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FILOSOFIA CADERNO DE ESTUDOS MÓDULO 3 - A CRISE DA RAZÃO " O C O N H E C I M E N T O T O R N A A A L M A J O V E M E D I M I N U I A A M A R G U R A D A V E L H I C E . C O L H E , P O I S , A S A B E D O R I A . A R M A Z E N A S U A V I D A D E P A R A O A M A N H Ã " ( L E O N A R D O D A V I N C I ) . P R O F A . C A R O L L I N E B O T E L H O MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO OBJET IVOS A O I N T E R A G I R C OM E S T E MÓ D U L O D E S E U C A D E R N O D E E S T U D O S , E S P E R O Q U E V O C Ê P O S S A . . . REFLET IR SOBRE A CR ISE DA RAZÃO ; CONHECER OS ANTECEDENTES H ISTÓR ICOS DA CR ISE DO PENSAMENTO ; D IST INGU IR AS D I FERENÇAS ENTRE RAZÃO COGN IT IVA E RAZÃO INSTRUMENTA L ; D ISCUT IR SOBRE O CONCE I TO DE VERDADE COMO EXPL ICAÇÃO DA REA L IDADE ; 1 Nos módulos anteriores, vimos como o processo de explicação da realidade se deu a partir de cada tipo de conhecimento estudado. Desde os primórdios da antiguidade clássica, a grande preocupação do homem acerca do real passou por várias crises. Podemos dizer, portanto que a crise da razão historicamente situa-se na Grécia no século V a.e.c, quando surgem os primeiros questionamentos acerca da validade das narrativas míticas como explicação do real. . Os antecedentes da crise "O hábito é , pois, o grande guia da vida humana. É aquele princípio único que faz com que nossa experiência nos seja útil e nos leve a esperar, no futuro, uma sequência de acontecimentos semelhantes às que se verificam no passado. Sem a ação do hábito, ignoraríamos completamente toda questão de fato além do que está imediatamente presente à memória ou aos sentidos". (HUME, David.1973.p.145-146). MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO A negação a autoridade dos deuses marca o que conhecemos como a passagem do mito à razão. Nesse sentido, a relação com o saber se organizará dando origem a novos campos de conhecimentos como aprendemos no módulo 02. Porém , é importante destacar que não estamos estabelecendo um marco para o nascimento da razão, e sim a constituição dos modos de conhecer. É curioso perceber que nessa perspectiva, o nascimento da razão já denota sua própria crise. Desde o início a razão assumiu um caráter teológico que se prolongou com o pensamento cristão. Na modernidade podemos destacar como precursores da crise, Hume (1711-1776) com o ceticismo e Kant (1724-1804) com o criticismo. Na citação acima, chamo atenção de vocês para o pensamento de Hume, que rejeita que as ideias sejam inatas pois, para ele o conhecimento tem início nas percepções individuais nas quais ele fará uma distinção entre, impressões ou ideias. Falando de outra forma, o que Hume pondera é que somos todos subjugados pelos nossos sentidos e pelos nossos hábitos, portanto nossas certezas estarão reduzidas às simples probabilidades. "Nenhum conhecimento em nós precede a experiência, e todo conhecimento começa com ela. Mas, embora todo nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da experiência. Pois poderia bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento de experiência seja um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que nossa própria faculdade de conhecimento [...] fornece de si mesma. [...] tais conhecimentos denominam-se a priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes a posteriori, ou seja, na experiência" (KANT,1980.p.23) Na busca pela superação da contradição estabelecida entre os racionalistas e os empiristas, Kant se ocupará em explicar que o conhecimento é algo que recebemos de fora ( a posteriori) e de algo que existe em nós mesmos , sem nenhuma experiência. 2 Podemos dizer que o conflito entre razão e fé, se dá no início da idade média entre os novos cristãos e os adeptos da filosofia clássica greco- romana. Se para estes a physis era a fonte da lei e portanto, responsável pela ordem racional, para os cristãos a fonte do conhecimento humano e ordem natural era o evangelho. E eis que surge uma problemática diante do conflito apresentado: É possível conciliar razão e fé? Santo Agostinho (354-430 d.a.e) preocupou-se em tornar possível essa conciliação. Para ele, é necessária a aliança entre razão e fé, pois como afirmava , a razão auxilia a fé e portanto a ela é subordinada. O teólogo sintetizou seu pensamento na frase “ Creio para que eu possa entender”. Ao retomar o pensamento platônico e adaptá-lo ao cristianismo , Santo Agostinho desenvolve sua teoria da iluminação, da qual os homens possuem verdades eternas recebidas de Deus. Nesse sentido, Deus ilumina a razão fazendo-nos pensar corretamente. Mais tarde , no período medieval conhecido como Baixa Idade Média , a partir do século IX, muitas mudanças marcaram o campo da cultura, fruto na nova ordem feudal estabelecida de natureza aristocrática, cujo topo da pirâmide dessa estrutura era formado por nobres e pelo clero. Nesse mesmo período a Europa, passava por um processo de criação das primeiras universidades, foco de expansão do pensamento intelectual que anunciava um novo tempo de contestações de debates , onde a razão buscava sua autonomia. Nesse período surge a Escolástica, onde seu principal representante foi Tomás de Aquino, que buscava manter a mesma aliança entre fé e razão. Razão e Fé MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO Um dos períodos que marca a efervescência do pensamento de Agostinho de Hipona ( séculos IV e V) ficou conhecido como Patrística, denominação derivada da doutrina cristã elaborada pelos padres da igreja. A arte da dialética muito utilizada por alguns clérigos não ordenados, atraia o interesse de muitos jovens aos debates. Pedro Abelardo (1079 - 1142) foi um dos mais célebres nesse contexto. Mais sobre esse conteúdo , você pode ver no filme O nome da Rosa, romance de Umberto Eco. Assim como o pensamento cristão sofreu a influência do que ficou conhecido como Neoplatonismo, no século XIII Tomás de Aquino entrará em contato com o pensamento de Aristóteles, onde fará um síntese do seu pensamento adequando-o à fé cristã. No que ficou conhecida como sua principal obra : A Súmula Teológica. 3 Apesar do fecundo terreno do aristotelismo ter sido recuperado por Aquino, até o final da idade média , a escolástica refletia o autoritarismo e por meio de suas posturas dogmáticas, coloca em crise o pensamento filosófico e científico, obstruindo pesquisas e reflexões. Formaram-se assim os tribunais da inquisição , com a finalidade de realizar os julgamentos dos “desvios da fé”. Razão e Fé MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO Esse percurso nos mostra que somente na idade moderna o problema do conhecimento mudará de enfoque, com Descartes, e passará fundamentar o critério da verdade no sujeito que pensa e não mais na relação deste com o objeto a ser conhecido. Como podemos perceber o paradigma da racionalidade se delineou por meio de uma razão que buscava se libertar das amarras das superstições e das crenças mítico-religiosas, fundando-se não mais na autoridade , mas na subjetividade. "No entanto, a esperança de encontrar na razão a compreensão da realidade e do sujeito, bem como a possibilidade de agir de forma eficaz sobre a natureza , dominando-a, apresentou-se como um empreitada cada vez mais difícil, senão inviável". (ARANHA,2013.p.147) Acerca do fragmento acima, destaca-se o que corresponde ao clima de desconfiança que nutria o pensamento de filósofos que viveram no século XIX e que marcaram o pensamento no século XX, entre eles Kierkegaard e Nietzsche entre outros, que veremos adiante. 4 Nas décadas , final do século XIX que seguiram a crise da razão ou , crise da subjetividade, buscou-se a desconstrução do conceito de subjetividade diferente do que havia sido elaborado pela idade moderna. Nesse sentido, diversascorrentes surgiram no século XX , entre eles a fenomenologia. A Fenomenologia MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO Elaborado pelo alemão Edmund Husserl (1859-1938), a fenomenologia consistirá na filosofia e no método que se caracterizou pelo processo pelo qual o fluxo da consciência é examinado, ao mesmo tempo que é possível representar um objeto fora de si. Portanto, será no próprio ser humano o ponto de partida para reflexão, ou seja, os objetos do conhecimento passam a ser abordados do ponto de vista daquele que efetivamente vivenciam uma determinada situação concreta. "A fenomenologia visa a “humanização” da ciência, a partir de uma nova relação entre o sujeito e o objeto, ser humano e mundo, considerados pólos inseparáveis. Sob esse aspecto, contrapõe-se também à filosofia positivista do século XIX, que se baseia na convicção de um conhecimento científico e neutro e despojado de subjetividade". (ARANHA, 2013,p. 157) Pelo que foi exposto no fragmento acima, vocês perceberam importância dada a nossa consciência? Sendo ela, a responsável pelo sentido e nossa fonte de significados. Logo, conhecer é um processo exaustivo e que não tem fim, porém não podemos perder de vista que nossa consciência de mundo é sobretudo nossa fonte de intencionalidades afetivas e práticas. O método desenvolvido por Husserl tem duas etapas, a negativa e a positiva. Na Epochê (etapa negativa) ocorre a redução fenomenológica, quando o objeto ou o fenômeno é isolado de tudo que lhe é próprio para buscar a sua essência. Dito de outra forma, é a busca do incontestável. Já etapa positiva, o olhar da inteligência ao dirigir-se para o objeto, faz com que ele se manifeste a partir da sua realidade. As razões pelas quais Husserl buscou a utilização do meu método, se dá pela necessidade de libertar a teoria do conhecimento das teorias anteriores, sobretudo as teorias do psicologismo e do empirismo inglês. Husserl preocupava-se também em buscar um novo fundamento para ciência. 5 Antes de partirmos para um definição acerca do que seria razão instrumental, é necessário fazermos algumas observações sobre o contexto histórico do seu surgimento, bem como a diferença que existe entre razão instrumental e razão cognitiva. A Razão Instrumental MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO Do contexto de formulação do conceito de razão , partiremos do que foi elaborado pelos iluministas, cujos princípios foram pautados no avanço científico e no pensamento antropocêntrico. Os iluministas acreditavam na evolução contínua do desenvolvimento científico que por sua vez levaria a humanidade ao conhecimento das leis que regem os fenômenos da natureza e do próprio homem enquanto ser social. Com o poder indefinido da exploração intelectual da realidade, o homem passou a dominar a natureza pela técnica. Para os iluministas esse conhecimento consequentemente traria progresso e felicidade. O você o que acha? Como você avaliaria os resultados desse processo histórico na contemporaneidade? Podemos dizer que o projeto iluminista se efetivou no que se propôs : Progresso e a consequente felicidade? Porém o que ocorre é que o pensamento contido nesta tese trouxe problemas que no início do século XX foram ilustrados com as duas guerras mundiais, contradizendo assim o discurso de que o conhecimento levaria o homem ao conhecimento e ao progresso. Acerca do termo razão instrumental , seus estudos começam na Escola de Frankfurt na Alemanha por dois grandes pensadores que desenvolveram sua filosofia que ficou conhecida como Teoria Crítica. Na primeira geração temos: Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Walter Benjamim, já na segunda geração temos como representantes: Erich Fromm e Jürgen Habermas. Razão cognitiva: Diz respeito aos fins propriamente humanos à sabedoria, como o saber viver e a relação dos homens entre si e com a natureza. Razão instrumental: É aquela que visa a competitividade e a produtividade, é o tipo de razão que regula a ação do homem sobre a natureza com fins a sua transformação e dominação. Segundo Horkheimer existem dois tipos de razão: Para os pensadores da Escola de Frankfurt, que analisaram as sociedades tecnocráticas, observou que a razão instrumental ao colocar a ciência e técnica a serviço do capital deixam claro o contraste entre o ideal do “saber-poder”, e nesse sentido demonstram a perda da autonomia do sujeito. Outro filósofo contemporâneo que se debruçou para elaborar uma nova teoria que pudesse estabelecer um nexo entre saber e poder, foi o francês Michel Foucault (1926-1984). Para ele, há uma relação inseparável entre o saber e o poder e da qual o poder exerce um papel fundamental no estabelecimento do que poderá ser considerado como verdade. 6 Minha sugestão de leitura para complementar o entendimento do contexto histórico , é o resumo sobre o Iluminismo que você podem acessar no neste link. Outra importante recomendação sobre os pensadores da Escola de Frankfurt é a leitura da obra de Adorno e Hokheimer: A dialética do esclarecimento. A Razão Instrumental MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO 7 https://www.sohistoria.com.br/resumos/iluminismo.php https://www.sohistoria.com.br/resumos/iluminismo.php A Sociedade Disciplinar MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO Em suas reflexões sobre a mudança ocorrida no início da Idade Moderna, o filósofo francês Michel Foucault caracterizou a sociedade moderna como sociedade disciplinar . Suas análises partem do seu olhar crítico acerca das instituições prisionais e dos hospícios, que ele buscou compreender como as ideias de loucura, disciplina e sexualidade foram se constituindo historicamente a partir do século XVI. Com isso Foucault elaborou dois métodos para suas investigações: o método arqueológico e o método genealógico. A partir do seu método arqueológico foi possível identificar a partir de um determinado período histórico as regras que regulam os sistemas de pensamentos , já a partir do genealógico que completa sua investigação anterior, foi possível compreender como as verdades são produzidas no âmbito das relações de poder. A dominação do sujeito é o objetivo das estratégias disciplinares, desse modo os dispositivos disciplinares estarão acomodados nas instituições disciplinares tais como: as escolas, os presídios, quartéis e igrejas. Foucault observou ainda que tais poderes referentes a essas instituições , são exercidos ainda nas relações pessoais entre , o pai, o professor , o médico e etc, fazendo o poder circular. Em sua obra : A microfísica do poder Foucault discorre sobre como circulam essas práticas de poderes no tecido social que ele chamou de micropoder. Outras duas obras que retratam a relação saber - poder é a História da loucura e a História da sexualidade. Na História da loucura , Foucault observará que para os “desprovidos de razão” houve sempre a exclusão do convívio social, isso desde a Idade clássica e até os dias atuais. Foucault, desvela, diante disso, os mecanismos sociais que submetem o homem às suas condições e regras perversas. "Os poderes de decisão são entregues ao juízo médico: apenas ele nos introduz no mundo da loucura. Apenas ele permite que se distingam o normal do insano, o criminoso do alienado irresponsável".( FOUCAULT,p.141) Percebam que no trecho acima, o filósofo francês nos faz entender que a loucura em sua legitimidade é andarilha, porém há uma descontinuidade nesse andar. Foucault (2002) dirá que ‘trata-se de censuras que rompem o instante e dispersam o sujeito em uma pluralidade de posições e de funções possíveis’. Esse intervalo de tempo ocorre em dois momentos separando o tempo livre da circulação da loucura no espaço social. 8 A Sociedade Disciplinar MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO Finalmente, podemos perceber que a compreensão dos mecanismos de funcionamento da sociedade, suas instituiçõese a produção de seus discursos apresentam contradições históricas que afetam diretamente os sujeitos na constituição das suas subjetividades, o que torna cada vez mais imperioso pensar na relação da produção de conhecimento em uma perspectiva ética. Esse convite fica pro nosso próximo módulo que trataremos desse tema. 9 Considerações Finais MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO Chegamos ao final de mais um módulo e neste especialmente pudemos agregar bastante conhecimento teórico que nos proporcionará uma análise cada vez mais crítica do processo de transformações sociais, sobretudo no mundo contemporâneo. Foi importante refletir sobre um aspecto que merece destaque , o fato de que somos regulados por duas racionalidades que coexistem, onde a origem do irracional está justamente na sobreposição da razão instrumental sobre a razão cognitiva, isso nos coloca a compreender de que maneira o homem passa a perder a sua autonomia enquanto sujeito. Nesse sentido , podemos admitir que o paradigma da racionalidade moderna necessita de reflexões pela via da crítica da razão que dialogue e se exerça na intersubjetividade. Acredito ainda, que nesse percurso histórico que fizemos dos módulos anterior até especificamente o módulo 03 naturalmente fizemos comparamos desses quadros históricos que nos permitiram comparações críticas acerca das transformações sociais. Haja vista que a crise da razão em seus desdobramentos histórico está relacionada ao processo pelo qual a burguesia se efetiva como classe dominante, que nos leva a questionar em que medida a evolução científica e o progresso intelectual favorece a emancipação do homem? Há uma relação ética entre ciência? Que tal pensarmos sobre isso? Aguardo você no próximo módulo. 10 REFERÊNCIAS ADORNO, T.W. Notas marginais sobre teoria e práxis. In: Palavras e sinais: modelos críticos 2. Petrópolis, Vozes, 1995. ARANHA. A. Maria Lúcia de Arruda.Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna,2013.3ªed. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática.2012. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 2002. HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural,1973. Coleção os Pensadores. KANT,Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo:Abril Cultural,1980. Coleção os Pensadores. MÓDULO III: A CRISE DA RAZÃO 11 FILOSOFIA CADERNO DE ESTUDOS MÓDULO 4 - O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE A É T I C . V A L O R E S . O C A R Á T E R H I S T Ó R I C O D A M O R A L . A É T I C A A P L I C A D A . A É T I C A D A R E S P O N S A B I L I D A D E . P R O F A . C A R O L L I N E B O T E L H O MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE OBJET IVOS A O I N T E R A G I R C OM E S T E MÓ D U L O D E S E U C A D E R N O D E E S T U D O S , E S P E R O Q U E V O C Ê P O S S A . . . CONHECER OS FUNDAMENTOS DA ÉT ICA E DA MORA L ; REFLET IR SOBRE O CARÁTER H ISTÓR ICO DA MORA L ; RECONHECER AS QUESTÕES ÉT ICAS NO MUNDO ; ANA L I SAR A D IMENSÃO DA ÉT ICA NO HOMEM E A CR ISE NA MODERN IDADE . 1 Figura: Mafalda Fonte: disponível em < http://2.bp.blogspot.com/- ihBGMReFqeg/ULZuQL6A7SI/AAAAAAAAAXo/AwJrCuLOzps/s640/56206 2_437687936279249_1275092645_n.jpg> acessado em 08/09/2020. 2 O discurso da pós modernidade MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE A primeira coisa que precisamos destacar no início deste módulo começa pela definição do conceito pós modernidade. Afinal estamos na modernidade ou na pós modernidade? O que significam esses conceitos? Sobre o conceito de pós modernidade, é importante destacar que não se trata de uma definição fácil, pois temos várias definições para esse fenômeno, mas que modo geral refere-se ao estado de descrença na esperança depositada na razão iluminista, o sonho da liberdade humana pelo conhecimento cai por terra quando da sociedade de uma Alemanha letrada, emerge o holocausto, e para acrescentar mais um exemplo, podemos citar ainda quando no auge do conhecimento produzido pela física contemporânea , foi possível produzir a bomba que destruiu Hiroshima e Nagasaki. Questões como estas apresentadas acima, farão parte das preocupações filosóficas do pensamento dito pós moderno que terá no perspectivismo de Nietzsche e de outros filósofos como conforme vimos no módulo 03, uma certa denúncia as ilusões do conhecimento e da razão emancipadora, quando questiona-se a sua face dominadora e a possibilidade de se alcançar a verdade. Desse modo, neste módulo intitulado: O discurso da pós-modernidade, entre tantos aspectos que poderíamos abordar, considero fundamental que nos debrucemos sobre a temática da ética, tão necessária na contemporaneidade. Nos módulos anteriores foi possível desvendar os caminhos pelos quais a origem do nosso pensamento ocidental se institui. Foi então nesse trajeto que percorremos pelas bases epistemológicas do pensamento racional, que nos possibilitou refletir na modernidade sobre sua crise e, nesse sentido, conhecer os seus antecedentes históricos. 3 Com essa breve retomada, de alguns dos principais objetivos alcançados nos módulos anteriores, o que tenho a lhes dizer é que já temos uma boa base de informações e reflexões filosóficas para finalizarmos a nossa disciplina a partir deste módulo tão relevante para nossa atuação tanto no âmbito pessoal e, sobretudo no âmbito profissional. É importante que percebam, que grande parte do que estudamos até aqui, vinculou-se a questões teóricas sobre o ser e o saber. Portanto, aqui no quarto e último módulo, centraremos nossa atenção ao conjunto de problemáticas ligadas à dimensão do fazer. Voltando ao título do módulo, cabe uma observação bem relevante, ou seja, pontuar a vocês que a dimensão do fazer está intrinsecamente voltada a ação humana, ao comportamento das pessoas , bem como as suas relações entre si e com a sociedade. Ademais, a referida dimensão não é alvo de preocupações apenas da pós modernidade, uma vez que na antiguidade clássica quando homem começa a organizar-se na pólis (cidade) as preocupações de como ele deve agir já ocupava o centro das preocupações de grandes filósofos como veremos adiante nas primeiras teorizações sobre esse campo de saber que constitui-se numa das grandes áreas do filosofar conhecida como Ética. Leia a matéria : Hiroshima e Nagasaki: como foi o 'inferno' no qual morreram milhares por causa das bombas atômicas , de Carlos Serrano, da BBC News Mundo, publicada no dia 06 de agosto de 2020. Clique aqui para acessar. O discurso da pós modernidade MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-a05a8804-1912-4654-ae8a-27a56f1c2b8a 4 Aristóteles para tratar da ética, buscou refletir sobre uma ética realista e portanto, próxima ao indivíduo, e quando o fez partiu da seguinte questão: Qual o fim último do ser humano? .O filósofo entendia que era a felicidade e, assim muito mais que um simples prazer, na sua concepção A felicidade acomodaria um vida teórica e assim passaria a compreender a essência desta.Entretanto, isso não seria privilégio de todos, aqueles que não pudessem se dedicar a atividade teórica, aprenderia a agir corretamente pelo hábito e consequentemente praticar as virtudes. A ética aristotélica ficou conhecida como a ética do meio termo( equilíbrio). Sua ética estava vinculada à vida política. Pertence ao vasto campo da ética e também da moral, a definição de escolhas que no nosso cotidiano nos deparamos, escolhas que estão entre o certo ou o errado, o justo ou o injusto, ou seja, definições que estão na dimensão do agir humano. Para a filósofa Marilena Chauí(2012), É com Sócrates que a sistematização dos problemas éticos teveinício, esse filósofo já conhecido de vocês de nosso primeiro módulo, também é conhecido como “o pai da moral”. Sócrates, ao contrário dos sofistas, defendia a existência de um saber que fosse universalmente válido, os sofistas defendiam uma concepção de ética relativista ou subjetiva. Nesse sentido, o que Sócrates buscava defender era que , por ser essencialmente racional, o homem poderia fundamentar seu agir conforme a razão. Sua ética, portanto, seria uma ética racionalista. A Ética MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE Mais tarde, Platão passa a desenvolver seu racionalismo ético aprofundando as questões relativas a dualidade entre corpo e alma, defendendo a ideia da necessidade de alcançar a ideia de bem a partir da purificação do mundo material. Todavia,sem nos alongarmos muito sobre os sistemas filosóficos da antiguidade clássica que se debruçaram sobre o tema. Não podemos deixar de destacar a importância de outro clássico: Aristóteles. Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. A consciência moral não só conhece tais diferenças, mas também reconhece-se como capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsável por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüências do que faz e sente. Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética. (CHAUÍ,2012.p.383) 5 Aproveite a indicação de leitura e conheça uma das principais obras de Aristóteles. Etimologicamente a palavra moral vem do latim mos,mor- que significa costumes e relaciona- se como dito anteriormente, ao conjunto das normas que orientarão o comportamento dos indivíduos de uma determinada sociedade ou cultura. Já a palavra ética de origem grega ethos, significa modo de ser. Observem que no sentido etimológico , esses dois termos são bem semelhantes, sua distinção está relacionada ao campo de estudos da filosofia , uma vez que nesse sentido a ética enquanto disciplina se ocupará dos estudos dos sistemas morais das diversas sociedades, tendo como objetivo os seus fundamentos. Vejam, que como disciplina teórica, seu campo de investigação são as práticas humanas. É importante que compreendamos até aqui que como seres sociais, é necessário que tenhamos que nos adaptar aos costumes e já aprendemos que essa adaptação tem a ver com os códigos morais de uma determinada cultura. Entretanto, convém destacar que a partir deste pressuposto temos ainda códigos que são formais conhecidos com as normas jurídicas. Observem que tanto as regras morais quanto as regras jurídicas, ambas são responsáveis pela regulamentação das relações da vida em sociedade. Entretanto é necessário que atentem a uma diferença, a de que as normas jurídicas por representar um conjunto de normas formais, tem como característica a coercitividade exercida pela força e repressão do Estado através da ação da justiça e da força policial. Observe no quadro abaixo algumas diferenças entre esses dois conjuntos de regras. A Ética MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE O agir humano, portanto, dependerá de valores que corresponderão por sua vez a um conjunto de códigos morais considerados como prioritários na coletividade. Entretanto, é importante destacar que esse conjunto de códigos morais, por corresponderem a distintas comunidades humanas, variaram em função do tempo e do espaço. Uma distinção necessária a se fazer é em relação aos termos moral e ética. 6 Valores MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE Sobre valores é fundamental reconhecer que é a partir destes que o campo da ética se constituirá . A temática dos valores passou a ser campo de investigações filosóficas a partir do século XIX ,a partir destas primeiras investigações elaborou-se ou que conhecemos como teoria dos valores ou axiologia, que se ocupará das relações entre os seres (vivos ou coisas inertes) e os sujeitos. Axiologia - Do grego áxios, “valor”. Sobre os valores Morente (1966) dirá que: [...] quando dizemos de algo que vale , não dizemos nada do seu ser, mas dizemos que não é indiferente. A não diferença constitui essa variedade ontológica que contrapõe o valor ao ser. A não indiferença é a essência do valer.(MORENTE,1966.p.296.) Em síntese os valores são formados quando mobilizam nossos afetos.Ademais, fazem parte de nossa herança cultural e conforme nos posicionamos frente a eles, seja na sua aceitação ou seja na sua negação, nosso comportamento passa a ser avaliado entre bom e mau. Apesar de valores éticos, morais ,estéticos, políticos, relogiosos entre outros, importa para nosso estudo , os valores éticos. Um filósofo que já citamos aqui neste módulo e que muito se debruçou na contemporaneidade sobre os valores foi o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Na sua obra a Genealogia da Moral. Segundo ele os valores são criados e por essa razão , Nietzsche buscará a origem desses valores e chegará a descoberta de que existe dois tipos de moral : A moral dos escravos - [..] nega os valores vitais e resulta na passividade,na procura da paz e do repouso. A conduta humana , orientada pelo ideal ascético,torna-se vítima do ressentimento e da má consciência e sentimento de culpa. A moral dos senhores - É a moral positiva que visa à conservação da vida e dos seus instintos fundamentais. (ARANHA,2013.p.211) A denúncia de Nietzsche recai sobre a moral tradicional que ele critica pois acredita que essa moral submete os indivíduos a uma domesticação dos seus instintos. Enquanto a moral dos escravos os tornarão indivíduos vítimas de suas culpas e negando-lhes a alegria de viver , a moral dos senhores fundar-se-á no oposto, e desse modo aos indivíduos dessa moral reserva-se a plenitude e portanto, o resultado é a alegria da vida. 7 Valores MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE A lista de Schindler (1993, EUA, direção Steven Spielberg), esse filme mostra como as questões morais de um indivíduo afeta a vida de outras pessoas. 8 Dissemos acima que nossos valores são constituídos a partir de um conjunto de códigos morais que herdamos e que estes relacionam-se a uma determinada cultura e que por sua vez também variam em função do tempo e do espaço. Isto nos leva a concluir portanto, que a moral faz parte de um sistema de significados ao qual somos submetidos desde quando nascemos, nesse sentido podemos afirmar que a moral é constituída. À medida que o indivíduo vai tornando-se adulto,começam a aparecer certos conflitos em relação a sua conduta moral. Esses conflitos são quando seu grau de consciência e liberdade introduz um elemento contraditório entre suas escolhas pessoais e o cumprimento da norma vigente. Desse modo, esses dois pólos que se constituem: o social e o pessoal, que poderão ser objeto de contradições , colocam o sujeito moral diante de uma decisão voluntária que ao ser exercida de modo autônomo, incidirá sobre o dever e a liberdade de suas escolhas. Atentem que é importante analisar que, dessa flexibilidade decorre a exigência da responsabilidade, uma vez que o comportamento moral é concebido como voluntário, e consequentemente livre e consciente não significa dizer que não seja obrigatório. Pois, apesar da exigência que consciência moral nos coloca diante de tantas alternativas possíveis é necessário,como alerta Chauí(2012) que possamos: O Caráter Histórico da Moral MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE Avaliar e pesar as motivações pessoais, as exigências feitas pela situação, as conseqüências para si e para os outros, a conformidade entre meios e fins (empregar meios imorais para alcançar fins morais é impossível), a obrigação de respeitar o estabelecido ou de transgredi-Io (se o estabelecido for imoral ou injusto). A vontade é esse poder deliberativo e decisório do agente moral. Paraque exerça tal poder sobre o sujeito moral, a vontade deve ser livre, isto é, não pode estar submetida à vontade de um outro nem pode estar submetida aos instintos e às paixões, mas, ao contrário, deve ter poder sobre eles e elas.(CHAUÍ,2012.p.384) Ou seja, ser livre não exclui a obediência, todo ato moral se constitui numa relação de solidariedade e reciprocidade , pois os seus efeitos não produzem consequências em quem pratica , mas também naqueles que os cercam e na sociedade como um todo. Figura: Corrupção disponível em <http://www.portais.pe.gov.br/c/document_library/get_file? p_l_id=30580954&folderId=31251181&name=DLFE-160501.pdf> 9 Nesse tópico, iremos inicialmente retomar, de modo mais detalhado, a distinção entre ética e moral. Observem o quadro abaixo: A Ética Aplicada MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE Ética Moral Princípio Conduta Específica Regra Conduta da Regra Reflexão Ação Bem/Mal Certo/Errado Universal Cultural 10 Como observamos no quadro acima, para entendermos esse campo novo da ética aplicada precisamos compreender que esse novo tipo de reflexão sobre a ação se submeterá a problemáticas que trarão questões como: É possível agir de maneira ética diante de problemas universalmente novos? A Ética Aplicada MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE Essa indagação refere-se aos problemas que esse ramo da filosofia contemporânea passou a ocupar no século XX. Dizem respeito a problemas práticos da conduta humana dos quais é necessário submeter-se a uma justificação racional. Alguns desses problemas já citamos acima , o holocausto e a bomba lançada sobre Hiroshima e Nagasaki, fenômenos inéditos que marcaram o século passado, as duas guerras mundiais, o totalitarismo responsável por massacres e genocídios, o risco da manipulação genética entre outros que se tornaram objeto de discussões da garantia de direitos civis, como pobreza, injustiças sociais e exploração e degradação do trabalho. As questões que afetam o meio ambiente não ficaram fora desse quadro de problemas. E é por essa multiplicidade de áreas que acomodam as problemáticas contemporâneas que tais questões passam a exigir um diálogo multidisciplinar que envolve áreas como: a biologia, a medicina, a sociologia, o direito, a economia, a teologia, a psicologia, a filosofia e etc. Sem excluir as pessoas leigas que consequentemente são as que mais sofrem os impactos causados por esses eventos. No decorrer dos anos , o debate contemporâneo trouxe para o campo da ética, a dimensão da responsabilidade, onde seus desdobramentos resultaram na ética aplicada, que por sua vez passa a ser orientada por vários campos dos quais enfatizaremos apenas 03, conforme abaixo: Ética da Responsabilidade MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE Ética Ambiental - O objetivo desse campo é buscar compreender a relação que nós seres humanos estabelecemos como o meio ambiente , cujo sentido deverá ser a garantia da sustentabilidade. Estão no foco destes estudos os impactos causados pela poluição ,as agressões sofridas pelo meio ambiente, etc. Parte-se do pressuposto que a economia contemporânea atua de forma predatória sem a devida orientação e cuidados com a preservação do meio ambiente, comprometendo as gerações futuras. Em 1992 membros de diversos países reuniram-se no Rio de Janeiro , na Eco-92, com o objetivo de examinar essas questões e comprometerem-se através de protocolos e documentos legais, com ações que garantam a preservação do meio ambiente e a defesa do planeta. Esses documentos e ações fazem parte de uma agenda mundial , a Agenda 2030 para os objetivos sustentáveis, implementada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD e a Petrobras. É importante destacar que a visão e os princípios da Agenda 2030 relacionam-se às dimensões econômica, social e ambiental, e seus objetivos e metas, contemplam as dimensões regionais e sub-regionais das diferentes realidades, capacidades, níveis de desenvolvimento e prioridades territoriais. Bioética - A discussão das problemáticas que envolvem a bioética relaciona-se às revoluções pelas quais a biologia passou e que ficaram conhecidas como a terceira revolução da biologia, e que se desdobraram na biologia molecular e na biotecnologia. Esses desdobramentos incidiram sob a engenharia genética, intensificando as problemáticas que envolvem os debates acerca da manipulação do genoma humano, da clonagem, da transgenia, biopirataria entre inúmeros outros. Em muitas destas descobertas proporcionadas pelos avanços científicos nessa área, foi possível elencar aspectos positivos, mas, em contrapartida os aspectos negativos que geraram e ainda geram muitos dilemas. E por essa razão a década de 1970 ficou marcada pelos primeiros comitês de éticas que se propuseram trazer para o debate esse diálogo que versa sobre questões ainda tão polêmicas e díspares. E você, o que acha dessa temática? Será se temos nesse contexto conflitos que colocam em xeque a relação razão e fé? Provavelmente acerca da evolução das descobertas e experimentos nesse campo , você já deve ter ouvido a expressão: O homem está brincando de ser Deus, que traduz exatamente essa relação conflituosa que envolve a ciência e a moral. Que tal debatermos um pouco mais sobre essa questão no fórum? Aguardo você. 11 Ética da Responsabilidade MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE Ética Profissional - A epígrafe retirada da passagem bíblica que intitula nosso assunto neste tópico, ilustra bem os princípios pelos quais a ética profissional se orienta. Como foi possível perceber, Ao longo deste módulo, os elementos constituintes do campo ético prescindem de um agente consciente de suas escolhas sabendo distinguir o bem e o mal. Para , Chauí (2012) para que um sujeito seja considerado ético, ele necessita preencher as seguintes condições: [...] - ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele; - ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis; - ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências dela sobre si e sobre os outros, assumi-Ia bem como às suas conseqüências, respondendo por elas; - ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.(CHAUÍ,2012.p.384) Dessa forma, podemos afirmar que a busca de uma conduta ética é o que permitirá uma convivência harmoniosa, haja vista que essa conduta rege a nossa capacidade de reger as sociabilidades e relações sem invadir o espaço do outro, e sobretudo sem impor os nossos valores sobre o outro. Ademais, é no ambiente profissional essa exigência se dá pela própria natureza desse espaço que por excelência é um espaço ético, pois é um espaço onde as pessoas por não estarem na intimidade do seu espaço privado , devem necessariamente exercer suas virtudes no espaço público. Você já deve ter percebido que as dimensões éticas e seu funcionamento , nos colocam diante de um grande desafio que é repensar a nossa conduta moral no seio da coletividade, de modo que seja possível a preservação e o respeito a valores universais humanos que reconheçam nos mais variados espaços das nossas sociabilidades nossas singularidades enquanto sujeitos, para que sejam respeitadas as diferenças de gênero, raça, religião e outras mais. No contexto apresentado acima, encontra-se o fundamento dos mais variados códigos de ética profissional, que nos seus diversos contextos organizacionais , estão a serviço de uma convivência mais qualificada e humanizada. 12 Considerações Finais MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE Caro aluno, chegamos ao término da nossa disciplina. Espero que ao longo dos módulos tenha sido possível proporcionar a você uma análise mais ampla dos problemas e desafios que nós enquanto sujeitos passamos, ao longo da nossa existência e que nos coloca diante de problemáticas que dizem respeito às nossas dimensões , pessoais , sociais e ainda profissionais. Compreender que para essa possibilidade de análise da realidade a filosofia se faz necessária, e passar a entendê-la como uma área que nos conduz a um processo emancipatório, pois nesse caminho que percorremos até aqui vimos que a filosofia ao contrário do que muitos pensam , não é um saber hermeticamente fechado e muito menos novo, ela nasce do dia-a-dia quando centramos nossas preocupações nos porquês e na razão das coisas. Portanto, essa conduta assumida pelo modo de nos enxergamos no mundo é o que favorece um vida mais consciente, mais pensante, mais raciocinada. Quando navegamos pelo mar de possibilidades que a filosofia nos coloca e passamos a questionar por que as coisas são como são, estamos buscando a fonte do poder e também o sentido da vida. Afinal, conhecimento não é poder? Há quem diga que a necessidade da filosofia é nos fazer pensar, mas vimos que pensar apesar de ser um atributo essencialmente humano, independente da existência da filosofia não nos impediria dessa atividade. Tampouco se trata de qualificar o pensar filosófico pelo atributo que nos faz pensar bem, pois ao contrário da história da humanidade vários filósofos pensaram equivocadamente, o próprio nazismo e as ditaduras tiveram os seus filósofos . Mas, ao nos ajudar a indagar as verdades postas como absolutas, suspeitar das coisas como elas se apresentam, a atividade filosófica nos coloca num movimento cujas posturas revelam a busca do fundamento da verdade , fundamento que nos ajuda a construir os conhecimentos que temos como verdadeiros e que consequentemente nos levam a questionar: Afinal o que é a verdade? 13 REFERÊNCIAS ARANHA,Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia.5 ed.São Paulo:Moderna,2013. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática.2012. MORENTE. Manuel Garcia. Fundamentos de Filosofia: lições preliminares.2.ed São Paulo: Mestre Jou,1966. RODRIGUES, Neidson. Filosofia para não filósofos. 4.ed. 2011. SAVIAN FILHO, Juvenal. Filosofia e Filosofias: existência e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016. SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. 2. Ed. 2017. 14 MÓDULO IV: O DISCURSO DA PÓS MODERNIDADE
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