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Fundamentos Filosóficos do Direito

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2016
Fundamentos 
FilosóFicos do direito
Profª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
Copyright © UNIASSELVI 2016
Elaboração:
Profª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
340.1
 Lixa; Ivone Fernandes Morcilo 
Fundamentos filosóficos do direito/ Ivone Fernandes 
Morcilo Lixa: UNIASSELVI, 2016.
 
 158 p. : il.
 
 ISBN 978-85-515-0003-3
 1.Teoria e filosofia. 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
L693f
III
apresentação
Vivemos um tempo alucinado e alucinante! As distâncias são cada 
vez menores, a comunicação nos une em escala planetária em tempo real, 
mas paradoxalmente nunca estivemos tão sem esperanças e com medo.
 
Nosso cotidiano é dominado por um crescente medo desenraizado 
que se alimenta pelo anúncio do fim das grandes utopias. Estamos perto do 
fim da segunda década do século XXI sem que tenhamos definido os rumos 
dessa etapa da história vista por alguns como uma autêntica “encruzilhada” 
que nos obriga a pensar acerca de qual caminho seguir: civilização ou barbárie. 
Tempos difíceis e inéditos em que saberes são redefinidos, formas de poder 
são reinventadas, maneiras pouco éticas de controle e de geração de riqueza 
vão ampliando e aprofundando novas formas de exclusão e perversidades. É 
nesse cenário que te convidamos a filosofar sobre o direito e a justiça!
Talvez você esteja se perguntando: restaria ainda algo a ser repensado 
e reinventado? Para quê? Por quê?
Aceitando o desafio de responder algumas dessas perguntas é que 
apresentamos este caderno de estudos. Viajando pelo mundo da filosofia 
iniciamos nossa primeira conversa. Na primeira unidade, vamos ter a 
oportunidade de compreendermos melhor qual a função da Filosofia e de que 
maneira a Filosofia pode nos ajudar a compreender melhor os fundamentos 
e elementos que constituem o Direito Moderno.
Na segunda unidade, juntos vamos percorrer a história do pensamento 
filosófico ocidental buscando individualizar o legado de cada momento para 
as reflexões acerca do justo e do direito. 
Finalmente, na terceira unidade, retornamos ao mundo contemporâneo 
descortinando por sob o véu de nossa ingenuidade a criticidade e os desafios 
para o jurista brasileiro nos dias atuais. Sem dúvidas é um convite para 
sairmos do lugar comum, do nosso conforto e aparente segurança. 
O caminho é difícil, mas necessário, afinal é preciso nos mantermos 
apaixonados pelo Direito e com esperança para que possamos acreditar na 
transformação. É isso que nos mantém vivos e nos humaniza. Precisamos 
amar o saber, e é assim que nasce a Filosofia!
 
Bons Estudos!
Profª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – DIREITO E FILOSOFIA ............................................................................................1
TÓPICO 1 – FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL .........................................................................3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3
2 O QUE É E PARA QUE FILOSOFIA? .............................................................................................4
3 FILOSOFIA: UM SABER CIENTÍFICO E METÓDICO .............................................................7
4 A FILOSOFIA NA TRADIÇÃO OCIDENTAL .............................................................................9
4.1 POR QUE ATENAS E EM ATENAS? ..........................................................................................12
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................20
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................21
TÓPICO 2 – FILOSOFIA DO DIREITO ............................................................................................23
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................23
2 A ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA DO DIREITO .................................................................26
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................30
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................31
TÓPICO 3 – O PARADIGMA DOMINANTE DE DIREITO MODERNO E SEUS 
 ELEMENTOS EDIFICADORES ...................................................................................33
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................33
2 O PARADIGMA MODERNO DE LEGALIDADE: FUNDAMENTOS....................................39
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................42
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................43
TÓPICO 4 – ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO POSITIVISMO JURÍDICO 
 CONTEMPORÂNEO E DA SUPREMACIA DO PRINCÍPIO 
 DA LEGALIDADE ..........................................................................................................45
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................45
2 VERTENTE HISTORICISTA DO DIREITO MODERNO..........................................................51
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................54
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................58
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................59
UNIDADE2 –A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO 
 NO MARCO DA TRADIÇÃO ..................................................................................61
TÓPICO 1 – O LEGADO GRECO-ROMANO .................................................................................63
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................63
2 DO MITO AO LOGOS ......................................................................................................................66
3 PLATÃO – FILOSOFIA, POLÍTICA E JUSTIÇA ..........................................................................74
4 ARISTÓTELES: UM ESPÍRITO MODERADO ............................................................................79
5 O HELENISMO ROMANO ..............................................................................................................86
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................89
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................90
sumário
VIII
TÓPICO 2 – O PENSAMENTO MEDIEVAL ..................................................................................91
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................91
2 A PATRÍSTICA E O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO ............................................93
3 A CULTURA JURÍDICA MEDIEVAL .............................................................................................99
4 A HERANÇA CULTURAL PARA A MODERNIDADE ..............................................................101
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................102
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................104
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105
UNIDADE 3 – FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS 
 CONTEMPORÂNEOS ...............................................................................................107
TÓPICO 1 – OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO 
 JUSFILOSÓFICO MODERNO.....................................................................................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 HANS KELSEN E A PURIFICAÇÃO DO DIREITO ...................................................................111
3 CRISE E CRÍTICA: OS LIMITES DA RACIONALIDADE JURÍDICA MODERNA ...........118
4 A REVISÃO DOS FUNDAMENTOS DO DIREITO NO BRASIL: CRISE E CRÍTICA .......124
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................132
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................133
TÓPICO 2 – DIREITO CONTEMPORÂNEO – DESAFIOS E DILEMAS ..................................135
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................135
2 A NOVA CONDIÇÃO NO COTIDIANO......................................................................................137
3 PALEOPOSITIVISMOS, JUSCONSTITUCIONALISMOS E RENOVAÇÃO 
 CRÍTICA NO BRASIL .......................................................................................................................137
4 PENSAMENTO CRÍTICO CONSTITUCIONAL: RENOVAÇÃO POLÍTICA, 
 JURÍDICA E FILOSÓFICA ...............................................................................................................142
5 NOVOS MARCOS FILOSÓFICOS DO DIREITO .....................................................................145
CONTEMPORÂNEO ............................................................................................................................145
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................149
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................151
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................152
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................153
1
UNIDADE 1
DIREITO E FILOSOFIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Os objetivos desta unidade são:
• definir o que é Filosofia;
• compreender o que é Atitude Filosófica;
• diferenciar a Atitude Filosófica do mero ato de pensar;
• identificar os objetivos da Filosofia;
• conceituar Filosofia Jurídica, bem como seus objetivos específicos;
• refletir acerca dos elementos históricos, políticos e filosóficos que 
construíram o Direito Moderno.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles 
você encontrará atividades que auxiliarão no seu aprendizado.
TÓPICO 1 – FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
TÓPICO 2 – FILOSOFIA DO DIREITO
TÓPICO 3 – O PARADIGMA DOMINANTE DE DIREITO MODERNO E 
SEUS ELEMENTOS EDIFICADORES
TÓPICO 4 – ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO POSITIVISMO 
JURÍDICO CONTEMPORÂNEO E DA SUPREMACIA DO 
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
1 INTRODUÇÃO
Às vezes temos a sensação de que vivemos em um mundo que precisamos 
e queremos compreender, e é por isso que iniciamos nosso estudo com um convite.
O mesmo tipo de convite com o qual se inicia o famoso romance filosófico 
“O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, que já foi traduzido em mais de 50 idiomas. 
Você já ouviu falar sobre esse livro? É uma interessante estória através da qual 
uma menina inquieta e curiosa chamada Sofia, nome que (como você verá) não é 
escolhido por acaso, é conduzida pela história e o mundo dos grandes filósofos. 
Ela, assim como você, é convidada a “olhar o fundo da cartola do mágico”. 
Há um trecho interessante no início do livro com o qual você poderá se 
identificar:
Para muitas pessoas, o mundo é tão incompreensível quanto o truque 
do mágico que tirou um coelhinho de uma cartola que estaria vazia.
No caso do coelhinho, sabemos que o mágico apenas nos iludiu. E é 
justamente porque ele conseguiu nos iludir que queremos descobrir 
como fez seu truque. Quando nos referimos ao mundo, é um pouco 
diferente. Sabemos que o mundo não é um truque nem uma ilusão, 
pois vivemos aqui e fazemos parte dele. No fundo, nós é que somos 
como o coelhinho que foi tirado da cartola. A diferença entre nós e 
o coelhinho branco é que ele não sabe que está participando de um 
número de mágica.
Conosco é outra história. Temos consciência de que somos parte 
de algo misterioso e ansiamos por descobrir como tudo pode ser 
explicado (GAARDER, 2012, p. 15).
DICAS
O livro O Mundo de Sofia está disponível na internet em: <file:///C:/Users/
Usuario/Downloads/O%20Mundo%20de%20Sofia%20-%20Jostein%20Gaarder%20(1).pdf>. 
Leia!!! Será recompensador!!
Andressa
Sublinhar
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
4
Você deve estar se perguntando por que e para que estudar Filosofia, se 
seu interesse é Direito? Filosofia não é perda de tempo ou coisa de gente que 
“viaja” e vive nas nuvens? 
É natural que você pense assim, aliás, muitos perguntam para que 
serve a Filosofia. Estamos habituados a nos preocuparmos com o que nos traga 
recompensas materiais ou financeiras, afinal, temos apelos todos os dias pela 
mídia, por exemplo,a sermos utilitaristas e colocarmos nossa felicidade, bem 
como o sentido de nossa existência, na quantidade de coisas e bens que podemos 
comprar e acumular. Através da Filosofia aprendemos a conquistar uma felicidade 
muito particular: descobrir o sentido das coisas e de nossa própria existência para 
sermos donos de nosso próprio destino.
A Filosofia está presente em nosso cotidiano mais do que pensamos 
e tem influenciado ideias, discursos, ações políticas, conceitos de justiça, por 
exemplo, sem percebermos que é a Filosofia que nos permite ter a capacidade de 
escolhermos e valorarmos nosso agir, não apenas individualmente, mas com os 
demais com quem convivemos. E é isso, afinal, que nos torna civilizados. 
Iniciamos um estudo particular que nos vai ajudar a compreender que não 
existe nada “natural” no mundo jurídico. Vamos aprender que, embora sendo 
difícil, devemos conhecer a origem e a finalidade dos valores que regem o mundo 
do Direito, para nos tornar menos ingênuos e com mais certezas. 
2 O QUE É E PARA QUE FILOSOFIA?
Vivemos um cotidiano marcado por discursos e práticas que costumamos 
rotular de “justas/injustas” ou “certas/erradas”; e não raras vezes nos vemos 
exigindo “o que nos é de Direito”. O que exatamente estamos colocando em 
questão? O que é o justo e injusto em um mundo marcado por tão profundas 
contradições e aparente desesperança?
Os últimos anos do século XX testemunharam grandes mudanças 
em toda a face da Terra. O mundo torna-se unificado – em virtude 
das novas condições técnicas, bases sólidas para uma ação humana 
mundializada. Esta, entretanto, impõe-se à maior parte da humanidade 
como uma globalização perversa.
Consideramos, em primeiro lugar, a emergência de uma dupla 
tirania, a do dinheiro e a da informação, intimamente relacionadas. 
Ambas, juntas, fornecem as bases do sistema ideológico que legitima 
as ações mais características da época e, ao mesmo tempo, buscam 
conformar segundo um novo ethos as relações sociais e interpessoais, 
influenciando o caráter das pessoas. A competitividade, sugerida pela 
produção e pelo consumo, é a fonte de novos totalitarismos, mais 
facilmente aceitos graças à confusão dos espíritos que se instalam. Tem 
as mesmas origens a produção, na base mesma da vida social, de uma 
violência estrutural, facilmente visível nas formas de agir dos Estados, 
das empresas e dos indivíduos. A perversidade sistêmica é um dos 
seus corolários (SANTOS, 2011, p. 18). 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
5
Frases como “isso é uma verdade” já não são ditas com tanta facilidade. As 
verdades parecem provisórias. É um tempo em que tudo parece se transformar com 
rapidez alucinante. Mal temos tempo de compreender conceitos, valores, ideias ou 
comportamentos que repentinamente já são ultrapassados. Como nós, que pensamos 
o Direito, podemos lidar com esse aparente “pós tudo” sem cairmos na cilada do 
senso comum, dos dogmas ou das verdades midiáticas criadas todos os dias?
NOTA
Dogma é uma “verdade a priori” aceita sem questionamentos. O dogmatismo 
ao longo da história resultou em intolerância e opressão. Em sentido contrário, o pensar 
crítico é uma postura que visa rever os dogmas e os contextos teóricos, fáticos, ideológicos 
e culturais que os sustentam e os legitimam.
Há uma realidade na qual estamos inseridos que exige uma explicação! 
Diariamente fazemos escolhas e julgamentos de valores, pois somos movidos por 
crenças, valores, preconceitos, enfim, um conjunto de idealizações e representações 
tanto individuais como coletivas que nos permite viver em sociedade. Como diz a 
filósofa Marilena Chauí (2000, p. 8):
Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda feita de crenças 
silenciosas, da aceitação tácita de evidências que nunca questionamos 
porque nos parecem naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na 
realidade, na qualidade, na quantidade, na verdade, na diferença entre 
realidade e sonho ou loucura, entre verdade e mentira; cremos também 
na objetividade e na diferença entre ela e a subjetividade, na existência 
da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade. 
No esforço de ir além das “verdades postas” é preciso uma atitude 
reflexiva metódica, ou seja, é necessário um “distanciamento” da realidade e dos 
fatos para que possamos interrogar a nós mesmos e aos conceitos que parecem 
inquestionáveis. Neste momento podemos sentir que nossas certezas são 
questionadas e tudo parece possível de ser redefinido ou repensado. 
É desde aí, desta “atitude reflexiva”, que falamos em “Filosofia”. Desde 
uma atitude que permite discutir o que parece óbvio e natural. Claro que refletir 
sobre as verdades e a realidade que nos cerca é uma dura escolha. Pode ser que 
sejamos mais felizes ou mais otimistas com o superficial, afinal, ser inquieto é não 
se deixar levar tão facilmente. É não aceitar passivamente o que nos é oferecido 
como “alternativa possível”. Desde a atitude reflexiva descobrimos que não 
podemos ser felizes a vida toda e todo o tempo. E essa é talvez a tarefa mais 
urgente de nosso tempo. Enfrentar o medo das incertezas é o grande desafio 
que se coloca diante de nós quando decidimos assumir uma atitude reflexiva. 
Devemos ter a coragem de sair do nosso “agradável e confortável” senso comum. 
“Acontece que tendemos a descobrir algo agradavelmente reconfortante quando 
ouvimos melodias que sabemos de cor” (BAUMAN, 2008, p. 29). 
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
6
Esse distanciamento das “melodias que sabemos de cor”, das verdades 
cotidianas, a fim de assumirmos uma atitude questionadora de si mesmo e desejar 
conhecer por que e para que são nossas crenças e sentimentos é que podemos 
chamar de atitude filosófica.
A atitude filosófica é o ato de reflexão questionadora própria do filósofo, 
daquele que, tendo a consciência de que o saber é sempre provisório e também 
infinito, renova e reinventa sempre as perguntas que formula. É assumir o risco 
de viver sem verdades. Para o jusfilósofo brasileiro Miguel Reale (2002, p. 5-6):
Filósofo autêntico, e não o mero expositor de sistemas, é, como o 
verdadeiro cientista, um pesquisador incansável, que procura sempre 
renovar as perguntas que formula, no sentido de alcançar respostas 
que sejam ‘condições’ das demais. A filosofia começa com um estado 
de inquietação e de perplexidade, para culminar numa atitude crítica 
diante do real e da vida.
 E é aí que nasce a Filosofia. Um saber metódico e rigoroso que possibilita 
chegar à raiz das coisas na interminável e incessante busca do sentido do “ser” e 
universo existencial.
• Atitude reflexiva: é o ato de pensar as crenças, verdades e sentimentos de 
nosso cotidiano de forma profunda e com desejo de conhecer a essência das coisas.
• Atitude filosófica: é a reflexão própria dos que não se cansam de admirar as coisas, e são 
capazes de se distanciar do cotidiano e de si mesmos.
• Por que e para que a reflexão filosófica? Para um agir pessoal e social intencional e 
consciente, sabendo o por que, para que e como são as coisas, crenças e sentimentos 
em sua essência.
• A finalidade da reflexão filosófica é permitir um pensar e crer de forma crítica e livre de 
preconceitos.
• O filósofo é inimigo de fanatismos e dogmatismos.
ATENCAO
Andressa
Destacar
Andressa
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TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
7
FIGURA 1 - LE PENSEUR – O PENSADOR
FONTE: <https://artelocalizada.wordpress.com/tag/o-pensador/>. 
Acesso em: 15 ago. 2016.
Le Penseur – O Pensador – é uma famosa 
escultura de 1902 do artista francês Auguste 
Rodin. Retrata uma difícil e sofrida atitude 
humana: a de refletir profundamente. A atitude 
do filósofo!
3 FILOSOFIA: UM SABER CIENTÍFICO E METÓDICO
Muitas vezes usamos a palavra “Filosofia” para querer significar muitas 
coisas, como, por exemplo: “filosofia de vida”, no sentido de uma forma pessoal 
de agir e pensar; “mera filosofia”, querendo dizer que se trata de especulação, de 
tão somente uma “teoria” sem fundamento. Mas Filosofia não é mera opinião,é 
um pensar de maneira sistemática, ou seja, a partir de critérios e métodos. É um 
trabalho intelectual. 
Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca 
encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou 
ideias obtidas por procedimentos de demonstração e prova, exige a 
fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim 
a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, 
nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. Não 
se trata de dizer ‘eu acho que’, mas de poder afirmar ‘eu penso que’.
O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático porque 
não se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas 
exige que as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que 
as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam 
umas às outras, formem conjuntos coerentes de ideias e significações, 
sejam provadas e demonstradas racionalmente (CHAUÍ, 2000, p. 13).
A origem etimológica da palavra “Filosofia” nos esclarece bem seu sentido: 
• “Filosofia” é uma palavra grega que resulta da união de dois termos: filos (o que 
ama, o que gosta) e sofia (saber, sabedoria), portanto, Filosofia é o “amor pela 
sabedoria”, e o filósofo é o que tem paixão pela verdade que se quer conhecer.
• Filosofia é um saber racional, rigoroso e sistemático que se diferencia de 
religião, ou seja, de convicção pela fé. 
Andressa
Destacar
Andressa
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Andressa
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Andressa
Destacar
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
8
QUADRO 1 - SABERES QUE PERMITEM COMPREENDER E EXPLICAR A REALIDADE 
Senso comum
São informações que nos ajudam a descrever e identificar a realidade que nos 
cerca, porém, tratam-se de saberes que não resultam de uma sólida base teórica e 
metodológica. Sua força de convencimento é produto do costume e/ou aceitação 
cultural. Muitas vezes, se tais conhecimentos são submetidos ao rigor crítico e 
científico, nem sempre são mantidos ou validados. 
Religião 
(Teologia)
Trata-se de uma forma de saber que estabelece padrões de conduta e concepções 
de acordo com a fé em determinados princípios transcendentais. São formas de 
convencimento ou convicções originárias de crenças – de fé – racionalizadas de 
forma lógica que deve ser distante de fanatismo cego. 
Ciência
Racionalização de determinadas temáticas através de métodos e técnicas que 
busca demonstrar a correção de certas prescrições ou proposições. Trata-se de 
uma elaboração de pensadores europeus como Copérnico, Descartes, Galileu, 
Newton, dentre outros, dos séculos XVI a XVIII, que acreditam que a realidade 
pode ser compreendida, explicada e dominada através de metodologias específicas 
– métodos e técnicas – que possibilitam a sistematização, controle, previsão e 
disseminação de saberes válidos, demonstráveis e seguros. A ciência tradicional 
é uma contraposição ao senso comum, misticismo, mitos e superstições. 
Filosofia
Saber reflexivo, racional, metódico e crítico sobre algo. Pode ser aplicada a 
diferentes campos do conhecimento com a finalidade de questionar, esclarecer e 
tornar compreensíveis os pressupostos que fundamentam distintas temáticas. É 
ramificada em vários campos. Assume-se como atitude prévia de problematizar 
uma determinada questão sob distintas perspectivas, sempre aberta a rever e 
inovar conceitos e verdades prévias. Entre outras coisas, é a atitude própria 
daquele que se espanta (estranhamento) com o mundo a seu redor – seu cosmos 
–, todo o universo existencial. 
FONTE: A autora
Filosofia é um dos saberes humanos que se define por sua especificidade, 
métodos e objetivos, sendo composta por distintos “saberes”. Ao longo da 
construção histórica do pensamento filosófico, distintos campos e subdivisões 
foram sendo definidos. De modo geral, o saber filosófico se estende por campos 
que colocam questões e problemáticas que as ciências da natureza – tais como 
matemática, física, biologia e química – não conseguem responder, dizem respeito 
ao permanente “problema das escolhas”.
DICAS
Assista à clássica cena do filme “Matrix”. O herói é obrigado a escolher entre 
permanecer na ignorância ou conhecer a dura realidade. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=Bb86zhbBTAU>. Acesso em: jul. 2016.
Andressa
Destacar
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
9
 É sobre os seguintes campos que se estende o saber filosófico: 
• Ética: do grego “ethos” – bons costumes –, diz respeito a escolhas inevitáveis e 
inadiáveis quando nos deparamos com condutas e hierarquia de valores que 
definem os caminhos a serem seguidos e os que devem ser evitados, levando 
em conta os fins a que se destina a justificativa do próprio agir. A Filosofia Ética 
tem como objeto de problematização a atitude humana em relação ao coletivo 
e suas consequências históricas, sociais e políticas. Em outras palavras, é um 
campo filosófico preocupado com o valor do bem e do agir humano que o tem 
como finalidade última.
• Lógica: tem como preocupação as estruturas do pensamento e seus encadeamentos 
racionais que permitem conhecer o ser humano e seu mundo circundante. 
Através da lógica se discute se as inferências – deduções, as conclusões obtidas 
pela relação entre uma coisa e outra – são verdadeiras ou falsas. 
• Estética: do termo grego aisthetiké, significa “aquele que percebe”. É o campo da 
filosofia que se dedica ao estudo do belo nas manifestações artísticas e naturais; 
ao sentimento que desperta no indivíduo quando da sua contemplação.
• Epistemologia: termo de origem grega, “episteme”, relacionado com a natureza 
e limites do conhecimento humano. Normalmente definida como “Teoria do 
Conhecimento” ou “gnosiologia”, que no sentido mais restrito refere-se às condições 
– metodológicas e técnicas – sob as quais se produz o conhecimento. Como campo 
filosófico relaciona-se às possibilidades de alcançar a verdade no conhecimento.
• Metafísica: do grego “metà” – além de – e “physis” – natureza, física – é um 
campo filosófico que discute questões para além do agir e conhecer, envolvendo 
discussão acerca da natureza do que se conhece, sobre o que permite indagar 
acerca da coisa em si. Metafísica indica o permanente esforço para atingir 
uma causa válida e racional para o sentido da existencialidade humana, que 
tem como ramo principal a ontologia – que investiga sobre as categorias ou 
essências do ser.
4 A FILOSOFIA NA TRADIÇÃO OCIDENTAL
Filosofia, como saber sistemático e rigoroso acerca dos fundamentos 
últimos das coisas, do “o quê”, “para que”, “porquê”, “como” dos fenômenos que 
nos cerca e sobre nós mesmos, é um campo do conhecimento que, como conhecido 
atualmente, surgiu na antiga Grécia há mais de dois mil e quinhentos anos. 
Andressa
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UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
10
FIGURA 2 - PITÁGORAS DE SAMOS
FONTE: <http://www.ahistoria.com.br/pitagoras/>. Acesso em: 15 ago. 2016.
Pitágoras de Samos (570-495 
a.C.), fi lósofo e fundador da teoria que 
entendia serem os números, as relações 
matemáticas, a essência de todas as coisas. 
A ele se atribui a invenção da palavra 
Filosofi a para designar a sabedoria, que, 
apesar de pertencer aos deuses, pode ser 
desejada pelos homens, pelos fi lósofos.
Evidente que não signifi ca que outras culturas e civilizações, como os 
orientais, africanos e povos latino-americanos, não se dedicaram a refl etir e/ou 
compreender o mundo ao seu redor. Entretanto, “Filosofi a” com as características 
que se tornaram modelo na cultura ocidental é resultado da tradição grega. 
Vejamos um exemplo:
Os chineses desenvolveram um pensamento muito profundo sobre a 
existência de coisas, seres e ações contrárias ou opostas, que formam a 
realidade. Deram às oposições o nome de dois princípios: Yin e Yang. 
Yin é o princípio feminino passivo na Natureza, representado pela 
escuridão, o frio e a umidade; Yang é o princípio masculino ativo na 
Natureza, representado pela luz, o calor e o seco. Os dois princípios 
se combinam e formamtodas as coisas, que, por isso, são feitas de 
contrários ou de oposições. O mundo, portanto, é feito da atividade 
masculina e da passividade feminina (CHAUÍ, 2000, p. 20).
A extraordinária genialidade grega para a Filosofi a é o chamado “Milagre 
Grego”. Claro que essa afi rmação chega a ser exagerada e despreza as demais 
culturas, chamadas pelos antigos gregos de “bárbaros”. Na verdade, entre fi ns 
do século VII a.C. e VI a.C., uma soma de fatores contribuiu para a criação, 
consolidação e expansão da Filosofi a grega. Segundo historiadores do helenismo, 
a criação de um modo específi co de pensar o mundo dos homens e da natureza 
se dá através de: 
• As viagens marítimas – que contribuíram para a desmistifi cação da visão de 
mundo dominante, uma vez que os mitos já não podiam explicar as origens e 
diferenças descobertas.
• A invenção do calendário – uma nova abstração sobre o tempo na qual os 
deuses não encontram lugar.
• Invenção da moeda – que exige nova forma de raciocinar e relacionar as coisas 
e os bens.
• O surgimento da vida urbana – contribuindo para a formação de uma categoria 
de sujeitos enriquecidos que coletivamente passaram a pensar e discutir 
coletivamente, criando uma espécie de espaço público de decisão.
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TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
11
• Invenção do alfabeto – fazendo com que se desenvolva a sofisticação da 
literatura, arte e capacidade de abstração.
• Criação da política – resulta da busca de equilíbrio entre a convivência dos 
homens e o poder. Entretanto, se em sua origem, na antiguidade grega, 
significou uma forma possível de humanização, momentos da trajetória 
histórica conferiram-lhe um sentido inverso. O nascimento da reflexão política 
resultou das condições específicas do modo de vida grego ateniense: a existência 
da pólis – Cidade-Estado – e o logos – racionalização do mundo circundante; 
ambas constituindo distintas dimensões da liberdade e pluralidade humana.
FIGURA 3 - MUNDO HELÊNICO – CIVILIZAÇÃO E CULTURA GREGA ANTIGA
FONTE: <http://pt.slideshare.net/patriciagrigorio3/a-grcia-antiga-51320286>. Acesso em: 15 ago. 2016.
IMPORTANT
E
Embora não se possa afirmar que foram os gregos os únicos “filósofos” do mundo 
antigo, os primeiros nomes históricos da Ciência e da Filosofia são: Tales de Mileto (623 a.C. ou 
624 a.C.-546 a.C. ou 548 a.C.), Heráclito de Éfeso (535-475 a.C.), Anaximandro de Mileto (610-
546 a.C.), Xenófanes de Colofon (570-475 a.C.) e Parmênides de Eleia (530-460 a.C.).
Por que quando pensamos ou ouvimos falar em Filosofia, imediatamente 
lembramos da cidade de Atenas? Por que lá houve o florescer de uma magnífica 
cultura que imortalizou nomes como os dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, 
os autores trágicos Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, historiadores como Heródoto e 
Tucídides? 
Andressa
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UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
12
"A Escola de Atenas" é um 
afresco de Raffaello (1506-1510), de 
5,00m x 7,00m, pintado no Palácio 
Apostólico, Vaticano. Retrata um 
grupo de filósofos de várias épocas 
históricas ao redor de Aristóteles e 
Platão, ilustrando a continuidade 
histórica do pensamento filosófico 
ateniense. 
Vamos então a um breve estudo histórico que nos permite compreender 
por que, quando são reunidas algumas condições políticas, sociais, econômicas e 
culturais, pode ocorrer um “milagre” em uma civilização.
FIGURA 4 - A ESCOLA DE ATENAS
FONTE: <https://filosofiaefilosofiasnorenascimento.wordpress.com/2013/08/17/delimitando-o-
campo-i/>. Acesso em: 15 ago. 2016.
4.1 POR QUE ATENAS E EM ATENAS?
De todas as cidades gregas, em nenhuma outra havia tão estreito laço 
entre o cidadão e a pólis – cidade autônoma/cidade-Estado - como o que existia 
em Atenas, uma cidade que se afirmou como superior militar, política, cultural 
e economicamente em relação às demais, culminando com uma dolorosa 
experiência: A Guerra do Peloponeso (431-401 a.C.).
Em meio à derrota surge a necessidade de uma reflexão política interna, o 
que se tornou fator decisivo para a rápida e surpreendente superação da profunda 
crise em que aquela sociedade havia mergulhado. 
Em nenhum outro momento da história o povo ateniense havia se dado 
conta de que sua maior força estava na cultura. 
Uma corrente geral arrastava poetas, oradores e, sobretudo, jovens, 
buscando exaltar o ideal consciente da cultura e da educação grega. A clara 
consciência do “espírito grego”, que se traduzia como distinção em relação aos 
demais povos, e a realização da democracia no século anterior, ofereciam maior 
capacidade de superação aos entraves políticos, sociais e econômicos dos séculos 
V e IV a.C. 
Neste momento, o processo histórico rompe com a estabilidade da ordem 
social até então instituída. Assiste-se um avanço cultural decisivo que criou 
um fértil terreno para o pensamento político e filosófico. É superado o antigo 
paradigma cosmológico no qual ao homem cabia apenas aceitar o destino de 
Andressa
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TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
13
nascer, viver e morrer sob a ordem do inevitável e imutável, desaparecendo o 
sentido de vivência como mágico círculo natural de ordem fora do qual apenas 
existia o caos. 
Assim, abre-se o campo para os debates onde é ressaltada a capacidade 
de pensar como forma de convencimento público, destacando-se pensadores 
influentes e eloquentes que defendiam valores humanos. Este movimento 
intelectual crítico das autoridades e das convenções acaba por criar um abismo 
entre as velhas crenças – preocupadas com o mundo da natureza – e os assuntos 
da pólis. Os sofistas lideram estes novos debates, auxiliando seus discípulos a 
obter mais sucesso na vida pública do que na especulação teórica. Sophistes era 
uma expressão genericamente utilizada para designar pessoas ao mesmo tempo 
hábeis e sábias, e, por volta de 450 a.C., passou a ser usada para identificar 
“professores viajantes” que ensinavam por meio de conferências públicas a arte 
da eloquência e da sabedoria “prática” (areté). 
Estes intelectuais constituíam uma nova classe de profissionais que, 
apesar de não partilharem nenhuma escola filosófica, possuíam um traço comum: 
afastaram definitivamente o pensamento grego das preocupações naturais e 
centraram-se nos assuntos relativos à conduta humana. 
Consolida-se uma forma de pensar onde a filosofia passa a ser a fonte 
primordial de conhecimento e poder. Na medida em que a capacidade de 
contemplação – adquirida pelo ato de filosofar – confere legitimidade racional ao 
discurso e à prática política, é rompida a submissão injustificável ao nomos: agora 
é necessário compreendê-lo racionalmente. 
Neste cenário é que surge uma figura que será imortalizada como a 
encarnação de todas as virtudes ideais de um cidadão: Sócrates (469-399 a.C.). 
Um homem atormentado pela consciência do saber, que carregava o insuportável 
fardo de conhecer a redenção de uma sociedade decadente e criminosa, não 
poderia fugir da missão política que deveria cumprir. 
Sua conhecida escolha pela morte, quando acusado de corromper a 
juventude e ser um subversivo, representa o conflito político entre o pensador e a 
pólis. Embora não desejando desempenhar nenhum papel político, queria, acima 
de tudo, que a filosofia tivesse algum sentido para a cidade. 
Seu julgamento e morte é antes de mais nada uma atitude humana diante 
da esfera política. A partir de então, os filósofos se sentiram mais responsáveis 
pela cidade, seus seguidores – destacadamente Platão e Aristóteles – definiram 
conceitos éticos a fim de conferir validade à ação política.
Este foi o ponto de partida para a reflexão política: a racionalização de 
uma conduta ética como sinônimo de sabedoria e as bases de toda tradição 
filosófica ocidental. 
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
14
DICAS
Leia a obra clássica:
JAEGER, Werner. Paideia – A Formação do Homem Grego. Tradução de Artur M. Lima. São 
Paulo: Martins Fontes, 1989.
Há uma História da Filosofia?
Ao falarmos Filosofia nomarco da tradição ocidental, ou seja, das ideias, 
conceitos, métodos e teorias que se consolidaram e são repetidas no meio 
acadêmico, o eixo central é, normalmente, a História da Filosofia. 
Como tradição e mesmo como disciplina universitária, a filosofia 
ganha profundidade, porque conhece a fundo a sua própria história. 
As grandes ideias, resenhadas e sistematizadas, impedem que 
constantemente aquele que trabalha com a filosofia tenha que inventar 
a roda. Isto é, o conhecimento da história da filosofia facilita a bagagem 
filosófica na medida em que desnuda a amplitude do conhecimento 
filosófico e se abre às suas minúcias (MASCARO, 2012, p. 3).
Filosofia implica em método de reflexão e pode-se dizer que a cada 
momento histórico há “uma Filosofia” porque há um método, uma forma 
específica de sistematização, desafios e questionamentos específicos de cada 
época e contexto para os quais serão elaboradas respostas a partir da acumulação 
de saberes filosóficos legados, portanto, historicamente, convencionou-se as 
seguintes etapas do pensamento filosófico ocidental:
• Filosofia Antiga: entre os séculos VI a.C. ao V
Refere-se a uma etapa bastante diversificada, envolvendo problemáticas 
das mais diversas. Pode-se agrupar entre: 
o pré-socráticos ou cosmológico – período e pensadores que antecederam 
a Sócrates e interrogavam acerca das questões da natureza, physis, e o 
princípio organizador, arché, do mundo e da própria natureza;
o socrático ou antropológico – entre os séculos V e fins do século IV a.C., 
representado pelas imortais figuras de Sócrates, Platão e Aristóteles, 
quando a preocupação da Filosofia desloca-se para o eixo humano, a vida 
política e moral; bem como a capacidade humana de conhecer a essência e 
razão das coisas;
o helenístico ou greco-romano – de fins do século III a.C. ao II, quando se 
dá o início da consolidação do pensamento cristão, destacadamente com o 
pensamento de Santo Agostinho. Nesta etapa, as grandes questões passam 
a orbitar em torno da busca da virtude individual e da fundamentação da 
ética cristã. Predominam as doutrinas dos estoicos, epicuristas e os céticos.
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
15
• Filosofia Medieval: entre os séculos V ao XIV/XV
Etapa histórica em que a Filosofia se torna “serva da Teologia”, uma vez que 
ocorre uma indissociável relação entre Filosofia e Teologia, mais especificamente, 
a Teologia Cristã, que nasce e se consolida associada à cultura greco-romana, 
porém, com forte influência do pensamento aristotélico, sobretudo em Tomás de 
Aquino, após uma breve aproximação inicial com o platonismo, particularmente 
em Santo Agostinho. 
A Filosofia medieval foi edificada por pensadores europeus, árabes 
e judeus. Naquele momento, a Igreja dominava política e ideologicamente a 
Europa e se expandia, ao mesmo tempo em que fundava universidades, edificava 
catedrais e coroava reis. Em síntese, a Igreja Católica Romana era o poder em 
múltiplas dimensões, tendo como uma das questões filosóficas centrais a prova 
da existência de Deus e da alma imortal.
Há que se destacar que se o pensamento conhecido de Platão e Aristóteles 
chegou até à Idade Média e, por via de consequência, à Modernidade, os grandes 
responsáveis foram os árabes, uma vez que não apenas mantiveram magníficas 
bibliotecas, mas eram estudiosos metódicos dos antigos textos gregos, a exemplo 
de Avicena (980-1037), que buscou conciliar o pensamento de Platão e Aristóteles, 
e Averróis (1126-1198), um dos maiores conhecedores de Aristóteles que o mundo 
já conheceu. Sem dúvida, graças aos árabes foi possível a aproximação entre o 
materialismo aristotélico e o cristianismo.
Dentre a complexa e profunda discussão filosófica levada a cabo pelos 
medievais, dois momentos costumam ser assinalados:
o Patrística – o termo “patrística” vem do latim pater (pai) e se refere aos 
“pais” da teologia da Igreja, tem seu início durante o período de decadência 
do Império Romano, durante o século III. As principais questões filosóficas 
são relacionadas com fé e razão; a natureza de Deus, a alma e a vida moral. 
A fundamentação será dada pelo platonismo, sobretudo no que se refere à 
concepção do “suprassensível”, para a justificação do controle racional das 
paixões, no sentido platônico, renúncia do mundo terreno e o rigor ético. O 
maior nome é o do Bispo de Hipona, Santo Agostinho (354-430), que desde 
Platão crê que a verdade é produto da iluminação divina dada por Deus a todo 
espírito humano. Dentre suas obras destacam-se as que irão ser relevantes 
para nosso futuro estudo sobre Filosofia do Direito: “As Confissões” (396-
397) e “Cidade de Deus” (411-426) – seu maior escrito sobre ética e política.
o Escolástica – período posterior ao século XIII, quando Tomás de Aquino (1225-
1274), a partir das obras de Aristóteles, garante a sobrevivência do cristianismo 
frente ao avanço do racionalismo que irá marcar os séculos posteriores. 
Inúmeras são suas obras, dentre as quais destaca-se a “Suma Teológica”, escrita 
entre os anos de 1265-1273. Desde a metafísica aristotélica são elaboradas as 
bases racionais e filosóficas para a separação entre fé e razão, harmonizando as 
distintas e maiores esferas da verdade que podem ser atingidas. 
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
16
A Filosofia Medieval, marcada por profundidade e grande vigor teórico, 
é um período que não pode ser considerado “de trevas”, como erroneamente 
costuma ser compreendida, ou enfadonhas e inúteis discussões sobre cristianismo, 
como o “sexo dos anjos” e “umbigo de Adão”.
DICAS
A popular expressão “discutir sexo dos anjos” tem sua origem em um curioso 
episódio ocorrido no ano de 1453, durante a tomada de Constantinopla pelos turcos. Narra a 
história que enquanto o imperador, que acabou morto, resistia junto com os cristãos contra 
a queda da cidade de Istambul (na época chamada Bizâncio), que estava sendo queimada 
e incendiada e sua população morta, as autoridades da Igreja mantinham uma acalorada 
discussão sobre qual seria o sexo dos anjos e se Adão tinha ou não umbigo.
A Idade Média foi o momento histórico de elaboração dos pilares da 
Modernidade. Na etapa medieval, a vida intelectual, política e filosófica atinge 
novos e altos níveis de sofisticação. Por essa razão afirma Richard Tarnas (2011, p. 
244) que “a gestação medieval da cultura europeia atingira um novo limiar, além 
do qual ela já não se conteria nas antigas estruturas. A maturação de dois mil anos 
do Ocidente estava a ponto de afirmar-se em uma série de tremendas convulsões 
culturais que dariam à luz ao mundo moderno”. 
• Filosofia Moderna: entre os séculos XV/XVI ao XIX
O pensamento filosófico moderno possui uma marca: a completa inovação 
do mundo e do homem. Como resultado de uma soma de fatores, a Modernidade 
inaugura um inédito estágio civilizatório de múltiplas e complexas faces. Dentre 
os fatores que se entrelaçam, o Renascimento, a Reforma e a Revolução Científica 
serão os propulsores de uma nova lógica de vida e, como veremos, de Direito. 
As transformações mais do que nunca são aceleradas e alucinantes: o 
“mundo” se expande para além da Europa, a visão unitária de cristianismo e de 
verdade é rompida pela Reforma Protestante com Calvino e Lutero; o conceito de 
conhecimento passa a ser definido pela Ciência por pensadores como Leonardo 
da Vinci, Copérnico, Galileu, Bacon e Kepler; a política passa a ser definitivamente 
assunto humano e científico com Bodin e Maquiavel; a arte renasce com Miguel 
Ângelo, Rafael, El Greco e outros. Enfim, Modernidade torna-se sinônimo de 
permanente mudança. 
Definitivamente o homem torna-se dono de seu destino e de suas escolhas 
políticas, é livre para se autodeterminar. Afinal, o homem é o “centro” do universo 
existencial.
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TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
17
FIGURA 5 - HOMEM VITRUVIANO
Homem Vitruviano de Leonardo 
da Vinci é uma obra de 1490 baseada em 
um trabalho do arquiteto Vitrúvio e quer 
significaras proporções perfeitas de um 
ideal de ser humano. É uma figura repleta 
de simbolismos, demonstrando a relação 
do homem com o universo. 
FONTE: <http://www.sitedecuriosidades.com/curiosidade/o-que-e-o-homem-vitruviano-de-da-
vinci.html>. Acesso em: 15 ago. 2016.
O pensamento moderno possui duas faces indissociáveis: o Racionalismo e o 
Iluminismo. O Racionalismo moderno é fundado na inabalável crença na autonomia 
e autoconsciência do ser humano em si, muito menos dependente de um Deus 
onipotente e onipresente. A fé na razão humana triunfa sobre as religiões, as antigas 
autoridades e a Ciência como uma nova forma de redenção, e conduz o homem a um 
novo olhar para a realidade objetiva verificável, quantificável e comprovável. 
A busca pela verdade era agora conduzida na base da cooperação 
internacional, no espírito de curiosidade disciplinada, com o desejo 
mesmo de transcender cada vez mais os limites do conhecimento. 
Oferecendo uma nova possibilidade de certeza epistemológica e 
consenso objetivo, novos poderes de previsão experimental, invenção 
técnica e controle da Natureza, a Ciência apresentava-se como a graça 
salvadora da cultura moderna (TARNAS, 2011, p. 305). 
Munido de uma nova racionalidade, independente dos dogmas da 
Igreja e das gloriosas e eternas ideias greco-romanas, agora havia condições que 
estabeleciam um novo modelo civilizatório, novas formas de ordem política 
alicerçadas nos direitos racionalmente definidos em contratos sociais mais 
benéficos, que iriam servir de linha divisória entre o estado de natureza selvagem 
e bárbaro e a sociedade civil. 
Lembre-se de que a era moderna é a era das Revoluções Burguesas, que 
fundaram uma nova forma de poder: os Estados Liberais.
ATENCAO
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
18
Outra face do pensamento moderno é o Iluminismo (Aufklãrung em 
alemão, que pode ser traduzido como Esclarecimento, ou Lumières, Luzes, no dizer 
francês). Para os iluministas, todo desconhecido pelo estado de ignorância pode ser 
conhecido, “iluminado” pela razão humana. Pensadores iluministas como Locke, 
Leibniz, Spinoza, Bayle, Voltaire, Montesquieu, Diderot, Hume, Adam Smith, Kant, 
dentre muitos outros mais, fundaram uma nova visão de mundo. 
FIGURA 6 - REPRESENTAÇÃO DA LIBERDADE
A Liberdade Guiando o 
Povo – Le liberte guidant le peuple –, 
pintura de Eugène Delacroix de 
1830, é um dos grandes símbolos da 
civilização moderna e representa a 
liberdade empunhando a bandeira 
da Revolução Francesa triunfando 
sobre os mortos. 
FONTE: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/01/06/903132/conheca-
liberdade-guiando-povo-eugne-delacroix.html>. Acesso em: 15 ago. 2016.
• Filosofia Contemporânea: da metade do século XIX até os dias atuais
É muito difícil definir com clareza o período histórico em que se vive. São 
muitas as correntes filosóficas com variadas percepções de mundo, entretanto, 
algo têm em comum: o desencanto com a razão e a descrença na ciência. Estamos 
em uma etapa em que “tudo parece desmanchar-se no ar”. Tempos líquidos, no 
entender de Bauman (2008, p. 38), ao que parece “[...] não podemos mais tolerar o 
que dura. Não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos [...]”.
As categorias filosóficas passaram a desconfiar do otimismo técnico e 
científico do século XIX, afinal, as guerras mundiais desnudaram a crueldade que 
pode ser produzida pelo conhecimento científico. Desde aí, por exemplo, a Escola 
de Frankfurt, formada por um grupo de intelectuais fundadores da Teoria Crítica, 
fez a distinção entre razão instrumental e razão crítica. A razão instrumental, 
a técnico-científica, não foi capaz de promover a libertação e emancipação 
humanas, ao contrário, tornou-se instrumento de opressão e extermínio. Como 
contraposição à razão crítica, desde uma revisão da razão instrumental, propõe 
uma forma de conhecimento libertador e emancipatório. 
As utopias modernas foram destroçadas pelas experiências totalitárias do 
fascismo, nazismo e stalinismo. Instalou-se um desencanto com os discursos e 
ideais legados da modernidade. Desgraçadamente descobrimos que não somos 
iguais, tampouco livres e muito menos fraternos. A universalidade e hegemonia 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
19
da civilização eurocêntrica já não pode ser mais defendida. São tempos de 
relativismos e saberes provisórios.
Estaríamos no fim da Filosofia? No fim da história? Se para alguns a 
Modernidade acabou, para outros, como Jürgen Habermas, é um projeto inacabado 
(HABERMAS, 2013). Em discurso proferido em setembro de 1980 em Frankfurt, 
Habermas denuncia que as promessas do Iluminismo não se cumpriram e ainda 
seria possível, apesar das patologias e males vividos na Modernidade, melhorar 
a condição humana, e, assim, não teria sentido o discurso pós-moderno. Talvez o 
que ainda nos restaria seria o luto pelo fracasso de um projeto civilizatório. 
FIGURA 7 - RETRATO DO HORROR
Guernica – de Pablo Picasso, obra produzida em 1937, atualmente no 
Museu Rainha Sofia (Madri-ES). Retrata o horror do bombardeio alemão sobre a 
cidade espanhola de Guernica com o aval do ditador Francisco Franco.
FONTE: <http://www.museoreinasofia.es/en/collection/artwork/guernica>. 
Acesso em: 15 ago. 2016.
Desde os centros tradicionais da Filosofia se anuncia a pós-modernidade. 
A entrada para o século XXI não foi tão triunfal como se esperava. Desde as três 
últimas décadas do século XX, as lutas contra os regimes ditatoriais, os movimentos 
sociais, a luta pela afirmação de direitos humanos, a perversa miséria e exclusão 
produzida pela globalização neoliberal, fizeram ressurgir a aproximação entre a 
Filosofia, Ética, Política e Ideologia. 
DICAS
Mais adiante retomaremos alguns dos pensadores modernos e pré-modernos 
para melhor compreendermos o próprio Direito e seus fundamentos filosóficos modernos. 
Para melhor aprofundar esse momento de estudo, sugere-se a leitura do livro: “Convite à 
Filosofia”, de Marilena Chauí, disponível em: <http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/arquivos/
File/classicos_da_filosofia/convite.pdf>, especialmente o Capítulo I.
20
Neste tópico, você viu:
• Os elementos essenciais que irão servir de referência permanente em nossos 
estudos.
• O sentido e especificidade do estudo da Filosofia.
• A Filosofia como saber prévio e necessário a qualquer campo do conhecimento.
• A origem do pensamento filosófico na tradição do pensamento ocidental.
• O processo histórico de construção da Filosofia ocidental.
• Os desafios da reflexão filosófica no mundo contemporâneo.
RESUMO DO TÓPICO 1
21
Considere o texto a seguir: 
Uma definição precisa do termo “filosofia” é impraticável. Tentar 
formulá-la poderia, ao menos de início, gerar equívocos. Com alguma 
espirituosidade, alguém poderia defini-la como “tudo e nada, tudo ou 
nada...”. Melhor dizendo, a filosofia difere das ciências especiais na medida 
em que procura oferecer uma imagem do pensamento humano – ou mesmo da 
realidade, até onde se admite que isso possa ser feito – como um todo. Contudo, 
na prática, o conteúdo de informação real que a filosofia acrescenta às ciências 
especiais tende a desvanecer-se até parecer não deixar vestígios. Acreditamos 
que esse desvanecimento seja enganoso, mas devemos admitir que até aqui a 
filosofia não tem conseguido realizar suas grandes pretensões. Tampouco tem 
logrado êxito em produzir um corpo de conhecimentos consensual comparável 
ao elaborado pelas diversas ciências. Isso se deve, em parte, embora não 
integralmente, ao fato de que, quando obtemos conhecimento verdadeiro a 
respeito de determinada questão situamos essa questão como pertencente 
à ciência e não à filosofia. O termo “filósofo” significava originariamente 
“amante da sabedoria”, tendo surgido com a famosa réplica de Pitágoras aos 
que o chamavam de “sábio”. Insistia Pitágoras em que sua sabedoria consistia 
unicamente em reconhecer sua ignorância, não devendo, portanto, ser chamado 
de “sábio”, mas apenas de “amante da sabedoria”. Nessa acepção,“sabedoria” 
não se restringia a qualquer dos domínios particulares do pensamento e, de 
modo similar, “filosofia” era usualmente entendida como incluindo o que hoje 
denominamos “ciência”. Esse uso sobrevive ainda hoje em expressões como 
“filosofia natural”. Na medida em que uma grande produção de conhecimento 
especializado em um dado campo ia sendo conquistada, o estudo desse campo 
se desprendia da filosofia, passando a constituir uma disciplina independente. 
As últimas ciências que assim evoluíram foram a psicologia e a sociologia. 
Dessa forma, poderíamos falar de uma tendência à contração da esfera da 
filosofia na própria medida em que o conhecimento se expande. Recusamo-
nos a considerar filosóficas as questões cujas respostas podem ser dadas 
empiricamente. Não desejamos com isso sugerir que a filosofia poderá acabar 
sendo reduzida ao nada. Os conceitos fundamentais das ciências, da figuração 
geral da experiência humana e da realidade (na medida em que formamos 
crenças justificadas a seu respeito) permanecem no âmbito da filosofia, visto 
que, por sua própria natureza, não podem ser determinados pelos métodos das 
ciências especiais. É sem dúvida desencorajador que os filósofos não tenham 
logrado maior concordância com respeito a esses assuntos, mas não devemos 
concluir que a inexistência de um resultado por todos reconhecido signifique 
que esforços foram realizados em vão. Dois filósofos que discordem entre si 
podem estar contribuindo com algo de inestimável valor, embora ambos não 
estejam em condição de escapar totalmente ao erro: suas abordagens rivais 
AUTOATIVIDADE
22
podem ser consideradas mutuamente complementares. O fato de filósofos 
distintos necessitarem dessa mútua complementação torna evidente que o 
ato de filosofar não é unicamente um processo individual, mas também um 
processo que possui uma contrapartida social. Um dos casos em que a divisão 
do trabalho filosófico se torna bastante proveitosa consiste na circunstância de 
que pessoas distintas usualmente enfatizam aspectos diferentes de uma mesma 
questão. Contudo, boa parte da filosofia volta-se mais para o modo pelo qual 
conhecemos as coisas do que propriamente para as coisas que conhecemos, 
sendo essa uma segunda razão pela qual a filosofia parece carecer de conteúdo. 
No entanto, discussões a respeito de um critério definitivo de verdade podem 
determinar, na medida em que recomendam a aplicação de um dado critério, 
quais as proposições que na prática deliberamos serem verdadeiras. As 
discussões filosóficas da teoria do conhecimento têm exercido, ainda que de 
modo indireto, importante efeito sobre as ciências.
FONTE: <http://filosofia.paginas.ufsc.br/files/2013/04/O-que-%C3%A9-Filosofia-e-por-que-vale-
a-pena-estud%C3%A1-la.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2016.
Após a leitura e reflexão sobre o texto acima responda a seguinte questão:
Por que a não concordância dos filósofos sobre determinada 
problemática é considerado um ganho? As discussões filosóficas não devem 
conduzir a uma verdade?
23
TÓPICO 2
FILOSOFIA DO DIREITO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Vamos retomar o mesmo questionamento inicial: por que e para que o 
estudo da Filosofia para quem deseja ser um jurista? Qual a relação entre Direito 
e Filosofia? 
Como já vimos, a atitude reflexiva, ação ou processo através do qual a 
pergunta retorna ao sujeito que pergunta, resulta da permanente inquietação 
frente ao que nos rodeia, e este é o ponto de partida para a Filosofia. 
Também já sabemos que a problematização das questões mais radicais, no 
sentido daquelas que estão “na raiz”, nos coloca diante de um universo infinito 
de desafios e novos questionamentos que, de início, sequer imaginávamos serem 
relevantes.
 Diante da tentativa de estabelecer a relação entre Direito e Filosofia, 
inúmeras são as dificuldades e “caminhos” que se colocam, porém, decidindo 
pela escolha mais elementar, neste primeiro momento propomos definir o que é 
Filosofia do Direito. 
Como conhecimento sistematizado e rigoroso, a Filosofia é o estudo 
preliminar de inúmeras áreas do saber, particularmente das Ciências Sociais e 
Humanas. Como você já deve saber, há uma diferença nas áreas do conhecimento 
definida em função de seu objeto e métodos. Sem querer entrar na mesma 
discussão que tomou conta do debate científico dos séculos XVIII e XIX acerca 
do conceito de Ciência e seus distintos campos, o campo do Direito é um campo 
de estudo social e valorativo, uma vez que lidamos com conceitos como deveres, 
obrigações, justo e injusto etc. Para iniciarmos uma aproximação com a Filosofia 
do Direito, podemos afirmar que Direito é um saber específico, ao mesmo 
tempo uma ciência normativa e aplicada que se aproxima de muitos outros 
conhecimentos relacionados à ação humana e aos valores que a regem. 
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
24
NOTA
“Ciência” é um termo de origem latina “scientia”, que significa conhecimento 
ou saber. De forma bastante simples, se pode afirmar que atualmente se entende por 
Ciência todo o conhecimento produzido através da sistematização metodológica acerca 
de um determinado objeto com base em determinados pressupostos ou princípios. Ciência 
comporta vários conjuntos de saberes elaborados a partir de teorias que respondem de 
maneira eficiente a um determinado problema. Por esta razão, “espírito investigativo” é 
sempre problematizador e aberto ao “novo”. De acordo com o objeto são definidos campos 
distintos do conhecimento, dentre os quais as Ciências Sociais e Humanas, que estudam 
o comportamento e as relações humanas. Nelas se incluem áreas como a Antropologia, o 
Direito, a História, a Psicologia, a Sociologia, a Filosofia Social, a Economia Social, a Política 
Social, o Direito Social. Já as Ciências Naturais são ciências que descrevem, ordenam e 
comparam os fenômenos que independem das relações humanas, como, por exemplo, 
as ciências exatas (como a Física e a Química) e as geociências (Biologia, incluindo a 
Microbiologia e a Paleontologia, Geografia, Geologia, Cristalografia etc.).
FIGURA 8 – OBSERVAÇÃO CIENTÍFICA
Gravura de Maurits Cornelis Escher (1898-
1972) que nos sugere o que é a observação científica: 
um olhar para o “mistério” do mundo e de nós 
mesmos.
FONTE: <http://www.mcescher.com/gallery/italian-period/hand-with-reflecting-sphere/>. 
Acesso em: 15 ago. 2016.
Por sua particularidade, o Direito possui distintas dimensões, dentre as 
quais a dogmática jurídica, definida como premissas ou pressupostos válidos, 
segundo os valores, finalidades e princípios do Direito, cuja finalidade é a de 
orientar uma decisão de forma a limitar a discricionariedade – poder de escolha 
– do órgão julgador. 
A dogmática jurídica preocupa-se com possibilitar uma decisão e 
orientar a ação, estando ligada a conceitos fixados, ou seja, partindo 
de premissas estabelecidas. Essas premissas ou dogmas estabelecidos 
TÓPICO 2 | FILOSOFIA DO DIREITO
25
(emanados da autoridade competente) são, a priori, inquestionáveis. 
No entanto, conformadas as hipóteses e o rito estatuídos na norma 
constitucional ou legal incidente, podem ser modificados de tal forma 
a se ajustarem a uma nova realidade. A dogmática, assim, limita 
a ação do jurista condicionando sua operação aos preceitos legais 
estabelecidos na norma jurídica, direcionando a conduta humana 
a seguir o regulamento posto e por ele se limitar, desaconselhando, 
sob pena de sanção, o comportamento contra legem, mas não se limita 
"a copiar e repetir a norma que lhe é imposta, apenas depende da 
existência prévia desta norma para interpretar sua própria vinculação 
(ADEODATO, 2002, p. 32).
Uma das finalidades da dogmática jurídica é a de possibilitar o que 
tradicionalmente se define como segurança jurídica, ou seja, garantir um mínimo 
de previsibilidade das decisões que definem as relações e o comportamento 
social, porém, dogmática jurídica não deve ser compreendida como conceitos, 
ideias e concepções estagnadas e imutáveis. É exatamente a dimensão valorativa 
do Direitoque lhe confere permanente dinâmica, e aqui podemos visualizar uma 
outra face do saber jurídico: a Zetética. 
Zetética do Direito tem como característica ser especulativa e 
problematizadora acerca da Dogmática Jurídica (COELHO, 1991). É o campo do 
Direito de discussão acerca dos fundamentos e justificativas dos conceitos com os 
quais operamos o Direito, rompendo com as verdades postas, especulando acerca 
do que é e não do que deve ser de direito. 
ESTUDOS FU
TUROS
Na última unidade iremos aprofundar o estudo acerca da Teoria Crítica do 
Direito e discutir as distintas correntes e proposições.
Não é difícil perceber que no Direito, embora este possua conceitos 
técnicos operacionais dados, por exemplo, pela norma jurídica, há uma 
permanente mutabilidade e problematização dos parâmetros mais duradouros 
e institucionalizados do saber jurídico a fim de que o Direito cumpra sua função 
social, que é a de dar uma solução adequada a interesses e necessidades sociais 
de acordo com a dinâmica que rege a vida social. Para tanto é necessário um 
comportamento crítico e atualizador por parte dos juristas, em outras palavras, 
uma atitude filosófica. 
A Filosofia do Direito é um dos instrumentos através dos quais é possível 
a abstração crítica dos conceitos e pressupostos jurídicos que constroem e 
legitimam as práticas jurídicas e os discursos jurídicos, funcionando como espaço 
privilegiado para, de forma livre, refletir radicalmente. 
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
26
Para pensadores clássicos do Direito, como Giorgio Del Vecchio, o Direito 
ultrapassa o limite de sua logicidade interna, uma vez que é produto da natureza 
humana, fazendo com que exista a necessidade de alargar e aprofundar a dimensão 
do fenômeno jurídico de forma a permitir compreender as contingências sob 
as quais se construiu uma lei ou um costume; e esse fundamento não pode ser 
investigado pela ciência jurídica stricto sensu, ou seja, em sua dimensão técnica 
normativa. Esta investigação define o campo da Filosofia do Direito: “disciplina 
que define o Direito na sua universalidade lógica, investiga os fundamentos e os 
caracteres gerais do seu desenvolvimento histórico, avalia-o segundo o ideal de 
justiça traçado pela razão pura” (DEL VECCHIO, 1979, p. 306).
Como veremos, ao longo da história a Filosofia do Direito se tornou um 
saber autônomo, independente da Filosofia, uma vez que possui particularidades, 
objeto específico e objetivo diferenciado. 
Agora já estamos preparados para conversar sobre Filosofia do Direito e 
assim “retirar a venda dos olhos”. 
FIGURA 9 – A JUSTIÇA É CEGA
 FONTE: <http://chebolas.blogspot.com.br/2013/05/blog-post_4012.html>. Acesso em: 15 ago. 2016.
A charge acima faz menção à tradicional figura da deusa Themis, que 
na mitologia grega era a guardiã dos juramentos dos homens e das leis. Era 
representada empunhando a balança – com a qual equilibra seu raciocínio para 
julgar – e a espada – que é a força necessária para ser obedecida.
Sua imparcialidade e cegueira não devem ser entendidas literalmente, uma 
vez que necessita estar de “olhos abertos” às injustiças e formas de dominação 
entre os homens.
2 A ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA DO DIREITO
Já tendo compreendido a relação entre Direito e Filosofia, passamos agora 
a uma aproximação maior com nosso objeto principal: a Filosofia do Direito. O 
TÓPICO 2 | FILOSOFIA DO DIREITO
27
ponto de partida para a compreensão de um campo do saber é a definição de suas 
características nucleares, quais sejam: seu objeto, métodos e finalidades e/ou funções.
Tendo a Filosofia como preocupação a problematização acerca da 
essência das coisas, a questão do “ser”, ao voltarmos nosso olhar como filósofos 
para o Direito, nosso objeto particular é o Direito que, de acordo com o “olhar” 
metodológico, comporta distintas definições. Direito é um termo “vazio”, sob o 
ponto de vista do rigor científico, ou seja, exige previamente uma definição, e 
exatamente esse tem sido o grande desafio dos juristas ao longo da história do 
pensamento jurídico. Direito não é um termo uníssono, não possui uma única 
definição, e buscar defini-lo é uma das tarefas mais desafiadoras da Filosofia do 
Direito. E ainda, depende daquele que o define segundo os parâmetros que adote, 
das relações que são estabelecidas com os demais campos da Filosofia, como Ética 
e Moral ou com a Ideologia.
Para Marilena Chauí (2000), a ideologia é um conjunto lógico, sistemático 
e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) 
que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como 
devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir 
e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, 
um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de 
caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma 
sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, 
políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em 
classes, a partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da 
ideologia é a de apagar as diferenças, como de classes, e de fornecer aos membros 
da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais 
identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a 
Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado. 
Definir “o que é Direito” para delimitar o objeto da Filosofia do Direito 
não é uma tarefa simples e fácil e, dependendo da corrente teórica adotada, pode-
se chegar a conceitos diversos.
Nós mesmos, em nosso cotidiano, usamos a palavra “Direito” com 
sentidos bem distintos. Quer tentar verificar? 
Ótimo!!!
Então considere as seguintes frases:
• “No Direito brasileiro não há pena de morte para crimes comuns”.
• “Tenho o direito a professar uma crença religiosa”.
• “O Direito é uma ciência social aplicada”.
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
28
Na primeira frase a palavra “Direito” é usada para referir-se ao sistema 
normativo – conjunto de normas jurídicas hierarquicamente sistematizadas e 
legitimadas pelo Estado – que de forma geral rotulamos de “Direito Objetivo”, 
ou de “Direito Positivo”.
Na segunda, usada como “Direito Subjetivo”, como “permissão”, 
“exercício de liberdade” ou “ faculdade”. 
Já na terceira, como estudo ou campo do conhecimento, um saber 
sistemático acerca do Direito Objetivo e do Subjetivo.
Como você pôde perceber, não é possível usar a palavra “Direito” sem 
que se dê a ela uma atribuição, uma vez que há uma autêntica constelação de 
visões – que mais adiante chamaremos de “cosmovisões” – acerca do Direito, 
porém, apesar de se poder reconhecer a imprecisão do termo Direito, tanto na 
linguagem comum como na diversidade dos pensadores jurídicos, devemos 
nos esforçar para diminuirmos essa vagueza, uma vez que nos cabe determinar 
pressupostos e fundamentos que nos afastem do senso comum e das imprecisões. 
Para Miguel Reale (2002, p. 304), a diferença entre Ciência do Direito e 
Filosofia do Direito é muito evidente, ou seja:
• Ciência do Direito, ou Jurisprudência, caracteriza-se como estudo 
sistemático de preceitos já dados, postos diante do intérprete 
(administrador, advogado ou juiz) como algo que ele deve apreender 
ou reproduzir em suas significações práticas, a fim de determinar o 
âmbito da conduta lícita ou as consequências resultantes da violação 
das normas reveladas ou reconhecidas pelo Estado.
• Filosofia do Direito, ao contrário, em lugar de ir das normas jurídicas 
às suas consequências, volve à fonte primordial de onde aqueles 
ditames de ação necessariamente emanam, ou seja, não observa a 
experiência jurídica, como um dado ou um objeto externo, mas sim 
in interiore hominis.
Na visão do jusfilósofo brasileiro, a Filosofia do Direito vai além do Direito 
posto pelo poder político, pelo Estado, e do problema de buscar no sistema a 
resposta jurídicaao caso concreto, mas vai às origens e finalidades da própria norma 
jurídica, isto porque, explica Reale (2002), o Direito “não é uma coisa”, mas carrega 
em si as relações sociais. O Direito não se limita à experiência prática. Carrega em 
si vivências sociais, uma trama de relações de poder, e por essa responsabilidade e 
compromisso social o jurista deve ter uma preocupação prévia a toda experiência 
jurídica: por que e para que a norma jurídica? Portanto, não há de se confundir 
prática científica ou procedimental do Direito com a Filosofia do Direito.
A Filosofia do Direito é um saber crítico a respeito das construções 
jurídicas erigidas pela Ciência do Direito e pela própria práxis do 
Direito. Mais que isso, é sua tarefa buscar os fundamentos do Direito, 
seja para cientificar-se de sua natureza, seja para criticar o assento sobre 
o qual se fundam as estruturas do raciocínio jurídico. Provocando, por 
vezes, fissuras no edifício que por sobre as mesmas se ergue (BITTAR; 
ALMEIDA, 2001, p. 43).
TÓPICO 2 | FILOSOFIA DO DIREITO
29
A atitude filosófica no Direito é um permanente estado de vigilância e 
atenção às práticas jurídicas e judiciais, à inovação legal, à finalidade das normas 
jurídicas, é, enfim, uma atitude própria daquele que está permanentemente 
inquieto com o mundo ao seu redor, e é esse modo de ser que distingue os 
jusfilósofos dos demais pensadores do Direito: a capacidade e sensibilidade de se 
admirar com as coisas e com mundo que nos cerca.
Independente das concepções teóricas e pressupostos, Bittar e Almeida 
(2001) delimitam as seguintes tarefas e objetivos da Filosofia do Direito:
• Proceder à crítica das práticas, das atitudes e atividades dos operadores do 
direito.
• Avaliar e questionar a atividade legiferante, bem como oferecer suporte 
reflexivo ao legislador.
• Proceder à avaliação do papel desempenhado pela ciência jurídica e o próprio 
comportamento do jurista ante ela.
• Investigar as causas da desestruturação, do enfraquecimento ou da ruína de 
um sistema jurídico.
• Depurar a linguagem jurídica, os conceitos filosóficos e científicos do Direito.
• Investigar a eficácia dos institutos jurídicos, sua atuação social e seu 
compromisso com as questões sociais, seja no que tange a indivíduos, a grupos, 
a coletividades, a preocupações humanas universais.
• Esclarecer e definir a teleologia do Direito, seu aspecto valorativo e suas 
relações com a sociedade e os anseios culturais.
• Resgatar origens e valores fundantes dos processos e institutos jurídicos.
• Por meio da crítica conceitual institucional, valorativa, política e procedimental, 
auxiliando o juiz no processo decisório.
Em síntese: Enquanto a Ciência do Direito define conceitos e proposições 
operacionais limitadas às verdades provisórias e limitadas a uma determinada 
concepção acerca do Direito, a Filosofia do Direito problematiza os fundamentos, 
das causas últimas e finalidades do Direito.
ESTUDOS FU
TUROS
A questão que a seguir buscaremos responder diz respeito à delimitação do 
Direito Moderno. Atualmente, quando nos referimos ao Direito, a que exatamente estamos 
nos referindo e por quê?
30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu que:
• Há uma especificidade na Filosofia do Direito: problematizar a essência e 
finalidade do agir jurídico.
• Não há um consenso acerca do termo “Direito”, devendo ser definido de 
acordo com os pressupostos ideológicos, políticos e filosóficos estabelecidos.
• A atividade do jurista exige uma permanente atitude questionadora. 
31
Considere a seguinte afirmação do jusfilósofo Luiz Fernando Coelho: 
A dogmática jurídica pressupõe algumas crenças aceitas pelo senso 
comum teórico dos juristas como verdade, independentemente de qualquer 
discussão ou prova. Eu as chamo de pressupostos ideológicos, porque foram 
construídas ao longo da história do Direito pela ideologia, inculcadas no 
inconsciente coletivo e assimiladas pelo senso comum teórico dos juristas. 
FONTE: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15826/14317>. Acesso 
em: 15 ago. 2016.
Responda a seguinte questão:
Como romper com o “senso comum teórico” dos juristas?
AUTOATIVIDADE
32
33
TÓPICO 3
O PARADIGMA DOMINANTE DE DIREITO MODERNO E 
SEUS ELEMENTOS EDIFICADORES
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O conhecimento jurídico, como qualquer outro conhecimento, é uma 
construção elaborada desde a articulação de elementos que dão origem à 
compreensão ou solução de um problema ou questionamento que nos permite 
adquirir determinadas competências. Tendo essa perspectiva, o contexto existencial 
– histórico, político, social e cultural – do pensador e a “escolha” metodológica 
dos elementos a serem utilizados permitem identificar as características e 
objetivos das teorias científicas, portanto, saber científico não é um privilégio, 
mas produto de uma dinâmica relação com a realidade circundante. Ciência não 
é feita independente do mundo, não opera de forma autônoma, mas depende de 
um conjunto de condições para sua elaboração e desenvolvimento e, uma vez 
elaborada e com condições institucionais, o saber se prolifera e se reproduz.
Essa concepção de ciência foi defendida por Thomas S. Kuhn (1922-
1996), cientista e filósofo americano, cujos estudos o conduziram a buscar outro 
direcionamento intelectual dedicando-se ao estudo da história e filosofia da 
ciência. No ano de 1940 ele ingressou na Universidade de Harvard para estudar 
Física, doutorando-se em 1949, e no ano de 1962, com o lançamento da obra The 
structure of scientific revolutions (A estrutura das revoluções científicas), promove 
uma autêntica “dessacralização” da ciência. 
NOTA
A seguir levantaremos os conceitos do estudo de Khun.
34
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
A partir de uma perspectiva histórica demonstra que não é possível 
sustentar uma “Ciência” como atividade única em todos os momentos 
históricos nas distintas sociedades, uma vez que, para Khun, o que é um saber 
científico é um certo consenso e/ou cumplicidades teóricas de uma comunidade 
autodenominada “científica”. Neste sentido, cientista é o indivíduo que partilha 
e se compromete com o modelo defendido e reproduzido pela comunidade 
científica, construindo-se a tradição de pesquisa e teorias científicas.
Demonstra, através da sua perspectiva historicista, que apesar de as 
pesquisas científicas terem por base a lógica e a racionalidade, elas também 
são regidas pela subjetividade. Segundo ele, a crença em um paradigma não 
depende necessariamente da razão, mas sim da fé do pesquisador.
Traz uma nova concepção de paradigma, o qual pode ser interpretado 
como um modelo referencial, um conjunto de conhecimentos que já está 
estabelecido na comunidade científica. Entretanto, com o surgimento de novos 
fenômenos, alguns paradigmas não conseguem explicar ou responder aos 
questionamentos que tais fenômenos produzem, o que leva ao surgimento de 
uma anomalia e, consequentemente, à emergência de uma crise científica.
O paradigma inicial, antes de entrar em uma crise, encontrava-se na 
denominada “ciência normal”, que não pretende trazer inovações, representa 
o estudo dentro do próprio paradigma, a fim de demonstrar cada vez mais a 
solidez do mesmo. Diante da aparição de uma crise, existem três possibilidades 
de solução: a ciência normal conseguiria solucionar a anomalia; o problema seria 
rotulado e encaminhado às gerações futuras, para que estas, com uma melhor 
aparelhagem, pudessem resolvê-lo; ou tal anomalia levaria ao surgimento de 
um novo paradigma, o qual não anularia necessariamente o anterior.
Com o surgimento de um novo paradigma, a ciência daria um salto, 
avançaria. Isto é, ocorreria uma revolução científica através da denominada 
“ciência extraordinária”, a qual representa o tempo da emergência de novos 
paradigmas e a competição deles entre si. Tal competição tem como causa a 
escolha de qual paradigma possuirá o enfoque mais adequado, em relação a 
resolver as deficiências do paradigma anterior.

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