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APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO

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Aplicação da lei penal no espaço 
Relevância: havendo aparente possibilidade de 
aplicação da lei penal de um ou mais países, a lei 
de qual país será a aplicada? 
Preceitua, neste sentido, o Código Penal: 
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar 
em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em 
parte, bem como onde se produziu ou deveria 
produzir-se o resultado. 
Aqui se adota a TEORIA DA UBIQUIDADE (OU 
MISTA) no que tange ao lugar (espaço) do crime 
*LUTA (Lugar Ubiquidade (ou mista), Tempo 
Atividade) 
*obs, no concurso de pessoas se adota a teoria 
unitária ou monista 
 
Partamos, agora, do pressuposto que entendemos 
que seja caso de a conduta acontecer dentro do 
território brasileiro e o resultado desta conduta 
acontecer fora do território brasileiro OU, seja caso 
de a conduta acontecer fora do território brasileiro 
e o resultado desta conduta acontecer dentro do 
território brasileiro, O BRASIL ENTENDE QUE 
PODE APLICAR A SUA LEI. 
 
O que se configura como território brasileiro? 
Território brasileiro é gênero do qual decorrem 
duas espécies: território físico e território jurídico 
(ou ficto ou por extensão). 
Ocorrendo o fato dentro do território físico ou 
jurídico brasileiro o fato se considera acontecido 
DENTRO DO BRASIL. 
Território físico: toda a extensão de terra dentro do 
mapa brasileiro até a fronteira com outro país ou 
até o começo do mar (território terrestre); toda a 
extensão de mar, dentro de 12 milhas marítimas a 
partir do fim da terra (território marítimo); tudo o 
que, no ar, estiver sobrevoando o que lá embaixo 
for território terrestre ou território marítimo 
(território aéreo). 
*zona econômica exclusiva é maior que doze 
milhas, mas a partir disso é mar brasileiro para fins 
econômicos. 
Sobre o território jurídico, preceitua o artigo 5º, § 
1º, do CPB: 
*isso é direito penal, mas muito se traz do direito 
público internacional 
“Para os efeitos penais, consideram-se como 
extensão do território nacional as embarcações e 
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a 
serviço do governo brasileiro onde quer que se 
encontrem, bem como as aeronaves e as 
embarcações brasileiras, mercantes ou de 
propriedade privada, que se achem, 
respectivamente, no espaço aéreo 
correspondente ou em alto-mar.’’ 
Sintetizando: território jurídico SEMPRE será um 
NAVIO ou um AVIÃO. E, nestes casos, temos as 
seguintes variáveis: 
 
a) caso o navio/avião seja PÚBLICO, ele se 
considera território jurídico (por extensão) do país 
ao qual pertence em qualquer lugar do globo 
terrestre; 
Exemplo: fato que ocorra dentro de navio público 
brasileiro navegando em águas holandesas é fato 
que se considera acontecido dentro do BRASIL. 
*isso se baseia num princípio do direito 
internacional público, que é o da reciprocidade 
b) caso o navio/avião seja PRIVADO, MAS A 
SERVIÇO DO GOVERNO DE SEU PAÍS, ele se 
considera território jurídico (por extensão) do país 
ao qual pertence em qualquer lugar do globo 
terrestre; 
Exemplo: fato que ocorra dentro de navio 
PRIVADO, MAS A SERVIÇO DO GOVERNO 
BRASILEIRO navegando em águas espanholas é 
fato que se considera acontecido dentro do 
BRASIL. 
c) caso o navio/avião seja PRIVADO, SEM ESTAR 
A SERVIÇO DO GOVERNO DE SEU PAÍS, ele se 
considera território jurídico (por extensão) do país 
ao qual pertence APENAS até o alto-mar. 
Exemplo: fato que ocorra dentro de navio 
PRIVADO QUE NÃO ESTÁ A SERVIÇO DO 
GOVERNO BRASILEIRO navegando em águas 
tailandesas é fato que se considera acontecido 
dentro da TAILÂNDIA; caso o fato aconteça dentro 
deste navio e este esteja em alto-mar, o fato se 
considera acontecido dentro do BRASIL. 
 
O que é o alto-mar? 
É a porção de mar que não está dentro das 12 
milhas marítimas de nenhum país. Logo, em 
alto-mar, o território que se considera acontecido 
o fato SEMPRE será o território do país ao qual 
pertence a embarcação. *será águas 
internacionais 
Observação: o que, no ar, estiver sobrevoando o 
que lá embaixo for alto-mar é considerado espaço 
aéreo internacional e, neste caso, seguem-se as 
mesmas diretrizes do alto-mar. 
 
*carro não é extensão 
 
 
PERGUNTA: embaixada é extensão do território 
de seu país? NÃO 
Exemplos: embaixada dos EUA, no Brasil, é 
território americano? Embaixada do Brasil, nos 
EUA, é território brasileiro? NÃO 
*analogia de um aluguel, uma relação de 
cordialidade, ainda, um país não pode entrar sem 
autorização em uma embaixada, mesmo que em 
seu país 
 
A regra, não só no Brasil, é a de que a lei penal de 
determinado país se aplica aos fatos (conduta ou 
resultado) que aconteçam dentro de seu território 
(físico ou jurídico). 
É o que se conhece por princípio da 
territorialidade. 
Exemplo: a fato que aconteça dentro do Brasil se 
aplica a lei penal brasileira. 
*cada país é soberano para aplicar as suas 
normas 
Este princípio, contudo, comporta duas exceções 
(daí porque se diz que a TERRITORIALIDADE É 
TEMPERADA, MITIGADA OU RELATIVA): 
• Intraterritorialidade (fato que acontece 
dentro do território brasileiro, mas o Brasil 
não pode aplicar sua lei); 
• Extraterritorialidade (fato que acontece 
fora do território brasileiro, mas o Brasil, 
em tese, pode aplicar sua lei). 
 local lei 
TERRIOTORIALIDADE BR BR 
INTRATERRITORIALIDADE BR outro 
EXTRATERRITORIALIDADE outro BR 
 
*isso se aplica para todos os países, Brasil é só 
um exemplo 
*quando fala fato fora do Brasil, fala conduta e 
resultado fora do Brasil 
*exemplo de intraterriotorialidade: diplomata da 
Malásia que trabalha no Brasil, ele será imune às 
leis penais do br, Malásia será o país creditante e 
o Brasil o país acreditado. A Malásia irá aplicar a 
lei, e ele não pode abrir mão da imunidade, mas o 
país pode renunciar, já que a imunidade não 
pertence a ele 
 
A extraterritorialidade da lei penal brasileira 
pode ser: 
• Incondicionada (art. 7º, I, CP): aplica-se a 
lei penal brasileira a fato ocorrido fora do 
território brasileiro independentemente de 
qualquer condição; 
• Condicionada (art. 7º, II, CP): aplica-se a lei 
penal brasileira a fato ocorrido fora do 
território brasileiro, desde que preenchidas 
algumas condições; 
• Hipercondicionada (art. 7º, II, § 3º, CP): 
aplica-se a lei penal brasileira a fato 
ocorrido fora do território brasileiro desde 
que preenchidas as condições previstas no 
artigo 7º, § 2º e § 3º do CPB; *hiper porque 
precisam ser preenchidas as condições da 
condicionada mais do parágrafo terceiro 
 
 
EXTRATERRITORIALIDADE 
INCONDICIONADA 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora 
cometidos no estrangeiro: 
 I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da 
República (justificativa: princípio da defesa, 
proteção ou real); *latrocínio contra o presidente 
da república fora do brasil não enseja a aplicação 
extraterritorial de forma incondicionada da lei 
penal brasileira, porque não é crime contra a vida 
nem contra a liberdade, mas contra o patrimônio 
*O crime de constrangimento ilegal sempre será 
executado mediante violência ou grave ameaça, 
sendo que o desígnio do agente é obrigar alguém a 
fazer ou deixar de fazer algo contra a sua vontade, 
por isso, também seria crime contra a vida ou 
liberdade do PR 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do 
Distrito Federal, de Estado, de Território, de 
Município, de empresa pública, sociedade de 
economia mista, autarquia ou fundação instituída 
pelo Poder Público (justificativa: princípio da 
defesa, proteção ou real); 
c) contra a administração pública, por quem está a 
seu serviço (justificativa: princípio da defesa, 
proteção ou real); *Prime por quem está a seu 
serviço, praticado por funcionário público contra a 
administração pública, crimes do art, 312 ao 326. 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou 
domiciliado no Brasil (justificativa:princípio 
cosmopolita ou justiça penal universal); 
(...) •§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido 
segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou 
condenado no estrangeiro. 
 
INCONDICIONADA (PPAG) 
• P- Presidente da República (vida e 
liberdade); VICE PRESIDENTE 
NÃO!!Princípio da Proteção/da Defesa/Real 
• Patrimônio ou a fé pública da U, DF, E, M e 
Território, EP, SEM, A, Princípio da 
Proteção/da Defesa/Real 
• A- Adm. pública por quem está a serviço 
(patrimônio ou fé pública); Princípio da 
Proteção/da Defesa/Real 
• G– Genocídio, quando agente brasileiro ou 
domiciliado no BR. Princípio Cosmopolita/da 
Justiça Universal 
EXTRATERRITORIALIDADE 
CONDICIONADA 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora 
cometidos no estrangeiro: 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se 
obrigou a reprimir (justificativa: princípio 
cosmopolita ou justiça penal universal, ou 
universalidade do direito de punir); 
b) praticados por brasileiro (justificativa: princípio 
da nacionalidade ativa); 
c) praticados em aeronaves ou embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, 
quando em território estrangeiro e aí não sejam 
julgados (justificativa: princípio da bandeira, 
representação ou pavilhão). 
(…) •§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da 
lei brasileira DEPENDE DO CONCURSO DAS 
SEGUINTES CONDIÇÕES: *todas condições 
devem ser preenchidas 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi 
praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais 
a lei brasileira autoriza a extradição; *extradição é 
o ato do Estado entregar à justiça de outro Estado 
indivíduo acusado de fato delituoso para esse 
julgá-lo. Natureza jurídica: instrumento de 
cooperação internacional 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro 
ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro 
ou, por outro motivo, não estar extinta a 
punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
 
CONDICIONADA (TAB) 
• T- Tratados ou convenções que o Brasil 
se obrigou a reprimir; Princípio 
Cosmopolita/da Justiça Universal 
• A- Aeronave ou embarcação 
Brasileira(sem julgamento no 
estrangeiro) Princípio da 
Representação/da Bandeira/Pavilhão 
• B- Brasileiro. Princípio da Nacionalidade 
Ativa 
EXTRATERRITORIALIDADE 
HIPERCONDICIONADA 
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime 
cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do 
Brasil, se, reunidas as condições previstas no 
parágrafo anterior (justificativa: princípio da 
nacionalidade passiva) e essas seguintes: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
 
PRINCÍPIOS 
1 – Princípio da TERRITORIALIDADE: aplica-se a 
lei penal do LOCAL do crime. 
2 – Princípio da NACIONALIDADE ATIVA: aplica-
se a lei penal da NACIONALIDADE DO AGENTE. 
3 – Princípio da NACIONALIDADE 
PASSIVA: aplica-se a lei pena da NACIONALIDADE 
DA VÍTIMA. 
4 – Princípio da DEFESA/REAL: aplica-se a lei 
penal da NACIONALIDADE DO BEM JURÍDICO 
LESADO. 
5 - Princípio da JUSTIÇA PENAL UNIVERSAL: o 
agente fica sujeito a lei penal do PAÍS EM QUE FOR 
ENCONTRADO. Este princípio está normalmente 
presente nos tratados internacionais de cooperação 
na repressão a determinados delitos de alcance 
transnacional. 
6 – Princípio da 
REPRESENTAÇÃO/PAVILHÃO/BANDEIRA/SUBS
TITUIÇÃO/SUBSIDIARIEDADE a lei penal 
brasileira deve ser aplicada aos crimes cometidos 
em aeronaves e embarcações PRIVADAS, quando 
praticados no estrangeiro e aí não sejam julgados 
(inércia do país estrangeiro). 
 
 
Pena cumprida no estrangeiro 
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a 
pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando 
diversas, ou nela é computada, quando idênticas 
*ele traz a detração, no que tange a pena cumprida 
no estrangeiro 
*se é prisão lá e prisão aqui, elas são idênticas, é 
INDIFERENTE o número de anos a serem 
cumpridos. Se brasileiro for condenado a 5 anos 
no exterior e tiver cumprido a pena, não importa se 
tiver sido condenado por 10 anos no Brasil 
*por computada se entende subtrair 
*penas diferentes seria uma pena de multa em 
outro país e uma privativa de liberdade no Brasil 
Extraterritorialidade INCONCIONADA = CUMPRE 
O RESTANTE DA PENA; 
Extraterritorialidade CONDICIONADA = NÃO 
CUMPRE O RESTANTE DA PENA 
 
 
Eficácia de sentença estrangeira. 
Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a 
aplicação da lei brasileira produz na espécie as 
mesmas consequências, pode ser homologada no 
Brasil para: *não é sempre que uma sentença 
estrangeira precisa ser homologa pra surtir efeito 
aqui. Quando precisa, o STJ que homologa, e o 
Juiz Federal que cumpre 
*homologação: ato de homologar, comprovação 
ou aprovação de determinação cedida por uma 
autoridade 
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a 
restituições e a outros efeitos civis; 
II - sujeitá-lo a medida de segurança. 
Parágrafo único - A homologação depende: 
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido 
da parte interessada; 
b) para os outros efeitos, da existência de tratado 
de extradição com o país de cuja autoridade 
judiciária emanou a sentença, ou, na falta de 
tratado, de requisição do Ministro da Justiça. 
Observações: a competência para a homologação 
é do STJ; para fins de detração penal ou para 
configuração de reincidência não se faz 
necessária a homologação desta sentença penal 
estrangeira. 
 
Observações finais. 
Passagem inocente: a Lei n° 8.617/93 regula o 
direito de passagem inocente. Para que seja 
reconhecido esse direito, o navio privado deve 
utilizar o mar territorial brasileiro somente como 
caminho (passagem) para seu destino, sem 
pretensão de atracar no nosso território. Nesse 
caso, ocorrendo crime a bordo da embarcação, 
não se aplicará a lei brasileira, desde que não seja 
prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do 
Brasil, devendo ser contínua e rápida. 
 
Em caso de crime acontecido no estrangeiro e 
sujeito à lei penal brasileira (extraterritorialidade), 
qual justiça, no Brasil, é competente para 
processo e julgamento? 
De acordo com o STJ (Terceira Seção – CC 
115.375 – Rel. Min. Laurita Vaz - DJe 29/02/2012), 
compete à Justiça Estadual a aplicação da nossa 
lei, salvo se, no caso específico, se fizer presente 
uma das hipóteses constitucionais que atraem a 
competência da Justiça Federal (art. 109, CF/88). 
 
E qual a Comarca competente? Artigo 88 do CPP: 
“No processo por crimes praticados fora do 
território brasileiro, será competente o juízo da 
Capital do Estado onde houver por último residido 
o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, 
será competente o juízo da Capital da República.”. 
 
*Diferença entre extradição, 
expulsão e deportação 
Extradição: entrega de um indivíduo que cometeu 
fato delituoso à justiça de outro país para que seja 
julgado e punido. Ou, caso ele já tenha sido 
condenado, o país entrega ele para outro país 
para que ele cumpra a pena. Um dos requisitos é 
uma assinatura de um tratado de extradição entre 
os dois países. A constituição não admite a 
extradição de brasileiro nato ou processado por 
crime político ou de opinião 
Expulsão: retirada do nosso território de 
estrangeiro que tenha praticado ato contra 
interesses do Estado. Via de regra, é admitida a 
expulsão de estrangeiro condenado em definitivo 
por crime com pena mínima de 2 anos. Quando 
expulso, ele está impedido de voltar, caso volte, 
responde por crime de reingresso de estrangeiro. 
Deportação: devolução de estrangeiro ao exterior 
por entrada ou permanência irregular no país. 
Quando sua entrada ou permanência estiver certa, 
pode voltar.

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