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Thomas Hobbes,23 um dos economistas mais antigos e dos mais
originais filósofos da Inglaterra, já havia assinalado em seu Leviatã,
instintivamente, esse ponto que escapou a todos os seus sucessores.
Dizia ele:
“O valor de um homem é, como para todas as outras coisas,
o seu preço; quer dizer, o que se pagaria pelo uso de sua força”.
Partindo dessa base podemos determinar o valor do trabalho,
como o de todas as outras mercadorias.
Mas, antes de fazê-lo, poderíamos perguntar: de onde provém
esse fenômeno singular de que no mercado nós encontremos um grupo
de compradores, que possuem terras, maquinaria, matérias-primas e
meios de vida, coisas essas que, exceto a terra, em seu estado bruto,
são produtos de trabalho, e, por outro lado, um grupo de vendedores
que nada têm a vender senão sua força de trabalho, os seus braços
laboriosos e cérebros? Como se explica que um dos grupos compre
constantemente para realizar lucro e enriquecer-se, enquanto o outro
grupo vende constantemente para ganhar o pão de cada dia? A inves-
tigação desse problema seria uma investigação do que os economistas
chamam “acumulação prévia ou originária”,24 mas que deveria cha-
mar-se expropriação originária. E veremos que essa chamada acumu-
lação originária não é senão uma série de processos históricos que
resultaram na decomposição da unidade originária existente entre o
homem trabalhador e seus instrumentos de trabalho. Essa observação
cai, todavia, fora da órbita do nosso tema atual. Uma vez consumada
a separação entre o trabalhador e os instrumentos de trabalho, esse estado
de coisas se manterá e se reproduzirá em escala sempre crescente, até
que uma nova e radical revolução do sistema de produção a deite por
terra e restaure a primitiva unidade sob uma forma histórica nova.
Que é, pois, o valor da força de trabalho?
Como o de toda outra mercadoria, esse valor se determina pela
quantidade de trabalho necessário para produzi-la. A força de trabalho
de um homem consiste, pura e simplesmente, na sua individualidade
viva. Para poder crescer e manter-se, um homem precisa consumir
uma determinada quantidade de meios de subsistência; o homem, como
a máquina, se gasta e tem que ser substituído por outro homem. Além
da soma de artigos de primeira necessidade exigidos para o seu próprio
sustento, ele precisa de outra quantidade dos mesmos artigos para
criar determinado número de filhos, que hão de substituí-lo no mercado
de trabalho e perpetuar a descendência dos trabalhadores. Ademais,
MARX
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23 Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, empírico e sensualista, ideólogo da nobreza
aburguesada. Defendeu o poder ilimitado do Estado em suas obras, sobretudo no Leviatã,
escrito em 1651, que foi queimado em público, após a restauração dos Stuarts. (N. do E.)
24 O mesmo que “acumulação primitiva”, como Marx diria em O Capital. (N. do E.)