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Matheus Duarte -> MED 52 UNCISAL PARASITOLOGIA - HIDATIDOSE - Introdução Trata-se de uma zoonose causada com maior frequência pelo platelminto Echinococcus granulosus, um parasita cestódeo - que ocasionalmente pode vir a acometer humanos. É endêmica da região Sul do Brasil, sendo uma condição de grande associação à pecuária - a associação de fatores como o fornecimento de vísceras cruas aos cães e contato com alimentos contaminados (e com o próprio animal - que pode reter as fezes nos pelos), são importantes fatores de predisposição epidemiológica. *obs: também denominada equinococose. *obs: o E. granulosus é o principal responsável pela infecção humana, apresentando importância devido a sua distribuição e implicações na produção animal - tendo como hospedeiros definitivos os cães silvestres e os canídeos domésticos. *obs: também existem as espécies vogeli (causa esporádicas notificações da doença pelo Brasil), oligarthrus e multicolaris. ● Classificação do verme: Classe: Cestoda Família: Taeniidae Gêneros: Echinococcus - Morfologia (formas evolutivas) do agente etiológico ● verme adulto > é um verme monóico com tamanho médio de 5mm, que apresenta um escólex com ventosas e um rostro com acúleos que garantem sua fixação no intestino delgado dos cães. Também possui um colo com células germinativas que permitem seu crescimento e um estróbilo, que forma três proglotes (anéis) capazes de se autofecundar (pois possuem uma massa testicular e ramificações uterinas) - sendo liberadas nas fezes do hospedeiro definitivo (cão). ● ovos > de formato subesférico e cerca de 30 micrometros, encontrados dentro das proglotes de estróbilos, podendo ser ingeridos separados ou juntos a eles. São constituídos por um embrióforo resistente de quitina e a oncosfera (embrião hexacanto - que contém 6 ganchos), sendo encontrados na água, vegetais e pasto, contaminando o hospedeiro intermediário. ● cisto hidático > forma arredondada com cerca de 1-10 cm de diâmetro (depende do tempo de infecção), responsável por gerar a doença no homem. Possui um contorno esférico e abriga milhares de formas larvárias que podem se desenvolver em formas adultas no hospedeiro definitivo. O cisto é composto por um pericisto ou membrana adventícia (camada espessa formada com tecido fibroso do hospedeiro, resultante da ação do sistema imune), uma membrana anista ou hialina (o cisto propriamente dito) e a membrana prolígera (mais interna e delgada, dá origem a membrana anista e vesículas prolígeras que contém o proto-escólice). As vesículas prolígeras ficam no interior do líquido hidático (rico em substância antigênica, proteínas, polissacarídeos) - existe a presença da areia hidática (formada por resíduos dos protoescólices e da membrana prolígera). *obs: o proto-escólice é nada mais que o escólex invaginado, que pode originar o verme adulto. *obs: na ocasião de situações adversas - como traumatismo, envelhecimento, alterações bioquímicas, perda de líquido por ruptura ou punção - os cistos podem formam cistos hidáticos secundários endógenos (localizados no interior do cisto “mãe”) ou exógenos (que de dispersam para outros tecidos e/ou para a cavidade abdominal, sendo normalmente produzidos pela ruptura de um cisto mãe). - Ciclo biológico ● no hospedeiro intermediário > trata-se da infecção acidental no homem, ruminantes, suínos e equinos, sendo a transmissão ao hospedeiro definitivo por carnivorismo. Os cistos são encontrados principalmente no fígado e pulmões. *obs: a espécie E. vogeli também infecta animais “carnes de caça” - como a paca. ● no hospedeiro definitivo > trata-se do cão, que é contaminado pela ingestão do cisto principalmente pelo carnivorismo de vísceras cruas ou mau-cozidas, como pulmões e fígado de hospedeiros intermediários - tendo a mucosa do intestino delgado como habitat do verme. ● ciclo biológico geral > o cão elimina ovos no ambiente, que são ingeridos através da água, verduras ou pastos por hospedeiros intermediários. Quando ingeridos, o embrióforo composto por quitina é clivado no duodeno, havendo liberação da oncosfera para o sangue, que chega aos tecidos por meio do leito capilar. Os embriões formam cistos teciduais (especialmente hepáticos e pulmonares) 6 meses após a infecção. Nos homens, este ciclo termina incompleto - os cistos continuam a se expandir de forma indefinida; já em animais, suas vísceras podem ser ingeridas pelos cães, fixando-se em seu duodeno e levando a formação de um verme adulto (após 2 meses de infecção), que libera os ovos através das fezes e reinicia o ciclo. - Manifestações clínicas Os sintomas da hidatidose derivam da compressão do órgão pelos cistos teciduais - sendo relacionados ao número, tamanho e localização desses cistos, que realizam a compressão mecânica do órgão e dificultam sua plena funcionalidade. Como a evolução dos cistos é lenta, os sintomas podem demorar anos para aparecer, ocorrendo somente quando atingem grandes dimensões. *obs: cistos pequenos e bem encapsulados permanecem assintomáticos por toda a vida do hospedeiro. ● no fígado > tratando-se do órgão primário de infecção, ocorre uma sintomatologia que envolve dor no hipocôndrio direito, plenitude pós-prandial, estase biliar (que pode provocar icterícia e ascite em quadros mais graves). Na ocorrência da ruptura dos cistos, podem ser originados novos cistos ou o evento da liberação da areia hidática (que pode levar a embolia). *obs: o embrião atinge o fígado através da circulação, e pode ficar retido nos capilares sinusóides e causar reação inflamatória. *obs: a localização de preferência dos cistos é o lobo hepático direito. *obs: devido a possibilidade de ruptura, é importante iniciar o tratamento medicamentoso antes da excisão cirúrgica, a fim de inviabilizar os cistos antes do procedimento. ● nos pulmões > é o segundo órgão mais acometido na infecção, e possui como sintomatologia típica a presença de cansaço ao esforço físico, dor torácica, tosse com expectoração hemoptóica, dispnéia. *obs: o parênquima pulmonar não oferece grande resistência ao crescimento do cisto, o que permite o alcance de grandes dimensões e compressão de brônquios e alvéolos. *obs: pode ocorrer a hidatidoptise - liberação de parte do cisto através de um acesso de tosse. ● nos ossos > se em menor tamanho, os cistos não costumam causar desconforto, porém podem evoluir com a destruição de trabéculas ósseas, chegando a promover necrose. Uma vez que o tecido encontra-se fragilizado, é recorrente a ocorrência de fratura espontânea (costuma ser o principal relato do paciente). *obs: forma mais rara e de longa duração. ● no coração > pode levar a dor cardíaca, palpitação e encurtamento respiratório (além de sopros, dependendo da área acometida). ● no cérebro > acometimento raro, sendo mais comum em crianças devido ao seu maior contato com os animais (de menor cuidado higiênico). Pode gerir desvio de linha média e déficits neurológicos focais - como paresia e convulsões, que por vezes permanecem após a excisão dos cistos. *obs: o tecido cerebral oferece baixa resistência ao crescimento dos cistos, que apresentam rápida evolução e produzem sintomas conforme sua localização. ● no baço > gera dor em hipocôndrio e flanco esquerdos, com a presença de massa abdominal palpável. ● outras manifestações > a hidatidose também pode afetar o canal inguinal (comprimindo estruturas nervosas dos MMII) e gerar cistos renais. No evento da ruptura de cistos, o líquido antigênico contido neles pode provocar desde reações alérgicas até choque anafilático fatal (na ruptura de cistos na cavidade abdominal ou peritoneal). - Diagnóstico Muitas vezes tem quadro clínico inespecífico, sendo muitas vezes assintomático, necessitando da junção de informações clínicas, epidemiológicas e laboratoriais. O diagnóstico clínico envolve a observação dos sinais e fatores epidemiológicos, e é de grande importância para a identificação da doença, uma vez que o diagnóstico parasitológico é muito limitado devido a ausência de liberação de ovos nas fezes. A hipótese podeser levantada com a observação das manifestações crônicas hepáticas e pulmonares, associadas a massas palpáveis (semelhantes a tumores) e histórico de moradia em área endêmica e de contato com caninos de pastoreio. Os métodos de imagem podem ser utilizados na confirmação do diagnóstico e exclusão de outros tipos de lesão, ao permitir a visualização dos cistos - podendo ser incluídas radiografia, ecografia, ultrassonografia, tomografia, cintilografia e ressonância (que nem sempre são conclusivos - devido à semelhança dos cistos com outras patologias). O diagnóstico laboratorial envolve a realização de sorologia por meio de ELISA, IFI, hemaglutinação ou immunoblotting (é indicado o uso de ao menos duas técnicas para confirmar o diagnóstico) - entretanto, há grandes chances do verme não ser detectado, uma vez que os antígenos são ocultados pelas membranas císticas quando sua parede se mantém íntegra. O diagnóstico também pode ser feito pelo exame histopatológico, às vezes após a remoção do cisto e, de forma mais rara, por meio da morfometria de acúleos dos protoescólices caso ocorra hidatidoptise. *obs: em algumas casos, a lesão promovida é tão focal que não ocorre sequer eosinofilia no leucograma, de forma que a ausência desse achado não exclui a suspeita. *obs: em cães, os ovos podem ser observados no exame de fezes e detecção de coproantígenos (método ELISA de captura), e se confirmado, reforça a hipótese da doença humana. Em hospedeiros intermediários, como ruminantes, é comum a detecção do cisto apenas no exame post-mortem. - Tratamento Realizado com o uso de albendazol (regime de 400 mg 2x ao dia por 3 a 6 meses), que pode ser associado com praziquantel (fármaco utilizado em cachorros). Também é utilizada a terapia cirúrgica, com a excisão completa do cisto (precedida por terapia medicamentosa com albendazol por 4 dias antes e até 1 mês depois). *obs: pode ser realizada a punção, aspiração, injeção e reaspiração do cisto com solução salina (PAIR) para ressecá-lo. Ocorre a punção do líquido hidático por aspiração, com inoculação de substância protescolicida salina, sendo um tratamento recomendado em casos de cistos simples ou múltiplos com tamanho de até 15 cm de diâmetro (intervenção não indicada em cistos pulmonares e cerebrais devido ao risco de complicações). - Profilaxia Envolve o abatimento de ruminantes e suínos em abatedouros inspecionados, vermifugação periódica de cães, destruição de vísceras infectadas, não alimentar cães com vísceras cruas e educação sanitária à comunidade.
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