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não houve trato algum, nem se celebra entre eles nenhuma compra e
venda, todo o seu trabalho parece dado de graça.
Tomemos, por outro lado, o camponês servo, tal como existia,
quase diríamos ainda ontem mesmo, em todo o oriente da Europa.
Este camponês, por exemplo, trabalhava três dias para si, na sua pró-
pria terra, ou na que lhe havia sido atribuída, e nos três dias seguintes
realizava um trabalho compulsório e gratuito na propriedade de seu
senhor. Como vemos, aqui as duas partes do trabalho, a paga e a não
paga, aparecem visivelmente separadas, no tempo e no espaço, e os
nossos liberais podem estourar de indignação moral ante a idéia dis-
paratada de que se obrigue um homem a trabalhar de graça.
Mas, na realidade, tanto faz uma pessoa trabalhar três dias na
semana para si, na sua própria terra, e outros três dias de graça na
gleba do senhor como trabalhar diariamente na fábrica, ou na oficina,
6 horas para si e 6 horas para o seu patrão; ainda que nesse caso a
parte do trabalho pago e a do não remunerado apareçam inseparavel-
mente confundidas e o caráter de toda a transação se disfarce por
completo com a interferência de um contrato e o pagamento recebido
no fim da semana. No primeiro caso, o trabalho não remunerado é
visivelmente arrancado pela força; no segundo, parece entregue volun-
tariamente. Eis a única diferença.
Sempre que eu empregue, portanto, a expressão “valor do tra-
balho”, empregá-la-ei como termo popular, sinônimo de “valor de força
de trabalho”.
X
O Lucro Obtém-se Vendendo uma Mercadoria pelo seu Valor
Suponhamos que uma hora de trabalho médio materialize um
valor de 6 pence ou 12 horas de trabalho médio, um valor de 6 xelins.
Suponhamos, ainda, que o valor do trabalho represente 3 xelins ou o
produto de 6 horas de trabalho. Se nas matérias-primas, maquinaria
etc., consumidas para produzir uma determinada mercadoria, se ma-
terializam 24 horas de trabalho médio, o seu valor elevar-se-á a 12
xelins. Se, além disso, o operário empregado pelo capitalista junta a
esses meios de produção 12 horas de trabalho, teremos que essas 12
horas se materializam num valor adicional de 6 xelins. Portanto, o
valor do produto se elevará a 36 horas de trabalho materializado, equi-
valente a 18 xelins. Porém, como o valor do trabalho ou o salário
recebido pelo operário só representa 3 xelins, decorre daí que o capi-
talista não pagou equivalente algum pelas 6 horas de sobretrabalho
realizado pelo operário e materializadas no valor da mercadoria. Ven-
dendo essa mercadoria pelo valor, por 18 xelins, o capitalista obterá,
portanto, um valor de 3 xelins, para o qual não pagou equivalente.
Esses 3 xelins representarão a mais-valia ou lucro que o capitalista
embolsa. O capitalista obterá, por conseqüência, um lucro de 3 xelins,
MARX
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