquer tempo, poderá complementar a contribuição mensal mediante recolhimento retroativo de 9% faltantes para integralizar os 20% sobre o salário de contribuição, acrescido dos juros legais. Portanto, a possibilidade de complementação é imprescritível. Esta é a concretização do art. 201, § 12, da CF/1988 (com novel redação dada pela EC nº 103/2019), que determina que a lei instituirá sistema especial de inclusão previdenciária, com alíquotas diferenciadas, para atender a trabalhadores de baixa renda, inclusive àqueles em situação de informalidade e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda, garantindo- lhes acesso a benefícios de valor igual a um salário mínimo. 3.2. Arrecadação e recolhimento Situação 1: o contribuinte individual que trabalha por 11 iniciativa própria e o segurado facultativo devem, eles próprios, recolher a sua contribuição até o dia 15 do mês seguinte ao da competência (art. 30, II, PCPS). O contribuinte individual qualificado como microempreendedor individual que trabalha por iniciativa própria deve recolher a sua contribuição até o dia 20 do mês seguinte ao da competência (art. 18-C, § 3º, II, LC nº 123/2006 e sua regulamentação). O contribuinte individual e o facultativo cujos salários de contribuição sejam de um salário mínimo podem optar pelo recolhimento trimestral da contribuição, com vencimento até o dia 15 do mês seguinte ao fim de cada trimestre civil, prorrogando-se o vencimento para o dia útil subsequente quando não houver expediente bancário no dia 15 (art. 216, § 15, RPS). Situação 2: caso do contribuinte individual que presta serviço a empresa (inclusive a cooperativa de trabalho) ou equiparado. A empresa (responsável tributário) é obrigada a descontar a contribuição do segurado e a recolher o valor arrecadado, juntamente com a contribuição a seu cargo (cota patronal), até o dia 20 do mês seguinte ao da competência, ou até o dia útil anterior se não houver expediente bancário naquele dia (art. 4º, caput e § 1º, Lei nº 10.666/2003). Nessa situação, em razão do responsável tributário, há presunção absoluta de recolhimento das contribuições do contribuinte individual. Se o contribuinte individual receber de empresa remuneração inferior ao piso do salário de contribuição, fica obrigado a integrar a diferença por conta própria (art. 5º, Lei nº 10.666/2003). Se não o fizer, o recolhimento não será considerado para nenhuma finalidade, porque realizado em violação à norma legal que estabelece piso para o salário de contribuição. A obrigação de desconto e recolhimento pelo responsável 12 tributário não se aplica ao contribuinte individual, quando contratado por outro contribuinte individual equiparado à empresa ou ao produtor rural pessoa física ou por missão diplomática e repartição consular de carreiras estrangeiras, nem ao brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo (art. 4º, § 3º, Lei nº 10.666/2003). Nesses casos, mesmo prestando serviço a empresa ou equiparado, o contribuinte individual deve fazer o recolhimento, por conta própria, à alíquota de 11% (retorno excepcional à situação 1). Antes de encerrar, cabe registrarmos que existe discussão na doutrina, sem reflexos na jurisprudência, sobre a real natureza tributária da contribuição previdenciária: o segurado facultativo, que é recolhida voluntariamente, sob pena de perda da qualidade de segurado. Isso porque o Código Tributário Nacional (CTN) define tributo como “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” (art. 3º). Apesar da discussão doutrinária, o Supremo Tribunal Federal (STF) (RE nº 556.664/RS) não excepcionou essa contribuição no julgado que assentou a natureza tributária das contribuições em geral. 4. Contribuição do segurado especial (art. 25 + art. 30, III e XI, PCPS) Os segurados especiais não contribuem sobre o salário de contribuição, pois, por força de norma constitucional, eles “(...) contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção (...)” (art. 195, § 8º, da CF/1988, na redação dada pela EC nº 20/1998). Veja que aqui já temos uma grande nota distintiva. O art. 25 do PCPS trata de duas contribuições: a do segurado especial e a do empregador rural pessoa física; esta última em substituição à contribuição patronal sobre folha de 13 pagamentos. Perceba, então, que o mesmo dispositivo legal trata de uma contribuição de segurado (a do segurado especial) e uma contribuição de empregador (empregador rural pessoa física). Neste tópico será analisada somente a contribuição do segurado; a cota patronal do empregador rural pessoa física será vista adiante. E sobre a análise da constitucionalidade do art. 25 do PCPS, em junho de 2020, em sede de repercussão geral no RE nº 761.263, o STF fixou a seguinte tese: “É constitucional, formal e materialmente, a contribuição social do segurado especial prevista no art. 25 da Lei 8.212/1991” (tema nº 723). 4.1. Contribuição Alíquota de 1,2% sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção, mais adicional 0,1% para financiamento das prestações por acidente do trabalho, totalizando 1,3%. O recolhimento, em regra, se dá pelos adquirentes, até o dia 20 do mês seguinte ao da produção. Assim, como regra, os segurados especiais não contribuem com base no salário de contribuição, mas sob a receita proveniente da comercialização de sua produção. Essa alíquota atual foi fixada pela Lei nº 13.606/2018, reduzindo a alíquota anterior, que era de 2% sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção, mais adicional 0,1% para financiamento das prestações por acidente do trabalho, totalizando 2,1%. Muitas vezes, os segurados especiais trabalham para produzir somente para fins de subsistência. Com isso, não ocorrerá o fato gerador da contribuição.Nesse caso, como fica a situação desses segurados? Eles ficam excluídos da Previdência Social? Não. O art. 39, I, PBPS garante a esses segurados alguns benefícios de valor mínimo, desde que comprovem o efetivo trabalho no período equivalente à carência. Nesse caso, haverá proteção previdenciária nos termos da lei. 14 Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do caput do art. 11 desta Lei, fica garantida a concessão: (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019.) I – de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art. 86 desta Lei, desde que comprovem o exercício de atividaderural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido, observado o disposto nos arts. 38-A e 38-B desta Lei; ou (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019.) Outra peculiaridade da lei diz respeito ao fato de que se admite que esses segurados exerçam trabalho não rural intercalado (arts. 12, §§ 10 e 14, PCPS). Muitas vezes, em períodos de defeso, entressafra, estiagem, os segurados especiais desempenham atividades não rurais para complementar a renda. Essas atividades são esporádicas não descaracterizando as atividades rurais, desde que esse trabalho não rural não supere 120 dias por ano. Durante esses trabalhos intercalados, esses trabalhadores deverão recolher as respectivas contribuições de acordo com a espécie de segurado na qual estiver enquadrado nesse período. O segurado especial, além de sua contribuição própria, também pode contribuir facultativamente nos termos da contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo (art. 21, PCPS). Se o segurado especial recolher como se fosse segurado contribuinte individual e facultativo, ele poderá desfrutar de vantagens: – poderá gozar de aposentadoria por tempo de contribuição; – poderá auferir de benefícios superiores ao salário mínimo. Observação: Integram a produção, para os efeitos dessa contribuição, os produtos de origem animal ou vegetal, em estado natural ou submetidos a processos de beneficiamento ou industrialização rudimentar, assim compreendidos, entre outros, os processos de lavagem, limpeza, descaroçamento, pilagem, 15 descascamento, lenhamento, pasteurização, resfriamento, secagem, fermentação, embalagem, cristalização, fundição, carvoejamento, cozimento, destilação, moagem, torrefação, bem como os subprodutos e os resíduos obtidos através desses processos (art. 25, § 3º, PCPS). Considera-se processo de beneficiamento ou industrialização artesanal aquele realizado diretamente pelo próprio produtor rural pessoa física, desde que não esteja sujeito à incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) (art. 25, § 11, PCPS). Integra a receita bruta, além dos valores decorrentes da comercialização da produção relativa aos produtos referidos (art. 25, § 3º, PCPS), a receita proveniente (art. 25, § 10, PCPS): (i) da comercialização da produção obtida em razão de contrato de parceria ou meação de parte do imóvel rural; (ii) da comercialização de artigos de artesanato (art. 12, § 10, VII, PCPS); (iii) de serviços prestados, de equipamentos utilizados e de produtos comercializados no imóvel rural, desde que em atividades turística e de entretenimento desenvolvidas no próprio imóvel, inclusive hospedagem, alimentação, recepção, recreação e atividades pedagógicas, bem como taxa de visitação e serviços especiais; (iv) do valor de mercado da produção rural dada em pagamento ou que tiver sido trocada por outra, qualquer que seja o motivo ou finalidade; (v) de atividade artística (art. 12, § 10, VIII, PCPS). Não integra a base de cálculo da contribuição em estudo a produção rural destinada ao plantio ou reflorestamento, nem o produto animal destinado à reprodução ou criação pecuária ou granjeira e à utilização como cobaia para fins de pesquisas científicas, quando vendido pelo próprio produtor e por quem a utilize diretamente com essas finalidades e, no caso de produto 16 vegetal, por pessoa ou entidade registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que se dedique ao comércio de sementes e mudas no país (art. 25, § 12, PCPS). 4.2. Arrecadação e recolhimento Regra – a empresa/cooperativa adquirente, consumidora ou consignatária deve descontar e recolher a contribuição (responsável tributário) até o dia 20 do mês subsequente ao da operação (art. 30, III e XI, PCPS). Não havendo expediente bancário, o recolhimento deve ocorrer no dia anterior (art. 30, § 2º, PCPS). Exceções – o segurado especial deve, até o dia 20 do mês subsequente ao da operação, recolher a contribuição por iniciativa própria se comercializar sua produção: (i) no exterior; (ii) diretamente, no varejo, ao consumidor pessoa física; (iii) a outro contribuinte individual rural ou segurado especial; (iv) relativamente a artesanato elaborado com matéria-prima produzida pelo respectivo grupo familiar, a produção artística ou a serviços/atividades de turismo ou entretenimento na propriedade, inclusive hospedagem, alimentação, recepção, recreação e atividades pedagógicas, bem como taxa de visitação (art. 30, X e XII, PCPS). O segurado especial deve descontar a contribuição devida por eventuais trabalhadores temporários a seu serviço e recolhê-la até o dia 7 do mês subsequente ao da competência, ou no dia útil imediatamente anterior (art. 30, XIII, c/c art. 32-C, § 3º, PCPS). Significa dizer que, havendo trabalhadores temporários a seu serviço, o segurado especial funcionaria como responsável tributário quanto às contribuições desses segurados. Duas observações são necessárias antes de finalizar o exame da 17 contribuição do segurado especial. O segurado especial também pode contribuir facultativamente nos termos da contribuição, visto anteriormente, dos segurados contribuinte individual e facultativo (art. 21, PCPS). Nesse caso, o segurado especial contribui com alíquota de 20% (a alíquota reduzida é apenas para o contribuinte individual que presta serviço a pessoa jurídica) sobre valor por ele estipulado, observados piso e teto, sem perder seu enquadramento como segurado especial (art. 25, § 1º, PCPS). As vantagens de o segurado especial recolher, além da contribuição que lhe é própria (sobre o resultado da produção), aquela inerente aos segurados – contribuinte individual e facultativo – consistem em poder gozar de aposentadoria por tempo de contribuição ou, a depender da média de valor das contribuições, auferir renda ou benefício superior ao salário mínimo. Por derradeiro, a legislação autoriza que o segurado especial exerça, intercaladamente com seu labor principal (rural, pesqueiro ou extrativista), atividades de natureza diversa (art. 12, §§ 10 e 14, PCPS). Nesses casos, o exercício da atividade intercalada sujeita o segurado especial, sem prejuízo da contribuição que lhe é própria, ao recolhimento, nas respectivas competências, de contribuições de acordo com a natureza do labor desempenhado (art. 12, § 13, PCPS). 2. RESUMO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DOS SEGURADOS Base de Responsável Presunção 18 Segurado Alíquota Cálculo pelo recolhiment de orecolhiment Prazo o Empregado avulso 7,5%, 9%, 12% e 14% Salário de contribuição Empresa Sim Até o dia 20 do mês seguinte Doméstico 7,5%, 9%, 12% e 14% Salário de contribuição Empregador doméstico Sim Até o dia 7 do mês seguinte Contribuinte individual que trabalha por conta própria e facultativo 20% Salário de contribuição O próprio segurado Não Até o dia 15 do mês seguinte Contribuinte individual 19 que presta serviço a pessoa jurídica 11% Salário de contribuição Empresa Sim Até o dia 20 do mês seguinte Contribuinte individual que trabalha por conta própria e segurado facultativo sem ATPC 11% Piso do salário de contribuição (1 salário mínimo) O próprio segurado Não Até o dia 15do mês seguinte Contribuinte individual –M e facultativo de baixa renda sem ATPC EI 5% Piso do salário de contribuição (1 salário mínimo) O próprio segurado Não Até o dia 15 (facultativo) ou dia 20 (CI- MEI) do mês seguinte 1,2% + Receita da Sim, se houver Até o dia 20 Segurado especial 0,1 para ac. trab. venda da produção Em regra, os adquirentes responsável tributário 20 do mês seguinte ao da produção
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