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2015 GeoGrafia da américa Latina Profa. Leia de Andrade Profa. Rosani Lidia Dahmer Copyright © UNIASSELVI 2015 Elaboração: Profa. Leia de Andrade Profa. Rosani Lidia Dahmer Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 918.1 A553g Andrade, Leia de Geografia da América Latina/ Leia de Andrade; Rosani Lidia Dahmer. Indaial : UNIASSELVI, 2015. 259 p. : il. ISBN 978-85-7830-935-0 1. Geografia Latino Americana. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III apresentação Caro(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Geografia da América Latina! Certamente você já ouviu as expressões: América do Sul, América do Norte, América Latina... o questionamento pertinente que se apresenta para início de conversa, é: conhecemos o contexto de cada uma destas macrorregiões? O continente americano pode ser regionalizado (enquanto metodologia para seu estudo), dividindo-o em partes ou agrupando os países, de diferentes maneiras, dependo do objetivo para determinado recorte. Algumas nomenclaturas são mais conhecidas e utilizadas no nosso cotidiano. A expressão América Latina é uma delas. Mas o que realmente significa? Nós brasileiros, também somos latino-americanos, mas questiono: nós nos consideramos latino-americanos? Pretendemos neste Caderno de Estudos, através de suas unidades e tópicos de estudos, apresentar conceitos, conteúdos e informações que possam auxiliar nas reflexões e possíveis respostas para estes questionamentos. No espaço geográfico da América Latina se realizam as manifestações da natureza, na concepção de tempo geológico, e atividades humanas, numa concepção de tempo histórico. Assim, o espaço geográfico latino-americano contemporâneo apresenta características econômicas, sociais, culturais, políticas e ambientais semelhantes às demais áreas da superfície terrestre, inserida nos processos de expansão capitalista através do colonialismo, imperialismo, globalização e regionalização. Entretanto, cabe lembrar que existem também diferenciações, peculiaridades caracterizadas pela diversidade, heterogeneidade e identidades culturais particulares, resultados de sua formação socioespacial e histórico cultural. Pretendemos neste Caderno a partir dos conteúdos apresentados, conduzir você acadêmico à reflexão, ao estudo e à análise de aspectos da Geografia da América Latina, para que você possa compreender a organização e as transformações sofridas por esse espaço geográfico latino-americano. Na sala de aula, estes conteúdos e conceitos são essenciais para a formação de cidadãos conscientes, sensibilizados e críticos dos problemas comuns desta macrorregião. Pensamos em contribuir na formação acadêmica do futuro professor de Geografia, que em sua prática docente, atuará como agente influenciador e mediador de práticas socioespaciais dentro de uma proposta educacional que requer responsabilidade de todos, visando um mundo melhor, com probabilidades futuras menos desanimadoras, com mais equidade e um futuro possível. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Neste caderno, cada unidade está estruturada a partir de conceitos- chaves, problematizações, reflexões e análises. Em cada unidade você vai encontrar fragmentos literários, fatos atuais, sugestões de leituras complementares, filmes, para promover uma aprendizagem significativa. Cada tópico apresenta resumo e sugestões de autoatividades para pensar, analisar e refletir sobre a geografia da América Latina a partir da observação da realidade geográfica local e conteúdos e informações do Caderno de Estudos. Durante o estudo deste caderno, sugerimos que você consulte os cadernos que já utilizou nas outras disciplinas, para facilitar seu aprendizado. Desejamos a você um ótimo estudo e que a partir dele você possa construir o seu conhecimento sobre a América Latina. Saudações! Profa. Leia de Andrade Profa. Rosani Lidia Dahmer V VI VII UNIDADE 1 - AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL ........................1 TÓPICO 1 - LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO ..................................................................3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................3 2 A CONQUISTA DE REGIÕES NATURAIS COM O COLONIALISMO ...............................5 3 A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO CONTINENTE AMERICANO ..........................................5 3.1 A COLONIZAÇÃO DE POVOAMENTO .................................................................................6 3.2 A COLONIZAÇÃO DE EXPLORAÇÃO ...................................................................................6 3.3 DO COLONIALISMO PORTUGUÊS E ESPANHOL AO IMPERIALISMO BRITÂNICO E ESTADUNIDENSE ............................................................................................8 3.4 CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS E RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA ..............................................................................................9 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................13 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................15 TÓPICO 2 - AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA .........................17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................17 2 APONTAMENTOS SOBRE OS ELEMENTOS FÍSICOS DENTRO DO CONTEXTO DE UMA DIVISÃO REGIONAL GEOGRÁFICA - FÍSICA .............................17 2.1 A TECTÔNICA DE PLACAS NA AMÉRICA LATINA E RELEVO .....................................18 2.2 BACIAS HIDROGRÁFICAS .......................................................................................................26 2.3 CLIMAS E VEGETAÇÕES ...........................................................................................................29 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................33 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................35 TÓPICO 3 - APONTAMENTOSE CARACTERÍSTICAS SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HISTÓRICO-CULTURAL .............................................................................................37 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................37 2 O POVOAMENTO PRÉ-COLOMBIANO ....................................................................................38 3 REMANESCENTES DE POVOS NATIVOS E MISCIGENAÇÃO ..........................................40 4 ASPECTOS DA COLONIZAÇÃO E DA DEMOGRAFIA QUE CORROBORAM PARA UMA REGIONALIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL ................41 4.1 AMÉRICA CENTRAL E MÉXICO .............................................................................................41 4.2 NAS GUIANAS, UMA COLONIZAÇÃO DIFERENTE ........................................................42 4.3 AMÉRICA ANDINA ....................................................................................................................43 5 AMÉRICA PLATINA .......................................................................................................................45 6 A REGIONALIZAÇÃO DO CONTINENTE AMERICANO POR CRITÉRIOS SOCIOECONÔMICOS .......................................................................................................................50 6.1 CONTRADIÇÕES SOCIOECONÔMICAS DENTRO DA AMÉRICA LATINA .................51 6.2 APONTAMENTOS ECONÔMICOS ..........................................................................................53 6.3 AS TENTATIVAS DE ASSOCIAÇÃO E/OU DE INTEGRAÇÃO DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS ........................................................................................57 sumário VIII LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................59 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................61 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................63 TÓPICO 4 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE ..............................65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................65 2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS ...............................65 3 CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA A GESTÃO DOS RISCOS DE EVENTOS EXTREMOS E DESASTRES, PARA O AVANÇO NA ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ......................................................................69 4 AMÉRICA LATINA E CARIBE: PROBABILIDADES FUTURAS ...........................................70 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................74 RESUMO DO TÓPICO 4.....................................................................................................................77 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................79 UNIDADE 2 - AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL ..........................................................................................81 TÓPICO 1 - MÉXICO ...........................................................................................................................83 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................83 2 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO .......................................................................................................85 3 ENTRE PAÍSES RICOS E ENTRE PAÍSES POBRES ..................................................................92 4 A MIGRAÇÃO DOS MEXICANOS PARA OS ESTADOS UNIDOS .....................................94 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................100 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................103 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................104 TÓPICO 2 - AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL .............................................................105 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................105 2 AMÉRICA CENTRAL CONTINENTAL: SEU TERRITÓRIO E A SUA POPULAÇÃO ....................................................................................................................106 2.1 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO .....................................................................................109 2.1.1 O caso do Panamá ................................................................................................................110 3 AMÉRICA CENTRAL INSULAR ...................................................................................................117 3.1 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO ...................................................................................................118 3.2 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO .....................................................................................119 3.2.1 O MCCA e Caricom.............................................................................................................120 3.2.2 O caso de Cuba .....................................................................................................................121 3.2.3 A base de Guantánamo .......................................................................................................123 3.2.4 Embargo econômico ............................................................................................................124 3.2.5 O caso do Haiti .....................................................................................................................126 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................129 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................131 TÓPICO 3 - AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA ..............................................................133 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................133 2 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO .......................................................................................................133 3 O PARAGUAI .....................................................................................................................................135 4 O URUGUAI .......................................................................................................................................138 4.1 O GOLPE MILITAR NO URUGUAI E SUAS CONSEQUÊNCIAS .......................................140 4.2 O GOVERNO DE MUJICA ..........................................................................................................140 IX 5 A ARGENTINA ..................................................................................................................................143 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................147 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................149 UNIDADE 3 - O BRASIL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NAAMÉRICA LATINA: DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO, INTEGRAÇÃO E LIDERANÇA REGIONAIS .................151 TÓPICO 1 - DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS POLÍTICAS ...............................................................................153 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................153 2 RIVALIDADES COLONIAIS ..........................................................................................................153 2.1 A QUESTÃO CISPLATINA NO PERÍODO IMPERIAL BRASILEIRO .................................157 2.2 A ERA RIO BRANCO – 1902-1912 .............................................................................................158 3 AS RELAÇÕES REGIONAIS NA BACIA DO PRATA NO DECORRER DA HISTÓRIA ...........................................................................................................158 3.1 BRASIL E ARGENTINA: DA DESCONFIANÇA À APROXIMAÇÃO ................................158 3.2 BRASIL E ARGENTINA: COMPETIÇÃO GEOPOLÍTICA ....................................................160 3.3 A OPERAÇÃO PAN-AMERICANA (OPA) E OS ACORDOS DE URUGUAIANA ...........161 3.4 GOVERNOS MILITARES NO BRASIL E NA ARGENTINA .................................................161 3.5 O RETORNO À DEMOCRACIA E A APROXIMAÇÃO DE BRASIL E ARGENTINA E OUTROS PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL ...............................................163 3.6 O MERCOSUL E A CRISE DOS ANOS 1999-2001 ...................................................................164 4 A FAIXA DE FRONTEIRA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA .............................................165 4.1 CIDADES-GÊMEAS ....................................................................................................................165 4.2 MARCOS DE FRONTEIRA, TENSÕES E QUESTÕES FRONTEIRIÇAS .............................167 4.3 TEXTO COMPLEMENTAR: ESTUDO DE CASO: CIDADES DE TABATINGA (AM) E LETÍCIA (COL): USO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA .........................171 4.4 O PAPEL ESTRATÉGICO DAS PONTES INTERNACIONAIS .............................................172 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................174 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................176 TÓPICO 2 - A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL .................................................179 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................179 2 O MERCOSUL ....................................................................................................................................179 2.1 O COMÉRCIO INTRABLOCO ...................................................................................................181 2.2 ADESÃO DA VENEZUELA COMO ESTADO MEMBRO OU ESTADO PARTE EM 2012 ....................................................................................................184 2.3 A BOLÍVIA NO MERCOSUL COMO ESTADO ASSOCIADO E COMO ESTADO MEMBRO OU ESTADO PARTE ...............................................................186 3 MERCOSUL - INTEGRAÇÃO FÍSICA E ENERGÉTICA ..........................................................188 3.1 INTEGRAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO ....................................................................................192 3.2 A POSIÇÃO DO PARAGUAI DIANTE DA HEGEMONIA BRASILEIRA ..........................195 3.2.1 A questão de Itaipu: o preço da energia paraguaia ........................................................195 3.3 DESAFIOS PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA E ABASTECIMENTO DE ÁGUA NAS CIDADES ..........................................................................................................196 3.4 INTEGRAÇÃO GÁS NATURAL ................................................................................................197 3.5 MERCOSUL: INFRAESTRUTURA DOS MEIOS DE TRANSPORTES.................................201 3.6 LIMITES E DESAFIOS..................................................................................................................205 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................206 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................208 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................210 X TÓPICO 3 - DOS ESPAÇOS GEOGRÁFICOS REGIONAIS DE ENTORNO PARA O ESPAÇO REGIONAL MAIS AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA ...............................213 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................213 2 COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA – CEPAL ......................................213 3 DA ALALC À ALADI ........................................................................................................................214 4 DO PACTO ANDINO À COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES – CAN ..........................215 5 INICIATIVA PARA A INTEGRAÇÃO DA INFRAESTRUTURA REGIONAL SUL-AMERICANA – IIRSA .....................................................................................216 6 UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS – UNASUL ........................................................217 7 A COMUNIDADE DE ESTADOS LATINO-AMERICANOS E DO CARIBE – CELAC ...................................................................................................................221 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................224 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................226 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................228 TÓPICO 4 - PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA ....................................231 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................231 2 A INDUSTRIALIZAÇÃO TARDIA ...............................................................................................231 2.1 PERÍODOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO LATINO-AMERICANA ........................................232 3 O BRASIL NO CONTEXTO INTERNACIONAL .......................................................................234 4 A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA .........................................................................................235 4.1 A LIDERANÇA REGIONAL NEM SEMPRE FOI BEM ACEITA ..........................................236 4.2 SONHANDO COM MAIOR PRESENÇA INTERNACIONAL .............................................238 5 BRASIL: LIDERANÇA E TENSÕES NA INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA ....................241 5.1 A PRESENÇA DA PETROBRÁS NA BOLÍVIA E NO EQUADOR .......................................242 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................245 RESUMO DO TÓPICO 4.....................................................................................................................246 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................248 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................251 1 UNIDADE 1 AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTALOBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Esta unidade tem por objetivos: • compreender sob uma visão integrada (do ponto de vista geográfico, histórico e sociológico) o espaço geográfico americano, desde sua forma- ção até as atuais dinâmicas que o transformam continuamente; • relacionar os conceitos de localização e regionalização da América Latina; • perceber a relação exploração/povoamento de maneira geo-histórica; • perceber a atual situação social e econômica da América Latina como fruto de exploração durante séculos, e de dificuldades próprias de cada estado-nação na contemporaneidade; • analisar o espaço geográfico como palco de produção social. • identificar características comuns aos países latino-americanos e ao mes- mo tempo diferenciações que existem entre os mesmos; • entender a regionalização natural ou física de acordo com o processo natural de formação do espaço dos continentes e sua apropriação até os momentos atuais, como uma das metodologias de estudo da geografia; • diferenciar os tipos de regiões e/ou possíveis regionalizações da América e da América Latina, seus países e principais semelhanças e diferenças; • contextualizar a América Latina em relação ao espaço geográfico mundial; • refletir sobre a questão dos povos pré-colombianos e indígena na Amé- rica Latina para uma regionalização histórica cultural; • entender a diversidade das condições climáticas, vegetais e sua relação com a sociedade; • relacionar aspectos econômicos comuns e diferentes dos países latino-a- mericanos; 2 PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em quatro tópicos, sendo que em cada um deles você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO TÓPICO 2 – AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA TÓPICO 3 – APONTAMENTOS E CARACTERÍSTICAS SOCIOESPA- CIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HISTÓRICO-CULTURAL TÓPICO 4 – MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VUL- NERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE • refletir sobre a contemporaneidade do texto de Eduardo Galeano, em que o autor apresenta aspectos do colonialismo e imperialismo sobre a América Latina; • correlacionar problemas e questões ambientais com mudanças climáti- cas, eventos climáticos extremos, vulnerabilidade e desastres socionatu- rais na América Latina. 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Nesta unidade você vai iniciar os estudos sobre o conjunto de países situados ao Sul dos Estados Unidos e que recebe o nome de América Latina, em virtude de, com exceção das Guianas e de algumas ilhas do Caribe, terem sido ocupados e explorados do século XVI ao XIX, principalmente por portugueses e espanhóis, povos de origem latina. Esse fato os diferencia do Canadá e dos Estados Unidos, de influência inglesa e que compõe a América Anglo-saxônica. (ALMEIDA, 2009). Com a independência política das colônias americanas e funções na Divisão Internacional do Trabalho, as diferenças entre América Latina e América Anglo- Saxônica se acentuaram. Esta diferença entre o conjunto de países que atualmente constitui a América Latina e Caribe (e se localizam ao sul do Rio Grande, fronteira natural entre os Estados Unidos e o México), e os países situados ao norte deste rio, Estados Unidos da América e Canadá, insere-os na divisão Norte-Sul, ou seja, na oposição entre países ricos e países pobres. A separação entre América Latina e América Anglo-saxônica como mostra o mapa a seguir, não corresponde à clássica separação do continente em três partes: América do Norte, América Central e América do Sul. Sendo o México situado geograficamente na América do Norte, faz parte da América Latina do ponto de vista socioeconômico. Apesar de enfrentar problemas econômicos e sociais parecidos, como veremos adiante, encontramos muitas diferenças entre os integrantes da América Latina. Podemos dividi-la em porções definidas geograficamente: México, América Central e Guianas, América do Sul, onde podemos distinguir três conjuntos: América Andina, América Platina e Brasil, como mostra a figura a seguir. O continente americano é o segundo maior continente do mundo, suas terras se localizam totalmente no Hemisfério Ocidental, isto é, estão a oeste do Meridiano de Greenwich e limitam-se ao norte com o Oceano Glacial Ártico, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com o Oceano Pacífico. O Continente é cortado por quatro paralelos principais: Círculo Polar Ártico, Trópico de Câncer, Equador e Trópico de Capricórnio. A grande extensão no sentido norte e sul confere ao continente americano enorme variedade de climas, solos e formação vegetal. FONTE: Disponível em: <http://geografianewtonalmeida.blogspot.com.br/2012/08/america- localizacao-exercicios.html?view=snapshot&m=1>. Acesso em: 11 nov. 2015. UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 4 FIGURA 1 – MAPA DA AMÉRICA: DIVISÃO GEOGRÁFICA E SOCIOECONÔMICA Divisão geográfica Divisão sócioeconômica América do Norte 1 - México 2 - Guatemala 3 - El Salvador 4 - Honduras 5 - Nicaragua 6 - Costa Rica 7 - Panamá 8 - Cuba 9 - Haiti 10 - Rep. Dominicana 11 - Porto Rico 12 - Guianas 13 - Venezuela 14 - Colômbia 15 - Equador 16 - Perú 17 - Brasil 18 - Bolívia 19 - Paraguai 20 - Argentina 21 - Uruguai 22 - Chile América Central América Anglo-Saxônica América Latina América do Sul 1 2 3 4 5 6 8 9 10 7 11 1213 14 15 16 18 22 21 19 17 20 FONTE: Disponível em: <www.blogdoprofalexandre.blogspot.com> e <http://web.ua.es/ centrobenedetti-antigua/actividades_07_08.html>. Acesso em: 10 nov. 2015. A América Latina e o Caribe constituem uma vasta região geográfica com características socioeconômicas, culturais e históricas similares. Esta macrorregião abrange cerca de 20.808.000 quilômetros quadrados, representando quase a metade do continente americano e suas ilhas. Sobre o nome América Latina, foi inicialmente pelo agrupamento das sociedades em que a língua dominante tem origem no latim, como é o caso do português e do espanhol, principais povos colonizadores da América continental. Esse território compreende desde o México até o extremo sul da América do Sul. A expressão América Latina, refere-se também a países onde se fala inglês, como a Jamaica, ou holandês como o Suriname. Isso acontece porque o critério passou a levar em conta outros aspectos, tais como predominância da religião católica e desequilíbrio das condições socioeconômicas da população, com muitos de seus habitantes vivendo abaixo da linha de pobreza. FONTE: Adaptado de: <http://geonaweb.blogspot.com.br/2010/05/localizacao-e-regionalizacao- da-america.html>. Acesso em: 11 nov. 2015. TÓPICO 1 | LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO 5 2 A CONQUISTA DE REGIÕES NATURAIS COM O COLONIALISMO A condição socioeconômica e comercial em que os europeus estavam inseridos na segunda metade do século XV os estimulou a buscar rotas comerciais que os levassem diretamente às regiões fornecedoras das mercadorias mais procuradas daquela época, às especiarias. Descobrir um caminho pelo mar seria a solução mais viável, já que as rotas que ligavam a Europa ao Extremo Oriente da Ásia já eram dominadas, em sua maioria por árabes. Foi em uma dessas tentativas que Cristóvão Colombo, em 1492, se deparou com terras nunca antes conhecidas da sociedade europeia. Cristóvão Colombo era um navegador genovês, que se baseando na ideia de esfericidade da terra, foi em busca de encontrar a Índia navegando pelo Ocidente, obteve com os reis da Espanha uma frota composta por três navios, com o qual partiu do Porto de Palos, na Espanha, em 3 de agosto de 1492. No dia 12 de outubro atingiu a Ilha Guanaani e voltou para a Europa, assegurado de que havia chegado a terras asiáticas. No entanto, a partir do momento em que o território americano foi revelado ao mundo, iniciou-se o processo de colonização das terras descobertas. A regionalização da América enquantocontinente pode ser feita a partir da consideração de diversos critérios, entretanto, os aspectos geográficos, histórico-culturais e socioculturais são os mais utilizados, os primeiros levam em consideração os aspectos fisiográficos, enquanto o segundo considera a origem dos povos colonizadores, formação sócio-histórica que resultou numa condição socioespacial complexa e peculiar específica da América Latina. 3 A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO CONTINENTE AMERICANO A história dos países que formam a América Latina tem seu início a partir do século XVI com a chegada do elemento branco colonizador europeu. A América Latina e a América Anglo-Saxônica sofreram tipos de ocupações totalmente diferentes pelos colonizadores europeus. Enquanto a América Anglo-Saxônica, formada pelos países Canadá e Estados Unidos, sofreu uma colonização de povoamento, a América Latina sofreu uma colonização predadora de exploração. UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 6 3.1 A COLONIZAÇÃO DE POVOAMENTO O Canadá e os Estados Unidos, situados na porção norte da América, sofreram uma colonização cujos objetivos eram totalmente diferentes dos objetivos europeus na América Latina. A conjuntura política, religiosa, e econômica durante os séculos XVI e XVII fez com que grandes levas de europeus saíssem de seus países de origem e se dirigissem para a América do Norte, com interesses não mercantis ou de exploração, mas sim como pessoas que sonhavam em construir um “novo lar”, ou uma Nova Europa. Os novos colonizadores, ingleses e franceses, que fugiram de situações adversas (políticas, econômicas e ou religiosas existentes em seus países de origem) tomaram posse das terras e as exploraram em benefício próprio, independente do controle e/ou orientações de suas metrópoles. As atividades desenvolvidas pelas colônias do Norte e do Centro, de um conjunto de 13, consistiram basicamente no aprimoramento de suas estruturas básicas, na liberdade para criação das instituições políticas e religiosas, com comércio interno e produção agrícola para autossubsistência. Este modelo de colonização foi aplicado também nas Colônias Britânicas que deram origem a outros países como Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Ressalta-se, porém que as colônias do sul do atual Estados Unidos da América – EUA foram colônias de exploração, apoiadas no tripé: latifúndio, monocultura e escravidão, ou seja, utilizou-se mão de obra escrava negra nas fazendas, cujo, modelo de plantation era idêntico ao praticado nas colônias de exploração espanholas e portuguesas. As populações indígenas foram dizimadas pelos colonizadores da mesma forma como as da América Central e da América do Sul. A abolição da escravatura ocorreu em meio às tensões da Guerra de Secessão, onde as colônias do Norte se tornaram vitoriosas sobre as do sul. 3.2 A COLONIZAÇÃO DE EXPLORAÇÃO A colonização de exploração que se deu no século XVI ao XVIII visava exclusivamente o enriquecimento fácil das metrópoles europeias. Na América Latina as colônias eram organizadas com a única finalidade de atender tais anseios econômicos das metrópoles, aconteceu neste momento, na história da humanidade, que começaram a surgir ao mesmo tempo o sistema capitalista, e a consequente divisão internacional do trabalho, e a questão da dependência econômica. A colonização de exploração determinava que as colônias deveriam ser grandes fornecedoras de produtos primários, minerais ou agrícolas, tais como madeira, açúcar, ouro, prata entre outros, para tal exploração, os europeus escravizavam indígenas e negros africanos com a finalidade de usarem mão de obra escrava, o que remete ao custo de uma mercadoria. TÓPICO 1 | LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO 7 As colônias de exploração organizadas na América Latina a partir do século XVI tornaram-se o grande quintal das metrópoles europeias e ficaram totalmente subordinadas aos interesses do mercado europeu, inseridas numa Divisão Internacional do Trabalho cujos pressupostos basearam-se na desigualdade, traduzidas no Pacto Colonial e no mercantilismo que apenas favoreciam as metrópoles. As atividades desenvolvidas nas colônias, como a agricultura (cultivo de extensas monoculturas de produtos tropicais), o extrativismo mineral e vegetal, a pecuária, tudo visava abastecer o comércio europeu. Os europeus que para a América Latina se encaminharam tinham um único objetivo: enriquecer o mais depressa possível e voltar correndo para suas metrópoles. Por mais de 300 anos essa exploração desenfreada se fez presente em terras latino-americanas com grande evasão de riquezas e a destruição total de diversas culturas. Todos os países latino-americanos carregam hoje consigo profundas marcas desta época de exploração, a qual era baseada num modelo agroexportador cuja organização do espaço era na forma de latifúndios, produzindo monoculturas (ou plantations) com a utilização de mão de obra escrava. Os reflexos desta organização espacial se refletem na atual estrutura fundiária, que continua organizada em grandes propriedades rurais, no cultivo de monoculturas tropicais, utilizando-se de mecanização agrícola, biotecnologias e técnicas de irrigação, com contraste, porém, na utilização de mão de obra especializada e temporária. Durante a fase do capitalismo comercial e necessidade de expandir o seu mercantilismo, vários países europeus foram conquistando várias terras. A partir desse momento, diversas partes do mundo foram submetidas à dinâmica de circulação e de produção que era comandada pela Europa. A Divisão Internacional do Trabalho é a especialização produtiva dos países e das regiões do globo na intensificação das trocas comerciais. Entre o final do século XV e meados do século XVIII, o capitalismo se baseava na distribuição e circulação das mercadorias entre as metrópoles e suas colônias. As diversas regiões do mundo, principalmente a América Latina, passaram a desenvolver funções diferentes, pois cada região passou a especializar-se ou no fornecimento de matéria- prima, metais preciosos e produtos agrícolas (tropicais) e/ou na produção de produtos manufaturados etc. Dessa maneira, a metrópole exportava manufaturas a preços altos e as colônias produziam matéria-prima e exportavam para a metrópole, a preços baixos. Conteúdo estudado na Geografia Econômica. UNI UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 8 3.3 DO COLONIALISMO PORTUGUÊS E ESPANHOL AO IMPERIALISMO BRITÂNICO E ESTADUNIDENSE Apesar da independência política conseguida por muitos países da América Latina durante o século XIX, suas economias continuavam profundamente organizadas e direcionadas a abastecer o mercado europeu. Os melhores solos visavam cultivar produtos de exportação, ficando somente os piores solos para a agricultura de subsistência. As desiguais relações comerciais entre as colônias e as metrópoles se refletem ultimamente em diferentes relações comerciais estabelecidas ao longo do período em que os países latino-americanos conquistaram suas independências políticas, mas não independência econômica. A concentração de terras nas mãos de um pequeno grupo de indivíduos, a dependência do mercado externo, o povoamento a partir do litoral e portos, sem uma articulação e integração para o mercado interno são outras heranças desse período de colonização exploratória. A atual situação econômica apresentada pelos países da América Latina nada mais é que um reflexo do tipo de colonização sofrida por esses países. Mesmo com a independência política, os novos países surgidos continuaram subordinados aos interesses econômicos das grandes potências. Do início do século XVI até o início do século XIX, a maioria quase absoluta dos atuais países latino- americanos estavam sob o domínio espanhol ou português. Com a declaração da independência política ocorre apenas uma transferência de subordinação, pois passam a ficar dependentes economicamenteda Inglaterra, a grande potência mundial durante os séculos XVIII e XIX, desempenhando as mesmas funções na Divisão Internacional do Trabalho. Ao longo do século XIX, a Inglaterra foi ocupando o lugar deixado pelas antigas metrópoles, através do imperialismo, quando estas perderam seus domínios coloniais na América Latina. A Inglaterra passou a ser a grande compradora de produtos minerais e agrícolas dos países latino-americanos, sempre a preços muito baixos e ao mesmo tempo, fornecia para esses países produtos manufaturados a preços altíssimos. Esta Divisão Internacional do Trabalho com domínio econômico que a Inglaterra exercia sobre a América Latina (imperialismo) perdurou até a metade do século XX, quando então a sua participação na Segunda Guerra Mundial fez com que sofresse um enfraquecimento e consequente declínio econômico e militar. Assim os Estados Unidos assumiram o papel de grande líder do continente americano, sedimentando seu domínio imperialista sobre a América Latina. O capitalismo mundial passa por transformações, com a internacionalização do capital e das empresas industriais. As principais indústrias localizadas em países centrais se expandem e instalam filiais em vários países, como Brasil, México, Argentina, Chile, organizando assim uma nova Divisão Internacional do Trabalho. TÓPICO 1 | LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO 9 3.4 CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES LATINO- AMERICANOS E RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA Apesar de os países latino-americanos apresentarem diferenças quanto ao espaço natural, características culturais e grau de desenvolvimento, todos eles possuem em comum a questão do subdesenvolvimento. Essa situação se manifesta claramente na qualidade de vida das populações caracterizada pelas desigualdades sociais e economias frágeis e dependentes. Além destas duas principais características gerais, podem ainda ser elencadas outras características comuns aos países, embora com diferentes níveis, conforme o país. Estas são: • Forte dependência científica e tecnológica em relação aos países desenvolvidos; • Interferência de capital estrangeiro na vida econômica e política do país; • Economias dependentes de empréstimos externos para aquecer o mercado interno, o que resulta na dívida externa; • O alto custo da dívida externa dos latino-americanos faz com que o dinheiro que poderia ser aplicado em melhorias para o bem-estar da população seja destinado ao pagamento da dívida; • Relações comerciais muito desfavoráveis, pois exportam produtos primários e importam produtos industrializados; • Populações vivendo em péssimas condições de vida e que ainda lutam para resolver suas necessidades básicas como alimentação, habitação, educação, assistência médico-hospitalar e abastecimento de água tratada; • Baixa renda per capita, elevadas taxas de natalidade, mortalidade infantil e crescimento vegetativo; • Índices de concentração de renda elevados, que se mantiveram ou aumentam, nos últimos anos, que vêm agravar a pobreza da população; • Crises econômicas, seguidas de períodos de recessão ou retração econômica, o que causa desemprego, falências, agravando a concentração de renda e aumentando a pobreza; • Indicadores sociais contraditórios em relação ao conjunto das condições econômicas. Alguns países, Brasil por exemplo, conseguiram reduzir a porcentagem de pobreza absoluta. Isso quer dizer que, aproveitando os recursos dos períodos favoráveis, como a década de 1990, algumas nações reduziram índices de analfabetismo e mortalidade infantil, mas não conseguiram melhorar a distribuição de renda entre toda a população; Na Unidade 3, haverá uma seção explicando a industrialização tardia dos países emergentes da América Latina. UNI UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 10 • Risco em relação a investimentos estrangeiros altos, o que fez diminuir o fluxo de capital estrangeiro para a América Latina, principalmente entre os anos de 2001 e 2002. Deste modo, os países latino-americanos compartilham um processo histórico de colonização semelhante, e apresentam uma forte dependência de capital externo, em suas relações comerciais e econômicas. Por outro lado, apresentam grandes diferenças quanto ao grau de desenvolvimento econômico e social. Países como o Brasil, a Argentina e o México se destacam na economia latino- americana por apresentarem uma intensa e diversificada atividade industrial, que os projeta a nível mundial, mas mantêm índices elevados de concentração de renda, problemas sociais e atividades ilícitas como o contrabando e tráfico Os países emergentes, de industrialização tardia se inserem numa Divisão Internacional do Trabalho em que, além de produzirem e exportarem produtos primários, as commodities produzem e exportam produtos industrializados, principalmente, produtos de indústrias da Segunda Revolução Industrial, e bens de consumo duráveis e não duráveis. Continuam importando capitais, tecnologias e produtos das indústrias da Terceira Revolução Industrial. Ressalta-se sobre a complexidade desta realidade, pois atualmente, alguns países emergentes também industrializam produtos da Terceira Revolução Industrial, principalmente na área da informática, telecomunicações, energias alternativas, eletrônica, sem conseguirem superar problemas sociais, ou permitirem uma distribuição de renda mais equitativa. Commodities é uma palavra em inglês, é o plural de commodity que significa mercadoria. Esta palavra é usada para descrever produtos de baixo valor agregado. Assim, commodities são artigos de comércio internacional, bens que não sofrem processos de alteração (ou que são pouco diferenciados), como frutas, legumes, cereais e alguns metais. Como seguem um determinado padrão, produzidos em larga escala e comercializados mundialmente, o preço das commodities é negociado na Bolsa de Valores Internacionais, e depende de algumas circunstâncias do mercado, como a oferta e demanda. Muitas vezes a palavra commodities pode ser sinônimo de “matéria-prima”, porque são produtos usados na criação de outros bens. O Brasil é um grande produtor de algumas commodities como café, laranjas, petróleo, alumínio, minério de ferro etc. IMPORTANT E IMPORTANT E TÓPICO 1 | LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO 11 de drogas. Alguns setores da indústria e mesmo do comércio se equiparam e até mesmo superam os países desenvolvidos europeus, embora convivam com setores que mantêm atividades tradicionais. Por outro lado, se existem países de economia forte, a exemplo do Brasil, existem também países primários de fraquíssima industrialização e que vivem quase exclusivamente da produção e exportação de commodities agrícolas. Assim, essas diferenças econômicas e sociais se manifestam dentro de um mesmo país, em cujas cidades podemos encontrar riqueza e pobreza vivendo lado a lado. Uma minoria da população gozando de todos os prazeres que o dinheiro e a tecnologia podem oferecer convive com a grande massa populacional que muitas vezes não tem o que comer. As conexões e intercâmbios entre os países capitalistas subdesenvolvidos e desenvolvidos se inserem numa relação capitalista desigual recebem a denominação de centro-periferia. Os países capitalistas subdesenvolvidos são popularmente chamados países capitalistas periféricos ou da periferia por desempenharem um papel de fornecedores de insumos como matérias-primas, de energia, de lucros, de royalties para os países capitalistas desenvolvidos, que compõem uma centralidade e polarização capitalista, por serem países centrais ou avançados. Deste modo, o sistema capitalista possui estes dois setores, (centro e periferia), onde a palavra sistema significa um conjunto de atividades articuladas, complementares e articuladas entre si, na relação centro- periferia. Os países capitalistas de industrialização clássica, desenvolvidos, ocupam o centro, por assimilar o desenvolvimento técnico em seus estágios mais avançados, possuindoestruturas diversificadas e integradas, especializadas em tecnologias de ponta, em conhecimento científico altamente avançado e hiperespecializado. Os países capitalistas centrais, representados principalmente pelo grupo de países que compõem o G7 e organismos supranacionais (Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial) por vezes liderados pelos Estados Unidos, dominam todo o sistema capitalista, em virtude do seu poderio econômico, financeiro, científico tecnológico e militar. Desse modo os países capitalistas subdesenvolvidos, também denominados países periféricos ocupam a periferia do sistema, ou seja, a sua extremidade e são dominados ou giram ao redor dos países centrais. Isso quer dizer que os países capitalistas subdesenvolvidos estão numa posição de dependência e subordinação dentro do sistema capitalista, na condição de fornecedores de matérias-primas, de mercados consumidores, de mão de obra barata, com pequeno poder de decisão nas questões econômicas e políticas mundiais e não se beneficiam da riqueza. Importante ressaltar que existem países desenvolvidos que se situam numa periferia privilegiada do sistema capitalista, como por exemplo, a Austrália e Nova Zelândia, pois estes são considerados desenvolvidos. UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 12 FIGURA 2 – FLUXOS ENTRE CENTRO, SEMIPERIFERIA E PERIFERIA FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/guest87c201/globalizao-1416732>. Acesso em: 10 nov. 2015. 13 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você viu que: • O continente americano é dividido em América do Sul, América Central e América do Norte, considerando a localização geográfica na superfície terrestre decorrente da evolução e transformação geológica das terras e massas. • O continente americano é dividido em América Latina e América Anglo- Saxônica considerando num primeiro momento o tipo de colonização implantado e povos colonizadores e num segundo momento as condições socioeconômicas que diferenciam os dois conjuntos. • A América Latina compreende um conjunto de 36 países, sendo eles o México, da América do Norte, os países da América Central e os da América do Sul. • Na América Latina, portugueses e espanhóis implantaram a colonização de exploração, cujos objetivos eram explorar ao máximo as riquezas naturais destas terras e retornar para Portugal e Espanha. • A colonização de exploração foi incentivada e batizada pelas metrópoles através do pacto colonial, orientado pelo mercantilismo. • O tripé que sustentou a colonização de exploração implantada pelos colonizadores era apoiado na apropriação de enormes extensões de terras em nome das coroas portuguesas e espanhola, na monocultura de produtos tropicais, e na utilização de mão de obra escrava (inicialmente dos nativos e posteriormente dos negros africanos). • Plantation era a denominação dada pelos espanhóis para a modalidade agrícola desenvolvida em suas colônias baseada no latifúndio, monocultura para exportação e utilização da mão de obra escrava. • A 1ª Divisão Internacional do Trabalho, que é a especialização das regiões e países para produção para o mercado internacional constitui na relação Colônia – Metrópole. Colônias de exploração produzindo e exportando para a Metrópole, matérias-primas (agrícolas e minerais) a preços baixos, e comprando, importando produtos manufaturados a preços altos. • Com a independência política dos países latino-americanos no decorrer do século XIX, estes deixaram de ser subordinados às metrópoles Portugal e Espanha, e passaram a ser área de influência da Grã-Bretanha, especificamente da Inglaterra. Sua condição socioeconômica de dependência econômica e disparidades sociais existentes desde o período colonial se perpetuou. 14 • A influência da Inglaterra, (principal potência econômica do século XIX), ocorreu através do imperialismo, uma prática com exercício de supremacia e hegemonia, com interferência e controle, às vezes mais direto e ousado, outras vezes mais sutil e mascarado nos países latino-americanos recém- independentes através de empréstimos de capitais e tecnologias, presença de empresas, bancos, construção de infraestrutura e apoio a governantes simpáticos às suas ações. • No decorrer do século XX, o imperialismo britânico foi substituído pelo estadunidense, visto que Reino Unido da Grã-Bretanha (da qual a Inglaterra faz parte) saiu enfraquecida das Guerras Mundiais enquanto Estados Unidos se fortaleceram. • Dentre as características comuns aos países latino-americanos destacam-se a desigualdade social e a dependência econômica. Citam-se ainda, a dependência de capitais e tecnologias estrangeiros, os quais geram dívidas externas, cujos juros exigem das economias endividadas, políticas que priorizem os interesses do capital e dos organismos supranacionais (Fundo Monetário Internacional e Banco mundial), em detrimento de políticas públicas de cunho social nas áreas da educação, saúde, segurança, moradia e outras. Apesar das melhorias em alguns países, principalmente no conjunto dos que fazem parte do BRICS (Brasil e México), persistem índices de concentração de renda elevados. Parcela significativa da população latina continua vivendo sem ter atendidas suas necessidades básicas. 15 AUTOATIVIDADE Leia o texto e responda: Na América Latina prevaleceu a colonização cuja característica principal foi a exploração do trabalho indígena e do escravo negro, trazido da África. Já na América Anglo-Saxônica, o tipo de colonização privilegiou o trabalho familiar livre e assalariado. a) Que tipo de colonização ocorreu na América Latina? E na América Anglo- Saxônica? b) Quais países europeus colonizaram, predominantemente, cada porção da América? c) Que línguas predominaram como oficiais nos países americanos, devido à colonização? 16 17 TÓPICO 2 AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Estudar a diversidade das Américas é um grande desafio para a geografia. Dependendo dos objetivos do geógrafo, ou do professor de geografia escolar poder-se-á adotar diferentes critérios que permitirão dividir o continente de diferentes maneiras, separando a América conforme as semelhanças e diferenças geográficas existentes no seu território. Cada região possui características diferentes das demais regiões, por isso são separadas. Existem diferentes formas de dividir a América em regiões. Três divisões regionais são as mais conhecidas e utilizadas pelos estudiosos: Física ou Geográfica, Socioeconômica e Histórico- cultural. Os países que compõem a América Latina formam uma “grande família”, que vai desde o México na América do Norte, passa pela América Central e termina no Extremo Sul da América do Sul. Para facilitar seu estudo, vamos dividi-la inicialmente, observando critérios de localização geográfica, onde se destacam elementos físicos: América Platina, países ligados à bacia Platina: Paraguai, Argentina e Uruguai; a América Andina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela; América Central, abrange o trecho do Istmo e as Antilhas, Guianas, México e Brasil. 2 APONTAMENTOS SOBRE OS ELEMENTOS FÍSICOS DENTRO DO CONTEXTO DE UMA DIVISÃO REGIONAL GEOGRÁFICA - FÍSICA A regionalização geográfica e física divide o continente americano conforme as características naturais considerando o formato do continente. O formato do continente americano e seus subcontinentes são resultado do tempo geológico. Se observarmos a América, temos duas grandes porções de terras na América do Norte e América do Sul, interligadas por uma terceira porção estreita de terra na (ou da) América Central. Outro aspecto interessante dessa divisão é que cada uma das três regiões está sobre uma placa tectônica diferente, como mostra o mapa a seguir: UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 18 FIGURA 3 – MAPA IDENTIFICANDO AS PLACAS TECTÔNICAS DO MUNDO E O CONTINENTEAMERICANO FONTE: Disponível em: <www.curso-objetivo.br>. Acesso em: 10 nov. 2015. 2.1 A TECTÔNICA DE PLACAS NA AMÉRICA LATINA E RELEVO Se por um lado a regionalização do ponto de vista geográfico ou físico é uma das mais utilizadas e conhecidas, o processo geológico responsável pela sua fisionomia é um tanto desconhecido ou, pouco estudado na geografia escolar. Alguns elementos geológicos, principalmente os localizados nas bordas das placas tectônicas são responsáveis por eventos sísmicos e vulcânicos, que dependendo da localização, modelam e orientam a relação sociedade-espaço, resultando num ordenamento socioespacial que se adaptou a estes eventos geológicos, como se observa no Chile. Os sismos, quando ocorrem em áreas de maior vulnerabilidade, como foi o caso do Haiti, em 2010, poderá causar desastres socionaturais dependendo da vulnerabilidade de suas populações, exigindo dos governantes políticas públicas para mitigar possíveis catástrofes. A América do Sul é a área que se estende do sul do istmo do Panamá ao cabo Horn, perfazendo sete mil quilômetros de extensão norte e sul e apresentando um formato triangular, suas terras atingem a maior largura na altura do Equador e se afunilam em direção ao sul do continente americano, onde terminam nos mares austrais. Atravessado pela linha do Equador ao norte do Brasil e do Equador no sul da Colômbia. A América do Sul tem uma área de 17 815 000 Km² dos quais cerca de três quartos estão localizados na zona intertropical, ou seja, entre os trópicos de Câncer e Capricórnio. TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA 19 A América Latina é uma extensão territorial de grande diversidade geográfica, contando com extensas e elevadas cadeias montanhosas, cujos picos elevados são cobertos de neve e geleiras, (onde podem se localizar vulcões ativos e inativos), extensas planícies, vales, depressões e outras formas de relevo. FONTE: Disponível em: <https://c1.staticflickr.com/5/4092/5028508397_ff95487186_b.jpg> e <http://www.wikiwand.com/es/Suri_(alpaca)>. Acesso em: 10 nov. 2015. FIGURA 4 – ALTIPLANOS COLOMBIANOS E PERUANOS Devido à sua extensão latitudinal, possui ampla variedade de climas, e alguns dos rios mais extensos do planeta, lagos, salinas, pântanos, cujas extensões são cobertas por diferentes biomas. Seu litoral apresenta-se irregular, destacando- se três grupos costeiros: o do Pacífico, do Atlântico, e do Caribe. As reentrâncias possuem praias arenosas, recifes coralinos e mangues, todos em diferentes estados de conservação. UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 20 FIGURA 5 – LOCALIZAÇÃO DE LAGOS NA CORDILHEIRA DOS ANDES, ARGENTINA PRÓXIMO À FRONTEIRA CHILENA FONTE: Disponível em: <http://www.villadeayora.com/blog/travel-and-adventure-in-la- angostura-neuquen/>. Acesso em: 10 nov. 2015. A geografia física da América Latina e do Caribe é muito complexa. A vertente do lado Pacífico está delineada pelas serras centro-americanas e mexicanas e pela grande extensão montanhosa na América do Sul, a Cordilheira dos Andes, onde também se destacam áreas planas, os platôs, intercalados com altiplanos da Bolívia, as terras altas do Peru, altiplanos na Colômbia, vales e planícies pouco extensas na América Central e México. TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA 21 FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2007/07/america- central.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2015. Na área marítima leste entre as Américas do Sul e do Norte, se formou um conjunto insular em forma de arco, as grandes e pequenas Antilhas do Caribe. Observe no mapa a disposição das Grandes e Pequenas Antilhas. FIGURA 6 – MAPA: AMÉRICA CENTRAL, ISTMO E ANTILHAS O arquipélago das Bahamas é uma exceção do ponto de vista geomorfológico, pois este se formou a partir da acumulação de corais. Os recifes de corais em franja são formações simples e próximas aos continentes ou a ilhas. Este é o tipo mais comum de recife. Diversas formações em franja ocorrem no Caribe, próximo à Florida e às Bahamas. No passado geológico, em condições favoráveis, os recifes de corais transformaram-se nas ilhas que constituem o arquipélago das Bahamas. A formação dos recifes de corais deve ser entendida na extensão do tempo geológico: há 500 milhões de anos, minúsculos animais sem esqueleto e flutuantes, associaram-se a algas microscópicas e fixaram-se às rochas, formando colônias. Estes animais coloniais não são mais do que os corais e a concentração destas colônias dão origem a áreas naturais IMPORTANT E UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 22 FIGURA 7 – MAPA ILHAS DAS BAHAMAS FONTE: Disponível em: <http://www.atozmapsdata.com/zoomify.asp?name=Country/ Modern/Z_Bahama_Phys>. Acesso em: 10 nov. 2015. inigualáveis, pela sua cor, beleza, forma e grande variedade de vida – os recifes de coral. Os recifes de coral, verdadeiros oásis de vida marinha, são dos mais produtivos ecossistemas do planeta. Fruto de longas histórias evolutivas, estes sistemas são extremamente frágeis e susceptíveis à perturbação natural e humana. As viagens dos portugueses, no período dos descobrimentos, proporcionaram a descoberta dos recifes de coral no oceano Índico. No Atlântico, a viagem de Colombo, em 1492, permitiu a descoberta das Bahamas e de Cuba, onde se encontram recifes de coral típicos. Em anos seguintes, ainda antes do fim do século XV, novas descobertas vieram enriquecer os conhecimentos dos europeus referente às ilhas do Caribe. FONTE: RIBEIRO, Susana. Disponível em: <http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambiente/ Sistemas-Aquaticos/content/Recifes--de-Coral-sua-iistoria-e-Evolucao?bl1-vvieaall- true>. Acesso em: 30 out. 2015. TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA 23 A extensa vertente sul-americana do oceano Atlântico se localiza numa estrutura geológica mais estável, se comparada à placa tectônica onde se localiza o México, e a placa Caribenha, onde se localiza a América Central e ilhas do Caribe. De modo geral, o interior da placa tectônica sul-americana, onde se localiza o continente sul-americano é estável, possuindo poucas falhas geológicas ativas, porém são registradas atividades sísmicas e vulcânicas em suas bordas, tanto no Oceano Atlântico, como no oceano Pacífico, próximo da costa oeste do continente. O processo tectônico que ocorre entre os limites da placa sul- americana e africana, é divergente, ou seja, as placas estão formando em suas bordas, no assoalho oceânico, cristas em expansão ou margens construtivas. O magma aflorou e ainda pode aflorar próximo da superfície causando afastamento das placas, e formando uma dorsal submarina. Por vezes estes movimentos são sentidos no litoral brasileiro. Já na borda oeste da placa tectônica sul-americana, no encontro com a placa de Nazca, o processo tectônico é muito diferente, pois é um limite convergente, ou seja, as placas colidem, e a placa de Nazca submerge e mergulha por debaixo da sul-americana, retornando à astenosfera ou manto superior, se liquefazendo. No decorrer do tempo geológico, entre o final da era mesozoica e no início da era cenozoica as transformações e pressão interna dos materiais decorrentes destes processos de subducção, formaram a Cordilheira dos Andes, considerados na estrutura geológica Dobramentos Modernos. No Oceano Pacífico, próximo do litoral oeste da América do Sul, principalmente litoral chileno e peruano, a convergência crosta oceânica – crosta continental formou a fossa submarina abissal. Este processo geológico de subducção é responsável pela atividade vulcânica que ocorre de tempos em tempos nos vulcões ativos que se localizam na Cordilheira dos Andes, e atividades sísmicas que tanto em terras continentais como no fundo do Oceano Pacífico, a exemplo dos terremotos seguidos de tsunamis que afetaram principalmente o Chile. (ALMEIDA, 2005b). A título de curiosidade,em 2010 o mundo foi surpreendido por três grandes terremotos: o do iaiti, de magnitude 7, em 12 de janeiro, o do Chile, de magnitude 8,8, em 27 de fevereiro, e o do México, de magnitude 7,2, em 4 de abril. UNI UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 24 A América Central, formada por uma parte continental, denominada de ístmica, e Grandes e Pequenas Antilhas, localiza-se sob a placa Caribenha ou do Caribe. Esta placa constitui o fundo do mar do Caribe, faz fronteira com as placas norte-americana, sul-americana, Nazca e com a placa de Cocos. Estas fronteiras são regiões de intensa atividade sísmica, incluindo terremotos, tsunamis, ocasionais e erupções vulcânicas. FONTE: By Alataristarion [CC BY-SA 4.0 (<http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0>)], via Wikimedia Commons disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tectonic_plates_ boundaries_detailed-en.svg>. Acesso em: 10 nov. 2015. Diferente da placa sul-americana, a do Caribe possui várias falhas geológicas ativas ou instáveis (exemplo, falha de Motagua na Guatemala, das ilhas Swan em Honduras, túmulo de Cayman, elevação divergente no fundo do mar do Caribe, próximo de Cuba, o Trench de Puerto Rico, uma trincheira marinha localizada na fronteira submarina entre o mar do Caribe e oceano atlântico, sistema de falhas Setentrional e, Enrillo-Plaintain Garden, na ilha de Hispaniola onde se localiza o Haiti e a República dominicana. O terremoto de 2010 no Haiti foi excepcional, porque a falha geológica do sistema Enriquillo- Plaintain localizada ao sul se movimentou, cujo limite entre a placa do Caribe e a da América do Norte é próximo e a falha está praticamente dentro da cidade de Porto Príncipe, de população elevada e construções não preparadas para FIGURA 8 – MAPA PLACA TECTÔNICA DO CARIBE OU CARIBENHA E SUAS FRONTEIRAS TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA 25 FONTE: Disponível em: <https://geoazur.oca.eu/spip.php?rubrique424>. Acesso em: 14 nov. 2015. suportar grandes vibrações (LIMA, 2010). No Haiti, a parte da falha que se deslocou causando o terremoto, tinha aproximadamente 50 km de comprimento. (LIMA, 2010). FIGURA 9 – MAPA: FALHA ENRIPQILLO-PLAINTAIN GARDEN, SUL DO HAITI Caro(a) acadêmico(a), é importante acompanhar diferentes informações sobre o mesmo fenômeno geográfico. Leia notícia divulgada em outubro de 2010, no G1, disponível em: <http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2010/10/dados-de-satelite- indicam-verdadeira-causa-do-terremoto-no-haiti.html>. Segundo a notícia, o terremoto de magnitude 7 que matou cerca de 200 mil haitianos no início de 2010, pode não ter sido causado especificamente pelo deslocamento na falha geológica de Enriquillo-Plantain Garden, como os cientistas imaginavam e explicada no parágrafo anterior. Segundo a notícia, cientistas norte-americanos, baseados em imagens de satélite do período em que ocorreram os tremores de janeiro de 2010, apresentaram como provável “verdadeira” causa um colapso de múltiplas falhas, sendo que uma delas, mais profunda, nem é conhecida pelos geólogos. As conclusões foram publicadas no site da revista especializada “Nature Geoscience”. A falha de Enriquillo é a “fronteira” entre a placa tectônica do Caribe e a placa Norte-Americana. UNI UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 26 2.2 BACIAS HIDROGRÁFICAS De maneira geral, a formação do relevo da América Latina é o resultado de processos geológicos e ação erosiva, decorrentes dos processos externos do intemperismo. Destacam-se ao norte a Serra Madre Ocidental e o Planalto Mexicano, a oeste a Cordilheira dos Andes, a Leste o Planalto Brasileiro, no norte da América do Sul, o Planalto das Guianas e nas áreas centrais do continente a planície de Orenoco, planície Amazônica e planície Platina. As diferentes formas de relevo e localização das vertentes das bacias hidrográficas orientam por sua vez a distribuição e drenagem dos cursos dos rios das vias fluviais. Relevo e hidrografia estão amplamente integrados. Em relação à distribuição das bacias hidrográficas, as principais são: Bacia do Orenoco, Bacia Amazônica, Bacia Platina, bacias secundárias da vertente do Atlântico, como por exemplo, a Bacia Amazônica, como mostra a figura a seguir. Leia também apenas a título de curiosidade estes dois textos, dos links a seguir, que relacionam as causas do terremoto do iaiti a outras causas. Imagino que você, caro(a) acadêmico(a), tenha ficado perplexo e surpreso! No entanto, ressaltamos que podemos encontrar muitas informações equivocadas na internet, assim cabe lembrar que o conhecimento científico deve sempre respaldar nossas práticas pedagógicas. <https://franciscofalconi.aordpress.com/2010/02/03/militares-russos-acusam-eua-de- causar-terremoto-no-haiti/> <http://aaa.tecmundo.com.br/tecnologia-militar/8018-haarp-o-projeto-militar-dos-eua- que-pode-ser-uma-arma-geofisica.htm> DICAS TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA 27 FIGURA 10 – EXTENSÃO DA BACIA AMAZÔNICA FONTE: Disponível em: <www2.ana.gov.br>. Acesso em: 10 nov. 2015. Os limites entre as bacias hidrográficas encontram-se nas partes mais altas do relevo e são denominados divisores de água, pois separam as águas de diferentes bacias. A topografia do terreno é responsável pela drenagem da água da precipitação pluviométrica, a chuva, para esse curso de água. A superfície da Terra é drenada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. Entre as bacias hidrográficas encontram-se as partes mais altas do relevo que são os divisores de águas, uma vez que separam as águas de bacias. Entre o divisor de água e o rio principal está o declive, por onde correm as águas dos afluentes está a vertente. Deste modo, as águas são depositadas no leito do rio que em época de cheia pode transbordar para as margens baixas e planas que o acompanham e que constituem as várzeas. Como por exemplo, a Bacia Amazônica. O rio Amazonas atravessa uma área plana e pouco profunda, o rio é largo e apresenta um elevado volume de água. Essas são características também dos trechos de seus afluentes. Observe o mapa do relevo da América do Sul, e principais bacias hidrográficas (o mapa colorido pode ser observado no arquivo em PDF deste Caderno de Estudos). Observe que os principais rios desaguam no oceano Atlântico, em função da disposição do relevo. As cidades localizadas nos altiplanos da Cordilheira dos Andes e as localizadas no litoral do oceano Pacífico, utilizam os poucos rios da vertente do Pacífico para abastecimento de água como para produção de eletricidade. Para complementar suas necessidades hídricas muitos países e cidades dependem das geleiras. UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 28 FIGURA 11 – MAPA DO RELEVO DA AMÉRICA DO SUL FONTE: Disponível em: <websites.listas.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015. Sobre as geleiras, seu derretimento e desaparecimento e problemas para abastecimento de água em cidades como La Paz, Sucre e Lima, veja texto sobre vulnerabilidade. ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA 29 A Cordilheira dos Andes constitui-se num dos cinturões orogenéticos mais ricos do mundo, por suas reservas de hidrocarbonetos e minas metalíferas. 95% das reservas de petróleo e gás natural da América Latina e Caribe se encontram nas bacias andinas que vão desde a costa caribenha até o sul da Venezuela e passando pelo leste da Colômbia, Equador e norte do Peru. (PNUMA; CATHALAC, 2010). 2.3 CLIMAS E VEGETAÇÕES Na extensão territorial da América Latina que se situa na zona intertropical, predominaram climas quentes e úmidos, com exceção das terras de altitude do Equador, Bolívia e Peru, onde os climas apresentam baixas temperaturas e poucas chuvas. Já as terras localizadas nas áreas temperadas, ao sul do trópico de Capricórnio, possuemclimas mesotérmicos, temperados ou subtropicais, com chuvas bem distribuídas durante o ano, a exemplo da região Sul do Brasil. No extremo sul da Argentina e do Chile, bem como nas áreas montanhosas dos Andes, os climas são mais rigorosos, uma vez que dois fatores climáticos (altas latitudes e altitudes) atuam em conjunto, mantendo temperaturas baixas, com ocorrência de neve e ausência de chuvas. O norte do México que se localiza ao norte do trópico de Câncer, o clima apresenta temperaturas mais amenas oscilando entre climas secos e semiúmidos em função do relevo (altitude) e fatores de continentalidade e maritimidade. Destacam-se as principais paisagens vegetais: Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Pampa ou Estepes e desertos do México, Atacama e Patagônia. Na América do Sul suas principais planícies centrais são a Amazônica e Platina, são pouco povoadas e nelas se destacam a pesca, o extrativismo e a pecuária. Sobre a vegetação poucas áreas do continente americano apresentam vegetação original ou primitiva que não tenham sofrido interferência humana. A vegetação original é importante pois ela é interdependente de outros elementos da natureza, como o relevo, a hidrografia, o clima e o solo. Isso quer dizer que a derrubada das florestas, e construção de ferrovias, rodovias, e hidrelétricas para extrair os recursos das florestas ou expandir cidades, provoca modificações nos outros elementos naturais. Observe a figura a seguir do cerrado brasileiro e para elencar elementos geográficos naturais deste bioma. UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 30 FIGURA 12 – CERRADO BRASILEIRO FONTE: Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015. Nas regiões de clima tropical semiúmido, com uma estação chuvosa e outra seca, ocorrem formações vegetais que apresentam campos com arbustos, plantas rasteiras e árvores esparsas de troncos retorcidos e casca grossa. É a savana que recebe os nomes de cerrado no Brasil e lhanos na Venezuela. As florestas pluviais são formações vegetais típicas das regiões do continente americano localizadas em baixas latitudes. O calor constante e a forte umidade são fatores fundamentais para a existência de uma grande diversidade de espécies vegetais tanto nas Florestas Tropicais quanto nas Equatoriais. Outro importante fator para o desenvolvimento da vegetação é o solo, os solos de algumas florestas pluviais são pouco férteis, mas em sua parte superior apresentam uma camada muito rica de material orgânico conhecida como Húmus, esse é formado pela própria floresta, como folhas, galhos e micro- organismos. As Florestas Pluviais são chamadas também de Latifoliadas porque apresentam folhas grandes e largas, permanecem sempre verdes e exuberantes graças à intensa umidade da atmosfera. As raízes são superficiais e os troncos costumam ser largos perto da base, de modo que fornecem fixação ampla e firme. Há numerosas trepadeiras lenhosas, cipós e epífitas, plantas que usam tronco das árvores como superfície de apoio. As epífitas podem obter água e minerais diretamente do ar úmido da folhagem. Muitas possuem as folhas em forma de taça que capturam a umidade e restos orgânicos, algumas possuem raízes esponjosas. Certas epífitas absorvem nutrientes de organismos em decomposição nesses reservatórios. Muitos tipos TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA 31 FONTE: Disponível em: <http://meioambiente.culturamix.com/ecologia/flora/floresta-tropical- pluvial>. Acesso em: 10 nov. 2015. de plantas como samambaias, orquídeas, musgos e líquens, exploram esse tipo de vida. Nas figuras a seguir é possível observar a localização das florestas pluviais e o tipo de vegetação. FIGURA 13 – LOCALIZAÇÃO E UM DOS TIPOS DA FLORESTA PLUVIAL A pradaria é formada basicamente por gramíneas, podendo ocorrer alguns arbustos, é uma vegetação típica do clima temperado continental, que se caracterizam por verões quentes, invernos frios e baixa pluviosidade. No Brasil a pradaria recebe o nome campos, que ocorrem em sua maioria no estado do Rio Grande do Sul, mas também pode ser encontrado como manchas menores em outros estados. As áreas de pradarias foram muito utilizadas para a pecuária, o que causou intensa devastação desse tipo de vegetação e desgaste dos solos. Nessas áreas desgastadas predomina o cultivo de grãos, sobretudo, soja, milho e trigo. Os estepes, outro tipo de vegetação da América Latina ocorre nas áreas de clima semiárido do continente, onde as temperaturas são elevadas e as chuvas escassas e mal distribuídas, como no México e na Argentina, a estepe é uma vegetação rasteira dominada por pequenas plantas. No Brasil encontra-se no Nordeste e recebe o nome de caatinga apresentando pequenas árvores, arbustos espinhosos e cactos. Já os desertos são áreas marcadas por intensa aridez, isto é, por pouca ocorrência de chuva. Na América, eles ocorrem no noroeste do México, na costa do Peru, no norte do Chile e no sul da Argentina. As plantas existentes nas áreas desérticas do continente americano são espinhosas ou com pequenas folhas e possuem raízes profundas capazes de retirar água do subsolo, como mostra a figura a seguir. UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 32 FIGURA 14 – VEGETAÇÃO DE ESTEPES E PRADARIAS E O DESERTO DO ATACAMA FONTE: Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015. Importante salientar que uma regionalização da América Latina do ponto vista físico é apenas uma possibilidade metodológica simples para estudar e analisar processos e elementos naturais, porém, talvez não indicada. As tendências da ciência contemporânea e da geografia, apontam para análises socioespaciais, pois mesmo que os fenômenos sejam naturais, estes de alguma forma, direta ou indiretamente estão na interface da relação sociedade - natureza. Sugestão de leitura: A expansão dos Desertos. Eaan Mcleish. São Paulo: Scipione, 1992. O livro caracteriza o deserto e expõe os problemas ambientais que o faz expandir-se pelo mundo. DICAS 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • Devido sua extensão e dificuldades para abarcar toda a complexidade e peculiaridade da América Latina, é possível utilizar a regionalização como metodologia para estudo e pesquisa. Assim, dependendo do objetivo do professor, ou dos autores de livros didáticos e pesquisadores, existem diferentes regionalizações do espaço geográfico latino-americano. O importante, é sempre deixar claro aos seus leitores e alunos, quais os critérios utilizados para a regionalização. • Do ponto de vista geográfico ou físico os países da América Latina podem ser agrupados em América Platina, América Andina, Guianas, Brasil, América Central ístmica, Antilhas (Grandes e Pequenas) e México. • Agrupamento de países latinos observando o formato do continente, resultado do processo geológico e disposição das placas tectônicas. Cada porção geográfica do continente da América (do Norte, Central e do Sul) se localiza sobre uma placa tectônica diferente. • A placa tectônica sul-americana sobre a qual se localiza a América do Sul é relativamente estável, sendo que suas atividades sísmicas mais intensas ocorrem nas bordas, no fundo do Oceano Atlântico e Cordilheira dos Andes e litoral do oceano Pacífico. • Na placa tectônica caribenha se localizam o istmo da América Central e as Antilhas. Explicando de forma simples, esta placa possui em sua extensão inúmeras falhas geológicas, como se fossem fissuras, que trabalham muito lentamente, acumulando energia, e de forma abrupta pode ocorrer sua liberação. • A Placa Caribenha, cujas bordas fazem fronteira com as placas sul-americana, norte-americana, Atlântica, de Cocos, Nazca, apresentaram no passado geológico, intensa atividade sísmica e vulcânica, continuam de certa forma instáveis sujeitas a processos tectônicos na atualidade. • A vertente do oceanoPacífico é pouco extensa, porém com declividade acentuada. Seus rios são pouco extensos, possuem, no entanto, corredeiras e cachoeiras, aproveitados pelos países andinos para geração de eletricidade. Alguns são intermitentes, pois dependem da formação e derretimento de neve nos picos da Cordilheira. 34 • A vertente do oceano Atlântico é a mais extensa, com formas variadas de relevo, e rios extensos e volumosos, tanto de planície e de planalto, com grande potencial hidrelétrico, e possibilidade de navegação. • A extensão latitudinal da América Latina (cujas terras se estendem desde latitudes médias, próximas do Trópico de Câncer no hemisfério norte, até o extremo sul próximo do Círculo Polar Ártico), disposição do relevo, altitudes, maritimidade e continentalidade, atuação das massas de ar são os principais fatores responsáveis pela variedade climática e diversidade de espécies vegetais e animais que formam os biomas latino-americanos. • Do ponto de vista geomorfológico a maior parte das Grandes e Pequenas ilhas da América Central, conhecida por Caribe, é de formação geológica vulcânica muito antiga. O arquipélago que constitui as Bahamas, é de formação orgânica, ou seja, de origem coralígena. • As principais bacias hidrográficas do norte para o sul são: rio Grande, na divisa do México com os Estados Unidos, rio Orinoco, na divisa da Venezuela com Colômbia, rio Amazonas, cujas nascentes se localizam no Peru, e afluentes do curso superior descem das terras altas da Bolívia, Equador e Colômbia, e demais afluentes drenam uma grande extensão do território brasileiro, rios da bacia do Prata no cone sul da América do Sul e rio São Francisco no nordeste brasileiro. • Os rios das bacias principais como os das bacias secundárias, são amplamente explorados ou utilizados pelas sociedades, para abastecimento, geração de energia e/ou navegação, são ao mesmo tempo elementos geográficos importantes para a manutenção, conservação e preservação do equilíbrio ecológico dos biomas e ecossistemas de seus entornos. 35 AUTOATIVIDADE 1 A partir das características apresentadas sobre o relevo, o clima, a hidrografia da América Latina, apresente como você observa e caracteriza a cidade onde você mora, como está disposto o clima da sua região, procure por um mapa do relevo da sua cidade e observe como este está disposto, se é possível identificar alguma bacia hidrográfica, ou rios. Descreva as suas observações, apresente mapas, imagens, gráficos, entre outros. Relacione as suas observações com as características apresentadas sobre a América Latina, apresente os pontos em comum, como a sua cidade faz parte da América do Sul. 2 Os aspectos naturais de uma região são consequências da interação de diversos fatores como o clima, solo, vegetação, relevo, entre outros. A sociedade humana também interfere e usufrui deste ambiente. Diante do assunto, sobre os aspectos físicos da América Latina, analise as sentenças: I – Os principais rios da América do Sul desaguam no Oceano Atlântico, pois o relevo auxilia para tal orientação. II – A cordilheira dos Andes destaca-se na paisagem da América do Sul devido sua altitude, além disso, apresenta reserva de importantes minerais. III – Na América do Sul predominam diversos biomas, apresentando na paisagem desde florestas pluviais até desertos. IV – Os rios andinos são os mais importantes da América do Sul, pois são extensos e volumosos. V – A América Latina não sofre com terremotos ou sismos, pois encontra-se totalmente acima de uma placa tectônica. Assinale a alternativa CORRETA: ( ) As sentenças I, II e V estão corretas. ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. ( ) As sentenças II, III e V estão corretas. 36 37 TÓPICO 3 APONTAMENTOS E CARACTERÍSTICAS SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HISTÓRICO-CULTURAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Estudar a América a partir das características históricas, especialmente as relacionadas à formação da população dos países americanos poderá ser uma opção metodológica alternativa diante da complexidade e peculiaridades deste grande conjunto que é a América Latina. Marcada pela miscigenação, a origem da atual população americana se encontra na mistura ocorrida entre os povos indígenas com europeus, africanos e asiáticos. Esse processo não se resume aos aspectos físicos da população como cor da pele e dos olhos, mas a cultura dos povos. Nosso continente se formou através da mistura entre as inúmeras culturas que aqui se encontraram. Porém, essa mistura não ocorreu de forma uniforme. Em cada região temos o predomínio de características populacionais e culturais diferentes das demais. A partir disso, dividimos a América em sete principais regiões culturais: América Anglo-Saxônica, Região Centro-americana, Antilhas, Guianas, América Andina, América Platina e América Portuguesa. 38 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL FIGURA 15 – MAPA: REGIÕES HISTÓRICO-CULTURAIS DO CONTINENTE AMERICANO FONTE: Disponível em: <http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/ america_regioes_culturais.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2015. 2 O POVOAMENTO PRÉ-COLOMBIANO A teoria mais aceita para o povoamento da América Latina indica que grupos de caçadores vindos da Ásia pelo Estreito de Bering, ocupando terras da América do Norte, com o tempo deslocaram-se para terras da América Central e América do Sul, onde passaram a ocupar essas terras muito antes dos europeus TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 39 chegarem aqui. Um dos indícios que dão base a essa tese são os sambaquis, sítios arqueológicos formados por depósitos de conchas de mariscos, carcaças de crustáceos e ossos de peixes. Encontram-se principalmente na costa do Atlântico, mas existem também na do Pacífico. Esses indícios de que o feijão, a abóbora, e o algodão já eram cultivados no litoral do Pacífico datam por volta de 9000 a.C. Mas foi só por volta de 4000 a. C. que os indígenas deixaram o nomadismo constante em busca de alimentos. Sua sedentarização deve-se ao desenvolvimento das técnicas de cultivo e armazenamento do milho que gerou estoques alimentares para a população. Na América Latina, desenvolveram-se sofisticadas civilizações notadamente nos Andes. A civilização maia pode ter se fixado na região onde hoje se localiza o México e os países da América Central da Península de Yucatan por volta de 1500 a.C. onde se fixaram e desenvolveram importante civilização. Outra civilização ocupou as atuais terras mexicanas, onde desenvolveram sua cultura, estendia-se pelo vale do México, o litoral do Golfo do México e do Pacífico, e parte da Guatemala. No seu apogeu a civilização Inca dominou toda a região dos Andes, territórios que hoje fazem parte da Colômbia, do Equador, do Peru, da Bolívia, do Chile e da Argentina. Esse vasto império abrigava mais de 10 milhões de pessoas. Os Incas construíram uma grande rede de estradas na qual circulavam continuamente mensageiros levando notícias e carregadores transportando mercadorias. Apesar de só andarem a pé os incas transpunham rios por meio de pontes pênseis tão sólidas que muitas delas ainda eram usadas em pleno século XX. Desse modo, foi vencido o isolamento natural das regiões montanhosas, o que permitiu que essa extraordinária civilização se estendesse por mais de 4 mil quilômetros ao longo da cordilheira dos Andes. Os Incas desenvolveram importantes técnicas de construção e suas cidades eram bem maiores do que muitas das grandes cidades europeias na época da colonização espanhola. A sociedade Inca fez grandes avanços nas ciências embora o império fosse muito centralizado e bem estruturado pode-se dizer que eram burocráticos, não havia um sistema de escrita. Para administrar o império eram utilizados os quipos cordões de lã ou outro materialonde eram codificadas mensagens. Em relação ao povo maia e asteca, estima-se que hoje em dia cerca de 2 milhões de maias estão espalhados pela região, que compreende os territórios do México, Guatemala, São Salvador e Honduras. 40 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL FIGURA 16 – SOCIEDADE INCA FONTE: Disponível em: <www.klickeducacao.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015. 3 REMANESCENTES DE POVOS NATIVOS E MISCIGENAÇÃO Submetida ao domínio espanhol, em 1533, a cultura inca foi praticamente destruída. Na atualidade, restam apenas alguns grupos de descendentes divididos em pequenas nações. São impressionantes as ruínas de seus grandiosos monumentos, templos e palácios. Elas dão uma ideia do poder desse império. Os principais descendentes dos incas na América do Sul são os quíchua, vivem da pecuária e da agricultura, mas suas atividades e seu modo de vida já foram profundamente alterados. Seu idioma foi mantido porque a Igreja Católica escolheu estas línguas nativas como veículo para evangelizar os incas. Sem dinheiro e sem proteção governamental ao longo dos séculos esses indígenas dirigiram- Para manter-se e investir no desenvolvimento, a sociedade inca criou um sistema de impostos. É interessante notar que parte desses tributos destinavam- se a amparar idosos e doentes. Os incas faziam regularmente o recenseamento da população. Assim sabiam com precisão a quantidade de alimentos que seria necessário produzir, quantos homens poderiam servir ao exército entre outras atribuições. Esse planejamento não comprometia o cotidiano das pessoas. Para infelicidade dos incas, o território do império dispunha de enormes jazidas de metais valiosos, como cobre, ouro e prata, fato que despertou a cobiça dos conquistadores. TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 41 se para as cidades, onde trabalham em atividades de baixa remuneração. São trabalhadores e trabalhadoras braçais, que vivem em estado de pobreza. Neste contexto destacamos, o eleito presidente de seu país em dezembro de 2005, o boliviano Evo Morales que foi o primeiro indígena aimará a governar a Bolívia, filho de lavradores Morales participou ativamente da luta contra a pressão dos Estados Unidos pelo fim do plantio de coca. 4 ASPECTOS DA COLONIZAÇÃO E DA DEMOGRAFIA QUE CORROBORAM PARA UMA REGIONALIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL 4.1 AMÉRICA CENTRAL E MÉXICO De maneira geral, a composição étnica da população do México e da América Central é resultante da miscigenação de populações nativas, astecas, indígenas e espanhóis, os principais colonizadores da região e negros que eram os escravos. A maior parte da população de El Salvador, Honduras, Nicarágua e Panamá é de mestiços ou pardos. Na Guatemala, mais de metade da população é constituída por indígenas. Em Belize e na Costa Rica predominam os indivíduos brancos de origem europeia. Existe também uma pequena porcentagem de descendentes dos africanos trazidos como escravos para trabalhar em plantations da costa atlântica. Em se tratando da América Central insular, as ilhas do Caribe foram colonizadas por espanhóis, ingleses, franceses e holandeses, suas sociedades formaram-se da miscigenação de diversas etnias e culturas. Além do branco de origem europeia há uma minoria de indígenas e a presença marcante de negros. A região contava com aproximadamente 38 milhões de habitantes em 2005, sendo Cuba o país mais populoso, com cerca de 11 milhões de habitantes. A população caribenha sofre com graves problemas sociais existentes na maioria dos países: altas taxas de mortalidade infantil, baixa renda per capita, elevados índices de analfabetismo e deficiência no atendimento médico- hospitalar, como mostra a figura a seguir. 42 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL FIGURA 17 – POPULAÇÃO DO HAITI Neste contexto esses problemas têm raízes nos séculos de dominação colonial. A maior parte dos países caribenhos só obteve a independência política no início do século XX, sendo que suas economias são frágeis. Ainda hoje várias ilhas continuam politicamente dependentes de Estados europeus, ou Estados Unidos como Aruba, que pertence aos Países Baixos, Porto Rico, (EUA), Martinica e Guadalupe (França). 4.2 NAS GUIANAS, UMA COLONIZAÇÃO DIFERENTE No que se refere aos países da Guiana, Suriname e Guiana Francesa, esses não foram colonizados por portugueses nem por espanhóis, as línguas faladas nesses territórios e sua Geografia se diferem dos outros países do continente. A palavra Guiana vem do vocabulário indígena guyana, que significa “terra de muitas águas”. Essa era a maneira como os indígenas chamavam a área onde se localizam atualmente a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa. Até a década de 1960 as guianas ainda se mantinham como colônias dos países europeus. A Guiana Inglesa tornou-se independente em 1966 adotando o nome de República Cooperativa da Guiana. A Guiana Holandesa agora Suriname conquistou sua independência em 1975, passando a chamar-se República do Suriname. A Guiana Francesa continua vinculada à França. A população Guianense se caracteriza pela diversidade étnica e cultural, sendo constituída por negros, indígenas, europeus, chineses e por aqueles que se originaram da miscigenação desses grupos étnicos. Também há uma grande participação de descendentes de indianos, trazidos do sul da Ásia pelos colonizadores britânicos. FONTE: Disponível em: <www.agenciabrasil.ebc.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015. TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 43 O Suriname tem a maioria da população vivendo no litoral em Paramaribo, principal cidade do país. É uma população muito heterogênea refletindo a forma como os governantes das metrópoles europeias deslocavam os povos de uma colônia para outra, a fim de obter mão de obra, como exemplifica a figura a seguir. FONTE: Disponível em: <http://brandusblog.blogspot.com.br/>. Acesso em: 10 nov. 2015. 4.3 AMÉRICA ANDINA A colonização da América Andina pela exploração não respeitava as sociedades nem o meio ambiente dos lugares onde era imposta. No decorrer do século XIX, o domínio europeu na América do Sul declinou pouco a pouco e no século XX foi superado pelo poderio econômico e militar dos Estados Unidos, que submeteram grande parte da América Latina aos seus próprios interesses. É importante ressaltar que continua grande a influência econômica e política dos Estados Unidos sobre a América, essa situação de transnacionais norte- americanas, que são muito importantes para a economia do continente. A América Andina é composta pelos países: Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Chile. Esses países têm em comum entre outros aspectos a presença da Cordilheira dos Andes em seu território. Quando os europeus FIGURA 18 – APRESENTAÇÃO CULTURAL NO SURINAME 44 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL chegaram à América os Andes eram habitados por várias nações ameríndias, como mostra a figura a seguir. Atualmente seus descendentes habitam principalmente os altiplanos andinos, que são as terras altas entre os picos das cordilheiras. Muitas comunidades indígenas e de pequenos agricultores praticam a agricultura de subsistência e pequenas propriedades, seus métodos de cultivos são tradicionais. Praticam o pousio: plantam e depois da colheita deixam a terra descansar. Também aproveitam como adubo o esterco das suas poucas cabeças de gado. Em geral os indígenas são extremamente pobres e vivem em pequenas comunidades isoladas. Mas, não se pode atribuir às altas montanhas o isolamento desses povos. Os sucessivos governos das colônias e, depois, dos países independentes que não se interessaram em construir estradas ou ferrovias que interligassem essas regiões. Foram implantadas interligações somente ondehavia interesse em escoar mercadorias para os portos e o exterior. FIGURA 19 – AMÉRICA ANDINA, CIDADE DE CUSCO, ANTIGA CAPITAL DO IMPÉRIO INCA, AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA E FAMÍLIA QUÍCHUA FONTE: Disponível em: <www.brasilescola.com> e <https://joaquimnery.files. wordpress.com/2013/08/dsc_0168.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2015. As comunidades empobrecidas não produziam nada para a exportação, ficaram isoladas com isso provocou-se o isolamento para muitas localidades na cordilheira, isso significou ficar sem saneamento básico, sem escolas, e sem TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 45 5 AMÉRICA PLATINA A América Platina os territórios da Argentina, do Paraguai e do Uruguai, no passado colonial integravam o Vice-Reino do Rio da Prata, que abrangia uma extensa área subordinada à Espanha. Isso significa que os três países platinos estiveram sobre uma administração única durante muitos anos, nesta época o vice-reinado também incluía a Bolívia. O Rio da Prata usado pelos espanhóis como porta de entrada para a ocupação do sul do continente americano, recebeu esse nome porque os colonizadores europeus transportavam minerais, dentre estes, prata, explorados no interior das colônias que compunham o Vice-Reino da Espanha. A população da Argentina e do Uruguai constitui-se predominantemente de descendência de espanhóis e italianos, enquanto que o Paraguai apresenta uma população em sua maioria formada pela miscigenação de diversos povos com acentuada presença de indígenas, como mostra a figura a seguir. assistência médica. A precariedade em que se encontram as comunidades indígenas contrasta com as condições favoráveis das enormes fazendas, que ocupam os solos mais férteis e são controladas por uma poderosa elite. Essas grandes propriedades rurais são acessíveis por boas estradas, pois sua produção se destina à exportação desde os tempos coloniais. Utilizando há séculos o sistema de plantation, elas cultivam e exportam os principais produtos tropicais. No Equador, entre as cordilheiras Ocidental e Royale, os planaltos da região de Quito se beneficiam do clima úmido que permite a cultura de cereais e batatas. A agricultura é, essencialmente, de subsistência, empregando um milhão de pessoas e contribuindo com 30% do PIB, é uma exceção e exemplo de que as comunidades remanescentes dos povos nativos podem se integrar à economia do país em que vivem. Plantation é uma grande propriedade agrícola (principalmente espanhola) na qual se cultivam produtos tropicais, em sistema de monoculturas, em geral para a exportação, utilizando até o século XIX, mão de obra escrava. NOTA 46 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL FIGURA 20 – CRIANÇAS PARAGUAIAS E DO NORTE DA ARGENTINA FONTE: Disponível em: <www.guarani-campaign.eu>; <http://www.colegioweb.com.br/ america-do-sul/paises-platinos> e <htmlvhttp://www.viajenaviagem.com/2012/07/salta- argentina-offroad-dicas>. Acesso em: 10 nov. 2015. Os indicadores sociais da população paraguaia são típicos de países subdesenvolvidos, as taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo são elevadas, e a expectativa de vida é baixa. Uma parcela significativa da população paraguaia está empregada no setor primário da economia, isso reflete na urbanização do país, pois é um dos países latino-americanos com menor taxa de urbanização. As principais cidades do Paraguai são Assunção e Cidade Del Este, esta última localizada na fronteira com Foz do Iguaçu, estado brasileiro do Paraná. Leia o livro A guerra do Paraguai, de Júlio José Chiavenato. São Paulo, Ática, 2003. O livro conta as razões que levaram à eclosão da guerra e analisa as profundas consequências políticas e econômicas para os países envolvidos no conflito. Assista ao documentário A Guerra do Brasil. Direção: Sylvio Back. Brasil: 1987. O documentário mistura a realidade e a ficção no debate da Guerra do Paraguai, que vitimou cerca de 1 milhão de pessoas. No filme entrelaçam a história oficial, o imaginário popular e a crítica de militares, cronistas e historiadores. DICAS TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 47 O Uruguai até a década de 1960 era conhecido como a Suíça Sul- Americana, por apresentar perfil de país desenvolvido, com estabilidade política e indicadores sociais elevados. A partir dos anos de 1970, com a escassez de recursos minerais e energéticos, o país importa todo o petróleo que consome, contribuindo para a desestabilização da economia. Em 1973 ocorreu um golpe militar que gerou a prisão e a tortura de pessoas que se opunham ao regime, censura da imprensa e às instituições de ensino entre outras graves consequências. Os fatos favoreceram o surgimento de movimentos de oposição a guerrilha, como o dos Tupamaros, nome em homenagem a Tupac Amaru, rebelde inca que lutou contra a dominação espanhola. A ditadura militar prolongou-se no Uruguai até 1984, e mesmo com o reestabelecimento da democracia, os problemas econômicos continuaram. A década de 1990 foi marcada por privatizações, diminuição dos gastos públicos, aumento de desemprego e, diante desse cenário, por uma grande emigração de jovens. Na tentativa de contornar a crise e diversificar as atividades econômicas o governo adotou uma legislação favorável à implantação de instituições financeiras, o que acabou atraindo diversas empresas do setor e transformando o Uruguai em um país de destaque na área bancária, como ilustra a figura a seguir da cidade de Montevidéu no Uruguai. FONTE: Disponível em: <www.montevideu.org>. Acesso em: 10 nov. 2015. FIGURA 21 – CIDADE DE MONTEVIDÉU NO URUGUAI 48 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL FIGURA 22 – CIDADE DE BUENOS AIRES NA ARGENTINA FONTE: Disponível em: <http://www.partiuviagens.com.br/destinos/argentina/buenos-aires.aspx> e <http://www.neve.com.br/pacote/buenos-aires-a-pe#prettyPhoto[gal]/4/>. Acesso em: 10 nov. 2015. A Argentina após a Segunda Guerra Mundial sobre o governo do Presidente Juan Domingo Perón, viveu um período de intensa modernização e de melhorias no atendimento às necessidades básicas da população. O país passou a atuar de forma decisiva em vários setores, como transportes, serviços públicos e infraestrutura. Em 1955 depois de entrar em atrito com parte do empresariado e das Forças Armadas, Perón o então presidente, foi derrubado do poder por um golpe militar que o obrigou a se exilar no Paraguai, e depois, na Espanha. De volta à Argentina após um longo período no exílio, Perón candidatou-se novamente à presidência em 1973 e foi eleito com enorme quantidade de votos. No entanto, faleceu logo em seguida e Isabelita Perón, sua terceira esposa e então vice-presidente, tomou posse. Em 1976 um golpe militar derrubou Isabelita e implantou na Argentina o regime ditatorial que se estendeu até 1983. Esse período ficou marcado pela forte repressão política imposta à população, com censura à imprensa, prisão, tortura e assassinato daqueles que se posicionavam contra o governo. As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas por sucessivas crises econômicas, que forçaram o governo argentino a diminuir os gastos com serviços públicos e a programar um intenso programa de privatizações. O padrão de vida da população argentina que era o mais alto da América Latina, caiu drasticamente. O desemprego aumentou, altas taxas de inflação e da dívida externa, aumento da pobreza e da concentração de renda foram as principais marcas deixadas no país pelos governos militares. Com o término do regime militar e a consolidação da democracia, a situação política e econômica tornou-se mais estável, a inflação caiu e o crescimento econômico foi retomado. No entanto, de 1999 a 2002 uma nova crise econômica foi provocada pela queda das exportações, o peso, a moeda do país estava valorizada em relação ao dólar, oque tornava os produtos argentinos muito caros no mercado internacional, ainda neste contexto o Brasil que era parceiro comercial da Argentina promoveu uma desvalorização do real em relação ao dólar e diminuíram as importações dos TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 49 FONTE: Disponível em: <http://sempreguerra.blogspot.com.br/2015_03_01_archive. html>. Acesso em: 10 nov. 2015. produtos argentinos, tentando contornar a crise o governo argentino desvalorizou o peso, contraiu empréstimos junto ao FMI e adotou um modelo econômico similar ao brasileiro. Outra ressaltante questão geopolítica envolvendo a Argentina refere-se à disputa com o Chile pelas Ilhas Picton, Nueva e Lennox no Canal de Beagle, extremo sul do continente. Com a interferência do Vaticano, um tratado de Paz foi assinado por representantes dos dois países, o documento estabelecia que as ilhas pertenciam ao Chile, mas assegurava aos argentinos direitos sobre recursos minerais que pudessem ser encontrados na região. Nesta situação, situada a cerca de 500 quilômetros do litoral sul do território argentino, as Ilhas Malvinas ou Falklands, são objeto de outra disputa territorial que envolve a Argentina, neste caso com o Reino Unido. Em 1982 as Forças Armadas do país sul-americano invadiram de surpresa as ilhas com o objetivo de reaver as terras perdidas para os ingleses em 1883, em resposta o governo do Reino Unido enviou tropas às Malvinas e, em junho, retomou as ilhas, impondo uma rendição incondicional aos argentinos. Mesmo perdendo a guerra das Malvinas os argentinos não desistiram das ilhas, em 1999 reiniciaram as negociações com os ingleses para recuperar o território perdido. FIGURA 23 – COMPOSIÇÃO SOBRE A POSSE, DISPUTA E LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS ILHAS MALVINAS 50 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL 6 A REGIONALIZAÇÃO DO CONTINENTE AMERICANO POR CRITÉRIOS SOCIOECONÔMICOS Divide a América conforme suas características históricas e econômicas. De um lado, a América Anglo-saxônica, a região mais desenvolvida econômica e socialmente. De outro, a América Latina, região com os piores níveis de desenvolvimento. Essa diferença entre as regiões teria se iniciado ainda quando o território americano eram colônias europeias. A América Anglo-Saxônica era, predominantemente colônia de povoamento, enquanto a América Latina colônia de exploração, como mostra a figura a seguir. FONTE: Disponível em: <www.brasilescola.com>. Acesso em: 10 jul. 2015. Assista ao documentário Malvinas: uma história alternativa. Produção original: Discovery Channel. Estados Unidos, 2007. O documentário mostra as estratégias de combate e detalhes operacionais para analisar quais decisões poderiam ter levado a Argentina à vitória da Guerra das Malvinas. DICAS FIGURA 24 – AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA E AMÉRICA LATINA TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 51 Uma curiosidade, a origem dos nomes, Anglo-Saxônica e Latina, esteve inicialmente associada a uma divisão da América baseada na origem dos povos europeus que colonizaram o continente. Os latinos seriam os povos que falam línguas de origem latina, predominante no sul da Europa, como portugueses, espanhóis, italianos e franceses. Os Anglo-saxões seriam povos de origem saxônica, predominantes no norte da Europa, como na Inglaterra. Apesar de utilizar essa nomenclatura, a divisão socioeconômica da América não se submete mais a questões de origem linguística. Na América Latina no período em que o número de habitantes da América Anglo-Saxônica começava a diminuir nos países latino-americanos iniciava-se uma explosão demográfica. Houve aumento nas taxas de natalidade e redução da mortalidade como consequência de melhorias médico-sanitárias: campanhas de vacinação; investimento em atendimento médico hospitalar; tratamento de água e coleta de lixo e esgoto. Para muitos especialistas da década de 1960 o acelerado crescimento demográfico seria a principal causa do subdesenvolvimento da América Latina. Com isso a partir da década de 1970 muitos países latino-americanos passaram a adotar políticas de controle de natalidade como a esterilização masculina e feminina e as campanhas de planejamento familiar. Essa política resultou em um menor crescimento demográfico, mas os problemas sociais, como a fome, o analfabetismo e a mortalidade infantil ainda são motivos de preocupação. Nos países mais pobres da América isso demonstra que o crescimento populacional não é a principal causa do subdesenvolvimento, como se afirmava na década de 60. A razão fundamental dos problemas sociais na América Latina é a distribuição desigual de riqueza. 6.1 CONTRADIÇÕES SOCIOECONÔMICAS DENTRO DA AMÉRICA LATINA Apesar dos avanços verificados nas últimas décadas, os problemas sociais mais graves da América Latina estão relacionados à saúde pública. Em grande parte dos países latino-americanos, o atendimento médico e hospitalar é inadequado e insuficiente para a maioria da população. O elevado contingente de pessoas vive na pobreza com renda insuficiente para obter alimentação adequada Taxa de mortalidade infantil: indica o número de crianças que morreram antes de completar um ano de idade a cada mil nascimentos, quanto menores os cuidados médicos e alimentares maior essa taxa. NOTA 52 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL ou ter acesso a medicamentos. Dois indicadores sociais ajudam a compreender as diferenças nas condições de saúde: a taxa de mortalidade infantil e a expectativa de vida. Os países subdesenvolvidos do continente americano apresentam taxas de natalidade mais altas e expectativa de vida mais baixas que as dos países mais ricos. Deste modo, na América Latina é grande a participação de crianças e jovens na estrutura etária da população. Na maioria dos países latino-americanos, a pirâmide tem base larga, indicando altas taxas de natalidade e predomínio de população jovem, o topo onde estão os idosos é estreito, pois a expectativa de vida é baixa, como mostra a figura a seguir. FIGURA 25 – PIRÂMIDE ETÁRIA DO EQUADOR E DA ARGENTINA 2010 FONTE: Disponível em: <http://populationpyramid.net/pt/argentina/> e <http://slideplayer. com.br/slide/287420/>. Acesso em: 10 nov. 2015. http://slideplayer.com.br/slide/287420/ http://slideplayer.com.br/slide/287420/ TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 53 6.2 APONTAMENTOS ECONÔMICOS Neste cenário o território americano é rico em recursos naturais e minerais, e essa diversidade costuma ser explorada pelo ser humano de várias formas; o continente apresenta uma formação geológica propícia à exploração de recursos minerais; a presença de dois oceanos que banham as costas leste e oeste do continente favorecem a atividade pesqueira e a existência de uma extensa rede hidrográfica que facilita a obtenção de energia elétrica, em conjunto com os diversos tipos de clima, as variadas formas de relevo e os diferentes tipos de solos contribuem para a prática agropecuária. Muitos países latino-americanos como a Bolívia, a Jamaica, o Equador e a Venezuela, dependem da extração e da exportação de minerais como fonte de recursos para a sua economia. No entanto, apesar de possuir muitas jazidas em seu território, a maior parte desses países não tem tecnologia para pesquisa, extração e beneficiamento de forma que grande parte da extração de seus recursos minerais é praticada pelas empresas transnacionais, sediadas nos países desenvolvidos. A produção agropecuária é bastante diversificada, variando muito de um país para outro. Em vários países da América Latina, grande parte da produção agropecuária está voltada para a exportação, sendo praticada em extensas propriedades monocultoras. Países como a Colômbia, Paraguai, Cuba,Guatemala, entre outros, têm economias dependentes da exportação de produtos agropecuários, principalmente o café, a cana-de-açúcar e banana. Em geral, esses países empregam técnicas rudimentares na produção agropecuária, o que resulta em baixa produtividade, portanto seus investimentos em mecanização, fertilização, drenagem e recuperação dos solos são escassos ou inexistentes. Em contrapartida, países como o Brasil, Argentina, México e Chile apresentam em seus territórios regiões onde a produção agropecuária emprega máquinas e tecnologia, isso os leva a obter uma alta produtividade. A industrialização na América Latina foi iniciada tardiamente em comparação com a América Anglo-Saxônica, por isso caracterizam-se por uma grande dependência do capital e da tecnologia, provenientes de empresas transnacionais sediadas na América Anglo-Saxônica, na Europa e no Japão. Em muitos países latino-americanos a atividade industrial é pouco significativa, predominando as indústrias tradicionais de bebidas, alimentos e tecidos, que empregam baixa tecnologia no processo produtivo e mão de obra barata e pouco qualificada. Alguns países como o Brasil, a Argentina e o México, apresentam as principais e mais modernas áreas industriais do território latino-americano com variados tipos de indústrias e uma produção diversificada. 54 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL No entanto, a maior parte dos países latino-americanos não conta com a tecnologia necessária para transformar matérias-primas em bens diversificados, isso leva a exportá-los para nações com desenvolvimento tecnológico e a importar desses países os produtos industrializados de que se necessita. O desenvolvimento e a implantação de novas tecnologias na indústria bem como a concentração de terras e a modernização do campo, favoreceram a urbanização e o crescimento do setor terciário, a mão de obra dispensada pelos setores primário e secundário migrou para o comércio e a prestação de serviços. A partir de 1990 o maior emprego da tecnologia por parte do setor terciário contribuiu para o desemprego, levando muitos trabalhadores dos países subdesenvolvidos ao mercado informal. Nos países latino-americanos, a participação do setor primário na economia ainda é relativamente alta, revelando a importância da agropecuária e do extrativismo mineral e vegetal. A agricultura, a pecuária e o extrativismo juntamente com as atividades do setor secundário, compõem a maior parte do PIB de muitos países americanos. As cidades são as principais áreas de concentração de atividades do setor terciário, em quase todos os países latino-americanos industrializados ou não elas não conseguiram absorver o grande contingente de mão de obra dispensada pelos setores primário e secundário, esse fato agravou os problemas sociais nas áreas urbanas, aumentando os índices de favelização, desemprego, subemprego, criminalidade entre ouros problemas, como mostra a figura a seguir. FIGURA 26 – A MAIOR FAVELA DA AMÉRICA LATINA, EM BRASÍLIA FONTE: Disponível em: <http://www.soubrasilia.com/brasilia/a-maior-favela-da-america-latina- esta-em-brasilia/>. Acesso em: 10 nov. 2015. TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 55 Na América Central as principais atividades econômicas da América Central Continental estão relacionadas ao cultivo de produtos tropicais voltados para o mercado externo, desde o período colonial o café e a banana são os principais itens da pauta de exportação da região. A cana-de-açúcar e o cacau, produtos tradicionais da agricultura centro-americana perderam importância no mercado internacional com o surgimento e a consolidação de outras áreas produtoras, tanto na América como na Ásia. Grande parte da produção agrícola de exportação realiza em extensas propriedades monocultoras localizadas no litoral do Pacífico. A maioria dessas propriedades agrícolas pertence à empresa estrangeira sobretudo originárias dos países aos quais se destina a produção, como os Estados Unidos, como mostra a figura a seguir. FONTE: Disponível em: <www.cortesdecima.com>. Acesso em: 10 nov. 2015. Na capital federal, a pouco mais de 40 quilômetros do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, está a maior favela da América Latina, com 78.912 moradores. A região, conhecida como Aris (Área de Regularização de Interesse Social) Sol Nascente, estava em segundo lugar até agosto de 2013, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com a Codeplan (Companhia de Planejamento do DF), em setembro de 2013 o local desbancou a famosa “Rocinha”, no Rio de Janeiro, que tem 69.161 habitantes, e passou a liderar o ranking. FONTE: Disponível em: <http://noticias.r7.com/distrito-federal/fotos/favela-do-df- passa-a-rocinha-e-se-torna-a-maior-da-america-latina-02122013#!/foto/1>; <http:// www.brasilnoticia.com.br/cidades/favela-do-df-passa-a-rocinha-e-se-torna-a-maior-da- america-latina/55134>. Acesso em: 11 nov. 2015. NOTA FIGURA 27 – COLHEITA DE MELÃO NA COSTA RICA 56 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL Nos séculos XIX e XX os Estados Unidos transformaram a América Central em um dos seus maiores fornecedores de alimentos. Nessa época os interesses estadunidenses na América Central tornaram-se enormes, as empresas alimentícias em especial empenharam-se em conquistar os mercados produtores da região, para tanto implantaram fazendas, postos e transportadoras. No litoral do Atlântico e nos altiplanos predominam as agriculturas de subsistência, praticadas em pequenas propriedades com o emprego de técnicas tradicionais e de mão de obra familiar, os principais produtos cultivados são o milho e a batata. Na costa atlântica ocorre também intensa exploração de madeiras de grande valor comercial, como a peroba, o pau-rosa, o cedro e a seringueira. A atividade industrial e a extração mineral são praticamente inexistentes na América Central, destacando-se apenas algumas indústrias de bens de consumo, como calçados e têxteis. O país mais industrializado é o Panamá cuja produção petrolífera alimenta as indústrias petroquímicas e lhe garante a exportação de petróleo, a economia beneficia-se pela presença do Canal do Panamá que liga os oceanos Atlântico e Pacífico. Na América Central insular a principal atividade econômica do Caribe é a agricultura com destaque para o cultivo da cana-de-açúcar, cujo maior produtor é Cuba, também são cultivados banana, fumo, café e algodão. A produção agrícola regional está voltada para o mercado externo, isso faz com que a dependência ocasione oscilações dos preços internacionais, que tem um impacto direto na economia caribenha e acaba tornando necessária a importação de alimentos para o consumo. Os recursos minerais de destaque no Caribe são a produção de bauxita, e a produção e exportação de petróleo. A atividade industrial é pouco desenvolvida, permanecem restritas ao beneficiamento das matérias-primas agrícolas, à confecção de roupas e ao artesanato local, principalmente de cestarias e de cerâmica. O Caribe é destaque pela rota de cruzeiros marítimos que são destino de milhares de turistas que procuram suas praias e sua Floresta Tropical. Além disso, a região possui conhecidos paraísos fiscais, como as Ilhas Cayman, As Ilhas Virgens e as Bahamas, nesses países grandes somas podem ser depositadas sem a necessidade de declarar a origem do dinheiro. Os maiores utilizadores desses paraísos fiscais são pessoas envolvidas com o crime organizado e com o desvio de dinheiro público. Na América Andina as atividades econômicas dependem fortemente da extração mineral, sobretudo do petróleo, carvão, cobre, estanho, ouro, prata e ferro. A atividade industrial estimulada pela entrada do capital estrangeiro e de algumas transnacionais apresenta crescimento em alguns países, mas ainda é incipientese comparada à de outras economias da América Andina. O Chile e a Venezuela destacam-se como os países mais industrializados dessa região. Os TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 57 principais produtos agrícolas da América Andina são o café, a banana, o cacau, a cana-de-açúcar, o trigo e a aveia, voltados para o mercado externo. Já o milho, o arroz e a batata constituem a base da alimentação das populações andinas. Uma característica marcante dessa região é o cultivo ilegal de maconha e coca, fonte de renda para poderosos grupos de traficantes e também para pequenos agricultores que encontram nessa atividade sua única forma de sobrevivência. Nos países da América Platina, as características do clima, da vegetação e do relevo favorecem o desenvolvimento das atividades agropecuárias na região, concentradas na criação de gado bovino e na agricultura de cereais. A Argentina é o país mais industrializado da América Platina, com destaque para a produção de automóveis, aço e produtos químicos. 6.3 AS TENTATIVAS DE ASSOCIAÇÃO E/OU DE INTEGRAÇÃO DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS As tentativas de integração do continente sul-americano existem desde o começo do século XX. Em 1915, o Brasil, Argentina e Chile assinaram acordos que permitiam a comercialização de muitas mercadorias sem a cobrança de impostos. Esses esforços de integração continuaram depois da Segunda Guerra Mundial. Em fevereiro de 1960 surgiu a Alalc, Associação Latino-Americana de Livre Comércio, que visava formar rapidamente um mercado regional integrado, por meio da eliminação de impostos de importação e exportação entre os seus membros. Em agosto de 1980, a Alalc foi substituída pela Aladi, Associação Latino-Americana de Integração, que pretendia uma integração comercial mais lenta e gradual dos países, para que houvesse tempo suficiente de preparar as empresas nacionais para a chegada de mercadorias estrangeiras que pudessem competir com seus produtos. Em 1988, os governos brasileiro e argentino assinaram uma série de acordos para aproximar os dois países. Brasil e Argentina acreditavam que era possível criar interesses comuns na indústria, na agricultura e no comércio. Com isso foi possível facilitar o comércio dentro da América do Sul, os quatro países assinaram o Tratado de Assunção, em março de 1991, esse acordo criou o Mercosul, Mercado Comum do Sul. Umas das metas principais do Mercosul era promover a abertura econômica dos países-membros, estimulando maiores trocas comerciais. Isso significou que os produtos dos países-membros não pagariam impostos ou que estes seriam baixos, para entrar e para serem comercializados nos países parceiros. Assim entrariam mais produtos estrangeiros em cada país- membro, as empresas desses países precisam se preparar para essa competição. O comércio entre os países-membros cresceu rapidamente. Isso chamou a atenção do Chile, Peru e da Bolívia, que assinaram um acordo como membros associados. Eles também buscavam beneficiar-se do crescimento acelerado da economia sul- americana. 58 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL No entanto, existem alguns problemas dentro do bloco sul-americano, um desses problemas é que cerca de 70% da economia do Mercosul é movida pelo Brasil que tem vantagens em relação aos demais membros, os outros sócios compram mais mercadorias brasileiras do que o inverso. Outro problema é que os países do Mercosul têm produção econômica muito semelhante. É o caso dos produtos da agricultura e da pecuária. Tanto o Brasil e a Argentina produzem carros e produtos eletrodomésticos, isso cria rivalidades que acabam atrasando a evolução do bloco. A integração total ainda é dificultada pela infraestrutura de transportes entre os países-membros e associados é bastante precária. As rodovias e ferrovias são escassas e malconservadas, e os atuais investimentos nesse setor são muito modestos. Sem um sistema de transporte ágil e barato, os produtos continuarão chegando com preço elevado aos consumidores, tanto dos países- membros como dos associados do Mercosul. Nos últimos 20 anos cresceram muito as diferenças sociais em grande parte da América Latina, a favelização, a violência e a mendicância se espalharam pelos países dessa região, levando grandes contingentes populacionais a questionar o modelo econômico neoliberal, que foi difundido mundialmente a partir de 1989, com o fim da Guerra Fria. Nesse contexto, os países da América do Sul assinaram em conjunto em 2004 o Tratado de Cuzco, criando a Comunidade Sul- americana de Nações. Esse bloco trata-se de um projeto estratégico de integração regional, encontrando-se ainda em estágio embrionário. Porém, destaca-se a discussão sobre a integração energética, que de fato tornaria a América do Sul menos vulnerável, em relação às oscilações dos preços do petróleo no mercado internacional. A ALBA, Alternativa Bolivariana para as Américas, também surgiu em 2004, nesse mesmo cenário geopolítico, trata-se de um bloco de países, Venezuela, Cuba, Nicarágua que têm como principal característica uma contestação mais contundente à ideologia neoliberal. Dentre suas propostas destaca-se a integração cultural e social de todos os povos da América Latina, privilegiando assim as relações humanas em detrimento das questões meramente econômicas e financeiras. TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL 59 LEITURA COMPLEMENTAR Eduardo Galeano Este volume oferece uma nova versão brasileira de As veias abertas da América Latina. Esta tradução, excelente trabalho de Sergio Faraco, melhora a não menos excelente tradução anterior, de Galeno de Freitas. E graças ao talento e à boa vontade destes dois amigos, meu texto original, escrito há quarenta anos, soa melhor em português do que em espanhol. O autor lamenta que o livro não tenha perdido atualidade. A história não quer se repetir – o amanhã não quer ser outro nome do hoje –, mas a obrigamos a se converter em destino fatal quando nos negamos a aprender as lições que ela, senhora de muita paciência, nos ensina dia após dia. Segundo a voz de quem manda, os países do sul do mundo devem acreditar na liberdade de comércio (embora não exista), em honrar a dívida (embora seja desonrosa), em atrair investimentos (embora sejam indignos) e em entrar no mundo (embora pela porta de serviço). Entrar no mundo: o mundo é o mercado. O mercado mundial, onde se compram países. Nada de novo. A América Latina nasceu para obedecê-lo, quando o mercado mundial ainda não se chamava assim, e aos trancos e barrancos continuamos atados ao dever de obediência. Essa triste rotina dos séculos começou com o ouro e a prata, e seguiu com o açúcar, o tabaco, o guano, o salitre, o cobre, o estanho, a borracha, o cacau, a banana, o café, o petróleo... O que nos legaram esses esplendores? Nem herança nem bonança. Jardins transformados em desertos, campos abandonados, montanhas esburacadas, águas estagnadas, longas caravanas de infelizes condenados à morte precoce e palácios vazios onde deambulam os fantasmas. Agora é a vez da soja transgênica, dos falsos bosques da celulose e do novo cardápio dos automóveis, que já não comem apenas petróleo ou gás, mas também milho e cana-de-açúcar de imensas plantações. Dar de comer aos carros é mais importante do que dar de comer às pessoas. E outra vez voltam as glórias efêmeras, que ao som de suas trombetas nos anunciam grandes desgraças. Nós nos negamos a escutar as vozes que nos advertem: os sonhos do mercado mundial são os pesadelos dos países que se submetem aos seus caprichos. Continuamos aplaudindo o sequestro dos bens naturais com que Deus, ou o Diabo, nos distinguiu, e assim trabalhamos para a nossa perdição e contribuímos para o extermínio da escassa natureza que nos resta. Exportamos produtos ou exportamos solos e subsolos? 60 UNIDADE1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL Salva-vidas de chumbo: em nome da modernização e do progresso, os bosques industriais, as explorações mineiras e as plantações gigantescas arrasam os bosques naturais, envenenam a terra, esgotam a água e aniquilam pequenos plantios e as hortas familiares. Essas empresas todo-poderosas, altamente modernizadas, prometem mil empregos, mas ocupam bem poucos braços. Talvez elas bendigam as agências de publicidade e os meios de comunicação que difundem suas mentiras, mas amaldiçoam os camponeses pobres. Os expulsos da terra vegetam nos subúrbios das grandes cidades, tentando consumir o que antes produziam. O êxodo rural é a agrária reforma; a reforma agrária ao contrário. Terras que poderiam abastecer as necessidades essenciais do mercado interno são destinadas a um só produto, a serviço da demanda estrangeira. Cresço para fora, para dentro me esqueço. Quando cai o preço internacional desse único produto, alimento ou matéria-prima, junto com o preço caem os países que de tal produto dependem. E quando a cotação subitamente vai às nuvens, no louco sobe e desce do mercado mundial, ocorre um trágico paradoxo: o aumento dos preços dos alimentos, por exemplo, enche os bolsos dos gigantes do comércio agrícola e, ao mesmo tempo, multiplica a fome das multidões que não podem pagar seu encarecido pão de cada dia. O passado é mudo? Ou continuamos sendo surdos? As veias abertas da América Latina nasceram pretendendo difundir informações desconhecidas. O livro compreende muitos temas, mas talvez nenhum deles tenha tanta atualidade como esta obstinada rotina da desgraça: a monocultura é uma prisão. A diversidade, ao contrário, liberta. A independência se restringe ao hino e à bandeira se não se fundamenta na soberania alimentar. Tão só a diversidade produtiva pode nos defender dos mortíferos golpes da cotação internacional, que oferece pão para hoje e fome para amanhã. A autodeterminação começa pela boca. Em 27 de julho de 2001, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, perguntou aos seus compatriotas: – Vocês já imaginaram um país incapaz de cultivar alimentos suficientes para prover sua população? Seria uma nação exposta a pressões internacionais. Seria uma nação vulnerável. Por isso, quando falamos de agricultura, estamos falando de uma questão de segurança nacional. Foi a única vez em que não mentiu. Montevidéu, 2010 FONTE: GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. Tradução de Galeno de Freitas. 39. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 307p. Título original: Las venas abiertas de America Latina. (Coleção Estudos Latino-Americanos, v.12). 61 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico vimos que: • A partir da colonização e da miscigenação populacional no decorrer dos séculos resultaram construções histórico-culturais que diferenciam culturas dentro da América Latina. • Do ponto de vista das culturas dos povos podemos agrupar as sociedades dos países americanos em conjuntos, a saber: América anglo-Saxônica, México e América Centro Americana, Caribe (Grandes e Pequenas Antilhas), Guianas, América andina, América Platina e América portuguesa (atualmente brasileira). • Fontes históricas de sítios arqueológicos e sambaquis sugerem que o povoamento pré-colombiano na América tenha ocorrido entre 9.000 a.C. a 1.500 a.C. Pressupõe-se que coexistiram tribos nômades, seminômades e sedentárias denominadas indígenas ou nativos. Os povos que formaram civilizações (ou que se aproximam deste conceito, pois o conceito europeu e ocidental), foram os Maias, os Astecas e os Incas. Os remanescentes dos povos nativos, sobreviventes do processo de dizimação, sofreram um processo de aculturação, ou seja, além da miscigenação demográfica, ocorre uma miscigenação cultural, onde alguns traços culturais são preservados, e outros são incorporados, resultado do processo de imposição dos colonizadores. • As populações do México e América Central são resultado da miscigenação que ocorreu entre os povos colonizadores, predominantemente espanhóis, e sobreviventes de indígenas e dos povos pré-colombianos (astecas e maias) que habitavam a região. Cabe ressaltar que a população negra também contribuiu na formação populacional e demográfica do povo mexicano, centro americano e caribenho. • Em tempos pré-colombianos na América andina se desenvolveu a civilização Inca, constituindo um vasto império. Com a chegada dos espanhóis entraram em decadência. O povo quíchua é descendente do povo Inca. Seu idioma foi mantido porque a igreja católica espanhola, após um determinado tempo da colonização, escolheu a língua nativa dos quíchua, como veículo para sua evangelização. Assim como ocorreu com os outros povos nativos, os sobreviventes deste povo foram marginalizados. Uma parte destas populações remanescentes permaneceu nas áreas rurais praticando uma agropecuária de subsistência, e outra parte se dirigiu para as cidades, onde desempenham funções simples, vivendo em estado de pobreza. 62 • As Guianas foram colonizadas pela Grã-Bretanha (especificamente pela Inglaterra), Holanda e França. A independência política ocorreu no decorrer das décadas de 1960 e 1970, na Guiana (Inglesa) e Suriname, respectivamente. A Guiana Francesa continua sendo um departamento ultramarino francês. A população das Guianas se caracteriza pela diversidade étnica. • Na América Andina, além da população quíchua, outras nações indígenas se destacam na população, vivendo em condições deploráveis, se comparadas com as classes mais abastadas proprietárias de latifúndios, os quais englobam as melhores terras. • Dos países platinos, no Uruguai e Argentina predomina uma população em sua maioria, branca, descendentes de espanhóis e italianos. • Sobre as contradições socioeconômicas se destaca de um lado a concentração da renda na mão de pouquíssimas pessoas e do outro o aprofundamento da pobreza, e expansão dos problemas sociais. A saúde pública, segurança e educação são as áreas com a maior deficiência. • Quanto à economia, os setores primários (agropecuária e extrativismo) são os destaques nos países da América Central, Antilhas, países andinos e Guianas. Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela apresentam parques industriais significativos. A produção agropecuária, mineral e industrial atende as demandas do mercado internacional. • Os países latino-americanos realizam experiências de integração e cooperação, os quais serão estudados na Unidade 3. • No texto complementar “As veias abertas da América Latina”, o autor Eduardo Galeano, apresenta críticas sobre alguns aspectos da exploração sofrida pela América Latina no passado, sobre as ações do imperialismo britânico do século XIX, e atual imperialismo imposto ora pelos estadunidenses, ora pelas transnacionais e organismos supranacionais. 63 AUTOATIVIDADE Com base na Leitura Complementar acima, elabore uma resposta contextualizada, utilize da leitura do capítulo e discorra: 1 Os diferentes contextos políticos em que os textos foram escritos e a maneira como cada um deles vê a aproximação entre os países latino-americanos. 2 O atual panorama das relações entre os países latino-americanos e os projetos de integração regional. 3 Seguindo a atividade do capítulo anterior, faça um olhar geográfico sobre a população da sua cidade. Destaque as características populacionais, se são predominantemente brancos, se existe uma miscigenação em destaque, com pardos, amarelos, negros. Busque na base de dados do IBGE o que o último Censo populacional apresenta sobre a sua cidade. Se possível apresente uma pirâmide etária da sua cidade e a análise. 4 O processo de independência da América Latina foi concluído na década de 1820, neste contexto os jovens governos se viram diante dos desafios de preservar a autonomia conquistada em meio ao intrincado jogo político e diplomático da época. Simon Bolívar (1783 – 1830) não era simpáticoaos Estados Unidos, que por sua vez, evitaram atritos com a Espanha para não comprometer a compra da Flórida e o comércio com possessões espanholas no Caribe. Indique dois aspectos nos quais o processo que culminou com o rompimento dos laços coloniais na América espanhola se diferenciou da Independência do Brasil. Cite uma diferença e uma semelhança entre o projeto pan-americanista de Simon Bolívar. 64 65 TÓPICO 4 MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A região latino-americana e caribenha representa uma das regiões com maior riqueza, não só por causa de sua diversidade biológica e ecossistêmica, mas também pela diversidade social e cultural. No entanto, compartilham muitos problemas ambientais com a África e Ásia. Contudo, o modelo de desenvolvimento atual vem colocando essa riqueza em risco; em toda região já aparecem sinais preocupantes de uma grave degradação ambiental. As questões ambientais incluem o sistema de posse de terras, o desmatamento e queimadas, a exploração excessiva dos estoques pesqueiros, exploração mineral com impactos ambientais e problemas urbanos dos mais diversos, assim como os desastres socionaturais como furacões, terremotos e derramamento de substâncias perigosas que agravam problemas já existentes. 2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS A América Latina apresenta suscetibilidade às mudanças climáticas, e deficiência política para enfrentar o fenômeno. A implementação de medidas efetivas é urgente. Estudos indicam que em alguns países os custos econômicos podem alcançar entre 1,5 e 5% do PIB regional em 2050, para enfrentamento e remediação dos efeitos de mudanças climáticas e ocorrência de eventos extremos do clima. A localização geográfica de contingentes populacionais em moradias informais, e a alta sensibilidade das florestas e da biodiversidade para o clima, são fatores que provavelmente irão exacerbar as consequências da mudança do clima que afetará todo o mundo e já é um dos desafios do século XXI (LEÌDA, 2015). Além das mudanças nas temperaturas, estudos estimam que os índices das precipitações estejam sendo modificadas por causa da mudança climática, mas de forma diferenciada conforme a região. Exemplo, nas últimas décadas tem havido um aumento na precipitação anual na região sudeste da América do Sul, e diminuição 66 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL na região central e centro-sul do Chile. As camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida, têm diminuído consideravelmente nas últimas décadas, assim como a área média anual de gelo do mar Ártico diminuiu nas décadas em que está sendo monitorado, (período de 1979-2012) e diminui cada vez mais no período de verão. As mudanças climáticas constituem um fenômeno de longo prazo, cujos efeitos serão mais intensos na segunda metade século XXI, porém para enfrentamento de seus impactos é necessário agir urgentemente. A redução das emissões de gases de efeito estufa é uma das medidas mais abrangentes propostas durante conferências mundiais sobre o meio ambiente e sobre o clima, pois estes agem sobre o aquecimento global. Contudo, há a necessidade de mudanças na matriz de produção e consumo energéticos (baseados ainda na queima dos hidrocarbonetos, ou seja, dos derivados dos combustíveis fósseis) e nos modelos de produção e consumo em massa, e sistemas de mobilidade responsáveis pela atual produção de níveis perigosos de CO2 e torna impossível para cumprir as metas sobre o clima, estabelecidos até 2050. Apesar de existirem diferenças entre os países da América Latina e Caribe a contribuição nas emissões de poluentes globais representa 9% do total. O transporte é um dos principais problemas para a América Latina e Caribe, pois a baixa qualidade do transporte público faz com que os cidadãos priorizem o veículo particular, o que aumenta o consumo dos derivados dos combustíveis fósseis e causa problemas de congestionamento de trânsito nas grandes cidades. Além do planejamento de longo prazo de um sistema sustentável, devem ser estudadas as atuais vias de circulação, porque a infraestrutura atualmente em uso terá uma vida útil até 2050 e, portanto, vai afetar as futuras emissões. FIGURA 28 – CONGESTIONAMENTO EM SANTIAGO, CHILE, POR OCASIÃO DAS FESTAS PÁTRIAS EM SETEMBRO E EM SÃO PAULO, NUM DIA FINAL DE UM FERIADÃO FONTE: Disponível em: <http://blogs.diariodonordeste.com.br/automovel/mercado/brasil- ja-tem-1-carro-para-cada-5-habitantes/attachment/congestionamentosp/> e <http://www. sigalapista.cl/?p=3495>. Acesso em: 10 nov. 2015. TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE 67 Sem políticas e resposta mais eficazes é provável a continuidade de ocorrência de desastres socionaturais, uma vez que a tendência atual é de piorar as condições ambientais, o que contribui para uma maior vulnerabilidade humana à mudança climática. O grupo de pesquisa em desastres naturais do Programa de Pós-graduação em Geografia – PPGG da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina – FAPESC e do Instituto Histórico Geográfico de Santa Catarina elaboraram um conjunto de materiais, os atlas geográficos (do país e dos estados), como ferramentas para todos aqueles que se preocupam com a temática. O trabalho agrega de forma sintetizada, temas, quadros, tabelas, figuras e mapas, disponibilizando um conjunto de informações resultado de um trabalho de campo e de laboratório visando contribuir com a tomada de decisões tanto pela população civil como pelos gestores. Bigarella (2005) no prefácio da primeira edição do Atlas de desastres Naturais do Estado de Santa Catarina, escreveu: “No Brasil verifica- se a cada ano um incremento no número de desastres naturais em virtude da ocupação desordenada do território pela omissão do poder público na execução de uma política ambiental que viesse reduzir a ocorrência de novas catástrofes”. Corroborando, Jungles (2013) ao escrever a apresentação do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais: 1991 a 2012, UFSC (2013), afirma: “nas últimas décadas os desastres naturais constituem um tema cada vez mais presente no cotidiano das populações. Há um aumento considerável não só na frequência e intensidades, mas também nos impactos gerados, com danos e prejuízos cada vez mais intensos”. A análise dos eventos climáticos extremos, a partir de dados gerais, no Brasil e com maior detalhamento, por Estado se apresenta como ferramenta para estudos, sensibilização e percepção do risco e da vulnerabilidade para tomada de atitudes e ações de mitigação. Os dados analisados para a composição e organização do material (dos Atlas do Brasil e dos Estados), sugerem que nos últimos trinta anos além da continuidade, a amplitude e a frequência das catástrofes têm se ampliado. Como exemplo ilustrativo destacam-se os eventos que ocorreram em Santa Catarina, com destaque para o ano de 2008 em que ocorreu alto índice pluviométrico, o que gerou centenas de deslizamentos no complexo do morro do Baú. Além disso, também provocou inundações prolongadas no baixo Vale do Itajaí deixando milhares de desabrigados e mais de uma centena de mortos (HERRMANN, 2014). Deslizando da escala estadual e nacional para a global temos os alertas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas conhecido pela sigla IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change, é uma organização científico-política criada em 1988 no âmbito das Nações Unidas (ONU) pela iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM). O IPCC e seus grupos de trabalho apoiados pela Agência de Clima e Poluição e pelo Ministério de Relações Exteriores da Noruega, organizaram, em 2012, o Relatório Especial para a gestão dos riscos de eventos extremose Desastres para o Avanço na Adaptação às Alterações Climáticas, (Special Report for Managing the 68 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL Risks of Extreme Events and Disasters to Advance Climate Change Adaptation – Relatório SREX-IPCC, 2012). Segundo pesquisadores do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) já é possível observar alterações no fluxo e disponibilidade de água na América do Sul, o que deverá afetar regiões já vulneráveis. No Brasil, a recente seca da nascente do Rio São Francisco, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e a diminuição do nível do Sistema Cantareira, em São Paulo, parecem apontar nessa direção. Os períodos de seca deverão se tornar mais frequentes no mundo nos próximos anos. Nas últimas décadas a Cordilheira dos Andes encolheu quase metade de sua camada de gelo e isso tem a ver com a disponibilidade de água potável. O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, em inglês, Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), é um grupo científico da ONU, fundado em 1988 pela WMO (World Meteorological Organisation) e pelo UNEP/PNUMA (United Nations Environment Programme). Tem como objetivo principal sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas que hoje afetam o mundo, especificamente, o aquecimento global, apontando suas causas, efeitos e riscos para a humanidade e o meio ambiente, e sugerindo maneiras de combater os problemas. O IPCC não produz pesquisa original, mas reúne e resume o conhecimento produzido por cientistas de alto nível (tanto independentes e/ou ligados a organizações e governos). É um consenso que o IPCC representa a maior autoridade mundial a respeito do aquecimento global, e tem sido a principal base para o estabelecimento de políticas climáticas mundiais e nacionais. Em 1990 emitiu um relatório afirmando que a ação do homem poderia estar causando o efeito estufa. O estudo foi a base para as discussões durante a Rio-92, no Rio de Janeiro. O IPCC faz relatórios anuais sobre o Estado da Arte científico da pesquisa do clima, examina os efeitos das mudanças climáticas e desenvolve estratégias de combate, subsidiando as Partes da Convenção. FONTES: FINAL, RELATÓRIO. Apresentação de subsídios para o desenvolvimento de sistema de observação e monitoramento dos impactos das mudanças climáticas a ser implantado no Brasil. 2013 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Painel_Intergovernamental_sobre_Mudan%C3%A7as_ Clim%C3%A1ticas> Acesso em: 20 set. 2015. NOTA TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE 69 3 CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA A GESTÃO DOS RISCOS DE EVENTOS EXTREMOS E DESASTRES, PARA O AVANÇO NA ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS A influência do clima e sua variabilidade natural sempre despertou interesse de vários segmentos da sociedade, de governantes e da ciência. Nas últimas décadas, com o avanço das tecnologias com desenvolvimento da meteorologia sinótica e dos modelos de previsão do tempo, por exemplo, se vislumbra a possibilidade de gerenciamento do território, na perspectiva de prevenção dos acidentes e da minimização dos impactos decorrentes das possíveis alterações climáticas e eventos climáticos extremos. Sant’Anna Neto apud Hermann (2014) explica que mais de 80% dos tipos de desastres naturais que ocorrem no planeta tem sua gênese derivada dos fenômenos e processos climáticos. Dentre as adversidades climáticas citam-se: as secas, os ciclones tropicais e tornados, os vendavais, as chuvas intensas, os episódios de inundação, nevascas, geadas e outras. Estas além de provocarem enormes perdas econômicas, são responsáveis por milhares de mortes todos os anos. Em algumas regiões, a recorrência destes eventos, pode comprometer o desenvolvimento local e submeter segmentos da sociedade a uma situação de vulnerabilidade, ou seja, de maior segregação socioespacial. Hermann (2014) alerta para o processo de expansão urbana que se verifica, muitas vezes, em áreas de risco sujeitas à inundações e/ou encostas íngremes sujeitas a escorregamentos de massa. A substituição da vegetação natural das encostas por uma vegetação secundária rala, que não é uma eficaz proteção do solo, permite uma infiltração de água pluvial (das chuvas), e propicia o escoamento superficial concentrado. Os leitos de rios e córregos que percorrem áreas urbanizadas geralmente estão retilinizados ou canalizados por tubulações subdimensionalizadas, obstruídas por entulhos, dificultam a vazão normal da água junto à foz, ocasionando transbordamentos e solapamento das margens. Todas as razões citadas acentuam os efeitos adversos do clima, razão pela qual os desastres não têm somente causas naturais, e sim socionaturais. O termo socionatural marca uma nova fase do conhecimento científico e deriva dos desastres se constituírem tanto por uma perspectiva natural, proveniente de processos específicos da natureza, quanto por uma perspectiva social, antrópica, em que há influência das ações humanas. Mata-Lima et al. (2013, p. 52) corroboram: [...] os desastres naturais não são considerados como fenômenos extremos provocados exclusivamente por forças naturais, pois o modelo de desenvolvimento adotado pelo Homem também concorre de forma significativa para a ocorrência dos desastres visto que a vulnerabilidade é o fator determinante dos impactos dos desastres. O grau de exposição de uma comunidade está relacionado ao potencial de uma ameaça se transformar em desastre. Países pobres, cujas condições de vida de grande parte da população são precárias, são mais vulneráveis aos 70 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL desastres socionaturais, por apresentarem respostas pouco expressivas diante dos eventos, acentuados pela baixa capacidade de governança e baixos índices de participação comunitária para redução dos riscos e para a resiliência. Desta forma, as populações mais pobres parecem estar mais vulneráveis a inundações, secas e à falta d’água. Em relação aos fenômenos climáticos extremos, a vulnerabilidade é elevada, quando a capacidade de adaptação dos sistemas humanos na América Latina é deficiente, tanto pela falta de resistência da população, como pela incapacidade de antecipação e dificuldade de enfrentamento. Na América Latina, em alguns países, a exemplo do Haiti, a agenda política dos legisladores e gestores públicos tem incorporado as temáticas de percepção do risco, exposição e vulnerabilidade, muito lentamente, de forma quase pontual. Em outros, Chile, por exemplo, e em alguns estados do Brasil, apenas após a ocorrência de eventos extremos, são desenvolvidos processos para a conscientização e sensibilização. Autoridades políticas, Organizações Não Governamentais – ONGs, cientistas, Defesa Civil e setores privados têm desenvolvido trabalhos metódicos e regulares em relação às temáticas em questão. Alguns estão de forma mais lenta, enquanto outros contribuem para a diminuição dos danos em situações onde a vulnerabilidade é crônica. Assim, em muitas regiões já castigadas por eventos extremos, já foram implementadas políticas públicas que promovem a adaptação às vulnerabilidades ambientais e socioeconômicas. Contudo, resultados mais eficazes serão percebidos no futuro. 4 AMÉRICA LATINA E CARIBE: PROBABILIDADES FUTURAS O Relatório especial para gerenciamento dos riscos de eventos extremos e desastres para promoção da adaptação à mudança do clima para a região da América Latina e do Caribe -SREX–IPCC, 2012, inicia com a síntese de dez mensagens, do tipo constatações, nada promissoras. A primeira mensagem faz um alerta sobre a tendência do risco de desastres socionaturais continuar aumentando em muitos países, uma vez que mais pessoas e ativos vulneráveis estarão expostos a extremos climáticos, (sem levarem conta a mudança climática). Por exemplo, os povoamentos informais em crescimento na Colômbia, Venezuela, Peru, Brasil e outros países estão cada vez mais populosos, aumentando tanto a exposição como a vulnerabilidade (CAMERON, 2012). Leia sobre os principais deslizamentos que ocorreram na América Latina e no mundo no link: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/05/relembre-os-deslizamentos- de-terra-mais-letais-no-mundo-desde-2010.html>. DICAS TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE 71 FIGURA 29 – POVOAMENTOS INFORMAIS NA VENEZUELA E NA COLÔMBIA FONTE: Disponível em: <http://rioonwatch.org.br/?p=9362#prettyPhoto/14/>. Acesso em: 10 nov. 2015. Auto construção em áreas íngremes na Venezuela Auto construção em áreas íngremes na Colômbia Ao levar em conta aspectos socioeconômicos percebe-se que uma parcela significativa da população se encontra em condições de extrema pobreza e que há uma frágil gestão ambiental. Esse cenário deve ser agravado. Por exemplo, as tendências populacionais dentro da região da América Central aumentaram a vulnerabilidade com o aumento da exposição de pessoas e propriedades em áreas afetadas por eventos extremos, como os furacões. A população das regiões costeiras do Golfo do México aumentou 150% de 1960 a 2008. As populações em crescimento e os ativos em risco são as principais razões para o aumento dos impactos. Grande volume de chuvas e enchentes podem afetar, também, a saúde pública em áreas urbanas porque a água acumulada na superfície pode ser rapidamente contaminada por agentes patogênicos (infecciosos). Desta forma, as populações urbanas pobres, em países de baixa e média renda, podem sofrer altas taxas de doenças infecciosas depois de enchentes. A segunda mensagem do relatório SREX–IPCC, 2012 é baseada em dados a partir de 1950. As evidências sugerem que a mudança climática já mudou a magnitude e a frequência de alguns eventos extremos de condições meteorológicas e climáticas em algumas regiões globais. Embora continue ainda muito difícil atribuir eventos individuais às mudanças climáticas, em julho de 2009 as enchentes no Brasil estabeleceram os mais altos recordes dos últimos 106 anos de registro de dados. O relatório SREX, de acordo com Cameron (2012), supõe que nas próximas duas ou três décadas, o aumento esperado na frequência de extremos climáticos será provavelmente relativamente pequeno comparado às variações normais anuais de tais extremos. No entanto, à medida que os impactos das mudanças climáticas se tornam mais dramáticos, seus efeitos em uma faixa de extremos climáticos na América Latina e no Caribe tornar-se-ão ainda mais importantes, e terão 72 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL um papel ainda mais significativo nos impactos dos desastres. Atualmente existem melhores informações disponíveis sobre o que se espera em termos de mudanças nos eventos extremos em várias regiões e sub-regiões, em vez de apenas globalmente, embora permaneça alta a incerteza para algumas regiões e eventos extremos (tendências de aridez e estiagem na América do Sul, por exemplo). (CAMERON, 2012). Dentre as ameaças socionaturais, o derretimento das geleiras das montanhas andinas é emblemático. O fornecimento de água aos setores urbanos e agrícolas, que depende desse sistema pode entrar em colapso. La Paz é uma das cidades cujo abastecimento de água depende exclusivamente das geleiras. Em outra situação o número grande de cidades situadas em zonas costeiras também é um fator fundamental que coloca a América Latina em uma posição de vulnerabilidade ao fenômeno devido à elevação do nível do mar. Somam-se a estas problemáticas o branqueamento dos recifes de corais na costa do Caribe e do risco de retração das florestas da bacia amazônica. Outra mensagem do relatório SREX – IPCC (2012) diz respeito à necessidade dos governantes e seus povos alcançar um novo equilíbrio entre as medidas de redução de risco, a transferência de risco (através de seguro, por exemplo) e se preparar efetivamente para gerenciar o impacto dos desastres em um clima em mudança. Exemplos podem ser encontrados no México, Colômbia e muitos países do Caribe, que incluem contingências nos seus processos orçamentários. Este equilíbrio requererá uma ênfase mais forte na antecipação e redução o risco. Além de melhorar as medidas já existentes para gerenciamento do risco uma ampla faixa de medidas diferenciadas deve ser implementada, como, por exemplo, sistemas de avisos antecipados, planejamento do uso da terra, desenvolvimento e cumprimento de códigos de construção, melhorias na vigilância sanitária, ou gerenciamento e restauração do ecossistema. (CAMERON, 2012). Podemos citar, por exemplo, as ações do Chile, por ocasião do terremoto ocorrido no dia 16 de setembro de magnitude 8,3, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos. As ações implantadas nesse dia demonstraram a capacidade dos chilenos diante da catástrofe, graças a uma operação de emergência e evacuação bem realizada por seus habitantes. Houve aviso de sirenes para a evacuação da população das áreas sujeitas ao Tsunami e todas as pessoas que se encontravam na área de risco receberam mensagens pelos celulares alertando sobre a evacuação. Os danos foram classificados como mínimos pela ONU. A capacidade dos países em atender aos desafios das tendências de risco de desastres observadas e projetadas é determinada pela eficiência de seus sistemas nacionais de gerenciamento de risco (o sistema de Cuba, TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE 73 por exemplo, é bem estudado). Tais sistemas incluem governos nacionais e subnacionais, o setor privado, órgãos de pesquisa, e a sociedade civil, inclusive as organizações baseadas na comunidade. Assim, se muitos países não estão suficientemente adaptados contra os eventos naturais que lhes oferecem um risco, consequentemente, não estão preparados para o futuro. Ajustes rápidos e eficazes para prevenir e minimizar perdas por desastres se fazem necessários. Por exemplo, qualquer demora na diminuição dos gases de efeito estufa, provavelmente levará a consequências, dentre as quais, mudanças climáticas, que por sua vez, implicarão extremos climáticos mais graves e frequentes acompanhados de mais perdas. De acordo com Cameron et al. (2012), a vulnerabilidade, a exposição e as mudanças nas condições meteorológicas com ocorrência de eventos climáticos extremos podem contribuir, ao combinarem-se, para criar o risco de desastres. Diante desta realidade, a necessidade de gerenciamento de risco de desastres e de adaptação às mudanças climáticas, envolve processos de conscientização e de sensibilização. A gestão de risco e adaptação à mudança climática fazem parte do desenvolvimento de ações de mitigação e diminuição das consequências dos desastres socionaturais. Observe o esquema da figura a seguir para compreensão. FONTE: Cameron et al. (2012) A vulnerabilidade e exposição são aspectos dinâmicos e dependem de fatores econômicos, sociais, demográficos, culturais, institucionais e governamentais. Indivíduos e comunidades são também diferentemente expostos com base em fatores como riqueza, educação, sexo, idade, classe/casta FIGURA 30 – AS INTERCONEXÕES ENTRE OS PRINCIPAIS CONCEITOS DO RELATÓRIO SREX- IPCC (2012) 74 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL e saúde. A falta de resistência e capacidade para antecipar, enfrentar e adaptar- se a extremos são importantes fatores de vulnerabilidade. Por exemplo, um ciclone tropical pode ter impactos muito diferentes, dependendo de onde e quando ele atinge a terra. Similarmente, uma onda de calor pode ter impactos muito diferentes em diferentes grupos populacionais, dependendo de sua vulnerabilidade. Mudanças climáticas e eventos extremospoderão causar impactos em sistemas humanos, ecológicos ou físicos, resultando em catástrofes, principalmente onde a exposição e a vulnerabilidade são altas. Altos níveis de vulnerabilidade e exposição são geralmente o resultado de processos de desenvolvimento assimétrico, como, por exemplo, gerenciamento ambiental deficiente, mudança demográfica, urbanização rápida e não planejada, governo falho e escassez de opções de sustento. Isso pode resultar em povoamentos em áreas passíveis de risco, na criação de moradias inseguras, favelas e distritos espalhados, pobreza e falta de percepção de riscos. Por exemplo, as pessoas que têm percepção, meios de vida transferíveis, dinheiro e acesso a transporte, podem afastar-se dos desastres e viver mais confortavelmente, fora do perigo. As que não têm essas vantagens podem ser forçadas a fixar suas residências em áreas passíveis de risco, onde ficarão mais vulneráveis e expostas aos extremos climáticos. Elas também terão que arcar com os impactos dos desastres no solo, incluindo falta de água, comida, saneamento ou abrigo. (CAMERON, 2012). FURACÕES NA AMÉRICA CENTRAL A América Central e México (Mesoamérica) são profundamente afetados por fortes tempestades tropicais. Em outubro de 2005, o Furacão Stan, em uma tempestade relativamente fraca que alcançou apenas momentaneamente a classificação de furacão, afetou a costa Atlântica da América Central e a Península de Yucatán, no México. A Guatemala relatou mais de 1500 fatalidades e milhares de pessoas desaparecidas; em El salvador foram registradas 72 fatalidades e no México, 98. O Furacão Wilma, uma semana mais tarde, causou 12 fatalidades no Haiti e 8 no México. O Furacão Stan afetou principalmente as regiões indígenas pobres da Guatemala, El Salvador e Chiapas, enquanto que o Furacão Wilma afetou o ‘resort’ de praia internacional de Cancún. Os danos causados por Wilma foram estimados em U$1,74 bilhões, sendo 25% em danos diretos e 75% em custos indiretos devido ao turismo perdido. Um estudo conjunto da resposta do México aos furacões, financiado pelo Banco Mundial, mostrou que o Stan causou danos de cerca de US$2,2 bilhões no México, sendo 65% em perdas diretas e 35% devido a impactos LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE 75 futuros na produção agrícola. Cerca de 70% destes danos foram relatados no estado de Chiapas, representando 5% do PIB do estado. A comparação do gerenciamento dos dois furacões pelas autoridades mexicanas destaca problemas importantes de gerenciamento de risco de desastres. A evacuação das áreas atingidas pelo Stan começou apenas durante a fase emergencial, quando as enchentes de 98 rios já haviam afetado 800 comunidades. 100.000 pessoas abandonaram as regiões montanhosas para abrigos improvisados de última hora. Em comparação, seguindo o aviso antecipado do Wilma, as pessoas foram adequadamente evacuadas, e grupos de emergência foram mobilizados para restabelecer os serviços de água, eletricidade, comunicações e saúde. Todos os ministérios foram envolvidos na reabertura de aeroportos e instalações de turismo, tão rapidamente quanto possível. FONTE: REDE DE CONHECIMENTO DE CLIMA E DESENVOLVIMENTO (2012). Gerenciando extremos climáticos e desastres na América Latina e no Caribe: lições do relatório SREX. CDKN. Disponível em: < http://www.ccst.inpe.br/wp-content/themes/ccst-2.0/pdf/SEX-Lessons-Portuguese-LAC. pdf>. Acesso em: 13 nov. 2015. Corroborando, outros dois relatórios, um da CEPAL e outro do Banco Mundial, da primeira década do século XXI, classificam a América Latina e o Caribe entre as regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas, tanto por suas características geográficas muito específicas, como por apresentarem uma capacidade política até agora ineficaz no que se refere ao enfrentamento do fenômeno. O continente já sofre e continuará sofrendo graves consequências da alteração do clima. O contexto da região latino-americana e caribenha é único no planeta, se diferindo dos países do Norte desenvolvido (principais responsáveis pelas emissões de carbono e com mais recursos e políticas), quanto da condição vivida por nações em desenvolvimento de outros continentes (que quase não contribuem com as emissões), serão, no entanto, atingidas pelos impactos da alteração do clima. As implicações para a região da América Latina e Caribe são: • Os países precisam reavaliar sua vulnerabilidade e exposição, para gerenciar melhor o risco de desastres. Essa reavaliação precisa ser plenamente integrada no processo de planejamento. • Há necessidade de novas avaliações de risco de desastres que levem em conta a mudança climática, que podem exigir que países, empresas e pessoas de modo geral reavaliem as expectativas sobre que níveis de risco querem e podem aceitar. Será importante fortalecer novas e existentes parcerias para redução de riscos. • É necessário fortalecer a integração dos mecanismos financeiros e de programação para apoiar a adaptação e o gerenciamento de riscos pelos setores de desenvolvimento. 76 UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL • Será importante realçar os riscos de desastre relacionados à mudança do clima para os formuladores de políticas regionais que estejam trabalhando em outros domínios. • É necessário reafirmar a importância da mitigação global dos gases de efeito estufa para evitar os piores extremos climáticos e os impactos associados, na América Latina e no Caribe. • Deve-se considerar que, em alguns casos atuais, os extremos climáticos tornar- se-ão cada vez mais recorrentes no futuro. Os extremos climáticos do futuro podem, portanto, ampliar nossa imaginação e desafiar nossa capacidade de gerenciar mudanças como nunca. • É necessário haver estratégias de desenvolvimento e políticas econômicas muito mais inteligentes que considerem como o objetivo mais importante a mudança do risco de desastres. Sem isso, é provável que um número cada vez maior de pessoas e ativos sejam adversamente impactados por futuros extremos climáticos e desastres. Estudos sugerem que o clima em mudança combinado com a ocorrência de extremos climáticos, ocorram de forma potencializada em relação à frequência, intensidade e abrangência da extensão espacial. Assim, as implicações das mudanças climáticas e dos extremos climáticos na América Latina e Caribe exigem dos países uma reavaliação de sua vulnerabilidade e exposição, para um eficaz e rápido gerenciamento dos riscos de desastres, contando com planejamento e percepção eminente de possíveis desastres. Diante dos indícios de mudanças climáticas, fazem-se necessárias novas avaliações de risco de desastres, exigindo que governantes e populações reavaliem as expectativas sobre que níveis de risco querem e podem aceitar. Parcerias para redução de riscos deverão ser engendradas, realçando os riscos de desastre relacionados à mudança do clima para os formuladores de políticas regionais que estejam trabalhando em outros domínios. 77 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico vimos que: • As regiões latino-americana e caribenha apresentam características contrastando de um lado diversidade biológica, ecossistêmica, social e cultural e por outro, problemas econômicos, sociais e ambientais. • As questões ambientais incluem sistema de posse de terras, desmatamento e queimadas, exploração excessiva dos estoques pesqueiros, exploração mineral que deixa um rastro de impactos ambientais e sociais, e problemas urbanos dos mais diversos. • Paralelamente, vivemos num período da história geológica do planeta Terra em que está em curso uma mudança climática, ao que tudo indica, acelerada pelas ações humanas pressionando sobre os recursos naturais e elementos atmosféricos, hídricos e possivelmente até geológicos. • As mudanças climáticas constituem um fenômeno de longo prazo, cujos efeitos serão mais intensos nasegunda metade do século XXI, porém para enfrentamento de seus impactos é necessário a sociedade civil, governantes e setores econômicos agirem urgentemente. • Dentre as medidas propostas a redução das emissões de gases de efeito estufa é umas das proposições, pois estes agem sobre o aquecimento global que por sua vez age sobre as alterações climáticas. Dentre os grandes vilões estão os combustíveis fósseis, as queimadas e indústrias. • Concomitantemente ocorrem extremos climáticos que se transformam em desastres socionaturais por assolarem regiões densamente populosas e povoadas, ocupadas de forma informal, caracterizadas pelas autoconstruções. • A América Latina e Caribe apresentam suscetibilidades para as mudanças climáticas, e deficiências políticas para enfrentar as crises decorrentes. • Dados a partir de 1950 evidenciam e sugerem que a mudança climática já mudou a magnitude e a frequência de alguns eventos extremos de condições meteorológicas e climáticas em algumas regiões globais. 78 • O Relatório SREX-IPCC, 2012 é um Relatório especial para a gestão dos riscos de eventos extremos e Desastres para o Avanço na Adaptação às Alterações Climáticas, (Special Report for Managing the Risks of Extreme Events and Disasters to Advance Climate Change Adaptation, apresentado em dados baseados aos apresentados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática – IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) , apoiados pela Agência de Clima e Poluição e pelo Ministério de Relações Exteriores da Noruega. • A América Latina e o Caribe apresentam níveis de vulnerabilidade e exposição o resultado de processos de desenvolvimento assimétrico, além de gerenciamento ambiental deficiente, mudança demográfica, urbanização rápida e não planejada, governo falho e escassez de opções de sustento. • A vulnerabilidade e exposição são os principais impulsionadores do risco e das perdas por desastres. Entender a natureza multifacetada tanto da exposição, quanto à vulnerabilidade é importante para compreender o quanto as condições meteorológicas e os eventos climáticos contribuem para a ocorrência de desastres socionaturais, para o planejamento, organização e implementação de ações estratégicas efetivas de adaptação e gerenciamento de risco de desastres. • As decisões, a elaboração de políticas e ações precisam se basear na natureza da vulnerabilidade e da exposição da população ao risco, pois o risco não é apenas natural, mas socionatural. 79 AUTOATIVIDADE 1 Nosso clima está em mudança, provavelmente decorrente de processos naturais, agravados ou acelerados pela ação antrópica. As alterações de um clima podem ocorrer na frequência, intensidade, extensão espacial e duração de extremos das condições meteorológicas e climáticas, podendo resultar em evento sem precedentes. Diante da contextualização analise as seguintes afirmativas, e assinale V para verdadeiro e F para falso. ( ) Um evento extremo climático é geralmente definido como a ocorrência de um valor de uma variável (precipitações, temperaturas, ventos) de condição meteorológica ou clima, acima ou abaixo de um valor limite, próximo das extremidades superiores ou inferiores, da faixa de valores da variável normalmente observados. ( ) Enchentes, inundações, estresse pelo calor, descoloração de corais, ciclones e elevação do nível do mar, geadas, nevascas, são exemplos de eventos climáticos extremos. ( ) Eventos sísmicos, vulcões e tsunamis não se encaixam no conceito de desastres socionaturais, nem quando atingem áreas cujas populações são vulneráveis. A gravidade desses impactos dependerá da reação dos governantes e da população diante dos eventos. ( ) Extremos climáticos podem resultar em volumosos impactos, tanto sobre sistemas humanos, quanto ecossistemas, incluindo perdas econômicas, impactos sobre setores como turismo e agricultura, em povoamentos humanos e pequenos países-ilhas. Agora, assinale a sequência CORRETA: ( ) V – V – F – V. ( ) F – F – V – V. ( ) V – V – F – F. ( ) V – F – V – F. 2 A mudança climática está alterando a distribuição, intensidade e frequência geográficas de riscos relacionados às condições meteorológicas, ameaçando exceder as capacidades de países mais pobres de absorver perdas e recuperar-se dos impactos de desastres. Assim, o gerenciamento de risco torna-se crítico. Analise as afirmativas a seguir: I – As ações de remediação e adaptação aos desastres socionaturais envolvem planejamento e políticas de percepção e atitudes diante dos eventos. II – Lidar com o bem-estar social, qualidade de vida, infraestrutura e meios de sustento, e incorporar uma abordagem multirrisco com responsabilidade, deve ser preocupação apenas das lideranças políticas e comunitárias. 80 III – Os sistemas nacionais, provinciais e ou das comunidades locais devem trabalhar de forma complementar e integrada em suas ações. A população de maneira geral, no entanto, não possui responsabilidade de interagir com as lideranças políticas, por falta de conhecimento, para planejamento e proposição de políticas e medidas de mobilização diante de desastres socionaturais. IV – A forma como uma comunidade responde e sobrevive a desastres depende dos recursos que podem ser usados para enfrentar tais desastres. Assim, populações mais pobres têm dificuldades para enfrentar tais eventos. Agora assinale a alternativa CORRETA: a) As afirmativas I – II e III estão corretas. b) As afirmativas I – III e IV estão corretas. c) As afirmativas III e IV estão corretas. d) As afirmativas I e II estão corretas. 81 UNIDADE 2 AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Nessa unidade vamos: • compreender a formação socioespacial da América Latina, destacando os prin- cipais fatores que compõem as características dos países latino-americanos; • relacionar as características e conceitos de localização e relação dos países e suas integrações regionais; • destacar as peculiaridades e inter-relações de países que participam da América Latina; • perceber a atual situação social e econômica a partir da formação histórica e étnica, destacando o processo de colonização dos países; • perceber as características dos países latino-americanos e ao mesmo tem- po diferenciações que existem entre os mesmos; • entender os conflitos que refletem as relações atuais e as dinâmicas territo- riais dos países; • relacionar aspectos econômicos comuns e diferentes dos países latino-a- mericanos; • refletir sobre a contemporaneidade dos problemas sociais apresentados por alguns dos países, diante de conflitos de imigração, guerras, embargos. Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo que em cada um deles, você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – MÉXICO TÓPICO 2 – AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL TÓPICO 3 – AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA 82 83 TÓPICO 1 MÉXICO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O território do México ocupa a posição de quinto mais extenso país da América com a terceira maior população do continente. Localizado no sul da América do Norte faz fronteira ao norte com os Estados Unidos e ao sul com Belize e Guatemala. É também banhado pelo Oceano Pacífico e o Oceano Atlântico, através do Golfo do México a leste e do Mar do Caribe. O país é classificado geograficamente como parte da América do Norte que é dividida no mapa como América do Norte, América Central e América do Sul, e também classificado como histórico-sociocultural, que separa os países entre América Latina e América Anglo-saxônica. FONTE: Disponível em: <https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9G- cSyCtR4ndrm10T80m3dXTCpyEBZRY0JXcBYUB9cc2X5pj_cswYBn6rQkA>. Acesso em: 25 nov. 2015. FIGURA 31 – MAPA DO MÉXICO UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 84 O México distingue-se dos demais países da América do Norte por apresentar graves problemassociais. A miséria no campo, as periferias empobrecidas nas cidades, o desemprego em massa e os baixos salários empurram grande número de mexicanos para os Estados Unidos, onde tentam entrar ilegalmente. Para compreender isso é fundamental entender o espaço geográfico mexicano, que vem sendo construído, desde a independência, em meio a disputas políticas e outras dificuldades. A parte norte do território mexicano é extremamente árida. As dificuldades de povoamento impostas por esse clima adverso somam-se à falta de investimentos em pesquisas e tecnologia, o que dificulta a expansão e a modernização das práticas agrícolas. A agricultura nos territórios centrais e do sul do país é desenvolvida em relevo extremamente acidentado. Os indígenas praticam há séculos uma policultura itinerante de autocontrole chamada conuco. Essa técnica consiste no plantio intercalado de uma grande variedade de alimentos em pequenas áreas durante aproximadamente cinco anos. Após esse período, eles ocuparão outras áreas, onde o conuco é reiniciado após a remoção da vegetação original por meio da queimada. A agricultura nessas áreas exige técnicas de produção caríssima para os padrões de vida da maior parte dos agricultores, nesse caso, somente os ricos fazendeiros são beneficiados (BRUMER; PINEIRO, 2005). O predomínio de deserto no Norte, de montanhas no Centro e de florestas no Sul restringe as áreas agrícolas do país, que não ocupam mais que 20% do território mexicano. Apesar do pequeno espaço rural, o país tem uma economia muito dependente das exortações de produtos agropecuários. Essas exportações provêm de grandes fazendas, que ainda adotam o sistema de plantation, elas se espalham por todo o país, ocupando terras que outrora pertenciam aos ejidos. Antes da chegada dos colonizadores, os ameríndios tinham uma organização econômica baseada em ejidos, terras comunitárias voltadas para o autoconsumo. Mas esse tipo de exploração agrária praticamente desapareceu em meados do século XIX, quando as ricas famílias brancas de origem europeia se apropriaram da maioria das terras e as transformaram em latifúndios (PALÁCIOS, 2008). Consequentemente, no começo do século XX, a situação dos camponeses era tão dramática que muitos morriam de fome. Diante disso, no Norte e no Sul do país surgiram grupos revoltosos liderados, respectivamente, por Pancho Villa e Emiliano Zapata. Esses líderes conseguiram retomar muitas terras e reorganizar os ejidos, mas acabaram assassinados. FONTE: Disponível em: <http://larybispo.blogspot.com.br/2011/08/geografia.html>. Acesso em: 25 nov. 2015. TÓPICO 1 | MÉXICO 85 Os novos ejidos, em sua maioria foram criados em terras de baixa qualidade, geralmente montanhosas, e não conseguiram competir com os latifundiários, quase sempre localizados em terras planas e mais férteis. Além disso, os ricos fazendeiros sempre tiveram à sua disposição financiamento barato, oferecido pelo governo. Com esse dinheiro puderam comprar máquinas e aumentar a produtividade de suas grandes propriedades, conhecidas como haciendas. A desvantagem em relação às haciendas fez muitos camponeses abandonarem os ejidos, apesar das tentativas do governo mexicano de incentivar também esse tipo de produção. Afinal, ao contrário dos poderosos fazendeiros, os pequenos agricultores não têm garantias para oferecer aos bancos em troca da liberação de financiamento. Apesar dessas dificuldades, os ejidos têm grande importância para o México, pois graças a essas propriedades coletivas, 25% da população economicamente ativa – PEA, ainda atua no setor primário da economia, a agricultura. Boa parte dessa mão de obra é formada por descendentes de indígenas, que produzem alimentos para consumo próprio usando a técnica do conuco (PALÁCIOS, 2008). 2 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO Com cerca de 122,3 milhões de habitantes, segundo dados do Banco Mundial, a população está localizada no território de 1.967.183 km². Os mexicanos encontram-se distribuídos de forma irregular, cerca de 75% da população vive no Planalto do México, que apresenta solos férteis de origem vulcânica e climas que favorecem a ocupação humana. No planalto está localizada a Cidade do México, capital do país. É o mais populoso centro urbano da América e uma das mais problemáticas regiões metropolitanas do mundo. O Planalto do México é cercado por formações geológicas de maior altitude, que são prolongamentos das Montanhas rochosas e recebem as denominações de Serra Madre Oriental, a leste. O clima frio nos trechos mais elevados inibe a ocupação humana. No Nordeste do país, a presença de desertos contribui para as baixas densidades demográficas da região. Como mostra o mapa de relevo do México (TAMDJIAM, 2012). FONTE: Disponível em: <http://claudiatorales.blogspot.com.br/2012/11/mexico-entre-os-paises- ricos-e-os.html>. Acesso em: 25 nov. 2015. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 86 FIGURA 32 – RELEVO DO MÉXICO FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_WNDKb5khza8/ShC-bydJPMI/ AAAAAAAAAKk/b3iuDf4VEw8/s320/Imagem+024.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015. A população do México é muito heterogênea, mas a herança dos ameríndios é visível. Cerca de 60% dos mexicanos são mestiços de indígenas com europeus. As nações indígenas estão concentradas principalmente no interior do país. Elas representam 29% da população e falam mais de 60 idiomas. O processo de concentração de terras nas mãos de poucos proprietários afetou duramente as comunidades indígenas. Vítimas de violência e de exploração por parte de grandes fazendeiros, muitos indígenas têm buscado moradia nas periferias das grandes cidades, sobretudo na Cidade do México. A população de origem exclusivamente europeia é minoria, corresponde a apenas 11% dos mexicanos. Observe o quadro da população urbana e rural. Ele mostra o ritmo de urbanização que o México apresentou nos últimos 200 anos. TÓPICO 1 | MÉXICO 87 FONTE: Proyección demográfica de México 1980-2050. Em Jan Bazant (Conapo, “Proyecciones de Poblaciónde México 2005 – 2050”. Edición 2006, p. 21-22). TABELA 1 – PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO DO MÉXICO 2005-2050 Como se pode notar, só na década de 1990 o êxodo rural passou a fazer parte marcante da vida dos mexicanos. Atualmente, o processo de urbanização está muito acelerado, à semelhança do que ocorreu há algumas décadas em outros países, inclusive no Brasil. As cidades mexicanas estão crescendo rapidamente pela oferta de empregos nas áreas industriais e em serviços, como no caso da cidade de Tampico, Pozo Raso e Mérida, no litoral do Golfo do México, que se expandiram em função das indústrias petrolíferas e alimentícia, que geram milhares de empregos. Mas, certamente o que chama a atenção no país é a sua capital, uma das maiores cidades do mundo. A área metropolitana da Cidade do México abriga nada menos que 25% da população do país. Sua população total ultrapassa a casa dos 20 milhões de habitantes (PALÁCIOS, 2008). Projeção da população do México 2005-2050 Ano População (milhões) Taxa de crescimento (%) Urbano (%) Rural (%) 1980 66,846 3,15 66,3 33,7 1990 81,246 2,43 71,3 28,7 2000 97,361 1,85 77,1 22,9 2005 103,947 1,45 77,8 22,2 2010 108,396 1,28 78,5 21,5 2015 112,310 1,14 79,1 20,9 2020 115,762 1,01 79,7 20,3 2030 120,928 0,69 80,3 19,7 2040 122,936 0,38 80,8 19,2 2050 121,855 0,12 81,2 18,8 UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 88 FONTE: Disponível em: <http://s2.glbimg.com/lpAhm1Wg4woncFgFJLYL0pHwjZY=/s. glbimg.com/jo/g1/f/original/2013/06/11/foto5.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015. FIGURA 33 – CIDADE DO MÉXICO Curiosidade: Uma grande cidade com grandes problemas Os arquitetos Silvia Mejia e Juan Carlos Espinosa Cuock desenvolveram um interessante trabalho sobre a Cidade do México. Eles estudaram os motivos para o crescimento tão acelerado dessa gigantesca região metropolitana. O estudo constatou que a cidade se expandiu à medida que se avolumaram osproblemas no campo mexicano. O pequeno agricultor empobrecia e abandonava o campo para buscar trabalho nas indústrias que surgiam rapidamente na capital. Antigamente, a cidade do México era cercada por lagos e pântanos. Por isso, ao se expandir, construíram-se aterros, sobre os quais se ergueu grande parte das moradias, inclusive irregulares. Essas áreas aterradas formam hoje gigantescos bairros periféricos. Esses aglomerados de casas e outras construções, em grande parte desprovidas de infraestrutura, forma a maior periferia urbana do mundo. O crescimento desenfreado da Cidade do México deparou-se com outra particularidade geográfica na periferia, além dos terrenos pantanosos. Muitas montanhas e vulcões cercam a cidade. Esse relevo montanhoso que pode superar os 2 mil metros de altitude, dificulta bastante a dispersão da poluição. Por isso, a fuligem e a fumaça frequentemente ficam acumuladas sobre a capital, degradando muito a qualidade do ar e da vida. UNI TÓPICO 1 | MÉXICO 89 FONTE: Disponível em: <http://top10mais.org/top-10-maiores-favelas-mundo/#ixz- z3rHRhSbOH>. Acesso em: 25 nov. 2015. Mas, há outras grandes cidades mexicanas. Além de Monterrey, Guadalajara e Puebla, que já eram centros importantes, observamos agora o crescimento de cidades na fronteira com os Estados Unidos. Nessa região, destacam-se Tijuana e Juárez. Cada uma dessas cidades tem cerca de dois milhões de habitantes, e sua população cresceu após a instalação de maquiladoras. A favela Neza cresceu em 1990, e atualmente é uma das maiores favelas do mundo, possui dificuldade em atender ao aumento da quantidade habitacional e despesas pelas mudanças. O governo mexicano se esforça para criação de ambiente mais sustentável, em colaboração a organizações como Infonavit, com habitação acessível em crescimento. FONTE: Disponível em: <http://top10mais.org/top-10-maiores-favelas-mundo/#ixzz3rHRhSbOH>. Acesso em: 25 nov. 2015. Também conhecida pelo nome de Ciudad Perdida, Neza-Chalco-Izta fica na Cidade do México e é uma mega favela com população estimada em 4 milhões de habitantes. A comunidade começou a se formar a partir dos anos 1900, quando novas zonas industriais foram se estabelecendo na cidade, e hoje a maioria dos residentes tem acesso ao abastecimento de água, energia e saneamento básico, embora a qualidade desses serviços seja motivo de grande debate. FONTE: Disponível em: <http://www.megacurioso.com.br/economia/46920-confira-alguns- exemplos-de-mega-favelas-que-existem-pelo-mundo.htm>. Acesso em: 25 nov. 2015. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 90 FONTE: Disponível em: <http://www.wissenladen.com/maps/map.php?Mexico&id=149&ln=en>. Acesso em: 25 nov. 2015. FIGURA 34 – MAPA LOCALIZAÇÃO DAS PRINCIPAIS CIDADES MEXICANAS Na década de 1960, na região fronteiriça com os Estados Unidos, foi criada uma zona franca para atrair capital estrangeiro. O objetivo era ampliar o parque industrial mexicano, com apoio de uma legislação especial, o que garantiu menores impostos e facilidades para exportar a produção para os Estados Unidos. Foi daí a origem de um novo tipo de fábrica, conhecida como a indústria maquiladora, elas recebem peças fabricadas nos Estados Unidos e montam o produto final. As grandes cidades abrigam mais de 70% da população mexicana. As maiores densidades demográficas ocorrem nas cidades do centro e do litoral do país. Elas contrastam com o norte árido e o sul florestado, que são menos povoados. TÓPICO 1 | MÉXICO 91 FIGURA 35 – MAPA DA DENSIDADE DEMOGRÁFICA DO MÉXICO FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/40/Mexico_ estados_densidad.png/640px-Mexico_estados_densidad.png>. Acesso em: 25 nov. 2015. A urbanização permitiu uma melhoria nas condições médico-sanitárias, e promoveu uma queda acentuada das taxas de mortalidade, o que acelerou o crescimento vegetativo do país. O rápido processo de urbanização não é o único fator gerador de grandes necessidades de serviços básicos. Contribui para o aumento dessa demanda a existência de um elevado percentual de jovens, que evidentemente necessitam de escolas e universidades, entretanto, nem sempre essas carências estruturais são sanadas. Apesar da urbanização acelerada, persistem no México graves problemas sociais. No Sul, no estado de Chiapas, há uma grande carência de serviços básicos, como rede elétrica e de água e esgoto, coleta de lixo, asfaltamento de ruas, construção de escolas e hospitais. Essa situação de atraso e de injustiça social que caracteriza algumas comunidades gera conflitos. Existem grupos sociais, muitos dos quais, armados, que lutam por seus direitos em muitas regiões do país. Um dos mais conhecidos é o Exército Zapatista de Libertação Nacional – EZLN, que atua em Chiapas, um dos estados mais pobres do México. O EZLN se mantém em constante prontidão contra as injustiças cometidas pelo governo mexicano que atingem a população indígena da região. Sem nenhuma infraestrutura e constantemente expulsos de suas terras, os indígenas zapatistas enfrentam as tropas do exército mexicano desde 1º de janeiro de 1994. Vivendo nas montanhas florestadas de Chiapas, o UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 92 3 ENTRE PAÍSES RICOS E ENTRE PAÍSES POBRES A economia mundial passou por profundas mudanças nas décadas de 1980 e 1990. A mais notável foi o colapso da União Soviética, que afetou quase todos os países socialistas. Nessa época, a Rússia, a maior e mais importante das ex-repúblicas soviéticas, iniciou uma rápida transição para o capitalismo. Chegava ao fim a Guerra Fria, marcada pela bipolaridade mundial entre o capitalismo e o socialismo. Ao mesmo tempo em que o bloco socialista se desintegrava, muitos países asiáticos, especialmente o Japão, transformavam suas economias em plataformas de exportação e inundavam o mundo com mercadorias baratas. Muitos países tiveram de se preparar para essa nova situação, o capitalismo havia se transformado num sistema econômico planetário e a concorrência internacional era acirrada pelo bom desempenho da Ásia. Como parte da preparação para enfrentar grandes disputas no comércio internacional, vários países formalizaram parcerias entre Si. Os Estados Unidos e o Canadá, por exemplo, iniciaram conversações para unificar seus mercados consumidores. Isso permitiria que as mercadorias produzidas por suas empresas concorressem livremente, porém num mercado consumidor menor, os dois países somam mais de 330 milhões de habitantes e com alto poder aquisitivo, essa parceria foi efetivada em 1988, quando norte-americanos e canadenses estabeleceram um acordo de liberalização comercial. Foi o primeiro passo para a implementação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte – NAFTA, uma vez oficializado, o Nafta permitiria a livre entrada de produtos canadenses nos Estados Unidos e vice-versa. (CHALOUT, 2000) Poucos anos depois de 1992, o Nafta recebeu a adesão do México. Em 1º de janeiro de 1994 passou a vigorar. Seu pleno funcionamento se daria num prazo máximo de 15 anos, quando desapareceriam todas as barreiras comerciais entre os três países-membros, ou seja, nesse estágio nenhum produto mexicano, canadense ou dos EUA pagaria tarifas alfandegárias para ingressar nos outros dois países e vice-versa. Num primeiro momento, foram eliminadas as tarifas alfandegárias sobre veículos, autopeças, computadores, tecidos e produtos agrícolas. Desse modo, tais produtos ficaram mais baratos no interior do Nafta. Esse barateamento aumentou as vendas dessas mercadorias, criando mais empregos e desenvolvendo a economia em geral. EZLN colabora com a população da região para superar a falta de saneamento básico, saúde pública, educação, transporte e trabalho. Muitos zapatistas mantêm- se no anonimato para evitar perseguições por parte do governo mexicano. Os líderes andam encapuzados, evitando mostrar o rosto. TÓPICO 1 | MÉXICO 93Alguns especialistas acreditam que o Nafta ajudou as empreses de seus países-membros a aprimorarem sua produção, ao intensificar o comércio regional, afinal, essas empresas passaram a investir em tecnologia e na abertura de novos pontos de venda para conquistar os consumidores de seus vizinhos-parceiros, as empresas do Nafta também teriam se tornado mais capacitadas para enfrentar a concorrência com os asiáticos. Por outro lado, há análises que acusam o Nafta de rebaixar o México e o Canadá a meros fornecedores e consumidores dos Estados Unidos, cujas gigantescas e modernas corporações empresariais são imbatíveis como concorrentes. De fato, os Estados Unidos têm grande interesse nos abundantes recursos naturais do Canadá, mas, e quanto ao México? Inicialmente no México ocorreu uma euforia devido à abertura do mercado consumidor estadunidense aos produtos do país latino. Mas em poucos anos a realidade mostrou-se outra. Uma parcela considerável das empresas mexicanas foi comprada ou incorporada por gigantescas transnacionais norte-americanas, muito mais ricas e detentoras de avançadas técnicas de produção. Isso fez com que o desemprego aumentasse no México, apesar das maquiladoras, cujos empregos geralmente são braçais e mal remunerados. Na agricultura, a situação é ainda mais preocupante, o México passou de exportador de milho e algodão a importador desses produtos. Ocorre que o milho e o algodão estadunidenses são subsidiados (TAMDJIAN, 2012). Desse modo, apesar de seus produtos entraram livremente nos Estados Unidos, os agricultores mexicanos não conseguem competir com os estadunidenses, cujos produtos agrícolas, além de melhores, ficam mais baratos devido ao subsídio. O subsídio se trata de um benefício, um valor de dinheiro em circulação fixado e concedido pelo Estado, ou outra corporação, para uma obra de interesse público ou que beneficie este, e que represente papel importante para a economia do país. DICAS UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 94 4 A MIGRAÇÃO DOS MEXICANOS PARA OS ESTADOS UNIDOS A migração está associada de maneira indissolúvel ao movimento e ao deslocamento espacial e, nesse sentido, é uma característica nata nos seres humanos. No entanto, sua organização implica a formação e reestruturação constante de delimitações territoriais, formando processos de identidade social no interior das mesmas e de diferenciação com relação aos espaços externos. Tais delimitações podem ser cidades, regiões ou continentes, mas a divisão política em países ou estados nacionais configurou espaços de reprodução social no interior destes, de atração da população proveniente de outros espaços, de regulação para a entrada e saída de pessoas de uma determinada população etc. Os fluxos são estimulados ou repelidos em função das circunstâncias específicas das sociedades e das políticas exercidas. (DIAS, 2007 ) Para Mendes (2013) a migração internacional está ligada às enormes desproporcionalidades existentes entre os países, que foram agravadas pelas assimetrias e crises econômicas apresentadas por países de baixo desenvolvimento. Se no país de origem as dificuldades econômicas fazem aumentar a pobreza e a marginalização, então as correntes migratórias se orientam na direção de países nos quais existam maiores oportunidades de emprego e investimentos. Ainda assim, mesmo que haja crescimento econômico em determinado país, a insuficiente geração de empregos contribui para a migração de pessoas em busca de melhores condições de vida. Um problema social com reflexos diretos na queda do índice de crescimento demográfico é a emigração, legal e ilegal para os Estados Unidos. Na década de 1990, o número de migrantes para o país vizinho cresceu 97% e durante os três primeiros anos do novo século 13%. As estatísticas oficiais mostram que o México perde aproximadamente 300 mil pessoas por ano, em sua maioria jovens em idade de ter filhos. Porém, as pessoas que estão em condições de ilegalidade são consideradas a partir das remessas de dinheiro que esses imigrantes enviam para as famílias que permaneceram no país. FONTE: Disponível em: <http://claudiatorales.blogspot.com.br/2012/11/mexico-entre-os-paises- ricos-e-os.html>. Acesso em: 25 nov. 2015. TÓPICO 1 | MÉXICO 95 Um imenso muro cobre boa parte da fronteira entre o México e os Estados Unidos, é uma representação física das separações entre mundo desenvolvido e o subdesenvolvido. Quem tenta entrar no país rico pode ter um destino muito mais severo do que apreensão e posterior deportação. FONTE: Disponível em: <http://docplayer.com.br/2693288-Imigracao-ilegal-nos-estados-unidos- uma-analise-conjuntural-a-partir-de-uma-perspectiva-historica.html>. Acesso em: 25 nov. 2015. Diante das deportações e do rigor do controle da fronteira, ao longo dos anos revelou-se imparável a imigração ilegal provinda do México, dificultado a entrada até mesmo de imigrantes legais, que passaram a ser dificultadas pelas autoridades norte-americanas ao máximo quanto a concessão de vistos, e mesmo de turistas, a cidadãos mexicanos (DIAS, 2007). Outro fator da deportação são as condições de circulação que os imigrantes vivem, num estado de permanente angústia, temendo as rusgas nos locais de trabalho, ou o encontro de um agente de imigração em algum local, o que levará ao transporte a um centro de detenção e a uma ordem de deportação. Esta situação é em especial dolorosa para aqueles que têm família constituída e mesmo filhos nascidos nos Estados Unidos. Historicamente, devido à proximidade geográfica e às diferenças sociais existentes entre os dois países, em 1848, quando os Estados Unidos ainda não se preocupavam com a imigração ilegal, a anexação americana de parte do território do México concedeu cidadania a 80.000 mexicanos. Isto ocorreu através do Tratado de Guadalupe Hidalgo, que encerrava uma guerra entre os dois países e destinava uma área de 1,36 milhões km² mexicanos para os Estados Unidos. Outra leva de mexicanos migrou para os Estados Unidos em 1910, quando aconteceu a Revolução Mexicana. O programa Bracero, instaurado na época da Segunda Guerra Mundial, também foi responsável por levar imigrantes aos Estados Unidos. Em relação aos números em 1927 o Secretário do Trabalho americano estimou que haveria, na época mais de 1 milhão de mexicanos ilegais no país. O processo de entrada era facilitado pois não havia tanta proteção na fronteira. Já em 1980 o valor estimado varia entre 1 e 2 milhões de migrantes. Os dados apontam que em 2010, aproximadamente 62% dos 10,8 milhões de imigrantes ilegais são mexicanos, isso representa 6.650.000 de migrantes do México. Como exemplifica a imagem a seguir. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 96 A fronteira dos Estados Unidos com o México possui mais de 3,1 mil km de extensão, este território se estende por quatro estados americanos: Califórnia, Novo México, Arizona e Texas, sendo esse último aquele com maior área de fronteira e postos de entrada legal. Do lado mexicano, são seis estados: Baja California, Sonora, Chihuahua, Coahuila, Nuevo León e Tamaulipas, esses estão entre os mais desenvolvidos economicamente do México. Cerca de um terço do total da fronteira entre os dois países possui uma cerca dividindo as nações, entretanto, a cerca segue sendo construída. A fronteira também apresenta uma grande quantidade de obstáculos geográficos que dificultam a transição entre os países, como o Rio Grande, que atua como fronteira natural entre o Texas e alguns estados mexicanos, e o Rio Colorado. Além deles há o deserto Soronan que se estende pela Califórnia e Arizona, trata- se de um dos desertos mais quentes do continente. O migrante busca por uma melhor condição de vida que trará a ele bem-estar social, bem como à sua família, em determinados casos, sendo este um fator crucial na tomada de decisão. O IDH é um meio de se compreender o que motiva a transposiçãoda fronteira e neste caso, de modo especial, demonstrar a existência de dois extremos: o mundo desenvolvido, representado pelos Estados Unidos e o mundo subdesenvolvido, representado pelo México [...]. FIGURA 36 – MIGRAÇÃO DE MEXICANOS PARA OS ESTADOS UNIDOS FONTE: Disponível em: <http://www.elindependiente.mx/fotos_notas/Incrementa26_ notaw_291214.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015. TÓPICO 1 | MÉXICO 97 Tendo em vista o infográfico divulgado pelo Relatório de Desenvolvimento Humano, do ano de 2009, observa-se uma nítida diferença entre o desenvolvimento humano nas municipalidades que fazem fronteira entre os Estados Unidos e o México. Em Starr (0,766 IDH), no Estado do Texas, o índice é maior do que o maior índice das cidades mexicanas que fazem fronteira, sendo que o maior existente no lado referente ao território mexicano, se encontra na capital do Estado da Baixa Califórnia, Mexicali (0,757 IDH). (MIRANDA; ANDREOZZI, 2013, p. 916-917). No que diz respeito à plataforma salarial, o trabalhador mexicano emigrante pode ganhar por hora o equivalente ao que antes ganhava por dia no seu país. O salário mínimo no México varia de região para região, mas o mais alto corresponde a dólares dos Estados Unidos USD 4,40 por dia. Quanto às áreas de intensa concentração de mexicanos nos Estados Unidos, como no Arizona, não existe legislação sobre salário mínimo, mas este é de USD 5,15 por hora no Texas e no Novo México. FIGURA 37 – DIFERENÇAS DO IDH MUNICIPAL NA FRONTEIRA ENTRE OS ESTADOS UNIDOS E O MÉXICO As fronteiras fazem a diferença IDH em zonas fronteiriças dos Estados Unidos e do México, 2000 FONTE: UNDP (2009 apud MIRANDA; ANDREOZZI, 2013, p. 917). UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 98 Em 2005, o México apresentava-se sendo a região de menor escolaridade entre os imigrantes dos Estados Unidos. 49% dispunha de 10 séries ou menos de estudos, 35% tinha 10 a 12 séries e somente 15,2% contavam com estudos técnicos superiores, universitários ou de pós- graduação (Conapo, 2008). Apesar da maior parte dos mexicanos que emigram contar com baixa escolaridade, o impacto relativo da migração é maior nos estratos educacionais mais elevados. O Conselho Nacional de População (2008) Os mexicanos ocupam o primeiro lugar em incidência de pobreza entre a população migrante nos Estados Unidos (22%); assim como em proporção de população sem previdência social e, junto com os centro- americanos, os únicos em que esta proporção é majoritária (Conapo, 2008). FONTE: Disponível em: <http://www.kas.de/wf/doc/9234-1442-5-30.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2015. Região de nascimento Educação secundária completa ou mais CPS 2004 Educação superior completa ou mais América Latina 49,7 11,5 Caribe 69,5 19,5 América Central 38,8 6,1 México (2000) 29,8 4,3 América do Sul 80,6 29,7 Estados Unidos 88,3 27,8 FONTE: Censo Nacional de População 1990 e 2000. Current Population Survey, 2004. A população mexicana nos Estados Unidos tem por característica dispor de níveis de instrução inferiores aos dos migrantes das demais regiões da América Latina, que, por sua vez, são inferiores aos da população nativa dos Estados Unidos. Segundo o Current Population Survey dos Estados Unidos, de 2004 (citado pela CEPAL, 2006), encontra-se o seguinte perfil no qual se observam especificamente as baixas proporções de migrantes mexicanos com educação superior ao ensino médio ou curso universitário. TABELA 2 – EUA: PERCENTUAL DE NASCIDOS NA AMÉRICA LATINA E CARIBE DE 25 ANOS DE IDADE OU MAIS, POR REGIÃO DE NASCIMENTO E ÚLTIMO NÍVEL EDUCACIONAL APROVADO 2004 TÓPICO 1 | MÉXICO 99 assinala que, da população mexicana de 25 a 44 anos de idade, com 12 ou mais anos de escolaridade, 22,5% reside nos Estados Unidos. Para Escobar Latapí (2007), 19% dos homens mexicanos com mestrado e 29% das mulheres com esse nível de escolaridade estão nos Estados Unidos. No caso de mexicanos com doutorado, as proporções respectivas são de 32 e 39%. Apesar de a baixa escolaridade ser característica da migração mexicana para os Estados Unidos, o mesmo não acontece com outros destinos. Por exemplo, 29,7% dos migrantes mexicanos para o Canadá maiores de 15 anos conta com educação superior. (www.oecd.org). Nesse sentido, os mexicanos têm seus salários 38% menores que a média nacional, 6% menores que os salários dos trabalhadores centro- americanos e menos da metade que os dos canadenses (51,7%). A migração tem um componente econômico central. Dos emigrantes procedentes dos estados com menor desenvolvimento, do sul e sudeste do país, 85% recebia renda menor que três salários mínimos que em 2007 era em torno de 150 dólares mensais, enquanto que o limite superior do estrato de menor renda nos Estados Unidos é em torno de onze vezes maior ao salário mínimo mexicano. De acordo com a União de Bancos Suíços, em 2006 o nível geral de preços era 33,9% menor no México que em Los Angeles e em Chicago (UBS, 2006). Desta maneira, um diferencial de renda de mais de 1100% com relação ao salário mínimo, ou ainda de 367% em comparação com a maioria dos mexicanos que ganha até três salários mínimos, resulta em um incentivo enorme para se arriscar em um processo migratório, apesar de todos os custos e riscos que isso representa. Atualmente, 20% da força de trabalho mexicana nos Estados Unidos trabalha no meio rural. Devido à mecanização agrícola e à redução do uso de força de trabalho. No entanto, a agricultura daquele país tende a empregar força de trabalho mais vulnerável e em condições de trabalho mais precárias, o que facilitou o processo de indigenização mexicana da força de trabalho na agricultura norte-americana. Apesar da redução do setor agrícola como destino da migração mexicana, 77% dos trabalhadores agrícolas nos Estados Unidos são mexicanos e outros 9% são de origem méxico-americana (DURAND, 2003). Neste contexto, Durand (2003) explica que esta concentração mexicana no setor agrícola norte-americano acontece através de seis características: baixo custo (renda inferior a 50% da dos trabalhadores nativos), temporalidade (pelo tipo de migração utilizada), juventude (49,3% menores de 25 anos e 20% entre 25 e 29 anos), capacitação (conhecimento de terras, plantas e manejo manual das mesmas), mobilidade (aceitação UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 100 de trabalhar como nômades em condições de aglomeração) e o fato de não ter documentos, que faz com que aceitem condições de trabalho mais arriscadas, precárias e mal pagas. A mudança na estrutura de emprego no México, em detrimento do setor agropecuário, favoreceu a mudança da origem territorial dos migrantes, aumentando aqueles provenientes dos estados mais pobres e agrícolas. Assim, a maior parte dos emigrantes mexicanos provinha historicamente da zona central do país, mas recentemente intensificou-se a migração a partir do sul e tende a se universalizar por todo o território mexicano, em concomitância com a diversificação das atividades de destino. De fato, o esgotamento da força de trabalho agropecuária do México favoreceu o início de um auge na contratação de trabalhadores da América Central nas grandes propriedades da fronteira sul do México, em especial no estado de Chiapas. O QUE É A ‘INJEÇÃO ANTI-MÉXICO’, QUE IMIGRANTES CENTRO- AMERICANAS TOMAM RUMO AOS EUA Alberto Nájar BBC Mundo, na Cidade do México MULHERES SÃO ACONSELHADAS A TOMAREM PÍLULAS PARA EVITAR GRAVIDEZ ORIUNDA DE VIOLÊNCIA SEXUAL NO TRAJETO PARA OS EUA FONTE: BBC BRASIL FONTE: Disponível em: <http://www.kas.de/wf/doc/9234-1442-5-30.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2015. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | MÉXICO 101 O conselho passa boca a boca entre as imigrantes da América Central que querem viajar para os Estados Unidos: antes de entrar no México, é recomendável tomar um anticoncepcional de efeito prolongado. A medida é uma tentativa desesperada para prevenir a gravidez indesejada depois dasagressões sexuais que muitas delas sofrem no caminho para o território americano. Todo ano, cerca de 45 mil mulheres centro-americanas entram no México sem documentos imigratórios. De todas elas, 70% sofre algum tipo de abuso sexual, conforme denunciou a ONG Anistia Internacional. Tal estatística contrasta com os números divulgados pelo governo mexicano. Segundo o secretário de Governo, Miguel Osorio Chong, o número de agressões aos imigrantes "foi reduzido significativamente". Mas não é apenas a Anistia Internacional que discorda das informações oficiais. Entidades como o Centro de Assistência a Imigrantes Retornados, em Honduras, também afirmam que a violência sexual contra mulheres imigrantes tem aumentado. "A violência não diminuiu; ao contrário, aumentaram as agressões às mulheres", disse à BBC Valdette Willemann, uma das responsáveis pela organização. Por tudo isso, o conselho que circula entre as mulheres imigrantes é sempre o de tomar a pílula antes de viajar. O método mais usado é a aplicação do Depo-Provera, um anticoncepcional que as protege por três meses. Na América Central, essa pílula é chamada de "injeção anti-México". O uso de anticoncepcionais entre as imigrantes para "atenuar" de alguma forma a violência sexual é uma prática comum não só entre mulheres adultas, como também em adolescentes. Às vezes, são os próprios traficantes de pessoas, conhecidos como "coiotes", que aconselham todas elas a tomarem esses medicamentos. O aviso é repetido ao longo de toda a rota até o norte. E desde o início, muitas mulheres assumem que as agressões sexuais "fazem parte dos custos da viagem para o México". Recentemente, organizações apresentaram um relatório sobre as mulheres em situação de imigração. O documento destaca, entre outras coisas, que algumas imigrantes se veem obrigadas a ter relações sexuais como um "requisito" para cruzar a fronteira do sul do México. "Temos ouvido muitos depoimentos de mulheres imigrantes que decidem, por elas próprias, pagar esse preço para não serem sujeitadas à violência sexual durante o trajeto", disse Perseo Quiroz, diretor da Anistia Internacional do México. Frequentemente, os agressores são agentes do Instituto Nacional de Migração (INM), que pertence ao governo mexicano – e também existem denúncias de abusos de policiais e militares. Os "coiotes", membros de gangues e moradores de aldeias por onde passam as centro-americanas no trajeto também UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 102 cometem abusos, segundo as denúncias. Ataques ocorrem em praticamente todo o país, ainda que organizações civis e autoridades tenham identificado alguns pontos específicos que são mais perigosos. Um desses é o corredor entre Huehuetenango, na Guatemala, e Comitán, em Chiapas, no México. Nesta zona, abusos, roubos, extorsões e sequestros são frequentes. A área é uma das rotas que recentemente voltou a ser utilizada depois de o governo mexicano ter aumentado a vigilância nas regiões tradicionais do trajeto, como Tapachula e Ciudad Hidalgo, em Chiapas. Todo mês, segundo Diana Damián Palencia, diretora da ONG Foca, há registros de quatro ou cinco assassinatos de mulheres. As vítimas são abandonadas em um fosso que conecta o município de Frontera Comalapa, em Chiapas, com Huehuetenango. O caminho se chama, paradoxalmente, "Gracias a Dios" (Graças a Deus). Há mais de uma década existem denúncias sobre abusos sexuais a mulheres imigrantes em território mexicano. As autoridades criaram programas para combater os abusos a pessoas sem documentos imigratórios, como o "Plano Fronteira Sul". Mas as agressões não pararam. Não se sabe o número exato de ataques que ocorrem no país, pois a maioria das vítimas não presta queixa. Além disso, outro problema é que a maioria dos casos que chega às autoridades fica impune, segundo a Anistia Internacional. "É preciso que haja proteção efetiva e punição aos responsáveis pelas violações dos direitos humanos, principalmente para a violência contra as mulheres imigrantes no México", insiste Quiroz. Mas o secretário Osorio Chong diz o contrário. Nos municípios onde se aplica o Plano Fronteira Sul "as agressões diminuíram em 35%", ele garante. "Em menos de um ano, temos resultados muito satisfatórios a favor dos direitos dos imigrantes que nos visitam." FONTE: BBC do Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151023_ injecao_anti_mexico_rm>. Acesso em: 25 nov. 2015. 103 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico vimos que: • O México guarda grandes semelhanças com o nosso país, sobretudo no tocante a alguns traços socioeconômicos, destacando o espaço agrário que reflete as desigualdades sociais, que são tão gritantes quanto na maioria dos países latino-americanos. • Cerca de 75% da população mexicana vive sobre região de planalto com solos férteis de origem vulcânica. • A população mexicana está concentrada, em sua maioria, nas cidades centrais e litorâneas do país. • Do ponto de vista dos sistemas de produção, caracterizamos os dois principais sistemas de produção agrícola, os ejidos e as haciendas, relacionando-os com os aspectos naturais dos países da América Latina, que podem ser agrupados em América Platina, América Andina, Guianas, Brasil, América Central ístmica, Antilhas (Grandes e Pequenas) e México. • Estimativas demonstram que cerca de 300 mil pessoas migram do México em direção aos Estados Unidos. 104 AUTOATIVIDADE 1 Observe a tabela a seguir. Principais parceiros comerciais em 2010 Países México Canadá Exportações % do valor total das transações em dólares Estados Unidos 73,5% Canadá 7,5% Estados Unidos 74,9%Reino Unido 4,1% Importações % do valor total das transações em dólares Estados Unidos 60,6% China 6,6% Estados Unidos 50,4%China 11% a) O que mostram os dados da tabela referentes aos principais parceiros comerciais dos países em questão, inclusive do México? b) Com base em seus conhecimentos e no tópico estudado, explique por que isso ocorre, e a relação com o Nafta. 2 Durante boa parte da década de 1990, as maquiladoras representaram o símbolo do suposto milagre econômico do México, sobretudo após a implantação do Nafta. O pico da expansão das maquiladoras foi alcançado em 2000, quando, no norte do México, ao longo da fronteira com os Estados Unidos, chegaram a funcionar cerca de 3 600 fábricas desse tipo. Contando com cerca de 1,3 milhão de funcionários, essas empresas exportaram o equivalente a US$ 70 bilhões em mercadorias naquele ano. Aponte algumas características favoráveis e desfavoráveis geradas pela maquiladoras no México. 105 TÓPICO 2 AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A América Central possui aspectos naturais exclusivos, que a diferenciam do restante do continente americano. Tem como principal característica o fato de que se divide em duas porções, uma continental e outra insular. A América Central Continental ou ístmica corresponde a uma estreita faixa de terra que liga a América do Norte à América do Sul. É banhada pelos oceanos Pacífico, a oeste, e Atlântico, a leste. O Atlântico forma um grande mar interior denominado Mar das Antilhas ou do Caribe. A América Central Continental é formada por sete países: Guatemala, Belize, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Abrigando no total uma população de cerca de 40 milhões de habitantes. Como mostra a figura a seguir. FIGURA 38 – MAPA DA AMÉRICA CENTRAL FONTE: Disponível em: <http://8oanocemilie.blogspot.com.br/>. Acesso em: 25 nov. 2015. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 106 A América Central insular é um conjunto de grandes e pequenas ilhas também chamadas de Antilhas ou Caribe. As inúmeras ilhas estão reunidas em três grupos: Grandes Antilhas, que inclui Cuba, Jamaica, Porto Rico e a Ilha Hispaniola, onde se localizam o Haiti e a República Dominicana. Pequenas Antilhas, que inclui Antígua e Barbuda, Dominica,Granada, Santa Lúcia, São Cristóvão e Nevis, São Vicente e Granadinas, Trinidad e Tobago, Barbados e Guadalupe. Bahamas é um arquipélago com mais de 700 ilhas, situado ao norte de Cuba. FONTE: Disponível em: <http://geonaweb.blogspot.com.br/2010/09/america-central-insular. html>. Acesso em: 25 nov. 2015. 2 AMÉRICA CENTRAL CONTINENTAL: SEU TERRITÓRIO E A SUA POPULAÇÃO Na porção norte do istmo, na Guatemala, o relevo montanhoso constitui um prolongamento da Sierra Madre mexicana. A cordilheira é composta de dobramentos modernos, resultantes do choque de placas tectônicas. O choque constante entre as placas dá origem a uma intensa atividade tectônica, que se manifesta principalmente sob a forma de constantes terremotos e erupções vulcânicas. Existem cerca de 80 vulcões em atividade. Alguns desses vulcões estão em atividade, e estão em elevadas altitudes, como por exemplo o Tajamulco que tem 4220 metros, na Guatemala, e o Barú com 3475 metros, no Panamá. Esses vulcões mostram que ainda estão ativas as forças geológicas que criaram o istmo. FIGURA 39 – MAPA DAS PLACAS TECTÔNICAS FONTE: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/ imagem/0000001806/0000021652.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015. Direção das placas Limites das placas tectônicas Vulcões ativos TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 107 Em sua porção centro sul, a América Central Continental apresenta as montanhas e os vulcões aparecem intercalados com bacias sedimentares recobertas de solos muito férteis. Essa extrema fertilidade resulta da composição de rochas expelidas pelas atividades vulcânicas mais antigas. Indícios de erupções passadas são encontrados em alguns sítios arqueológicos, cujos fósseis estão carbonizados. Os solos férteis são mais abundantes nas costas voltadas para o Oceano Pacífico, onde os derramamentos de lava vulcânica foram maiores. Os solos vulcânicos permitem uma diversificada agricultura, entre os cultivos se destacam os de cana- de-açúcar e banana. Nos planaltos do istmo, encontra-se uma importante área de plantio de café. Nos litorais banhados pelo Mar do Caribe, encontram-se imensos manguezais. Eles se formam em locais onde pequenos rios encontram o mar, geralmente em praias de águas calmas. Ainda próximo aos litorais encontram-se as florestas tropicais, com uma extraordinária diversidade biológica de formação vegetal, favorecidas pelas chuvas constantes trazidas pelos ventos marítimos. A rica diversidade vegetal causa a destruição para exploração de madeira, muitas áreas de florestas são derrubadas ilegalmente para dar lugar a atividades agropecuárias como ocorrem em outras partes do mundo. Para conter essa devastação, que já comprometeu grande parte da vida natural da região, diversos países do istmo criaram parques nacionais: as áreas preservadas somam 25% da cobertura vegetal natural da América Central. FIGURA 40 – IMAGEM DE SATÉLITE RESSALTANDO OS ASPECTOS FÍSICOS DO ISTMO DA AMÉRICA CENTRAL FONTE: Disponível em: <http://www.geografiaparatodos.com.br/img/mapas_fisicos/america_ central_fisico.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 108 O país mais populoso é a Guatemala, com aproximadamente 15,47 milhões de habitantes, cerca de um terço da população da América Central. A maior densidade demográfica ocorre na costa do Pacífico, onde a presença de planaltos com solos férteis e clima tropical úmido favoreceu a concentração populacional. Nessas áreas são encontradas as principais cidades da América Central Continental, as capitais: Guatemala na Guatemala, São José na Costa Rica, San Salvador em El Salvador, e Manágua na Nicarágua. No litoral do Mar das Antilhas os reduzidos índices de densidade demográfica devem-se, em parte, ao predomínio de florestas tropicais. A composição étnica da população da América Central Continental é resultante da miscigenação de indígenas e espanhóis, os principais colonizadores da região. Isso pode ser observado na população de El Salvador, Honduras, Nicarágua e Panamá. Por exemplo, na Guatemala, mais da metade da população é constituída por indígenas. Em Belize e na Costa Rica predominam indivíduos brancos de origem europeia. É significativa uma pequena porcentagem de descendentes dos africanos, que foram trazidos como escravos para trabalhar no sistema de plantations na conta atlântica. Nesse sentido, cabe ressaltar o processo de colonização da América Central, que tinha a função de proporcionar riqueza às metrópoles. Assim, todas as terras eram colonizadas para exploração. Por volta dos séculos XVII e XVIII predominavam em vastos trechos da América Central as plantations, cuja produção agrícola era controlada pelas metrópoles europeias. As propriedades agrícolas implantadas pelos colonizadores no continente americano usavam mão de obra escrava e seus produtos abasteciam exclusivamente o mercado europeu. Para manter sua riqueza, os governantes das metrópoles firmaram acordos comerciais com grandes fazendeiros das colônias. Os acordos previam que as empresas europeias comprariam toda a produção. Os donos das propriedades agrícolas coloniais não poderiam vender sua produção a mais ninguém, nem poderiam desenvolver manufaturas, pois eram obrigados a comprar as mercadorias produzidas nas metrópoles. Deste modo, suas economias dependiam exclusivamente da exportação de produtos agrícolas e de produtos do extrativismo vegetal e mineral. E por que as colônias aceitavam acordos como esses, tão prejudiciais aos interesses de sua população? Ocorria que os fazendeiros e os grandes comerciantes residentes nas colônias tinham origem europeia e estavam interessados apenas em enriquecer. Estavam inseridos no capitalismo comercial que se desenvolveu na Europa desde o século XV e numa Divisão Internacional do Trabalho entre metrópoles e colônias que pressupunha a existência das desigualdades, necessárias para a reprodução ampliada do capital através do mercantilismo. Os negociantes e fazendeiros representantes da coroa espanhola, não se preocupavam com a TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 109 maioria da população. Isso remete pensarmos se na atualidade esta prática em que os interesses capitalistas das potências econômicas e transnacionais que causam desfeitos com a população, pequenas empresas e países periféricos, não está presente na sociedade. As práticas comerciais e os interesses capitalistas de empresas estrangeiras não respeitam a natureza, nem regimes e condições de trabalho, pois prezam somente o lucro. Na América Central, a exploração não se limitou aos produtos agrícolas das plantations, pois apesar de no final do século XIX vários países terem conquistado sua independência política, continuaram fornecendo minérios às potências europeias, que necessitavam dessas matérias-primas para sustentar sua revolução industrial. Paralelamente, nos séculos XIX e XX, os Estados Unidos transformaram a América Central em um de seus maiores fornecedores de alimentos. Os interesses estadunidenses na América Central tornaram-se mais visíveis, principalmente através da presença de empresas alimentícias, que se empenharam em conquistar e controlar os mercados produtores da região. A colonização de exploração em tempos coloniais e a prática do imperialismo tanto europeu como estadunidense na América Central refletiu na dependência econômica e na baixa qualidade de vida para a população, expressa pelas altas taxas de mortalidade infantil e analfabetismo, assim como, em grandes desníveis sociais e a elevada concentração de renda. Outro aspecto marcante é o predomínio da população rural, apesar do rápido crescimento dos habitantes das cidades verificado nas últimas décadas. Também cabe mencionar a forte dependência da economia de outros países, em especial dos Estados Unidos, o que levou a intervenções militares estadunidenses na segunda metade do século XX, nas repúblicas centro-americanas,ampliando e potencializando a influência que os Estados Unidos exercem na região. 2.1 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO As primeiras atividades econômicas da América Central Continental estão relacionadas ao cultivo de produtos tropicais voltados para o mercado externo. Tem sido assim desde o período colonial. O café e a banana continuam os principais itens da pauta de exportação da região. A cana-de-açúcar e o cacau, produtos tradicionais da agricultura centro-americana, perderam importância no mercado internacional com o surgimento e a consolidação de outras áreas produtoras, tanto na América do Norte e do Sul, como na Ásia. Grande parte da produção agrícola de exportação realiza-se em extensas propriedades monocultoras, localizadas em áreas de clima quente e úmido no litoral do Pacífico. A maioria dessas propriedades agrícolas pertencem a empresas estrangeiras, sobretudo originárias dos países para os quais se destina a produção, como os Estados Unidos, são as plantations contemporâneas. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 110 FONTE: Disponível em: <http://www.msnoticias.com.br/img/c/620/350/dn_noticia/2014/09/ 5005-img-2020-a.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015. Na atividade industrial e na extração mineral, práticas que estão também ligadas à economia da América Central, destacam-se apenas algumas indústrias de bens de consumo, como calçados e têxteis. O país mais industrializado é o Panamá, em que sua produção petrolífera alimenta as indústrias petroquímicas e lhe garante a exportação de petróleo, com isso a econômica local beneficia-se da presença do Canal do Panamá que liga os Oceanos Atlântico e Pacífico gerando com isso, 25% da renda do país pelos tributos sobre as cargas transportadas. 2.1.1 O caso do Panamá O Panamá é um país com 75.000 km², esse território fazia parte da Colômbia. Desde os tempos coloniais as metrópoles europeias cogitavam a construção de um canal no istmo, que permitisse uma continuidade mais rápida da navegação pelo oceano Pacífico e litoral americano como este oceano. Empresas francesas depois da construção do Canal de Suez, no nordeste africano, na península do FIGURA 41 – CULTIVO DE BANANA NA COSTA RICA Na porção litoral do Atlântico e nos altiplanos predomina a agricultura de subsistência, praticada em pequenas propriedades com o emprego de técnicas tradicionais e de mão de obra familiar, os principais produtos cultivados são o milho e a batata. Nesta área ocorre também uma intensa exploração de madeiras de valor comercial, como a peroba, o pau- rosa, o cedro e a seringueira. FONTE: Disponível em: <http://geografianewtonalmeida.blogspot.com.br/2013/09/america- central-continental-perguntas.html>. Acesso em: 26 nov. 2015. TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 111 Sinai, no final do século XIX, começaram a estudar alternativas para um canal no istmo da América Central. Em 1880, iniciaram os trabalhos de escavação do projeto francês. Ocorreu que a estrutura geológica, o tipo de rochas e o clima da região eram totalmente diferentes da região onde fora construído o Canal de Suez. Depois de muitas dificuldades e mortes (estimadas em 22 mil pessoas), os franceses desistiram do projeto, decretando falência, e em um acordo com os Estados Unidos, os franceses “venderam” o projeto aos estadunidenses por US$ 40 milhões (REZENDE, 2012). Consequentemente, desde o final do século XIX, os Estados Unidos e a Colômbia mantinham conversações para a continuidade da construção desse importante canal para ligar o Atlântico ao Pacífico. Esse canal, de interesse norte- americano principalmente, permitiria a passagem interoceânica de grande porte, aceleraria o comércio entre o oeste e o leste dos Estados Unidos. Sem o canal, os grandes navios cargueiros dos Estados Unidos e de outros países tinham de contornar o continente americano pelo sul, gastando mais tempo e dinheiro. Observe no mapa a diferença entre as rotas sem o canal e após a sua construção. A diferença com a construção do canal é de 12.530 km a menos no trajeto entre Nova Iorque na costa leste e São Francisco na costa oeste dos Estados Unidos. FIGURA 42 – ROTAS OCEÂNICAS ANTES E DEPOIS DA CONSTRUÇÃO DO CANAL DO PANAMÁ FONTE: Disponível em: <http://www.aquafluxus.com.br/canal-do-panama-um- atalho-entre-dois-oceanos/>. Acesso em: 25 nov. 2015. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 112 No começo do século XX, o governo dos Estados Unidos ofereceu um pagamento anual à Colômbia em troca da utilização do futuro canal. Os governantes colombianos não aceitaram o valor e julgavam que estavam sendo colocados de lado nas decisões referentes a essa importante obra. Diante da resistência da Colômbia em assinar o acordo, os Estados Unidos passaram a incentivar a separação do Panamá, que, como falamos pertencia a Colômbia. Em 1903 o Panamá declarou sua independência. A Colômbia não aceitou essa separação, mas navios de guerra estadunidenses protegem o litoral do Panamá. As forças armadas da Colômbia evitaram o conflito e a retomada do território, por temor de uma guerra com os Estados Unidos, que já eram uma potência. Transformado em um país, o Panamá concedeu, por meio de um acordo, o direito de construção, de administração e de uso do canal aos Estados Unidos até 1999, ou seja, durante quase todo o século XX. As obras estenderam-se de 1903 a 1914, quando o canal foi inaugurado. Anos depois, em 1921, os EUA assinaram um tratado especial de reconciliação com os colombianos pagando 25 milhões de dólares como indenização. FIGURA 43 – TRAVESSIA DO CANAL DO PANAMÁ FONTE: Disponível em: < https://portogente.com.br/media/k2/items/cache/446e731027bed6418ae- 45223e74d8b01_L.jpg?t=-62169984000>. Acesso em: 26 nov. 2015. TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 113 O canal possui uma extensão de 82 km de comprimento, com largura mínima no Estreito de Culebra de 90 metros e máxima no lago de Gatún de 350 metros. Como existe uma diferença quanto ao nível dos oceanos Pacífico e Atlântico e pela disposição do relevo na área, a construção de diversas comportas ou eclusas foi necessária. Nos últimos anos, o canal perdeu parte da sua importância para a navegação e o comércio. Os gigantescos navios cargueiros não podem atravessá-lo porque alguns pontos são estreitos e outros são rasos. Outro problema apresentado pelo canal é o assoreamento do canal, em virtude do frequente desmoronamento de terras de suas margens. Em 2000, acabado o período de concessão, o governo dos Estados Unidos devolveu o canal ao Panamá, que tem realizado constantes obras de ampliação para que ele não se torne obsoleto. Entenda o sistema de eclusas do Canal do Panamá, sua história e principais características assistindo ao vídeo disponível em: <https://aaa.youtube.com/ aatch?v-qf3i7jnFDE4>. Sobre a duplicação do canal e outras informações complementares sobre os sistemas de eclusas, assista ao documentário disponível em: <https://aaa.youtube.com/ aatch?v-0QXZXj6U65Q>. Os dois vídeos podem ser utilizados em sala de aula, dependendo da série ou ano em que os conteúdos estão sendo trabalhados. O segundo vídeo apresenta- se numa perspectiva interdisciplinar. UNI Assoreamento é a deposição de sedimentos no fundo de lagos, rios e represas. As deposições de sedimentos deixam os corpos d´água mais rasos e prejudica tanto a navegação quanto os ecossistemas aquáticos. NOTA UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 114 Observe a imagem a seguir. Esta obra de reforma foi proposta em 2006 pelo então presidente Martín Torrijos, que defendia a obra para tornar o Panamá um “país de Primeiro Mundo”, iniciado no ano seguinte, em 2007, o projeto era uma exigência natural para um setor que evoluiu muito em cem anos. Atualmente, o Canal do Panamá passa por uma reforma. A obra de engenharia considerada a maior já realizada pelo homem até 1914, ano em que as obras tiveram início, está ganhandouma faixa de tráfego nova ao lado, adequada aos supercargueiros hoje dominantes no comércio internacional. Até 2015, espera-se que a expansão transforme a travessia entre os oceanos Atlântico e Pacífico. FONTE: Disponível em: <http://www.engenhariacompartilhada.com.br/Noticia.aspx?id=750342>. Acesso em: 26 nov. 2015. FIGURA 44 – IMAGEM PARCIAL DAS OBRAS DE AMPLIAÇÃO DO CANAL DO PANAMÁ FONTE: Disponível em: <http://geografiaetal.blogspot.com.br/2013/05/expansao-do-canal- do-panama.html>. Acesso em: 25 nov. 2015. TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 115 O atual Canal do Panamá recebe navios com até 295 metros de comprimento, 32 metros de largura e 12 metros de calado (o espaço ocupado pela embarcação dentro d’água), os chamados Panamax. A partir dos anos 1990, porém, surgiram navios muito maiores, capazes de levar mais carga na mesma viagem, e as dimensões do canal se tornaram um empecilho para eles. A presença cada vez maior das embarcações Post-Panamax no comércio internacional expôs a obsolescência da passagem panamenha. Em 2011, 37% da frota mundial de cargueiros não podia trafegar ali. Um problema e tanto para um país que obtém com os pedágios US$ 1,8 bilhão por ano, cerca de 26% de seu Produto Interno Bruto (PIB). “O canal é o nosso petróleo”, afirmou Torrijos ao propor a expansão. (ARAIA, 2014). Mas a obra de expansão do canal não transcorreu como imaginado pelas empresas que assumiram o consórcio. Um sinal da gravidade do atraso foi dado quando o dinamarquês Soeren Skou, presidente da Maersk, a maior transportadora de contêineres do mundo, anunciou em março de 2014 que, em abril, sua empresa iria trocar o Canal do Panamá pelo de Suez para levar cargas da Ásia à costa leste dos EUA. Segundo representante da empresa Maersk, a economia no transporte é muito maior via Canal de Suez simplesmente porque se utiliza a metade do número de navios transportando cargas com os supercargueiros (ARAIA, 2015). Orçada em US$ 5,25 bilhões, a expansão do canal permitirá a passagem de navios com até 366 metros de comprimento, 49 metros de largura e 15,2 metros de calado, o que cobre 95% da atual frota de cargueiros do mundo. Enquanto os Panamax levam no máximo 4.400 TEU (sigla para “Twenty Foot Equivalent Unit”, tamanho padrão dos contêineres da navegação comercial), os Post-Panamax podem transportar até 14.000 TEU. [...] FIGURA 45 – MAPA: FLUXOS DA NAVEGAÇÃO MARÍTIMA PELO CANAL DO PANAMÁ EM 2011 FONTE: Disponível em: <http://www.revistamilitar.pt/artigo.php?art_id=914>. Acesso em: 25 nov. 2015. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 116 As obras envolvem quatro eixos principais. Em primeiro lugar, estão sendo feitas escavações do leito marinho nas entradas do Atlântico e do Pacífico e ao longo do trajeto destinado aos Post-Panamax. Um canal de 6,1 quilômetros está sendo aberto para unir as comportas do Pacífico ao Passo Culebra (vale escavado pelo homem, através de uma serra). O Lago Gatún, criado entre 1907 e 1913 para facilitar a passagem dos navios, hoje abastece cerca de 50% da população panamenha com água potável. As obras estão elevando o nível operacional máximo do lago de 26,7 metros para 27,1 metros, o que garante o trânsito dos Post- Panamax sem prejudicar o fornecimento de água (ARAIA, 2014). FIGURA 46 – PROJEÇÃO PARA O CANAL DO PANAMÁ EM 2016 FONTE: Disponível em: <http://www.revistaplaneta.com.br/wp-content/uploads/ sites/3/2015/08/img-357409-abram-comportas-405x420.png>. Acesso em: 25 nov. 2015. Observe as demais imagens e leia reportagens na íntegra disponíveis em: <http://aaa.revistaplaneta.com.br/abram-as-comportas/> e <http://aaa.brasil247.com/ pt/247/revista_oasis/172745/Canal-do-Panam%C3%A1-O-passo-das-Am%C3%A9ricas-se- alarga.htm>. DICAS TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 117 3 AMÉRICA CENTRAL INSULAR A região insular da América Central é mundialmente conhecida como Caribe, esse nome retrata os grupos indígenas que viviam na região quando chegaram os espanhóis. Essas ilhas e países insulares no Mar do Caribe são também chamados de Antilhas ou Índias Ocidentais, devido à crença inicial de que o continente americano fosse a Índia. As ilhas abrigam um rico mosaico cultural, pois são habitadas por povos de diversas origens, sobretudo europeus, africanos e asiáticos. Os índios formam um grupo reduzido. No canal atual, a água doce do trajeto impede naturalmente que formas de vida transitem de um oceano para o outro. Charles Andrews, sócio da empresa de consultoria Ergo, observa que, com a ampliação, “água doce e salgada terão de correr através do canal, e isso terá um impacto direto no Lago Gatún. Há preocupações sobre a capacidade de controlar a quantidade de água do mar que flui através do lago”. No entanto, estudos da Associação Nacional da Conservação da Natureza (Ancon), uma das principais organizações ambientalistas panamenhas, concluíram que a obra causará uma salinização insignificante no Lago Gatún, garantindo a separação biológica entre o Atlântico e o Pacífico e a biodiversidade e a qualidade da água potável. Outras preocupações ambientais incluem as florestas, o patrimônio arqueológico e as áreas agrícolas, industriais, turísticas e portuárias dos trechos afetados pela obra. A Autoridad del Canal de Panamá (ACP), agência governamental que opera e administra o canal, promete que o projeto vai causar transtornos mínimos a comunidades do entorno, parques nacionais e reservas florestais, e não afetará a qualidade do ar e da água. A capacidade dos lagos Gatún e Alajuela (que serve de reservatório para o primeiro) será maximizada e aumentará a eficiência no consumo de água, evitando a necessidade de novos reservatórios e o deslocamento de comunidades. Os críticos do projeto não veem o quadro de forma tão rósea. Para eles, o ecossistema da região é complexo e, com isso, vários aspectos devem ser avaliados, como as diferenças de chuvas na região causadas por fenômenos como o El Niño, uma vez que o sistema do canal precisa de precipitações suficientes para se manter operacional e abastecer a população. A cada ano, há uma chance em 15 de que o nível da água caia a ponto de limitar as operações no canal. De todo modo, a ACP garante que qualquer dano constatado pode ser mitigado com a ajuda da tecnologia moderna. “A cultura do pessoal que controla o canal é de que quaisquer obstáculos à expansão podem ser removidos”, lamenta Eric Jones, editor do jornal de língua inglesa Panama News. FONTE: ARAIA, Eduardo. Canal do Panamá. O passo das Américas se alarga. Brasil 247, jornal digital. 11 de março de 2015. Disponível em: <http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/172745/Canal-do- Panam%C3%A1-O-passo-das-Am%C3%A9ricas-se-alarga.htm>. Acesso em 12 de novembro de 2015. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 118 3.1 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO FIGURA 47 – MAPA POLÍTICO DA AMÉRICA CENTRAL INSULAR Os arquipélagos que compõe a América Central insular formam um arco de ilhas que se estendem do sul da Flórida ao norte da Venezuela. As Bahamas são formadas por ilhas coralíneas de enorme extensão, relativamente planas e de baixa altitude. Essas características naturais favorecem a formação de lagos, pântanos e manguezais, intercalados com florestas. As grandes Antilhas são ilhas de origem sedimentar, essas ilhas eram um prolongamento das planícies centrais dos Estados Unidos. Na fase de formação do continente o nível dos oceanos oscilava muito, e há aproximadamente 1 bilhão de anos o mar encobriu grande parte do sul da América do Norte, que hoje forma o Golfo do México. Algumas terras ficaram acima do nível do mar, formando algumas ilhas baixas e aplainadas, propícias à prática da agricultura. As pequenas Antilhas, em sua maior parte, formam o topo de vulcões submarinos, que se formaram com a colisão das placas tectônicas. São 18 vulcões, que deram origem a uma das mais paradisíacas regiões do mundo. O climadominante nas ilhas é o tropical, com longos períodos do ano marcados por um calor intenso. As chuvas concentram-se no verão, o inverno é mais seco, mas permanecem as altas temperaturas. A América Central Insular é de colonização espanhola, francesa, inglesa e holandesa, tem a presença marcante de negros, também índios e brancos descendentes do colonizador, no Haiti 90% da população é negra. Suas sociedades formaram-se, portanto, da miscigenação entre diversas etnias e culturas. FONTE: Disponível em: <comoestarenclase.blogspot.com>. Acesso em: 20 nov. 2015. TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 119 A região contava com pouco mais de 38 milhões de habitantes em 2005, sendo Cuba o país mais populoso, com cerca de 11 milhões de habitantes. As capitais dos países caribenhos, como Havana em Cuba, Kingston na Jamaica, Porto Príncipe no Haiti, Santo Domingo na República Dominicana e San Juan em Porto Rico são as principais cidades do Caribe, e nelas concentram-se a maioria da população. (TAMDJIAN, 2012) FONTE: Disponível em: <http://www.diariodocentrodomundo.com.br/wp-content/ uploads/2013/03/cuba.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015. 3.2 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO Uma das principais atividades econômicas do Caribe é o turismo, que gera empregos em variados ramos, restaurantes, lojas, hotéis, shopping centers e em atividades ligadas ao lazer. As empresas estrangeiras mantêm escritórios comerciais nas ilhas caribenhas para evitar o pagamento de impostos de importação ou exportação nos países produtores e compradores. A manobra acaba construindo uma importante fonte de renda em Aruba e outras ilhas. Apesar de produzirem uma renda importante, as operações financeiras e o turismo não foram capazes de acabar com a pobreza, marcante em praticamente todas as ilhas caribenhas. A região do Caribe é marcada pela instabilidade geológica, o que a torna sujeita a atividade vulcânica e aos terremotos. Além das catástrofes naturais, a população sofre com graves problemas sociais existentes na maioria dos países: altas taxas de mortalidade infantil, baixa renda per capita, elevados índices de analfabetismo e deficiência no atendimento médico-hospitalar. FONTE: Disponível em: <http://geonaweb.blogspot.com.br/2010/09/america-central-insular. html>. Acesso em: 26 nov. 2015. FIGURA 48 – CIDADE DE HAVANA, CAPITAL DE CUBA UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 120 Neste contexto, o Caribe é rota de cruzeiros marítimos e destino de milhares de turistas que procuram suas praias e sua floresta tropical, a rede hoteleira e a infraestrutura turística são controladas por transnacionais. Além dos paraísos turísticos, a região é conhecida pelos paraísos fiscais, como as ilhas Cayman, as Ilhas Virgens e as Bahamas. Nesses países, grandes somas podem ser depositadas sem a necessidade de declarar a origem do dinheiro (TAMDJIAN, 2012). No entanto, a agricultura também se destaca entre as atividades econômicas, com relevância para o cultivo de cana-de-açúcar, em que o maior produtor é Cuba. Também são cultivados banana, fumo, café e algodão. A produção agrícola regional está voltada para o mercado externo, portanto, isso a torna muito dependente das oscilações dos preços internacionais, que têm impacto direto na economia desses países produtores, isso remete à consequência de importação de alimentos para o consumo. A atividade industrial é pouco desenvolvida, permanecendo-se restrita ao beneficiamento das matérias-primas agrícolas, à confecção de roupas e ao artesanato local, principalmente a produção de cestaria e de cerâmica. Esta restrita industrialização aproveita as significativas jazidas de ferro, gás e petróleo. Esses recursos naturais são particularmente abundantes em Trinidad e Tobago, que pôde implantar empresas variadas, como refinarias de petróleo e siderúrgicas. Outros país caribenho industrializado é a Jamaica, esse país tem uma das maiores reservas mundiais de bauxita, matéria-prima da qual produz o alumínio. As ilhas ainda têm algumas carências e dificuldades estruturais. Neste sentido, 95% das rodovias existentes nas ilhas do Caribe não são pavimentadas. 3.2.1 O MCCA e Caricom O MCCA, Mercado Comum Centro-Americano foi criado em 1960 pela Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador, com o intuito de juntos, superarem os problemas sociais e políticos. Para alcançar esses objetivos, o MCCA criou no ano seguinte, em 1961, o Tratado de Integração Centro- Americana, para promover um mercado comum na região. Atualmente planeja criar a União Centro-Americana, à semelhança com da União Europeia. Desde O que são os paraísos fiscais? Os paraísos fiscais são países que recebem grandes somas de dinheiro, são depositados em bancos desses países e não necessitam de declaração sobre a origem desse dinheiro. Os depósitos são protegidos por leis, e isso beneficia o sigilo bancário, além de oferecer facilidades quanto aos trâmites documentais e baixos impostos. UNI TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 121 3.2.2 O caso de Cuba Em Cuba, também podemos considerar a influência norte-americana, pois a ilha foi mantida durante um século na condição de colônia espanhola e conquistou sua independência em 1901, com o apoio de tropas estadunidenses. A partir de então, cresceu a influência dos Estados Unidos sobre a sua economia e a política cubana. Mas a presença de tropas estadunidenses nunca foi suportada pelos dirigentes cubanos, nem pela população, que exigiram a retirada dessas tropas da ilha. Os Estados Unidos impuseram uma condição para sair da ilha: o direito de reocupá-la a qualquer momento. Esse direito foi garantido por meio de uma lei incluída na Constituição cubana. Essa lei recebeu o nome de Emenda Platt. Foi proposta pelo senador estadunidense Orville Platt, que era um renomado advogado nacionalista, em parte a lei apresenta em seu artigo III (GOOT, 2004): “O governo de Cuba concede aos EUA o exercício e o direito de intervir para preservar a independência de Cuba e a manutenção de um governo adequado à proteção da vida, da propriedade particular e das liberdades individuais...”. Portanto, usando de seu poder econômico e militar, os Estados Unidos conseguiram outros acordos vantajosos em Cuba. Um deles autorizou a construção de uma base militar na baía de Guantánamo, onde tropas armadas estadunidenses deveriam ficar estacionadas para intervir em possíveis distúrbios e revoltas que pudessem comprometer os interesses dos Estados Unidos na ilha. No que se refere à influência econômica, e às relações com os Estados Unidos, as grandes propriedades como bancos, hotéis, importadoras de alimentos e propriedades rurais se tornaram propriedades de empresas estadunidenses. Essas corporações atuavam livremente no país, pagavam impostos baixos e remetiam volumosos lucros para suas matrizes, instaladas nos Estados Unidos. Em contrapartida, a população cubana vivia em péssimas condições. O saneamento básico era precário, e pouquíssimos cubanos tinham acesso à educação e à saúde. A mortalidade infantil era uma das maiores do continente americano e a miséria era geral por todo o país. 1993, os membros do MCCA têm ampliado a integração econômica, eliminando as barreiras comerciais, representadas pelas tarifas alfandegárias, ao mesmo tempo em que as regras comerciais dos países estão sendo unificadas. Alguns países caribenhos tentam criar uma organização econômica, esses países perceberam suas limitações e passaram a adotar algumas cooperações para conquistar avanços na área socioeconômica. Foi assim que em 1973, criou-se o Caricom, Comunidade e Mercado comum do Caribe. Diante da crise mundial gerada pelo choque do petróleo, os países caribenhos são muito semelhantes econômica e culturalmente. Essa grande associação comercial que hoje conta com uma população de 15 milhões de habitantes chamada atualmente de comunidade do Caribe. (AYERBE, 2007). UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSESQUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 122 Com o passar do tempo esse precário quadro social foi se agravando mais e mais e criou um ambiente propício a revoltas entre a população cubana. Na década de 1950 multiplicaram-se os movimentos populares que protestavam e exigiam melhores condições e vida. O maior líder desses protestos foi Fidel Castro, que organizou um movimento guerrilheiro numa região montanhosa de Cuba, conhecida como Sierra Maestra. Os revolucionários exigiam a queda do presidente Fulgêncio Batista, aliado dos Estados Unidos, e o fim da exploração dos trabalhadores cubanos. Ganharam a simpatia maciça da população e em 1º de janeiro de 1959 ingressaram triunfantes em Havana, a capital do país. Logo após sua vitória, o governo de Fidel Castro tomou medidas que descontentaram muito os empresários estadunidenses, entre elas, decretou a nacionalização das empresas estadunidenses que atuavam em Cuba. FIGURA 49 – FIDEL CASTRO DISCURSA PARA CENTENAS DE MILHARES DE CUBANOS. A POPULAÇÃO APOIAVA OS LÍDERES REVOLUCIONÁRIOS PORQUE ACREDITAVAM QUE DARIAM FIM AOS PRIVILÉGIOS E ÀS INJUSTIÇAS SOCIAIS Nesse contexto, o governo dos Estados Unidos advertiu Fidel Castro de que não aceitaria essa situação. Em resposta a essas ameaças, já em 1960 Cuba se afastou da influência econômica estadunidense e aproximou-se do maior rival dos Estados Unidos, a União Soviética, país socialista que disputava com a superpotência capitalista a hegemonia mundial. Ao mesmo tempo Fidel assumiu que seu governo adotaria a socialização dos meios de produção. Desde então foi firmada uma aliança entre Cuba e a União Soviética. Os Estados Unidos foram obrigados a conviver com um país socialista a poucos quilômetros da Flórida. Reagindo à implantação do socialismo na ilha, em 1962 os Estados Unidos decretaram um embargo, ou seja, um bloqueio de caráter econômico, contra Cuba. Muitas restrições foram impostas à ilha, como a proibição da compra de FONTE: Disponível em: <https://historytellers.files.wordpress.com/2013/09/fidel-revolucao.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015. TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 123 mercadorias cubanas e também a venda de quaisquer produtos norte-americanos para o país caribenho (TAMDJIAN, 2012) Essa medida isolou Cuba do comércio com o bloco capitalista, a economia da ilha pode comercializar com países socialistas, bem como contar com o apoio econômico e comercial soviético. A parceria baseou-se no fornecimento do petróleo soviético em troca do açúcar cubano. Isso permitiu que a ilha obtivesse energia e recursos financeiros para melhorar as áreas sociais. Foi praticamente eliminada a miséria que há séculos afligia quase toda a população cubana. A prioridade atribuída à educação e à saúde tornou Cuba reconhecida mundialmente, em especial pelo elevado nível de suas pesquisas científicas na área da medicina. Neste cenário a crise da União Soviética chegou ao auge na década de 1980 e acabou atingindo a economia cubana. Diversos acordos comerciais e de cooperação estabelecidos entre os dois países tiveram de ser cancelados pelo governo Gorbatchev. Esse quadro dramático acentuou-se na década de 1990, quando milhares de cubanos deixaram o país em busca de alternativas de sobrevivência nos Estados Unidos. Esses cubanos empobrecidos ficaram conhecidos como balseiros, pois viajavam para os Estados Unidos em embarcações precárias. 3.2.3 A base de Guantánamo Na chegada do século XXI esse cenário já havia se transformado, muitos países passaram a investir em Cuba, ignorando o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. Uma significativa parte desses recursos tem se dirigido ao setor do turismo. Aproveitando-se da posição geográfica privilegiada da ilha caribenha. Essa renda crescente pelos negócios relacionados ao setor do turismo, como hotéis, agências de turismo, restaurantes e companhias aéreas, soma-se a entrada de dinheiro remetido por cubanos que foram morar e trabalhar nos Estados Unidos. Além disso grupos empresariais chineses, canadenses, espanhóis e franceses, entre outros, têm aberto novos negócios, com isso a economia cubana apresenta crescimento na atualidade. A Prisão de Guantánamo ganhou grande repercussão internacional por causa das atrocidades cometidas em seu interior. A prisão militar composta por três campos de detenção foi local de torturas durante muito tempo. Várias reportagens denunciaram o abuso da força e o tratamento desumano. Além de prisioneiros que supostamente seriam terroristas, a Prisão de Guantánamo abrigou também detentos de forma clandestina e que não tinham razão justificável para estarem detidos. Ouça a música, leia o texto e reflita sobre as observações feitas sobre a letra da composição do grupo Engenheiros do iavaí: “Guantánamo”, disponível em: <https:// decifrandoletras.aordpress.com/2010/03/13/guantanamo/>. DICAS UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 124 FIGURA 50 – LOCALIZAÇÃO DA BASE NAVAL DE GUANTÁNAMO EM CUBA, CONTROLADA PELOS ESTADOS UNIDOS E TRANSFORMADA EM COMPLEXO PRISIONAL MILITAR FONTE: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ba%C3%ADa_de_Guant%C3%A1namo>. Acesso em: 25 nov. 2015. O embargo econômico em Cuba, também conhecido como “el bloqueio”, significou a interdição de caráter econômico, financeiro e comercial imposta pelos Estados Unidos, desde 1962. Posteriormente nos anos 90, o bloqueio se tornou lei e com isso aumentou a proibição de relações comerciais, limitando as comercializações de filiais estrangeiras de empresas americanas com Cuba. No entanto, devemos ressaltar que esse embargo não impede completamente que 3.2.4 Embargo econômico Com a pressão internacional, aos poucos o presidente dos Estados Unidos George W. Bush foi reconhecendo as práticas ilegais na Prisão de Guantánamo e tomando medidas para restringi-las. Muitos dos detentos que foram para Guantánamo eram imigrantes ilegais nos Estados Unidos que aguardavam a deportação. FONTE: Disponível em: <http://diarioms.com.br/web-a-historia-da-prisao-de-guantanamo/>. Acesso em: 26 nov. 2015. A eleição do presidente Barack Obama apontou um novo futuro para a Prisão de Guantánamo. Inicialmente, ele prometeu fechar ou reestruturar o complexo penitenciário. Depois, acabou com as comissões militares criadas pelo governo anterior e assinou um decreto para dar fim às atividades na Prisão de Guantánamo. FONTE: Disponível em: <http://diarioms.com.br/web-a-historia-da-prisao-de-guantanamo/>. Acesso em: 26 nov. 2015. TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 125 Os segredos da Medicina cubana Após o restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba, os Estados Unidos não poderão mais ignorar que a ilha obteve durante os 52 anos de isolamento diplomático e econômico resultados “espantosos” em matéria de saúde. “Espantosos” porque o país, que não abriga nenhuma das grandes indústrias farmacêuticas mundiais, obtém os melhores resultados do continente americano em matéria de saúde: a expectativa de vida (76 anos para os homens, 81 anos para as mulheres) é a melhor do continente e a mortalidade infantil é a mais reduzida: 4,8 mortes para cada 1.000 nascimentos em Cuba, contra 12 no Brasil e 6 nos Estados Unidos. Durante uma visita a Havana em julho de 2014, Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), se mostrou muito impressionada pelas conquistas na área. “Desejamos ardentemente que todos os habitantes do planeta possam ter acesso aos serviços médicos de qualidade, como em Cuba”, declarou. E, com efeito, qual país pode se gabar hoje de oferecer gratuitamente à sua população uma medicina alopática, claro, mas também a opção “medicina natural e tradicional”? É preciso reconhecer… nenhum… e sobretudo seu poderoso vizinho, que nessa área fracassou tremendamente. Em 2011, durante o sexto congresso do Partido Comunista Cubano, uma diretiva indicava “dar a máxima atenção ao desenvolvimento da medicina natural e tradicional”. “É a únicaque recebeu essa menção de ‘máxima atenção’, o que dá uma ideia da importância desse tema para o governo. Eu acho, porém, que seu desenvolvimento vai acontecer principalmente graças à população. É uma tendência geral hoje procurar o natural. Eu entendo que isso preocupe a indústria farmacêutica, pois é uma medicina muito eficiente”, conclui com um sorriso Concepción Campa, ao mesmo tempo que lembra que o desenvolvimento das vacinas homeopáticas foi efetivamente uma má operação financeira para o Finlay, mas a saúde contou mais do que o aspecto financeiro. Cuba não realizou estudos econômicos sobre a medicina natural, mas parece evidente que seu custo é bem menos elevado do que o da medicina dita moderna: um chá de alho parece menos caro do que um medicamento. Para o doutor Johan Pedromo, é evidente que essa medicina previne um dos problemas que teria um custo para o sistema de saúde: “Tomem o exemplo do qi gong, uma ginástica tradicional chinesa. Hoje sabemos que essa atividade melhora o estado emocional, a coordenação e a estabilidade das pessoas idosas. Então, ao praticá- lo vamos diminuir a taxa de suicídio e de depressão ligada à velhice, mas vamos também melhorar a coordenação e o equilíbrio, diminuir o risco de quedas e, por consequência, o número de fraturas da bacia. Mais amplamente, é reconhecido atualmente que essas técnicas de medicina natural melhoram a qualidade de vida dos pacientes. E isso não tem preço!” No mesmo bairro de Alamar, cerca de vinte pessoas idosas praticam duas vezes por semana o qi gong. No final da prática, saúdam a professora com um “saúde e vida, uma arma da Revolução”. Um dos praticantes tem 88 anos… mas parece ter 70. E é fato: a saúde foi uma arma tão eficaz da Revolução Cubana que o país deve hoje cuidar de uma população idosa. Como em um país rico… Leia mais em: <http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/02/os-segredos-da- medicina-cubana.html>. UNI os Estados Unidos se relacionem com a economia cubana. A partir do ano 2000 a exportação de alimentos para Cuba teve autorização com a condição de que o pagamento acontecesse à vista. Sendo que os produtos deveriam ser pagos antes de saírem dos Estados Unidos. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 126 3.2.5 O caso do Haiti O Haiti é um dos países mais pobres do mundo. Governado por sucessivas ditaduras comandadas por poderosas famílias, a população ficou à margem da vida política, econômica e social do país. O mais pernicioso desses governos ditatoriais foi implantado pelo médico François Duvalier que assumiu o poder em 1957. Em 1971, ao falecer, o governo passou para seu filho Jean Claude Duvalier. Essa era Duvalier foi marcada pela opressão aos opositores, que resultou no assassinato de milhares de pessoas inocentes. Essa situação afetou a economia do país e manteve a população em profunda miséria. No final da década de 1980 inúmeras revoltas populares encerraram a era Dulvalier. Foi eleito presidente o ex-padre Jean Bertrand Aristide, que passou a sofrer uma forte oposição dos aliados da família Duvalier. Vários governos foram eleitos, desde então, e nenhum conseguiu pacificar o país, a gravidade da situação é refletida no ato de que milhares de pessoas preferem fugir do país em embarcações precárias, e centenas já morreram no mar. Em 1999, a ONU aprovou uma intervenção militar internacional no Haiti para pôr fim à guerra civil e promover a reorganização do país. Boa parte dos militares que compõe esse grupo é brasileira. Em janeiro de 2010, aconteceu um terremoto catastrófico que devastou o país afetando cerca de 3 milhões de pessoas. Sistema de comunicação, transportes aéreos, terrestres e aquáticos, hospitais e redes elétricas foram danificados, o que dificultou os resgates. A ONU estima que o tremor provocou 220 mil mortes e 1,2 milhão de desabrigados. Foram confirmadas as mortes de 22 brasileiros na catástrofe, inclusive de Zilda Arns, médica sanitarista e pediatra, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança. O Haiti depende atualmente de uma enorme ajuda humanitária externa, além de alimentos, remédios e roupas. Sem esse apoio, a população do país estaria condenada a padecer em condições cada vez piores. TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL 127 Passados cinco anos da tragédia, uma equipe de reportagem da EBC, Empresa Brasil de Comunicação, voltou ao Haiti com o objetivo de verificar como estão os esforços para a reconstrução do país. Há resquício do tremor por diversas cidades. A Catedral Notre Dame, a principal de Porto Príncipe, continua em ruínas. É possível ver apenas os escombros do que um dia foi a principal igreja da capital haitiana. O prédio do governo haitiano também aguarda reconstrução. O país não tem coleta de lixo e o esgoto corre a céu aberto. Deste modo, é comum encontrar pelas ruas de Porto Príncipe pilhas de lixo sendo incinerado, o que faz com que a cidade fique constantemente cinza. Muitos haitianos ainda sofrem as consequências do terremoto. As ruas destruídas, aos poucos, tornam- se avenidas que começam a receber iluminação pública, semáforos. A maior parte dos abrigos, os campos de deslocados como são chamados, já foram desativados. Passados cinco anos os haitianos começam a reconstruir suas casas, algumas de alvenaria, outras de lona, tudo para ter um “lar”. FIGURA 51 – PORTO PRINCÍPE CAPITAL DO HAITI, RUÍNAS NO BAIRRO DE BEL-AIR FONTE: Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil2013/files/haiti_ earthquake_porto_princepe-73.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015. UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 128 FONTE: Disponível em: <http://conteudo.ebc.com.br/agencia/Haiti/img/slider/06.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015. FIGURA 52 – PORTO PRINCÍPE COM O COMÉRCIO A CÉU ABERTO NO BAIRRO BEL-AIR A RUA FOI ASFALTADA APÓS O TERREMOTO 129 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • No istmo da América Central o relevo é montanhoso, resultante do movimento local entre as placas tectônicas. Além disso, há inúmeros vulcões ativos na região. • Próximo ao litoral, há uma diversidade da flora e fauna das florestas tropicais, no entanto, muitas das áreas florestadas são devastadas para produção agropecuária ou extração da madeira. • O café e a banana são os principais produtos de exportação da América Central. A cana-de-açúcar e o cacau, produtos tradicionais da agricultura centro-americana, perderam importância no mercado internacional com o surgimento e a consolidação de outras áreas produtoras, tanto na América do Norte e do Sul, como na Ásia. • O país mais industrializado é o Panamá com produção petrolífera. • O canal do Panamá, de interesse norte-americano, principalmente, permitia a passagem interoceânica de grande porte, acelerava o comércio entre o oeste e o leste dos Estados Unidos. Nos últimos anos, o canal perdeu parte da sua importância para a navegação e o comércio, mas atualmente passa por reformas a fim de não se tornar obsoleto. • Uma das principais atividades econômicas do Caribe é o turismo, que gera empregos em variados ramos, restaurantes, lojas, hotéis, shopping centers e em atividades ligadas ao lazer. • A agricultura também se destaca entre as atividades econômicas, da América Central insular, com relevância para o cultivo de cana-de-açúcar, em que o maior produtor é Cuba. • O MCCA, Mercado Comum Centro-Americano foi criado em 1960 pela Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador, com o intuito de juntos, superarem os problemas sociais e políticos. • Em 1960, Cuba se afastou da influência econômica estadunidense e aproximou- se do maior rival dos Estados Unidos, a União Soviética, país socialista que disputava com a superpotência capitalista a hegemonia mundial na época. 130 • Na chegada do século XXI, muitos países começaram a investir financeiramente em Cuba. Grupos empresariais chineses, canadenses, espanhóis e franceses, entreoutros, têm aberto novos negócios, com isso a economia cubana apresenta crescimento na atualidade. 131 AUTOATIVIDADE 1 “Cuba já recebe os euros dos turistas. O euro começou a circular em Varadero, o balneário turístico mais importante de Cuba, onde a empresa Transtur anunciou que os serviços de táxi e aluguel de automóveis já podem ser pagos com a moeda”. (Gazeta Mercantil, 12/5/2001). A notícia acima revela uma atitude dos europeus em relação a Cuba diferente da atitude dos americanos. Do lado dos europeus, há a valorização do turismo e do comércio; do lado dos Estados Unidos, desconfiança e tentativa de controle. Qual é a causa dessa atitude do governo dos Estados Unidos em relação a Cuba ainda hoje? 2 Considerada de IDH médio, a América Central tem algumas exceções. Cuba, Panamá e Costa Rica são considerados países de IDH alto. Explique os motivos. 3 Até 1990 os problemas políticos eram constantes em diversos países do istmo da América Central e sua economia recebia menor atenção. Na década atual, há uma inversão da situação e os problemas econômicos passam a ser o centro das discussões. Por que ocorreu essa mudança? 4 As exportações da América Central cresceram 20% em 2008. Esse fantástico desempenho é atribuído à integração econômica dos países centro- americanos. Quais os nomes dos blocos criados para promover essa integração e qual a função deles? 132 133 TÓPICO 3 AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A América Platina recebe esse nome porque corresponde aos países que fazem parte da Bacia da Prata. Esta é formada pela junção das águas dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai. A maior parte do espaço geográfico desses países sofre a influência de atividades que estão direta e indiretamente ligadas ao Rio da Prata e seus afluentes. No entanto, os países que compõe a América Platina apresentam espaços geográficos muito diferentes. Enquanto os países andinos têm muitas semelhanças, os países platinos têm atividades econômicas e sociedades muito diferentes uns dos outros. Além dos aspectos físicos como a hidrografia, a Argentina, Paraguai e Uruguai compartilham importantes características históricas. No passado colonial integravam o Vice-Reino do Rio da Prata, que abrangiam uma extensa área subordinada à Espanha. O que significa que os três países platinos foram administrados pelos espanhóis durante muitos anos, nessa época o Vice-Reino também incluía a Bolívia. O Rio da Prata era usado pelos espanhóis como porta de entrada para ocupação do sul do continente americano, pois os colonizadores europeus acreditavam existir metais preciosos na região. 2 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO O relevo da América Platina caracteriza-se basicamente pela presença de extensas planícies e planaltos. Somente no oeste da Argentina ocorrem as grandes cadeias de montanhas da Cordilheira do Andes, ainda na Argentina se encontra a mais alta formação do relevo sul-americano, o Pico Aconcágua, com 6.959 metros de altitude. Predominam na América Platina grandes regiões climáticas, com extensas áreas em que ocorre o mesmo tipo de clima. No Norte a região do Chaco se caracteriza pelo clima seco, associado à vegetação xerófila de plantas adaptadas a aridez, como os cactos. Ao Sul, a região do Pampa com clima temperado, com uma típica vegetação rasteira. Encontramos também uma parcela significativa do território do Paraguai marcada pelo clima tropical, com a ocorrência de florestas. FONTE: Disponível em: <https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20150412162802A- AfoGd6>. Acesso em: 26 nov. 2015. 134 UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL FIGURA 53 – MAPA FÍSICO DA AMÉRICA PLATINA FONTE: geografandosm.blogspot.com No que se trata da hidrografia da América Platina, a Bacia Platina ocupa uma área de 4,3 milhões de km² e inclui porções do território da Argentina, Paraguai, Uruguai, além da Bolívia e do Brasil. O Rio da Prata se origina do encontro dos rios Paraná e Uruguai, na fronteira entre a Argentina e o Uruguai, tem 210 quilômetros de extensão e termina formando um estuário junto ao Oceano Atlântico. TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA 135 Do ponto de vista econômico as características físicas favorecem o desenvolvimento das atividades agropecuárias na região. Concentradas na criação de gado bovino e na agricultura de cereais. A Argentina é o país mais industrializado da América Platina com destaque para a produção de automóveis, aço, produtos químicos e têxteis. 3 O PARAGUAI O território paraguaio é dividido pelo Rio Paraguai, que cruza o país no sentido norte-sul e origina duas regiões naturais muito distintas. A região maior fica a oeste do rio Paraguai. Trata-se do Chaco, palavra quíchua que significa território de caça. Essa vasta planície é muito quente. Na divisa com a Bolívia as temperaturas podem chegar a 47º durante o verão. As poucas chuvas ocorrem entre dezembro e março. Nessas regiões a vegetação mais comum são os cactos e os arbustos de troncos ressecados e retorcidos. A água é muito escassa e precisa ser retirada de poços artesianos. A agricultura de grãos, especialmente da soja, somente é possível mediante a irrigação artificial. A grande maioria das propriedades dedica-se a pecuária. Ainda no Chaco há uma área diferenciada, a parte mais próxima ao rio Paraguai, onde a vegetação é variada e existem muitos pequenos rios. Nessas terras a principal atividade é a exploração do quebracho, árvore da qual se aproveita a madeira, duríssima e se extrai o tanino, produto usado pelas indústrias farmacêuticas. O leste do Paraguai é muito diferente do Chaco, a paisagem divide- se em campos e florestas, que faz fronteira com o Brasil. Nessa região há manchas de terra roxa, solo extremamente fértil que acarretou a expansão da agricultura, especialmente dos cultivos de soja, milho, algodão e o cultivo de erva-mate. Essas atividades agrícolas empregam cerca de 50% dos trabalhadores paraguaios. As populações da Argentina e do Uruguai constituíram-se de descendentes de espanhóis e italianos, enquanto que o Paraguai apresenta uma população em sua maioria formada pela miscigenação de diversos povos, com uma acentuada presença de indígenas. FONTE: Disponível em: <http://diodatoo.blogspot.com.br/2014/12/atividade-complementar-de- geografia-02.html>. Acesso em: 26 nov. 2015. 136 UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL FIGURA 54 – MAPA DA LOCALIZAÇÃO DO PARAGUAI FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_-ty77KHVCvA/SwGqu2E9JbI/AAAAA- AAAABE/VXtV8A9SQHo/s1600/mapa-do-paraguai.gif>. Acesso em: 26 nov. 2015. Outra atividade que cresceu nos últimos anos foi o cultivo de soja. Ocupa cerca de dois milhões de hectares de terra e com isso especialistas alertam que pode provocar inúmeros problemas para a sociedade e o meio ambiente. Como todas as fases do cultivo são mecanizadas, não oferece ocupação para a mão de obra. O cultivo de soja também gera a concentração de renda e de terras. Com o poder financeiro de que dispõe os grandes proprietários acabam comprando as terras dos pequenos agricultores que sem alternativas de trabalho e renda, mudam-se para a vida em Assunção, a capital paraguaia. Os imigrantes brasileiros, denominados também de brasiguaios conseguiram ascender socialmente ao longo das últimas décadas, controlam setores importantes da economia, da política e da cultura local em algumas cidades paraguaias, como Santa Rita, Santa Rosa de Monday, Naranjal, San Alberto, entre outras. A partir do final da década de 1970 e início dos anos 1980, ampliam-se os processos de mecanização e de concentração da propriedade da terra nessa faixa de fronteira. Uma família de agricultores podia aumentar o plantio sem necessitar contratar mais mão de obra. Nesse contexto, aumentam as compras de terra aos camponeses paraguaios e aos pequenos produtores brasileiros. A pequena produção diversificada e de subsistência de milho emandioca, por exemplo, passa a ser substituída pelo plantio de soja. Nesse processo, começam os deslocamentos de camponeses paraguaios e brasileiros para outras frentes TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA 137 Portanto, o consumo de energia no país é menor que a quantidade de energia gerada, o que acontece principalmente na Hidrelétrica Binacional de Itaipu, construída em sociedade com o Brasil, e na Hidrelétrica de Yaciretá, construída com a Argentina, assim o Paraguai vende o excedente de energia para o Brasil e para outros países da América do Sul. agrícolas no interior do Paraguai e para as periferias das cidades de fronteira. O forte poder econômico, político e cultural dos “brasiguaios” tem produzido uma reação do movimento camponês e de políticos de oposição, intelectuais, jornalistas e religiosos do Paraguai. Os confrontos entre empresários da soja e alguns setores da sociedade paraguaia têm gerado vários conflitos e disputas de identificações e representações variadas entre brasileiros e paraguaios (ALBUQUERQUE, 2009). Assunção, a capital do Paraguai, localiza-se às margens do rio Paraguai, é a maior cidade do país e abriga cerca de 1,5 milhão de habitantes na região metropolitana. Concentra as principais atividades comerciais e de serviços, que atendem uma parte da população e atraem muitos brasileiros e argentinos, devido aos preços mais baixos dos bens importados sem cobrança de impostos. Na capital Assunção também se encontram as indústrias têxteis e alimentícias, além de curtumes que fornecem couro ao setor de produção de calçados, importante fonte de renda do Paraguai. FIGURA 55 – RUAS ALAGADAS NA CAPITAL ASSUNÇÃO NO PARAGUAI FONTE: Disponível em: < http://midia.cmais.com.br/assets/image/image-4-b/0 f7379d2aba1899ebcc22509f5a3076bb2d4c720.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015. Na Unidade 3, seção sobre integração energética no Mercosul há mais explicações sobre este assunto. ESTUDOS FU TUROS 138 UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL 4 O URUGUAI O Uruguai faz fronteira com o sul do Brasil e o leste da Argentina, seu território é quase inteiramente caracterizado pelas coxilhas, baixas colinas suavemente onduladas. As coxilhas uruguaias são recobertas por campos naturais, mais conhecidos como pampas. São longas extensões de gramíneas e arbustos de baixo porte que dominam a paisagem de todo o país. No final do século XIX, as matas formadas por árvores de grande porte que se localizavam às margens dos rios e no litoral, foram praticamente devastadas para aproveitar a madeira e para dar espaço a agropecuária. Com o predomínio de solos férteis, os fazendeiros uruguaios desenvolveram a triticultura que é o cultivo de trigo, e a rizicultura que é o cultivo de arroz que se adaptaram ao clima subtropical do país. Com verões quentes e chuvosos e invernos frios e úmidos, esses cultivos se desenvolveram facilmente em um solo sempre fértil. FONTE: Disponível em: <https://megaarquivo.files.wordpress.com/2010/12/ uruguai.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015. FIGURA 56 – MAPA DA LOCALIZAÇÃO DO URUGUAI TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA 139 As extensas pastagens naturais favoreceram a criação de bovinos e ovinos. Nas primeiras décadas do século XX, o Uruguai foi um dos países principais fornecedores de alimentos para a Europa, que passava por crises e guerras. A produção de carne, couro, lã e arroz cresceu rapidamente. O país lucrou muito com as exportações e esse enriquecimento atraiu milhares de imigrantes. Com isso o governo uruguaio dispôs de recursos para proporcionar à sua crescente população educação e saúde de qualidade. Tais investimentos explicam a posição privilegiada do Uruguai no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH da ONU. O país é um dos países mais urbanizados do mundo, com cerca de 93% da população concentrados em cidades. No entanto, com exceção da região metropolitana de Montevidéu, sua capital, onde vive cerca de 66% da população uruguaia, as demais cidades do país não ultrapassam 100 mil habitantes. A capital Montevidéu é o centro comercial, industrial e financeiro do país, situada às margens do Rio da Prata, a cidade abriga balneários bastante frequentados por turistas como é o caso de Punta del Este. Esse contexto populacional de urbanização em conjunto com a tradição em educação e qualidade de vida, passou por diversas crises, sobretudo na segunda metade do século XX. A rápida recuperação econômica da Europa, após a Segunda Guerra, levou os antigos compradores dos produtos uruguaios a produzir novamente seus próprios alimentos. Consequentemente a Europa deixou de comprar parte considerável da produção uruguaia de carne, couro, FIGURA 57 – BALNÉARIO DE PUNTA DEL ESTE FONTE: Disponível em: <http://static.correiodeuberlandia.com.br/wp-content/ uploads/2014/07/515.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015. 140 UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL trigo e lã, fato que enfraqueceu a economia do Uruguai. Nas décadas de 1970 e 1980, quando o país foi duramente atingido pelo choque do petróleo, os produtos que o Uruguai comprava de outros países ficaram mais caros com a crise. Essa situação levou muitos agricultores e indústrias à falência. E os recursos que até então eram destinados às áreas sociais, como saúde e educação desapareceram. Deste modo, milhares de uruguaios deixaram o país em busca de empregos na Argentina, no Brasil, nos Estados Unidos, e na Espanha. Essa crise também alterou o espaço geográfico do Uruguai, pois milhares de agricultores migraram para a capital em busca de empregos. 4.1 O GOLPE MILITAR NO URUGUAI E SUAS CONSEQUÊNCIAS Em 1973 ocorreu um golpe militar no Uruguai que gerou a prisão e a tortura de pessoas que se opunham ao regime, censura à imprensa e às instituições de ensino, entre outras graves consequências. Tais fatos favoreceram o surgimento de movimentos de oposição e de guerrilha, como o dos Tupamaros, nome em homenagem a Tupac Amaru, rebelde inca que lutou contra a dominação espanhola. A ditadura militar prolongou-se no país até 1984, mesmo com o restabelecimento da democracia, os problemas econômicos continuaram. A década de 1990 foi marcada pelos movimentos de privatizações, diminuição dos gastos públicos, aumento do desemprego e diante desta situação uma grande emigração de jovens. Em uma tentativa de superar essa crise e diversificar as atividades econômicas, o governo uruguaio adotou uma legislação favorável à implantação de instituições financeiras, o que gerou atração em diversas empresas do setor e transformação, isso levou o Uruguai a um país de destaque na área bancária (TAMDJIAN, 2012). 4.2 O GOVERNO DE MUJICA Atualmente quem governa o Uruguai é Tabaré Vázquez, pela segunda vez. Vázquez já ocupou o cargo entre 2005 e 2010, sucedido por José Mujica, que passou a faixa presidencial, ambos são da Frente Amplio, coligação de partidos uruguaios de centro-esquerda e esquerda, parte do Foro de São Paulo. Após os cinco anos do governo de Mujica, qual o balanço que se pode fazer do governo do ex-guerrilheiro do grupo Tupamaro, José Mujica, que prefere ser chamado pelo apelido Pepe e ficou marcado como carismático e humilde? Em sua política interna e em suas relações exteriores? Mais ainda, em tempos de ânimos acirrados e suspeitas de todos os espectros políticos, o governo Mujica mostrou alguns dos caminhos que a esquerda latino-americana pode, ou poderia tomar, com sucesso. Na política interna do Uruguai, o mais evidente e mais falado foram as novas medidas sociais do país. Desde dezembro de 2012, as mulheres uruguaias podem interromper, legalmente e com respaldo, a gravidez, até a décima segunda semana da gestação. Um balanço oficial do governo uruguaio informou que, no período de um ano de vigência da lei, foram realizados TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA 141 6.676 abortos seguros. Em abril de 2013, o Uruguai aprovou o casamento entre pessoasdo mesmo sexo. Em maio de 2014, o Uruguai legalizou a venda de maconha no país e, em fevereiro de 2015, regulamentou-se o uso da droga para fins medicinais e pesquisas terapêuticas. Como a droga será comercializada ainda está sendo debatido e não foi regulado, mas Mujica deixou claro que seu objetivo é tirar o financiamento do narcotráfico. A última medida social será parcialmente do governo de Mujica. Em dezembro de 2014, o Legislativo uruguaio passou a Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual; a lei discute a reforma no setor de telecomunicações no país. Após o apoio de Pepe, a iniciativa será regulamentada pelo governo de Vázquez. O objetivo da lei é evitar a concentração econômica no setor de telecomunicações e alavancar a concorrência e a pluralidade na oferta de serviços e de conteúdos. Nas palavras de Pepe: “Eu não quero que o Clarín ou a Globo sejam donos das comunicações no Uruguai”. Todas essas medidas demonstram um elemento essencial para um governo democrático, o prestígio e a aprovação popular de Mujica. Sem isso, não teria a maioria no Parlamento e não conseguiria aprovar tais pautas. Pepe encerrou em 2014 com 64% de aprovação. Sua política externa foi uma soma desses dois elementos, avanços sociais e sua luta pessoal, com a tradição de neutralidade e de afirmação do Uruguai. Seu foco foi a resolução e mediação de conflitos, parte de uma meta maior, a integração latino-americana. Em março de 2013, Pepe aceitou o pedido dos EUA para receber presos vindos de Guantánamo, conhecida base dos EUA em Cuba que foi o cerne de muitas críticas por violações de direitos humanos. Mujica declarou que os abrigaria na condição de “refugiados” e, em dezembro de 2013, os EUA confirmaram que seis indivíduos foram transferidos para o Uruguai. Em outubro de 2014, o Uruguai recebeu refugiados sírios, após oferta de Mujica; quarenta e dois sírios, formando famílias inteiras, receberam asilo, acompanhamento profissional, emprego e moradia. Ainda em relação à Cuba, em dezembro de 2014, Barack Obama, Presidente dos EUA, agradeceu Mujica pelo seu papel como um dos mediadores do acordo de reaproximação entre EUA e Cuba; mesmo assim, Mujica manteve parte de suas críticas ao governo dos EUA, pedindo o fim do embargo e a libertação de presos cubanos e do líder porto-riquenho Oscar López Rivera. Nas últimas semanas de seu governo, Pepe, reunido com Evo Morales, Presidente da Bolívia, anunciou os planos da construção de um porto de água profundas que será utilizado também pelo país andino, que reivindica uma saída oceânica desde a derrota na Guerra do Pacífico, em 1883. A saída para o mar é a principal pauta da política externa boliviana e o cerne de suas relações com o Chile, que é acusado, pela Bolívia, de descumprir tratado internacional sobre o tema. Com a provisão negociada por Mujica, espera-se que os ânimos se acalmem e uma solução definitiva seja alcançada pelos vizinhos. http://brasil.elpais.com/brasil/2014/11/30/internacional/1417307645_280494.html http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/38891/apos+parceria+em+guantanamo+obama+agradece+mujica+por+papel+em+acordo+cuba-eua.shtml http://oglobo.globo.com/mundo/em-carta-mujica-pede-obama-que-acabe-com-embargo-contra-cuba-14754203 http://oglobo.globo.com/mundo/em-carta-mujica-pede-obama-que-acabe-com-embargo-contra-cuba-14754203 http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/39644/uruguai+atende+demanda+historica+e+bolivia+tera+saida+ao+atlantico+em+porto+de+aguas+profundas.shtml 142 UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL FONTE: Disponível em: <http://xadrezverbal.com/2015/03/02/cinco-anos-de-governo-mujica- licoes-para-a-direita-e-para-a-esquerda/>. Acesso em: 27 nov. 2015. Mesmo suas críticas eram guiadas pelos princípios citados; por exemplo, Mujica é ferrenho crítico da atual política argentina, por considerar que o país está retrocedendo a integração regional, com uma perspectiva baseada em soberania dos anos 1960. No fórum internacional máximo, a Assembleia Geral da ONU, avanços sociais e luta também foram o tom. Seu pronunciamento de 2013 entrou para a História; quarenta e cinco minutos de uma mensagem de solidariedade e construção, criticando individualismos e a destruição ambiental. Após todo esse processo político, crítico e progressista, seu governo é coroado, também, com avanços econômicos. A economia do Uruguai, durante o governo Mujica, cresceu mais que o dobro da média mundial. Segundo o Banco Mundial, de 2010 a 2013, o crescimento da economia uruguaia foi de, respectivamente, 8.4%, 7.3%, 3.6% e 4.3%. Os anos do primeiro mandato de Vázquez também foram de crescimento econômico. Um governo de esquerda, uma sucessão de governos de esquerda, que realmente se engaje em novas medidas sociais, que tenha respaldo popular, demonstrado por maioria legislativa, não implica necessariamente em “populismos bolivarianos” ou em caos econômico; o setor terciário da economia uruguaia é uma ótima demonstração disso. Mais ainda, o governo Mujica recolocou o Uruguai no mapa internacional, um dos líderes mundiais mais prestigiados do último quinquênio. Ao seu modo de ser, imprimiu os mesmos valores que defende domesticamente na política internacional, priorizando a integração, o diálogo e a oferta de apoio aos elos mais fracos das correntes. Mujica, um ex- líder guerrilheiro e membro de partido do Foro de São Paulo, famosíssimo nas bocas e nos teclados conservadores brasileiros, ao aceitar presos de Guantánamo, fez mais pelos EUA do que qualquer militar da Operação Condor. É claro que seu governo, pelas características de Pepe e de seu país, não é um modelo exato, que pode ser simplesmente copiado. O Uruguai é geograficamente pequeno e sua sociedade é bem particular, mas, se não é um modelo, é um exemplo. Mujica certamente será mais lembrado pelas características quase folclóricas de sua pessoa, como seu Fusca azul, que continuou a usar como Presidente e recusou vender por ofertas absurdas. Ou o fato de dar entrevistas e aparecer em eventos oficiais de sandálias, com grandes unhas aparentes em seus pés. De ter doado 90% de seus salários, totalizando quase meio milhão de dólares, e ter recusado o palacete oficial como residência. Mujica foi maior que isso. Um exemplo de democracia, de sociedade, de política e de como pode se fazer muito, mesmo dispondo de pouco. Um exemplo para reflexão tanto na direita conservadora brasileira, que veria nele um símbolo de tudo que ojeriza, tanto para a esquerda fragmentada no Brasil, que tem nele alguns caminhos que perdeu de tomar. http://www.worldbank.org/en/country/uruguay TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA 143 FIGURA 58 – MUJICA E SUA ESPOSA, A SENADORA LUCIA TOPOLANSKY, NO FUSCA AZUL DIRIGIDO POR “PEPE” FONTE: Disponível em: <http://xadrezverbal.com/2015/03/02/cinco-anos-de-governo- mujica-licoes-para-a-direita-e-para-a-esquerda/>. Acesso em: 25 nov. 2015. 5 A ARGENTINA A Argentina é um dos maiores países da América do Sul. Seu território está situado quase totalmente na região subtropical do planeta e pode ser divido em diversas regiões naturais. Ao extremo sul argentino encontra-se a Patagônia, cujas as paisagens naturais estão entre as mais interessantes do mundo. A patagônia atlântica consiste em grandes extensões planas denominadas por um clima extremamente frio durante todo o ano, em função de sua proximidade com o polo sul. Na Patagônia Andina, que também se estende pelo território chileno, existem muitos lagos de origem glacial, de beleza deslumbrante. A vegetação da Patagônia varia em função da posição latitudinal e do relevo. Nas proximidades da cordilheira dos Andes, divisa natural entre a Patagônia chilena e a Patagônia argentina, crescem grandes bosques de coníferas. Já nas partes mais planas da Patagônia Atlântica a vegetação é marcada pela presença de gramíneas de baixo porte que aparecem em meio a pequenos arbustos. Essa vegetação chamada de estepe, alimentaas poucas espécies de animais que vivem na região. Um deles é o guanaco, um tipo de Ihama originário da região. 144 UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL FIGURA 59 – PATAGÔNIA ARGENTINA As magníficas paisagens da Patagônia levaram à expansão do turismo. Nos últimos anos foram instalados novos aeroportos e conjuntos hoteleiros, elevados a presença de turistas na região. Outra importante característica da área é a concentração de cerca de 60% do rebanho de ovinos no país que fornece grande quantidade de lã para a indústria argentina. No entanto, não são apenas as lindas paisagens e os rebanhos de ovelhas que compõe a Patagônia, se encontram lá os 80% das reservas de petróleo da Argentina. Essas jazidas levaram à implantação de um complexo petroquímico importante em Comodoro Rivadavia. Ao norte da Argentina se encontram as fazendas que desempenham a fruticultura, especialmente o plantio de maçã, um dos itens de exportação da economia argentina. Essa fruta é favorecida pelo predomínio de um clima frio que domina a região durante quase todo o ano. As províncias situadas na fronteira com o Chile, como Mendoza e San Juan, ficam nos Andes Argentinos, também conhecidos como Cuyo, o relevo montanhoso e o clima frio e seco propiciam condições naturais adequadas ao desenvolvimento da vitivinicultura, que é o plantio de uvas e fabricação de vinhos. Desde meados da década de 1990 essas terras constituem referência para o mercado mundial de vinhos. Próximo a cidade de Mendonza sucedem as videiras e as oliveiras que correspondem a uma grande produção de azeite, outro produto de exportação argentino. FONTE: Disponível em: <https://zavedu.org/wp-content/uploads/2015/09/chili_mountains_lake_ nature_ultra_3840x2160_hd-wallpaper-3580481.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2015. TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA 145 A região do chaco argentino, muito similar ao chaco paraguaio, é dominada por verões escaldantes e invernos amenos, essa região era habitada por várias nações indígenas, cujos membros foram chamados de chaqueños, pouco a pouco eles foram expulsos ou acompanharam a expansão das atividades agrícolas argentinas em direção ao norte, muitos foram trabalhar em fazendas de pecuária bovina e de cultivo de algodão. A região da Argentina chamada de Mesopotâmia corresponde ao território situado entre os rios Paraná e Uruguai. Ao longo desses rios, existem grandes plantações de arroz que prejudicam o meio ambiente devido ao uso intenso de agrotóxicos, o território possui uma importante cobertura vegetal, composta de florestas subtropicais de araucárias. A erva-mate também é muito explorada nessa região. A região mais povoada da Argentina é La Pampa, situada no centro-oeste, é uma extensa planície recoberta por gramíneas e apresenta o maior dinamismo econômico. Um dos destaques econômicos dessas terras é a agropecuária favorecida pelos solos muito férteis. Essas condições tornaram a Argentina um FIGURA 60 – REGIÕES DA ARGENTINA FONTE: Disponível em: <http://photos1.blogger.com/x/blogger2/7092/484 780536142989/1600/302463/mapa_regiones.gif>. Acesso em: 27 nov. 2015. 146 UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL dos maiores produtores mundiais de trigo. No início do século XX a Argentina abasteceu a Europa, que se encontrava em guerras, tensões e problemas econômicos. Nessa época o país era considerado o celeiro do mundo, ou seja, a Argentina era como uma grande reserva de alimentos para os europeus. Nessas terras os pampas favorecem a criação de gado bovino, os rebanhos encontraram boas pastagens em terras planas e produzem carne de ótima qualidade, exportada para muitos países. A natureza dos pampas também tornou o leite argentino de excepcional qualidade. Seus derivados como a manteiga e o queijo, são apreciados no mundo todo. O desenvolvimento da agropecuária nos pampas transformou as cidades dessa região, Córdoba e Rosário se destacam, nos mais importantes centros comerciais do país. Elas funcionam como entrepontos de vendas dos produtos agrícolas, bem como sedes das fábricas que selecionavam, preparavam e embalavam os alimentos vindos do campo. Buenos Aires por sua vez, além de ser a capital do país, é o porto mais importante da Argentina e um dos mais movimentados da América. A situação favorável da agropecuária argentina resultou em um desempenho da economia no início do século XX, a oferta de empregos crescia constantemente, o que atraiu imigrantes. A partir do final do século XIX a economia argentina cresceu consideravelmente, a renda das empresas também cresceu, e o governo pode recolher os impostos para promover uma base sólida na educação e na saúde. Essa expansão continuou nos primeiros 50 anos do século XX, o país formou reservas financeiras poderosas, fato que ajudou muito em períodos de crise. Nas primeiras décadas após a Segunda Guerra Mundial, os produtos argentinos perderam valor com a recuperação da Europa e valorização dos produtos industrializados. Mesmo com a presença de grandes indústrias em seu território e com disponibilidade de gás natural e petróleo, o país não conseguiu evitar o declínio. Nos últimos anos a economia voltou a atrair investidores, empolgados com o aumento do preço do petróleo e dos alimentos. Desde então se observa uma lenta recuperação da Argentina, que ainda está longe de solucionar os problemas que se acumularam ao longo de décadas. 147 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico vimos que: • A América Platina é uma das regiões da América do Sul e da América Latina, formada pelo Uruguai, Paraguai e Argentina. Estes países têm em comum uma historicidade e formação socioespacial relacionada com os rios da bacia Patina: rio Paraguai, rio Paraná e rio Uruguai. As atividades econômicas desenvolvidas no passado e presente continuam direta ou indiretamente relacionadas aos rios ou às terras planas que lhes são próximas. • O relevo dos países Platinos abrange extensas planícies, denominadas de Pampas e/ou grande planície Platina. Conforme seus territórios avançam do litoral do Oceano Atlântico para o interior surgem os planaltos e as cordilheiras Andinas. É na parte Argentina da Cordilheira dos Andes que se localiza o pico Aconcágua, o mais alto da América do Sul. • Os climas são diversos, determinados pelos fatores de latitude, altitude, maritimidade e continentalidade, estando ainda a planície Platina, sob a influência da massa de ar Polar, que se desloca da Antártida para o interior da América do Sul. • As vegetações características são as gramíneas, principalmente nos Pampas, mas existem também formações arbustivas, florestas e vegetações xerófilas, conforme a atuação dos climas e seus elementos de umidade e temperaturas. • As populações do Uruguai e da Argentina são predominantemente brancas, descendentes dos colonizadores espanhóis e de imigrantes, destacando- se os italianos. A população do Paraguai se caracteriza pela miscigenação, predominando pardos e remanescentes de povos indígenas. • Dentre as atividades econômicas destacam-se as agropecuárias, favorecidas pela existência das extensas planícies cobertas de gramíneas e indústrias para transformação das matérias-primas produzidas nestas atividades. • Do ponto de vista do desenvolvimento (visão ocidental), o Paraguai é dos países da América Platina o mais problemático, pois os conceitos de desenvolvimento, progresso e crescimento econômico, se apresentam abaixo do esperado para o bem-estar das populações, ou seja, os indicadores sociais não apresentam índices favoráveis. 148 • As melhores terras do Paraguai estão na mão de estrangeiros, se destacando os brasiguaios. A produção de soja para a exportação em grandes latifúndios altamente mecanizados, tem produzido tensões e conflitos sociais entre os proprietários de terras e os campesinos, como são chamados os agricultores de subsistência e/ou sem-terra paraguaios. • Os brasiguaios residentesno Paraguai ascenderam socialmente nas últimas décadas e passaram a controlar setores de prestação de serviços e de comércio nas cidades do Paraguai, acentuando ainda mais hostilidades já conflituosas. • O Uruguai apresenta seu território caracterizado pelas planícies, intercaladas pela presença de coxilhas. A atividade agropecuária é responsável por uma cadeia de atividades de beneficiamento de lã, couro e de carnes. • O Uruguai é um dos países mais urbanizados do mundo, com 93% da população residindo em pequenas e médias cidades, e/ou na capital. • Assim como ocorreu em outros países da América Latina, o Uruguai também sofreu um Golpe Militar e foi governado por uma ditadura militar entre 1973 e 1984. • Nas eleições deste milênio, ascenderam ao poder partidos, cujos representantes assumiram posicionamento e encaminhamento de esquerda, na tentativa de superação ou diminuição das disparidades sociais. • A Argentina, que outrora já foi um país com índices de qualidade de vida bons, passou por crises financeiras que fizeram estes índices caírem. Sua recuperação econômica continua a avançar lentamente. • A Argentina possui paisagens bem diversificadas devido a sua localização geográfica em relação a latitudes, altitudes e cone sul do continente sul- americano. • A Argentina, devido a sua extensão territorial, é dividida em regiões, sendo a região Pampeana (La Pampa) a mais urbanizada, povoada e industrializada. A região da Patagônia, com paisagens e condições para a prática de esportes de inverno, além de outras atividades, se destaca pelo turismo. 149 AUTOATIVIDADE 1 O Paraguai utiliza somente 5% da cota de energia gerada pela Usina Hidrelétrica de Itaipu. O restante da energia é comercializado para o Brasil. A partir da informação, e do texto, por que podemos afirmar que o Paraguai é uma potência hídrica se é um país tão pobre? 2 Recentemente a Argentina restringiu a entrada de pneus brasileiros e derivados de alumínio produzidos no Brasil. Essas medidas são consideradas protecionistas para o acordo do Mercosul. Por quê? 3 População da Argentina – 40,8 milhões, aproximadamente. População de Buenos Aires – 12 milhões, aproximadamente, na região metropolitana. População do Uruguai – 3,4 milhões de habitantes. População de Montevidéu – 1,6 milhões na região metropolitana. (Dados de 2011, PNUD). Apesar de números bem diferentes, Uruguai e Argentina têm algumas características semelhantes. Qual é a característica apresentada pelos números acima? 150 151 UNIDADE 3 O BRASIL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA: DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO, INTEGRAÇÃO E LIDERANÇA REGIONAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Esta unidade tem por objetivos: • localizar o Brasil no contexto mundial econômico e social da América do Sul e da América Latina; • entender a formação territorial do Brasil e dos países platinos; • compreender a formação das fronteiras brasileiras em relação aos países vizinhos; • refletir sobre a realidade social e econômica do Brasil em relação aos países vizinhos; • identificar e analisar as transformações e o processo de aproximação entre Brasil e Argentina; • reconhecer conceitos aplicados às tentativas de regionalização, formação dos blocos econômicos e integração comercial na América do Sul e na América Latina; • estudar as características e entender a dinâmica dos blocos econômicos e das associações latino-americanas e sua formação; • integrar o conhecimento de regionalização, formação dos blocos econômi- cos e economias em desenvolvimento do México, Argentina, Brasil, Índia e China; • conhecer os principais blocos e/ou associações que se constituíram na América do Sul e na América Latina, seus países e influência regional; • diferenciar e associar esses blocos a seus objetivos, etapas, avanços e/ou estagnação; • entender a suposta soberania e supremacia brasileira na América do Sul; 152 PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Em cada um deles você en- contrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO DAS FRON- TEIRAS POLÍTICAS TÓPICO 2 – A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL TÓPICO 3 – DOS ESPAÇOS GEOGRÁFICOS REGIONAIS DE ENTORNO PARA O ESPAÇO REGIONAL MAIS AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA TÓPICO 4 – PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA • estudar fenômenos socioespaciais presentes nos países da América Latina; • entender a dinâmica cada vez mais crescente e rápida de integração entre serviços, transportes e energética no espaço latino-americano (tanto con- flituosa, como de parceria). 153 TÓPICO 1 DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS POLÍTICAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Por sua grande extensão territorial, o Brasil divide fronteiras terrestres com dez das 12 nações sul-americanas (incluindo a Guiana Francesa), no total, 15.719 quilômetros de extensão. Apesar de problemas a serem resolvidos, nas últimas décadas os governantes brasileiros têm visto as fronteiras do país como linhas de cooperação e não de separação com seus vizinhos. Mas nem sempre foi assim. Durante o período colonial, portugueses e espanhóis disputaram as terras da América do Sul. Na região conhecida como Bacia Platina, ou Bacia do Prata, ocorreram os impasses mais tensos, que deixaram como herança histórica desconfianças e, de acordo com Albuquerque (2005, p. 209), uma “precariedade nas suas articulações culturais, políticas e econômicas em escala regional, a qual se reflete na precariedade atual das infraestruturas físicas de integração, um dos graves pontos de estrangulamento para uma maior ampliação das trocas comerciais regionais”. Caro(a) acadêmico(a), você sabe da tradicional rivalidade no futebol entre brasileiros e argentinos. Mas a história que explica a rivalidade intensa entre Brasil e Argentina começa muito antes de Pelé e Maradona, muito antes do futebol, e antes até de Brasil e Argentina existirem. Entenda a seguir, em alguns motivos, como começou e como evoluiu a rivalidade, que, graças ao Mercosul, diminuiu. No decorrer do estudo desta unidade você, caro(a) acadêmico(a), poderá refletir sobre esta rivalidade histórica. 2 RIVALIDADES COLONIAIS No passado colonial, os atuais territórios da Argentina, Uruguai e Paraguai integravam o Vice-Reino do Rio da Prata, subordinado à Espanha. Como parte da América portuguesa, o Brasil teve uma história marcada por conflitos na consolidação das fronteiras políticas com esses e outros países sul-americanos. Por muitos anos, as relações entre o Brasil e seus vizinhos na América do Sul foram tensas: único herdeiro da Coroa Portuguesa em um continente dominado quase que inteiramente pela monarquia espanhola, suas fronteiras foram construídas em grande parte desrespeitando o determinado pelo Tratado de Tordesilhas (1494), fato que causou disputas fronteiriças com os Estados vizinhos. Algumas das disputas foram resolvidas quase um século após a proclamação da independência política, durante o período monárquico, assim como nos dias da república. No entanto, desde a Guerra do Paraguai (1865-1870), as relações do Brasil com os seus vizinhos, sem exceção, são pacíficas. (ADAS, 2011). UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 154 Portugal e Espanha, por meio do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, haviam definido os princípios gerais para a determinação dos limites de seus territórios na América, porém não os haviam delimitado, ou seja, traçado linhas divisórias sobre os mapas que permitissem definir marcos de fronteira. Ao longo do período colonial, essa situação deu origem a disputas territoriais expansionistas entre as duas potências coloniais ibéricas. Em 1676, por exemplo, em suas investidas para o sul, os portugueses fundaram Laguna, no litoral do atual Estado de Santa Catarina, próximo à linha do Tratado de Tordesilhas.Em seguida, em 1680, desejosos de controlar a entrada do estuário platino, fundaram próximo a este local a Colônia de Sacramento. Na mesma época, também realizaram incursões pelas terras que, mais tarde, formariam o Estado do Rio Grande do Sul. Pelo Tratado de Tordesilhas, tanto essa área como a Colônia de Sacramento localizavam-se em terras pertencentes à Espanha. Observe no mapa a parte da América do Sul correspondente a Portugal e Espanha. FONTE: Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br/o-que-foi-o-tratado-de-tordesilhas/>. Acesso em: 29 out. 2015. Marcos de fronteira são marcações no espaço físico, colocados em pontos notáveis do terreno, que identificam o limite de uma linha de fronteira terrestre. NOTA FIGURA 61 – LINHA DO TRATADO DE TORDESILHAS TERRAS PERTENCENTES A PORTUGAL TERRAS PERTENCENTES A PORTUGAL Linha divisória segundo o Tratado de Tordesilhas Belem Laguna TERRAS PERTENCENTES À ESPANHA TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO 155 No noroeste do que hoje correspondem as terras do Estado do Rio Grande do Sul, no início do século XVII, padres jesuítas espanhóis implantaram missões ou reduções com o objetivo de converter os indígenas à fé cristã. Essas missões (no decorrer dos séculos XVII e XVIII) foram invadidas por diversas vezes por bandeirantes paulistas que buscavam escravizar os indígenas, fato que mais uma vez infringia o tratado luso-espanhol. A presença portuguesa em terras que pertenciam à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas provocou tensões na região. A Colônia Sacramento, por exemplo, fundada pelos portugueses, foi invadida pelos espanhóis, mas reconquistada pelos portugueses. Essa troca de domínio se repetiu por várias ocasiões. Na tentativa de pôr fim às disputas territoriais, na segunda metade do século XVIII, Portugal e Espanha assinaram tratados para a definição de limites entre seus respectivos territórios. Dentre os tratados, o Tratado de Madri, assinado em 1750, foi o mais importante. Preparado cuidadosamente a partir do Mapa das Cortes, o tratado favoreceu as colônias portuguesas em prejuízo aos direitos dos espanhóis. Os diplomatas portugueses eram muito espertos e basearam-se no princípio do Uti Possidetis – direito de posse – para definir como se daria a divisão territorial, trabalhando também para a vitória portuguesa. Pelo Uti Possidetis a terra deveria ser ocupada por aqueles que já se encontravam estabelecidos nela, com residência fixa e trabalho nas redondezas. Desta forma, os portugueses se firmaram no grande território que hoje forma o Brasil. Foi o Tratado de Madri que praticamente deu ao Brasil a extensão territorial que possui hoje, com pequenas alterações na configuração das fronteiras, ainda decorrentes das disputas territoriais entre portugueses e espanhóis em determinados locais fronteiriços. (ADAS, 2011). Observe no mapa o quanto a extensão de terras do Brasil se ampliou com o Tratado de Madri, a área dos Sete Povos das Missões disputada com o Vice-Reino da Prata, e localização da vila da Colônia do Sacramento, na margem esquerda do Estuário do Rio da Prata. UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 156 FIGURA 62 – OS LIMITES DO BRASIL DO SÉCULO XV AO XVIII O primeiro Tratado de Santo Ildefonso foi um acordo assinado entre Portugal e Espanha em 1777, e tinha como objetivo acabar com a disputa pela posse da Colônia de Sacramento e outras regiões, na América do Sul, entre as duas nações europeias. Não obteve êxito. Apenas em 1801 (início do século XIX), pelo Tratado de Badajós, ficaram estabelecidas as fronteiras do Amapá com a Guiana Francesa e do Rio Grande do Sul com o Vice-Reinado Espanhol do Rio da Prata, que deu origem, posteriormente, à Argentina, Uruguai e ao Paraguai. Por este tratado ficou assegurado para Portugal o domínio sobre os Sete Povos das Missões, consolidado em acordo posterior entre autoridades do Rio Grande do Sul e Vice-Rei do Prata. FONTE: Disponível em: <http://www3.editorapositivo.com.br/pnld2015/atv/HCS_2_07/index.html>. Acesso em: 29 out. 2015. TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO 157 2.1 A QUESTÃO CISPLATINA NO PERÍODO IMPERIAL BRASILEIRO Em 1816, a mando de D. João (atendendo a uma das exigências de Carlota Joaquina), luso-brasileiros ocuparam a banda oriental do Uruguai (nome dado na época ao atual território uruguaio). Em 1821, essa região foi incorporada ao Brasil com o nome de Província da Cisplatina. Os habitantes locais, descendentes de espanhóis (maioria), não aceitaram que esse território pertencesse ao Brasil. Em 1825, liderados pelo general Lavalleja, conquistaram a autonomia da Cisplatina em relação ao Império do Brasil, passando a fazer parte da República das Províncias Unidas do Rio da Prata. Em resposta ao ato de Lavalleja, no mesmo ano D. Pedro I declarou guerra à Cisplatina, que só terminou em 1828, com a derrota brasileira. A província da Cisplatina independente deu origem à República Oriental do Uruguai e enfraqueceu a pretensão brasileira de ampliação do território. (ADAS, 2011). FIGURA 63 – MAPA PROVÍNCIA DA CISPLATINA, ATUAL TERRITÓRIO DO URUGUAI FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/352516/>. Acesso em: 29 out. 2015. UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 158 2.2 A ERA RIO BRANCO – 1902-1912 José Maria Paranhos Junior, conhecido como Barão do Rio Branco, assumiu o cargo de Chanceler quando o Brasil se encontrava isolado na América do Sul. Por essa época, as relações com o Chile praticamente inexistiam; com a Bolívia, em relação ao Brasil as relações se encontravam delicadas devido à questão do Acre; a Venezuela não concluía o trabalho de demarcação da fronteira comum e, ainda, a Colômbia buscara, sem resultados, apoio brasileiro frente à possibilidade de retalhamento de seu território, devido à construção do Canal do Panamá. Rio Branco, porém, via o Brasil em posição de destaque na América do Sul, não de modo impositivo, mas, sim, decorrente de sua própria dimensão territorial, condição econômica e situação demográfica. Antes, porém, o país devia superar aquele isolamento e outras questões limitadoras de sua ação internacional, a saber: a definição de suas fronteiras; a restituição do valor primitivo de sua ação internacional e a reconquista da credibilidade e do prestígio do país, abalados por dez anos de conflitos internos, de desmoronamento financeiro e de flutuação dos rumos seguidos para a consolidação da República. Assim, enquanto foi ministro das Relações Exteriores do Brasil, obteve êxito na negociação das fronteiras definitivas do país. Considerado o pai da diplomacia contemporânea brasileira, o barão consolidou uma relação diplomática baseada na negociação pacífica de conflitos, o que ajuda a explicar por que, desde o fim da Guerra do Paraguai (1870), o Brasil não se envolveu em outros conflitos interestatais. 3 AS RELAÇÕES REGIONAIS NA BACIA DO PRATA NO DECORRER DA HISTÓRIA Dentre as fronteiras do Brasil com os demais países da América do Sul, as da Bacia do Prata foram as que mais foram contestadas, desde os tempos coloniais. Isso conduziu o Brasil a certo isolamento na América do Sul. A formação da identidade nacional e a territorialização destes países passaram pelo controle dos rios da Bacia Platina. No Brasil, as nascentes e seus tributários correndo para o interior e depois em direção ao Sul, em função das altitudes e disposição das formas de relevo, foram os principais meios de controlar os grandes espaços e riquezas do interior. (ALBUQUERQUE, 2005). 3.1 BRASIL E ARGENTINA: DA DESCONFIANÇA À APROXIMAÇÃO Relações políticas e econômicas entre Brasil e Argentina foram influenciadas, na maior parte do século XX, pelos mais de três séculos de disputas fronteiriças. Segundo Almeida (2010), o Brasil nem sempre foi um país influente TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAISE CONSOLIDAÇÃO 159 por sua dimensão econômica. No entanto, há mais de cem anos a Argentina foi o país mais rico da América Latina, com uma renda per capita mais do que o dobro da brasileira, até então um dos países mais ricos do mundo. Albuquerque (2005, p. 224) corrobora explicando que “em termos de projeção subcontinental, a Argentina levaria vantagem em relação ao Brasil nas primeiras décadas do século XX”. As exportações argentinas de trigo e carne foram responsáveis por um crescimento econômico expressivo para os níveis regionais, permitindo à Argentina renda per capita e qualidade de vida muito superiores às brasileiras. A Argentina polarizava países platinos limítrofes como o Uruguai e Paraguai, a ponto de, por exemplo, se configurar a malha ferroviária paraguaia de modo a articulá-la ao Porto de Buenos Aires. De lá para cá a situação alterou-se, enquanto a desigualdade social diminuiu no Brasil, na Argentina aumentou. A razão é simples: mesmo fornecendo indicadores econômicos e educacionais que são, em média, menos de um terço dos da Argentina, os indicadores sociais no Brasil cresceram de forma mais consistente e mais rápido em determinados momentos. Durante a ditadura militar, de 1964-1985, apesar da liberdade de expressão e democracia suprimidas, o Brasil consolidou-se como potência industrial emergente, e o país foi dotado de um conjunto de instituições que apoiaram o crescimento durante a fase decisiva da sua modernização econômica e tecnológica. A Argentina, infelizmente, não conseguiu manter as condições favoráveis disponíveis e passou por governos catastróficos, tanto militares como civis. Tais governos, na escala de desenvolvimento econômico e político, colocaram o país em situação dramática. Albuquerque (2005) exemplifica a inversão do quadro econômico e geopolítico sul-americano a favor do Brasil a partir de 1970, quando a área geográfica de influência (hinterlândia) paraguaia passou a se articular com o sistema rodoferroviário brasileiro com pontos terminais nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR). Apesar de o Brasil ser produtor líder em várias commodities, especialmente na agricultura, e possuir outros recursos primários, como minérios, o país ainda sofre de disfunções graves no seu sistema de produção e em seus níveis de competitividade internacional, estando fora de setores dinâmicos e sofisticados, exceto no mercado da indústria da aviação. Os fatores que contribuem para diminuir a sua produtividade são históricos e estão relacionados à baixa formação técnica e pedagógica de sua força de trabalho. A infraestrutura poderia ser melhor, o mercado de crédito é insuficiente para a magnitude do PIB, e os gastos da burocracia do Estado são excessivos, sem contar com hábitos de corrupção e subornos. O que é recolhido em impostos retorna muito pouco em termos de investimentos diretamente produtivos. (ALMEIDA, 2010). UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 160 O crescimento econômico do Brasil se consolidou de forma lenta, e isso só foi possível a partir da crise econômica entre as duas guerras, quando começou o processo de industrialização. De todos os países da América do Sul, e também da América Latina, o Brasil é, sem dúvida, o mais industrializado. No entanto, nas primeiras décadas da segunda metade do século XX, o Brasil não desenvolveu uma vocação de abertura econômica e integração regional com os países vizinhos. Segundo Albuquerque (2005), a política externa brasileira, em especial desde o regime militar instaurado em 1964, reservava aos países da região sul-americana a condição de fornecedores de matérias-primas e energia, de corredores de passagem para o Pacífico e Caribe. Albuquerque ressalta que com o processo de globalização, passou a imperar uma “visão unificadora”, em detrimento da unidade latino-americana, pois as elites dos países continuam tramando nos bastidores diferentes maneiras para defender seus projetos nacionais, diferindo dos discursos oficiais e da agenda internacional. 3.2 BRASIL E ARGENTINA: COMPETIÇÃO GEOPOLÍTICA Durante século XIX até a década de 1930 do século XX, militares, estrategistas e geopolíticos argentinos e brasileiros mantiveram desconfiança e competição mútuas. Do lado argentino considerava-se que o Brasil era o maior rival na América do Sul e desejava-se contrabalançar o seu poder com base na lembrança de que, durante a marcação das fronteiras brasileiras no período colonial e imperial, ocorrera considerável expansão do território, do litoral para o interior do continente. O governo da Argentina almejava, assim, tornar o país núcleo de um poder regional, articulando-se com os demais países hispano- americanos. Os geopolíticos brasileiros consideram que o principal objetivo da Argentina era isolar o Brasil na América do Sul. Também temiam que o país vizinho planejasse atacar os estados brasileiros da região Sul com o apoio do Uruguai, do Paraguai e da Bolívia. (ADAS, 2011). No Tópico 2 este assunto será mais explorado, através das tentativas de integração e/ou associação de países sul e latino-americanos. Relembrando da Unidade 1: Commodities são artigos de comércio internacional, bens que não sofrem processos de alteração (ou que são pouco diferenciados), como frutas, legumes, cereais e alguns metais. ESTUDOS FU TUROS IMPORTANT E TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO 161 3.3 A OPERAÇÃO PAN-AMERICANA (OPA) E OS ACORDOS DE URUGUAIANA Sinais de aproximação entre os dois países somente surgiram na década de 1950, durante os governos do presidente brasileiro Juscelino Kubitschek (1956-1961) e do argentino Arturo Frondizi (1958-1962). Através da Operação Pan-Americana – OPA, Juscelino, em 1958, iniciou uma aproximação e estreitamento das relações entre os países da América. Embora o objetivo principal fosse pressionar os Estados Unidos para que tomassem iniciativas de maior cooperação com o desenvolvimento continental, os governos brasileiro e argentino instauraram um período de cooperação, levantando, ao mesmo tempo, a necessidade de integração dos países da América do Sul. Assim, em 1960 foi criada a Associação Latino-Americana de Livre Comércio – ALALC. A ALALC era uma organização internacional, cujo objetivo principal era o incremento do comércio entre os países membros por meio da redução de tarifas e outras providências. (ADAS, 2011). Em 20 de abril de 1961 os governos do Brasil, Jânio Quadros, e da Argentina, Arturo Frondizi, realizaram um encontro histórico na cidade de Uruguaiana-RS, na fronteira com a Argentina, onde concordaram em superar as desconfianças históricas e intensificar um esforço comum de cooperação econômica, financeira, judiciária e cultural, além do estabelecimento de uma ação comum na solução de problemas internacionais. Discutiram alternativas de cooperação econômica entre os países sul-americanos e repudiaram interferências extracontinentais nos assuntos da América do Sul. (ADAS, 2011) 3.4 GOVERNOS MILITARES NO BRASIL E NA ARGENTINA Após os acordos de Uruguaiana, o estreitamento dos laços de cooperação entre Brasil e Argentina não avançou, pois militares assumiram os governos em ambos os países, reavivando desconfianças mútuas. No Brasil, o regime militar teve início em 1964 e estendeu-se até 1985, enquanto que na Argentina os militares permaneceram no poder entre 1962 e 1983. Do lado brasileiro, o governo militar buscava consolidar a hegemonia na América do Sul. Para isso considerava necessário isolar a Argentina por meio da articulação de um conjunto de iniciativas na Bacia Platina, região de maior influência do país vizinho. Priorizou-se o fortalecimento de relações bilaterais do Brasil, principalmente com a Bolívia e o Paraguai, países dependentes da Argentina, para escoarem seus produtos para o exterior utilizando o Porto de Buenos Aires. Com o intuito de atrair o Paraguai para a órbita de influência brasileira,em 1969 foi inaugurada a Rodovia BR-277, que liga o eixo econômico paraguaio, Assunção-Cidade de Leste, ao litoral do Estado do Paraná, permitindo as exportações paraguaias. Em 1966 assinou-se a Ata das Cataratas ou Ata de Iguaçu, UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 162 que estabeleceu regras para o aproveitamento hidrelétrico do Médio Paraná. Anos mais tarde, em 1973, foi assinado o Tratado de Itaipu, e à revelia dos protestos argentinos foram iniciadas as obras para a construção da Hidrelétrica de Itaipu, obra binacional paraguaio-brasileira que tornou o Paraguai autossuficiente na produção de energia elétrica. Albuquerque (2005) explica que o Brasil, ao construir uma sequência de barragens na parte superior da bacia do Prata-Paraná, o governo e sua equipe técnica, empregando uma estratégia de usos múltiplos dos rios, procurou controlar a rede fluvial para inverter o fluxo econômico a seu favor. Visou facilitar o escoamento da produção no interior da bacia para corredores de exportação de sentido oeste-leste, em direção aos portos atlânticos do Sudeste brasileiro. A condição natural da bacia favorece a Argentina ao facilitar a navegação sentido norte-sul, rumo à foz do rio da Prata. As Cataratas do Iguaçu sempre foram uma barreira natural aos interesses argentinos, e talvez essa tenha sido a razão pela qual a barragem de Itaipu foi construída sem eclusa. A posição do Estado brasileiro iria mudar na década de 1990, após o surgimento do Mercosul, com a implementação da hidrovia Paraguai-Paraná. Observe no mapa o complexo hidroviário Tietê-Paraná. FONTE: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hidrovia_Tiet%C3%AA-Paran%C3%A1>. Acesso em: 29 out. 2015. FIGURA 64 – MAPA: BACIA HIDROGRÁFICA DO TIETÊ PARANÁ, ONDE UM SISTEMA DE ECLUSAS PERMITE A UTILIZAÇÃO DOS RIOS E SUAS BARRAGENS COMO HIDROVIA TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO 163 A partir de meados da década de 1980, período em que no Brasil e na Argentina ocorreu a transição do regime militar para governos democráticos, os governos desses países deram início à superação da visão recíproca de que eram “inimigos históricos”. Diante da percepção de que a economia mundial passava por transformações importantes, começaram a se aproximar com objetivo de cooperação e complementaridade de suas economias. 3.5 O RETORNO À DEMOCRACIA E A APROXIMAÇÃO DE BRASIL E ARGENTINA E OUTROS PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL O retorno à democracia tanto no Brasil como na Argentina favoreceu um processo de aproximação política e reforçou a confiança mútua. Somente a partir da década 1990, as relações internacionais do Brasil se voltaram para a região da América do Sul e da América Latina para a construção de um espaço político, estratégico e econômico preferencial. Nos últimos 25 anos, o Brasil ampliou sua presença no mundo e na América Latina. O Brasil passou a desempenhar papel de crescente importância em foros internacionais, com destacada atuação em questões multilaterais, deixando para trás a noção de soberania fundada no isolamento. (CARMO; PECEQUILO, 2015). Essa aproximação permitiu acordos de cooperação (1986) e integração (1988). Representantes dos governos do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai iniciaram conversações a fim de integrar comercialmente seus países, o que mais adiante culminou com a assinatura do Tratado de Assunção, na cidade de Assunção, capital do Paraguai, criando-se, em 1991, o Mercado Comum do Cone Sul – Mercosul. O Mercosul, através dos acordos de parceria entre os países vizinhos, monopolizou a articulação da maior parte da política externa regional brasileira, embora em um período mais recente tenha havido uma série de iniciativas políticas que tentam uma concepção brasileira de consolidar a América do Sul como uma zona de integração econômica e cooperação política. Segundo Carmo e Pecequilo (2015), os acordos do bloco sul-americano foram ações que demonstraram a busca de autonomia dos países integrantes do grupo, com alinhamento às orientações neoliberais do Consenso de Washington. Trajetória essa que trouxe, segundo os autores, esperança e frustração, pois acreditou-se que a globalização e a organização dos mercados regionais estivessem acompanhadas de benesses, enquanto se percebia que a desregulamentação aprofundou as assimetrias sociais, conduzindo os países a instabilidades e fragmentação. o Tópico 2 será dedicado à análise e reflexões sobre o Mercosul. ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 164 O Mercosul permitiu ao Brasil consolidar uma agenda satisfatória com a Argentina, depois de décadas de relativa indiferença ou mesmo hostilidade escamoteada, pois os dois maiores países do continente, mesmo sem contestar abertamente a hegemonia regional, entraram em confronto velado em vários episódios ao longo do século XX. Entre outros, um dos motivos para a disputa era a exploração dos recursos hídricos na bacia do rio da Prata, resolvido por um acordo tripartite em 1979, em torno de Itaipu, conseguindo superar a disputa absurda sobre o potencial energético do rio Paraná. 3.6 O MERCOSUL E A CRISE DOS ANOS 1999-2001 A partir de 1999, alguns problemas nas economias, principalmente do Brasil e da Argentina, influíram na redução das trocas comerciais do Mercosul. A desvalorização do real em relação ao dólar, em janeiro de 1999, causou a alta dos preços dos produtos argentinos, paraguaios e uruguaios no mercado brasileiro e, em consequência, a redução das importações brasileiras de produtos desses países. Tal situação afetou profundamente a Argentina, pois somente o Brasil era responsável pela compra de 31% do total de suas exportações. Em 2000 e 2001, o quadro de recessão e desemprego, que já existia em 1999, agravou-se. Com isso, o comércio entre os países do Mercosul declinou, mas manteve-se muito acima do que era no início dos anos 1990. (ADAS, 2011). Nos primeiros anos do século XXI a América do Sul encontrou uma nova dinâmica, liderada pelas iniciativas brasileiras dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), que lhe permitiu destacar-se como líder nas relações internacionais regionais, como protagonista de novas alianças multilaterais. Simultaneamente, na Venezuela, as ações do governo de Hugo Chávez (que se elegeu pela primeira vez em 1998) também contribuíram para uma projeção global e principalmente regional, tanto da América do Sul e da América Latina. A imagem de crise, de encolhimento e de isolamento foi sendo sobreposta gradativamente por ações centradas na recuperação e renovação nas quais a América do Sul passou a olhar cada vez mais para dentro de si mesma, ao mesmo tempo em que optou em abrir suas fronteiras para o mundo. Em meio a dificuldades domésticas, a projeção externa ganhou maturidade, processo permeado por disputas políticas, pressionado pela necessidade contínua de progresso, de superação da fragmentação do passado e, por vezes, contando com a persistência de riscos de estagnação e retrocessos nas respectivas agendas. (CARMO; PECEQUILO, 2015). Em 2015 o comércio bilateral entre Argentina e Brasil caiu drasticamente, acumulando 23 meses consecutivos de queda, conforme notícia publicada em 1º de setembro de 2015, jornal eletrônico EN10. O comércio bilateral caiu 16,8% ao longo deste ano de 2015 e a comparação com 2011 mostra uma possível queda de até 40%. A consultora privada Abeceb.com, com base nas estatísticas oficiais de ambos os países, demonstrou que em 2015 acumula-se uma queda de 22,6% nas exportações argentinas ao Brasil e de 11,3% nas compras. Dentre as explicações TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO 165 para os números, a recessão no Brasil é um dos fatores, juntamente com a restrição de dólares pela Argentina, gerando dificuldades para o país mantero ritmo de importações. (PRESSE, 2015). 4 A FAIXA DE FRONTEIRA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA O Brasil faz fronteira com 10 dos 12 países da América do Sul, incluindo a Guiana Francesa. A fronteira é resultante de um processo histórico que tem por base a preocupação do Estado com a garantia de sua soberania e independência nacional. Historicamente, o país tem demonstrado interesse pela região que envolve a fronteira, ao buscar identificá-la como faixa de fronteira e, como tal, dotada de complexidade e peculiaridades que a tornam especial em relação ao restante do país. Nos últimos anos, o governo brasileiro ampliou a atenção para a ocupação e a utilização da chamada faixa de fronteira, reconhecendo a importância territorial estratégica diante do processo de integração sul-americano. A principal legislação que trata sobre a faixa da fronteira foi promulgada em 1979, atribui uma importância diferenciada a este espaço territorial, considerado área de segurança nacional desde o tempo do Segundo Império, meados do século XIX. Acontece que com a globalização e organização dos blocos econômicos supranacionais, as fronteiras passaram a ser ressignificadas. A faixa de fronteira brasileira corresponde a uma região que se estende ao longo de 15.719 quilômetros de fronteira terrestre do país. Com 150 quilômetros de largura, esta longa faixa se estende por 11 unidades da federação e 588 municípios, abrigando uma população próxima a 10 milhões de habitantes. A faixa de fronteira de dois países forma a zona de fronteira, onde parte expressiva das relações transfronteiriças se estabelece nas cidades gêmeas ou trigêmeas. Em linhas gerais, a zona de fronteira é composta pelas faixas territoriais de cada lado do limite internacional, caracterizado por interações internacionais que embora criem um meio geográfico próprio de fronteira, apenas é perceptível na escala local-regional das interações. Neste meio geográfico, as cidades-gêmeas são a manifestação das relações locais num contexto complexo e peculiar. (ADAS, 2011). 4.1 CIDADES-GÊMEAS Na escala local-regional, no meio geográfico as cidades gêmeas correspondem a adensamentos populacionais que são cortados por linhas de fronteiras (terrestre ou fluvial, articulada ou não por obra de infraestrutura), ou, em outras palavras, são núcleos urbanos que se localizam de um lado e de outro do limite internacional entre países vizinhos. Nos quase 16 mil quilômetros de fronteira terrestre brasileira, existem 29 cidades-gêmeas. Estas cidades contam com grande potencial de integração econômica e cultural. Há intensa circulação (fluxos) de pessoas, mercadorias e capitais. Às vezes, estas cidades são tão integradas que basta atravessar uma rua para ir de um país para outro. (ANTUNES, 2013; CAMPOS, 2014). Observe no mapa cidades gêmeas e trigêmeas na fronteira sul e sudoeste do Brasil e vizinhos. UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 166 FIGURA 65 - CIDADES GÊMEAS E TRIGÊMEAS NA FRONTEIRA SUL E SUDOESTE DO BRASIL COM PAÍSES VIZINHOS O encontro de culturas através das pessoas de países diferentes fomenta ações para potencializar o aprendizado de línguas, de respeito à diversidade de dialetos e culturas. As escolas públicas da cidade de Santana de Livramento, RS, por exemplo, ensinam espanhol, e crianças de Rivera (Uruguai) também aprendem português. Por conviverem em um espaço comum, habitantes dessas cidades mesclam as duas línguas e criaram novas palavras, falando o chamado português do Uruguai. Após uma série de negociações entre os governos do Brasil e da Argentina, a exemplo da experiência Brasil-Uruguai, o Projeto Escolas Bilíngues de Fronteira surge como uma estratégia de entendimento e de pacificação das fronteiras. A implementação do projeto tem como propósito promover a construção de uma identidade regional (de fronteira) bilíngue intercultural, de paz e cooperação. De forma resumida, o projeto consiste em um modelo comum de ensino em escolas de fronteira, a partir do desenvolvimento de um programa para educação intercultural, com ênfase no ensino de português e espanhol, sobretudo nas cidades gêmeas. (BRASIL, 2010). FONTE: Disponível em: <http://seminariogelf.blogspot.com.br/p/linguistica-de-fronteira.html>. Acesso em: 29 out. 2015. TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO 167 Por outro lado, existem também problemas ligados ao comércio ilegal de mercadorias entre os dois ou três países (cidades trigêmeas), conhecido como contrabando, tráfico de drogas, armas ou pessoas, entre outros. Nas cidades gêmeas é comum uma prática comercial particular denominada “comércio formiga”, que ocorre quando os habitantes de uma das cidades, ou mesmo de outras localidades, deslocam-se para a cidade do país vizinho a fim de comprar produtos para o consumo próprio ou para a revenda. Ocorre também a saída de recursos naturais e minerais, explorados sem controle e ilegalmente, gerando danos ao meio ambiente. (ADAS, 2011). O Brasil não tem muitas cidades gêmeas, a maioria destas cidades está concentrada na faixa de fronteira com o Uruguai, a Argentina e o Paraguai. Com a Argentina o Brasil tem 16 cidades gêmeas, das quais oito estão situadas na área limítrofe do Estado do Rio Grande do Sul com as províncias argentinas de Corrientes e Missiones. A existência do número reduzido de cidades gêmeas reflete a situação de marginalidade da zona de fronteira em relação às principais correntes de povoamento da América do Sul, concentradas na orla atlântica e nos altiplanos andinos. A localização geográfica das existentes decorre dos diversos fatores, dentre eles, a disposição dos eixos de circulação terrestre sul-americanos, a densidade do povoamento (caso da Amazônia), a presença de obstáculos físicos (cordilheira dos Andes) e a histórica econômico-territorial da zona de fronteira. (BRASIL, 2010). Três aspectos se destacam na geografia das cidades gêmeas na fronteira brasileira, sendo o primeiro o favorecimento da posição estratégica em relação a linhas de comunicação terrestre e a existência de infraestrutura de articulação. Embora estes fatores possam explicar o surgimento de muitas cidades gêmeas, nem sempre garantem seu crescimento e simetria urbana. O segundo aspecto é em parte resultante do primeiro, onde a disposição geográfica das cidades e seu tamanho e organização urbana são dependentes da ação intencional dos governos em atender suas prioridades políticas institucionais. O terceiro aspecto a ser destacado na geografia das cidades gêmeas é a disjunção entre o tipo de interação predominante na linha de fronteira e o tipo de interação que caracteriza a cidade que nela se localiza. (BRASIL, 2010). 4.2 MARCOS DE FRONTEIRA, TENSÕES E QUESTÕES FRONTEIRIÇAS Em relação à geografia física, os locais de maior altitude do relevo brasileiro se localizam no Planalto das Guianas. Os pontos mais altos do Brasil estão localizados na Serra do Imeri, na divisa do Brasil com a Venezuela, que são o Pico da Neblina (AM), com 2.993 metros de altitude, e o Pico 31 de Março (AM), com 2.972 metros de altitude. (HUECK et al., 2013) A fronteira com a Guiana Francesa possui em torno de 730 quilômetros de extensão. Por muito tempo foi comum sua travessia por brasileiros que UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 168 procuravam trabalho naquele país, que na realidade é um departamento ultramarino da França. O objetivo dos brasileiros era receber em euros, e dali tentar ingressar na França. O controle mais rígido das fronteiras está diminuindo a entrada de estrangeiros neste território. (HUECK et al., 2013). Segundo Conte (2010), o Brasil e a França assinaram, em 2001, um acordo que prevê a construção de uma ponte sobre o Rio Oiapoque, com 370 km de águas navegáveis, e é um dos marcos de fronteira entre Amapá, BRA, com a Guiana Francesa, FRA. O então presidenteFernando Henrique Cardoso e o então primeiro-ministro francês Jacques Chirac, após assinarem acordos bilaterais visando, por exemplo, à proteção da Amazônia (1996), além de outros assuntos, acordaram sobre a referida ponte entre a Guiana Francesa e o Amapá. De acordo com Santiago (2015), a ponte está pronta desde junho de 2011, mas ainda não foi inaugurada. A estrutura custou R$ 61 milhões e ainda depende de obras de aduana no lado brasileiro. Falta de recursos impede previsão sobre fim das obras no Amapá. As instalações do lado francês já estão prontas. A construção da aduana foi orçada em R$ 13,6 milhões pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes - DNIT. No local serão instaladas a Anvisa, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Ibama, Receita Federal e Receita Estadual. Cada órgão será responsável pela aquisição dos equipamentos e funcionalidade das próprias estruturas. Até a inauguração da ponte, os brasileiros terão mudanças no tráfego entre Amapá e Guiana Francesa. A partir de 2 de fevereiro, moradores de Além da Guiana Francesa, a França possui outros três Departamentos Ultramarinos: Guadalupe e Martinica no Caribe, América Central, e as ilhas Réunion, a leste de Madagascar, no Oceano Índico. Os Departamentos Ultramarinos são territórios franceses administrados pela matriz, regidos pela mesma constituição e também com a mesma moeda, o Euro. Pode-se afirmar que a Guiana Francesa é uma extensão da França na América do Sul. No entanto, a Guiana Francesa não possui os mesmos níveis socioeconômicos da França Europeia, pois apresenta uma longa história de pobreza, resultado da colonização, feita por presos franceses da famosa prisão Papillon. A população da Guiana Francesa sempre acreditou que um dia poderiam viver num território independente da matriz, fato que ainda não se concretizou. A grande riqueza natural existente, o ouro, nunca beneficiou a população francesa que reside numa “França” sul-americana. ioje, com a implantação do Euro e dos direitos garantidos pela Constituição da França, a população da Guiana Francesa se permite ter melhores condições de vida, como também de trabalho, para todos os nativos ou franceses que lá residam. A extensão do braço europeu na América possibilitou o crescimento econômico com um desenvolvimento nunca antes visto naquele território. (CONTE, 2010). UNI TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO 169 Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá, terão que entrar com pedido de expedição de um novo documento para poder transitar em Saint-Georges, cidade na divisa entre o Amapá e a Guiana Francesa. Nas fronteiras do Pará com a Guiana e Suriname, há cerca de 35 mil garimpeiros ilegais concentrados. Para produzir um quilo de ouro eles chegam a usar um quilo de mercúrio, material altamente poluente e bioacumulável, contribuindo para o desastre ambiental e deixando as populações nativas vulneráveis. Em toda a Amazônia existe uma área descontínua de 1,6 milhão de quilômetros quadrados que contém minérios exploráveis, o que contribui para a cobiça dos mesmos por brasileiros e estrangeiros moradores da zona de fronteira com o Brasil. (HUECK et al., 2013). No Brasil, principalmente na Amazônia, há 618 terras indígenas identificadas. Destas, 180 se localizam na faixa de fronteira e 45 tribos vivem em mais de um país. Quando um território indígena se estende por mais de um Estado Nação, seus habitantes podem passar de um país para outro sem problemas, pois para eles isso não tem importância. As terras indígenas mais populosas nas fronteiras são: Raposa Serra do Sol – RR, onde vivem os povos Ingarikó, Makuxi e outros três, totalizando 19,9 mil indígenas. Terras do Alto Rio Negro – AM: povos Hupde, Bara Nadeb e outros 17 povos, totalizando 19,7 mil indígenas. Terras Yanomami – AM e RR, povos Yanomami, Ye e Kuana, em torno de 19,3 mil indígenas. Terras Evare I, AM, povo Tucumã, com 18 mil indígenas. (HUECK et al., 2013). A Amazônia Internacional se estende pelo Brasil e países vizinhos, dentre eles, Colômbia, Venezuela, Equador (que não faz fronteira com o Brasil), Bolívia, Peru, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. É um termo utilizado para fazer referência à região norte da América do Sul, onde está localizado o bioma da Amazônia, onde predomina a floresta tropical e equatorial, a Floresta Amazônica, porém com áreas com cerrados, campos, vegetações de altitudes, vegetações de transição com a caatinga e outras. A maior parte da Amazônia Internacional está localizada em território brasileiro, compreendendo 60% do total, denominada pelo governo brasileiro de Amazônia Legal. A Amazônia Legal é o nome atribuído pelo governo brasileiro a uma determinada área da Floresta Amazônica, pertencente ao Brasil, e que abrange nove Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Nestes estados, 775 municípios e 24 milhões de pessoas, entre elas 250 mil indígenas. A área corresponde a aproximadamente 5.217.423 km², cerca de 61% do território brasileiro. Através da Lei n° 1806, de 06 de janeiro de 1953, o governo de Getúlio Vargas decretou a criação da Amazônia Legal com a finalidade de melhorar o planejamento e execução http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2014/12/amapaenses-terao-que-emitir-novo-documento-para-entrar-na-guiana.html http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2014/12/amapaenses-terao-que-emitir-novo-documento-para-entrar-na-guiana.html http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2014/12/amapaenses-terao-que-emitir-novo-documento-para-entrar-na-guiana.html UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 170 de projetos econômicos na região delimitada. Simultaneamente, foi criada uma organização responsável pelas iniciativas de promoção dessa região, atualmente designada Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). O extrativismo vegetal é uma das principais atividades econômicas da Amazônia Legal. Grandes empresas, nacionais e internacionais, utilizam as matérias-primas provenientes dessa região na fabricação dos seus produtos. Entre 2000 e 2010 a floresta perdeu 240 mil quilômetros quadrados. O principal responsável pela degradação é o Brasil (até porque temos a maior parte da floresta). No Peru se localizam 6% da Amazônia, na Colômbia 5%, e 9% da floresta se estendem por outros países da Amazônia Internacional. (HUECK et al., 2013). O Sistema de Vigilância da Amazônia – SIVAM, hoje denominado Sistema de Proteção da Amazônia – SIPAM, não é eficiente o suficiente para evitar e/ou inibir atividades ilegais que estão relacionadas às fronteiras. A região ainda é vulnerável, há uma série de especulações sobre a região por conta da biodiversidade, reservas de água, gás e petróleo que ainda não foram exploradas. A extração ilegal de recursos naturais, como minerais preciosos, madeiras e concessão de patentes estrangeiras de animais e plantas raras, também representa ameaças à região. Assim, a cobiça internacional, o tráfico ilegal de animais, armas e de drogas são constantes. Na fronteira do Estado do Amazonas com a Colômbia, conhecida como Cabeça do Cachorro, o tráfico de cocaína e refúgio de militantes das Forças Revolucionárias da Colômbia (FARCs) é constante. (MONTEIRO, 2009; BECKER, 2005). Nas fronteiras dos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com a Bolívia e Paraguai, as atividades ilegais que têm se destacado são o tráfico de FONTE: Disponível em: <http://wwwblogdoprofalexandre.blogspot.com.br/2011/11/diferencas- entre-amazonia-legal.html> e <egioesbemfoco.blogspot.com.br/2014/07/a-amazonia-pode-ser- dividida-em.html>. Acesso em: 29 out. 2015. FIGURA 66 – MAPAS: AMAZÔNIA CONTINENTAL OU INTERNACIONAL E AMAZÔNIA LEGAL BRASILEIRA TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO 171 maconha, cocaína, e o sequestro de caminhões e carros brasileiros, que, levados para os países vizinhos, são devolvidos mediante pagamentode resgate. A vigilância das fronteiras brasileiras não é tarefa fácil. A extensão e a dificuldade do país em efetivar a ocupação e exercer seu poder de Estado sobre suas fronteiras facilitam as ações do crime organizado, o tráfico de pessoas e drogas. 4.3 TEXTO COMPLEMENTAR: ESTUDO DE CASO: CIDADES DE TABATINGA (AM) E LETÍCIA (COL): USO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA Segundo Azevedo (2006), a distribuição e a ocorrência da água subterrânea no planeta não se limitam às fronteiras geopolíticas estabelecidas pelos países. Um único manancial subterrâneo pode ser explorado por vários países. O Aquífero Guarani, situado no sul da América do Sul, é um dos exemplos. As águas subterrâneas, fontes de superfície e bacias hidrográficas constituem frações dos recursos hídricos disponíveis na natureza. Sua distribuição e ocorrência não se limitam às fronteiras geopolíticas, pois bacias hidrográficas situadas em um determinado país podem alimentar aquíferos explorados em outros. Em geral, a água subterrânea apresenta, em seu estado natural, boas condições para os mais variados usos. Entretanto, a qualidade dessa água pode ser modificada direta ou indiretamente por atividades antrópicas, onde se inclui a construção de obras de captação inadequadas, via de regra através de poços tubulares. (AZEVEDO, 2006). Leia sobre o problema da água subterrânea e potável das cidades gêmeas de Letícia (Colômbia) e Tabatinga (Amazonas, BRA). Na região de fronteira entre Brasil e Colômbia, representada respectivamente pelas cidades de Tabatinga e Letícia, o manancial subterrâneo é explorado indiscriminadamente através de poços tubulares rasos abastecendo boa parte das populações dessas cidades. Na cidade colombiana de Letícia, em consequência da contaminação do manancial de superfície que abastece a cidade e de vazamentos na rede de distribuição, a qualidade da água distribuída não é boa. Dos 905 poços cadastrados em 2005, há pouca informação a respeito da qualidade da água, a não ser de alguns poços públicos monitorados pela Secretaria de Saúde local. Já na cidade de Tabatinga, os dados sociossanitários disponíveis no Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) levantados pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e alimentados pela Secretaria Municipal de Saúde de Tabatinga (2005), indicam que das 5.496 famílias UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 172 cadastradas pelo programa, apenas 27,4% estão efetivamente conectadas ao sistema de água e 57% delas se abastecem de nascentes e poços. Em Letícia, 70% da população está conectada à rede coletora de esgoto, que é lançado sem tratamento no porto de Letícia, contaminando não somente o entorno, mas também as águas que servem de manancial para o abastecimento da cidade de Tabatinga. O manejo do lixo também é deficitário. Muito embora 80% da população seja atendida pelo sistema de coleta, não há método de reciclagem, nem de aterro sanitário adequado, o lixo é diariamente depositado a céu aberto num terreno de solo semissaturado que se converteu num foco de proliferação de insetos e roedores. Apenas, eventualmente, se adiciona cal ou se procede ao aterro do lixo, procedimento que não evita a contaminação dos lençóis freáticos e das águas superficiais que fluem para o sistema de drenagem do igarapé que abastece de água a cidade. Em relação aos outros aspectos do saneamento do lado brasileiro, as informações não são nada animadoras, pois de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2001), a coleta pública de lixo atingia apenas 22,6% dos domicílios. Também não existe sistema de esgotamento sanitário - o sistema de esgotamento sanitário da cidade foi iniciado e paralisado -, sendo que mais de 80% dos dejetos são destinados para sistema individual de fossa. A drenagem das águas servidas e pluviais ainda ocorre em valas margeando as ruas e desembocando diretamente no rio Solimões, sem qualquer tratamento. Uma preocupação sempre latente é a possibilidade da disseminação de doenças de veiculação hídrica através das águas dos poços tubulares, principalmente da cólera. De acordo com a Organização Não Governamental Água e Vida (1993), essa doença foi reintroduzida no país pela fronteira com o Peru em 1991, justamente através da cidade de Tabatinga. FONTE: AZEVEDO, Rainier Pedraça de et al. Aspectos sobre o uso da água subterrânea na fronteira Brasil, Colômbia: o caso da cidade de Tabatinga no Estado do Amazonas. In: Rescatando antiguos principios para los nuevos desafíos del milenio. AIDIS, 2006. p. 1-7. 4.4 O PAPEL ESTRATÉGICO DAS PONTES INTERNACIONAIS No contexto da integração sul-americana, pontes internacionais e o uso de balsas em pontos das fronteiras entre os países adquirem importância estratégica. De certo modo, permitem romper os limites à circulação de fluxos de comércio e mercadorias entre países, impostos por barreiras físicas como os cursos de água. TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO 173 Entre os países do Mercosul, na fronteira entre Brasil e Paraguai existe a Ponte da Amizade, além de pontes entre Uruguai-Brasil e Argentina-Brasil. Além do tráfego pesado na Ponte da Amizade no sentido Paraguai, observa-se a passagem de pedestres, dentre os quais encontram-se turistas, moradores das adjacências e muitos mochileiros - muambeiros que vão para o lado paraguaio comprar mercadorias para serem vendidas nos camelódromos do Brasil. É comum também a circulação de traficantes de drogas, armas e cigarros, devido às dificuldades de vigilância e de controle sobre as multidões que atravessam a ponte, principalmente em finais de semana e feriados prolongados. Outras duas importantes pontes na fronteira Brasil-Argentina ligam as cidades de São Borja a Santo Tomé e de Uruguaiana a Paso de Los Libres, localizadas, respectivamente, no Estado do Rio Grande do Sul e na Província de Corrientes. A ponte de passagem entre Uruguaiana e Paso de Los Libres é a mais importante da América do Sul em transporte rodoviário, pois além de permitir a passagem para a Argentina, é por meio dela que o Brasil realiza o comércio terrestre com o Chile. FIGURA 67 – PONTE DA AMIZADE SENTIDO BRASIL–PARAGUAI FON TE: Daniel M. Huertas (4 jan. 2010) apud HUERTAS, 2015. 174 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico vimos que: • O Brasil, país de grande extensão territorial, possui fronteiras terrestres com quase todos os países da América do Sul, exceto com Chile e Equador. A formação sócio-histórica do Brasil explica a ocupação e conquista territorial. • No passado colonial, as primeiras fronteiras da América foram estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, entre Portugal e Espanha. Com a colonização de exploração, implantada pelos portugueses e espanhóis, os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas foram desrespeitados, principalmente pelos portugueses, que ampliaram seus domínios em dois terços do tamanho original. • A expansão do território luso-brasileiro se deu através das Entradas, Bandeiras e outras expedições, e provocaram conflitos, principalmente na região da Bacia do Prata. • No século XVIII Portugal e Espanha reuniram-se para estabelecer novos acordos sobre as fronteiras na América do Sul, em terras sob seus domínios. O Tratado de Madrid, 1750, deu ao Brasil uma configuração parecida com a atual, aumentando o tamanho da colônia portuguesa em quase dois terços. O direito de posse (Uti Possidettis) foi o principal argumento dos diplomatas portugueses para sustentar a ampliação das posses da Coroa Portuguesa. • As disputas no Sul persistiram em torno da região denominada Sete Povos das Missões, encerradas com a assinatura do Tratado de Badajós (1801), que, além de estabelecer as fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa, confirmou a posse portuguesa sobre a região em disputa. Em 1804, autoridades políticas do Rio Grande do Sul e do Vice-Reinoda Argentina formalizaram o acordo com marcos na fronteira. • Durante o século XIX, com a independência do Brasil, ocorreram apenas conflitos pontuais, como, por exemplo, a questão da Cisplatina. • Desde o início do século XX, as relações diplomáticas com países vizinhos têm se baseado em negociações pacíficas. Brasil e Argentina, os dois países mais influentes do continente, porém, continuaram à sombra dos resquícios históricos de disputas e desconfianças mútuas, de mais de três séculos. A aproximação dos dois países foi lenta, gradual, com períodos de avanços e inércia. 175 • Acordos bilaterais assinados entre Argentina e Brasil, no decorrer da segunda metade do século XX, principalmente na década de 1980, aproximaram os dois países. Acordos que na década de 1990 se estenderam para os países vizinhos Uruguai e Paraguai, quando foi constituído o Mercado Comum do Sul da América do Sul - Mercosul. • No final da década de 1990, o comércio que aproximou os países através do Mercosul teve uma queda, acompanhado de recessão econômica e desemprego. • Na primeira década do novo milênio, por iniciativa dos governos brasileiros, novas alianças multilaterais foram assinadas. A região Sul da América do Sul, junto à Venezuela, projetou-se no continente e no cenário mundial. • O comércio entre a Argentina e o Brasil é significativo para ambos os países, porém em 2015 há uma possível queda em até 40% no comércio se comparado com 2011. • No contexto de integração regional entre países, as fronteiras não desaparecem, continuam existindo, porém ressignificadas, com peculiaridades e complexidades contemporâneas. • O Brasil tem identificado a fronteira como faixa de fronteira, numa largura até 150 km. A segurança na faixa de fronteira brasileira com os outros países é mantida por meio de ações próprias das Forças Armadas e dos órgãos de segurança, conforme determinação constitucional. • As cidades gêmeas localizadas nas zonas de fronteira de dois países desempenham funções diferenciadas para a integração (comercial e cultural) com os países fronteiriços, e, ao mesmo tempo, se constituem num espaço visado e perigoso, com comércio ilegal, tráfico e violência. • As escolas bilíngues são escolas localizadas na faixa de fronteira do Brasil com o Uruguai e Argentina, pincipalmente nas cidades gêmeas, cuja ênfase no ensino das línguas portuguesa e espanhola tem como objetivo promover a construção de uma identidade regional bilíngue e intercultural, marco de uma cultura de paz e cooperação fronteiriça. • Apesar dos rios serem utilizados como marcos de fronteira indicando os limites territoriais, e limite para o exercício da soberania e segurança nacionais, as pontes são elementos geográficos, símbolo de integração física, política e cultural. 176 AUTOATIVIDADE 1 A integração sul-americana, de modo geral, não é diferente de outras experiências semelhantes em curso pelo mundo. Processos de globalização e regionalização vêm ressignificando as fronteiras, antes vistas como fator de separação, agora vistas como fator de cooperação. As principais características da integração sul-americana apresentam similaridades que predominam sobre as diferenças. Analise as afirmativas sobre as similaridades da integração sul-americana: I – Existem situações similares entre os países sul-americanos que os aproximam e ao mesmo tempo afastam, do ponto de vista territorial e da formação socioeconômica. II – Historicamente, as relações de vizinhança foram marcadas por sucessivos estágios de rivalidades, conflitos, competição e cooperação. III – Prática de uma política interestatal com vistas a uma estratégia de mútua proteção diante de potenciais ameaças externas. IV – Edificação de um sistema regional de comércio que promove a eliminação gradual das barreiras internas, aliada a uma política de bloco que permite a estes países atuar em melhores condições num ambiente de crescente competição internacional. Agora assinale a alternativa correta: a) As afirmativas I, II e III estão corretas. b) As afirmativas II, III e IV estão corretas. c) As afirmativas III e IV estão corretas. d) As afirmativas I e II estão corretas. 2 Leia com atenção o texto que segue: Ciência Hoje: E a Amazônia? Resposta da professora e geógrafa Bertha Becker: Porque é uma fronteira: do povoamento no Brasil, da economia- mundo e, sobretudo, porque constitui o novo. A fronteira é um espaço não plenamente estruturado, potencialmente gerador de novas realidades [...]. E nos últimos 50 anos muitas novas realidades têm sido geradas na Amazônia. Trecho da entrevista da geógrafa Bertha Becker à Revista Ciência Hoje. Rio de Janeiro: SBPC, outubro de 2010. Vol. 46, p. 64. O conceito de fronteira tem sido ressignificado nos últimos anos, deixando de ser um conceito exclusivamente político e territorial. Sobre as novas realidades que foram geradas na Amazônia, é correto afirmar: I – Houve incentivo do governo, através de políticas públicas para ações preservacionistas (criando parques e estações ecológicas, por exemplo) que protegeram (e protegem) formações vegetais, mananciais hídricos e os povos indígenas, pois limitaram e inibiram (ao menos parcialmente) a ação devastadora que vinha se impondo sobre a região. 177 II – Os investimentos em produção agropecuária foram bem-sucedidos, do ponto de vista produtiva e ambiental, e fizeram da região grande produtora de carne bovina e de soja do mundo. III – Várias ações visando explorar o potencial de recursos naturais da região foram empreendidos, (legais e ilegais), uma vez que o potencial mineral da região é diversificado e amplo. IV – A partir da década de 1970, com o intuito de ocupar a Amazônia, um conjunto de ações visando povoar aquelas áreas, vistas como “desocupadas”, fez com que a região sofresse nas duas últimas décadas as consequências desses empreendimentos: conflitos de terras, degradação ambiental e represálias internacionais. Agora assinale a alternativa correta: a) As afirmativas I – II e III estão corretas. b) As afirmativas II – III e IV estão corretas. c) As afirmativas I – III e IV estão corretas. 3 Observe o mapa abaixo: FONTE: Disponível em: <http://confins.revues.org/docannexe/image/6107/img-5-small480. png>. Acesso em: 30 out. 2015. 178 A Amazônia Legal destacada no mapa é uma vasta região que extrapola os limites da região Norte. Sua delimitação foi baseada em análises estruturais e conjunturais e necessidades de desenvolvimento identificadas na região. Seus limites têm um viés sociopolítico e não geográfico, não se restringindo apenas ao bioma Amazônico, mas também se estende ao bioma do Cerrado, Pantanal mato-grossense e parte da Mata dos Cocais do Maranhão. Sobre outras características problemáticas da Amazônia Legal, analise as seguintes afirmativas: I – A campanha iniciada na década de 1970 para integrar a região à economia nacional teve impactos ao meio ambiente que ainda são sentidos e combatidos. II – A região contém uma das últimas grandes reservas de madeira tropical do mundo, em processo de degradação, resultado da exploração predatória e ilegal do produto. III – A expansão agropecuária extensiva que requer grandes extensões de terras para sua prática tem contribuído para a problemática ambiental local, regional e global. IV – Os projetos de desenvolvimento, que possuem o aval do governo brasileiro, avançam pelos rios, na forma de hidrelétricas, o que não tem provocado reações de movimentos ambientalistas nacionais e internacionais. Agora assinale a alternativa correta: a) As afirmativas I, II e III estão corretas. b) As afirmativas II, III e IV estão corretas. c) As afirmativas I, III e IV estão corretas. d) As afirmativas II e III estão corretas. 179 TÓPICO 2 A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO O Mercosul, resultado inicialmente da aproximação política e econômica dos países do Cone Sul da América do Sul, possui como Estados Partes:Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai (1991), Venezuela (2012) e Bolívia (2015) em processo de adesão. Os Estados associados (Chile, Colômbia, Equador, Peru, Guiana e Suriname - os dois últimos desde 2013) participam da zona de livre comércio, mas não da Tarifa Externa Comum. México é um país observador. Atualmente, através dos acordos de livre comércio que o Mercosul já mantém com todos os países da América do Sul, constitui-se na prática uma área de livre comércio do continente sul-americano. Assim, com exceção da Guiana Francesa, o Mercosul estabelece a união aduaneira entre os membros plenos e acordos com todos os países associados. A Guina Francesa é apenas observadora do Mercosul, por ela ser um Departamento Ultramarino da França na América do Sul. 2 O MERCOSUL A aproximação de Brasil e Argentina, no decorrer da década de 1980, com a assinatura de acordos bilaterais, marcou o final de um período de disputa pela hegemonia regional. O processo de globalização e a organização dos blocos econômicos supranacionais conduziram os países do sul da América do Sul, da Bacia do rio da Prata, ao Mercosul. Pode-se afirmar que do ponto de vista geográfico é grande a relação entre a bacia hidrográfica dos rios do Prata, Paraná e Paraguai e os quatro países membros do Mercosul, pois a rede hídrica superficial e as formações aquíferas subterrâneas foram elementos que favoreceram a consolidação do bloco regional. Embora com limitações, o Mercosul representa, dentre as tentativas de integração na América do Sul, a mais bem-sucedida. Experiências idênticas, porém, sem muito destaque no cenário internacional, foram as da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), fundada em 1960, e da Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), estabelecida em 1980 substituindo a ALALC, e que existe até hoje. A ALADI reúne Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Venezuela e Uruguai. Como se pode observar, são países da América Latina e do Caribe. Estas experiências contribuíram para o Mercosul afastar-se das linhas rígidas dos grandes projetos do passado. Os 180 UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS países associados voltaram-se para esquemas mais graduais e flexíveis, com uma abordagem setorial equilibrada dos principais eixos da integração. (ALMEIDA, 2006; ALBUQUERQUE, 2005). Os esforços brasileiros foram imprescindíveis para a crescente importância do Mercosul, já que como bloco econômico regional, este é um dos principais instrumentos de negociação política e econômica dos países da América do Sul no cenário internacional. (VEDOVATE, 2010). Dentre os objetivos e etapas alcançadas pelo Mercosul estão o estabelecimento de um mercado comum, mediante a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países, bem como o estabelecimento de uma política e uma tarifa externa comum. Com mais de duas décadas de existência, o Mercosul é a mais abrangente iniciativa de integração regional já implementada na América Latina. No entanto, fatores históricos, políticos e econômicos explicam a frágil integração física, e explicam também, em parte, por que os países latino-americanos e caribenhos apresentam índices de comércio intra-regional (apesar dos avanços) muito inferior ao de outras regiões do mundo. Enquanto o comércio entre os países do Mercosul é de aproximadamente 25% do total de suas trocas e a Comunidade Andina – CAN comercializa entre seus membros cerca de 10%, o comércio intra-regional entre os países do Nafta atinge 55%, entre os países da União Europeia e Ásia, 60% e 68%, respectivamente. (ADAS, 2011). Nos seus primeiros anos, o Mercosul funcionou como uma área de livre comércio, transformando-se a partir de 1995 em uma união aduaneira. Apesar dessa evolução, o Mercosul não atingiu seu principal objetivo: tornar-se um mercado comum plenamente constituído, o que permitiria o aprofundamento da associação comercial entre países emergentes. Os países membros do Mercosul abrangem, aproximadamente, 72% do território da América do Sul (12,8 milhões de km², equivalente a três vezes a área da União Europeia); 70% da população sul-americana (275 milhões de habitantes) e 77% do PIB da América do Sul em 2012, algo em torno de US$ 3,18 trilhões de um total de US$ US$ 4,13 trilhões, segundo dados do Banco Mundial. (ITAMARATY, 2015). Segundo Itamaraty (2015), além dos quatro países fundadores (também chamados Estados parte), a Venezuela, que estava desde 2006 em processo de adesão, tornou-se Estado parte em 2012, e a Bolívia protocolou seu processo de adesão como membro pleno desde 2012. Já Chile, Peru, Colômbia, Equador, Suriname e Guiana são países associados ao Mercosul. Todos os países da América do Sul, com exceção da Guiana Francesa, estão vinculados ao Mercosul, seja como Estados Parte, seja como Associados. TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL 181 A diferença entre os membros efetivos e os associados ao Mercosul está na adesão da Tarifa Externa Comum (TEC), que consiste em uma mesma tarifação sobre produtos exportados para países de fora do bloco, evitando a concorrência e privilegiando os parceiros comerciais existentes dentro do próprio acordo. A TEC é adotada apenas pelos membros efetivos, que são também aqueles responsáveis pelas principais decisões, incluindo a aprovação do ingresso de novos países-membros. 2.1 O COMÉRCIO INTRABLOCO Desde a criação do Mercosul, em 1991, o volume de comércio entre países-membros tem crescido. Em 2006, impulsionados pelo aumento do comércio bilateral do Brasil com a Argentina, as exportações no interior do bloco aumentaram mais de 20%. Segundo o Itamaraty (2015), em pouco mais de 20 anos, o Mercosul obteve sucesso em termos econômico-comerciais, uma vez que o comércio intrabloco O Mercosul atualmente tem três categorias de países participantes: • Estados Participantes ou membros plenos: São os países que efetivamente participam do Mercosul e se beneficiam diretamente de suas vantagens comerciais e diplomáticas dentro das relações internacionais. A Tarifa Externa Comum (TEC), que consiste em uma mesma tarifação sobre produtos exportados para países de fora do bloco, evitando a concorrência e privilegiando os parceiros comerciais existentes dentro do próprio acordo, é adotada apenas pelos membros efetivos, que são também aqueles responsáveis pelas principais decisões, incluindo a aprovação do ingresso de novos países-membros. Os Estados Parte incorporam as normas do Mercosul nas suas legislações nacionais por meio do Poder Executivo ou seus Parlamentos. Esse processo tem um tempo diferente em cada país membro. Portanto, para saber se as normas estão vigentes, ou seja, se estão incorporadas pelos quatro Estados Parte, é necessário consultar o acompanhamento que faz a Secretaria do Mercosul. • Estados Associados: São os países que não fazem parte do Mercosul, mas que têm prioridade nas relações internacionais com os países associados, sendo realizados diversos acordos comerciais. A admissão de novos Estados Associados no Mercosul exige a assinatura prévia de Acordos de Complementação Econômica. Sua existência justifica- se em função do compromisso do Mercosul com o aprofundamento do processo de integração regional e pela importância de desenvolver e intensificar as relações com os países membros da Associação Latino-Americana de Integração – ALADI. Nesse sentido, a prioridade é para os países que integram a ALADI se associarem ao Mercosul, desde que participem aderindo a acordos de livre comércio com o bloco. • Estados Observadores: Os países observadores têm como função fiscalizar as relações internacionais entre os estados participantes e associados. Em caso de alguma dúvida ou disputa, sua opinião será consultada. Atualmente, o México é o país observador do Mercosul. UNI 182 UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.:DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS multiplicou-se mais de dez vezes, saltando de US$ 5,1 bilhões (1991) para US$ 58,2 bilhões (2012). No mesmo período, o comércio mundial cresceu apenas cinco vezes. O comércio do Brasil com o Mercosul cresceu, multiplicando-se por dez. O comércio intrabloco corresponde a cerca de 15% do total global do Mercosul e reduziram-se quase totalmente as tarifas para comércio entre os países do bloco. Se tomado em conjunto, o Mercosul seria a quinta maior economia do mundo, com um PIB de US$ 3,32 trilhões. O Mercosul é o principal receptor de investimentos estrangeiros diretos (IED) na região. Em 2012, o bloco recebeu 47,6% de todo o fluxo de IED direcionado à América do Sul, América Central e ao México. O bloco constitui espaço privilegiado para investimentos, por meio de compra, controle acionário e associação de empresas dos Estados Partes. A ampliação da agenda econômica da integração, na última década, contribuiu para incremento significativo dos investimentos diretos destinados pelos Estados Partes aos demais sócios do bloco. (ITAMARATY, 2015). Ainda segundo Itamaraty (2015): Em pouco mais de 20 anos, o Mercosul provou ser um grande sucesso em termos econômico-comerciais. O comércio intrabloco multiplicou- se mais de dez vezes, saltando de US$ 5,1 bilhões (1991) para US$ 58,2 bilhões (2012). No mesmo período, o comércio mundial cresceu apenas cinco vezes. O comércio do Brasil com o Mercosul quase multiplicou- se por dez – ao passo que, com o resto do mundo, o aumento foi de oito vezes. O comércio intrabloco corresponde a cerca de 15% do total global do Mercosul e reduziram-se quase totalmente as tarifas para comércio entre os países do bloco. No entanto, Almeida (2006; 2011), em estudo realizado sobre os anos de existência do Mercosul, não concorda com o sucesso apresentado pelo Itamaraty (2015), explicando outra realidade a respeito do projeto Mercosul: Não é preciso dizer que, a despeito dos avanços logrados no comércio intra-regional, nunca se chegou a estabelecer o prometido “mercado comum”, assim como a união aduaneira, virtualmente existente a partir de 1995, comportava inúmeras exceções à Tarifa Externa Comum, sem mencionar os produtos ainda fora da zona de livre comércio sub- regional, como o açúcar e a importante indústria automotiva, base, aliás, de grande parte do comércio bilateral entre o Brasil e a Argentina (que incluía ainda certo volume de fluxos administrados, como trigo e petróleo). Tampouco foi possível lograr a coordenação de políticas macroeconômicas e cambiais, inclusive porque a manutenção da paridade fixa do peso no caso argentino impedia qualquer exercício de fixação de alguma banda de flutuação com o novo real do Brasil. (ALMEIDA, 2006, p. 3). Mesmo considerando-se apenas a fase inicial de integração econômica – qual seja, a constituição de uma zona de livre comércio, seguida da definição técnica de uma tarifa externa comum, o que redundaria numa união aduaneira – e seu desdobramento lógico na criação de um mercado comum (aliás, determinado “constitucionalmente”), pode- se dizer que tais objetivos – que já eram os do processo bilateral de cooperação e de integração, iniciado em 1986 por Brasil e Argentina – não foram alcançados. (ALMEIDA, 2011, p. 1). TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL 183 Dez anos depois de firmado o bloco, o Brasil assumiu a liderança entre os parceiros comerciais regionais, e, entre 2004 e 2010, manteve-se numa situação comercial favorável no relacionamento com os demais integrantes. A Argentina, por sua vez, voltou a acreditar que o Brasil pretendia reduzi-la a um mero papel de fornecedor de produtos primários, reservando para si todas as cadeias de maior valor agregado, fato aparentemente confirmado em várias áreas, devido ao esforço de adaptação produtiva conduzida pela indústria brasileira no curso do processo de liberalização comercial dos anos 90 e, depois, em virtude dos novos ganhos de competitividade adquiridos a partir da desvalorização de 1999, resultando no crescimento positivo do comércio exterior brasileiro entre 1995 e 2005. O Brasil conseguiu expandir seu comércio para outros países do Mercosul, enquanto para a Argentina, o peso do Brasil continuava determinante, o que configurava motivos de preocupação para seus industriais. (ALMEIDA, 2006). A partir de 2006 novos protocolos setoriais e negociações de complementaridade recíproca foram negociados. A Argentina propôs um mecanismo de salvaguardas setoriais, recebido positivamente pelos argentinos e negativamente pelos empresários industriais brasileiros. No plano político, diversos outros projetos não comerciais foram impulsionados, com apoio do governo brasileiro, na tentativa de correção de assimetrias estruturais, e a instituição de um parlamento do Mercosul, considerado um aperfeiçoamento institucional. Não se voltou, segundo Almeida (2006, p. 6), a falar em “moeda comum”, mas permanecem vivas outras demandas, como as políticas macroeconômicas comuns, estabelecimento de cadeias produtivas setoriais conjuntas. Voltou-se a dar ênfase, sob impulso político do governo brasileiro, aos projetos de integração física continental. Mesmo as tentativas de relançamento comercial do Mercosul não logrando êxito total, as iniciativas políticas de integração física continental, em especial no setor energético, avançaram. Segundo Almeida (2011, p. 2), As dificuldades para a consolidação ou avanço do Mercosul podem ser creditadas a dois fatores de amplo escopo: de um lado, instabilidades conjunturais no plano econômico (em diferentes formatos segundo os países), com planos parciais ou insuficientes de ajustes; de outro, o recuo conceitual dos projetos de construção de um espaço econômico integrado na região, com abandono relativo da liberalização comercial recíproca e ênfase subsequente nos aspectos puramente políticos ou sociais da “integração”. O Itamaraty (2015) continua a apresentar sua versão positiva em relação aos aspectos econômicos e comerciais do Mercosul, reconhecendo, no entanto, também os aspectos políticos e sociais. O Mercosul é fundamental para a atividade industrial dos Estados Partes. Em 2012, 92% das exportações brasileiras ao Mercosul foram bens industrializados (manufaturados e semimanufaturados). Um dos setores que mais se beneficia do Mercosul é o automotivo, pois o bloco possibilitou a Brasil e Argentina integrar suas cadeias produtivas de automóveis. Brasil e Argentina juntos são o terceiro maior mercado global de automóveis (depois de China e Estados Unidos). Em 2013, 47% da produção de automóveis argentinos foram exportados para o Brasil. O mercado brasileiro foi o destino de 85% das exportações 184 UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS argentinas de veículos no ano passado. As exportações para a Argentina representaram, em 2013, 16% da produção brasileira de automóveis e 80% das exportações de veículos do Brasil. Em resumo, o Mercosul não se limita à dimensão econômica e comercial, contando com iniciativas comuns que abrangem da infraestrutura às telecomunicações; da ciência e tecnologia à educação; da agricultura familiar ao meio ambiente; da cooperação fronteiriça ao combate aos ilícitos transnacionais; das políticas de gênero à promoção integral dos direitos humanos. Isso é o que faz do Mercosul um dos projetos de integração mais amplos do mundo. (ITAMARATY, 2015). No dia 14 de dezembro de 2006, na cidade de Brasília, foi constituído em sessão solene no Congresso Nacional o Parlamento do Mercosul, com objetivos de minimizar as diferenças entre os Estados, harmonizar as legislações nacionais, agilizar a incorporação das normativas do Mercosul e fomentar a cooperação interparlamentar, cujo Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul já havia sido assinado no ano anterior, 2005. É considerado um novo marco do movimentode integração, e o sistema de representação a ser adotado no âmbito do Parlamento do Mercosul, bem como suas competências, princípios regentes, atribuições dos parlamentares e forma de eleição de seus membros foram acordados em conjunto e documentados. O Parlamento do Mercosul é o órgão de representação de seus povos, independente e autônomo, que integrará a estrutura institucional do Mercosul. Estará integrado por representantes eleitos por sufrágio universal, direto e secreto, conforme a legislação interna de cada Estado Parte e as disposições do Protocolo. (LIMA et al., 2012). Constata-se que o Mercosul, apesar de seus problemas, transformou-se num curto espaço de tempo em uma integração complexa, que transcende as metas comerciais para alcançar o entendimento permanente dos países sul- americanos em diversos campos, visando promover o desenvolvimento de seus povos e construir uma prosperidade compartilhada. 2.2 ADESÃO DA VENEZUELA COMO ESTADO MEMBRO OU ESTADO PARTE EM 2012 A entrada da Venezuela ao Mercosul fortalece os ideais norteadores do Tratado de Assunção e amplia os objetivos descritos na Constituição Brasileira de 1988. Atualmente, todos os países independentes do continente participam do processo de integração. Com a entrada da Venezuela, em 2012, o Mercosul ampliou sua dimensão geopolítica, estendeu-se ao Caribe e passou a representar mais de 70% da população, do território e do PIB da América do Sul. O bloco afirmou-se como potência política, energética e econômica, configurando um dos centros de poder de uma ordem mundial multipolar. O processo com o pedido de integração como Estado parte ou membro pleno foi documentado e protocolado em julho de 2006, e entrou em vigor em agosto de 2012. Foram previstos etapas TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL 185 e prazos para a plena incorporação do normativo do Mercosul pelo país, assim como para a adoção da Tarifa Externa Comum (TEC) e da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) pela Venezuela; e como resultado, alcançar o livre comércio no bloco. (SLOBODA, 2015). Deu-se início no Mercosul ao processo de expansão do bloco regional. A Bolívia foi aceita como Estado parte em 2015. O governo paraguaio, porém, mais especificamente o Senado desse país, sempre se opôs à entrada dos venezuelanos no bloco, principalmente em função das divergências políticas para com o governo do então presidente Hugo Chávez, que foi sucedido pelo seu seguidor Nicolás Maduro. Ocorreu que, em 2012, o então presidente do Paraguai, Fernando Lugo, foi alvo de uma espécie de golpe de Estado, quando em apenas dois dias o Congresso paraguaio destituiu-o de seu cargo através do processo de impeachment. Tal episódio gerou uma repercussão negativa por parte dos governos sul-americanos, que excluíram temporariamente o Paraguai do Mercosul até que um processo eleitoral verdadeiramente democrático ocorresse no país. Durante esse meio tempo, sem a oposição paraguaia podendo atuar, a Venezuela, com ajuda da diplomacia brasileira, teve aprovado o seu ingresso como membro efetivo do Mercosul, gerando críticas por parte dos setores que enxergam de forma cética o crescimento da influência do chavismo na América do Sul. (PENA, 2015). A diplomacia brasileira foi duramente criticada, por ter se aproveitado do momento para legalizar e ratificar a entrada da Venezuela no Mercosul, enquanto o Paraguai estava suspenso temporariamente por desrespeitar acordos do bloco em relação à democracia. Apesar das críticas, todos os dispositivos legais da instituição do bloco foram seguidos. Em relação à Venezuela, em linhas gerais, há que se considerar que sua entrada no Mercosul possui mais motivações políticas do que econômicas, pois aproxima os governos de centro-esquerda que atuam em todos os países desse bloco, exceto no Paraguai. Por outro lado, pensadores mais conservadores acusavam os governos de Chávez e Maduro de serem antidemocráticos. Em termos econômicos, a entrada da Venezuela aumenta o potencial energético do Mercosul, haja vista que os venezuelanos estão entre os maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo; no entanto, existem dúvidas sobre a aceitação por parte da Venezuela da Tarifa Externa Comum. Como importadora de alimentos e produtos industrializados, pode, de certa forma, propiciar uma oportunidade para o mercado exportador dos demais países do Cone Sul. Os pontos negativos apontados envolvem, sobretudo, a política externa acirrada da Venezuela e suas relações com os Estados Unidos, o que gera incertezas, haja vista que os norte-americanos possuem amplas relações de exportação e importação com o Mercosul. (PENA, 2015). 186 UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 2.3 A BOLÍVIA NO MERCOSUL COMO ESTADO ASSOCIADO E COMO ESTADO MEMBRO OU ESTADO PARTE A relação da Bolívia com organizações regionais ocorre desde 1969, quando o país tornou-se membro pleno da CAN (Comunidade Andina de Nações), desde a sua fundação naquele ano. Em 1992 o país firmou o Acordo sobre Transportes Fluviais pela Hidrovia Paraguai–Paraná. Em 1995 a Bolívia assinou o Acordo de Complementação Econômica com o Mercosul, tornando-se o primeiro país latino- americano a realizar acordo de tal teor com o bloco. Os acordos de Livre Comércio entre o Mercosul e a Bolívia como país associado foram assinados em junho de 1996 e entraram em vigor em 28 de fevereiro de 1997. Em 2003 foi concedida ao país a participação em reuniões do Mercosul a fim de acelerar o processo integrativo. Em 21 de dezembro de 2006, o Presidente Evo Morales dirigiu-se em carta à Presidência Pro Tempore do Mercosul, na época brasileira, manifestando sua predisposição de iniciar os trabalhos para a incorporação do país como Estado Parte do Mercosul. No dia 18 de janeiro de 2007, durante a 32ª Reunião Ordinária do CMC (Conselho do Mercado Comum), foi aprovada a criação de um grupo ad hoc para a Incorporação do Estado Plurinacional da Bolívia como Estado Parte do Mercosul. No entanto, devido a problemas internos do país, o processo de adesão não foi acelerado. Em outubro de 2009 entrou em vigência para o país o Acordo sobre residência para nacionais dos Estados Partes do Mercosul, Bolívia e Chile. Em 2011 foi realizado um convite formal à Bolívia para integrar o bloco como membro pleno, cuja tramitação processual concretizou-se em 2012. Em 17 de julho de 2015, segundo Alejandro Rebossio, durante a 48ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, realizada em julho de 2015 em Brasília, os presidentes dos cinco países membros do bloco (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela) assinaram o protocolo de adesão da Bolívia à união aduaneira. Agora só falta os congressos do Paraguai e do Brasil ratificarem o ingresso do sexto membro do bloco. A assinatura deu início às negociações formais para o ingresso. Exigências burocráticas, para validade oficial, exigem a aprovação da adesão efetiva pelo Congresso Nacional do Brasil e também do Paraguai, uma vez que os parlamentos de Argentina, Uruguai e Venezuela já Após a plena restituição da democracia no Paraguai, com a posse do presidente iorácio Cartes, em 15 de agosto de 2013, eleito em pleito que contou com o acompanhamento do Mercosul e da Unasul, e cumpridos os requisitos democráticos, o Paraguai teve sua suspensão revogada. (SLOBODA, 2015). UNI TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL 187 ratificaram o ingresso da Bolívia no bloco. Assim, a Bolívia é país-associado em processo de inclusão como Estado Parte e membro pleno. A demorada incorporação da Bolívia, as barreiras ao intercâmbio dentro da zona de livre comércio e a falta de acordos com outros blocos levaram analistas a concluírem que o Mercosul está em crise. (REBOSSIO, 2015). Sob os ângulos geográfico e econômico, a entrada da Bolívia deverá permitir a ampliação da integração energética do bloco, que poderá desempenhar um papel agregador,pois a produção de energia é um fator ainda pouco explorado no Mercosul. O Brasil e a Argentina já são os principais parceiros comerciais do novo integrante, principalmente por causa da compra de gás boliviano. Atualmente, o governo brasileiro negocia com o Presidente Evo Morales a construção de hidrelétricas em território boliviano para abastecer os dois países. Apesar da retórica anticapitalista, na prática o governo de Evo Morales tem seguido uma política macroeconômica ortodoxa, com manutenção da inflação em patamares baixos e controle dos gastos públicos. (SCHREIBER, 2015). Dessa forma, nota-se a natureza integrativa das negociações, para a adesão do país ao bloco não são impostas condicionantes especiais senão aquelas já previstas no Tratado fundador do bloco. Apesar da barganha em algumas questões, a adesão da Bolívia ao Mercosul possibilita a criação de maior comércio regional, complementaridade econômica e possibilidades de ganho de escala na economia dos países membros, aumento de mercado potencial, aprofundamento político e social entre os países e fortalecimento da democracia na região. Para o Mercosul, é de interesse a adesão da Bolívia como membro pleno, pelas seguintes justificativas: o país é um grande exportador de produtos primários, entre eles o gás natural, principal produto de sua pauta de exportações, tendo como principais parceiros comerciais deste insumo o Brasil e a Argentina, as duas maiores economias do Mercosul. O país também apresenta grandes oportunidades para investimentos que podem ser aprofundados via Mercosul. Além disso, a adesão da Bolívia no bloco abriria sua rota para o Oceano Atlântico. O México, desde 2004, é um país observador do Mercosul, ou seja, um país que não é membro, mas que poderá vir a sê-lo em breve, tanto como país associado, ou como Estado Parte. Em 2011 foram assinados acordos, intermediados pela Associação Latino-Americana de Integração – ALADI entre representantes do Mercosul e autoridades mexicanas, permitindo o livre comércio no setor automotivo entre ambas as partes, complementando o comércio já existente. Durante a Cúpula do Mercosul realizada no mês de julho de 2015, este acordo foi ampliado para outros setores, de serviços agrícolas, serviços e compras governamentais. 188 UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS 3 MERCOSUL - INTEGRAÇÃO FÍSICA E ENERGÉTICA Segundo Castro, Rosental e Gomes (2009), a América do Sul é uma região autossuficiente em insumos energéticos, detendo importantes reservas de petróleo, gás natural e recursos hídricos. A exploração de fontes alternativas de energia mostra-se promissora, pelo fato do continente sul-americano possuir larga faixa territorial situada entre os trópicos. A possibilidade de geração de biodiesel a partir da biomassa como fonte energética já é uma realidade no Brasil e no Paraguai. A integração energética tem assim um grande potencial em função de um fator concreto e objetivo: complementaridade de insumos energéticos entre os países da região. Esse fator já possibilitou a construção de linhas de transmissão, usinas hidrelétricas e gasodutos. O processo de negociação para adesão da Bolívia avançou lentamente, pois algumas questões permaneciam pendentes, como é o caso do pedido de tratamento preferencial feito pelo Presidente Evo Morales, sob o argumento de que o país está em desvantagem por não ter acesso ao mar (em 1879 a Bolívia perdeu para o Chile aproximadamente 400 km de costa), o que dificulta o escoamento de suas exportações. Em janeiro de 2013, em discurso para empresários da região de Santa Cruz, Morales disse que desejava que os países-membros do Mercosul concedessem à Bolívia “muitas preferências” em tarifas e exportações porque, em primeiro lugar, o país é “uma nação sem saída ao mar, por enquanto”. UNI TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL 189 Entre os países da América Latina, um Eixo de Integração Energética foi analisado, pois, no campo energético, a América Latina possui bioenergia, carvão, gás natural, hidroeletricidade e petróleo suficientes para as suas necessidades. Um plano regional de integração energética permitiria racionalizar vultosos investimentos e promover uma maior sinergia nos campos tecnológico, industrial e comercial. As experiências de integração em relação às fontes de energia em funcionamento no Mercosul são: a) Hidrelétrica de Itaipu entre Brasil e Paraguai, Rio Paraná. b) Hidrelétrica de Yacireta entre Argentina e Paraguai, também no rio Paraná. FIGURA 68 – INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA (GÁS NATURAL E ELETRICIDADE) FONTE: UDAETA, 2006. Tipo de Integração Argentina - Brasil Elétrica y Gasífera Argentina - Chile Elétrica y Gasífera Argentina - Uruguai Elétrica y Gasífera Argentina - Paraguai Elétrica Argentina -Bolívia Gasífera Brasil - Bolívia Gasífera Brasil - Paraguai Elétrica Brasil - Uruguai Elétrica y Gasífera Brasil - Venezuela Elétrica Perú - Equador Elétrica Venezuela - Colômbia Elétrica / Gasífera Colômbia - Equador Elétrica / Gasífera 190 UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS FIGURA 69 - PARAGUAI: LOCALIZAÇÃO DAS HIDRELÉTRICAS BINACIONAIS DE ITAIPU E YACIRETÁ, AMBAS NO RIO PARANÁ FONTE: Disponível em: <http://www.monografias.com/trabajos59/represa-itaipu/ represa-itaipu2.shtml>. Acesso em: 29 out. 2015. TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL 191 c) Hidrelétrica de Salto Grande entre Argentina e Uruguai; FONTE: Disponível em: <http://go.hrw.com/atlas/span_htm/uruguay.htm>. Acesso em: 29 out. 2015. FIGURA 70 – USINA BINACIONAL DE YACIRETÁ, ARGENTINA E PARAGUAI FONTE: Disponível em: <http://www.oni.escuelas.edu.ar/2002/corrientes/energia/yacyendatos. htm>. Acesso em: 29 out. 2015. FIGURA 71 - USINA HIDRELÉTRICA BINACIONAL SALTO GRANDE NO RIO URUGUAI - ARGENTINA E URUGUAI 192 UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS d) Gasoduto da Argentina com o Brasil, Chile e Uruguai; c) Gasoduto da Bolívia com Argentina, Brasil e Chile. FIGURA 72 - AMÉRICA LATINA INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA EM OPERAÇÃO E PROJETOS EM ESTUDO Revista Brasileira de Energia Vol. 12 | N o 2 Ponderação analítica para da integração energética na América do Sul 5 Fonte: ARPEL, 2004 Figura 2. Integração Energética Gasífera (Atual e Perspectiva) Um dos grandes desafios do Mercosul é a extensão a outros países da região, assim como sua relação com o resto do mundo. Até o momento, foram firmados Acordos de Complementação Econômica com a Bolívia (1995) e com o Chile (1996), e um Acordo de Cooperação com a União Européia (1995). Ademais, têmse realizado negociações hemisféricas para a criação da Associação de Livre Comércio das Américas (ALCA). Más recentemente e com a incorporação como membro associado ao Mercosul do Peru (2003), em 2004 todos os paises da CAN tem esta mesma condição no Mercosul. 2.2 Integração Energética na Região da CAN O mapa energético dos países participantes da CAN (Comunidade Andina de Nações), Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia, apresenta três mercados com oportunidades de integração: petroleiro, gasífero e elétrico. No mercado petroleiro, Venezuela, Colômbia e Equador são fonte de abastecimento a alguns países da região, como é o caso do Chile, Peru e Brasil. Estes últimos países, não obstante com recursos próprios, demonstram necessidades além do petróleo que consomem endogenamente. No caso do gás, Venezuela e Bolívia têm recursos que excedem, em muito, as demandas locais e ainda a demanda regional. Porém, existem expectativas de desenvolvimento de integração, particularmente no caso de Bolívia e Peru, a respeito da zona norte do Chile (ver figura 2). Nos hidrocarbonetos, além da integração física, a Petrobras (Brasil) e a PDVSA (Venezuela)determinam também uma integração corporativa, fortalecendo uma visão da região como bloco econômico. FONTE: UDAETA, 2006. 3.1 INTEGRAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO Marcovitch (1991), na introdução de seu texto sobre integração energética na América Latina, escreveu que na América Latina as democracias emergentes se debatem nos seus problemas internos. Já observava em 1991 que o intercâmbio comercial era reduzido e desequilibrado. Observou que a maioria dos países convive com seus impasses econômicos e sociais internos, onde problemas sociopolítico-econômicos, denominados por ele de cancros malignos (narcóticos, violência urbana, guerrilha etc.), seriam de difícil extração ou resolução. Alertava para a necessidade de uma nova postura estratégica regional, e para a importância de se incluir no planejamento energético a realidade geográfica. Critica a ideia de TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL 193 se transportar energia elétrica por 3.000 km de distância, da Amazônia para o Centro-Sul do Brasil, antes de exaurir as alternativas, mais econômicas, de países vizinhos. Uma utopia nacional de autossuficiência energética (ultrapassada) continua prevalecendo. Diante desta realidade, questionava (em 1991): Qual a viabilidade da integração energética contribuir para aliviar a crise energética? Como ela pode irrigar o comércio regional e contribuir para a constituição de um novo polo geoeconômico? Ao tentar responder, Marcovitch explica que temas como iluminação, calor, força motriz, transporte são temas centrais a serem abordados, convergindo para a necessidade de uma estratégia global. Um planejamento que depende de: (a) redescobrir a realidade das tarifas; (b) recuperar o profissionalismo nas concessionárias; (c) escolher prioridades viáveis e econômicas. Enfim, um planejamento difícil e complexo, no entanto necessário, em especial para as gerações do futuro. Castro, Rosental e Gomes (2009) explicam que esta integração foi acompanhada de alguns entraves, cujos contratempos (poucos) foram contornados politicamente ao longo do tempo. O aumento por demandas por eletricidade poderia levar à estruturação de um polo energético, envolvendo Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. As matrizes energéticas do Brasil e do Uruguai são predominantemente hidráulicas e complementares às da Argentina (56% térmicas). O Paraguai, por ser um pequeno consumidor, é um exportador de energia, assim como a Bolívia, cuja maior contribuição é no suprimento de gás natural, mas tem também potencial hidrelétrico inventariado em mais de 30 GW. Uma efetiva integração do setor elétrico na região tende a contribuir significativamente para dinamizar o crescimento econômico e reduzir disparidades regionais. Investimentos públicos e privados, bem como construção de instituições e marcos regulatórios uniformes e claros, são fundamentais na consolidação deste processo. (CASTRO; ROSENTAL; GOMES, 2009). O exemplo do Paraguai é o mais paradoxal, por ter excedente de eletricidade, proveniente de duas hidrelétricas binacionais e uma nacional (Acaray), a ponto de exportá-la. O que ocorre para que haja este excedente é simplesmente uma falta de infraestrutura para um aproveitamento integral desta energia. No entanto, quando o assunto é combustível, em especial, diesel, necessita importar, uma vez que 70% da frota de veículos de carga e de uso pessoal são movidos por derivados de combustíveis fósseis importados. O desencontro na matriz energética, entre o que se produz e o que se consome, a falta de infraestrutura para utilizar a eletricidade que se produz, esbarram na falta de vontade política de governos passados para desenvolver fontes de energias alternativas localmente. Parte dos derivados de combustíveis fósseis importados poderia ser substituída por agrocombustíveis, os quais já existem no Paraguai, de excelente qualidade, produzidos em reduzida quantidade por falta de incentivos e/ou subsídios. 194 UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS Nos últimos anos, Argentina, Brasil e Chile enfrentaram crises energéticas de diversos portes. “O cenário para América do Sul e Caribe no ano de 2015 de consumo líquido de eletricidade será de 1.353 GWh contra 772 GWh consumidos em 2003. Isso representará um crescimento no período de 75%” (CASTRO; ROSENTAL; GOMES, 2009, p. 11). Esperavam-se políticas de investimento que estimulassem a ampliação da capacidade instalada e o desenvolvimento no setor elétrico integrado, o que ocorreu apenas em parte, devido: Os principais problemas da falta de um maior desenvolvimento da integração energética não foram a carência de recursos ou de redes, mas sim a dificuldade de articular regras e políticas congruentes com o estímulo ao investimento e à interdependência energética da sub-região. As tentativas de criação de regras supranacionais ou acordos multilaterais com harmonização regulatória não foram bem- sucedidas. As experiências mais bem-sucedidas foram aquelas que se deram em âmbito bilateral, oriundas de empreendimentos com forte participação dos Estados Nacionais, e relacionadas mais diretamente a empreendimentos nas fronteiras (Itaipu) e linhas de transmissão. (CASTRO; ROSENTAL; GOMES, 2009). Neste sentido, para discutir e articular a integração dos mercados de energia, foi realizado no mês de setembro de 2015, no Rio de Janeiro, seminário sobre o tema, coordenado pelo Comitê Brasileiro da Comissão de Integração Energética Regional – Bracier. Os consumidores finais também poderão ser beneficiados com a interconexão das redes de eletricidade de diferentes países, decorrente da concorrência no mercado, na área de geração de energia. Outros benefícios seriam o adiamento de investimentos de geração (a partir do aproveitamento máximo da energia gerada em diferentes países), diversificação da matriz energética dos países, além de maior segurança energética. (GANDRA, 2015). Na América Central já existem projetos de interconexão energética, onde Costa Rica, Honduras, Nicarágua, El Salvador e a Guatemala possuem um sistema integrado. A reduzida extensão territorial, inexistência de rios extensos e volumosos são fatores que facilitaram a integração. Na América Andina, o sistema ainda não está tão evoluído, mas já existem vários projetos em implementação, unindo Colômbia, Bolívia, Equador, Peru e a Venezuela. Um estudo de 2010, a ser atualizado, mostra que a gestão integrada de energia poderá gerar uma economia de aproximadamente US$ 1 bilhão em tarifas de energia. O levantamento se baseia em 12 planos de viabilidade de projetos de integração. Um deles vai começar a operar este ano (2015) e se refere à interligação de grande porte entre o Brasil, representado pela Eletrobrás, e a Administración Nacional de Usinas e Transmisiones Eléctricas do Uruguai, com capacidade de transferência de potência nos dois sentidos, de 500 megawatts (MW). (GANDRA, 2015). TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL 195 3.2 A POSIÇÃO DO PARAGUAI DIANTE DA HEGEMONIA BRASILEIRA Muitas atividades econômicas no Paraguai contam com grande participação de empresas brasileiras, como a distribuição de combustíveis, bancos, frigoríficos e transporte aéreo. Além disso, calcula-se que 500 mil “brasiguaios” vivam no Paraguai, o que corresponde a quase 10% da população total do país. Entre eles, os que são proprietários de terras respondem por mais de 80% da safra nacional de soja do país. Esses e outros fatores, como cidades paraguaias com maioria de habitantes brasileiros, são vistos por uma parcela da população paraguaia como sinal de influência exagerada do Brasil em seu país. No campo, a presença de fazendeiros brasileiros produtores de soja tem gerado mobilizações sociais, como a dos trabalhadores sem-terra paraguaios, os campesinos. Segundo eles, a posse brasileira de grandes extensões de terras vem causando destruição ambiental e provocando a expulsão