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Propedêutica e Processo de Cuidar da Saúde da Criança e do Adolescente. Aula I Professora Thaísy Schmidt professorathaisyschmidt@gmail.com @thaisyschmidt Crescimento e Desenvolvimento da Criança • Conhecendo o perfil epidemiológico da criança brasileira: • A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata a lei, assegurando‐lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990). Estatuto da Criança e do Adolescente Estratégia Global para a Saúde das Mulheres, das Crianças e dos Adolescentes • O fim das mortes maternas, neonatais, infantis, de adolescentes e da natimortalidade passíveis de prevenção. • Um retorno de pelo menos 10 vezes o investimento por meio de melhores resultados educacionais, participação na força de trabalho e contribuições sociais. • Pelo menos US$ 100 bilhões em dividendos demográficos advindos de investimentos na saúde e no desenvolvimento na primeira infância e na adolescência. • Uma “grande convergência” em saúde, dando a todas as mulheres, crianças e adolescentes oportunidade igual de sobreviver e prosperar. (CADA MULHER, CADA CRIANÇA, 2016, p. 7). • É recomendável que todos os países, todas as civilizações, construam, junto com o setor privado e a sociedade civil, planos de implementações, em escala apropriada, para estabelecer intervenções que visem aumentar a demanda e a utilização de serviços de saúde e produtos que salvam vidas, especialmente entre as populações subatendidas, em todas as faixas etárias e gêneros, mas especialmente no que se diz respeito às crianças. • No caso do Brasil, por exemplo, verificou‐se que os esforços estabelecidos a médio prazo, focados na promoção de ações de diminuição da pobreza, da ampliação da cobertura da Estratégia Saúde da Família, dentre outros, levaram à diminuição dos óbitos infantis de 47,1 a cada mil nascidos vivos, em 1990, para 15,6 em 2010, ou seja, as taxas de mortalidade infantil (de crianças com menos de 1 ano) e na infância (com menos de 5 anos) no País apresentaram redução de mais de 70% nos últimos 30 anos (IBGE, 2018). • O Brasil é um dos 62 países que alcançaram a meta de redução da mortalidade infantil estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio dos Objetivos do Milênio. A meta apontava para a necessidade de diminuição em dois terços no índice. • “De 1990 a 2015, o Brasil reduziu em 73% a mortalidade infantil. Há 25 anos eram registradas 61 mortes para cada mil crianças menores de cinco anos. O número caiu para 16 mortes (a cada cem mil) após esse período” (BRASIL, 2015a). • É importante salientar que 68,6% das mortes de crianças brasileiras com menos de um ano acontecem no período neonatal, ou seja, com até 27 dias de vida, sendo a maioria no primeiro dia (BRASIL, 2012c). • Outra característica epidemiológica importante dessa população, no Brasil, é que o grupo de crianças com idade entre 0 e 14 anos vem diminuindo com o passar dos anos, como demonstrado pelos sensos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1980 e 2010. Em 2010, as crianças ainda representavam 25% da população brasileira. • É importante recordar que no Brasil existem vários programas e políticas de saúde pública que visam melhorar e intervir nessa realidade. Nesse contexto, podemos citar alguns: Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), o Programa de Humanização do Pré‐Natal e Nascimento (PHPN) e o documento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios e Diretrizes (PNAISM). • Existem ainda programas e políticas específicos, voltados à saúde da criança. Entre esses, destacamos a Rede Cegonha, em que o Ministério da Saúde organizou uma grande estratégia a fim de qualificar as Redes de Atenção Materno‐Infantil em todo o País com o objetivo de reduzir as taxas, ainda elevadas, de morbimortalidade materna e infantil brasileiras (BRASIL, 2012c). • A criança, em todo o desenvolvimento de sua vida, seja desde os primeiros momentos de vida até o avançar dos anos, quando na adolescência, necessita estabelecer relações afetivas, precisa de outra pessoa para ir se estruturando como sujeito e para ter uma identidade própria. • Portanto, estabelecer, desde o nascimento, relações com pessoas que a escutem e entendam suas necessidades, que lhe deem carinho e afeto, que lhe proporcionem oportunidades seguras de explorar e conhecer o mundo que a rodeia, são condições essenciais ao adequado crescimento e desenvolvimento da criança (BRASIL, 2002). Nesse contexto, além do eixo familiar, profissionais da saúde, como o enfermeiro, devem compor essas relações. A Enfermagem • O enfermeiro deve deter conhecimentos técnico‐científicos que favoreçam esse trabalho e permitam atingir o objetivo principal, que é a excelência no cuidado com a saúde da criança. O papel do enfermeiro na vigilância do crescimento e do desenvolvimento da criança e do adolescente • Durante toda a longa trajetória da criança, desde seu nascimento até a fase adulta, existem fases e peculiaridades específicas de cada fase. • O enfermeiro deve compreender esses conceitos e os métodos de avaliação e vigilância, para que a criança possa crescer e se desenvolver com a qualidade máxima esperada, exposta e com acesso aos melhores recursos disponíveis. • O crescimento e o desenvolvimento são eixos referenciais para todas as atividades de atenção à criança e ao adolescente sob os aspectos biológico, afetivo, psíquico e social. • A criança deve ser acompanhada, avaliada e monitorada por profissionais qualificados, desde seu nascimento, quanto à condição e evolução de seu crescimento e desenvolvimento, independentemente da situação socioeconômica e origem étnica. • Alguns fatores de risco devem ser considerados para que o monitoramento do crescimento e desenvolvimento da criança exijam um acompanhamento especial, pois aumentam a probabilidade da existência de doença perinatal e infantil. • Dentre eles encontram‐se: – baixo peso ao nascer, baixa escolaridade materna, – idades maternas extremas (< 19 anos e > 35 anos), – gemelaridade, – intervalo intergestacional curto (inferior a dois anos), – criança indesejada, – desmame precoce, – mortalidade em crianças menores de 5 anos na família, – condições inadequadas de moradia, – baixa renda e – desestruturação familiar (BRASIL, 2002). • Uma das estratégias adotadas pelo Ministério da Saúde, a partir de 1984, visando incrementar a capacidade resolutiva dos serviços de saúde na atenção à criança, foi priorizar cinco ações básicas de saúde: “promoção do aleitamento materno, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, imunizações, prevenção e controle das doenças diarreicas e das infecções respiratórias agudas.” Padrões de crescimento e desenvolvimento • O crescimento e o desenvolvimento da criança possui uma tendência em seguir um padrão próximo‐distal (do mais próximo para o mais distante) e da linha média para a periferia. Tendências sequenciais • Em condições saudáveis, existe uma sequência de crescimento e desenvolvimento definida, previsível e inalterada. • É importante salientar que a velocidade de desenvolvimento e crescimento não apresenta o mesmo ritmo, como observado nas tendências sequencias e direcionais. • Essas sequências são caracterizadas por eventos inalterados, porém o ritmo poderá mudar de criança para criança. • Existem períodos em que o desenvolvimento e o crescimento são mais acelerados e outros mais lentos. • Os períodos de crescimento e desenvolvimento devem ser sensibilizados e estimulados durante todo o processo. • O potencial de crescimento e desenvolvimento esperado à idade dependerá da interação com um meio ambiente particular, podendo ser fator de influência benéfico ou nocivo. • A qualidade dessas interações dacriança com o meio em que vive é muito importante. • O ambiente em que criança vive também interfere em sua saúde ao longo da vida. Uma criança exposta a ambientes saudáveis terá possibilidade de usar seu potencial máximo de desenvolvimento e crescimento, tornando‐se um adulto capaz de enfrentar as dificuldades e contribuir para uma sociedade mais feliz e justa. • Como exemplo, a criança pode sofrer interferências ambientais negativas, dependendo do local onde vive, como a poluição do ar e das águas, assim como a precariedade de condições de saneamento básico. Crescimento • O crescimento é um processo biológico, dinâmico e contínuo de multiplicação (hiperplasia) e aumento do tamanho (hipertrofia) celular, que ocorre desde a concepção até o final da vida, considerando‐se os fenômenos de substituição e regeneração de tecidos e órgãos. De forma geral, o crescimento é entendido como o aumento do tamanho corporal, cessando com o término do aumento do crescimento linear (BRASIL, 2002). • Existe um perfil de crescimento esperado para cada fase etária do desenvolvimento da criança, porém é importante salientar que o potencial máximo desse crescimento sofre influências de diversos fatores, conhecidos como intrínsecos e extrínsecos. Crescimento • Fatores intrínsecos: genéticos. Ex.: crianças, filhas de pais com estatura alta, terão maior chance de serem mais altas se comparadas àquelas filhas de pais mais baixos. • Fatores extrínsecos: são fatores externos, que poderão influenciar o potencial genético do crescimento da criança de forma positiva ou negativa. Ex.: alimentação, condições de higiene e de saneamento básico, condições socioeconômicas e de educação das pessoas de vínculo, problemas de saúde adquiridas intraútero ou na infância, maus tratos, entre outros. Medidas antropométricas • As medidas de peso e estatura, conhecidas como medidas antropométricas, estabelecem uma relação entre peso e estatura importante para detectar o estado nutricional da criança, seja apontando as deficiências recentes de peso (desnutrição aguda), bem como sobrepeso e obesidade. • As medidas de peso e estatura, além de serem utilizadas para esses fins, são fundamentais para analisar fatores de crescimento, desenvolvimento e maturação. • Os parâmetros de crescimento físico incluem, além do peso e da estatura, as espessuras das dobras cutâneas, circunferências do braço e cefálica. • Durante o crescimento da criança, é importante compreender que as diversas partes do corpo crescem em velocidades diferentes, até que se alcance a fase adulta, como exemplificado na figura a seguir. • Observe na figura que aos dois meses de idade fetal, a cabeça é maior em relação ao corpo, quando comparada às demais fases, e essa proporção vai diminuindo e se adequando, com o crescimento nas demais fases, até a fase de adulto. • Verifique que o tronco, aos 12 anos, representa uma proporção corpórea maior quando comparada à fase fetal. Estatura • A estatura é considerada como um dos melhores indicadores de saúde da criança, pois possibilita que o profissional da saúde identifique ou suspeite de falhas nos cuidados desejáveis à sua saúde, que de forma significativa influenciarão diretamente no seu crescimento. Estatura • Para verificar a estatura, o enfermeiro deverá levar em consideração a idade da criança. É aconselhável que a medição da estatura da criança até os dois anos (ou três, dependendo da indicação do gráfico que será usado para o registro), seja feita com a criança em decúbito dorsal e no sentido céfalo‐caudal, que chamamos de verificação do comprimento, conhecida também como comprimento em decúbito dorsal. Peso • O peso é um importante indicador de crescimento, pois sua variação com relação à idade da criança é muito mais rápida do que a da estatura e reflete, quase que imediatamente, o estado de saúde da criança, seja satisfatoriamente ou indicando algum problema de saúde, como nos processos agudos. • O peso expressa a dimensão da massa ou volume corporal considerado somatório de células do corpo, tecidos de sustentação, órgãos, músculos e água. Portanto, diferente da estatura, em um prazo de poucos dias, podem ser observadas alterações importantes no peso, cuja medição é mais fácil e mais precisa que a estatura (BRASIL, 2002). Classificação específica para o peso do recém-nascido • Pequeno para a idade gestacional (PIG) = < 10o do percentil da Curva de Crescimento Intra Uterina- CCIU* • Peso adequado p/a idade gestacional (AIG) = entre 10o e 90o da CCIU. • Grande para a idade gestacional (GIG) = > 90o do percentil da CCIU. *Curva de Crescimento Intrauterino Circunferência do braço • A circunferência do braço indica uma medida indireta da massa muscular do braço. Já a verificação da espessura da prega cutânea está baseada na relação entre gordura subcutânea, gordura interna e densidade corporal. Além de não ser um método invasivo, tem um baixo custo operacional, aplicabilidade em grandes grupos, rapidez e facilidade na aquisição das medidas, sendo utilizado amplamente em estudos epidemiológicos (SICHIERI; FONSECA; LOPES, 1999). • Os locais mais comuns para medir a espessura da prega cutânea é na região do tríceps (mais utilizada), subescapular, supra ilíaca e parte superior da coxa, utilizando‐se um marcador específico. • Deve‐se verificar duas vezes a medida do mesmo local e depois fazer a média aritmética. O valor a ser considerado será o obtido pela média (HOCKENBERRY; WILSON, 2014). Perímetro Cefálico • A medição do perímetro da cabeça é importante para avaliar o tamanho da cabeça e do cérebro. Sua importância na infância está relacionada ao volume intracraniano, permitindo uma avaliação do crescimento do cérebro. O acompanhamento do perímetro craniano deve ser feito, prioritariamente, nas crianças de 0 a 24 meses, período de maior crescimento pós‐natal da cabeça e cérebro (BRASIL, 2002). Mas é importante lembrar que, na suspeita de qualquer alteração no tamanho da cabeça, independentemente da idade, ele deve ser avaliado e monitorado. • O perímetro cefálico (PC) é maior que o perímetro torácico (PT) até aproximadamente os dois anos de idade. Entre o primeiro e o segundo ano de idade o PC e O PT são iguais. Posteriormente, o PT ultrapassa o PC em torno de 5 a 7 cm. Perímetro Cefálico • A partir de 2016, o Ministério da Saúde estabeleceu novos parâmetros para medir o perímetro cefálico, com o intuito de identificar casos suspeitos de bebês com microcefalia. • Para meninos, a medida é considerada igual ou inferior a 31,9 cm e, para meninas, igual ou inferior a 31,5 cm. A mudança está de acordo com a recomendação anunciada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS), valendo para bebês nascidos com 37 ou mais semanas de gestação.
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