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QUESTÕES DE PROVA
1) A relação entre os conceitos de excedente, poupança potencial e investimento.
-
O excedente é determinado pelas condições técnicas de produção e um salário usual de “subsistência”. A competição opera distribuindo o excedente entre os vários tipos de rendas da propriedade por meio do sistema de preços. A abordagem clássica é baseada nessa noção do excedente.
A noção de substituição de fator é que dá a base para a ideia de que existe uma relação geral inversa entre o preço e a quantidade utilizada de um fator. Essa relação inversa é condição necessária para ser possível dizer que os preços dos fatores refletem “a escassez relativa” das dotações dos fatores de produção. A abordagem neoclássica é baseada nessa suposta operação de substituição.
· Wallace
Os conceitos de excedente, poupança potencial e investimento entram na discussão sobre acumulação de capital, determinante do crescimento de longo prazo. Resgatamos aqui a visão do Serrano e outros autores Sraffianos que combinam a teoria clássica do excedente com o princípio da demanda efetiva.
O excedente, segundo os clássicos, é o montante físico de produto final retirado os adiantamentos de salários pagos na forma de bens-salários. Esses bens salários têm seu valor determinado pelos custos de produção e seus respectivos setores e, por isso, um fator fundamental que determina seu valor é a produtividade desses setores. Quanto maior a produtividade desses setores, menor será o valor dos bens salários (ou valor do consumo dos trabalhadores). 
Dado que a poupança potencial é o produto potencial menos o consumo dos trabalhadores, uma redução do consumo dos trabalhadores aumentará a poupança potencial que, no curto prazo, será convertida em investimento, aumentando a acumulação, capacidade produtiva e crescimento. 
Com o retorno da noção de excedente, não se está defendendo que toda a poupança será convertida em investimento, mas que ele nos ajuda a entender a importância da produtividade dos setores produtores de bens-salários para a produção do excedente potencial. Serrano e demais autores acreditam que tanto no curto prazo quanto no longo prazo, opera-se o princípio da demanda efetiva. Isso significa que as decisões de investir geram poupança agregada por variações da renda e do produto. A acumulação do capital depende, desse modo, não das decisões de poupar, mas do crescimento do investimento, sendo determinado pelas expectativas de demanda. A taxa de investimento determina a taxa de crescimento via efeito supermultiplicador.
-
Os dados sobre o crescimento econômico no longo prazo parecem mostrar que, de fato, é a taxa do investimento que se ajusta à taxa de crescimento, depois de um intervalo de tempo considerável.
Isso pode ser explicado, em um regime de crescimento liderado pela demanda, pelo fato de que, quando a taxa de crescimento da demanda final aumenta, o investimento e a capacidade produtiva começam a crescer juntos. 
Numa economia mercantil os agentes só podem decidir o que gastar, mas não o quanto receber. Ou seja, os agentes podem decidir autonomamente seus gastos, mas não sua renda. Daí se configura o PDE: são os gastos que determinam a renda, e não o contrário. Sendo a poupança uma parcela da renda e o investimento um componente de gasto, infere-se que, assim como é a demanda quem determina a oferta, é o investimento quem determina a poupança.
Inicialmente não ocorre um aumento da taxa de investimento, uma vez que um aumento no grau de utilização efetivo da capacidade pode acomodar, e de fato acomoda, a expansão mais rápida tanto da demanda final quanto do investimento. Apenas gradualmente, durante um período mais longo de tempo, por um “acelerador flexível”, a taxa do investimento começa a aumentar para ajustar mais adequadamente os níveis de capacidade produtiva ao nível e à taxa de crescimento da demanda final. Em todo caso, o ritmo de crescimento liderado pela demanda é fortemente afetado por políticas macroeconômicas de cada Estado. Essas políticas são no longo prazo muito influenciadas, com a possível exceção do país que emite a moeda corrente internacional, pela necessidade de satisfazer a restrição externa ou de balança de pagamento.
2) As duas visões dos desenvolvimentistas sobre as consequências do consumo de luxo das elites sobre a acumulação de capital e a distribuição de renda. 
A teoria clássica do excedente, ao considerar que os trabalhadores não poupam, considera como gasto improdutivo (GI), todas as despesas que ajudam a vender o produto da economia, mas não criam capacidade produtiva, excluindo-se o consumo induzido (CI) dos trabalhadores. Exemplos: gastos públicos, exportações, consumo financiado por crédito ou riqueza, gastos com pesquisa e desenvolvimento, gastos em construção civil para uso residencial, etc. Essa classificação é denominada por Garegnani como “demanda final” menos o consumo induzido da folha salarial.
A teoria clássica do excedente tem na acumulação de capital a principal restrição interna ao crescimento de longo prazo (LP), e o GI desempenha um papel importante nessa teoria. Muitas correntes teóricas veem esse gasto como um desperdício, desempenhando um papel negativo para a taxa de acumulação de capital, a distribuição da renda e a inflação. Mas esses pensadores são contaminados por um viés normativo de que essas economias funcionam como planejadas racionalmente (demanda efetiva caminha sempre à frente da capacidade), quando na realidade elas são economias capitalistas. Mesmo aquelas em desenvolvimento.
-
A teoria clássica do excedente e a teoria da distribuição de Cambridge (ou teoria Keynesiana da distribuição) são duas visões desenvolvimentistas que tratam de forma distinta as consequências e o impacto do consumo de luxo das elites (gasto improdutivo) sobre a acumulação de capital e a distribuição de renda.
Na primeira visão, postula-se que a poupança determina diretamente o investimento. Dado o lucro potencial, o investimento será aquilo que sobrar do gasto improdutivo. O investimento nesse modelo é a variável de ajuste e nessa visão, o consumo de luxo das elites torna-se um desperdício de recursos que poderiam ser usados para aumentar a capacidade produtiva. Prebisch, assim como vários economistas da CEPAL, criticava esse padrão de consumo em certos setores da coletividade, cujo “desperdício” freava a acumulação de capital.
Na segunda visão, supõe-se que a poupança requerida é gerada pela inflação e pelas mudanças por ela induzida na distribuição funcional da renda. A renda real não variaria com o aumento do investimento, apenas a sua distribuição se altera em favor da classe que poupa maior fração de seus rendimentos. O produto a longo prazo se ajusta ao produto potencial, e, um aumento no investimento gera um aumento na demanda agregada, que, por sua vez, força um aumento nos preços para reequilibrar-se ao nível da oferta agregada. Esse aumento nos preços reduz o salário real e, por conseguinte, o consumo dos trabalhadores, compatibilizando o maior investimento com o produto potencial dado.
Então, na real, um aumento do investimento gera um aumento na demanda agregada, que, por sua vez, força um aumento nos preços para reequilibrar-se ao nível da oferta agregada. OK. A renda real, dessa forma, não variaria com o aumento do investimento, apenas a distribuição se alterará em favor da classe que poupa maior fração de seus rendimentos. O produto de longo prazo, portanto, se ajustará ao produto potencial. 
Esse processo transfere renda dos trabalhadores para a classe proprietária, permitindo um aumento da poupança desejada por meio da poupança forçada dos trabalhadores.
Nesse modelo, a variável de ajuste é a parcela de lucros (ou salários) do produto, que será determinada pela fração do produto potencial que os capitalistas pretendem alocar em investimento ou gasto improdutivo. O gasto de luxo das elites não impactaria negativamente a acumulação de capital, porém, dadas as decisões de investir, quanto maior o gasto improdutivo, maior terá queser a parcela dos lucros no produto (ou maior terá que ser a poupança forçada dos trabalhadores) para acomodar tanto o investimento quanto os gastos improdutivos.
3) As duas visões sobre os determinantes do investimento nas abordagens de crescimento liderado pela demanda.
· Victor 
PRIMEIRO.
Existem duas abordagens de crescimento liderado pela demanda.
Esses modelos de crescimento discutem longo prazo e se diferem no que tanto a relação entre investimento produtivo com a expansão da capacidade da economia.
Primeiro, bora fundamentar as coisas. O investimento privado pode ser visto como:
1) Investimento autônomo: variável independente no processo de acumulação, consequência das decisões (dadas) de investir ou;
2) Investimento induzido: variável dependente da expectativa de demanda; evolução da demanda efetiva que regula ritmo de expansão via evolução esperada da demanda e através de acelerador (o acelerador simples diz que um aumento no produto gerará aumento do estoque de capital desejado e logo aumento do investimento na ampliação da capacidade instalada, ou seja, produto puxa investimento) flexível (o acelerador flexível vai dizer que além do que diz o simples, há uma defasagem temporal entre as decisões, depois de ver o que deu no produto, investe); em outras palavras, expectativa de demanda aumenta investimento que aumenta produto e renda que aumenta demanda e que aumenta o investimento e assim sucessivamente...
SEGUNDO. Agora falando sobre as abordagens de crescimento liderado pela demanda. 
[NÃO SEI SE É NECESSÁRIO!]
O modelo kaleckiano engloba demanda agregada e produto seguindo a tendência 1, que gera aumentos proporcionais no consumo induzido, via efeito multiplicador.
Ainda de acordo com esse modelo, o estoque de capital e a capacidade tendem no longo prazo a crescer à mesma taxa do investimento autônomo, assim como a demanda agregada, e o grau efetivo de utilização tende a ficar estável a longo prazo.
· /pausa para introduzir parte do texto porque o Victor não sabe explicar/
Teoria da Demanda Efetiva (Kaleckiana): Essa teoria defende que, no LP, o I gera poupança através de variações no produto. Economias capitalistas respondem a estímulos de demanda através de variações no grau de utilização da capacidade ociosa quanto na criação de nova capacidade, resultante do I. Assim, o sistema não usa a parcela dos salários como variável de ajuste. A variável de ajuste é o produto, e, dada a parcela dos lucros exógena, o Investimento e o Gasto Improdutivo, teremos:
 
Produto = (Investimento + Gasto Improdutivo) / Parcela dos Lucros
 
Investimento Autônomo vs Investimento Induzido: Na análise da acumulação seguindo a versão da demanda efetiva, na qual o I gera poupança através da variação do produto, o investimento certamente é autônomo ou uma variável independente da poupança, renda e produto, em relação ao mecanismo do multiplicador. 
/Explicação sobre investimento ser autônomo ou induzido/ 
No entanto, ele pode ser autônomo ou induzido no que diz respeito à relação do acelerador, isto é, da conexão necessária entre I e capacidade produtiva. Se o I é autônomo, dada a relação técnica entre I e criação de capacidade, a expansão da capacidade produtiva é uma consequência das decisões de investir. Porém, se o I é induzido pela evolução esperada da demanda, através de um mecanismo tipo acelerador ou ajuste de estoque de capital, é a evolução da demanda efetiva que determina a expansão da capacidade produtiva, e o I é consequência deste processo. Nas teorias onde o I é autônomo, no LP o GI é induzido e usualmente determinado por uma parcela dada do excedente que é consumida pela classe proprietária. Assim teremos:
 
Gasto Improdutivo = Fração Consumida dos Lucros x Parcela dos Lucros x Produto (2)
 
Substituindo (2) em (1) teremos que:
 
Produto = [Investimento + (Fração Consumida dos Lucros x Parcela dos Lucros x Produto)] / Parcela dos Lucros
 
(Produto x Parcela dos Lucros) – (Fração Consumida dos Lucros x Parcela dos Lucros x Produto) = Inv. Autônomo
 
[Produto x Parcela dos Lucros (1 - Fração Consumida dos Lucros)] = Investimento Autônomo
 
Produto = Investimento Autônomo / (Fração Não-Consumida dos Lucros x Parcela dos Lucros)
 
Nesta visão o elemento ativo no crescimento da demanda efetiva é o I autônomo. O GI segue passivamente a evolução do produto, da mesma forma que o consumo dos trabalhadores. Porém, os capitalistas consomem uma fração menor de sua renda do que os trabalhadores. Nota-se que o efeito dinamizador do GI é um pouco mais limitado, pois só pode aumentar com um aumento proporcional dos lucros, que, quando ocorre, amplia o efeito multiplicador do I autônomo.
· /fim da pausa, vamo voltar pro Victor pra ver se melhora/
Os modelos de supermultiplicador (Sraffiano) englobam a tendência 2) (investimento induzido), que a longo prazo ocorre por processo de ajustamento da capacidade à demanda (via acelerador flexível) e crescimento da demanda depende da expansão dos gastos autônomos improdutivos, que injetam poder de compra, mas não criam capacidade para setor privado (diferentemente de consumo autônomo, investimento residencial e gastos públicos). 
Nesses termos, a demanda agregada cresce à taxa de crescimento dos gastos improdutivos, e dadas as propensões marginais a consumir e investir, geram consumo e investimento induzido adicional. Dada a taxa de investimento produtivo, o estoque de capital e a capacidade produtiva tendem a crescer à mesma taxa que o produto. Segue que o grau de utilização tende a se estabilizar: quando acima do normal, taxa de investimento induzido tende a se elevar e gerar crescimento mais rápido do estoque de capital e da capacidade do que da demanda agregada - vale a simetria para o caso de grau abaixo do normal. Ou seja, se tiver grau abaixo do normal do grau de utilização, taxa de investimento induzido tende a cair e gera decrescimento mais rápido do estoque de capital e da capacidade do que da demanda agregada.
Mecanismo de acelerador flexível faz no longo prazo com que o grau médio de utilização não tenda a se afastar muito do seu nível planejado (ou normal).
Através do supermultiplicador, a taxa de crescimento sempre é mais alta do que os gastos improdutivos, o que leva a aumento permanente da taxa de investimento produtivo ao nível requerido para grau de utilização tender ao planejado (ou normal) - implica em aumento maior do investimento do que do produto e renda, o que faz com que nível e taxa de poupança aumentem sem impactar a propensão marginal a consumir e a distribuição da renda. Aqui, não se evidenciam limitações teóricas dos modelos kaleckianos, pois leva-se em conta que a concorrência sob o sistema capitalista impõe que produtores tentem ajustar a capacidade produtiva à demanda.
Ademais, ainda explica a evidência empírica sobre relação positiva entre taxa de investimento e taxa de crescimento do produto - resultante de 2) e de endogeneidade parcial do progresso técnico e do processo de mudança estrutural combinadas. Por estes motivos, o supermultiplicador parece o modelo mais adequado para explicar o processo de crescimento a longo prazo liderado pela demanda.
· Marden / Texto sobre gasto improdutivo
Salário + Lucros = Consumo Induzido dos trabalhadores + Investimento + Gasto Improdutivo
 
Hipótese simplificadora: Os trabalhadores não poupam, isto é, consomem todo o seu salário. Assim, Salários = Consumo Induzido. Logo: Lucros = Investimento + Gasto Improdutivo. Mas, os lucros realizados são o produto multiplicado pela parcela dos lucros. Assim: 	
Produto x Parcela dos Lucros = Investimento + Gasto Improdutivo (1)
 
As teorias da acumulação e distribuição podem ser analisadas como visões alternativas de como ler a expressão (1) em termos de causalidade. São três as teorias a serem estudadas: Teoria do Excedente (Ricardiana), Substituição de Fatores (Keynesiana ou Cambridge) e Demanda Efetiva (Kaleckiana).
1) Teoria Clássica do Excedente ou Ricardiana: A parcela dos lucros no produto é dada exogenamente pela tecnologiae pelo salário real. O nível do produto efetivo é dado pela “Lei de Say”, que postula, mas não explica porque nem como, “a oferta gera sua própria demanda”, isto é, todo o excedente potencial é automaticamente realizado e não existem problemas de demanda efetiva. Assim, no agregado, segundo esse postulado, a “poupança gera o investimento”, e, dado os lucros potenciais, o investimento (I) será a variável de ajuste (aquilo que sobrar do GI). A relação (1) será:
Investimento = Produto x Parcela dos Lucros – Gasto Improdutivo
 
Observe que quanto maior o gasto improdutivo, menos será o nível de I e a taxa de crescimento produtiva da economia no LP. Sobre esse ponto de vista “Ricardiano”, é evidente que o GI é um entrave ao crescimento da economia, pois é usado de forma estéril quando poderia ser aplicado para expandir a capacidade produtiva. Essa critica ao GI e a ideia da falta de poupança como principal restrição ao crescimento, sempre foi uma visão dominante na CEPAL (mas não unânime), que via o esforço de acelerar a acumulação sempre barrado pelo consumo exagerado de alguns setores da economia, tornando-se um entrave ao crescimento. Para Celso Furtado, a aceleração do crescimento do consumo dos grupos de altas rendas terá como contrapartida o agravamento do subdesenvolvimento, visto que é muito díspar quando comparado ao consumo de outros grupos significativos da população de um país. Na visão crítica desse texto, o apego da CEPAL à ideia de insuficiência de poupança e a crítica ao GI, é apontado como resultado de um viés normativo que não foca a acumulação do capitalismo LA em si, mas sim o planejamento racional deste, com fins desenvolvimentistas.
2) 	Teoria Keynesiana ou de Cambridge: Essa teoria supõe que a LP a poupança requerida é gerada pela inflação e pelas mudanças por ela induzida na distribuição funcional da renda. A renda real não varia com o aumento do I, apenas a sua distribuição se altera em favor da classe que poupa maior fração de seus rendimentos. O produto a LP também se ajusta ao produto potencial, isto é, um aumento do I geraria um desequilíbrio entre oferta e demanda agregada, criando um excesso de demanda, que faria os preços aumentar em relação ao salário nominal. Esse aumento nos preços provoca uma redução no salário real, que ao diminuir o consumo dos trabalhadores, compatibiliza o maior I com o produto potencial dado. Esse processo transfere renda de uma classe que poupa menos para a classe que poupa mais, permitindo assim o aumento da poupança desejada por meio da poupança forçada dos trabalhadores. De maneira simétrica, se o I se reduzir, cria-se um excesso de oferta agregada à LP, os preços caem em relação aos salários nominais. Isto gera um aumento no salário real, que permite o aumento no consumo dos trabalhadores necessário para preencher o espaço aberto pela que do I. A variável de ajuste é a parcela dos lucros no produto, que será determinada pela fração do produto potencial que os capitalistas pretendem alocar em investimento ou gasto improdutivo. Assim:
 
Parcela dos Lucros = (Investimento + Gasto Improdutivo) / Produto
 
Observe que nesta teoria de Cambridge, o GI não afeta negativamente a acumulação de capital, pois o I é determinado independentemente (dadas decisões de investir, quanto maior for o gasto improdutivo, maior terá que ser a parcela dos lucros no produto para acomodar tanto o I quanto o GI). Isso pode levar a maiores necessidades de “poupança forçada dos trabalhadores” (menos consumo de bens salários), que só são obtidas por meio de mais inflação, para transferir renda destes para os capitalistas. Kalecki critica essa teoria em economias maduras, pois nessas, não ocorreria demanda efetiva não atendida no LP, apenas no CP. Porém entendia que essa teoria atendia perfeitamente economias em desenvolvimento, que tendiam a sofrer restrições de oferta de capacidade produtiva no LP, em situações de excesso de demanda efetiva. Ele entendia que a inflação é que gerava, via mudança na distribuição, a poupança correspondente ao nível de I. Assim, reprimia o GI nessas economias, que se não fosse reduzido, tornava necessária mais inflação e mais concentração de renda para um dado nível de I, e isso se processava, às custas do consumo dos trabalhadores. Kaldor também entendia dessa forma, e via o GI excessivo na America Latina, não como um limitador da acumulação, mas como causador da tendência de concentração de renda e inflação. Também Anibal Pinto, Lessa e Tavares, passaram a defender essa visão “CEPALINA modificada”, entendendo que o I não era limitado pela poupança, uma vez que essa sempre podia ser obtida pela poupança forçada dos trabalhadores. Vários autores estruturalistas e neo-estruturalistas também criticavam o caráter inflacionário e concentrador de renda do consumo capitalista excessivo das elites na AL. Nesse texto, novamente, aponta-se um viés normativo em aplicar teorias do crescimento em economias planejadas, para justificar o GI como gerador de má distribuição de renda e inflação. Nessas economia, a demanda efetiva está sempre um passo à frente da capacidade produtiva, mas nas economias capitalistas, a acumulação não segue um plano tão racional assim.
4) A visão de Prebisch sobre restrição externa e necessidade de industrialização.
Segundo Prebisch, a restrição externa e a necessidade de industrialização estão intimamente ligados com o progresso técnico, visto que diminui a participação dos produtos primários na renda real final das economias.
Essa diminuição acontece porque o progresso técnico:
1. Torna complexa e refinada a produção de matérias-primas exigidas pelo processo produtivo;
2. Permite a utilização melhor das matérias primas, produtos correlatos e subprodutos;
3. Torna possível substituir produtos primários por sintéticos;
4. Cria novas formas de consumo (novos produtos industrializados passam a ser demandados).
Além disso, a elevação da produtividade e da renda per capita geram diversificação da demanda, inclusive com maior industrialização do setor de alimentos e aumento de serviços pessoais.
Esses fatos resultam em consequências diferentes nos países do centro e periferia por conta de suas estruturas/especializações produtivas.
Por um lado, fazem com que as importações dos produtos primários por países do centro cresçam com menor intensidade do que a renda (elasticidade renda da demanda de importações primários dos centros tende a ser menor que um). Por outro lado, fazem com que as importações dos bens de capital por países da periferia cresçam no mesmo montante ou até maior do que a renda (a elasticidade renda da demanda das importações de produtos industrializados por países da periferia é igual ou maior do que um). 
Essa diferença de elasticidades cria um quadro de tendência ao desequilíbrio externo - ou restrição de divisas -, nas economias periféricas: importações tendem a crescer mais do que a capacidade de importar, dado que as exportações crescem em ritmo menor.
Muito bom. Bem explicadinho.
Dessa forma, foi necessário que os países de periferia se industrializassem para que o crescimento pudesse se realizar num ritmo superior ao do crescimento das exportações primárias. A industrialização absorve uma parte da população disponível e contribui para que outra parte seja absorvida por atividades correlatas. Além disso, a industrialização por si traz progresso técnico, o que aumenta a produtividade média, eleva a renda per capita e traz uma demanda crescente de novos serviços. 
5) O duplo papel das exportações em economias onde existem fluxos de capital externo.
O ciclo endógeno de industrialização brasileira foi resultado de dois fatores centrais: 
1. O setor de bens de capitais no país atingiu com os investimentos decorrentes do Plano de Metas um estágio de desenvolvimento suficiente para desvincular o ciclo industrial da evolução das exportações e;
2. O investimento direto estrangeiro se dirigiu ao brasil pelo dinamismo do mercado interno.
As exportações têm o papel de estimular o investimento atravésda expansão da demanda efetiva e também têm o papel de suavizar o balanço de pagamentos para possibilitar expansão das importações na necessidade de industrialização.
A produção interna de bens de capital e o amplo sucesso na substituição de importações de bens de consumo duráveis foi marcado por um momento de estagnação de exportações. Este conseguiu ser realizado no Brasil graças ao fluxo de capital estrangeiro sob a forma tanto de investimentos diretos quanto de empréstimos.
A longo prazo a variável estratégica central para o crescimento para dentro é a análise da sustentabilidade (solvência) da trajetória de crescimento com déficit externo. Isto é, analisar a evolução da relação entre passivo externo líquido e as exportações, dada pela diferença entre a taxa de crescimento do valor das exportações e aquela taxa de juros. Se a taxa de crescimento é sistematicamente abaixo de zero, é necessária a geração de superávit comercial para estabilizar o crescimento do passivo externo. Para isso, o crescimento das exportações deve ser elevado para garantir a estabilidade.
A fragilidade financeira externa pode ser medida pelo indicador de probabilidade de crise cambial pela razão entre passivos externos de curto prazo e reservas cambiais. Quando a razão é alta, qualquer interrupção nos fluxos de capitais detona um processo especulativo.
Temos que as exportações são importantes para a expansão da economia, mas que o grau de importância nesse aspecto varia conforme condições estruturais de cada país. Por outro lado, o papel das exportações no financiamento e relaxamento da restrição externa ao crescimento é absolutamente central e estratégico para todos os países, independente das condições estruturais diversas citadas anteriormente.
-
Em economias onde existem fluxos de capital externo, é importante distinguir o papel da taxa de crescimento das exportações como componente da tendência de LP da demanda final, da sua função no financiamento externo do desenvolvimento econômico. As exportações podem ser muito importantes para a expansão do produto de uma economia (juntamente com o consumo, investimento e gastos do governo), dependendo das características estruturais de cada país. Entretanto, seu papel no financiamento e relaxamento da restrição externa ao crescimento é absolutamente central e estratégico para todos os países, com exceção daquele que emite a moeda de circulação internacional, uma vez que esse não tem restrição de balanço de pagamentos, pois pode custear seus déficits em sua própria moeda. No Brasil, as exportações não são um componente importante da demanda final, diferentemente das economias asiáticas como Coreia do Sul, Cingapura, Japão e outros.
 
Nesse contexto, é importante ainda distinguir dois problemas fundamentais encontrados em economias que estão sujeitas aos fluxos de capitais externos: 
1. A liquidez externa e a;
2. Sustentabilidade do déficit em conta corrente e dos passivos externos
O financiamento externo via IDE em vez de via dívida ou investimento de portfólio, na medida em que resulta num comprometimento de recursos de LP no país, tende a aliviar o problema da liquidez externa, que está ligado aos prazos de vencimento dos passivos externos. 
No entanto, quando o IDE não está voltado para setores exportadores ou de substituição de importações, em nada ajuda a garantir a sustentabilidade a LP da posição externa do país. Assim, essa sustentabilidade depende fundamentalmente da taxa de crescimento das exportações (diretamente proporcional) e da variação do coeficiente de importações em relação às taxas de juros pagas nos passivos externos.
6) As interpretações alternativas do funcionamento do padrão ouro-libra e sobre as causas do seu fim.
O padrão ouro-libra vai de 1819 até 1914. Este período foi marcado pelo protecionismo, câmbio fixo inglês, crescentes déficits de mercadoria da Grã-Bretanha compensados pelos serviços não-fatores, grande saldo de mercadorias positivo com as colônias e pela renda líquida recebida dos seus investimentos no exterior. Por mudanças na situação internacional, o ouro em 1920/1930 flui para os Estados Unidos. Nesse período, os EUA obtêm saldos positivos na conta corrente e conta de capital, atraindo todo ouro do mundo.
Triffin considera a causa do fracasso das tentativas de retornar o padrão ouro após 1ª G.M. ser a inadequação do crescimento e da distribuição internacional das reservas de ouro.
 
Porém, esta visão sofre de deficiências básicas. A primeira seria que todos os países são submetidos igualmente a disciplina imposta pelo padrão ouro e ajustam expansão doméstica a restrição de Balanço de Pagamentos. Segundo seria o ritmo cíclico global de expansão depender da criação coletiva de reservas internacionais, dado assimetricamente pelo movimento da economia inglesa. 
Triffin não percebe o movimento da economia inglesa como crucial pelo efeito líquido dos fluxos de capital (Valp - Vacp) ser pequeno, embora os fluxos brutos de Vacp serem cada vez maiores. Triffin acreditava no multiplicador monetário do ouro igual a um, velocidade de circulação seria constante e estável. O fim do padrão ouro-libra está ligado à 1ª G.M. e não às limitações físicas à expansão da oferta de ouro como Triffin acreditava.
· Retirado do texto SERRANO 2002
Nesse período, grosso modo, a Inglaterra mantém a paridade de sua moeda em relação ao ouro, tem déficit comercial, não tem déficits em conta corrente (durante esse período, a Inglaterra mantém superávits em conta corrente - déficits só começam a aparecer em 1914) e financia todo o seu déficit de balança de pagamentos causado pela saída de capital de longo prazo, recebendo as aplicações de curto prazo do resto do mundo.
Nesse sistema, é importante ressaltar que, por conta do protecionismo, dos ganhos de produtividade dos outros países que se industrializam e também do câmbio fixo inglês, os crescentes déficits de mercadorias da Grã-Bretanha são compensados pelos serviços não-fatores (seguros, fretes), pelo grande saldo de mercadorias positivo com as com as colônias (particularmente no que diz respeito à Índia) e pela renda líquida recebida dos seus investimentos no exterior.
No período que se inicia ao final da Primeira Guerra, vemos que o sistema já não funciona adequadamente. De um lado, o antigo país central, a Inglaterra, incorre em déficits na conta corrente (perde inclusive o saldo comercial positivo com a Índia). O retorno à conversibilidade é feito à paridade antiga, a despeito da inflação ocorrida durante a Primeira Guerra e da mudança de paridade de vários outros países. Esse retorno à velha paridade foi muito criticado por Keynes, mas, do ponto de vista dos interesses financeiros, fazia sentido para manter a ideia de que a libra de fato era “as good as gold”.
Como se sabe, esse retorno é um fracasso, dadas a perda de competitividade inglesa e as mudanças na situação internacional devido aos déficits externos acumulados no período de guerra. O ouro, nas décadas de 1920 e 1930, continua a fluir inexoravelmente para os Estados Unidos.
Na divisão ortodoxa neoclássica, o padrão ouro-libra funcionava automaticamente e levava ao equilíbrio externo de todos os países via movimentos internacionais de ouro que, ao sair dos países deficitários, causava deflação e ganhos de competitividade e, ao entrar nos países com superávit, causava inflação (porque tem mais moeda, então aumenta a demanda que aumenta o preço) e perda de competitividade externa (devido ao aumento dos preços) à la David Hume (1752).
Desse ponto de vista, o seu fim foi resultado de interferências políticas e medidas protecionistas que levavam ao desrespeito às supostas “regras do jogo” (flexibilidade de preços e salários, ausência de intervenções esterilizando o impacto do saldo da balança de pagamentos na base monetária doméstica, ausência de barreiras alfandegárias, etc.) depois da Primeira Guerra Mundial. 
Há também a análise de Eichengreen (1996) que, numa análise de um monetarismo primário, atribui o fim do padrão ouro à falta deflexibilidade para baixo dos salários nominais nos países centrais. Curiosamente, Eichengreen tenta disfarçar a pobreza de sua análise econômica e para isso utiliza a conhecida e interessante análise política do período feita por Karl Polanyi (1944) numa explicação “sociológica” para a “rigidez nominal de salários”. Na realidade, ao contrário do que pensa Eichengreen, a flexibilidade para baixo de salários e preços nominais à época foi excessiva e teve efeitos ruinosos, pois ampliaram-se, para dadas taxas nominais de juros, a taxa de juros real e a carga das dívidas, levando a ondas de falências, recessão, etc. conforme amplamente apontado por exemplo por Keynes.
No entanto, de acordo com a conhecida análise de Triffin (1972), o sistema jamais operou seguindo as “regras do jogo” supostas pelos seguidores de David Hume. Triffin mostra a importância fundamental dos fluxos de capitais que viabilizavam a manutenção de desequilíbrios comerciais por décadas (como o da Inglaterra, por exemplo) e argumenta que os vários países centrais, em vez de corrigirem déficits e superávits com deflações, inflações e grandes movimentos de ouro, tinham desequilíbrios de BP relativamente pequenos e seguiam todos conjuntamente o ritmo do ciclo internacional (tanto de taxas de juros quanto de preços e níveis de atividade) ditado pela expansão da liquidez internacional.
Em sua visão, Triffin argumenta que o regime de câmbio fixo impunha a necessidade para cada país do centro de evitar que sua economia crescesse muito mais ou muito menos rápido do que o permitido pela situação de equilíbrio de sua balança de pagamentos, evitando assim a necessidade de ajustamentos que envolvessem mudanças drásticas nos níveis de preços e salários (ou câmbio).
Triffin mostra também que, em todos os países centrais, domesticamente o uso da moeda fiduciária foi progressivamente se expandindo cada vez mais com o desenvolvimento dos bancos. Ele atribui a esse aumento do uso de moeda fiduciária à liberação de reservas de ouro que saíam progressivamente da circulação doméstica e iam reforçar as reservas dos respectivos bancos centrais.
Ainda segundo Triffin, a expansão da liquidez internacional antes da Primeira Guerra foi satisfatória (para os países do centro) porque a quantidade de ouro em poder dos bancos centrais cresceu o suficiente para satisfazer as necessidades do crescimento do comércio internacional, com a combinação de maiores descobertas de ouro e a retirada de circulação doméstica do ouro (substituído por prata ou por moeda fiduciária conforme a época ou país) e, em escala bem pequena, pela aceitação de moedas nacionais (em particular a libra) como componentes das reservas internacionais. 
A partir dessa análise, Triffin considera que o fracasso das tentativas de retornar ao padrão ouro depois da Primeira Guerra tinha um motivo estrutural, que era a inadequação do crescimento e da distribuição internacional das reservas de ouro, reservas que, com a praticamente completa saída de circulação doméstica do ouro, só poderiam crescer a partir de aumentos na produção mundial de ouro.
Essa visão, embora evidentemente superior à visão neoclássica ortodoxa, sofre, no entanto, de duas deficiências básicas e inter-relacionadas.
A primeira é a suposição de que todos os países do centro estão igualmente submetidos à disciplina imposta pelo padrão ouro e ajustam sua expansão doméstica à restrição de balança de pagamentos. Pelo argumento de Triffin, a Inglaterra parece estar praticamente na mesma posição que os demais países centrais no que diz respeito a sua (falta de ) autonomia em termos de política econômica. 
O segundo problema diz respeito à ideia de que o ritmo global de expansão dependia da criação coletiva de reservas internacionais, ou seja, do crescimento do ouro disponível coletivamente para os bancos centrais. 
Quanto ao primeiro ponto, parece-nos que as políticas econômicas e a evolução das economias centrais que entraram no padrão ouro de fato eram forçadas a seguir, até certo ponto, um ritmo cíclico comum. Esse ritmo, contudo, era dado assimetricamente pelo movimento da economia inglesa, que liderava tanto pela fixação das taxas de juros internacionais, quanto pelos impulsos de demanda efetiva de seu comércio exterior, quanto também pelo papel fundamental dos fluxos de capitais ingleses para o financiamento do comércio mundial.
O motivo para essa assimetria era o fato de que o padrão ouro era, na realidade, um padrão ouro-libra, onde a moeda internacional era, na prática, a libra esterlina. O ritmo de expansão do comércio e da liquidez internacional, portanto, não era determinado pelo crescimento das disponibilidades de ouro, e sim pela expansão da economia inglesa e dos sistema financeiro internacional baseado na libra.
Aparentemente, Triffin não percebe esse movimento por dois motivos.
Motivo 1. Primeiro porque pensa que o saldo global da BP de qualquer país é dado apenas pela variação do ouro (VO), esquecendo o papel central, tanto para a Inglaterra quanto para os demais países, dos ativos financeiros em libras (VACP), que considera como tendo dado uma contribuição menor para a formação das reservas internacionais naquele período.
Triffin provavelmente pensa nisso porque o efeito líquido dos fluxos de capital (VALP - VACP) era pequeno, embora os fluxos brutos de VACP fossem cada vez maiores. Grosso modo, Triffin escreve a equação da BP (tanto na Inglaterra quanto a dos demais países) como:
VO = X - M + RLX - VALP`- VACP
Motivo 2. Além disso, Triffin considera que a expansão do comércio internacional necessita de um volume de reservas de ouro proporcionalmente crescente. Assim, em sua análise, Triffin não apenas considera o ouro a “base monetária” do sistema e que para a economia mundial o “multiplicador monetário” do ouro é sempre igual a um (pois os bancos não criam ouro), como também considera que sua velocidade de circulação é sempre constante ou pelo menos bastante estável. Somente assim se torna logicamente possível dizer que é o crescimento exógeno das reservas internacionais que determina o crescimento do nível de atividade das economias internacionais.
Essas hipóteses implícitas são todas muito próximas ao que depois se convencionou chamar de monetarismo global em sua versão de preços não flexível e evidentemente são bastante problemáticas.
Como vimos na seção 1, acima, não há motivo algum para que tais hipóteses se confirmem. Para uma dada taxa de juros inglesa, um certo ritmo de expansão do crédito, da demanda efetiva e do comércio mundial, a razão entre ativos de curto prazo em libras e ouro, seria crescente o tempo todo. Se quisermos, podemos dizer então que a “velocidade de circulação” do ouro aumenta continuamente.
Logo, parece claro que o fim do padrão ouro-libra e o fracasso das tentativas de retorno estão ligados à Primeira Guerra Mundial e as suas consequências geopolíticas mencionadas no início desta seção e não às limitações físicas à expansão adequada da oferta de ouro, como quer Triffin.
7) O acordo de Bretton Woods e Keynesianismo do Pós-Guerra no centro
O contexto pós-guerra consistia em um cenário em que os EUA estavam numa posição muito forte, pois praticamente todos os países aliados haviam tomado empréstimo deles, e era lá também onde estava boa parte das reservas de ouro do mundo.
Ao vencer a 2ª GM, do ponto de vista econômico, os EUA venceram também toda a Europa Ocidental, e foi com essa posição de poder que foi construída a ordem financeira e monetária internacional do pós-guerra.
O sistema de Bretton Woods, ou Padrão Ouro-Dólar, era baseado em taxas de câmbios fixas (porém ajustáveis) dos países centrais: decisões políticas em relação ao dólar ou ao preço oficial do ouro podiam mudar essas taxas. Era controlado também, na maioria dos países, os fluxos de capitais de curto prazo.
Keynes, representando a Inglaterra na conferência de Bretton Woods (1944), fez uma série de propostas: defendeu uma espécie de moeda mundial, que não seria a moeda de nenhum país específico nem oouro (cara e ineficiente); regras de ajustamento impostas pela autoridade monetária internacional (FMI, no caso) para eliminar o viés deflacionista do sistema e também o controle dos fluxos de capitais de curto prazo. No final, a proposta aprovada tinha pouco a ver com as ideias de Keynes, a não ser pelo controle dos fluxos de curto prazo.
Assim, se estabelece um paradoxo entre o Bretton Woods não ser de fato alinhado com as ideias de Keynes e o período pelo qual esse sistema perdurou ser conhecido como a “Idade de Ouro” do Keynesianismo. Podemos explicar isso separando Bretton Woods em três diferentes sistemas: o sistema “utópico” proposto por Keynes, as regras aprovadas no acordo e a maneira da qual o sistema foi administrado na prática pelos EUA.
A proposta aprovada dava grande poder assimétrico principalmente aos EUA (grande país superavitário daquele momento), o que poderia gerar estagnação da economia mundial dependendo das prioridades do mesmo. Porém, como a Guerra Fria começou em 1947, a prioridade dos EUA passou a ser a reconstrução e o desenvolvimento acelerado dos países da órbita capitalista, o que acabou fazendo com que o sistema de Bretton Woods operasse em grande parte da forma como Keynes gostaria.
8) O Desenvolvimento a convite.
O desenvolvimento a convite foi uma tentativa dos EUA de bloquear o crescimento do comunismo. Para isso, liberou aporte financeiro para reconstrução da Europa no pós-guerra e na industrialização com o plano Marshall em 1947 na Alemanha e 1949 no Japão. Este termo é associado para referir aos países, como o Canadá, a Austrália, Nova Zelândia, Japão, Alemanha, Itália, UK e Coreia, que tiveram acesso privilegiado aos mercados e aos capitais americanos. 
Ocorreu uma mudança de estratégia de enriquecimento por parte dos Estados Unidos com o aumento da tensão soviética, fazendo com que “os maiores inimigos se tornassem os maiores amigos”. Várias medidas foram adotadas como resposta a esse desenvolvimento a convite: transferência de tecnologia, gastos militares no exterior utilizando estes países como fornecedores, abertura de mercado de importações nos EUA, ajuda externa direta com doações via Plano Marshall e tolerância com tarifas protecionistas. O convite de desenvolvimento para a Coreia ocorreu em 1960 e o último convite foi a China em 1978. 
O período de sustentação do crescimento dos aliados, através do manejo do Sistema Monetário Internacional (SMI) pelos EUA, se encerra perante a estratégia de flexibilização, liberação e desregulação deste, que decorre ao longo da década de 1970 - em meio à desmonetização do ouro do início da década e à consolidação do padrão dólar-flexível, no fim da mesma, com a afirmação da autoridade de política monetária mundial unilateral por parte dos EUA. 
O processo finda finalmente na transição à década de 1980, após o segundo choque do petróleo e ao início dos choques de juros e ataque frontal ao processo inflacionário. Por fim, vale ressaltar que o comércio mundial teve grande crescimento durante o período de convite e chama-se atenção para o fato de que o Brasil, assim como o restante da América Latina, não foi convidado para o desenvolvimento com o aporte estadunidense.
9) As características peculiares do sistema nacional de inovação dos EUA.
As inovações básicas que constituíram a tecnologia moderna estadunidense foram dirigidas como um empreendimento militar, onde o “complexo-militar-industrial-acadêmico” ensejou um pujante processo inovador liderado pelos descobrimentos científicos, voltado simultaneamente para vencer a Guerra Fria e impulsionar a fronteira da ciência em prol da dominância tecnológica mundial. O compromisso em manter superioridade sobre o inimigo e altas penalidades de atraso tecnológico impuseram ritmo único ao processo inovativo. O complexo gerou estímulos tanto de demanda (encomendas tecnológicas) quanto de oferta (expansão do estoque de conhecimento), e criou uma rede descentralizada e coordenada por instituições e comunidades tecnológicas.
A influência militar não foi restrita à provisão de recursos para P&D e às compras de armamento, mas incluiu a formação de instituições voltadas ao deslocamento da fronteira científica e à aceleração do progresso técnico, assim como influenciou a seleção, difusão e indução das tecnologias modernas da época. 
Nos “anos dourados”, se confirmou uma especialização produtiva em setores baseados em ciência, muito distinta das prioridades japonesas e de outros em que seus sistemas de inovação se centravam na difusão a baixo custo de inovações de fronteira. A disposição em vencer soviéticos via desenvolvimento de armas tecnologicamente superiores como prioridade para progresso científico e inovações básicas da trajetória dos EUA no pós-guerra – conferiu-se prioridade central às tecnologias fundamentais e às ideias estratégicas sobre utilização dos novos armamentos.
 	Antes identificado como “complexo-militar-industrial”, este se tornara também acadêmico, com o estabelecimento de estruturas para ciência e engenharia, e a criação de amplas redes de pesquisa vitais junto às universidades (MIT, Caltech, precursores da NASA, etc) – um sistema com desenvolvimento revolucionário no pós-guerra. A percepção de atraso dos EUA na corrida armamentista consolidou o argumento político a favor de fortalecer o orçamento militar, e criou as coalizões políticas favorecedoras das inovações e da ruptura da inércia burocrática. O sucesso da estratégia requeria organizações capazes de administrar sistemas complexos, reunir informações e resolver conflitos operacionais e políticos. Delimitaram-se especificações contratuais, no monitoramento de performance de equipamentos e testes de uma rede descentralizada de fornecedores e universidades.
 	O complexo foi responsável por criar as inovações básicas em todas as novas indústrias baseadas em ciência (aeroespacial, computadores, telecomunicações, etc), e ainda contribuiu para a difusão das tecnologias para usos civis. As indústrias nascentes, concentradas no pós-guerra, receberam estímulos financeiros e de demanda governamental, sem preocupação com custos, mas sim com factibilidade tecnológica. 
Isso contribuiu para a singularidade do complexo que o distingue dos outros sistemas nacionais: devido ao papel protagonista dos laboratórios acadêmicos, a rede descentralizada de pesquisas, a motivação dos principais formuladores de política tecnológica e a difusão comercial da tecnologia militar, se deu via firmas emergentes.
A direção moldada pela concorrência pelas armas criou um viés em custos, ausente nas tecnologias de uso comercial, tais como as do bem sucedido sistema japonês – que enfatiza a simplicidade e baixo custo, adequado ao uso comercial. Com incertezas e riscos suspensos, pelo apoio militar, o ciclo de vida do processo inovador se encurtou e as oportunidades de exploração comercial foram asseguradas pela acumulação da capacitação técnica dos laboratórios industriais.
10) As diferentes visões sobre o funcionamento e o fim do padrão ouro-dólar.
Depois da 2ª G.M., o padrão estabelecido foi o ouro-dólar de Bretton Woods que foi até 1971. No início do período, os EUA tiveram saldo comercial e em conta corrente positivo, mas com a Guerra Fria, reconstrução dos países centrais, os saldos comerciais e de corrente se tornaram negativos. 
Triffin argumenta que a única solução para o crescimento do comércio mundial seria acúmulo dos demais países em reserva internacional (dólar e libra) gerando déficit globais da BP dos EUA. Em sua visão, o crescimento da oferta de ouro se mostrava inadequado ao propósito do crescimento do comércio internacional. Portanto, acumular reservas internacionais na própria moeda chave se tornaria a única solução. O problema é que isso incorreria necessariamente em déficits globais de BP para o país emissor.
Assim, o “dilema” viria da contraposição de dois fatos. De um lado, se o país central tem déficits persistentes, a conversibilidade e a sobrevivência do sistema serão ameaçadas. Masse, por outro lado, o país central evitar déficits na balança de pagamentos à guisa de manter a moeda-chave com uma cobertura razoável em ouro, o comércio mundial não poderá crescer satisfatoriamente, pois haverá uma crônica falta de liquidez internacional.
O sistema parou de existir em 1971 como resultado da combinação do dilema de Triffin e o crescimento do crédito com circuito eurodólar no final dos anos 1960. O problema com o argumento de Triffin é que, como apontou Kindleberger nos anos 1960, no esquema de Triffin, apesar de os pagamentos internacionais não serem feitos diretamente em ouro, implicitamente é levantada a hipótese arbitrária e monetarista de que a “velocidade de circulação de ouro” tenha que ser constante. 
Assim, para que a conversibilidade seja mantida, ainda tem que haver alguma proporcionalidade entre a quantidade de ouro e de ativos de curto prazo denominados na moeda-chave. Triffin simplesmente ignora por completo que os fluxos brutos de capitais internacionais podem fazer a “velocidade de circulação” do ouro crescer sem limites. Assim, o “dilema de Triffin” desaparece ao refutar a velocidade constante de circulação do ouro. 
O verdadeiro privilégio dos EUA no padrão ouro-dólar era idêntico ao da Inglaterra no padrão ouro-libra, ou seja, o país não tem restrição global de BP e, além disso, sua autoridade monetária determina unilateralmente a taxa de juros mundial. Era claro que os EUA não queriam perder esse privilégio.
Ao longo da década de 1960 vai ficando claro para o governo americano que um realinhamento cambial se torna necessário para desacelerar o declínio relativo da competitividade dos EUA.
No entanto, a desvalorização do dólar via aumento do preço do dólar em ouro trazia em si o risco de uma fuga para o ouro. Com isso, vinha o perigo da reintrodução da restrição de balança de pagamentos para a economia americana, à medida que pagamentos internacionais passassem a ser feitos diretamente em ouro em vez de em dólar.
É importante ressaltar, como aponta Solomon, que países como a URSS sendo o maior produtor (juntamente com a África do Sul, cujo regime os EUA “apoiava”), ganhariam muito com um aumento da importância do ouro na economia internacional; e que a França fazia tanta pressão por reformas no sistema que ampliassem o papel do ouro por ser historicamente um país que retinha uma proporção relativamente grande de suas reservas externas em ouro. Certamente não era do interesse nacional do Estado americano em plena guerra fria reforçar o poder desses países em particular.
Nesse período também foram feitas pelos aliados americanos diversas propostas de reforma visando à criação de uma moeda verdadeiramente internacional com a introdução dos chamados direitos especiais de saque (SDR). Os EUA também vetaram todas as propostas de reforma na direção de uma moeda verdadeiramente internacional, pois embora não tivessem as desvantagens adicionais de dar poder aos países produtores de ouro, se implementadas também reintroduziriam a restrição de balança de pagamentos na economia americana, o que era considerado inaceitável pelo governo americano.
Podemos chamar essa situação de “o dilema de Nixon”: o governo americano queria, ao mesmo tempo, desvalorizar o dólar e não comprometer o papel do dólar como moeda internacional.
Os parceiros americanos recusaram a proposta dos EUA de um movimento coordenado de valorização das moedas dos outros países (que simultaneamente deveria reduzir o preço oficial do ouro em suas respectivas moedas). Além disso, esses países insistiam em propostas de reforma que diminuiriam a importância do dólar na economia internacional (aumentando o papel do ouro e/ou dos Direitos Especiais de Saque).
Nesse contexto, a solução encontrada pelos EUA para esse dilema foi decretar unilateralmente a inconversibilidade do dólar em ouro em 1971, como preparação para a iniciativa de desvalorização do dólar, que começaria em 1973.
11) Causas da inflação mundial desde o fim dos anos 1960 até 1979. 
Como principais causas da inflação mundial desde o fim dos anos 1960 até 1979, podemos citar:
1. A grande redução do grau de “conformismo social” ocorrida nos países industrializados, devido à chegada no mercado de trabalho de uma nova geração de trabalhadores, nascidos pós 2ª guerra mundial e criados em um ambiente de excepcional segurança política e econômica. Isso propiciou um aumento considerável no grau de militância sindical, em paralelo ao surgimento de movimentos estudantis e de grupos de lutas pelos direitos civis. Esse ambiente de contestação, por sua vez, aumentou o acirramento do conflito distributivo em favor da classe trabalhadora em todos os países centrais, com uma crescente demanda por aumento dos gastos sociais financiados por taxação das rendas da propriedade. 
2. Percebe-se um aumento no ritmo de crescimento dos salários nominais, começando de forma gradual nos EUA e se espalhando por todos os demais países industrializados (Reino Unido, Alemanha, Itália, França, Japão, Suécia, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, etc.), em 1968. Na maior parte desses países a taxa de crescimento dos salários nominais no período 1968-1971 foi superior ao dobro das taxas observadas nos vinte anos anteriores, fenômeno que ficou conhecido como “explosão salarial”.
3. Na medida em que as taxas de juros americanas eram mantidas relativamente baixas para operar a desvalorização do dólar na década de 70, desenvolveu-se uma enorme onda especulativa de commodities que, combinada com o acirramento dos conflitos distributivos e o questionamento da liderança americana, culminou nos choques do petróleo.
A explosão salarial aumentou o consumo induzido dos trabalhadores, expandindo a demanda efetiva e por conseguinte o investimento privado, acarretando aumentos nas taxas de crescimento dos países centrais.
Assim, a explosão salarial, que levou a um aquecimento do consumo nas economias industrializadas, bem como os sucessivos aumentos dos preços das commodities e do petróleo podem ser apontados como as principais causas de inflação nesse período, que foram agravadas em 1979 pelo segundo choque do petróleo. A inflação só conseguiu ser freada em 1979, com o choque unilateral dos juros efetuados nos EUA com a chegada de Volcker no FED (Banco Central Americano).
12) A controvérsia sobre as causas do fim da Era de Ouro nos países capitalistas centrais.
A “idade de ouro” ou “golden age” foi a “era de Keynes”, chamada por Hicks, em que o mundo capitalista desenvolvido foi organizado de acordo com as ideias de Keynes. O motivo para a aceitação e aplicação destas ideias estava ligado fundamentalmente à Guerra Fria. 
Os países capitalistas centrais se tornaram cada vez mais dependentes do mercado, da moeda e das decisões de política econômica dos EUA, frequentemente tomadas a partir de prioridades internas do país. A idade de ouro começou no segundo pós-guerra até principalmente depois da retomada da dominância americana da década de 80. O padrão Bretton Woods vai até 1971 quando os EUA, através do presidente Nixon, abolem unilateralmente a conversibilidade de dólar-ouro, levando o sistema à extinção. 
O fim do sistema teria sido causado pelo grande declínio relativo do poder americano em relação aos outros países capitalistas, vertente que alguns autores adotam, mas Serrano afirma ser equivocada e um mito. O grande declínio econômico americano vem acompanhado da perspectiva histórica. A postura favorável da potência capitalista dominante, americana, foi posta ao fim. As causas do fim do padrão ouro foram em grande parte consequência das próprias políticas de reconstrução da Europa definidas pelos EUA em razão da guerra fria e da sua estratégia para se manter a todo custo como hegemonia do sistema monetário internacional. O forte aumento da circulação de dólares devido aos sucessivos déficits no balanço de pagamento gerou um excedente de dólar incompatível com a quantidade de ouro disponível. 
13) A desaceleração do crescimento e mudança da inserção externa da URSS nos anos1970.
A desaceleração do crescimento se deu, principalmente, pela inversão mal sucedida da estratégia de acumulação, saindo da extensiva para a intensiva. Essa mudança se deu pela percepção de que não havia mais meios de continuar a acumulação extensiva, devido ao esgotamento do modelo. 
Não havia mais escassez de mão de obra (trabalhadores já haviam deixado os campos aos montes, a participação da mulher no mercado de trabalho era a maior da história e a taxa de crescimento da população não era elevada como em outros países) e os recursos naturais e matérias-primas de custo de produção mais baixo também já havia se esgotado. Assim, o objetivo do governo passou a ser o aumento da produtividade e da qualidade, variedade e custo e não apenas na quantidade do que fosse produzido. É preciso também entender o contexto da época. À medida que a economia se desenvolvia, a população demandava cada vez mais bens mais sofisticados, industriais e agrícolas. O plano de acumulação intensiva, de alguma maneira, tentou garantir esse aumento da cesta de bens para consumo.
As difusões do conhecimento em pesquisa também não conseguiram ser repassadas para a produção, devido à militarização da economia. 
Diferentemente dos EUA, não havia uma estrutura bem definida de difusão das tecnologias militares (feitas pelo estado) para a indústria de bens civil, seja pelo tipo de regime na URSS ou por aspectos como a censura e medo constante de liberar informações para espiões inimigos. Portanto, mesmo com o aumento da taxa de investimento, um número maior de pesquisadores do que nos EUA e tecnologia militar de ponta, a URSS não conseguiu aumentar a sua produtividade significativamente (principalmente no campo, falhou também na diversificação dos bens de consumo civis). 
De acordo com Popov (2010) e outros autores, havia também uma incompatibilidade entre a política de aumento da eficiência do capital e o planejamento central planificado. Mesmo em casos em que eram criadas novas e mais eficientes máquinas, não era garantido que a produtividade geral do setor aumentasse. Isso se dava, porque as máquinas novas não substituíam as antigas, mas ambas conviviam juntas para um mesmo estoque de trabalho. Essa situação um tanto quanto esdrúxula era resultado da política rígida de metas estabelecidas pelo governo, que dificultava a troca instantânea de máquinas. Como a produção tinha que atender a certas metas, qualquer interrupção geral era praticamente impossível. Assim, não havia uma substituição geral do capital, o que acabou aumentando o tempo médio de vida das máquinas e anulando em parte os ganhos de produtividade (muitas vezes, as máquinas novas possuíam capacidade ociosa devido à falta de mão de obra e seu desperdício em equipamentos antigos).
Do ponto de vista da inserção externa, a partir da década de 1970 a URSS passou a demandar quantidades crescentes de grãos e carnes, visto que não conseguia produzi-las em número suficiente internamente. Além disso, devido à falha do processo de acumulação intensiva, havia também a necessidade de importações de insumos industriais, bens de capital e bens tecnológicos. A importação desses bens tinha necessariamente que vir dos países capitalistas, pois nenhum país socialista tinha alcançado níveis tecnológicos superiores ao da URSS. Desse modo, era necessário garantir divisas que fossem aceitas nos países capitalistas. O jeito que a URSS encontra para garantir tais divisas é a exportação de matérias primas (principalmente petróleo) e armas. 
Porém, ao se inserir dessa forma no comércio internacional, a URSS passa a depender principalmente do preço do petróleo, cujo valor era muito volátil e extremamente dependente da política energética dos EUA. 
Para piorar, durante a década de 1970, com as condições favoráveis no preço do petróleo e o crédito internacional barato, a URSS conseguiu empréstimos internacionais para financiar seu balanço de pagamentos, o que, em 1979 com o choque dos juros irá afetar muito a capacidade de importação do país. Portanto, a inserção externa da URSS como um país exportador de matérias-primas e importador de bens de alto valor agregado faz com que a nação dependa, de um lado, dos preços internacionais e, de outro, da condução econômico-política dos EUA. Essa relação se torna naturalmente assimétrica, na medida em que os americanos passam a ter poder de barrar exportações de bens e insumos tecnológicos (eram a base da computação soviética a partir de 1970) e também influem sobre o preço dos barris de petróleo, tornando a URSS extremamente vulnerável.
14) A instabilidade política e dificuldades econômicas no desenvolvimento da China no período Maoísta.
Difícil resumir quase três décadas em uma resposta, porém alguns pontos foram fundamentais durante todo o regime maoísta. Do lado econômico, foram feitos programas voltados para a industrialização do país, com o apoio inicial da URSS. 
Entretanto, diferentemente dos soviéticos, a estratégia chinesa foi a de descentralização (ideia era povoar o território, garantir a defesa do país e desenvolver as forças produtivas) da produção, tanto industrial quanto agrícola. Essa escolha foi feita a partir da criação das comunas (possuíam estrutura produtiva mais socialista), grupos de alguns milhares de pessoas que tinham metas de produção a serem alcançadas, tanto industriais quanto agrícolas. Esse sistema não funcionou, embora a industrialização tenha avançado durante o regime de Mao, a produtividade no campo ficou estagnada. 
O problema da estagnação da produtividade no campo é que, à medida que as indústrias iam se desenvolvendo, mais trabalhadores eram requisitados. Uma vez que os trabalhadores rurais eram deslocados para as fábricas, a produção de alimentos caía, pois com uma produtividade constante, a diminuição de L causava queda no produto agrícola. Além disso, é importante ressaltar o caráter socialista das comunas que, definitivamente não funcionou, pois, entre outros fatores, deixou de incorporar os ganhos de escala na produção (ao descentralizar em vários grupos produtivos), diferentemente do modelo soviético. 
Em relação ao setor externo, havia dificuldades de importação de bens de K, principalmente após a ruptura com a URSS e antes da reconciliação com os EUA. Assim, o crescimento chinês dessa época esbarrava em questões como a produtividade agrícola e a falta de um apoio externo durante alguns anos no processo de acumulação de K.
Em relação à instabilidade política, a tensão estava toda em como relacionar uma sociedade socialista com conceitos de produção capitalistas. Em alguns momentos, havia mais espaço para tal, em outros não. Sempre que Mao pensava estar perdendo espaço para o “direitismo”, havia algum programa estatal para incentivar os instintos socialistas, além de prenderem inúmeras pessoas com a desculpa de estarem traindo o país. A revolução Cultural, principal marca dessa instabilidade, tentou retomar a história da revolução, censurou a mídia e a cultura e impediu a introdução de mecanismos de mercado na economia. Porém, com o tempo e a morte de Mao, a corrente menos “extrema” ascendeu ao poder e modificou as relações de produção, aumentou o componente privado (sempre com planejamento feito pelo estado), porém manteve a censura e o poder do estado no cotidiano do país.

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