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SP 3 - PEDIATRIA (CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR)

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OBJETIVO 1 - RECONHECER AS CARACTERÍSTICAS DAS 
ETAPAS DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
NEUROPSICOMOTOR DAS CRIANÇAS DO 
NASCIMENTO ATÉ O 5° ANO DE VIDA (1° INFÂNCIA). 
 
Segundo o biólogo e psicólogo Jean Piaget, 
considerado um dos mais importantes pensadores do 
século XX, todas as pessoas passam por quatro estágios 
de desenvolvimento cognitivo: 
• Estágio sensório-motor, que vai do nascimento 
aos 2 anos de idade; 
• Estágio pré-operacional, que se estende dos 2 
anos até os 6 ou 7; 
• Estágio operatório-concreto, dos 6 ou 7 anos 
até os 11 ou 12; e 
• Estágio lógico-formal, dos 12 anos em diante. 
 
Desenvolvimento Social 
• Olhar o examinador e segui-lo em 180º = 2 
meses 
• Sorriso social = 3 meses 
• Leva mão a objetos = 4 meses 
• Apreensão a estranhos = 10 meses 
• Dá tchau, bate palma = 15 meses 
• Imita atividades diárias = 18 meses 
 
Desenvolvimento Motor 
• Sustento cefálico = 4 meses 
• Sentar com apoio = 6 meses 
• Sentar sem apoio = 9 meses 
• Pinça superior = 9 meses 
• Em pé com apoio = 10 meses 
• Andar sem apoio = 18 meses 
 
Desenvolvimento da Linguagem 
• Lalação = 6 meses 
• Primeiras palavras = 12 meses 
• Palavra frase = 18 meses 
• Junta duas palavras = 2 anos 
• Frases gramaticais = 3 anos 
 
 
OBJETIVO 2- DEFINIR CRESCIMENTO E 
DESENVOLVIMENTO 
 
O crescimento é um processo dinâmico e contínuo, e 
está mais relacionado ao aspecto físico e ao aumento 
do tamanho do corpo da criança, como, por exemplo, 
o aumento da altura de do peso. Ele é influenciado por 
fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos 
(ambientais), entre os quais se destacam a 
alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os 
cuidados gerais com a criança, que atuam acelerando 
ou restringindo o crescimento. 
O acompanhamento sistemático do crescimento e do 
ganho de peso é um dos indicadores de saúde da 
criança, porque permite a identificação de crianças 
com maior risco de morbimortalidade por meio da 
sinalização precoce da subnutrição e da obesidade. 
Essas duas condições quando diagnosticadas e tratadas 
evita que desvios do crescimento possam 
comprometer a saúde atual e a qualidade de vida 
futura da criança. 
O melhor método de acompanhamento do 
crescimento infantil é o registro periódico do peso, da 
estatura e do IMC da criança na Caderneta de Saúde da 
Criança que utiliza como parâmetros para avaliação do 
crescimento de crianças (menores de 10 anos) os 
gráficos: 
• perímetro cefálico (de zero a 2 anos), 
• peso para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 
anos e de 5 a 10 anos), 
• comprimento/estatura para a idade (de zero a 
2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos), 
• índice de massa corporal (IMC) para a idade (de 
zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos). 
A inclusão do IMC como parâmetro de avaliação 
permite que a criança seja mais bem avaliada na sua 
relação peso vs. comprimento (para menores de 2 
anos) ou peso vs. altura (para maiores de 2 anos). Tal 
parâmetro auxilia na classificação de crianças que em 
um determinado período estiveram desnutridas e 
tiveram o comprometimento de sua estatura, 
possibilitando uma melhor identificação de crianças 
com excesso de peso e baixa estatura. 
Desde a vida intrauterina, a criança deve ter seu 
crescimento monitorado, que nessa fase é feito pela 
ultrassonografia obstétrica. Após o nascimento, altura 
e peso devem ser aferidos até os 18 anos, colocando os 
resultados nas curvas de crescimento para avaliar se o 
padrão de crescimento da criança está compatível com 
outras de mesmo sexo e idade, e verificar se o 
crescimento está de acordo com o padrão de estatura 
da família. 
As tabelas a seguir apresentam os pontos de corte para 
a avaliação do crescimento da criança que podem ser 
avaliados a partir do registro dos dados 
antropométricos nas curvas disponíveis na Caderneta 
de Saúde da Criança e pelo Sistema de Vigilância 
Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da 
Saúde. 
 
 
Um critério para se avaliar se o canal ou percentil de 
crescimento no qual a criança está crescendo, é ou não 
o esperado para aquela criança, é o cálculo da 
estatura-alvo ou altura-alvo que utiliza como base a 
altura dos pais. A fórmula matemática para calcular é a 
seguinte (cálculo em cm): 
Meninas = Altura da Mãe (cm) + (Altura do Pai (cm) – 
13) /2 
Meninos = Altura da Mãe (cm) + (Altura do Pai (cm) + 
13) /2 
𝑀𝐸𝑁𝐼𝑁𝑂(𝐴) =
𝐻𝑚 + (𝐻𝑝 − 13)
2
 
 
O resultado desse cálculo indica o canal de crescimento 
da família. Considera-se normal uma variação de ± 5 
cm. Por exemplo: se uma menina tem uma mãe com 
altura de 160 cm e um pai com altura de 173 cm, a 
altura-alvo estimada para ela será de 160 cm, com uma 
variação entre 155-165 cm. 
Para que a criança atinja todo o seu potencial, muitos 
fatores estão envolvidos: nutrição, ausência de 
doenças crônicas, sono adequado, prática moderada 
de exercícios, saúde emocional entre outros. Mas, o 
principal fator para determinar a altura de um adulto, 
é mesmo a genética. Cerca de 80% da estatura é 
determinada pelo tamanho dos pais. Mas ao contrário 
do que se pensa, não existe um gene do crescimento, 
mas sim centenas deles que interagem entre si e 
contribuem, cada um, com uma parcela maior ou 
menor para a estatura final. Atualmente, foram 
identificados 423 genes que interferem no 
crescimento. 
Há um cuidado especial para crianças prematuras, com 
baixo peso para a idade gestacional ou com restrição 
do crescimento intrauterino, pois elas não tiveram seu 
crescimento intrauterino adequado. O 
acompanhamento ideal das crianças pré-termo exige a 
utilização de curvas específicas ou que se corrija a 
idade cronológica até que completem 2 anos de idade 
para a utilização das curvas-padrão. A maioria dos 
autores recomenda utilizar a idade corrigida na 
avaliação do crescimento e desenvolvimento de 
crianças pré-termo no mínimo até os 2 anos de idade, 
para não subestimá-los na comparação com a 
população de referência. 
ENTENDER ESCORE Z E GUARDAR PARA O MODULO: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescime
nto_desenvolvimento.pdf → PAGINA 42 A 45 
 
O desenvolvimento é um processo que envolve a 
aquisição de novas funções, tais como as intelectuais, 
sociais e motoras, que estão interligados e influenciam 
mutuamente durante a vida do indivíduo. 
O desenvolvimento é frequentemente dividido em 
domínios específicos, como motor grosseiro, motor 
fino, linguagem, cognitivo e crescimento 
social/emocional. Essas designações são úteis, mas não 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf
devem ser consideradas friamente ou ao pé da letra, 
porque esses domínios foram estabelecido usando as 
médias de idades alcançadas por marcos específicos, 
bem como as faixas de normalidade, para uma 
população geral. Mas como os progressos são variáveis 
dentro de diferentes domínios, pode ocorrer o caso da 
criança começar a andar tarde, mas fala sentenças 
cedo. 
1. Desenvolvimento social/pessoal: ocorre pela 
interação com o meio/pessoas. Cada criança tem 
um temperamento ou humor individual. Algumas 
crianças podem ser alegres e adaptáveis e 
desenvolver facilmente rotinas, mas outras 
crianças não são muito adaptáveis e podem ter 
grandes irregularidades em suas rotinas. O 
crescimento emocional e a aquisição de aptidões 
sociais são avaliados pela observação da interação 
da criança com outras, em situações diárias. 
 
 
2. Desenvolvimento motor grosseiro: uso dos 
músculos grandes do corpo, ou seja, a capacidade 
de realizar movimentos amplos. 
 
 
3. Desenvolvimento motor fino: uso de pequenos 
músculos das mãos, como pegar pequenos 
objetos, desenhar. 
 
4. Desenvolvimento cognitivo: desenvolvimento 
cognitivo refere-se ao amadurecimento 
intelectual das crianças. O intelecto dascrianças 
pequenas é avaliado pela observação das aptidões 
de linguagem, curiosidade e habilidades de 
resolver problemas. Assim que a criança começa a 
verbalizar, torna-se mais fácil avaliar a função 
intelectual utilizando ferramentas clínicas 
especializadas. No momento em que a criança vai 
à escola, ela fica sob monitoramento constante 
como parte do processo acadêmico. Por isso as 
avaliações do desenvolvimento devem sempre 
levar em consideração as informações e opiniões 
dos pais e da escola sobre a criança. 
 
5. Desenvolvimento da linguagem: a aquisição da 
linguagem desenvolve em várias etapas. A criança 
vai sendo exposta a um mundo sonoro de 
comunicação por meio dos familiares e do 
ambiente. Inicialmente, a criança tem uma 
percepção da entonação das vozes e depois 
adquire a tentativa de imitação de sons, quando a 
criança escuta um som e percebe como o adulto o 
reproduz, apenas não consegue reproduzir ainda. 
A fala surge em torno dos segundo e terceiro mês 
de vida com a emissão dos primeiros sons 
(gugugu, papapa), o chamado balbucio. Já em 
torno do quinto mês, podem imitar alguns sons 
emitidos pelos adultos. Mostram também reação 
às entonações com significado expressas pelo 
adulto, sorrindo ou tranquilizando-se com falas 
mais doces e reconfortantes, ou mesmo crispando 
a face e chorando se um tom mais forte ou mesmo 
um grito for utilizado. As primeiras palavras vão 
surgir no período dos dez aos 12 meses. As 
crianças utilizam para a sua emissão fonemas 
labiais (papá e mamã). Passam a atender quando 
chamadas pelo nome. 
 
 
 
Os fatores de risco para problemas de 
desenvolvimento podem ser classificados em 
genéticos (por exemplo: síndrome de Down), 
biológicos (por exemplo: prematuridade, hipóxia 
neonatal, meningites) e/ou ambientais (fatores 
familiares, de ambiente físico, fatores sociais). Mas, a 
maior parte dos traços de desenvolvimento da criança 
é de origem multifatorial e representa a interação 
entre a herança genética e os fatores ambientais. 
A manifestação de dificuldades no desenvolvimento é 
muito variável e pode ser de ordem mental, física, 
auditiva, visual ou relacional. O déficit mental 
caracteriza-se por um estado de redução notável do 
funcionamento intelectual significativamente inferior à 
média, que se inicia durante o período de 
desenvolvimento da criança e está associado a 
limitações em pelo menos dois aspectos do 
funcionamento adaptativo: comunicação, cuidados 
pessoais, atividades de vida diária, habilidades sociais, 
utilização dos recursos comunitários, autonomia, 
aptidões escolares, lazer e trabalho. 
A observação do desenvolvimento deve ser feita 
durante a consulta da criança. O profissional deve 
tentar observar os marcos ou indicadores desde o 
início, quando a mãe entra no consultório. Só o 
absolutamente necessário deve ser elicitado na mesa 
de exame. A criança no colo da mãe se mostra mais 
cooperativa e tranquila. No caso dos bebês, deve-se 
tentar observá-los no período entre as mamadas, haja 
vista que quando famintos ficam muito irritados e 
pouco cooperativos; e após as mamadas, sonolentos e 
pouco responsivos. 
A Ficha de Acompanhamento do Desenvolvimento 
deve ficar no prontuário da criança; e a padronização 
para o seu uso, no consultório. Sempre que possível, o 
profissional deve tentar utilizar a mesma forma de 
padronização1 o que facilitará o exame e dará maior 
confiabilidade aos achados clínicos. 
O profissional anotará a sua observação no espaço 
correspondente à idade da criança e ao marco do 
desenvolvimento esperado, de acordo com a seguinte 
codificação: 
• P = Presente 
• A = Ausente 
• NV = Não Verificado 
Ao se aplicar a ficha, algumas das seguintes situações 
podem ocorrer: 
• presença das respostas esperadas para a idade. A 
criança está se desenvolvendo bem e o profissional de 
saúde deve seguir o calendário de consulta; 
• falha em alcançar algum marco do desenvolvimento 
para a idade. Antecipar a consulta seguinte; investigar 
a situação ambiental da criança, relação com a mãe, 
oferta de estímulos. Sugere-se orientar a mãe para 
brincar e conversar com a criança durante os cuidados 
diários; 
• persistência do atraso por mais de duas consultas 
(ou ausência do marco no último quadro sombreado). 
Se verificado, encaminhar a criança para referência ou 
serviço de maior complexidade. 
 
 
OBJETIVO 3 - DESCREVER OS MECANISMOS DE 
CRESCIMENTO NORMAL E AS FORMAS DE AVALIAÇÃO 
(ANTROPOMETRIA). 
 
O crescimento é um processo dinâmico e contínuo, 
expresso pelo aumento do tamanho corporal. Constitui 
um dos indicadores de saúde da criança. O processo de 
crescimento é influenciado por fatores intrínsecos 
(genéticos) e extrínsecos (ambientais), entre os quais 
se destacam a alimentação, a saúde, a higiene, a 
habitação e os cuidados gerais com a criança, que 
atuam acelerando ou restringindo tal processo. Deve-
se valorizar também o crescimento intrauterino, pois 
diversos estudos atestam que alterações no 
crescimento fetal e infantil podem ter efeitos 
permanentes na saúde do adulto. 
Avaliar o crescimento da criança é uma atividade 
fundamental da prática pediátrica. O 
acompanhamento do peso, da altura (comprimento) e 
do perímetro craniano (este nos 3 primeiros anos de 
vida) pode orientar o pediatra sobre as condições de 
saúde de seu paciente, do mesmo modo quando a mãe 
(ou cuidador) apresenta alguma queixa ou não. O 
acompanhamento sistemático do crescimento e do 
ganho de peso permite a identificação de crianças com 
maior risco de por meio da sinalização precoce da 
subnutrição e da obesidade. 
O melhor método de acompanhamento do 
crescimento infantil é o registro periódico do peso, da 
estatura e do IMC da criança na Caderneta de Saúde da 
Criança. 
A Caderneta de Saúde da Criança utiliza como 
parâmetros para avaliação do crescimento de crianças 
(menores de 10 anos) os seguintes gráficos: perímetro 
cefálico (de zero a 2 anos), peso para a idade (de zero 
a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos), 
comprimento/estatura para a idade (de zero a 2 anos, 
de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos), índice de massa 
corporal (IMC) para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 
anos e de 5 a 10 anos). 
 
• IMC 
A inclusão do IMC como parâmetro de avaliação 
permite que a criança seja mais bem avaliada na sua 
relação peso vs. comprimento (para menores de 2 
anos) ou peso vs. altura (para maiores de 2 anos). Tal 
parâmetro auxilia na classificação de crianças que em 
um determinado período estiveram desnutridas e 
tiveram o comprometimento de sua estatura, 
possibilitando uma melhor identificação de crianças 
com excesso de peso e baixa estatura 
O cálculo do IMC deverá ser realizado a partir da 
aplicação da fórmula a seguir, após realizada a 
mensuração de peso e altura ou de comprimento da 
criança. As crianças menores de 2 anos deverão ser 
mensuradas deitadas em superfície lisa (comprimento) 
e as crianças maiores de 2 anos deverão ser 
mensuradas em pé (altura). A Caderneta de Saúde da 
Criança apresenta as tabelas de IMC calculadas e 
orienta as pessoas sobre o seu uso. 
 
As tabelas a seguir apresentam os pontos de corte para 
a avaliação do crescimento da criança que podem ser 
avaliados a partir do registro dos dados 
antropométricos nas curvas disponíveis na Caderneta 
de Saúde da Criança e pelo Sistema de Vigilância 
Alimentar e Nutricional (Sisvan), do MS. 
 
 
 
 
 
• Registro de Peso/Idade 
O Gráfico Peso/Idade do Cartão da Criança possui um 
eixo vertical e um eixo horizontal. O eixo vertical 
corresponde ao peso em quilogramas. Inicia-se com 2 
kg e aumenta de 1 em 1 kg. 
O eixo horizontal corresponde à idade da criança em 
meses e vai do nascimento (0 meses) até 72 meses. O 
Ministério da Saúde propõe no Cartão da Criança um 
gráfico com quatro linhas, assim nominadas de cima 
para baixo: a primeiralinha superior, representa os 
valores do percentil 97 (que corresponde a +2 escores 
Z), a linha pontilhada representa o percentil 10, a 
terceira linha representa o percentil 3 (que 
corresponde a -2 escores Z) e a linha mais inferior (em 
vermelho) corresponde ao percentil 0,1 (representa os 
valores abaixo de -3 escores Z). 
Na proposta do cartão da criança, os pesos entre os 
percentis 10 e 3 caracterizam uma situação de risco ou 
de alerta nutricional; os pesos entre o percentil 3 e o 
percentil 0,1 representam peso baixo para a idade (ou 
ganho insuficiente de peso) e os valores abaixo do 
percentil 0,1 representam peso muito baixo para a 
idade. 
→Interpretação da curva de crescimento 
Para a avaliação do crescimento individual de uma 
criança devem ser considerado dois aspectos: 
A) Na primeira medição, observar a posição do peso 
em relação aos pontos de corte superior e inferior: 
• acima do percentil 97: classificar como 
sobrepeso; 
• entre os percentis 97 e 3: faixa de normalidade 
nutricional; 
• entre os percentis 10 e 3: classificar como risco 
nutricional; 
• entre os percentis 3 e 0,1: classificar como peso 
baixo; 
• abaixo do percentil 0,1: classificar como peso 
muito baixo. 
 
B) Nas medições seguintes, observar a posição e 
também o sentido do traçado da curva de 
crescimento da criança: 
• posição da linha que representa o traçado de 
crescimento da criança: entre os percentis 97 e 3, 
corresponde ao caminho da saúde; 
• sentido do traçado da curva da criança 
(ascendente, horizontal ou descendente), 
desenhada em linha contínua a partir da ligação 
de dois ou mais pontos com intervalos não 
superiores a dois meses. Intervalos maiores 
devem ser desenhados com linha pontilhada para 
chamar a atenção. 
 
 
 
 
 
• Estatura/idade 
O índice estatura para a idade pode ser expresso na 
forma de percentil. Por exemplo: uma criança com 12 
meses de idade, cujo comprimento corresponde ao 
percentil 15 da população de referência, tem 
comprimento igual ou superior a 15% das crianças da 
população de referência com igual idade e sexo. 
Um índice antropométrico passa a ser um indicador das 
condições do crescimento quando a ele é associado um 
ponto de corte. Por exemplo: estatura para idade < P3. 
Assim, o percentil 3 é o limite abaixo do qual a criança 
pode ser considerada com baixa estatura, já que 3% 
das crianças da população de referência apresentam 
estaturas inferiores à esta. Deve ser utilizado para o 
acompanhamento do crescimento linear da criança e 
identificação das deficiências de estatura. Pode ainda 
ser relacionado ao peso (peso para estatura), 
tornando-se um índice para avaliar desnutrição aguda 
e sobrepeso. 
 
 
 
 
 
 
 
• Perímetro cefálico 
Importante variável para avaliar crescimento da 
cabeça/cérebro de crianças nos dois primeiros anos de 
vida. Além desta idade, o perímetro da cabeça cresce 
tão lentamente que sua medida não reflete alterações 
no estado nutricional. No entanto, é importante 
considerar que a avaliação do desenvolvimento é mais 
sensível e detecta mais precocemente essas 
alterações. 
O perímetro adequado é expresso na forma de uma 
faixa de normalidade que situa-se entre os percentis 10 
e 90. O quadro de perímetro cefálico encontra-se no 
anexo deste manual e corresponde ao referencial do 
NCHS. 
No caso desse índice estar fora da faixa considerada de 
normalidade, a criança deve ser encaminhada para um 
especialista ou equipe multiprofissional, para afastar 
diagnóstico de microcefalia ou de macrocefalia. 
 
 
 
 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_c
rianca_crescimento_desenvolvimento.pdf 
 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescime
nto_desenvolvimento.pdf 
 
 
OBJETIVO 4 - RECONHECER AS FASES E OS 
MECANISMOS QUE LEVAM AO DESENVOLVIMENTO 
NEUROPSICOMOTOR NORMAL 
 
O desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) é 
definido como um processo de mudanças no 
comportamento motor de um indivíduo e que está 
interligado com a idade. Esse processo de mudança é 
muito importante para o ser humano, pois quando o 
recém-nascido (RN) nasce o seu sistema nervoso 
central (SNC) ainda não está completamente 
desenvolvido e em consequência disso ele é 
totalmente dependente das pessoas que fazem parte 
de seu convívio. Mas, é a partir da sua estimulação, 
tanto sensorial quanto motora, que o seu 
desenvolvimento ocorrerá e se manterá em constante 
evolução, auxiliando também no seu processo de 
aprendizagem. 
E para que esse processo ocorra com êxito utilizam-se 
vários recursos, em especial a estimulação precoce 
(EP), que ajuda a desenvolver a criança de acordo com 
a fase em que ela se encontra. A EP pode ser aplicada 
por meio de atividades e exercícios de estimulação e, é 
importante, que estas atividades sejam aplicadas de 
forma agradável, tanto para a criança quanto para os 
pais, pois desta forma estão dando carinho e criando 
um ambiente propício à estimulação que vai ajudar a 
desenvolver as capacidades do RN como as percepções 
sensoriais, movimentos normais, comunicação, 
socialização e a capacidade de raciocínio, e irá auxiliar 
na prevenção de possíveis problemas no 
desenvolvimento da criança. 
 
O desenvolvimento neuropsicomotor se dá no sentido 
craniocaudal, portanto, em primeiro lugar a criança 
firma a cabeça, a seguir o tronco e após os membros 
inferiores. A maturação cerebral também ocorre no 
sentido postero-anterior, portanto, primeiro a criança 
fixa o olhar (região occipital), a seguir leva a mão aos 
objetos, etc. 
A avaliação do desenvolvimento deve ser baseada nos 
marcos definidos pela escala de desenvolvimento 
Denver II. Deve-se avaliar o desenvolvimento social, 
motor e linguagem. 
 
 
 
O Teste de Denver é uma escala utilizada por 
profissionais de saúde para avaliar e identificar 
crianças entre 0 e 6 anos de idade com risco 
para atraso no desenvolvimento (ADNPM). 
Essa escala não é um teste de inteligência, ou seja, não 
mede o QI da criança e não foi desenvolvida para 
diagnosticar distúrbios de aprendizagem ou emocional. 
O teste baseia-se principalmente na observação da 
execução dos itens, e no relato dos pais, comparando 
https://www.medicina.ufmg.br/observaped/atraso-do-desenvolvimento-neuropsicomotor-adnpm/
o desempenho de uma determinada criança com o 
desempenho de outras crianças da mesma idade. 
É dividido em 4 áreas: 
• Pessoal-social – envolve aspectos da 
socialização da criança dentro e fora do 
ambiente familiar; 
• Motricidade fina – coordenação olho-mão, 
manipulação de pequenos objetos; 
• Linguagem – produção de som, capacidade de 
reconhecer, entender e usar a linguagem; 
• Motricidade ampla – sentar, caminhar, pular e 
os demais movimentos realizados pela 
musculatura ampla. 
É importante ressaltar que o Teste de Denver não 
determina de forma definitiva um atraso da criança. Ele 
serve de alerta para um risco no desenvolvimento, que 
pode ser confirmado ou não por uma avaliação mais 
específica. 
 
➢ ATÉ 10 DIAS DE VIDA 
O bebê se apresenta numa flexão fisiológica em supino 
e prono, que é o resultado da maturação do Sistema 
Nervoso Central (SNC) durante a vida fetal. Nessa fase, 
o bebê consegue liberar as vias aéreas levantando a 
cabeça, virando a mesma para a direita e esquerda, 
promovendo uma forte estimulação proprioceptiva. 
Este movimento é influenciado pelo sistema labiríntico, 
que provoca a reação de retificação da cabeça. 
O bebê ainda não tem uma flexão ativa e graduada do 
pescoço e não é capaz de manter a cabeça na linha 
mediana. A cabeça virada para o lado facilita o contato 
da mão à boca. A mão se apresenta em flexão com os 
dedos aduzidos. 
Quando levantado para a posição sentada o bebê tenta 
iniciar o movimento de flexão da cabeça, mas perde o 
controle e a cabeça cai para trás, devido ainda à 
ausência do controle do tronco. 
Nesta fase obebê consegue visualizar melhor com 
contraste preto e branco, acompanhando um objeto 
lateralmente e verticalmente. 
 
 
 
 
 
➢ PRIMEIRO MÊS 
Predomina o padrão de flexão fisiológica e, o período 
de posturas assimétricas. A cabeça está quase sempre 
colocada de lado, o corpo segue em rotação em bloco 
(posição dorsal/supina); os braços formam ângulo com 
o corpo, as mãos estão semi-fechadas, o polegar 
aduzido (mas sem resistência, frouxo). O tórax 
encontra-se na linha média e muda de posição de 
acordo com a movimentação da cabeça com auxílio do 
reflexo tônico-nucal assimétrico. O reflexo de Moro 
pode aparecer quando a cabeça se move. 
 
 
Quando levantada da posição dorsal para sentada, 
segurada pelas mãos a cabeça pende para trás, a 
cabeça oscila para os lados, e o cotovelo mantém em 
flexão e ainda não possui o controle da cabeça. 
 
Ao ser segurado pelas axilas, como se fosse andar, 
apresenta a marcha reflexa, que costuma desaparecer 
por volta dos 2 meses, e os olhos acompanham os 
objetos em linha média. Reage a brinquedos luminosos 
ou sonoros, porém assusta-se com facilidade. 
 
➢ SEGUNDO MÊS 
A criança ainda apresenta predomínio da flexão 
corporal, mas realiza extensão melhor. Na posição 
dorsal (supino) apresenta a cabeça para o lado quase 
sempre para o lado de preferência, mas sem restrição 
para virar para o outro lado. As mãos encontram-se 
mais abertas, os braços com mais extensão, mas não 
chegando a linha média. 
Ainda não apresenta controle da cabeça, apesar de 
acompanhar bem o movimento. Quando na posição 
ereta, sentada, a cabeça tende a cair um pouco, 
oscilando. 
Na postura (ventral/prono) a criança começa a 
estender o segmento torácico, levanta a cabeça de 0 a 
45º, muitas vezes de forma assimétrica, tentando 
manter a cabeça na linha média. 
 
 
O quadril (pélvis) se encontra com menos flexão 
(retroversão) e mais extensão, levando assim mais 
estabilidade para o pescoço, as pernas menos 
flexionadas com mais abdução e rotação externa. 
Quando estimulada a pegar um objeto nas mãos, 
ambas se encontram predominantemente fechadas; 
mas abre-se quando tocada e frequentemente 
encontra-se na boca o polegar ou a mão inteira. 
Consegue visualizar o objeto até a linha média e a 
ultrapassa a curto período, porém, quando pega um 
objeto com as mãos, não solta devido o reflexo de 
preensão palmar 
 
➢ TERCEIRO MÊS 
Na posição supino ou dorsal apresenta rotação 
corporal, a cabeça consegue ser mantida na linha 
média, mas tende a ficar do lado de preferência. 
Quando a criança move a cabeça para o lado, o tronco 
mostra-se virando para o lado do rosto. 
As mãos já podem ser trazidas na linha média, os dedos 
se encontram mais abertos, pegam objetos, mas não os 
largam voluntariamente, é largado apenas quando as 
mãos se abrem, como por exemplo, na presença do 
reflexo de Moro. 
Quando levantado para sentar, a cabeça se mantém na 
linha média, acompanhando o movimento na posição 
ventral ou prono (Figura 22). 
 
 
A cabeça ergue até 45º, com apoio nos antebraços 
podendo oscilar de um lado para o outro e para frente. 
As mãos fechadas podem abrir momentaneamente. 
Nesta fase o tônus flexor, já não predomina, entrando 
mais o extensor para vencer a gravidade como o 
controle da cabeça, tronco em diferentes posições. A 
criança já apresenta melhora nas reações de equilíbrio 
“Sustentar a cabeça aos três meses é a melhor prova de 
que o desenvolvimento psicomotor do bebê está 
perfeito” (DE LAMARE, 2009). 
 
➢ QUARTO MÊS 
A criança apresenta competência para manter-se na 
posição dorsal (supino). A simetria indica que ela é 
capaz de virar para os lados, manter a cabeça na linha 
média com o pescoço alongado; quando levantada 
para sentar para frente, utiliza ativamente o abdômen 
com bom controle de cabeça. 
Quando colocada sentada, o tronco não possui 
estabilidade ou equilíbrio e tende para frente. Ainda 
não há reações de apoio embora o braço já apresente 
extensão sem que a criança faça peso. As mãos iniciam 
o abrir quando se aproximam de um suporte. 
Inicia-se o suporte de peso nas mãos, semifechadas 
com extensão dos cotovelos se empunhando para cima 
(Figura 23). 
 
 
➢ QUINTO MÊS 
Nesta fase a criança em posição prono apresenta bom 
controle de cabeça na posição de prono/supino com 
extensão até a pelve. 
Na posição dorsal ou supina, quando levantado para 
sentar antecipa o movimento de elevação da cabeça, 
apresenta total controle em todos os planos, iniciando 
o controle ativo do pescoço e tronco superior, 
começando o preparo para sentar. 
No quinto mês ocorre explosão das atividades. Tenta-
se arrastar; rola; brinca com os chocalhos; puxa o pé à 
boca e chupa o dedo do pé, consegue apanhar objetos 
e trocá-los de mão. 
 
➢ SEXTO MÊS 
Quando está sentada, transfere o peso para um dos 
lados, geralmente transfere o peso para frente e utiliza 
os braços (Figura 26). 
As mãos não despertam tanto interesse, assim, agora 
são instrumentos para suas necessidades como de 
locomoção. A curiosidade agora é despertada para os 
pés. 
 
 
 
➢ SÉTIMO MÊS 
Nesta fase a criança praticamente não fica em decúbito 
dorsal e, se segurada para sentar ergue-se 
praticamente sozinha. 
Faz movimentos para frente e para trás, realiza 
transferência de peso para sentar de lado. 
Na postura sentada apresenta melhor equilíbrio, mais 
estabilidade, quando se inclina para frente, o tronco 
ainda é curvado, pernas em abdução e os quadris bem 
fletidos. 
 
 
➢ OITAVO MÊS 
A criança se movimenta constantemente e realiza 
espontaneamente as mudanças de decúbito 
(prono/supino). Apresenta bom controle de cabeça no 
decúbito ventral e inicia o engatinhar com rotação 
deficiente do tronco e, se vira em círculo, em torno do 
próprio eixo. 
A criança começará a chutar e se erguer nas mãos das 
pessoas ou em objetos e móveis. Quando fica em pé os 
artelhos ficam em garras, pois ainda se vê o reflexo de 
preensão plantar. 
 
➢ NONO MÊS 
Nesta fase praticamente não fica em uma postura 
somente, constantemente muda de posição: sentada 
para deitada e depois volta a sentar e erguer-se. 
Agacha-se, caminha engatinhando, quando fica de pé 
apresenta ligeira flexão dos joelhos, pois ainda não 
apresenta domínio desta postura. 
 
➢ DÉCIMO MÊS 
A criança se movimenta constantemente, senta 
sozinha com total equilíbrio, vira para os lados, para 
frente e para trás, se apoia em objetos para assumir a 
postura de pé, embora às vezes, consegue realizá-la 
sem apoio. Anda se sustentando pelas duas mãos e 
normalmente passa da postura de pé para engatinhar, 
pois já o realiza com rapidez e agilidade (Figura 28). 
Alcança um objeto e também já o larga 
espontaneamente, atira o brinquedo a espera que 
alguém o busque, a preensão é como pinça (utilizando 
o polegar e o indicador). Brinca com as mãos na linha 
média, com os pés e o corpo inteiro, troca objetos de 
uma mão para a outra (coordenação). 
 
 
➢ DÉCIMO PRIMEIRO E DÉCIMO SEGUNDO MÊS 
Apresenta marcha livre com os braços abertos. 
Transfere de decúbito dorsal para sentada, engatinha, 
utiliza os móveis para a posição de ajoelhada, meio 
ajoelhada e de pé. Sustenta-se com as duas mãos, em 
seguida, retira uma mão e tenta a marcha livre. Essas 
atividades motoras não são reflexos nem automáticas, 
requerem aprendizagem prévia. 
Adquirem-se nessa idade, noções de distância quando 
engatinha para alcance do brinquedo, de profundidade 
e do espaço vertical, ao dar os primeiros passos. 
 
 
OBJETIVO 5 - RECONHECER A IMPORTÂNCIA DO 
ALEITAMENTO MATERNO, COMO ELE DEVE SER FEITO 
E AS NECESSIDADES ALIMENTARES NA INFÂNCIA 
 
Introdução 
Além de alimentar a criança, o aleitamento materno 
(AM) protege mãe e criança contra algumas doenças e 
promove o desenvolvimento cognitivo e emocional da 
criança e o bem-estar físico e psíquico da díade mãe-
filho. 
DefiniçõesDiz-se que uma criança está em AM quando ela recebe 
leite materno (direto da mama ou ordenhado), 
independentemente de estar recebendo ou não outros 
alimentos. O padrão de AM pode ser assim classificado: 
• AM exclusivo (AME): quando a criança recebe 
somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, 
ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou 
sólidos; 
• AM predominante: quando a criança recebe, além do 
leite materno, água ou bebidas à base de água (água 
adocicada, chás, infusões) e sucos de frutas; 
• AM complementado: quando a criança recebe, além 
do leite materno, alimentos complementares, 
definidos como qualquer alimento sólido ou 
semissólido com a finalidade de complementar o leite 
materno. O termo “suplemento” tem sido utilizado 
para água, chás e/ou leite de outras espécies; 
• AM misto ou parcial: quando a criança recebe, além 
do leite materno, outros tipos de leite. 
Recomendações quanto à duração do AM 
A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério 
da Saúde do Brasil (MS) e a Sociedade Brasileira de 
Pediatria (SBP) recomendam AM por 2 anos ou mais, 
sendo de forma exclusiva nos primeiros 6 meses. 
Com relação à duração do AME, existem evidências de 
que não há vantagens em oferecer alimentos 
complementares a crianças menores de 6 meses, 
podendo, inclusive, haver prejuízos à saúde da criança, 
como maior chance de adoecer por infecção intestinal 
e hospitalização por doença respiratória. Além disso, a 
introdução precoce dos alimentos complementares 
diminui a duração do AM, interfere na absorção de 
nutrientes importantes nele existentes, como o ferro e 
o zinco, e reduz a eficácia da lactação na prevenção de 
novas gestações. 
Importância (SBP) 
O colostro é um líquido produzido pela mãe, de 
coloração branco-amarelada, desde o segundo 
trimestre de gestação até o final da gestação e parto. 
Contém o dobro de proteínas, albuminas e globulinas, 
menor concentração de lactose, gorduras e maior 
concentração de sais minerais, fatores de crescimento 
e fatores imunológicos se comparado ao leite maduro. 
Além disso, ambos possuem linfócitos T e B, 
monócitos, macrófagos, neutrófilos e células epiteliais 
Os efeitos do AM sobre a saúde da criança e da mulher 
que amamenta, apresentados a seguir, comprovam a 
superioridade da amamentação sobre outras formas 
de alimentar a criança pequena: 
• redução da mortalidade infantil: estima-se que o AM 
pode reduzir em 13% a mortalidade em crianças 
menores de 5 anos por causas preveníveis. Nenhuma 
outra estratégia alcança o impacto da amamentação 
na redução das mortes de crianças dessa faixa etária.5 
A amamentação na primeira hora de vida tem sido 
associada à redução da mortalidade neonatal; 
• redução da incidência e gravidade da diarreia: há 
fortes evidências epidemiológicas de que a 
amamentação confere proteção contra diarreia, 
sobretudo em crianças de baixo nível socioeconômico 
de países de baixa renda. É importante salientar que 
essa proteção diminui quando o AM deixa de ser 
exclusivo; 
• redução da morbidade por infecção respiratória: a 
proteção da amamentação contra infecções 
respiratórias e otite média foi demonstrada em vários 
estudos; 
• redução de alergias: há evidências de que o risco de 
dermatite atópica em crianças com história familiar de 
atopia, nascidas a termo e amamentadas 
exclusivamente por pelo menos meses, é menor 
quando comparadas com crianças amamentadas por 
menos tempo, assim como é menor a chance de 
desenvolver asma em crianças sem história familiar de 
asma, quando comparadas com crianças não 
amamentadas. A exposição a pequenas doses de leite 
de vaca nos primeiros dias de vida parece aumentar o 
risco de alergia ao leite de vaca. Por isso, é muito 
importante evitar o uso desnecessário de fórmulas 
infantis nas maternidades; 
• redução de doenças crônicas: há relatos bem 
consistentes da associação entre AM e menor chance 
de desenvolver obesidade e diabete tipo 2, pressões 
sistólica e diastólica mais baixas e níveis menores de 
colesterol total; 
• melhor nutrição: por ser próprio da espécie, o leite 
materno contém todos os nutrientes essenciais para o 
crescimento e o desenvolvimento ótimos da criança 
pequena, além de ser mais bem digerido, quando 
comparado com leites de outras espécies. Atualmente, 
o crescimento da criança amamentada é a referência 
utilizada nas curvas de crescimento da OMS; 
• melhor desenvolvimento cognitivo e inteligência: a 
maioria dos estudos publicados sobre AM e 
desenvolvimento cognitivo conclui que as crianças 
amamentadas apresentam vantagem nesse aspecto, 
quando comparadas com as não amamentadas ou 
amamentadas por um período inferior. Essa vantagem 
foi observada em diferentes faixas etárias, até mesmo 
em adultos; 
• melhor desenvolvimento da cavidade bucal: a 
interrupção precoce do exercício que a criança faz para 
retirar o leite do seio da mãe pode determinar ruptura 
do desenvolvimento motor-oral harmônico, 
prejudicando o alinhamento adequado dos dentes e as 
funções de mastigação, deglutição, respiração e fala; 
• proteção contra doenças na mulher que amamenta: 
há evidências de proteção do AM contra câncer de 
mama e de ovário, e o desenvolvimento de diabete 
tipo 2, além do efeito anticoncepcional; 
• economia: não amamentar tem implicações 
financeiras, podendo onerar uma família de modo 
substancial. Ao gasto com leites industrializados, 
devem-se acrescentar custos com mamadeiras, bicos e 
gás de cozinha, além de eventuais gastos decorrentes 
de doenças, que são mais comuns em crianças não 
amamentadas. Onera também o sistema público de 
saúde e as empresas/serviços públicos e privados, 
pelas faltas ao trabalho de mães e pais por doença da 
criança; 
• promoção do vínculo afetivo entre mãe e filho: 
apesar de difícil comprovação, é praticamente 
consenso que a amamentação traz benefícios 
psicológicos para a criança e para a mãe. É uma 
oportunidade ímpar de intimidade e afeto, gerando 
sentimentos de segurança e proteção na criança e de 
autoconfiança e realização como mãe na mulher. 
Como deve ser feita 
• Pontos chaves para uma boa técnica de 
amamentação: 
Posicionamento: 
✓ Rosto do bebê de frente para a mama, 
com nariz em oposição ao mamilo 
✓ Corpo do bebê próximo ao da mãe 
✓ Bebê com cabeça e tronco alinhados 
(pescoço não torcido) 
✓ Bebê bem apoiado 
Pega 
✓ Aréola um pouco mais visível acima da 
boca do bebê 
✓ Boca bem aberta 
✓ Lábio inferior virado para fora 
✓ Queixo tocando a mama 
 
• Início da amamentação 
A amamentação deve ser iniciada tão logo quanto 
possível após o parto. A OMS e o MS recomendam 
contato pele a pele na primeira hora de vida, sempre 
que as condições de saúde da mãe e do bebê 
permitirem. A maioria dos bebês suga na primeira hora 
de vida, se lhe for dada oportunidade. A sucção 
precoce da mama reduz o risco de hemorragia pós-
parto, ao liberar ocitocina, e de icterícia no recém-
nascido, por aumentar a motilidade gastrointestinal. 
• Frequência das mamadas 
Habitualmente, o recém-nascido mama com 
frequência, sem regularidade quanto a horários. É 
comum um bebê em AME sob livre demanda mamar 
de 8 a 12 vezes ao dia. Muitas mães, em especial as 
inseguras e com baixa autoestima, costumam 
interpretar esse comportamento como sinal de fome 
do bebê, leite fraco ou insuficiente, culminando, 
quando não assistidas adequadamente, com a 
introdução de suplementos. 
O tamanho das mamas da mãe pode exercer alguma 
influência na frequência das mamadas. As mulheres 
com mamas maiores têm maior capacidade de 
armazenamento de leite e, por isso, podem ter mais 
flexibilidade com relação ao padrão de amamentação. 
Já as mulheres com mamas pequenas podem 
necessitar amamentar com mais frequência em virtude 
da sua pequena capacidade de armazenamento de 
leite. No entanto, o tamanho da mama não tem relação 
com aprodução do leite. 
• Duração das mamadas 
O tempo de permanência na mama em cada mamada 
não deve ser preestabelecido, pois o tempo necessário 
para esvaziar uma mama varia entre os bebês e, em 
uma mesma criança, pode variar dependendo da fome, 
do intervalo transcorrido desde a última mamada e do 
volume de leite armazenado na mama, entre outros 
fatores. Independentemente do tempo necessário, é 
importante que a criança esvazie a mama, pois o leite 
do final da mamada – leite posterior – contém mais 
calorias e sacia a criança. 
• Uso de suplementos 
Água, chás e, sobretudo, outros leites devem ser 
evitados, pois há evidências de que o seu uso está 
associado com desmame precoce e aumento da 
morbimortalidade infantil. A mamadeira, além de ser 
importante fonte de contaminação, pode ter efeito 
negativo sobre o AM, pois algumas crianças 
desenvolvem preferência por bicos de mamadeira, 
apresentando dificuldade para amamentar ao seio. 
Alguns autores atribuem esse comportamento à 
“confusão de bicos”. 
 
 
• Uso de chupeta 
O uso de chupeta tem sido desaconselhado por 
diversas razões, entre as quais a possibilidade de 
interferir com o AM. Crianças que usam chupetas, em 
geral, são amamentadas menos frequentemente, o 
que pode prejudicar a produção de leite. Embora não 
haja dúvidas quanto à associação entre uso de chupeta 
e desmame precoce, ainda não está esclarecida a 
relação causa/efeito. É possível que o uso da chupeta 
seja um sinalizador de que a mãe está tendo 
dificuldades na amamentação ou de que tem menor 
disponibilidade para amamentar. 
Além de interferir com o AM, o uso de chupeta afeta 
negativamente a formação do palato. A comparação de 
crânios de pessoas que viveram antes do advento dos 
bicos de borracha com crânios mais modernos sugere 
o impacto negativo dos bicos na formação da cavidade 
oral. 
• Desmame 
Considerando o desmame uma fase do 
desenvolvimento da criança, o ideal seria que ele 
ocorresse naturalmente (desmame natural), na 
medida em que a criança, sob a liderança da mãe, vai 
adquirindo competência para isso. Esse tipo de 
desmame proporciona transição 
amamentação/desmame mais tranquila, menos 
estressante para a mãe e a criança, preenche as 
necessidades da criança (fisiológicas, imunológicas e 
psicológicas) até elas estarem maduras e, 
teoricamente, fortalece a relação mãe-filho. O 
desmame abrupto deve ser desencorajado, pois, se a 
criança não está pronta, ela pode se sentir rejeitada 
pela mãe, gerando insegurança e, muitas vezes, 
rebeldia. Na mãe, o desmame abrupto pode precipitar 
ingurgitamento mamário, estase do leite e mastite, 
além de tristeza ou depressão, por luto pela perda da 
amamentação ou por mudanças hormonais. 
No desmame natural, a criança autodesmama-se 
gradualmente, o que pode ocorrer em diferentes 
idades, em média entre 2 e 4 anos, e, raramente, antes 
de 1 ano. A mãe tem participação ativa no processo, 
sugerindo passos quando a criança estiver pronta para 
aceitá-los e impondo limites adequados à idade. Há 
vários indicativos de que a criança pode estar pronta 
para iniciar o desmame: idade maior que 1 ano, menos 
interesse nas mamadas, aceita bem outros alimentos, 
é segura na sua relação com a mãe, aceita outras 
formas de consolo, aceita não ser amamentada em 
certas ocasiões e locais, às vezes dorme sem mamar no 
peito, mostra pouca ansiedade quando encorajada a 
não mamar e, às vezes, prefere brincar ou fazer outra 
atividade com a mãe em vez de mamar. 
Muitas vezes, a amamentação é interrompida, apesar 
do desejo da mãe em mantê-la. As razões mais 
frequentes alegadas pelas mães para a interrupção 
precoce do AM são: leite insuficiente, rejeição do seio 
pela criança, trabalho da mãe fora do lar, “leite fraco”, 
hospitalização da criança e problemas nas mamas e 
falta de orientação adequada. Muitos desses 
problemas podem ser evitados ou superados. 
Cabe a cada dupla mãe-bebê e sua família a decisão de 
manter a amamentação até o desmame natural ou 
interrompê-la em um determinado momento. 
 
Necessidades alimentares na infância 
A definição do período adequado para iniciar a 
introdução dos alimentos deve levar em consideração 
a maturidade fisiológica e neuromuscular da criança e 
as necessidades nutricionais. Até os quatro meses de 
idade, a criança ainda não atingiu o desenvolvimento 
fisiológico necessário para que possa receber 
alimentos sólidos. Apesar de o reflexo de protrusão 
(que faz com que o bebê jogue para fora tudo que é 
colocado em sua boca) estar desaparecendo, a criança 
ainda não senta sem apoio e não obtém o controle 
neuromuscular da cabeça e do pescoço para mostrar 
desinteresse ou saciedade, afastando a cabeça ou 
jogando-a para trás. Portanto, em função dessas 
limitações funcionais, nessa fase ela está preparada 
para receber basicamente refeição líquida (leite 
materno somente). 
 Por volta do quarto ao sexto mês de vida, a aceitação 
e tolerância da alimentação pastosa melhoram 
sensivelmente não só em função do desaparecimento 
do reflexo de protrusão da língua, como também pela 
maturação da função gastrointestinal e renal e 
também do desenvolvimento neuromuscular. 
Com a aproximação do sexto mês de vida, o grau de 
tolerância gastrointestinal e a capacidade de absorção 
de nutrientes atingem um nível satisfatório e, por sua 
vez, a criança vai se adaptando física e fisiologicamente 
para uma alimentação mais variada quanto a 
consistência e textura. 
As crianças menores de seis meses que recebem com 
exclusividade o leite materno já muito cedo começam 
a desenvolver a capacidade de autocontrole da 
ingestão, aprendendo a distinguir as sensações de 
fome, durante o jejum, e de saciedade, após a 
alimentação. Essa capacidade permite à criança, nos 
primeiros anos de vida, assumir autocontrole sobre o 
volume de alimento que consome em cada refeição e 
os intervalos entre as refeições, segundo suas 
necessidades. Posteriormente esse autocontrole 
sofrerá influência de outros fatores, como o cultural e 
social. Deve-se sempre pesquisar a história familiar de 
reações alérgicas antes da introdução de novos 
alimentos. 
Após os seis meses, a criança amamentada deve 
receber três refeições ao dia (duas papas de fruta e 
uma papa salgada1 /comida de panela). Ao se 
aproximar do sétimo, respeitando-se a evolução da 
criança, deverá ser introduzida a segunda papa 
salgada/comida de panela (arroz, feijão, carne, 
legumes e verduras). 
Entre os seis aos 12 meses de vida, a criança necessita 
se adaptar aos novos alimentos, cujos sabores, 
texturas e consistências são muito diferentes do leite 
materno. Durante essa fase, não é preciso se 
preocupar com a quantidade de comida ingerida; o 
mais importante é proporcionar introdução lenta e 
gradual dos novos alimentos para que a criança se 
acostume aos poucos. Além disso, como consequência 
do seu desenvolvimento e controle sobre os 
movimentos e da fase exploratória em que se 
encontra, a criança não se satisfaz mais em apenas 
olhar e em receber passivamente a alimentação. É 
comum querer colocar as mãos na comida. É 
importante que se dê liberdade para que ela explore o 
ambiente e tudo que a cerca, inclusive os alimentos, 
permitindo que tome iniciativas. 
 
 
 
 
 
 
 
OBJETIVO 6- DESCREVER OS PRINCIPAIS TIPOS DE 
DESNUTRIÇÃO INFANTIL, MECANISMOS E 
CONSEQUÊNCIAS PARA A PERDA PONDERAL DA 
CRIANÇA 
 
Atualmente, existe um consenso entre autores 
estudiosos da desnutrição infantil que sugerem 
algumas vertentes determinantes para a desnutrição, 
destacando-se, entre elas, a adequação do cuidado, a 
segurança alimentar, a salubridade do ambiente e 
acesso aos serviços de saúde. 
As causas mais comuns de desnutrição, na infância, são 
o desmame precoce, a higienização deficiente na 
preparação dos alimentos, a falta de vitaminas e 
minerais na dieta e a incidência repetidade infecções, 
em particular, das doenças diarreicas e parasitoses 
intestinais. Aliado a tudo isso, está a pobreza que torna 
mais frequente a presença da desnutrição na criança. 
Dentre os tipos de desnutrição infantil, destaca-se a 
desnutrição energético-proteica (DEP). Falar dela é 
falar não só a respeito da principal alteração do estado 
nutricional, mas se repostar a um dos principais 
problemas de saúde nos diversos países em 
desenvolvimento 
A desnutrição infantil contribui, no continente 
americano, como causa associada em 28% dos óbitos 
por doenças infecciosas ocorridos em menores de 5 
anos. No Brasil, a taxa de letalidade hospitalar das 
crianças com desnutrição grave internadas é de cerca 
de 20%. Este valor pode estar subestimado uma vez 
que o diagnóstico da desnutrição como causa básica 
que motivou a internação, nem sempre é feito e 
registrado no prontuário e também porque existe 
subnotificação da desnutrição como causa de óbito. 
As formas de manifestações clínicas da desnutrição 
são: 
• Kwashiorkor: Desnutrição predominante 
protéica. 
• Marasmo: Desnutrição energético-protéica 
equilibrada. 
• Kwashiorkor-marasmático: Forma mista, em 
que existe a desnutrição energética e a 
protéica, porém desequilibrada. 
 
➢ Kwashiorkor 
É mais frequente em crianças menores de 5 anos e 
apresenta como características básicas: edema, 
diarreia, descamação da pele, despigmentação do 
cabelo, apatia, tristeza, face de lua. 
Ocasiona diminuição da proteína em diversos setores 
do organismo: sangue, tecidos periféricos, músculos, 
fígado e outras víceras. 
 
 
O kwashiorkor ou desnutrição edematosa, por sua vez, 
pode ainda ser descrito como uma doença de 
patogênese duvidosa. A perda de peso é geralmente 
menos severa do que no marasmo, embora seja muito 
variável, sendo que muitas crianças têm baixo peso 
enquanto outras têm peso normal para a idade, 
mesmo após a perda do edema. O kwashiorkor está 
associado a uma série de anormalidades bioquímicas 
que podem ser observadas muito antes do 
aparecimento da doença. O fígado é particularmente 
afetado e, em consequência, ocorre uma perda dos 
mecanismos homeostáticos. Estas crianças não 
mobilizam os estoques de proteína da sua musculatura 
para manter a função dos órgãos essenciais. Nelas, 
níveis baixos de cortisol são observados e, numa fase 
pré-kwashiorkor, níveis mais elevados de insulina 
foram detectados. As mudanças metabólicas mais 
importantes são uma redução marcante na 
concentração de proteínas plasmáticas, produzidas 
pelo fígado, entre elas a albumina, levando a um 
padrão alterado de aminoácidos plasmáticos, com 
redução do nível de aminoácidos essenciais, mas com 
valores normais ou até elevados de aminoácidos não-
essenciais. 
 
Em Uganda, por exemplo, onde muitas crianças com 
kwashiorkor foram estudadas, observou-se níveis altos 
de insulina no jejum, indicando que a ação anabólica 
da insulina na musculatura e tecido adiposo poderia 
estar ativada. Mesmo que a ingestão calórica esteja 
muito abaixo do recomendado, como descrito para as 
crianças com kwashiorkor (cerca de 50%), bastaria que 
esta estivesse em excesso em relação à ingestão de 
proteína para que o stress hipoglicêmico não 
ocorresse, não promovendo, consequentemente, 
elevação dos níveis de glicocorticoides. 
nas) A baixa produção de aminoácidos essenciais 
causaria diminuição da síntese de albumina no fígado, 
que é a proteína produzida e liberada em maior 
quantidade por esse órgão. De acordo com esses 
achados, o kwashiorkor seria provocado por uma 
mensagem confusa que chegaria ao hipotálamo 
levando à manutenção de níveis mais elevados de 
insulina do que de cortisol, apesar da pouca oferta de 
substrato. 
Um resumo dessas alterações pode ser visto no quadro 
abaixo: 
 
➢ Marasmo 
A deficiência de crescimento é acentuada, bem como a 
de peso, a atrofia muscular, a ausência de gordura 
subcutânea e a caquexia. Apresenta face de idoso e 
pele enrugada. Normalmente são crianças irritadiças. 
Proteínas plasmáticas normais, ou levemente 
diminuídas. 
 
➢ Kwashiorkor-marasmático 
A mistura marasmo-kwashiorkor apresenta sintomas 
comuns a ambos. Em todos os casos, as crianças 
tendem a desenvolver diarreia, infecções e múltiplas 
deficiências de nutrientes. 
 
 
 
 
➢ Hormônios Reprodutivos 
Vários estudos sugerem que a etiologia da alteração da 
maturação sexual e função reprodutora na desnutrição 
energético-protéica seja secundária à disfunção no 
sistema nervoso central. 
Pacientes desnutridos, com puberdade retardada, 
mostraram níveis de FSH (hormônio folículo 
estimulante) ainda mais diminuídos que LH (hormônio 
luteinizante) em ambos os sexos. 
Além disso, níveis elevados de prolactina são 
encontrados em pacientes com kwashiorkor e 
marasmo comparados com indivíduos normais da 
mesma população. Como a prolactina age alterando a 
função aminérgica no hipotálamo e assim inibe a 
liberação de GnRH, que é o hormônio estimulador das 
gonadotrofinas, ocorre o retardamento da puberdade. 
Estudos revelam que há um atraso da menarca de até 
dois anos em crianças desnutridas; um atraso de um 
ano do estágio puberal Tanner IV em meninos; e as 
gonadotrofinas urinárias só aumentaram após dois a 
quatro anos em relação à idade cronológica. 
OBJETIVO 7- RECONHECER AS CONSEQUÊNCIAS DAS 
PRINCIPAIS CARÊNCIAS ALIMENTARES E 
NUTRICIONAIS NA 1ª INFÂNCIA E A OFERTA DE 
ALIMENTOS INADEQUADOS. 
 
 No Brasil, profundas mudanças no quadro da 
saúde da criança vêm marcando o início do século XXI. 
A queda da mortalidade infantil de 31,9 em 1997 para 
24,11 em 2003 e a diminuição da prevalência de baixo 
peso para idade de 18,4% em 1974 para 5,7% em 1996 
são exemplos contundentes dessas transformações. 
Se, por um lado, esses indicadores mostram uma 
melhoria na saúde infantil, o surgimento de problemas 
novos, como a obesidade e as suas consequências, vêm 
se constituindo em um desafio a ser enfrentado. 
 Vivendo em um país de contrastes, a 
população de crianças e jovens convive com agravos 
nutricionais decorrentes, principalmente, de uma 
alimentação inadequada em termos de qualidade e 
quantidade. Assim, desnutrição e obesidade ainda 
fazem parte de um mesmo contexto e somam-se a 
outros, como a deficiência de vitaminas e sais minerais. 
Por estarem em contínuo crescimento e 
desenvolvimento, as crianças são especialmente 
susceptíveis a esses agravos, evoluindo com 
repercussões sistêmicas, atuais e futuras. Mesmo que 
muitos desses agravos tenham sua gênese na 
desigualdade que marca a nossa sociedade, o 
desempenho do 
 A desnutrição proteico-energética é o 
conjunto de condições patológicas que resulta da 
deficiência concomitante de calorias e de proteínas e 
que ocorre com maior frequência em lactentes e pré-
escolares, geralmente associada a infecções repetidas 
e a outros déficits nutricionais. Por ser associada às 
precárias condições socioeconômicas, sanitárias e 
ambientais, a desnutrição é uma doença social, 
determinada pelo modelo de desenvolvimento 
econômico, político, social e cultural de um país. 
 Uma pesquisa realizada pelo IPEA em 1999 
mostrou que 34% da população brasileira vivia em 
famílias com renda inferior à linha da pobreza, e 14% 
em famílias com renda inferior à linha de indigência. 
Assim, ao término do século XX, 53 milhões de 
brasileiros podiam ser classificados como pobres e 22 
milhões como indigentes. Mesmo que no transcorrer 
dessa primeira década do século XXI os números 
tenham se modificado, o Brasil continua sendo um país 
de profundas desigualdades sociais, onde milhões de 
pobres e indigentes carecem de recursos mínimos para 
satisfazer as suas necessidades mais básicas. Uma das 
consequências mais trágicas dessa situação é a 
desnutrição infantil com toda a gama de alterações que 
ela acarreta. 
 A desnutrição é uma condição de elevadaprevalência em países em desenvolvimento, sendo 
responsável, direta ou indiretamente, pelas altas taxas 
de morbidade e mortalidade em menores de cinco 
anos de idade. Calcula-se que nessa faixa etária, em 
todo o mundo, mais da metade dos óbitos está 
relacionada com desnutrição. 
 Segundo estimativas da OMS, 26,7% (149,6 
milhões) das crianças de países em desenvolvimento 
apresentam baixo peso para idade, e 32,5% (181,9 
milhões), baixa estatura para idade. 
 No Brasil, a Pesquisa Nacional sobre 
Demografia e Saúde (PNDS), realizada em 1996, 
constatou que a proporção de crianças brasileiras de 0 
a 5 anos com baixa estatura para idade era 10,5%; com 
baixo peso para idade era 5,7% e baixo peso para altura 
era 2,3%. Essa pesquisa constatou ainda que a 
proporção de crianças com baixo peso para idade era o 
dobro no meio rural, e que as regiões Norte e Nordeste 
eram as que apresentavam a maior prevalência de 
desnutrição infantil. 
 As repercussões da desnutrição, 
especialmente nas crianças, são gerais, afetando todos 
os sistemas, impedindo o adequado crescimento e 
desenvolvimento, diminuindo a qualidade de vida e 
restringindo consideravelmente as chances de elas se 
tornarem adultos saudáveis. 
 A desnutrição desencadeia uma série de 
respostas adaptativas com alterações no metabolismo. 
A diminuição do peso é uma das respostas iniciais à 
carência proteico-energética. Seguem-se a 
desaceleração do crescimento, as alterações 
hormonais, enzimáticas e da resposta imunológica. As 
crianças desnutridas são mais susceptíveis às 
infecções, têm dificuldades para absorver certos 
nutrientes, são mais propensas à diarreia, aos 
distúrbios hidroeletrolíticos, à hipoglicemia e 
hipotermia. A anemia não somente é consequência das 
carências específicas, como também aparece em 
resposta à baixa demanda de oxigênio pelos tecidos, 
devida à inatividade física e economia de aminoácidos. 
A desnutrição em crianças mais jovens acomete o 
sistema nervoso central, interferindo na mielinização e 
na produção de neurotransmissores. 
 Atualmente, verifica-se o predomínio das 
formas leves e moderadas da doença, que, por se 
manifestarem apenas por déficit de peso e/ou altura, 
são menos diagnosticadas e valorizadas. Para cada 
desnutrido grave, diagnosticado pela presença de 
variadas manifestações clínicas, há dezenas de 
“magrinhos” e “baixinhos”, que passam imperceptíveis 
aos olhos dos profissionais de saúde, e que são 
igualmente susceptíveis aos agravos da doença. 
 As oportunidades para a captação das crianças 
suspeitas de desnutrição e para a identificação das 
situações de risco devem ser aproveitadas em 
quaisquer circunstâncias. Essas crianças devem ser 
inicialmente encaminhadas para avaliação das 
condições gerais, estado nutricional e presença de 
outras doenças. 
 Nesse atendimento inicial, é fundamental 
buscar resposta para as seguintes questões: 
 - Há desnutrição? 
 -Como classificar a desnutrição em relação à 
gravidade? 
 -Como classificar a desnutrição em relação à 
etiopatogenia? 
 
 Para dizer que uma criança é desnutrida é 
necessário: 
 -pesar e medir a criança; 
 -comparar essas medidas com as medidas de 
crianças normais da mesma idade e sexo; 
 -verificar sinais e sintomas clínicos, como 
emagrecimento acentuado e edema em ambos os pés; 
 -observar, na Caderneta de Saúde da Criança, 
se há diminuição da inclinação da curva de peso para 
idade. 
 Na desnutrição, o comprometimento do peso 
ocorre precocemente. O comprometimento da altura 
ocorre mais tardiamente e indica a cronicidade do 
processo. 
 O baixo peso para a idade como índice isolado 
para o diagnóstico de desnutrição é bastante difundido 
pela facilidade de obtenção e sensibilidade para 
detectar precocemente os casos. Todavia, apresenta 
limitações, pois não afere o crescimento linear e não se 
aplica em crianças com desnutrição grave e edema, 
sendo mais adequado para crianças pequenas, 
especialmente as menores de um ano. 
 
 A Organização Mundial de Saúde (OMS), além 
do peso/idade, recomenda a utilização dos índices 
altura/idade e a relação peso/altura para a 
classificação da desnutrição. No lugar de percentil, 
recomenda o uso o desvio padrão (DP) ou o escore Z. 
 Quanto à etiopatogenia, a desnutrição pode 
ser primária, secundária ou mista. A desnutrição 
primária é consequente à diminuição da 
disponibilidade ou da oferta de alimentos. A 
desnutrição secundária resulta de situações em que a 
ingestão, absorção ou utilização de nutrientes ocorrem 
de maneira insatisfatória, apesar de haver 
disponibilidade e oferta de alimentos: obstruções 
mecânicas do tubo digestivo, estados hipercatabólicos, 
parasitoses intestinais, déficits enzimáticos ou 
alterações psíquicas. 
 A desnutrição mista é decorrente da ação 
concomitante dos dois processos, uma vez que a 
desnutrição primária acaba por desencadear uma série 
de alterações que impedem a ingestão e o 
aproveitamento do pouco alimento disponível, com o 
estabelecimento de um círculo vicioso e 
comprometimento progressivo da saúde do indivíduo. 
 † No mundo, pelo menos 1 em cada 3 crianças 
menores de 5 anos não está crescendo bem devido à 
má nutrição em suas formas mais visíveis: desnutrição 
crônica, desnutrição aguda e excesso de peso. 
 † No mundo, pelo menos 1 em cada 2 crianças 
menores de 5 anos sofre de fome oculta devido à 
deficiências de vitaminas e outros nutrientes 
essenciais. 
 † A subnutrição continua a ter um alto custo. 
Em 2018, quase 200 milhões de crianças menores de 5 
anos sofreram desnutrição crônica ou desnutrição 
aguda, enquanto pelo menos 340 milhões sofriam de 
fome oculta. 
 † O número de crianças com desnutrição 
crônica diminuiu em todos os continentes, exceto na 
África, enquanto o número de crianças com excesso de 
peso aumentou em todos os continentes, inclusive na 
África. 
 As crianças que não estão crescendo saudáveis 
são vítimas das três vertentes da tripla carga da má 
nutrição que estão surgindo rapidamente em 
comunidades ao redor do mundo, inclusive em alguns 
dos países mais pobres do mundo. 
 A primeira vertente é a desnutrição. Apesar de 
alguns declínios, a desnutrição continua afetando 
dezenas de milhões de crianças. Sua presença é visível 
no déficit de crescimento das crianças privadas de 
nutrição adequada nos primeiros 1.000 dias cruciais – 
desde a concepção até o seu segundo aniversário – e 
geralmente além disso. Essas crianças podem carregar 
o fardo do déficit de crescimento pelo resto de suas 
vidas e nunca alcançar seu pleno potencial físico e 
intelectual. A desnutrição também é evidente quando 
a escassez de alimentos e as práticas inadequadas de 
alimentação – muitas vezes agravadas pela pobreza, 
por crises e conflitos humanitários – privam as crianças 
de uma nutrição adequada e, em muitos casos, 
resultam em morte. Em 2018, 149 milhões de crianças 
com menos de 5 anos tinham déficit de crescimento e 
pouco menos de 50 milhões tinham baixo peso. 
 O segundo é a fome oculta. As deficiências de 
vitaminas e minerais essenciais roubam a vitalidade 
das crianças em todas as fases da vida e comprometem 
a saúde e o bem-estar das mulheres, mães e filhos. Esse 
custo pesado é ainda mais insidioso pelo fato de que a 
fome oculta raramente é percebida até que seja tarde 
demais para se fazer algo a respeito. O número de 
crianças e mulheres afetadas por várias formas de 
fome oculta é impressionante. Com base nos dados 
mais recentes disponíveis, o UNICEF estima que pelo 
menos 340 milhões de crianças menores de 5 anos 
sofrem de deficiências de micronutrientes. 
 O terceiro é o sobrepeso e, na sua forma mais 
grave, a obesidade. O número de meninas e meninos 
obesos entre 5 e 19 anos disparou desde meados da 
década de 1970, aumentando entre 10 e 12 vezes no 
mundo. O excesso de peso, considerado há muito 
tempocomo uma condição dos ricos, agora é cada vez 
mais uma doença dos pobres, refletindo a maior 
disponibilidade de “calorias baratas” de alimentos 
gordurosos e açucarados em quase todos os países do 
mundo. Traz consigo um risco aumentado de doenças 
não transmissíveis, como diabetes tipo 2 e doença 
cardíaca coronária. A análise realizada como parte do 
estudo Global Burden of Disease sugere que dietas de 
baixa qualidade nutricional são agora a principal causa 
de morte no mundo. 
 O estado da má nutrição infantil no século 21 
pode ser resumido assim: mais crianças e adolescentes 
estão sobrevivendo, mas poucos são os que 
prosperam. Eles não prosperam nos primeiros 1.000 
dias cruciais da vida, quando são lançadas as bases para 
o crescimento físico e o desenvolvimento mental 
saudável. E eles não estão prosperando em outros 
estágios de desenvolvimento cruciais da vida na 
infância e na adolescência. 
 A má nutrição tem muitas causas. A saúde e o 
estado nutricional da mãe, por exemplo, afetam 
profundamente o desenvolvimento do filho, assim 
como a alimentação do filho nas primeiras horas e dias 
de vida. Para muitas crianças, as causas da má nutrição 
também incluem o acesso precário a serviços de saúde 
e água potável e saneamento adequado, o que pode 
levar a doenças que impedem a criança de absorver 
nutrientes. 
 Esses problemas começam cedo. Nos 
primeiros seis meses, apenas duas em cada cinco 
crianças estão sendo exclusivamente amamentadas, 
privando-as do melhor alimento que um bebê pode 
receber. Quando se trata dos ‘primeiros alimentos’ (ou 
alimentos complementares) que os bebês geralmente 
começam a consumir por volta dos 6 meses de idade, 
eles também, em muitos casos, não atendem às 
necessidades das crianças. Menos de uma em cada três 
crianças entre 6 e 23 meses está consumindo o tipo de 
dieta diversificada necessária para seu corpo e cérebro 
em rápido crescimento. Para as crianças mais pobres, a 
proporção cai para apenas um em cada cinco. Entre as 
crianças mais velhas, o baixo consumo de frutas e 
legumes é generalizado. Isso também é verdade para 
muitos adolescentes, muitos dos quais também 
perdem ou pulam regularmente o café da manhã e 
consomem refrigerantes e ‘fast food’. 
 Atualmente, as dietas das crianças refletem 
cada vez mais a “transição nutricional” global, em que 
as comunidades deixam para trás dietas tradicionais, 
mais saudáveis, em favor das dietas modernas. Para 
muitas famílias – especialmente famílias mais pobres – 
isso significa uma dependência crescente de alimentos 
altamente processados, que podem ser ricos em 
gorduras saturadas, açúcar e sódio, e pobres em 
nutrientes e fibras essenciais, bem como em alimentos 
‘ultraprocessados’ – com alta densidade energética e 
baixo teor de micronutrientes. Muitas vezes, faltam a 
essas dietas grãos integrais, frutas, nozes e sementes, 
vegetais e ácidos graxos ômega-3. 
 Existe uma preocupação crescente com o 
impacto dessa alimentação na saúde humana. Grande 
parte do foco está no aumento do sobrepeso e 
obesidade, mas a alimentação moderna também está 
envolvida na desnutrição. No Nepal, um estudo 
recente sugeriu que crianças menores de 2 anos têm, 
em média, um quarto da ingestão de energia 
proveniente de itens como biscoitos, macarrão 
instantâneo e sucos, o que está diminuindo a ingestão 
de vitaminas e minerais essenciais. As crianças que 
comem mais desse tipo de lanches e bebidas estavam 
mais baixas que seus pares. 
 
 
OBJETIVO 8- RECONHECER AS CONDIÇÕES 
SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS COM O 
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIS 
 
Diferentemente das estruturas biológicas, em que os 
fatores congênitos são determinantes, o psiquismo do 
ser humano se constitui no decorrer das 
relações/trocas realizadas entre a criança e os outros, 
desde os primórdios de sua vida. Em decorrência dessa 
afirmação, ganha relevo a participação daqueles que 
dela cuidam e fazem parte do mundo da criança, 
especialmente os pais. 
Antes mesmo de nascer, o psiquismo de um bebê já 
está em constituição. Seus pais desejam, imaginam, 
pensam e falam sobre ele, antecipando-lhe um lugar 
determinado no romance familiar. Ao nascer, é 
acolhido nesse lugar, tecido com as palavras e com as 
imagens criadas por seus pais. A essa aposta dos pais a 
respeito desse psiquismo pressuposto, o bebê poderá 
responder de modo inesperado, não coincidente com 
a imagem prévia, mas que não deixará de alimentar o 
desejo de seus pais em relação a ele. Tudo isso colocará 
em jogo um circuito de trocas, cujo resultado será um 
ser humano singular, único, dotado de um “eu” capaz 
de dirigir-se aos “outros”. Esse “eu” terá a função 
fundamental de articular todas as funções envolvidas 
no processo de desenvolvimento. 
Assim sendo, devemos sempre considerar que uma 
família é composta de crianças individuais cujas 
diferenças não são apenas genéticas, mas também 
determinadas pela maneira como cada uma delas se 
relaciona com seus pais e com aqueles que a cuidam e 
como é inserida no contexto das fantasias e crenças de 
sua família e dos acontecimentos inesperados. Esse 
contexto nunca é duas vezes o mesmo, e orienta o 
desenvolvimento emocional único de cada criança 
 
➢ Problemas psíquicos na ausência de lesões 
orgânicas 
Quando não existem alterações orgânicas estruturais, 
podem também desenvolver-se transtornos psíquicos, 
efeito das perturbações do diálogo mãe-bebê. Na 
primeira infância, esses transtornos acabarão por 
revelar-se em perturbações funcionais, já que o bebê 
ainda não pode falar e queixar-se de seus incômodos, 
aflições, ou seja, das alterações significativas em sua 
iniciante vida de relações com seus semelhantes. Em 
primeiro lugar, os problemas se manifestarão em 
perturbações ligadas ao sono e à alimentação, 
podendo vir a atingir o desenvolvimento motor, 
diminuir as vocalizações, perturbar o olhar do bebê 
dirigido à sua mãe. Muitas alergias, febres, 
aparecimento de cólicas e vômitos podem ter esse 
caráter psíquico, e é preciso aventar tanto a hipótese 
orgânica como a psíquica. 
Nas crianças pequenas, é bom atentar para as 
diminuições das vocalizações e/ou alterações de 
investimento que a mãe realiza em relação às mesmas. 
Pode ocorrer, por exemplo, que a mãe diminua o 
mamanhês e os jogos e brincadeiras com o bebê o qual, 
por sua vez, pode apresentar dificuldade de 
sustentação da cabeça na ausência de qualquer 
problema de ordem neurológica. Se essas diminuições 
vierem acompanhadas da perda do olhar do bebê 
dirigido à mãe, faz-se necessária uma melhor 
investigação. Uma intervenção do profissional poderá 
localizar mais precisamente essas ocorrências e 
restabelecer o diálogo mãe-bebê. 
 
➢ Impacto socioeconômico 
Atualmente, se sabe que as privações sofridas ainda na 
infância têm um papel determinante no 
desenvolvimento infantil, repercutindo de forma direta 
no adulto que a criança virá a se tornar. Dentre os 
diversos fatores que privam as crianças de atingirem 
seu desenvolvimento de forma plena, a pobreza se 
destaca, pois, essa condição pode aumentar a 
probabilidade da existência de múltiplos fatores de 
risco (baixa escolaridade, desemprego, baixa renda, 
maior nível de conflitos, ambientes menos 
estimulantes, etc), que interagem entre si, 
potencializando os efeitos negativos sobre as crianças 
e suas famílias. 
A condição de pobreza das famílias limita o acesso das 
crianças à estimulação e ao aprendizado adequado, 
devido principalmente à falta de recursos materiais, 
podendo também prejudicar o bem-estar psicológico 
dos pais. Além disso, pode interferir no ambiente 
interpessoal da casa, que tende a ter um maior número 
de pessoas por cômodo, a ser mais barulhenta, ter 
menos espaço livre e não apresentar condições de 
saneamento adequadas, os quais acabam por 
comprometer a qualidade da estimulação, e por 
consequência,o desempenho dessas crianças ao longo 
da vida 
Em estudo conduzido em três cidades americanas e 
com amostra de 2.437 indivíduos de dois a vinte um 
anos, verificaram que a pobreza do ambiente 
domiciliar foi o fator mais forte e consistentemente 
associado ao desenvolvimento das crianças e 
adolescentes, incluindo pior funcionamento emocional 
e comportamental e menores habilidades cognitivas. 
Os autores sugerem ainda que, características do 
ambiente domiciliar parecem influenciar mais o 
desenvolvimento emocional e comportamental da 
criança, enquanto nos adolescentes observou-se maior 
impacto sobre as habilidades cognitivas, possivelmente 
explicadas pela interação entre o ambiente domiciliar 
e o contexto de vizinhança e qualidade da escola, 
exposições essas mais frequentes na adolescência. 
 
➢ Teoria do desenvolvimento proposta por 
Bronfenbrenner 
A ideia de que o desenvolvimento é compreendido a 
partir do seu contexto social, no qual o ambiente é um 
conjunto de estruturas que se encaixam uma dentro da 
outra, e cada qual oferece um nível de influência e 
interação com a criança. 
O primeiro nível consiste do microssistema, que é 
formado pelas atividades e relações interpessoais da 
criança. Entre essas relações, estão os pais, a família, 
os amigos e locais de lazer. 
O segundo nível é o mesossistema, que é definido 
pelas inter-relações da criança com os vários 
ambientes (escola, creche, casa) que ela participa de 
forma ativa. 
Existe ainda o exossistema, que é um ambiente que 
não está diretamente ligado à criança (amigos da 
família, vizinhos, local de trabalho dos pais, mídia), mas 
que pode afetá-la a partir de uma série de eventos que 
possam ocorrer nesses ambientes. 
E por último, tem-se o macrossistema, o qual é 
representado pela estrutura política social e cultural de 
uma determinada sociedade. 
Nesse sentido, cada criança, em culturas diferentes, 
apresenta possibilidades de ter desfechos distintos a 
partir das diferentes interações que realizam com o 
meio, pois a existência e interconexões com outros 
ambientes complementares é que torna possível a 
contextualização dos fenômenos do desenvolvimento 
nos vários níveis do mundo social. 
Sendo assim, o impacto desses fatores sobre o 
desempenho infantil pode manifestar-se com 
intensidade variada, em diferentes etapas do 
desenvolvimento e em diferentes domínios; além de 
atuarem de forma diferente nos primeiros anos de vida 
da criança. 
 
➢ Impacto da família 
O desenvolvimento infantil é favorecido pela genética, 
porém sua potencialidade só se desenvolve através das 
experiências vividas pela criança, que por sua vez, são 
influenciadas pelos ambientes físico e emocional. Dos 
ambientes mais proximais da criança, o familiar é talvez 
o contexto que apresente maior impacto sobre sua 
vida, sobretudo nos primeiros anos de vida, sendo 
responsável por prover cuidado adequado e 
estimulação necessária ao crescimento e 
desenvolvimento satisfatório da criança. Além disso, a 
família é responsável também pelo processo de 
socialização da criança, na qual ela adquire 
comportamentos, habilidades e valores apropriados e 
desejáveis à cultura em que está inserida. Porém, ao 
mesmo tempo em que protege esse ambiente pode 
expor a criança há uma série de riscos. 
Segundo o Ministério da Saúde (2002) os principais 
fatores de risco do desenvolvimento infantil referentes 
à família foram: famílias baseadas em uma distribuição 
desigual de autoridade e poder; nas quais não há uma 
diferenciação de papéis; famílias com nível de tensão 
permanente, manifestado por dificuldades de diálogo 
e descontrole da agressividade; famílias nas quais não 
há abertura para contatos externos; famílias nas quais 
há ausência ou pouca manifestação positiva de afeto 
entre pai/mãe/filho; e famílias que se encontram em 
situação de crise e perdas (separação do casal, 
desemprego, morte, etc). 
Entre os fatores protetores presentes no ambiente 
familiar, destacam a qualidade da interação dos pais 
com a criança; presença do vínculo afetivo, apoio e 
monitoramento parental; experiências diferenciadas e 
apropriadas com o ambiente físico e social; e o modelo 
pelo qual a família garante saúde e segurança das 
crianças. Além disso, as crianças necessitam do 
estabelecimento de limites e da vivência de 
experiências adequadas ao seu desenvolvimento, 
caracterizadas pelo incentivo de brincadeiras de 
acordo com a idade e à promoção de períodos de 
recreação 
 
➢ Qualidade da estimulação ambiental e 
desenvolvimento infantil 
Os primeiros anos de vida são primordiais para o bom 
desenvolvimento da criança, e para que isso ocorra de 
forma satisfatória, o ambiente no qual ela está inserida 
precisa ser estimulador, prazeroso e lúdico, com 
oportunidades para que ela desenvolva seus sentidos e 
habilidades. Quando estimulada, a criança se torna 
mais ativa, dinâmica e emocionalmente equilibrada. 
Dentre os diversos espaços que a criança vive 
(ambiente domiciliar, creche, escola), o ambiente da 
casa proporciona às crianças uma estimulação precoce 
e regular, essencial na modelação do seu 
desenvolvimento. Esta estimulação deve oferecer à 
criança desafios para a ação, numa interação dinâmica 
com o meio, facilitado pela disponibilidade de 
materiais estimuladores como livros, jogos e 
brinquedos, considerados indicadores para a qualidade 
do ambiente. 
 
OBJETIVO 9- RECONHECER A IMPORTÂNCIA DA 
PUERICULTURA PARA O ACOMPANHAMENTO DO 
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL PELA 
ATENÇÃO PRIMARIA À SAÚDE. 
 
 A consulta médica pediátrica é a etapa do 
processo de atenção integral à saúde da criança que 
envolve procedimentos técnicos, particularmente 
diagnósticos e terapêuticos, associados a um conjunto 
de ações comportamentais, cognitivas e humanas, 
bem como a atitudes e interações que compõem a 
relação médico-paciente-família. Ela é composta por 
diversas ações, em especial: 
 • o acompanhamento do processo de 
crescimento e desenvolvimento; 
 • a identificação de situações de risco às quais 
as crianças estão submetidas; 
 • a identificação, o diagnóstico e o 
encaminhamento terapêutico de processos mórbidos; 
 • o estabelecimento de condutas gerais de 
acompanhamento de saúde da criança, incluindo a 
orientação antecipatória. 
 Entre as consultas pediátricas, as consultas de 
puericultura, também chamadas de “consultas de 
revisão”, ocupam uma parcela preponderante da 
atividade do pediatra e envolvem ações de cuidados de 
saúde preventivos da criança, desde o pré-natal até o 
final da adolescência. 
 O termo puericultura deriva da palavra latina 
puer (criança) e foi empregado pela primeira vez no 
século XVIII, para designar “a arte de criar, higiênica e 
fisiologicamente, os meninos”. Na atualidade, a 
puericultura é uma ciência que agrega noções de 
fisiologia, de higiene e de sociologia em um complexo 
abrangente de ações promotoras de saúde exercidas 
com foco na criança (mas contemplando sua família e 
sua comunidade), da gestação até o fim da 
adolescência, de modo a propiciar-lhe o melhor nível 
de desenvolvimento físico, emocional, intelectual, 
moral e social. Tais ações incluem práticas definidas, 
como apreciação de fatores individuais e ambientais de 
proteção e de ameaça à saúde, monitoração do 
desenvolvimento, imunizações, testes de 
rastreamento, orientação antecipatória (sobre 
inúmeros condicionantes da saúde, como nutrição, 
hábitos de vida, disciplina e segurança) e aspectos 
selecionados do exame físico. 
 A puericultura dos dias de hoje é humanizada, 
exigindo dos profissionais de saúde um exercício 
permanente de consideração genuína pelos pacientes, 
seus sentimentos e angústias, muito além da aplicação 
de procedimentos técnicos. 
 Em cada período da vida da criança, as 
características do processo de seu desenvolvimento, os 
riscos a que

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