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Indaial – 2022 Latina Prof.ª Raqueline da Silva Santos 2a Edição GeoGrafia da américa Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2022 Elaboração: Prof.ª Raqueline da Silva Santos Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI S237g Santos, Raqueline da Silva Geografia da América Latina. / Raqueline da Silva Santos – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 220 p.; il. ISBN 978-65-5663-752-5 ISBN Digital 978-85-515-0558-8 1. Território latino-americano. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 900 Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Geografia da América Latina! O presente livro tem como objetivo principal compreender a forma de ocupação do território latino-americano, destacando aspectos sociais, econômicos, políticos e ambientais dos países que compõem o território da América Latina. Sabemos que o mundo é regionalizado a partir de divisões territoriais e dentre essas divisões temos os continentes que são conhecidos como Europa, Ásia, África, Oceania, Antártida e América. No contexto da América, sua regionalização está dividida em América do Norte, América Central e América do Sul. Mas, então, onde se encaixa a América Latina? A divisão da América perpassa outro tipo de regionalização por características culturais, históricas e econômicas. Neste sentido, também, podemos considerar o continente americano a partir de duas regionalizações: a América Anglo Saxônica, que é constituída dos Estados Unidos e do Canadá e a América Latina que se constitui dos países da América Central, da América do Sul e do México. Essa regionalização possui uma divisão que leva em consideração aspectos comuns entre os países membros, merece destaque a língua que derivou do latim, como o português, francês e espanhol. No que se refere à formação territorial dos países da América Latina, estes possuem um passado baseado na colonização o que marcou a exploração da riqueza naturais de seus territórios. Neste sentido, somos americanos que habitamos – para alguns parafraseando Eduardo Galeano em seu livro “As veias abertas da América Latina” – “uma sub-América, uma América de segunda classe, de nebulosa identidade” (GALEANO, 2011, p. 18). Portanto, para compreendermos a América Latina convidamos você a viajar conosco neste livro, que nos possibilitará, em três unidades, identificar a continuidade do processo histórico da América Latina, assim como ter domínio dos conceitos básicos de sua Geografia. Compreendendo a história, nos tornamos capazes de entender a sociedade em que vivemos e os fatores determinantes da conjuntura atual, neste caso, da conjuntura dos países que constituem a América Latina. Na Unidade 1, abordaremos a formação histórica, a regionalização, aspectos físicos, populacionais e econômicos da América Latina. Essa unidade tem como objetivo fazer você apreender um pouco da colonização da América Latina e sua formação histórica e socioespacial. O acadêmico de geografia precisa conhecer, além dos aspectos físicos, os componentes históricos que constituem um fator fundamental para a construção socioespacial dos territórios latino-americanos, assim como a criação das identidades APRESENTAÇÃO sociais. Pretendemos com isso, proporcionar a você, acadêmico, uma visão ampla das diversas formas de regionalização da América, tais como: regionalização por critérios físicos e regionalização por critérios socioeconômicos. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos as relações internacionais na América Latina: teorias econômicas, migrações e a economia dos países latino-americanos. Esta unidade é rica em informações sobre blocos econômicos, teorias econômicas e as relações dos países latino-americanos na economia mundial. Nesta unidade, outro ponto fundamental do nosso estudo são as migrações, as quais englobam temas como: mercado econômico mundial, globalização, divisão internacional do trabalho, políticas externas, os efeitos dos fluxos demográficos nesta macrorregião e, consequentemente, as crises que provocam esses deslocamentos populacionais cada vez mais acentuados com a expansão da era das redes, da economia e da globalização. Por fim, na Unidade 3, estudaremos o papel do Brasil nas relações internacionais da América Latina, destacando os conflitos fronteiriços, as cooperações econômicas entre os países da América Latina e a integração destes para lidar no contexto da economia mundial. Essa unidade é fundamental para entendermos quais são as relações do Brasil na economia mundo, mas, principalmente, sua relação com os países latino-americanos, uma vez que o Brasil é um país muito importante para a economia desta macrorregião. No que tange às questões políticas, esta unidade abordará a ascensão e derrocada dos governos militares e a formação dos movimentos sociais da América Latina. Em cada unidade, você encontrará atividades, resumos e leituras complemen- tares. Esses complementos são fundamentais para que possa analisar, refletir e com- preender a geografia da América Latina, desenvolvendo um senso crítico a partir das leituras, dos exercícios e das pesquisas que você pode fazer para ampliar seu estudo sobre a temática em questão. Pretendemos com este livro proporcionar a você, acadêmico, uma leitura ampla sobre a América Latina, e esperamos que aproveite seus estudos e tenha possibilidade de disseminar o conhecimento através da Geografia. Bom estudo! Prof.ª Raqueline da Silva Santos Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. 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O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - AMÉRICA LATINA: FORMAÇÃO HISTÓRICA, REGIONALIZAÇÃO, ASPECTOS FÍSICOS, POPULACIONAIS E ECONÔMICOS ............................... 1 TÓPICO 1 - FORMAÇÃO HISTÓRICA DA AMÉRICA LATINA ..................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA ..........................................................................................4 2.1 FORMAÇÃO HISTÓRICA E SOCIOESPACIAL ................................................................................... 6 2.1.1 América Pré-Colombiana ............................................................................................................7 2.2 CONQUISTAS E COLONIZAÇÕES ..................................................................................................... 10 2.3 SISTEMA COLONIAL: COLONIZAÇÃO E POVOAMENTO NA AMÉRICA LATINA .................... 11 3 INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA LATINA .......................................................................... 13 3.1 FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS .......... 15 3.1.1 A construção das identidades latino-americanas: cultura e sociedade ..................... 18 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 20 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 - REGIONALIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA ....................................................... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 25 2 REGIONALIZAÇÃO ...........................................................................................................27 2.1 REGIONALIZAÇÃO POR CRITÉRIOS FÍSICOS ..............................................................................28 2.1.1 Regionalização por critérios socioeconômicos .................................................................30 2.2 ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA AMÉRICA LATINA ......................................................................31 2.3 PAÍSES QUE COMPÕEM A AMÉRICA LATINA ...............................................................................35 3 ASPECTOS NATURAIS: CLIMA, RELEVO E VEGETAÇÃO ............................................... 42 3.1 ASPECTOS POPULACIONAIS NA AMÉRICA LATINA ...................................................................43 3.1.1 Identidade cultural dos povos da América Latina ............................................................45 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 48 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 49 TÓPICO 3 - CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS ............................. 51 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 51 2 ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS ................ 52 2.1 INDUSTRIALIZAÇÃO ..........................................................................................................................53 2.1.1 Agricultura ..................................................................................................................................55 2.2 AMÉRICA LATINA: PERIFERIA DA ECONOMIA MUNDIAL .........................................................56 2.3 DESIGUALDADES SOCIAIS .............................................................................................................58 3 PANORAMA DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NA AMÉRICA LATINA ........................... 60 3.1 OS DESAFIOS DA FORÇA DE TRABALHO NA AMÉRICA LATINA .............................................62 3.1.1 Blocos econômicos da América Latina.................................................................................63 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 68 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................72 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................73 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................75 UNIDADE 2 — RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA: TEORIAS ECONÔMICAS, MIGRAÇÕES E A ECONOMIA DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS ..................................................................................................81 TÓPICO 1 — TEORIAS ECONÔMICAS NA AMÉRICA LATINA .............................................. 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 83 2 COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE (CEPAL): O PENSAMENTO CEPALINO ............................................................................................ 84 2.1 A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO .................................................................................................86 2.1.1 A TEORIA DA DEPENDÊNCIA ................................................................................................. 88 2.2 RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA ......................................................................................................90 2.3 RELAÇÕES ENTRE AMÉRICA LATINA E ESTADOS UNIDOS ......................................................92 3 RELAÇÕES ENTRE AMÉRICA LATINA E EUROPA ........................................................... 93 3.1 AMÉRICA LATINA E SUAS RELAÇÕES COM A ÁFRICA E A ÁSIA .............................................96 3.1.1 Políticas econômicas externas ............................................................................................... 97 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................99 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................100 TÓPICO 2 - MIGRAÇÕES ....................................................................................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................103 2 GLOBALIZAÇÃO E MIGRAÇÃO INTERNACIONAL ....................................................... 104 2.1 MIGRAÇÕES NA AMÉRICA LATINA .................................................................................................106 2.2 FLUXOS MIGRATÓRIOS NA AMÉRICA DO SUL ..........................................................................108 2.3 FLUXOS MIGRATÓRIOS DO MÉXICO PARA OSESTADOS UNIDOS ........................................109 3 EFEITOS DEMOGRÁFICOS, ECONÔMICOS, POLÍTICOS E SOCIAIS DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS .................................................................................................. 110 3.1 CRISES MIGRATÓRIAS NA AMÉRICA LATINA ..............................................................................112 3.1.1 Xenofobia ...................................................................................................................................113 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 114 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 115 TÓPICO 3 - ECONOMIA DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS ...........................................117 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................117 2 PRINCIPAIS ECONOMIAS DA AMÉRICA LATINA ........................................................... 118 2.1 MÉXICO ...............................................................................................................................................120 2.1.1 Relações econômicas do México com a América Anglo-Saxônica ............................. 122 2.2 AMÉRICA CENTRAL ......................................................................................................................... 124 2.3 AMÉRICA CENTRAL: ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO ........................................................ 126 3 AMÉRICA DO SUL ........................................................................................................... 127 3.1 GOVERNOS MILITARES NA AMÉRICA LATINA: BRASIL; ARGENTINA E VENEZUELA .............. 129 3.1.1 Mercado Comum do Sul (Mercosul): criação, características e países membros .......... 133 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................135 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 140 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................142 UNIDADE 3 — O BRASIL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA: DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO, INTEGRAÇÃO E LIDERANÇA REGIONAIS .............................................................................149 TÓPICO 1 — FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL E SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS .....151 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 151 2 O BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL ............................................................................... 151 2.1 BRASIL NA AMÉRICA LATINA E NA AMÉRICA DO SUL ............................................................. 154 2.1.1 As relações fronteiriças do Brasil ........................................................................................ 157 3 AS POLÍTICAS EXTERNAS BRASILEIRAS .....................................................................160 3.1 DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS POLÍTICAS ......................161 4 CONFLITOS COLONIAIS .................................................................................................162 4.1 A QUESTÃO CISPLATINA NO PERÍODO IMPERIAL BRASILEIRO ............................................ 165 4.1.1 A era do Rio Branco (1902-1912) ........................................................................................... 166 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................168 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................169 TÓPICO 2 - DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO: RELAÇÕES ENTRE BRASIL E ARGENTINA .....................................................171 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................171 2 AS RELAÇÕES REGIONAIS NA BACIA DO PRATA NO DECORRER DA HISTÓRIA ........ 172 2.1 BRASIL E ARGENTINA: DESCONFIANÇA E APROXIMAÇÃO ..................................................... 173 2.1.1 Brasil e Argentina: conflitos geopolíticos ........................................................................... 175 2.2 RELAÇÕES BILATERAIS: INSERÇÃO DO BRASIL E DA ARGENTINA NA ECONOMIA MUNDO ........176 2.3 GOVERNOS MILITARES: BRASIL E ARGENTINA .........................................................................180 3 DERROCADA DOS GOVERNOS MILITARES ...................................................................183 3.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA ...........................................................................184 3.1.1 A contribuição dos movimentos sociais para o retorno à democracia na América Latina ...................................................................................................................186 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................188 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................189 TÓPICO 3 - BLOCOS ECONÔMICOS: INTEGRAÇÃO E LIDERANÇAS REGIONAIS DA AMÉRICA LATINA ...................................................................................... 191 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 191 2 ORIGEM DOS BLOCOS ECONÔMICOS ............................................................................192 2.1 TIPOS DE BLOCOS ECONÔMICOS ................................................................................................ 193 2.1.1 Principais blocos econômicos da América Latina: vantagens e desvantagens ...... 195 2.2 DO PACTO ANDINO À COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES – CAN ....................................... 196 2.3 DA ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE LIVRE COMÉRCIO (ALALC) À ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE INTEGRAÇÃO (ALADI) ............................................. 197 3 UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS – UNASUL ....................................................199 3.1 INICIATIVA PARA A INTEGRAÇÃO DA INFRAESTRUTURA REGIONAL SUL-AMERICANA (IIRSA); ALIANÇA BOLIVARIANA PARA AS AMÉRICAS (ALBA); ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO (ALCA) ............................................................................................................................200 3.1.1 A Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (CELAC) ....................... 204 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 205 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 211 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................212 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................215 1 UNIDADE 1 - AMÉRICA LATINA: FORMAÇÃO HISTÓRICA, REGIONALIZAÇÃO, ASPECTOS FÍSICOS, POPULACIONAIS E ECONÔMICOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • distinguir o processo de regionalização da América Latina; • conhecer os aspectos da formação histórica e geográfica da América Latina; • relacionar os aspectos da formação histórica com ascondições econômicas, sociais, políticas e ambientais dos dias atuais; • discutir as transformações decorrentes do processo de formação territorial da América Latina. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DA AMÉRICA LATINA TÓPICO 2 – REGIONALIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA TÓPICO 3 – CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 FORMAÇÃO HISTÓRICA DA AMÉRICA LATINA 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 1, nós abordaremos a formação espacial da América Latina, em seus aspectos históricos, físicos, populacionais e econômicos. O estudo da América Latina requer uma análise de fatores externos, pois a colonização dos diversos países que compõem essa macrorregião tem em comum a colonização, a dizimação dos povos indígenas, a exploração de recursos naturais através do uso de mão de obra escrava e a espacialização dos interesses dos países europeus sobre o território latino-americano. Este tópico abrange uma leitura histórico-geográfica que revela como a colonização modificou as crenças, os valores culturais dos povos indígenas através da violência, da imposição e da destruição provocada pelos europeus no mundo dos colonizados (MAIA; FARIAS, 2020). Os aspectos físicos, sociais, econômicos, políticos que propomos neste estudo tem como base essa colonização impositiva, que considerou a América Latina como território inferior. A expansão da lógica colonizadora sobre a América Latina criou identidades sociais distintas, remodelando as existentes e criando novas identidades sob o vínculo de submissão colonial. Com isso a América Latina foi se constituindo na raiz da dependência, pois esteve submetida aos interesses externos e serviu como base de exploração para o enriquecimento dos países europeus. Neste sentido, trabalharemos com a ideia de desconstruir essa visão de subde- senvolvimento que fora imposta historicamente, ou seja, está incluso nesse debate a ideia de que os países colonizadores são mais desenvolvidos, tem uma condição mais elevada. Nesta relação de desenvolvimento versus subdesenvolvimento é importante construirmos uma leitura crítica que faremos neste Tópico 1, sobre a premissa de que o “descobrimento”, da América Latina, ou as condições de subdesenvolvimento presentes nesse território “nada mais foi que uma invenção forjada pela história colonial europeia e consolidada pela expansão das ideias e instituições ocidentais” (MAIA; FARIAS, 2020, p. 582). TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 Para aprofundar seus estudos sobre a temática apresentada na introdução, recomendamos para leitura o livro de Eduardo Galeano As veias abertas da América Latina. Segue um trecho do livro que retrata a condição de exploração da América desde o período colonial até os dias atuais. “É a América Latina, a região das veias abertas. Do descobrimento até nossos dias, tudo sempre se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal se acumulou e se acumula nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. O modo de produção a estrutura de classes de cada lugar foram sucessivamente determinados, do exterior, por sua incorporação à engrenagem universal do capitalismo” (GALEANO, 2011, p. 18). DICA 2 A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA Desde o início do tópico falamos sobre a colonização da América. Você já saberia dizer o que é colonização? O termo colonização é usado para designar a ocupação do território. Neste sentido, a colonização da América é um dos principais elementos para compreender as condições da pobreza e do subdesenvolvimento presente nos países americanos. A colonização pode ser considerada como de exploração ou de povoamento. Na América Latina, a colonização esteve centrada na exploração, ou seja, extrair ao máximo as riquezas das colônias para abastecer os países colonizadores, as metrópoles. Já a exploração de povoamento esteve centrada nos países da América Anglo-Saxônica (Estados Unidos e Canadá), cujo objetivo estava em desenvolver as condições internas. Essas diferenças entre os processos de colonização ditaram os rumos do desenvolvimento dos países colonizados. Os países que constituem a América Latina são: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Esses países estão organizados em grandes conjuntos regionais: o México, América Central (que se divide em América Continental, que compreende uma faixa de terras emersas entre a América do Norte e a América do Sul e o Caribe, que é a parte insular. As Guianas, América Andina, América Platina e o Brasil, todos têm em comum o processo de colonização. Ou como bem coloca Eduardo Galeano (2011, p. 55), são as “regiões que foram as maiores produtoras de bens exportados para a Europa ou, posteriormente para os Estados Unidos, e as mais caudalosas fontes de lucro”. 5 As condições de desenvolvimento socioeconômico da Europa no século XV fizeram com que os exploradores fossem em busca de outros territórios para explorar. Neste sentido, a América torna-se interessante para a Europa em virtude deste continente estar em busca de aumentar sua produtividade através da exploração de metais preciosos e da produtividade agrícola. Foi por volta dos séculos XV e XVI que a expansão europeia foi provocando profundas mudanças nos territórios de colonização. Modificaram a vida das populações indígenas e a vida da população africana, os quais foram forçados para saírem de seus territórios e tornaram-se mercadoria (ver GIO NOTA) para a força de trabalho no processo de colonização. A chegada dos europeus modificou não só as formas de vida dos povos indígenas e negros africanos, como modificou as relações econômicas, dando início a novas formas de produção e circulação das mercadorias. Esse processo de colonização coloca a América na relação econômica mundial, mais especificamente na exportação de seus produtos para os países europeus. Essa nova dinâmica das relações econômicas entre metrópoles (países europeus) e colônias permite o estabelecimento do controle político e econômico através do “colonialismo, relação estruturada em torno de [...] um novo padrão de poder” (GONÇALVES; QUENTAL, 2012, p. 6). A colonização estimulou de forma violenta o “extermínio de populações inteiras” por meio da “escravidão, da servidão e da (des)possessão de terras” (GONÇALVES; QUENTAL, 2012, p. 7). A forma de violência inserida na América Latina pelos colonizadores não esteve voltada apenas na dizimação das populações, mas esteve presente também na “exploração das riquezas naturais”. Essa condição histórica de exploração, dizimação e expropriação das terras instituiu a “América [...] no sistema-mundo", tornando os países europeus o centro do poder hegemônico do período colonial (QUENTAL, 2021, p. 58). A colonização destruiu a identidade dos povos indígenas e negros africanos, seja por meio da escravidão ou por meio da cristianização. Entre os séculos XVI e XVII houve uma queda brusca da população indígena, as epidemias, a escravidão e o extermínio dos povos nativos resultaram nas principais causas da destruição do modo de vida dos povos indígenas. Quanto ao negro africano, sua destruição se dá desde a desterritorialização forçada de seus países, sendo escravizados e explorados como força de trabalho aos colonizadores. A relação colonial da América deixa marcas profundas na formação histórica dos países e na formação socioespacial,condições que veremos no próximo subtópico. Vamos estudar mais um pouco? 6 A mercadoria pode ser concebida como um objeto que tem valor de uso – utilidade de uma coisa – e valor de troca, ou seja, valor quantitativo, proporção que as mercadorias se trocam, por exemplo, trocar uma pessoa escravizada por outro produto. Neste sentido, a pessoa escravizada torna- se mercadoria por ter valor de uso, ou seja, é útil como força de trabalho e alguém pagou por ele em um valor de troca (MARX, 2017). NOTA 2.1 FORMAÇÃO HISTÓRICA E SOCIOESPACIAL Neste subtópico, nós daremos continuidade aos estudos sobre o contexto histórico da América Latina. A partir daqui estudaremos a América Pré-Colombiana, ou seja, o período histórico antes da chegada de Cristóvão Colombo, ou dos europeus sobre o território americano. Discutindo as conquistas e o sistema de colonização que fora implantando nos países. Posteriormente, terminamos este subtópico com uma abordagem sobre a independência da América Latina, como se deu a formação dos Estados Nacionais na América Latina e nos Estados Unidos e por fim, a construção da identidade dos povos latino-americanos. A formação histórica e socioespacial está relacionada ao processo de constituição dos países latino-americanos e da formação desses espaços, enquanto território que se organiza em diversos países e regiões. Para definirmos a formação espacial e social tomemos como base a definição de Ruy Moreira, que destaca a formação espacial como um combinado de ciclos espaciais de acumulação e circuitos de reprodução a infraestrutura dos arranjos territoriais que a relação societária e de sociabilidade cria para criar a formação social e por meio desta criar-se a si mesmo. Já a formação social é a estrutura mais ampla que tem nessas áreas da divisão da produção e do trabalho, as áreas de forças e relações de produção e formação espacial, o elenco localizado e territorialmente distribuído da arquitetura que dela faz um articulado de modos de produção (MOREIRA, 2020, p. 399). Esses ciclos de acumulação estão relacionados aos processos de produção e exploração das colônias europeias. Essa exploração foi vista na extração de minerais, como o ouro e a prata, a produção da monocultura canavieira, a produção do gado, a produção algodoeira, a exploração das florestas etc. A extração de matérias-primas e a produção das mercadorias definiram os ciclos da economia na América Latina. Até aqui entendemos que a colonização da América é a história contada do ponto de vista dos Europeus, de como esses povos expandiram a região. Mas, é importante saber que, antes da chegada dos Europeus, existia outra América. Essa outra América, denominada pré-colombiana, tinha diferentes povos que habitavam seu território. 7 De acordo com pesquisas arqueológicas, já havia civilizações organizadas na América antes da chegada dos europeus, e os povos que ainda habitavam o território americano tais como os incas, astecas, maias são os que mais temos conhecimento sobre suas organizações e culturas. A seguir, nós vamos estudar a América pré-colombiana, antes disso, observe o UNI e confira a dica de estudo. Se você gosta de ler, recomendamos o autor Ciro Flamorion Cardoso. Ele foi um importante historiador brasileiro que se debruçou sobre temas diversos, mas principalmente sobre a História da América. Alguns textos dele podem ser encontrados no endereço: https:// marxismo21.org/ciro-flamarion-cardoso-1942-2013/, ou nas referências: • A Afro-América: a escravidão no novo mundo. Editora Brasiliense, SP, 1982. • América pré-colombiana. Editora Brasiliense, SP, 4. ed. 1981. • História econômica da América Latina. Rio de Janeiro. Editora Graal, 1983. • Escravo ou camponês? O protocampesinato negro nas Américas. Editora Brasiliense, SP, 1987. Esperamos que as dicas sejam importantes para o aprofundamento de seus estudos. E não esqueça, a curiosidade nos permite avançar no conhecimento. DICAS 2.1.1 América Pré-Colombiana Você deve se questionar? Qual é a origem dos povos americanos? De onde vieram os povos Incas, Maias e Astecas? Será que a origem dos povos mencionados é conhecida? Como sabemos que de fato eles existiam antes da colonização europeia? Muitas respostas já foram construídas para nossos questionamentos, e uma delas podem ser encontradas na arqueologia, ciência que estuda povos antigos através da coleta e escavação, identificando costumes e culturas desses povos. Além da arqueologia temos o estudo da etno-história. Para Cardoso (1981, p. 11) “esse estudo torna-se essencial para reconstruir a leitura das “estruturas econômicas, sociais, políticas, intelectuais dos diversos grupos indígenas tratando de América Pré-Colombiana”. A teoria mais aceita sobre o povoamento dos primeiros povos da América é a travessia realizada pelo Estreito de Bering, canal de 85 km que separa duas massas continentais, Ásia e América do Norte e dois oceanos, Pacífico e Ártico, conforme a Figura 1. 8 FIGURA 1 – ESTREITO DE BERING FONTE: <https://bit.ly/34wCDJH>. Acesso em: 17 ago. 2021. Para muitos estudiosos esse estreito foi o local que permitiu a migração dos primeiros povos para a América. As hipóteses sobre o povoamento da América é de que “o estreito estaria congelado durante uma glaciação, o que permitiu a sua travessia” (PENA, 2021, s.p.). Além da tese mais aceita sobre o povoamento da América, a tese de origem dos povos asiáticos e seu deslocamento pelo estreito de Bering, podemos contar com outras, a do autoctonismo e a da origem polinésia, como podemos ver na citação de Ferreira e Fernandes (2010, p. 131) sobre as três teorias que embasam os primeiros indícios de povoamento na América. Quem primeiro apresentou a hipótese do autoctonismo foi o Argentino Florentino Ameghino, no início do século XX: para ele, antes mesmo de o homem surgir em outros continentes, já existiam hominídeos na Patagônia. Essa hipótese não tem sustentação científica, e ligava-se ao movimento nacionalista argentino. A hipótese da origem polinésia foi apresentada pelo francês Paul Rivet, que sustentava que alguns homens teriam atravessado o oceano Pacífico, em canoas rudimentares. Mas as pesquisas mais recentes construíram uma hipótese mais aceita: a da origem asiática. De acordo com essa hipótese, grupos humanos, em sucessivas levas, saíram da Mongólia, na Ásia, e emigraram, entre 14 e 12 mil anos atrás, para a América, aproveitando-se dos períodos de glaciação, que transformaram o estreito de Bering num istmo que podia ser transposto a pé. Alguns especialistas propõem, também, a combinação de origens polinésia e asiática. A tese sobre o povoamento da América foi construída sobre uma visão eurocêntrica, ou seja, uma leitura a partir da perspectiva dos europeus. É preciso pensar a nossa história a partir de nossa própria leitura, uma vez que, cada povo, cada cultura explica a realidade de acordo com sua visão de mundo. Por isso, a visão da Europa sobre a América deve ser contestada. 9 Todavia, para nossos estudos delimitamos essa leitura sobre a caracterização de alguns povos que construíram a história da América antes dos europeus, os Incas, os Maias e os Astecas. Essas civilizações tinham diversos modos de organização, política, cultural, religiosa, social e econômica. Para alguns estudiosos a melhor forma de estudar essas civilizações pode ser agrupada em Mesoamérica, engloba os Maias e os Astecas, atual região do México e da América Central e a Região Andina, engloba os Incas, consideramos a região atual do Equador, Peru, Bolívia, norte do Chile e oeste da Argentina (BRAICK; MOTA, 2016). A civilização Maia se desenvolveu entre os séculos III e X. A história deste povo esteve ligada ao território atual do México e em algumas regiões da América Central. Sua organização territorial estava dividida em “Cidades-Estados independentes, entre as quais se destacavam Palenque, Tikal, Chichén-Itzá e Copán”. A sociedade estava dividida em dois grupos:a população comum os setores privilegiados. A primeira divisão era composta por agricultores e a segunda por governantes, sacerdotes e guerreiros (BRAICK; MOTA, 2016). Algumas características marcam a história da civilização Maia, como o desenvolvimento do calendário, os estudos de astronomia, matemática, arquitetura, pintura, um sistema de escrita, a organização das atividades agrícolas etc. Infelizmente, a civilização Maia declinou sua organização em função, não se sabe ao certo, de guerras civis entre as cidades maias e para alguns historiadores o abandono das cidades decorreu das mudanças climáticas, provocando a saída dos povos de regiões de estiagem para regiões produtoras. Outra civilização Pré-Colombiana que merece destaque é a Asteca, que também se formou em terras do atual México. Foi uma civilização que absorveu a cultura dos Maias e de civilizações anteriores. Antes da colonização, com a chegada dos espanhóis no século XVI, os Astecas eram detentores de um grande Império que tinha como capital a cidade de Tenochtitlán. Tenochtitlán, capital do Império Asteca, era o centro administrativo, onde se encontravam as grandes construções, como palácios, praças, templos religiosos, mercados e canais utilizados para a irrigação e a circulação de pequenas embarcações utilizadas para o transporte de pessoas e produtos (BRAICK; MOTA, 2016, p. 11). Essa estrutura do Império Asteca dividia a sociedade em estratos, nobreza (camada social privilegiada), seguida dos comerciantes e artesãos especializados. Tinham os camponeses e escravos e os prisioneiros de guerras. Na economia desenvolveram uma agricultura sofisticada, na qual produziam milho, feijão, abóbora e variados tipos de pimentas. Essa civilização foi destruída pelos colonizadores europeus, que tinham a política de conquista e extermínio. A civilização dos Incas constituiu-se a partir do século XII. Esse império foi considerado um mais extenso da América pré-colombiana. Com um governo monárquico e teocrático, o legislador era considerado descendente do Sol e adorado como um deus. Atualmente, os Incas são bastante conhecidos por sua contribuição na construção de cidades como Cuzco e Machu Picchu. Na economia, os Incas eram conhecidos pela agricultura, e cultivavam a terra de forma coletiva e também tinham noções importantes de astronomia e matemática. 10 Viu como temos história? Nossa formação espacial e territorial é importante para compreendermos os impactos decorrentes das conquistas e colonizações dos europeus, na dizimação dos povos e na mudança cultural, econômica, social e política da história dos povos nativos. 2.2 CONQUISTAS E COLONIZAÇÕES A conquista da América Latina por meio do processo de colonização estabeleceu a apropriação de novas terras e a instalação de um novo poder, vindo da metrópole colonizadora. Para Moraes (2005, p. 65) “a colonização envolve a criação de novas estruturas econômicas”, assim como, estruturas sociais, políticas e de exploração territorial. O domínio dos europeus sob as terras americanas, consolidou a conquista do território e a exploração dos recursos naturais, da mão de obra existente, da dizimação de povos, culturas e a criação de novas relações sob o território conquistado. Há uma diversidade no processo de colonização pois as condições naturais, sociais e a organização dos países diferenciavam bastante entre si. Como vimos, no item anterior, alguns países já tinham sociedades estabelecidas e formas de organização constituídas. Portanto, a conquista do território através da colonização permitiu aos colonizadores criar possibilidade de se manter nos territórios “descobertos”, ou melhor, invadidos por eles. A colônia precisava ser rentável, precisava produzir mercadorias, precisava dá um retorno ao empreendimento dos colonizadores, por isso a exploração de riquezas minerais, como o ouro, a prata e a produção da plantation foram fundamentais para o estabelecimento do projeto de conquista colonial promovido pelas metrópoles europeias (MORAES, 2005). Assim, a colonização estava estritamente relacionada com novas possibilidades de desenvolvimento da economia, da exploração da força de trabalho, da instituição da religiosidade dos colonizadores, da ocupação e do domínio territorial. Isso gerou um sistema de organização voltado para fora, ou seja, a organização do território latino- americano passa a ser constituído a partir da ótica da metrópole colonizadora. Dessa forma, nosso estudo está pautado na análise da colonização e do povoamento da América, da independência dos países latino-americanos, como estes constituíram a formação de seus Estados e a partir dessa dinâmica processual que podemos compreender como as identidades foram sendo criadas no contexto dos países latino-americanos. Neste sentido, convidamos você adentrar mais um pouco nos temas anteriormente mencionados para compreendermos melhor a perspectiva colonial e a desconstrução desta a partir da independência dos países latino-americanos. 11 2.3 SISTEMA COLONIAL: COLONIZAÇÃO E POVOAMENTO NA AMÉRICA LATINA Já abordamos a colonização. Já sabemos definir o que é a colonização. Sabemos que a formação do espaço latino-americano ocorreu por um processo de formação colonial. Mas, ainda não estudamos como ocorreu esse povoamento. Então, a partir deste subtópico nos debruçaremos sob essa parte tão importante na história e na geografia da América Latina, pois, o povoamento consolidou a formação do território, definiu limites territoriais, fronteiras, organizou o espaço de acordo com regiões, ou seja, os europeus estabeleceram uma nova geografia para o povoamento da América com o seu sistema de colonização. A América Latina foi colonizada predominantemente pelos espanhóis e portugueses. Mas, nas áreas das Antilhas da América Central e as Guianas no Norte da América do Sul, aparecem outros europeus no processo de colonização, tais como: os holandeses, os franceses e os ingleses. Essa colonização na América Latina predominou a partir da exploração. A região da América Latina foi colonizada predominantemente por espanhóis e portugueses. As exceções são algumas Antilhas da América Central e das Guianas no norte da América do Sul que foram colonizadas também por outros povos europeus, como por exemplo, ingleses, franceses e holandeses. Em todas, no entanto, predominou a colonização de exploração. Mas, o marco da colonização da América ocorre a partir de 1492 com o estabe- lecimento da primeira colônia, cujo responsável foi Cristóvão Colombo, o “descobridor” (na verdade poderíamos afirmar que foi o invasor, pois só poderia ser descobridor se não houvesse ninguém habitando o território que foi colonizador por ele). Essa ideia de descobrimento oculta a verdade e romantiza a história, pois fortalece a ideia de supe- rioridade eurocêntrica no processo histórico. Portanto, as palavras colonização e conquista estão carregadas de uma simbologia, e evidenciam os processos de invasão e violência cometida com os povos indígenas pelos europeus. Se questionarmos os povos indígenas sobre a visão que têm da conquista/colonização receberemos respostas como essa, extraída do texto de Pinsky, no livro: História da América através de textos: Nos caminhos jazem dardos quebrados; os cabelos estão espalha- dos. Destelhadas estão as casas, incandescentes estão seus muros. Vermes abundam por ruas e praças, e as paredes estão manchadas de miolos arrebentados. Vermelhas estão as águas, como se alguém as tivesse tingido, e se as bebíamos, eram água de salitre. Golpeá- vamos os muros de adobe em nossa ansiedade e nos restava por herança uma rede de buracos. Nos escudos esteve nosso resguardo, mas os escudos não detêm a desolação (PINSKY, 1989, p. 29-30). 12 Essa história intitulada um “canto triste” asteca mostra-nos a violência dos europeus sobre a América Latina, pois as consequências da colonização provocaram mudanças no rumo de vida dos povos indígenas. Rumo consolidadohá milhares de anos, que segundo o professor Moya, do departamento de História do Barnard College na Universidade de Columbia, no estado de Nova York, nos Estados Unidos, “os primeiros seres humanos a chegar às Américas vieram do nordeste da Ásia há cerca de 15.000 anos” (MOYA, 2018, p. 26). A América teve um povoamento tardio em relação aos outros continentes, como a Europa e a Ásia, por exemplo. Portanto, já podemos afirmar que os primeiros habitantes das Américas estiveram aqui muito antes da invasão realizada pelos europeus no século XV. A história do povoamento americano é fundamentada nos estudos arqueológicos. A arqueologia é uma ciência que nos possibilita conhecermos histórias que não foram escritas. Para isso, esta ciência se debruça sobre o estudo de escavações de fósseis, pinturas, monumentos e objetos antigos. Esses estudos permitem conhecer o nosso passado e nossa cultura através das marcas deixadas nos materiais encontrados. O debate em torno do povoamento da América parte de algumas teorias, como vimos sobre a teoria mais aceita do Estreito de Bering. Mas, voltando ao nosso tópico, o povoamento da América a partir do processo de colonização representou a organização do território através dos interesses das metrópoles colonizadoras. Ao se depararem com sociedades já estabelecidas os europeus não hesitaram com seu projeto colonizador, enfrentando essas sociedades, destruindo-as e provocando diversos conflitos, assim como, a resistência dos povos indígenas. Contudo, à medida que povoaram a região latino-americana foram impondo suas relações econômicas, políticas, religiosas e culturais. Isso provocou o deslocamento de população, a dizimação dos indígenas, assim como a chegada de outros povos para povoar os países latino-americanos. Na América, as colônias foram divididas em colônias de exploração e colônias de povoamento. A primeira tinha uma estrutura econômica centralizada, baseada na grande propriedade e na produção da monocultura e o uso da mão de obra através do trabalho escravo. As colônias de povoamento por sua vez, se caracterizavam pela pequena propriedade, com uma produção baseada na policultura e a força de trabalho na mão de obra familiar. Essas diferenças na formação do território americano distinguiram o processo de povoamento e o desenvolvimento desigual se estabeleceu entre os países da América Anglo-saxônica (Estados Unidos e Canadá) e os países da América Latina (englobando América Central, América do Sul e o México). O povoamento no período colonial centralizou-se a partir dos espanhóis e portugueses. Os fluxos migratórios dos europeus para o território latino-americano ocorreram em virtude da crise que a Europa vivenciou no século XV e XVI. Além dos fluxos migratórios europeus houve o recebimento das populações negras africanas que passaram por um processo de migração forçada. 13 Esse novo povoamento desencadeou a organização de novos espaços regionais, novos modos de produção e novas relações de trabalho. O povoamento diverso desencadeou adaptações de acordo com as regiões que estava inserido. As diversidades climáticas, edáficas e culturais são elementos que condicionaram um povoamento e um desenvolvimento desigual no território americano, com isso os europeus foram se fixando no território, criando políticas e estabelecendo suas relações de colonização e povoamento, destituindo os indígenas de sua realidade. Assista ao filme, 1492 – A conquista do paraíso. O filme teve lançamento em 8 de outubro de 1992, na Espanha, e está disponível na internet. Ele retrata a expedição de Colombo para a América, a relação dos europeus com os indígenas e a luta de Colombo para colonizar o território americano. DICA 3 INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA LATINA A independência das colônias americanas (Sul, Norte e Central) ocorreram entre os séculos XVIII e XIX. Os fatores que levaram à independência da América Latina são decorrentes de lutas e revoltas contra as metrópoles colonizadoras. Os principais fatores apontados pelos historiadores são: a Revolução Francesa, a Unificação da Alemanha e a Unificação da Inglaterra. A alta e excessiva cobrança de impostos pelas metrópoles às colônias e os ideais de liberdade marcaram a luta pela independência dos povos latino-americanos. A independência dos países latino-americanos não aconteceu de forma igualitária. O primeiro país a conseguir a independência foi o Haiti no ano de 1804. A colonização da região haitiana foi feita pelos espanhóis e posteriormente pelos franceses. É com base na influência dos ideais da Revolução Francesa, liberdade, igualdade e direito à propriedade, que o Haiti lutou por sua independência e tornou-se o primeiro Estado livre da América Latina. A experiência do Haiti merece atenção por ter sido uma luta comandada pelos negros, e naquele período grande parte dos negros eram escravos. Esse ato foi liderado pelo ex-escravo Toussaint-Louverture, que foi preso em 1802 e morto em 1803 na França. A luta não cessou e foi assumida por Jean-Jacques Dessalines, que declarou a independência do país em 1804 (BRAICK; MOTA, 2016). 14 Essa história parece fácil, é contada nos livros, mas sabemos que esse momento histórico foi marcado por conflitos sangrentos, mas que a conquista da liberdade fora possível devido ao enfraquecimento da França diante do processo revolucionário da luta pela abolição dos escravos em suas colônias (BRAICK; MOTA, 2016). Nos países da América do Sul temos duas figuras muito importantes que ficaram conhecidos por sua luta para que as colônias fossem independentes e pela abolição dos escravos, Simón Bolívar e José de San Martin. Simón Bolívar nascido no seio da aristocracia colonial, de boa família e formação educacional, foi na contramão de sua realidade. Ele comandou revoluções e promoveu a independência da Venezuela, Equador, Colômbia, Peru e Bolívia, esse último país recebe este nome em homenagem a Simón Bolívar, que ficou conhecido como o “líder da libertação”. Além de Bolívar, outro representante importante na luta pela independência dos países latino-americanos foi o argentino José de San Martin, que tinha relações políticas com o Simón Bolívar, mas tinham planos diferentes após a independência. José de San Martin liderou movimento de independência na Argentina e no Chile, e via a independência como a possibilidade de criar monarquias, já para Bolívar todas as ex-colônias deveriam ser uma única grande República. Juntos eles lideraram a independência do Peru que se concretizou em 1824. No México, a independência foi diferente das outras colônias espanholas da América, pois o movimento de independência teve um caráter mais popular e fora liderado pelos padres Miguel Hidalgo e José Anderson de Andrade Pimentel. Esse caráter popular estava ligado aos indígenas, aos homens pobres e livres, e aos mestiços. Segundo Braick e Mota (2016, p. 133), “os rebeldes foram derrotados pelas forças da Coroa” [...] o padre Hidalgo “foi preso e executado [...] Morelos assumiu a direção do Movimento [...] declarou independência do México e formou um governo de base popular”. Mas, as elites e a Coroa espanhola não satisfeitos com essa revolução social também executaram Morelos. Com isso, a independência passa a ser responsabilidade das elites da sociedade colonial, que em 1821 tornou-se livre devido ao Plano de Iguala (proposto pelo militar Augustin Iturbide para criar uma monarquia no país) que fora aceito pelas elites e pela igreja. Dois anos após o México tornou-se uma República (BRAICK; MOTA, 2016). No Brasil, a independência também decorreu da crise do sistema colonial. Essa crise foi impulsionada pela eclosão da Revolução Industrial, logo o sistema colonial torna-se incompatível com as mudanças econômicas e a expansão do capitalismo. No Brasil, segundo alguns historiadores, a independência do país teve forte ligação com a transferência da corte portuguesa para a colônia, em 1808. A independência tambémé resultado das relações políticas entre os portugueses e a elite brasileira, que insatisfeita com os laços coloniais sugeria o caminho do separatismo. As relações de conflitualidade levaram a Dom Pedro declarar a independência do país em 7 de setembro de 1822. 15 E para finalizar esse ponto, que tal sabermos um pouco da América do Norte, ou seja, dos Estados Unidos. Afinal, eles foram colônia também, lembra? Só que foram colônia de povoamento. Porém no século XVIII começaram a ter sua autonomia ameaçada devido à Coroa Britânica passar a intensificar o controle das atividades comerciais. Nos Estados Unidos, as colônias eram organizadas em treze. Não compartilhavam de um sistema de unidade, mas com a autonomia ameaçada se uniram contra a Coroa Britânica. Foi com a organização em congressos e sob a liderança de Thomas Jefferson que foi dado início à criação da Declaração da independência. Essa declaração foi finalizada em 4 de julho de 1776, com base nos princípios iluministas. Foi em 1783, após lutas e confrontos que o governo britânico reconheceu a independência dos Estados Unidos da América (BRAICK; MOTA, 2016). Sabemos que a independência não colocou fim à escravidão e não foi motivo de inclusão para as classes menos favorecidas terem direitos a melhores condições de vida. Pelo contrário, a luta pela valorização dos povos indígenas, dos negros africanos, e a luta pela terra dos camponeses permanece viva até hoje, pelos direitos sociais, políticos e econômicos. 3.1 FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS Começamos com uma breve citação de Wasserman (2010, p. 177). A formação do Estado nacional na América Latina corresponde a dois processos indissociáveis: a internacionalização do modo de produção capitalista que conduz à institucionalização do poder burguês no mundo todo e, por outro lado, os processos de emancipação das colônias ibéricas. O primeiro processo tem um caráter econômico- social e o segundo é eminentemente político-militar. O vínculo reside justamente na estreita articulação entre estes aspectos da realidade. Ao lermos essa citação deveríamos nos perguntar: como relacionar o modo de produção capitalista com a emancipação das colônias? A resposta seria que a condição econômica vivenciada pela colonização levou ao que conhecemos hoje, ao capitalismo mundial. Um sistema econômico que em suas diversas fases tinha como caráter central sua expansão sobre os territórios, seja na busca de riquezas ou na produção e circulação das mercadorias. Além do aspecto econômico, as relações políticas também fundamentam o avanço do capital, a colonização, a busca pela autonomia das colônias, a institucionalização dos Estados nacionais e a luta desses para se inserirem no contexto das relações econômicas mundiais. A queda do sistema colonial e o processo de formação dos novos Estados na América Latina e nos Estados Unidos tiveram a inserção de novos sistemas políticos, militares, econômicos. As antigas colônias que estavam no processo de institucionalização do Estado enfrentaram diversas dificuldades, tais como “a escassez 16 de capitais necessários à implementação do volume a ser exportado, a disponibilidade de mercados externos (problemas de demanda) e a queda do preço no mercado mundial” (WASSERMAN, 2010, p. 183). Essa situação fez com que a constituição dos Estados nacionais latino- americanos buscasse se organizar para manter suas relações com o mercado. Contudo, sabemos que essa situação não fora fácil devido “à ausência de um elemento aglutinador, ou identidade nacional” entre as colônias (WASSERMAN, 2010, p. 181). Isso revela como o processo de constituição dos novos Estados foi difícil. Para os historiadores que se detêm aos estudos da América Latina, O período que se segue às lutas pela Independência é conhecido [...] como fase da anarquia. Essa expressão, que se tornou de uso corrente pela historiografia latino-americana, remete às dificuldades em conseguir construir ordenamentos estáveis, mas, ao mesmo tempo, seleciona os casos empíricos entre os mais ou menos capazes nesta tarefa, dependendo, conforme a tese, de quesitos absolutamente subjetivos, como determinismos étnicos, geográficos ou climáticos (WASSERMAN, 2010, p. 181). As dificuldades em criar os Estados nacionais também se relacionavam ao tipo de sistema que queriam manter, alguns queriam a monarquia e outros já lutavam pela formação de repúblicas. Um dos principais objetivos era romper com o passado colonial, para isso adotar outras posturas políticas e econômicas eram necessárias. Isso levou a “reformas políticas, educacionais, jurídicas, econômicas e fiscais” (WASSERMAN, 2010, p. 184). A constituição de cada Estado-Nação da América Latina teve características peculiares, ou seja, próprias do seu território e de sua formação histórica, política e características de suas elites. Neste sentido, faremos uma breve apresentação da constituição dos principais países da América Latina. Começamos nosso estudo pelo México. A constituição do México, enquanto um Estado, resultou na divisão da classe dominante em duas visões políticas, os liberais e os conservadores. Os primeiros defendiam descentralização da política e a institucionalização do federalismo. Os conservadores, por sua vez, defendiam o centralismo político. Com essa divisão houve os conflitos de interesses entre a própria elite. O primeiro presidente do país, foi o liberal Guadalupe Victoria, que teve como sucessor da mesma linha política, Vicente Guerrero. Logo, os interesses dos liberais começaram a ser questionados pelos conservadores que não concordavam com as reformas liberais que vinham acontecendo no país (WASSERMAN, 2010). Com os conflitos entre a própria elite, foi instituída, em 1834, a ditadura no México pelo general Santa Anna, através de um golpe de Estado, golpe apoiado pela elite conservadora. Apenas em 1856 houve o retorno dos liberais ao poder, que instituíram reformas no Estado mexicano promovendo a expansão do capitalismo na região (WASSERMAN, 2010). 17 Na Argentina, a consolidação do Estado nação também resultou de lutas. Um dos principais fatores que impedia o avanço da constituição do Estado Argentino foram os Caudilhos (chefes políticos locais) e a falta de unificação, uma vez que estava organizada em três principais regiões que não tinham os mesmos interesses. “A primeira era a de Buenos Aires e sua província, a segunda à do litoral dos rios [...] e a terceira, chamada do interior, Córdoba, La Rioja e Tucuman” (LIMA; NOGUEIRA, 2006, p. 3). A falta de unidade entre as regiões e os interesses diferentes na institucionalização do Estado Nação fez a Argentina demorar cerca de cinquenta anos para se tornar um Estado Nacional. Os conflitos existentes entre dois projetos de Estado estavam centralizados no Liberal-centralista e no Conservador-Federalista. Vemos aqui uma situação interessante, havia necessidade de manter os interesses conservadores, de aspecto colonial, em que o poder estava centralizado nos interesses das elites. Porém, foi após muitos conflitos que o projeto Liberal-centralista avança sobre a Argentina, instituindo um Poder Executivo e a luta para modernizar o país (LIMA; NOGUEIRA, 2006). O estudo da formação de cada Estado Nação da América Latina requer pesquisa e análise de cada caso particular, pois a formação dos Estado Nação levou a diferentes lutas, reinvindicações e interesses, sem falar que cada luta representou interesses distintos na formação política e econômica dos países. No Chile, por exemplo, a independência teve sua declaração em 12 de fevereiro de 1818, tendo como representantes dessa luta José de San Martín e Bernardo O’Higgins. De acordo com Gomes e Soares (2011, p. 68), o “Chile vai se diferenciar dos demais países” na formação do Estado Nação. Os autores apontam três aspectos fundamentais: o primeiro deles é a condição na qual se encontrava o Chile antes dos movimentos independentistas;o segundo é como a elite que assumiu o poder logo após a independência pensou o Estado chileno enquanto nação e o terceiro é a maneira pela qual esta nação foi se consolidando a partir de um discurso patriótico que tanto ecoou naquele momento (GOMES; SOARES, 2011, p. 68). A elite agrária buscava se manter no poder e exercer seu domínio sobre a população. Para Gomes e Soares (2011), um período que merece atenção na leitura sobre a formação do Estado Nação chileno é o período da ideologia marcada por Diego Portales, ou como ficou conhecido de “Portalino”, ou seja, uma nação que devia ser constituída a partir do patriotismo. No período de 1833 houve a promulgação da constituição chilena que era bastante conservadora e “influenciada pelo pensamento portalino”. Esse patriotismo ganhou terreno no Chile com a Guerra do Pacífico (1879 – 1883). A Guerra foi estabelecida por disputas políticas entre o Chile, o Peru e a Bolívia, sendo o Chile o vencedor deste episódio, o que o fez expandir seu território. 18 Quanto à formação do Estado Nação Peruano e Boliviano havia muita instabilidade. A independência do Peru ocorreu em 1821 e a da Bolívia em 1825. Para Wasserman (2010, p. 194) esses países “não modificaram a ordem política, econômica e social do período colonial”. O que evidencia suas fragilidades diante de outros países que estavam no mesmo processo de consolidação do Estado-Nação. A estagnação política e produtiva desses países só teve uma estabilidade a partir do século XX. Quanto aos países da América Central, a consolidação do Estado-Nação não foi conflituosa, pois segundo Wasserman (2010, p. 196), “a transição pacífica se explica pelo fato da região não apresentar riquezas minerais significativas”. Logo, essa região teve sua independência como um reflexo do México, pois Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica estavam ligadas ao território mexicano e em 1823 se separaram do México e formavam as Províncias Unidas da América Central (WASSERMAN, 2010). As diferenças na constituição desses Estados levaram à construção de identidades latino- americanas bem distintas entre si, com culturas e sociedades com características peculiares, que merecem atenção especial a seguir. 3.1.1 A construção das identidades latino-americanas: cultura e sociedade Símon de Bolívar proferiu um discurso em 1819, na cidade de Angostura, sobre nossa identidade, questões que se perpetuam até os dias atuais: Qual é a nossa origem? O que consolida nossa identidade enquanto povo? Descendentes de europeus? Ou descendentes de indígenas? Descendentes de africanos? Ou somos frutos de um processo de miscigenação? É interessante pensarmos sobre isso quando analisamos a citação de Bolívar, vejamos: Não somos europeus, não somos índios, mas sim uma espécie intermédia entre os aborígenes e os espanhóis. Americanos por nascimento e europeus por direito, nos encontramos em meio ao conflito de disputar os títulos de propriedade aos nativos e manter-nos no país que nos viu nascer, contra a oposição dos invasores. De maneira que o nosso caso é extremamente extraordinário e complicado. [...] Estamos colocados num grau inferior ao da servidão. Mantenhamos presente que o nosso povo não é nem europeu, nem americano do norte, é antes uma composição de África e América do que uma emanação da Europa... é impossível determinar com propriedade a que família pertencemos (BOLIVAR, 1819 apud MANCE, 1995, s.p.). Essas reflexões presentes no texto evidenciam as diferenças culturais presentes na América Latina e a busca pela constituição de uma identidade. Essa busca requer romper com qualquer relação de dependência e dominação externa sob os territórios latino-americanos e reconhecer a especificidade cultural de cada povo presente na América sem colocar ninguém numa condição de inferioridade, portanto cabe aqui, a valorização do indígena, do negro africano e dos mestiços, reconhecidos como povo que contribui para a formação da nossa identidade. 19 A busca pela identidade cultural da sociedade latino-americana permeia um debate profundo, devido terem-se formado primeiro os Estados e depois a busca pela identidade nacional. Com diferenças culturais, étnicas, religiosas e linguísticas, a identidade cria-se a partir de semelhanças e diferenças, e essas semelhanças, segundo Mance (1995, s.p.) está na “demarcação territorial”, ou seja, “a identificação do nacional é desdobrada da memória dos conflitos na disputa por territórios com países limítrofes, emergindo os heróis da história oficial”. Neste sentido, a identidade latino-americana se constitui desde o período colonial, ela foi se consolidando, se reinventando e se afirmando enquanto povo latino- americano. As dificuldades ainda presentes na identificação da identidade do povo latino- americano é fruto dos resquícios coloniais e a sua formação histórica, porém, o que vemos na constituição da nossa identidade seja indígena, negro africana, europeia, mestiça é a necessidade de uma interculturalidade, pois, este é o caminho para que todos se reconheçam e se respeitem no espaço diverso e único para os povos da América Latina. 20 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A formação especial da América Latina se deu a partir do processo de colonização, que determinou a exploração econômica dos países que constituem a região. Tornando-se colônias dos países europeus, principalmente Espanha e Portugal, a América Latina se constitui como uma invenção destes povos e, neste sentido, explorou recursos naturais, assim como mão de obra dos povos originários, os indígenas, e os povos africanos. • A expansão colonial criou identidades sociais distintas e remodelamento das identidades existentes, negando a cultura dos povos originários e os colonizadores colocando-se na condição de culturas superiores, isso dificultou, portanto, a criação da identidade dos povos latino-americanos depois da independência. • A colonização exterminou populações indígenas, através de violência e destruição do modo de vida dos povos originários. Além disso, a colonização foi responsável pela expropriação de terra e concentração desta nas mãos de poucas pessoas. • O povoamento da América não se deu com os europeus e sim com os povos asiáticos, que fizeram seu deslocamento territorial através do estreito de Bering. • A América Latina antes dos europeus tinha em seu território grandes civilizações, Incas, Maias e Astecas com modo de vida próprio e organização política, cultural, econômica e religiosa. • O marco da colonização da América se deu em 1492, com a criação da primeira colônia, sob responsabilidade de Cristóvão Colombo. • Na América, as colônias foram divididas em colônias de exploração e colônias de povoamento. A primeira tinha uma estrutura econômica centralizada, baseada na grande propriedade e na produção da monocultura e o uso da mão de obra através do trabalho escravo. As colônias de povoamento se caracterizavam pela pequena propriedade, com uma produção baseada na policultura e a força de trabalho na mão de obra familiar. • A independência latino-americana não ocorreu de forma igualitária. Os países foram se tornando independentes conforme os ideais da Revolução Francesa e a primeira colônia a conseguir independência foi o Haiti. RESUMO DO TÓPICO 1 21 • A formação dos Estados-Nação na América Latina constituiu-se de diversas lutas pela consolidação de regimes políticos diferentes, disputas existentes em sua maioria por uma elite conversadora que buscava manter seus poderes e uma luta de uma elite liberal que buscava modernizar seus países e inserir no mercado internacional. • A busca pela identidade cultural da sociedade latino-americana é um grande debate que ainda se faz no contexto atual, pois há uma diversidade de povos nesses territórios e o que consolidou essa identidade foi a demarcação dos territórios. 22 1 Leia o trecho a seguir: “É a América Latina, a região dasveias abertas. Do descobrimento aos nossos dias, tudo sempre se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal se acumulou e se acumula nos distantes centros do poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. O modo de produção e a estrutura de classes de cada lugar foram sucessivamente determinados, do exterior [...]. Para cada um se atribuiu uma função, sempre em benefício do desenvolvimento da metrópole estrangeira do momento, e se tornou infinita a cadeia de sucessivas dependências, que têm muito mais do que dois elos e que, por certo, também compreende, dentro da América Latina, a opressão de países pequenos pelos maiores seus vizinhos, [...] a exploração de suas fontes internas de víveres e mão de obra pelas grandes cidades e portos [...] (GALEANO, 2010, p. 18). Com base no que estudamos, o trecho do livro de Galeano discute: FONTE: GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. Tradução de Sérgio Franco. Porto Alegre, L&PM, 2011. p. 18. a) ( ) Sobre o período de Independência dos países latino-americanos. b) ( ) Sobre a formação das identidades da sociedade latino-americana. c) ( ) Sobre o processo de colonização europeia na América Latina. d) ( ) Sobre o pacto colonial entre a América e os países europeus. 2 Os historiadores consideram que a América Latina foi uma invenção dos europeus. Essa ideia de invenção é decorrente do fato de já haver civilizações sobre esses territórios. Considera-se que quando os espanhóis chegaram à terra que denominaram de América, já havia sociedades organizadas e centros urbanos consolidados, essas civilizações eram conhecidas como Astecas, Maias e Incas. As civilizações Maia e Asteca ocupavam a região atual do México e da América Central, já a região do Equador, Peru, Bolívia, norte do Chile e Oeste da Argentina foi ocupada pelos Incas. Com base no que estudamos sobre essas civilizações e a colonização, analise as sentenças a seguir: I- A civilização Maia se desenvolveu entre os séculos III e X. Essa civilização está ligada à história do atual México e uma das suas principais marcas é sua organização territorial em Cidades-Estados independentes. II- A civilização Asteca não recebeu influência de nenhuma outra civilização, era uma sociedade que tinha baixo desenvolvimento agrícola e os europeus não tiveram interesse nesta civilização, preservando, portanto, a cultura e os modos de produção dos Astecas. III- A civilização dos Incas constituiu-se a partir do século XII. Esse império foi considerado um dos mais extensos da América pré-colombiana. Atualmente, os Incas são bastante conhecidos por sua contribuição na construção de cidades como Cuzco e Machu Picchu. AUTOATIVIDADE 23 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 A independência das colônias americanas (sul, norte e central) ocorreu por volta do século XVIII e XIX. Os fatores que levaram à independência da América Latina são decorrentes de lutas e revoltas contra as metrópoles colonizadoras. De acordo com o que estudamos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas. ( ) O primeiro país a conseguir a independência foi o Haiti no ano de 1804, com a liderança do ex-escravo Toussaint-Louverture. ( ) No México, a independência foi liderada pelos ex-escravos Miguel Hidalgo e José Anderson de Andrade Pimentel. ( ) Nos países da América do Sul, nós temos duas figuras que representaram a luta pela independência das colônias e pela abolição da escravidão, estes foram: Simón Bolívar e José de San Martin. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A América se consolidou em três grandes regiões: América do Norte, América Central e América do Sul. Além dessa divisão geográfica, também há a divisão histórica, fruto da colonização que divide a América em Anglo-Saxônica (Estados Unidos e Canadá) e América Latina (México, América Central e América do Sul. Essa divisão histórica está ligada à formação desses territórios em relação ao tipo de colonização que se estruturou. Neste sentido, existem dois tipos de colonização, as de exploração e a de povoamento. Disserte sobre a diferença que se estabelece para esses dois tipos de colonização. 5 O processo de colonização na América Latina provocou mudanças na vida dos povos nativos, pois a disputa dos europeus por territórios de expansão comercial e exploração provocou na América Latina um violento extermínio de populações inteiras por meio da escravidão e da apropriação de terras pelos europeus. Neste sentido, explique, como a colonização foi o ponto inicial para que os países europeus se tonassem hegemônicos na economia colonial. 24 25 REGIONALIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos a Regionalização da América Latina. Regionalizar serve para compreender o espaço geográfico a partir de sua fragmentação em territórios com características particulares e homogêneas entre si. Neste sentido, nós estudaremos a regio- nalização em aspectos físicos, socioeconômicos e dos países que compõem a América Latina. Nos aspectos físicos/geográficos, nos deteremos à análise do clima, relevo e vegetação. Nos aspectos sociais estudaremos a população e a identidade cultural dos povos da América Latina. Conhecer os processos históricos da América Latina é reconhecer quem somos. Você se reconhece como latino-americano? Ou como americano? Ou acha que americano é quem mora nos Estados Unidos? Está na hora de desconstruirmos essas ideias e centrarmos no reconhecimento de nossa história. Ainda que todos os países latino-americanos tenham uma base colonial a realidade destes é bastante diversa. Os países que abrangem a América Latina são: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Esses países estão organizados em grandes conjuntos regionais: o México, América Central, Guianas, América Andina, América Platina e o Brasil. Observe a distribuição no Quadro 1 e no mapa da Figura 2 para compreender o perfil da divisão regional da América Latina. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - QUADRO 1 – DISTRIBUIÇÃO DA AMÉRICA LATINA EM CONJUNTOS REGIONAIS FONTE: A autora MÉXICO AMÉRICA CENTRAL GUIANAS AMÉRICA ANDINA AMÉRICA PLATINA BRASIL Geografica- mente faz parte da Amé- rica do Norte. Historicamen- te faz parte da América latina, em função da colonização Espanhola. É dividia em duas partes: continental e insular (ilhas). Constituída de vinte países e dezesseis de- pendências. Localizada ao Norte da América do Sul, composta pelos seguin- tes países e territórios: Guiana; Guia- na Francesa; Suriname Países da América do Sul que tem a presença da Cordilheira dos Andes. E é composta pelos países: Venezuela, Colômbia, Peru, Equador, Bolívia e Chile. Neste conjunto regional estão os países banhados pela Bacia do Prata, que é for- mada pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai. Os países que estão nesse con- junto regional são: Argentina, Para- guai e Uruguai. Nosso país, faz parte da América do Sul. É o maior país da América Latina. 26 FIGURA 2 – AMÉRICA LATINA FONTE: <https://bit.ly/3pVTHjL>. Acesso em: 17 ago. 2021. Esses países, que abrangem a América Latina, possuem culturas distintas, condições de desenvolvimento diferentes, que apesar de serem compreendidos em uma divisão regional não podem ser homogeneizados em suas características, físicas, políticas, culturais e ambientais. Com base no Quadro 1 e no mapa da Figura 2, você já conseguesituar a América Latina? E já consegue dizer, portanto, o que esses países tiveram em comum? A seguir, nós abordaremos detalhadamente esses processos de regionalização. 27 Para compreender o conceito de região e regionalização sugerimos a leitura dos livros a seguir para aprofundamento teórico: • ANDRADE, M. C. Geografia, região e desenvolvimento. São Paulo: Brasiliense, 1967. • CORRÊA, R. L. Regionalização e organização espacial. São Paulo: Ática, 2007. • GOMES, P. C. da C. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C.; CORRÊA, R. L. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 49-76. • LENCIONI, S. Região e geografia. São Paulo: EDUSP, 1999. DICA 2 REGIONALIZAÇÃO No estudo da regionalização temos como objetivo entender os diferentes modos e critérios de regionalizar um continente. Essa regionalização pode se dar através de critérios físicos, níveis de desenvolvimento e características econômicas. Através da regionalização também podemos identificar, por meio da cartografia, os diferentes aspectos morfológicos, climáticos e biogeográficos do continente (HISTÓRICO DA BNCC, 2021). O processo de regionalização de qualquer território tem como base os interesses governamentais, pois dividir para melhor governar é um critério que se estabelece para as divisões regionais. É importante também reconhecermos que as regionalizações são “reflexos dos processos sociais e econômicos das épocas em que elas foram elaboradas” (BOSCARIOL, 2017, p. 188). Para compreendermos a regionalização da América vamos conhecer alguns aspectos físicos desta grande região. A América é o segundo maior continente do mundo com 42.192.781 km². “Considerando as terras contínuas, a América se localiza totalmente no hemisfério ocidental. O continente se estende de norte a sul, desde o paralelo 71° N até o paralelo 56° S, e de leste a oeste, desde o meridiano de 35° O, na ponta do Seixas, no Brasil, até o meridiano de 168° O, no Alasca [Figura]” (ADAS, 2018, p. 118). Considerando, portanto, sua extensão norte-sul podemos dividi-la em três conjuntos: América do Norte, América Central e América do Sul, conforme a posição de suas terras (como vimos no mapa da Figura 2). Aqui, já temos uma primeira regionalização, por aspectos físicos, que aprofundaremos a seguir. Outro processo de regionalização da América é com base nos fatores culturais e econômicos, que também veremos nas próximas páginas. 28 FIGURA 3 – AMÉRICA – POSIÇÃO GEOGRÁFICA FONTE: Adas (2018, p. 118) Antes de seguir, observe a Figura 3, faça uma leitura de localidade, observe como são distribuídos os continentes do mundo e a posição que se encontra o continente americano e suas subdivisões. A localização é um raciocínio geográfico muito importante para a nossa aprendizagem enquanto professores e para nossos futuros alunos. 2.1 REGIONALIZAÇÃO POR CRITÉRIOS FÍSICOS Já vimos o que é a regionalização e você já sabe que ela trata da divisão territorial de uma região, país, município, cujo um dos objetivos está em organizar o planejamento do território. Na regionalização dos aspectos físicos são levadas em consideração as seguintes características: a localização espacial; o relevo; a vegetação, o clima. No mapa da Figura 3, você observa a divisão da América em Central, do Norte e do Sul, essa divisão é física, pois ela leva em consideração os aspectos já mencionados. Em relação às divisões e características do continente americano leia a citação a seguir: A América do Norte, compreende os seguintes países: Canadá, Estados Unidos e México. É considerada a menor porção do continente americano. A América do Norte tem predomínio da língua inglesa, mas há também o espanhol e o francês como idiomas praticados no continente. América Central é formada de uma porção ístmica ou continental e outra insular (ilhas) e constitui a “ponte” entre a América do Norte e a América do Sul. Na porção ístmica, formaram-se sete países. A porção insular é chamada de Antilhas ou Caribe. Segundo a dimensão dessas ilhas, podem-se reconhecer as Grandes Antilhas e as Pequenas Antilhas. A América do Sul 29 FIGURA 4 – PAÍSES E OCEANOS FONTE: <https://bit.ly/3t1mkhG>. Acesso em: 24 ago. 2021. corresponde à porção do continente americano que se inicia nas terras da Colômbia e se estende em direção sul. Compreende doze países, um departamento francês de ultramar — a Guiana Francesa — e o arquipélago das Malvinas ou Falklands, território ultramar do Reino Unido (ADAS, 2018, p. 119). Como vimos em Adas (2018), a divisão da América em três porções resulta de características físicas, populacionais e sociais diferentes entre si. Observemos que, devido à grande extensão do continente americano, os aspectos físicos não são homogêneos, pelo contrário, há uma diversidade do clima e da vegetação bastante significativa no continente. O continente americano em sua extensão é banhado ao norte, pelo oceano Glacial Ártico; ao sul, pelo oceano Glacial Antártico; a leste, pelo oceano Atlântico, e a oeste, pelo oceano Pacífico. Ao observarmos o mapa da Figura 4, nós podemos constatar que o continente americano ocupa terras do hemisfério norte, sul e oeste. E o continente é cortado pelos trópicos de capricórnio e câncer. Você deve se perguntar? Mas, o que isso influencia ou muda na regionalização. A posição do continente determina suas condições climáticas, físicas e de relevo, por isso a visualização do mapa e a compreensão dessas divisões é tão importante para identificarmos os aspectos físicos. 30 2.1.1 Regionalização por critérios socioeconômicos Na divisão da América por aspectos socioeconômicos está a divisão cultural, ou seja, a divisão em América Anglo Saxônica e América Latina (a qual estamos nos dedicando a aprender). Essa divisão leva em consideração aspectos históricos, linguísticos e aspectos de desenvolvimento. Neste sentido, compreende-se que América Anglo Saxônica abrange os países mais desenvolvidos e que tiveram seu processo de colonização a partir do povoamento e o predomínio da língua inglesa, mas no Canadá existe também o francês como língua oficial, para a província do Quebec. A América Anglo Saxônica teve seu povoamento por imigrantes provenientes da Inglaterra, Irlanda, Alemanha, França e Escócia. A região é constituída pelos Estados Unidos e o Canadá, países considerados com maior índice de desenvolvimento econômico. A América Latina, por sua vez, como já estudamos nos tópicos anteriores, engloba o México, os países da América Central e os países da América do Sul. A característica predominante desta região é a colonização de exploração realizada pelos portugueses e espanhóis, neste sentido, as línguas que predominam nesta região são as línguas derivadas do latim, como o espanhol, francês e o português. Esse fator histórico da colonização contribuiu para que a América Latina concentrasse até os dias atuais menores índices de desenvolvimento econômico e maiores índices de desigualdade social. Porém, nesta região existem países que têm se destacado economicamente, como o Brasil, Argentina, Chile e o México, países de economia emergente. No mapa da Figura 5, você pode observar a divisão regional que estamos abordando neste subtópico. Observe que ela é bem diferente da divisão física, neste caso, o México é um país que se classifica nessa divisão em função dos seus aspectos históricos e de desenvolvimento. 31 FIGURA 5 – DIVISÃO REGIONAL POR ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS FONTE: <https://bit.ly/3sZdYXB>. Acesso em: 24 ago. 2021. Podemos concluir que esse critério da regionalização por questões históricas não é muito rigoroso quando se leva em consideração a linguagem, pois segundo o professor Eduardo de Freitas (2021) em seu texto sobre as diferenças entre a América Anglo Saxônica e a América Latina no site Brasil Escola na América Latina há países que falam o inglês, tais como, Guiana, Trinidad e Tobago e também falam o holandês,falado no Suriname. E outro fator importante que podemos chamar atenção é o Paraguai, que preserva sua língua nativa, como o guarani e também fala espanhol. 2.2 ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA AMÉRICA LATINA Neste subtópico, nós vamos nos deter ao estudo dos aspectos geográficos, relacionados aos aspectos físicos dos países no que se refere ao clima, ao relevo e a vegetação. Aqui nos deteremos de maneira geral aos aspectos geográficos que constituem a América Latina. No Subtópico 2.3, nos deteremos aos aspectos geográficos dos principais países que compõem a América Latina. Os climas que predominam na América Latina são bem distintos entre si em função da posição geográfica do continente. Há, na América, regiões extremamente frias e áreas com temperaturas elevadas. Os climas que predominam na América Latina são: desértico ou árido; temperado; tropical; equatorial; subtropical e semiárido. O relevo que predomina na América Latina também é bastante diversificado. Mas as unidades geomorfológicas que mais predominam são: elevadas cordilheiras, planícies, planaltos e baixadas litorâneas. 32 Você já deve ter ouvido falar de algumas formas de relevo da América Latina, como a Cordilheira dos Andes, que é a maior cadeia de montanhas da América Latina com 6.961 metros de elevação. Ela fica localizada nos países: Peru, Chile, Argentina, Colômbia, Bolívia, Equador e Venezuela. A vegetação da América Latina se caracteriza por diversidade fitogeográfica formada por florestas tropicais, subtropicais e temperadas. No Brasil, nós temos uma floresta tropical bastante conhecida, a floresta Amazônica. Também há vegetações rasteiras como as savanas e vegetações desérticas, como as xerófilas. Outra riqueza geográfica da América Latina que merece destaque é a hidrografia, com bacias hidrográficas densas, como a Amazônia e a Platina. A geografia física da América Latina é muito complexa e diversificada. É importante estudar detalhadamente os aspectos físicos levando em consideração o México, os países da América Central e os países da América do Sul, pois o clima, o relevo, a vegetação e a hidrografia são bem diferenciadas entre esses países. Há algumas semelhanças, mas com suas particularidades. Observemos algumas imagens que caracterizam os aspectos geográficos da América Latina. 33 FIGURA 6 – ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA AMÉRICA LATINA FONTE: Gardi et al. (2015, p. 18) CLIMA No mapa ilustra-se a classificação de Köppen Geiger para a ALC. Esta classificação estabelece as seguintes categorias: clima tropical (A), com temperatura média superior aos 18 °C todos os meses do ano e precipitações anuais superiores à evapotranspiração. Subdivide-se em: tropical equatorial (Af), tropical de monção (Am), tropical com inverno seco (Aw) e tropical com verão seco (As); clima seco (B), onde as precipitações anuais são inferiores à evapotranspiração. Subdivide-se por sua vez em: semiárido (BS, com as categorias semiárido quente – BSh e semiárido frio – BSk) e árido (BW, incluindo árido quente – BWh – e árido frio – BWk); clima temperado (C), no qual a temperatura média do mês mais frio está entre 18 °C e -3 °C, enquanto no mês mais quente supera os 10 °C e as precipitações 34 superam a taxa de evapotranspiração. Este é subdividido em Cf (precipitações constantes), Cfa (subtropical sem estação seca, verão quente), Cfb (oceânico, verão suave), Cfc (oceânico subpolar), Cw (inverno seco), Cwa (subtropical com estação seca, verão quente), Cwb (temperado com inverno seco, verão suave), Cwc (oceânico subpolar com inverno seco), Cs (verão seco), Csa (mediterrâneo, verão quente), Csb (oceânico mediterrâneo, verão suave) e Csc (oceânico subpolar com verão seco), o clima temperado continental (D) caracteriza-se porque a temperatura média do mês mais fria é menor que -3 °C e a do mês mais quente é superior aos 10 °C. As precipitações superam a taxa de evapotranspiração. Subdivide-se em: Df (precipitações constantes), Dfa (continental, sem estação seca), Dfb (semiboreal, sem estação seca, verão temperado, inverno frio), Dfc (subpolar sem estação seca, verão suave e curto e inverno frio), Dfd (subpolar sem estação seca, verão suave e curto e inverno muito frio), Dw (inverno seco), Dwa (continental com inverno seco e verão cálido, inverno frio), Dwb (inverno semiboreal seco, verão suave, inverno frio), Dwc (subpolar com inverno seco), Dwd (subpolar com inverno seco, verão suave e curto, inverno muito frio), Ds (verão seco), Dsa (continental mediterrâneo, verão quente, inverno frio), Dsb (semiboreal mediterrâneo, verão suave, inverno frio), Dsc (subpolar com verão seco, verão suave e curto, inverno frio), Dsd (subpolar com verão seco, verão suave e curto, inverno muito frio); por último o clima frio (E), caracteriza- se porque a temperatura média do mês mais quente é inferior a 10 °C. A vegetação é geralmente escassa ou nula. Subdivide-se em ET (clima de tundra) e EF (clima polar). FONTE: GARDI, C., A, M., et al. Atlas de solos de América Latina e do Caribe, 2015. Luxemburgo: Comissão Europeia – Serviço das Publicações da União Europeia, 2015. p. 18. Disponível em: https://bit. ly/3KCGOTP. Acesso em: 24 ago. 2021. FIGURA 7 – RELEVO E HIDROGRAFIA FONTE: <https://bit.ly/3tJ94x3>. Acesso em: 22 ago. 2021. 35 FIGURA 8 – VEGETAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3vShTr1>. Acesso em: 21 set. 2021. Essa diversidade representada nos mapas nos mostram a importância do estudo da localização geográfica e da cartografia. Para ampliar nossos estudos sobre os aspectos mais relevantes dos aspectos físicos da América Latina, nos aprofundaremos no Subtópico 3, descrevendo as características fundamentais que englobam o clima, o relevo e a vegetação da América Latina. 2.3 PAÍSES QUE COMPÕEM A AMÉRICA LATINA Sabemos que a América Latina engloba o México, os países da América Central e os países da América do Sul. Você sabe quais países são esses? Neste subtópico, vamos conhecer cada um deles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. E ao longo do livro você verá que alguns desses países terão mais destaques em função de suas relações econômicas no conjunto dos países da América Latina ou com os países de outros continentes. Argentina tem como capital a cidade de Buenos Aires e faz parte da América do Sul. O país tem uma extensão territorial de 2.780.400 km2, cuja densidade demográfica 36 está em 16,51 hab/km². O idioma oficial é o espanhol. A população do país é de 45.195.777 habitantes, dados referentes ao ano de 2020. O índice de desenvolvimento humano da Argentina está em 0,845. Um índice considerado alto (PAÍSES, 2021). O Índice de Desenvolvimento Humano é usado para classificar o grau de desenvolvimento de um país, ele mede a qualidade de vida das pessoas e foi criado pelo Programa das Nações Unidas (PNUD) e é publicado anualmente desde 1993. O IDH, como é conhecido, tem uma escala métrica de zero a um, quanto mais próximo de um mais desenvolvido é o país e quanto mais próximo de zero menos desenvolvido. A escala do IDH é organizada em muito alto, alto, médio, baixo e muito baixo (IDH, 2021). NOTA As regiões geográficas da Argentina estão divididas em Pampa, com clima temperado e úmido e considerada uma das regiões mais férteis do mundo. O Noroeste abrange o nordeste argentino, concentram-se, na divisão, grandes bacias hidrográficas. É nessa região que temos a divisa da Argentina com o Brasil no estado do Paraná com as belezas de Cataratas do Iguaçu. Na região o clima é subtropical. Na área Noroeste do país, tem-se solo montanhoso, e rico em minerais. Nessa área, o clima é cálido e desértico, predominando sol o ano todo. Cuyo é outra divisão geográfica da Argentina. Em Cuyo, temos a famosa região da Cordilheira dos Andes. Essa área é de abundantes recursos hídricos e uma área montanhosa combastante fertilidade do solo, com climas semiáridos e invernos frios e verões quentes. Por fim, temos a Patagonia, ocupa metade sul do país, clima frio e úmido, área com inverno rigoroso o que determina poucos habitantes por km2, em torno de 2.2 hab/km2. Bolívia é um país pertencente à América do Sul, tem um território de aproximadamente 1,1 milhão de km². Sua população está estimada em 11.673.029 habitantes e com uma densidade demográfica de 10,78 hab/km². O idioma que prevalece no país é o espanhol, o Quíchua e Aimará (PAÍSES, 2021). O Índice de Desenvolvimento Humano boliviano está em 0,718. O país é considerado um Estado Plurinacional, “reconhecendo a autonomia indígena e seu direito à terra” (ANGELO, 2019, s. p.). Em função do Plurinacional, a cultura é diversificada, entre influências indígenas e espanhola. O país tem duas capitais, uma onde é considerada a capital Jurídica, Sucre e outra considerada capital administrativa, La Paz (PAÍSES, 2021). As fronteiras da Bolívia são, o Brasil, país que mantém estreita relações comerciais, o Paraguai, a Argentina, o Chile e o Peru. O clima do país é diversificado com áreas frias e secas, como nas regiões de planalto e áreas tropicais, onde se concentra a maior parte do 37 país. Nessas áreas, temos elevados índices pluviométricos, são áreas mais quentes. Essa área vai desde o norte da floresta Amazônica ao leste das terras baixas. A questão populacional boliviana é muito específica do país, pois enquanto a maioria dos países latino-americanos teve suas populações indígenas dizimadas e ainda hoje, os indígenas que lutam pela valorização continuam sendo dizimados, massacrados e tendo seus direitos negados. O que na Bolívia chama atenção é que 65% da população é indígena dos povos Aimará e Quíchua, esses últimos descendentes dos Incas. O país é considerado um dos mais pobres da América do Sul, com baixo desenvolvimento econômico em setores estratégicos como a agricultura, a exploração de recursos naturais. O Brasil é um país que faz parte da América Latina e é considerado o maior país da América do Sul. O Brasil é um dos principais países da América Latina, devido a sua posição econômica no mercado mundial e suas relações com os países latino- americanos. Com uma população de 212.559.40 habitantes, densidade demográfica de 25,43 hab/km2 e um Índice de Desenvolvimento Humano de 0.765 (PAÍSES, 2021). O nosso país é organizado em cinco regiões, Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul, cada uma delas apresentam características diversas no clima, na vegetação e na hidrografia. O Brasil detém uma riqueza fitogeográfica que pode ser caracteriza pela Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Mata de Araucárias e a Caatinga. Os climas no Brasil também são diversos devido sua extensão territorial, temos os climas: equatorial, tropical, tropical semiárido, tropical de altitude, tropical litorâneo e subtropical. O Brasil tem um forte papel na América Latina, como veremos na Unidade 3 deste livro didático. O Chile é outro país da América Latina que faz parte da América do Sul. Sua capital é a cidade de Santiago, o país tem uma extensão territorial de 756.102Km2. A população chilena segundo o site do IBGE é de 19.116.209 habitantes e sua densidade demográfica é de 25,71hab/km² e um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,851. O relevo do Chile é caracterizado por ser montanhoso e é famoso pela Cordilheira dos Andes. É um país com paisagem e clima bastante diverso. No que se refere ao clima há regiões muito secas (norte do país) e outras muito úmidas (sul do país), essa diversidade climática impacta na formação da vegetação que é bastante heterogênea, com áreas secas apresentando vegetações rasteiras e áreas úmidas com vegetações mais densas como florestas de araucárias. Colômbia é um país da América do Sul, cuja capital é Bogotá e possui uma extensão territorial de 1.138.910 km2. Sua população é de 50.882.884 habitantes que se concentram em uma densidade demográfica bastante elevada, em torno de 45,86 hab/km2 e possui um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,767. Caracteriza-se por dois tipos de clima, o tropical e o subtropical. Seu relevo é dividido em três: Cordilheiras Oriental, Ocidental e Central, a base dessa divisão é a Cordilheira dos Andes. O país também tem uma rica hidrografia com rio Magdalena, o maior do país (PAÍSES, 2021). 38 Costa Rica é um país da América Central, capital São José e extensão territorial de 51.100 km2. Sua população é de 5.094.114 habitantes e uma densidade demográfica muito alta, de 99,77 hab/km² e um índice de desenvolvimento de 0,81. É um dos principais países da América Central e também tem uma área geológica que ameaça constantemente o país com terremotos. Tem uma diversidade de fauna, vegetação e clima. Devido a sua localização entre dois grandes continentes, recebeu influência de ambos na formação de seu território (PAÍSES, 2021). Cuba é um país da América Central, sua capital é Havana e a extensão territorial do país é de 110.860 km2. “A República de Cuba é um país insular localizado no mar do Caribe”. A população do país está em 11.326.616 habitantes e o país tem uma alta densidade demográfica com 106,41 hab/km² (PAÍSES, 2021). Cuba é constituída por um arquipélago formado por 4.195 restingas, ilhotas e ilhas. Com uma topografia predominante de planície e de clima tropical este país chama atenção por seu regime político socialista e por uma alta taxa de alfabetização no país. Equador é um país da América do Sul, cuja capital é Quito e uma extensão territorial de 283.516 km2 e uma população de 17.643.060 habitantes, com uma densidade demográfica de 71,04 hab/km². O Índice de Desenvolvimento Humano no Equador é de 0,759. Suas fronteiras estão delimitadas entre a Colômbia e o Peru. O país tem uma economia bastante diversificada com a produção do petróleo, exploração de riquezas minerais, produção têxtil e agricultura (PAÍSES, 2021). El Salvador é um país da América Central, sua capital é São Salvador e sua extensão territorial é de 21.041 km2. El Salvador tem uma população de 6.486.201 habitantes e uma densidade demográfica de 313,04 hab/km², ou seja, uma alta concentração populacional, principalmente, nas áreas urbanas (PAÍSES, 2021). O IDH do país 0,673 é um índice médio na escala do desenvolvimento o que evidencia que os indicadores de longevidade, educação e renda estão em uma escala ainda baixa em relação aos países desenvolvidos. É importante ressaltar que mesmo os países que tenham índices com alto desenvolvimento não necessariamente são países ricos, pois o IDH mede as condições de qualidade de vida e não determina a riqueza econômica do país (PAÍSES, 2021). Guatemala, país da América Central, capital Cidade da Guatemala, extensão territorial de 108.889 km2, com uma população de 17.915.567 habitantes, densidade demográfica de 167,19 hab/km² e um índice de desenvolvimento médio de 0.663. O país foi o centro da civilização Maia, é um território bastante montanhoso, na economia se destaca pela agricultura, industrialização e o turismo (PAÍSES, 2021). Haiti é um país caribenho, sua capital é Porto Príncipe. Tem uma extensão territorial de 27.750 km2. As línguas que predominam no país são o francês e o crioulo. Sua população é estimada em 11.402.533 habitantes e uma densidade demográfica de 39 413,73 hab/km². O país possui um IDH muito baixo com 0.51, o que evidencia uma alta desigualdade social (PAÍSES, 2021). Honduras é um país da América Central e tem uma extensão territorial de 112,090 km2, sua capital é Tegucigalpa. Sua população estimada é de 9.904.608 habitantes e 88,52 km2. O IDH do país é de 0,634 considerado médio dentro da escala de desenvolvimento humano. De acordo com a Britannica Escola (BOLÍVIA, 2021, s. p.), “Honduras tem uma extensa costa setentrional (a norte) no mar do Caribe e outra, pequena e a sudoeste, no oceano Pacífico. O país faz fronteira com Guatemala, El Salvador e Nicarágua.Quase todo o território é montanhoso, mas no Nordeste há uma área pantanosa chamada costa do Mosquito. O clima de Honduras é quente durante o ano inteiro”. Economicamente Honduras se destaca pela indústria de alimentos e roupas e pela produção agrícola (BOLÍVIA, 2021). O México é um país que faz parte da América do Norte quando falamos da regionalização pelos aspectos físicos. Contudo quando abordamos a regionalização pelos aspectos socioeconômicos o país entra no conjunto da América Latina, por que isso? O México é um país que fora colonizado pelos espanhóis e se consolida a partir de um baixo desenvolvimento econômico, características que o coloca no conjunto dos países Latino-americanos. O México abrange uma área de 1.958 201 km2 e uma população de 128,9 milhões (IBGE, 2021). Essa população está distribuída em 31 estados e a capital do país se chama cidade do México. A densidade demográfica do país é de 66,33 hab/km2. O país tem como idioma oficial o espanhol e um Índice de Desenvolvimento Humano em 0,779 (PAÍSES, 2021). Observe a Figura 9 para conhecer os estados que constituem o México. FIGURA 9 – ESTADOS DO MÉXICO FONTE: <https://bit.ly/37lyGIX>. Acesso em: 25 ago. 2021. 40 O país conta com uma diversidade econômica, é o maior produtor de prata do mundo, tem grande produção petrolífera (o setor é de importância crucial para a economia mexicana, pois a produção de petróleo representa um terço da receita do governo) é rico em exploração mineral, devido suas riquezas naturais, tem grande exportação agrícola (ECONOMIA DO MÉXICO, 2021). A economia do México é muito dependente dos Estados Unidos, principal parceiro comercial do país. O país está entre as quinze maiores economias do mundo, e é a segunda maior da América Latina. Para os economistas do banco Santander “os principais desafios que a economia do México ainda precisa enfrentar incluem: alta dependência da economia dos EUA, taxas de criminalidade altas e crescentes, desigualdade de renda, enfraquecimento da infraestrutura e da educação e décadas de falta de investimento no setor petrolífero” (ECONOMIA DO MÉXICO, 2021, s. p.). No que se refere aos aspectos geográficos do México ele faz fronteira com os Estados Unidos e é caracterizado por ser um território de platô, ou seja, uma área elevada e plana. O país também é bastante suscetível aos abalos sísmicos e vulcões, devido ao país estar localizado na confluência de diversas placas tectônicas: placa de Rivera, Placa de Cocos, Placa do Caribe e Placa Norte Americana. Portanto, seu território está localizado em uma área de instabilidade geológica (MELLO, 2021). O clima do país é bem diversificado, de acordo com a Embaixada do México no Brasil, essa diversidade está relacionada às diferenças de latitude e altitude no país. Com a área do planalto central seco e ameno, as montanhas mais altas têm coberturas de neves em períodos de inverno. Terras costeiras mais baixas, estão, sobretudo, na região meridional do país, são terras mais úmidas e cálidas. O calor predomina nos meses de abril a junho, os meses de julho a setembro são os mais chuvosos e os meses mais frios ficam entre novembro e fevereiro (EMBAMEX, 2021). Nicarágua, país da América Central. Capital Manágua, possui uma extensão territorial de 130.370 km2 e uma população estimada em 6.624.554 habitantes. Sua densidade demográfica é de 55,05 hab/km2 (PAÍSES, 2021). O país possui um clima muito quente. No país também há uma frequência de terremotos e furacões. A economia do país é baseada na agricultura. A pobreza na Nicarágua é bastante acentuada e o país é considerado o segundo mais pobre da América, o primeiro é o Haiti. O Panamá tem como capital a Cidade do Panamá. O país está localizado na América Central e sua extensão territorial é de 75.420 km2, população estimada em 4.314.768 habitantes e uma densidade demográfica de 58.04 hab/km2. O Índice de Desenvolvimento Humano do Panamá é considerado muito alto, está na escala de 0.815. O país é conhecido pelo Canal do Panamá, que tem importância econômica para o país. O Canal do Panamá é uma via artificial marítima por onde passam os navios e facilita o comércio marítimo, o canal está situado entre os oceanos Pacífico e Atlântico. O país também tem destaque por suas indústrias petroquímicas, pelo turismo e pela agricultura (PAÍSES, 2021). 41 Paraguai, país localizado na América do Sul. Tem como línguas oficiais o Espanhol e o Guarani. Sua capital é a cidade de Assunção e a extensão territorial do país é de 406.752Km2. A estimativa da população do Paraguai é de 7.132.530 habitantes. A densidade demográfica é de 17,95 hab/km2 e o Índice de Desenvolvimento Humano está em 0,728, o que apresenta boas condições de desenvolvimento humano, mas no quesito economia ainda precisa melhorar, pois é considerado um país pobre (PAÍSES, 2021). Peru é um país localizado na América do Sul. Tem como capital a cidade de Lima, sua extensão territorial é de 1.285.216 km2. Suas línguas predominantes são o Espanhol, Quínchua (língua do povo Inca) e Aimará. Sua estimativa populacional é de 32.971.846 habitantes e sua densidade demográfica é de 25,76 hab/km2. O Índice de Desenvolvimento Humano do Peru é de 0,777. O país faz fronteira com o Equador, o Brasil, o Chile, a Bolívia e a Colômbia. O Peru é conhecido por ter os maiores lagos de maior altitude do mundo, como o Titicaca. Na economia o país destaca-se pelo turismo e pela exploração dos recursos naturais (PAÍSES, 2021). República Dominicana é uma região Caribenha na América Central e tem como capital a cidade de São Domingo. Sua extensão territorial é de 48.670 km2. Com uma população estimada em 10.847.904 habitantes e uma densidade demográfica de 224,5 hab/km2. O IDH é de 0,756. A economia está centralizada em serviços de turismo, indústria e agricultura (PAÍSES, 2021). Venezuela, país da América do Sul, tem como capital a cidade de Caracas e extensão territorial de 912.050 km2. Uma população de 28.435.943 habitantes e 32,24 hab/km2. Seu IDH é de 0.771. A Venezuela é conhecida por sua riqueza petrolífera. Mas, há outros mineiras que são explorados pela economia venezuelana, ferro, carvão e a bauxita, por exemplo. No país, a população concentra-se nas cidades e se constitui por uma alta miscigenação (PAÍSES, 2021). Quantas informações aprendemos até aqui! Aproveite para ler um pouco no GIO NOTA, pois ele traz algumas informações complementares sobre nosso longo estudo Placas tectônicas são blocos que fazem parte da camada sólida externa do planeta Terra, a crosta terrestre. Esses blocos são responsáveis por sustentar os continentes e os oceanos. As placas possuem zonas de encontro. São essas zonas as responsáveis pela formação dos terremotos, tsunamis e vulcões. As principais placas são: Placa do Pacífico; Placa de Nazca; Placa Sul-americana; Placa da América do Norte e do Caribe; Placa da África, Placa da Antártida; Placa Indo-Australiana; Placa Euroasiática Ocidental; Placa Euroasiática Oriental; Placa das Filipinas. Se quer saber mais sobre as placas tectônicas, o estudo da Geologia é de fundamental importância. NOTA 42 3 ASPECTOS NATURAIS: CLIMA, RELEVO E VEGETAÇÃO Os aspectos naturais já foram explorados anteriormente, aqui vamos nos deter especificamente a identificar as características que definem os climas, o relevo e a vegetação da América Latina e da América Anglo-Saxônica para que possamos perceber as diferenças estabelecidas entre elas. Na América Anglo-Saxônica, nós temos a Cordilheira do Alasca e as Montanhas Rochosas, áreas consideradas os pontos mais altos desta região. Essas cadeias de montanhas possuem uma extensão de 4.800 quilômetros. A área é rica em recursos minerais como: cobre, ouro, prata, jazidas de petróleo, gás natural e carvão. O clima da região é dominado pelo clima temperado continental. A vegetação está ligada ao clima dos países. Na área do Canadá, principalmente ao Norte temos formações de tundra, devido ao climapolar. No Canadá, também, há as florestas de coníferas, principal formação vegetal do país e se encontra ao Sul do país. Nos Estados Unidos, há o clima temperado e subtropical, as florestas temperadas, a tundra, as estepes são formações vegetais características dos Estados Unidos. A América Latina, objeto de nosso estudo, possui relevo muito semelhante em toda a sua extensão: cadeias de montanhas na costa oeste, planícies centrais e planaltos velhos e desgastados no Leste. As principais formações vegetais da América Latina são: savanas, vegetação de altitude, estepes e pradarias, floresta tropical e equatorial, floresta temperada e desertos. O relevo da América Latina é antigo e apresenta altitudes modestas. Por se encontrar no meio da placa tectônica Sul-Americana, longe das regiões de encontro de placas, não possui dobramentos modernos em seu território (por isso as altitudes são baixas). O clima, de forma geral, é quente e úmido, com exceção do sul (subtropical, menos úmido e mais frio). As regiões próximas à linha do Equador registram variações do clima equatorial (como o úmido e o superúmido). Nas regiões restantes, há variações de clima tropical – como o tropical de altitude, o tropical típico e o tropical continental. Os recursos naturais da região estão nas grandes formações vegetais, como a floresta Amazônica, que propicia grande variedade de produtos a explorar para diversos fins: da madeira aos frutos, da alimentação familiar à indústria cosmética e médica. Recursos minerais também são numerosos e muito importantes economicamente, com destaque para o petróleo, ferro, manganês e água, tendo o Brasil as maiores reservas desses produtos (SÃO JOSÉ, 2021). 43 3.1 ASPECTOS POPULACIONAIS NA AMÉRICA LATINA O estudo sobre a população está centrado na ciência da Demografia. Ciência que estuda o comportamento da população, aumento, diminuição, envelhecimento, nascimento, taxas de mortalidade, densidade demográfica, vários dados que permitem compreender o perfil da população que habita algum território. No Brasil, por exemplo, temos dados estatísticos sobre nossa população a partir do Censo Demográfico, que acontece de 10 em 10 anos, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para entender o estudo sobre a população é necessário conhecer alguns conceitos, tais como: população absoluta, população relativa, povoado, populoso, taxa de natalidade, taxa de mortalidade, esperança de vida ao nascer etc. A população absoluta é o total de habitantes que vivem naquele país, território. Vimos, no subtópico 2.3, os países da América Latina e a quantidade de sua população, ou seja, a população absoluta. A população relativa ou densidade demográfica, que vimos no item 2.3, é o número de habitantes por quilômetro quadrado. Quando um país é povoado, significa que possui um elevado número de habitantes por quilômetro quadrado. Populoso, países que têm uma grande quantidade de habitantes. Taxa de natalidade refere-se ao número de nascimento em um ano em determinado país. A taxa de mortalidade, ao número de óbitos ocorridos. Esperança de vida ao nascer ou expectativa de vida é a média que um indivíduo viverá no país em que nasceu. Os dados se diferenciam entre os países, há países que as taxas de mortalidade são mais altas e outros em que a esperança de vida é mais baixa. A análise desses indicadores requer o estudo de tabelas, gráficos para nos apropriarmos dos dados existentes e conseguirmos conhecer a realidade dos países que constituem a América Latina, pensando em políticas públicas para mudar determinadas situações. De acordo com o Nexo Jornal, em maio de 2021, “A expectativa de vida média de mulheres residentes em cidades latino-americanas pode variar em mais de oito anos, de 74,4 a 82,7 anos, e em quase 14 anos entre os homens, de 63,5 a 77,4 anos (NEXO, 2021). Os países que apresentam as maiores expectativas de vida são: “Panamá, Chile e Costa Rica, onde as mulheres vivem entre 81 e 82 anos e os homens entre 75 e 77 anos, em média, conforme a cidade”, por outro lado, cidades que estão no “Brasil, México e Peru” tem menores expectativas de vida para as mulheres (NEXO, 2021). Nos últimos dois anos (2020 - 2021), com o agravamento da crise sanitária que se instalou no mundo, devido à pandemia da Covid-19, muitos países latino-americanos enfrentaram dificuldades significativas diante da pandemia, pois os níveis de pobreza, a falta de saneamento básico, famílias grandes em espaços pequenos, foram agravantes para tornar mais problemática a situação de desigualdade existente nos países da América Latina. 44 O documento intitulado “La paradoja de la recuperación en América Latina y el Caribe Crecimiento con persistentes problemas estructurales: desigualdad, pobreza, poca inversión y baja productividad” desenvolvido pela CEPAL, evidencia que: No último ano, a taxa de extrema pobreza teria atingido 12,5% e a de pobreza 33,7%. As transferências emergenciais para os setores mais vulneráveis permitiram atenuar o aumento da pobreza na região em 2020 (passou de 189 milhões em 2019 para 209 milhões, podendo ter sido de 230 milhões, e de 70 milhões em 2019 para 78 milhões, podendo ter sido de 98 milhões no caso da extrema pobreza). Essas transferências beneficiaram 326 milhões de pessoas, 49,4% da população. No entanto, a desigualdade na distribuição de renda aumentou (2,9% do índice de Gini). Enquanto, a insegurança alimentar moderada ou grave atingiu 40,4% da população em 2020, 6,5 pontos percentuais a mais do que em 2019. Isso significa que houve 44 milhões de pessoas mais em insegurança alimentar moderada ou grave na região e 21 milhões passaram a sofrer com insegurança alimentar grave (O CRESCIMENTO [...], 2021, s. p.). Essa realidade de desigualdade na população da América Latina também decorre da alta concentração urbana, sem planejamento. De acordo com a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL, 2020a, p. 8), “81% da população vive em localidades classificadas como urbanas”. A América Latina é considerada a região mais urbanizada do mundo. Para a CEPAL (2020a, p. 8) a América Latina destaca-se “por sua metropolização, pois 35% da população vive em cidades de 1 milhão de habitantes ou mais. Na América Latina temos cinco megalópoles com 10 milhões de habitantes ou mais, essas cidades são Buenos Aires, Cidade do México, Lima, Rio de Janeiro e São Paulo”. Com o processo de urbanização muitas dificuldades se constituem nos grandes centros urbanos. Essas dificuldades ressaltam-se pelas desigualdades sociais, falta de moradia, falta de acesso às condições básicas de vida: água, saúde, saneamento, alimentação. Dificuldades sentidas pelas populações de baixa renda e por grupos de comunidades tradicionais, como os indígenas, e populações de afrodescendentes, por exemplo. Os grandes centros urbanos são grandes concentradores de um elevado nível de segregação social, para a CEPAL (2020a, p. 10) além das desigualdades sociais a América Latina conta com “as desigualdades estruturais de caráter político, econômico, social, ambiental e sanitário que afetam os povos indígenas” e os povos afrodescendentes que se encontram num “cenário de maior vulnerabilidade e risco” (CEPAL, 2020a, p. 10). Em cinco países que concentram 80% da população indígena da região [...] Chile, Colômbia, Guatemala, México e Peru, mais de 8 milhões de indígenas experimentam carências de acesso a água potável na moradia. Alguns segmentos importantes da população indígena também têm acesso limitado a serviços de saneamento básico na habitação. Além disso, [...] a população afrodescendente também [...] enfrenta um cenário de profundas desigualdades sociais determinadas pelo racismo estrutural e institucional e expressadas, por exemplo, em elevados níveis de pobreza, acesso desigual à educação, condições habitacionais precárias, menor acesso aos serviços de saúde e maior participação no emprego informal,entre 45 outros indicadores. O acesso desigual aos sistemas de saúde, a discriminação institucional e a falta de perspectiva intercultural nos serviços de saúde constituem uma barreira considerável para o acesso em igualdade de condições das pessoas afrodescendentes e dos povos indígenas ao sistema de saúde (CEPAL, 2020a, p. 10). Os dados da CEPAL, em sua publicação sobre os Panoramas Sociais da População, ressaltam as dificuldades vivenciadas pela população latino-americana. É importante lembrarmos que as condições de desigualdades sociais desta região estão ligadas ao seu passado histórico de colonização, isso é um fato que não podemos ignorar. Na história estão as condições de desigualdades estruturais em relação a determinados grupos populacionais, como os indígenas e os afrodescendentes, que historicamente consolidaram-se à margem da elite colonizadora que negou durante muito tempo direitos básicos aos grupos populacionais citados. No que se refere à habitação na América Latina, segundo o Confederação Nacional dos Municípios no Brasil, “o maior crescimento de moradias em favela está no continente africano, com o valor absoluto de 237 milhões de pessoas. Na América Latina e Caribe, durante o ano 2000, 115 milhões de pessoas viviam em favelas, já em 2014 observou-se redução para 104 milhões. Em 2016, houve um acentuado crescimento para 112 milhões de pessoas e, em 2020, são 109 milhões de pessoas nessa condição” (CNM, 2021. A desigualdade tão forte na população latino-americana é reflexo da colonização, de independência tardia dos países, assim como do desenvolvimento industrial tardio e de problemas estruturais, o que provoca a fragilidade no desenvolvimento econômico e social dos países. 3.1.1 Identidade cultural dos povos da América Latina O que é identidade? Para Milton Santos (1999, p. 8) “a identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence”. Esse sentimento de pertencimento está relacionado como nos vemos em determinados aspectos da realidade social, da relação entre os indivíduos, como nos vemos no espaço que habitamos, como nos apropriamos deste espaço, ou seja, nosso envolvimento e reconhecimento como pertencentes aquele espaço. A identidade cultural por sua vez é considerada como “um sistema de representação das relações entre indivíduos e grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros. É um processo dinâmico, de construção continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço” (OLIVEIRA, 2010, s.p.). Quando analisamos a identidade cultural latino-americana podemos perceber esse sistema de representações, diverso, específico de cada grupo social da América Latina. Não há uma homogeneidade cultural em nossa região, pois somos diversos, e nos 46 constituímos de histórias e grupos sociais diferentes, como os indígenas, os europeus, os negros africanos. Podemos considerar que não há uma identidade única na cultura da América Latina, mas um interculturalismo entre diversos povos. No contexto desse interculturalismo que nos deteremos em nosso estudo conhecer essa diversidade é também nos reconhecermos enquanto latino-americanos, uma vez que muitos de nós brasileiros não nos reconhecemos como latinos. A identidade cultural da América Latina é bastante discutida devido à diversidade presente no território, mas alguns povos se destacam por sua contribuição para a nossa história, a história da criação da identidade latino-americana, pois antes da colonização, não éramos a América e tampouco tínhamos indígenas. Mas, já que os nomes estão estabelecidos, seguiremos identificando nossa identidade a partir dos povos existentes em nossa região, que constituem a identidade cultural da América Latina. Essa reflexão pode ser vista na fala de Caleffi (2003, p. 22): Sob a categoria "indígena", [...] encontram-se diferentes grupos étnicos, diferentes tanto entre si, como das sociedades nacionais, os quais reivindicam parte de seus direitos baseados no princípio dos "Direitos Originários". A classificação do colonizador “passou a ser uma categoria de luta e uma identidade que, de atribuída tornou-se politicamente operante, justamente por somar sob uma única classificação grupos étnicos diferenciados, que tiveram nesta soma, sua força aumentada. Os indígenas, por exemplo, são bem distintos entre si nos países latino-americanos. Apresentam diversidades culturais e linguísticas. Esse grupo cultural contribuiu muito para a expansão da América Latina, por meio de ensinamento, da força de trabalho, dos conhecimentos da natureza, das influências alimentares. Os indígenas continuam contribuindo com a expansão latino-americana. Hoje constituem lutas pelo reconhecimento de seu povo e a demarcação de suas terras, debate muito importante no Brasil. Os negros africanos (afrodescendentes), por sua vez, foram expropriados de suas terras para servir como mão de obra nos países da América Latina, eram vistos inicialmente como mercadoria. De acordo com Igreja e Agudelo (2014, p. 13), “os afrodescendentes constituem uma parte significativa da totalidade da população da América Latina e Caribe. Algumas estimativas oscilam entre 80 e 150 milhões de afrodescendentes em um total de 900 milhões de habitantes de toda a região”. Em relação à população dos afrodescendentes também há uma diversidade entre eles, através dos aspectos regionais e culturais estabelecidos em suas relações sociais. Há grupos “que desenvolveram práticas culturais e religiosidades específicas (como as religiões afro-brasileiras, afro-cubanas, o vodu haitiano, os diferentes cultos aos ancestrais dos garífunas da América Central, dos Saramaka ou dos Dyuka do Suriname e mesmo algumas formas particulares sincréticas de catolicismo popular)” (IGREJA; AGUDELO, 2014, p. 14). 47 No contexto atual da América Latina, nós temos necessidade de reconhecimento dessas identidades, pois ainda há na região muito racismo e discriminação com o negro e o indígena. Já avançamos muito na conquista de reconhecimento dos povos indígenas e afrodescendentes, mas a luta é muito árdua, pois ainda há uma forte valorização cultural do colonizador sobre nossos países, e evidenciado com o contexto da globalização atual. A luta pela identidade cultural, é a construção da nossa identidade, da nossa cultura e o respeito a diversidade presente no território da América Latina. 48 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Regionalizar é fragmentar o espaço em territórios particulares e homogêneos entre si. • Existem diferentes modos de regionalização da América. • A América divide-se em três grandes conjuntos do ponto de vista físico: América do Norte, América Central e América do Sul. E do ponto de vista histórico a América se divide em América Anglo-Saxônica e América Latina. • Os países que constituem a América Latina são 20, dentre os quais estão: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Esses países estão organizados em grandes conjuntos regionais: o México, América Central, Guianas, América Andina, América Platina e o Brasil. • O relevo da América Latina está dividido em unidades geomorfológicas que mais predominam em elevadas cordilheiras, planícies, planaltos e baixadas litorâneas. • A vegetação da América Latina se caracteriza por diversidade fitogeográfica formada por florestas tropicais, subtropicais e temperadas. • A América Latina se encontra no meio da placa tectônica Sul-Americana. • Na América Latina boa parte da população está em regiões urbanas e que nessas áreas apresentam grandes desigualdades sociais. • Temos cinco megalópoles, essas cidades são Buenos Aires, Cidade do México, Lima, Rio de Janeiro e São Paulo. • A identidade latino-americanaestá em constante construção. 49 1 Com base nos estudos do nosso Livro Didático, a América Latina é uma região diversa culturalmente, que tem muitas coisas em comum, como: a história, a colonização, a luta pela independência dos países. Devido a essas características em comum, englobamos na regionalização o México, a América Central e a América do Sul na classificação da América Latina. Sobre essa divisão histórica e socioeconômica, assinale a alternativa CORRETA. a) ( ) Na América Latina, países como o Brasil, o México e o Guatemala apresentam Índice de Desenvolvimento Humano elevado. b) ( ) A América Latina engloba países da América Central, tais como: Belize, Guatemala, Honduras, México, El Salvador. c) ( ) Os países que constituem a América Latina são 20, dentre os quais estão: Argen- tina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Gua- temala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. d) ( ) Colômbia, Guatemala, México e Peru tem a maior parte de sua população constituída de afrodescendentes. 2 Sobre os tipos de clima que predominam na América Latina estão climas tropicais, úmidos ou secos, tropical de altitude, clima equatorial. Cada um desses tipos climáticos se distingue entre si e determinam as diferenças fitogeográficas e de temperatura nos países da América Latina. Com base no que estudamos, analise as sentenças a seguir: I- O clima, de forma geral, é quente e úmido, com exceção do sul (subtropical, menos úmido e mais frio). II- As regiões próximas à linha do Equador registram variações do clima equatorial (como o úmido e o superúmido). III- Nas regiões centrais, o clima predominante da América Latina é frio polar, caracterizando-se por baixas temperaturas e baixa densidade demográfica devido às condições inóspitas de sobrevivência. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 50 3 Os países que constituem a América Latina apresentam diversidades populacionais, tanto em questões culturais, níveis de desenvolvimento econômico e integração política. No que se refere à população, a região conta com um significativo crescimento urbano, crescimento de favelas e aumento da pobreza no espaço urbano. Em relação aos aspectos da população da América Latina, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Os países que apresentam as maiores expectativas de vida são: “Panamá, Chile e Costa Rica, onde as mulheres vivem entre 81 e 82 anos e os homens entre 75 e 77 anos. ( ) No que se refere à habitação na América Latina, segundo a Confederação Nacional dos Municípios no Brasil o maior crescimento de moradias em favelas está na América Latina, principalmente nos Chile, México e Honduras. ( ) Nos últimos dois anos (2020- 2021), com o agravamento da crise sanitária que se instalou no mundo, devido à pandemia da Covid-19, muitos países latino- americanos tiveram seus níveis de pobreza diminuídos devido às políticas públicas de seus governos diante do combate da Pandemia. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Em nosso estudo compreendemos que o continente americano tem uma divisão territorial em aspectos físicos, que são levados em consideração para a divisão política do continente. Aspectos históricos, que toma como direção a formação histórica dos países e os aspectos socioeconômicos que se baseiam nas diferenças de desenvolvimento dos países na região. Com base em nosso estudo, disserte sobre a divisão territorial do continente americano em aspectos físicos e aspectos históricos e socioeconômicos. 5 Com a colonização dos europeus na América Latina, o processo de miscigenação entre os povos, fica uma dúvida de como devemos identificar nosso povo. Bolívar em um de seus escritos afirmou que “Não somos europeus, não somos índios, mas sim uma espécie intermédia entre os aborígenes e os espanhóis. Americanos por nascimento e europeus por direito, nos encontramos em meio ao conflito de disputar os títulos de propriedade aos nativos e manter-nos no país que nos viu nascer, contra a oposição dos invasores. De maneira que o nosso caso é extremamente extraordinário e complicado. [...] Estamos colocados num grau inferior ao da servidão. Mantenhamos presente que o nosso povo não é nem europeu, nem americano do Norte, é antes uma composição de África e América do que uma emanação da Europa... é impossível determinar com propriedade a que família pertencemos” (BOLÍVAR, 1819, p. 74). Com base neste trecho de Bolívar, disserte sobre a problemática de identidade que se coloca a partir da perspectiva do autor. FONTE: BOLÍVAR, S Discurso pronunciado por el General Bolívar al Congreso General de Venezuela en el acto de instalación. Angostura, 15 feb. 1819. 51 TÓPICO 3 - CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos as características sociais e econômicas dos países latino-americanos. Os países latino-americanos estão em processo de desenvolvimento econômico, são países que apresentam baixa industrialização, predomínio do setor primário: produções agrícolas, extrações minerais, tiveram uma industrialização tardia em relação aos países economicamente mais desenvolvidos, apresentam problemas sociais como pobreza, violência, altos níveis de corrupção, violência contra povos indígenas e racismo são alguns problemas enfrentados. Quanto ao processo de desenvolvimento econômico, os países da América Latina são considerados países em desenvolvimento. A maioria dos países concentram sua produção econômica na exploração de recursos minerais e produtos de origem agrícola. No Brasil, por exemplo, somos grandes produtores de soja e de cana-de-açúcar. Na Venezuela e no México, temos grande exploração de petróleo. Nos recursos minerais, temos o Brasil como um dos maiores produtores de manganês do mundo, Peru e México são grandes produtores de prata e na Bolívia temos a produção do estanho (HEGAX, 2021). Outro fator econômico importante da América Latina é em relação à agricultura, que tem grande concentração de terras, produção de monoculturas. O território do campo em alguns países, como o caso do Brasil, tem grandes conflitos fundiários, e isso é evidenciado por movimentos de luta pela terra, com movimentos sociais de indígenas e trabalhadores rurais sem-terra, que desde a década de 1950 reivindicam a desconcentração de terras em nosso país. Em geral, os países da América Latina são palcos de grandes conflitos de movimentos sociais na luta por direitos que foram negados historicamente, por exemplo, os grupos indígenas e os afrodescendentes e na luta ao combate às desigualdades sociais. Por fim, neste tópico, estudaremos também as condições de trabalho na América Latina, no contexto atual da globalização e do crescente neoliberalismo. O aumento de empregos de baixa qualidade, a uberização do trabalho, baixos salários, a informalidade, falta de proteção aos direitos dos trabalhadores são algumas características desse século XXI na questão do trabalho. E para compreendermos esses países e suas relações econômicas conheceremos os blocos econômicos que constituem as políticas do comércio entre os países. UNIDADE 1 52 2 ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) desde janeiro de 1991 apresenta um panorama social dos países da América Latina. Esse panorama tem como objetivo mostrar o perfil social e econômico dos países. O último panorama foi o de janeiro de 2020, que evidenciou os impactos da Covid-19 sobre os países latino- americanos. A leitura dos vários panoramas disponibilizados nosite da CEPAL, é um bom material para situarmos as problemáticas da questão social e criarmos estratégias para melhorar as condições de desenvolvimento dos países. De acordo com a CEPAL, desde 2015 vêm ocorrendo retrocessos na questão do desenvolvimento social nos países latino-americanos. A pobreza atinge de maneira diferenciada os países, mas isso tem sido preocupante de forma geral, uma vez que vem ocorrendo um “baixo desenvolvimento econômico e profundas transformações demográficas e no mercado de trabalho” (CEPAL, 2018, p. 7). Atualmente, 30,1% da população da América Latina está abaixo da linha de pobreza e 10,7% dos habitantes da região se encontram em situação de pobreza extrema. Isso equivale a aproximadamente 185 milhões de pessoas em situação de pobreza e 66 milhões de habitantes em situação de pobreza extrema (CEPAL, 2019a). Esses dados revelam as dificuldades dos governos latino-americanos em erradicar a pobreza e diminuir as desigualdades sociais. Um dos fatores que levam a porcentagens como essas está na má gestão e nos altos níveis de corrupção em alguns países. Os estudos econômicos da América Latina também podem ser pesquisados na CEPAL desde janeiro de 1990, a instituição promove diferentes análises sobre o desenvolvimento da economia, o desempenho interno e externo, abordando desde o crescimento ao retrocesso econômico em alguns países, mercado de trabalho, políticas econômicas entre outros temas que podem ser discutidos, analisados e podem resultar como base para que possamos conhecer a realidade da economia dos países latino-americanos. Com base nesses estudos da CEPAL, constatamos que nos últimos anos a economia da América Latina passou por uma desaceleração “que afetou 17 dos 20 países da América Latina” (CEPAL, 2019b, p. 9). Isso resulta de baixas taxas de crescimento, fraco desempenho de investimentos e de exportações. Observe a fala do relatório de “Estudo Econômico da América Latina e do Caribe – o novo contexto financeiro mundial: efeitos e mecanismos de transmissão na região”, publicado em 2019. A desaceleração do crescimento econômico enquadra-se num contexto de baixa produtividade em que a taxa de crescimento desta está estagnada ou é negativa, o que tampouco contribui para potencializar o crescimento no médio prazo. O fraco desempenho econômico traduziu- se em piora do mercado de trabalho, com aumento do emprego informal e uma taxa de desocupação urbana em torno de 9,3%. A trajetória econômica média dos países da região foi influenciada, em parte, por 53 um enfraquecimento sincronizado da economia mundial que derivou num cenário internacional desfavorável para a região. As tensões comerciais e os problemas geopolíticos redundaram em desaceleração da dinâmica do crescimento mundial, maior volatilidade financeira e piora das expectativas de crescimento futuro (CEPAL, 2019b, p. 7). Vemos que a economia da América Latina sofre influências externas, ainda hoje sua dependência está relacionada aos países de economias mais desenvolvidas, que compram de nossos recursos para impulsionar a produção no mercado global. As condições de desenvolvimento econômico entre os países da América Latina são diferentes entre si, alguns países apresentam maior industrialização, outros maiores níveis de desenvolvimento agrícola, contudo, todos ainda se encontram na condição de dependência do mercado externo. Essas diferenças também determinam as desigualdades econômicas e sociais na região. Para nos aprofundamentos sobre a industrialização, a agricultura, a condição de periferia econômica da América Latina e os problemas sociais, vamos dedicar tópicos específicos para cada tema. 2.1 INDUSTRIALIZAÇÃO A industrialização da América Latina ocorreu de forma tardia, pois seus recursos minerais estiveram durante muito tempo a serviço do crescimento e da modernização dos países colonizadores. Portanto, essa condição tardia está relacionada ao processo de colonização, e foi a partir da Segunda Guerra Mundial que o processo de industrialização da América Latina se intensificou. Em função desse período histórico a região perdeu acesso a muitos produtos que importava, pois a produção dos países europeus estava voltada para abastecer os países em guerra. A América Latina nesse período tinha uma relação muito forte com os países industrializados, pois ela era exportadora de matéria-prima para esses países e importava destes produtos industrializados, essa relação de dependência, durante muito tempo fez com que a América Latina não impulsionasse seu setor industrial. E no contexto vivenciado da 2ª Guerra Mundial seus produtos foram perdendo mercado e com isso a América Latina precisou tomar medidas para o mercado interno, preocupando-se com além da produção de matérias-primas. Neste sentido, alguns países passaram a importar máquinas para produção de bens, o que evidenciou a necessidade de produção para o mercado interno, portanto, podemos afirmar que as condições de desenvolvimento industrial da América Latina dependeram de fatores externos e internos. Para Unger (1977) os fatores “externos são a Grande Depressão e a II Guerra Mundial” esses foram fatores que impulsionaram nosso desenvolvimento industrial. No “âmbito interno de cada país, o início dos anos 1940 apresentava três aspectos econômicos fundamentais “a) uma rede de infraestrutura relativamente suficiente para iniciar novas atividades industriais [...], b) uma estrutura econômica razoavelmente sólida 54 na área agrícola [...], c) uma concentração de renda desproporcional” (UNGER, 1977, p. 64). Essas características são fundamentais para compreender o processo histórico de desenvolvimento industrial da América Latina. O Estado teve papel fundamental no processo de industrialização da América Latina, com o investimento em desenvolvimento tecnológico. Foi entre os anos de 1950 e 1970 que muitos países experimentaram um crescimento econômico, a partir do avanço da industrialização. Mesmo com esse marco do crescimento econômico, as condições de desenvolvimento social não acompanharam esse processo, o que evidenciou um aumento das desigualdades sociais nos países latino-americanos (SANTOS, 2020). Brasil, México e Argentina foram os países que se destacaram no processo de industrialização da América Latina e foram responsáveis pela metade da produção em 1930 a 1950. Os esforços dos países latino-americanos no processo de industrialização resultaram na atratividade desses países para o mercado internacional. Muitas empresas externas instalaram-se em alguns países como forma de expandir seu capital e aumentar consequentemente sua produção com baixos custos. O que tornava atrativo era a mão de obra excedente e fragilidade sindical. Os países ofereciam benefícios para as empresas como isenções fiscais, tinha-se nesses países um mercado consumidor promissor, as matérias-primas eram abundantes e as leis, principalmente, as ambientais, eram mais frágeis que nos países desenvolvidos. Esses fatores impulsionaram a industrialização, a urbanização e o crescimento produtivo de alguns países latino-americanos. A inserção de empresas estrangeiras nos países latino-americanos impulsionou a produtividade dessa região. No México, por exemplo, a inserção das indústrias maquiladoras, mudou as condições de produção do país. A maioria das empresas inseridas no país eram norte-americanas e o papel destas empresas no México não era se tornarem empresas de desenvolvimento produtivo, tecnológico ou expandir o investimento industrial na região, pelo contrário, as maquiladoras eram empresas que consiste em montar peças de um mesmo produto que foram produzidas em várias partes do mundo, ou seja, o barateamento da produção, o aumento da divisão internacional do trabalho e consequentemente a dependência econômica do México em relação aos Estados Unidos tornou-se maior. Desta forma, a industrialização, mesmo acentuada na região, não promoveu o desenvolvimento plenoda industrialização, mas continuou com processo de produção articulado a condições de dependência, devido à tecnologia deficiente, e ainda continuarmos importando gêneros mais avançados tecnologicamente dos países mais ricos. As políticas de desenvolvimento industrial do Brasil, do México e da Argentina ficaram conhecidas como industrialização por substituição de importações, assim, os investimentos direcionavam-se para o mercado interno em setores de bens de consumo, vestuário e gêneros alimentícios, por exemplo. Nos dias atuais, a economia tem forte presença de multinacionais nos países da América Latina, devido aos benefícios proporcionados pelos Estados para a inserção delas em nosso território, com isso hoje nossas indústrias estão em setores como: agrícolas, extrativistas e alimentícios. 55 Os países mais industrializados são o Brasil, a Argentina e o México. Nos setores das agroindústrias estão os mesmos países citados mais o Uruguai. A industrialização está em constante expansão na América Latina e isso contribui para o crescimento econômico, o aumento produtivo, o estabelecimento de relações comerciais entre os países e o fortalecimento de nossas economias. 2.1.1 Agricultura A América Latina tem na sua história uma base de formação agrícola e até os dias atuais a agricultura é a principal atividade econômica dos países latino-americanos. A estrutura fundiária da América Latina apresenta alta concentração de terras e produção extensiva, sendo cada vez mais valorizada a produção de commodities para a exportação, como a soja, o café, o milho, a cana-de-açúcar. Por outro lado, as pequenas propriedades são responsáveis pela alimentação da população, pois são grandes produtores de produtos como: inhame, batata, feijão, hortaliças, por exemplo. As diferenças nesses modelos de produção entre as grandes e pequenas propriedades são diferenciadas pela alta inserção de tecnologia no processo produtivo. As grandes propriedades usam pouca mão de obra e altas tecnologias produtivas, é uma grande empresa rural que hoje consideramos como agroindústria e fazem parte do mercado do agronegócio. Já as pequenas propriedades não estão vinculadas ao grande capital e usam força de trabalho familiar em sua maioria, em que predomina baixo uso de tecnologia e consequentemente desvalorização no preço de suas mercadorias. No que se refere às grandes propriedades, a produção para exportação está centrada em produtos como o café, que tem El Salvador, Guatemala, Costa Rica, Colômbia e Brasil como produtores destas commodities. O Brasil é um dos maiores produtores da região. A soja também é outro produto muito desejado pelo mercado mundial e os países latino-americanos concentram 50% da produção deste grão. O Brasil, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMPRABA), no ano de 2021, o país produziu 135,409 milhões de toneladas de soja, isso torna o Brasil o maior produtor de grão do mundo, ficando os Estados Unidos em segundo lugar. A cana-de-açúcar também é um produto agrícola que está centrado nas grandes propriedades e é um produto muito importante para o setor do agronegócio. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2021, p. 12), “a cana-de-açúcar é considerada uma das grandes alternativas para o setor de biocombustíveis devido ao grande potencial na produção de etanol e seus respectivos subprodutos. A agroindústria sucroalcooleira nacional, diferentemente do que ocorre nos demais países, opera numa conjuntura positiva e sustentável”. Para a instituição o Brasil é o maior produtor de cana- de-açúcar do mundo e sua produção está direcionada para o açúcar e o etanol. 56 Outro setor da agricultura que têm destaque para os países da América Latina é a criação de animais em larga escala, como a criação do gado e frango. Brasil, Argentina e México são os maiores responsáveis por esse setor. O Brasil é o maior exportador de carne de frango e um dos maiores donos do rebanho bovino do mundo. A Argentina está em quarto lugar na produção de carne bovina no mundo e o México figura entre um dos maiores produtores de frango. A agricultura é de fundamental importância para a economia da região. As diferenças produtivas entre os países da América Latina e entre os grandes proprietários e os pequenos marcam desafios para a região, pois a grande produção está voltada para o mercado externo e isso provoca grandes desigualdades no campo e conflitos agrários em diversos países. Para a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) é na agricultura familiar que temos a base de nossa alimentação e se investirmos nessa área podemos garantir alimentação sustentável e erradicação da fome. Contudo, enquanto estivermos direcionando os investimentos em apenas um setor, como é o caso das grandes propriedades que recebem incentivos do governo, nossa agricultura, o povo do campo e a fome continuará sendo uma problemática que precisa de constante atenção na América Latina. 2.2 AMÉRICA LATINA: PERIFERIA DA ECONOMIA MUNDIAL A condição da América Latina enquanto periferia está na sua base histórica de colonização. No período colonial, a sociedade era organizada em Metrópoles e Colônias, ou seja, aqueles que estavam no centro da economia mundial eram as metrópoles e as colônias eram submissas aos centros. Hoje essa divisão dos países está no conceito de centro e periferia. Neste sentido, os países centrais são aqueles que controlam a economia mundial e as periferias estão na condição de dependência destes. Os países da América Latina não estão no centro da economia mundial como países socioeconomicamente desenvolvidos. Eles estão em condições de crescimento de suas economias e da melhoria das condições de desenvolvimento social, por outro lado, sabemos que ainda há muitos desafios para mudar o quadro de desigualdade social tão forte nessa região. De acordo com Preciado (2008, p. 251) “os Estados-nação têm capacidade de projetar-se como uma semiperiferia ativa”. Neste sentido, países como o México, o Brasil, a Argentina, o Chile e a Venezuela reforçam o papel da América Latina nas relações econômicas mundiais e se colocam numa condição de países ativos, mantendo relações não só com países do Centro da economia mundial, ou os países chamados desenvolvidos (Norte) mas, passam a manter uma relação de periferia para periferia (Sul), ou seja, as relações econômicas não estão 57 apenas na condição de dependência dos países desenvolvidos, as relações ampliam- se juntamente com outras nações periféricas definindo-se, neste sentido, uma relação Sul-Sul e mudando o perfil da relações entre países do Norte e países do Sul. Parafraseando Jaime Preciado (2008, p. 255), “nos processos de centro e periferia, há um papel determinante da semiperiferia”. O autor nos mostra que na América Latina temos países importantes na condição de semiperiferia, ou seja, países que estão dominando processos econômicos, produtivos e se impondo nas relações capitalistas mundiais, como é o caso do Brasil e do México, por exemplo. Para o autor quando usamos os termos “centro e periferia” [...] não estamos usando para identificar apenas países desenvolvidos e subdesenvolvidos, mas estamos explicando processos mais complexos, pois para ele os países se “convertem em centrais, porque dominam os processos de exploração [...] e as regiões periféricas são definidas por sua condição de exploradas pelo centro e subordinadas a seus processos centralizadores e concentradores de recursos” (PRECIADO, 2018, p. 255). Com essa abordagem de Jaime Preciado podemos considerar que os países da América Latina se encontram nessa condição periférica, mas podem também entrar na condição de semiperiferia, pois o autor complementa: Os processos de centro consistem em relações que combinam salários relativamente altos, tecnologia moderna e um tipo de produção diversificada. Os processos da periferia constituem uma combinação de baixossalários, tecnologia mais rudimentar, resultando num tipo de produção simples. A semiperiferia é o espaço que combina, de uma forma particular, ambos os processos. Esse conceito se aplica diretamente a zonas, regiões ou Estados que supõem a exploração da periferia e sofrem a exploração do centro. Essa categoria é a que contém maior dinamismo, e exige a incorporação de processos e perspectivas políticas, a par da análise econômica (PRECIADO, 2018, p. 255). Neste sentido, a América Latina tem países dentro de duas condições: a periférica e a semiperiférica. Essa posição dos países determinam o papel dos países latino-americanos nas relações econômicas mundiais, em acordos políticos, acordos econômicos, acordos militares. São alianças que representam como esses países se fortalecem e se institucionalizam em suas relações no capitalismo mundial. Por exemplo, temos o Mercado Comum do Sul, como um bloco econômico que fortalece as relações econômicas do Brasil, da Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela (veremos mais sobre o MERCOSUL no item 3.1.1 deste tópico), assim como outros blocos e acordos econômicos que estabelecem entre os países a criação de livres comércios, por exemplo. Os acordos econômicos dos países latino-americanos visam fortalecer a posição destes na economia mundial, mas os países precisam avançar muito ainda na economia, no desenvolvimento de tecnologias, na produção, e principalmente na diminuição das desigualdades socais, quadro que se agrava. Para os países latino-americanos ocupar um papel relevante na economia mundial e sair da condição periférica precisa: 58 se encaixar em algumas cadeias que [...] contemplem [...] uma economia moderna, infraestrutura básica, políticas industriais, universidades bem aparelhadas, garantias sociais mínimas e a formação de profissionais altamente qualificados, sem os quais não se pode pensar em patamares mais elevados de desenvolvimento. É uma agenda ainda em construção (PIRES, 2012, p. 137). 2.3 DESIGUALDADES SOCIAIS Já falamos bastante da desigualdade que os países latino-americanos apresentam, essa desigualdade pode ser considerada histórica e estrutural, pois ela constituiu a formação dos países latino-americanos nas relações estabelecidas pelo processo de colonização. Quando analisamos os países latino-americanos percebemos avanços na educação, na economia, na saúde, mas ainda assim, somos a região mais desigual do mundo, pois ainda temos em nossa região altos índices de pobreza, alta concentração de terras, analfabetismo, altos índices de corrupção e violência. Essas problemáticas têm sido agravadas com o processo de globalização, pois ocorre uma modernização constante dos postos de trabalho e isso leva a um aumento do desemprego, a perda de direitos e garantias trabalhistas são refletidas na precarização do trabalho informal, como os trabalhos que cresceram nos últimos anos, o Uber é um exemplo claro, o trabalho sem garantias. A desestruturação das economias e a manutenção da desigualdade de renda são reflexos da falta de investimentos nos setores econômicos, produtivos, educacionais. Além disso, a globalização também promoveu e ainda promove grandes deslocamentos populacionais entre os países latino-americanos, o aumento dos fluxos migratórios é uma resposta à luta pela sobrevivência. Essa América Latina caracterizada pela pobreza, pela condição periférica e pelas desigualdades sociais é também o resultado das relações de dependência existente até os dias atuais com os países mais desenvolvidos. A inserção do capital externo sobre o território da América Latina determina a continuidade da exploração da força de trabalho, da precarização do trabalho, da falta de investimentos em setores necessários para desenvolver melhorias, como planejamento urbano, avanço tecnológico e educação. As condições de desenvolvimento nos aspectos socioeconômicos são diferentes entre os países da América Latina. Para a CEPAL a “maioria dos países” tem passado por um aumento da pobreza de em torno de 209 milhões de pessoas, desse total 78 milhões estariam em situação de pobreza. Com isso, percebe-se um aumento em relação ao ano de 2019 (veja o Gráfico 1). 59 GRÁFICO 1 – AMÉRICA LATINA (18 PAÍSES): PESSOAS EM SITUAÇÃO DE POBREZA E POBREZA EXTRE- MA, 1990-2020 FONTE: CEPAL (2021, p. 7) Esse gráfico sobre a pobreza e a pobreza extrema na América Latina nos permite perceber que a necessidade de investimento nos setores sociais sobre os países latino-americanos torna-se cada vez mais essencial para alcançarmos a condição de igualdade, criando possibilidades de melhoria de vida para a maior parte da população, para que estes possam ter acesso à saúde, educação, emprego e renda. Nossa condição estrutural e histórica de alta concentração de renda, desigualdades raciais, étnicas são fatores que promovem um ciclo vicioso da pobreza na América Latina. Para a CEPAL (2019a, s. p.) “a diminuição da desigualdade de renda é fundamental para retomar o caminho da redução da pobreza. É necessário crescer para igualar e igualar para crescer. A superação da pobreza na região não exige apenas o crescimento econômico; isso deve ser acompanhado por políticas redistributivas e políticas fiscais ativas”. Portanto, a questão só seria resolvida se mudássemos as raízes desse ciclo vicioso de pobreza que se perpetua na América Latina. Por fim, se parafraseando a CEPAL (2019a, s. p.) concluímos que: para erradicar a pobreza e reduzir a desigualdade e a vulnerabilidade dos estratos de baixa e média renda, são necessárias políticas de inclusão social e do trabalho. Também, é necessário um mercado de trabalho que garanta emprego de qualidade e salários decentes, eliminando barreiras na inserção de trabalho das mulheres e fortalecendo o desenvolvimento de sistemas de proteção social integrais e universais no âmbito do Estado de Bem-Estar Social, focados nos direitos e na igualdade. 60 3 PANORAMA DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NA AMÉRICA LATINA As condições de trabalho mudam muito ao longo da história. Inicialmente, na América Latina, as condições de trabalho estavam relacionadas com a escravização. Com a independência dos países e o fortalecimento do capital a partir do avanço da industrialização mudam-se essas relações para o trabalho assalariado. Todavia, nos dias atuais essa relação ainda permanece viva, mas muitas coisas perpassam as condições de trabalho no mundo e na América Latina. O trabalho está relacionado ao modo de produção capitalista, esse modo de produção cada vez mais tem contribuído para a precarização do trabalho, pois a perda de direitos sociais, trabalhistas tem se acentuado com reformas políticas e reformas de legislação com vista ao aumento do lucro das empresas e a máxima exploração da força de trabalho. No cerne desta problemática, o fortalecimento do capitalismo e o enfraquecimento das lutas sociais, dos sindicatos são reflexos das da submissão do trabalhador as condições de exploração no mercado de trabalho. Com a globalização, o avanço das tecnologias, a expansão das multinacionais, as privatizações de empresas públicas, os objetivos do capitalismo vão sendo expandidos sobre várias nações e as condições de trabalho vão constantemente se modificando, principalmente na garantia dos direitos trabalhistas. Segundo Araújo (2019, s. p.), em texto publicado para o site Justificando em 2019, as palavras como “flexibilização, terceirização, informalidade, tornam-se cada vez mais frequentes no mundo do trabalho contemporâneo”. De forma geral, não só na América Latina, isso é reflexo da globalização. A metamorfose do trabalho hoje pode ser caracterizada pela ideia de “autonomia e empreendedorismo”, como por exemplo o Uber, Araújo (2019) destaca. O Uber é um desses processos de autonomia pregada como possibilidade de ter melhor renda, quando na verdade há uma informalização do trabalho e você torna- se responsável pela própria manutenção laboral não tendo garantiastrabalhistas nesse sistema. Essa realidade que se perpetua também na América Latina reflete nossa subordinação as imposições de trabalho lançada pelo capital, subordinação que nos condiciona a tentativa de sobreviver. Para Araújo (2019, s. p.) “com a gradativa e contínua destruição do trabalho formal, com carteira assinada e os direitos sociais dela decorrentes, o que sobra é uma desoladora precarização das condições de vida e existência da classe trabalhadora”. Neste sentido, a crescente instabilidade do mercado de trabalho faz com que os trabalhadores busquem possibilidade de sobrevivência diante dos trabalhos existentes e consequentemente agrava-se nesse contexto as desigualdades vinculadas as condições de trabalho na América Latina. 61 Essas desigualdades estão presentes entre homens e mulheres, jovens e negros. O trabalho está relacionado à dignidade humana, à condição de se manter dentro das relações de consumo: alimentação, moradia, vestimenta, transporte, saúde e lazer. Portanto, o trabalho é fundamental para a manutenção de nossa vida. A desigualdade que se alastra sobre o mercado de trabalho na América Latina está ligada também às condições educacionais e à falta de políticas estatais para a qualificação da forma de trabalho. A precarização é um projeto do próprio capital parta se manter forte dentro da manutenção e do controle das relações trabalhistas. Para o diretor da Organização Internacional do Trabalho, Vinícius Pinheiro, as condições de trabalho na América Latina são refletidas através da “alta informalidade, espaços fiscais reduzidos, desigualdade persistente, baixa produtividade e escassa cobertura de proteção social, somados a problemas que ainda persistem como o trabalho infantil e o trabalho forçado, fazem parte das questões pendentes na região”. Para ele essas condições foram agravadas no contexto da pandemia do Covid-19, o que de acordo com a Série Panorama Laboral de 2021da OIT (REGIÃO [...], 2021, s.p.), a América Latina perdeu “26 milhões de empregos em um ano de pandemia”. Situação que agrava as condições de sobrevivência da maior parte da população, aumenta a pobreza e consequentemente a precarização do trabalho. Ainda de acordo com Série Panorama Laboral 2021, houve um impacto de desemprego muito intenso entre as mulheres, principalmente em setores econômicos que foram bastante afetados como hotéis e restaurantes, e atividades dos setores domésticos. A informalidade afeta uma em cada duas mulheres na região. Nos setores econômicos altamente feminizadas, como o trabalho doméstico, a taxa de informalidade atinge pelo menos 80/90 por cento (REGIÃO [...], 2021). Por fim, para a OIT (REGIÃO [...], 2021) a persistência da pobreza é uma das manifestações mais visíveis das dificuldades que a região experimenta para manter um caminho de crescimento sustentado e inclusão social. Há um desafio crescente na região, é preciso melhorar as condições de trabalho, cada vez mais urgente na América Latina, pois a pandemia nos mostrou a necessidade de ampliarmos as condições de desenvolvimento da região, uma vez que cada vez mais se agrava com as problemáticas existentes no capitalismo mundial. Tornam-se necessárias medidas de recuperação dos postos de trabalho, garantia de direitos e segurança laboral. Para compreender o debate sobre a questão do trabalho no contexto atual da globalização e o avanço da precarização trabalhista, recomendamos a leitura do livro de Ricardo Antunes: O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviço na era digital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2018. DICA 62 3.1 OS DESAFIOS DA FORÇA DE TRABALHO NA AMÉRICA LATINA A categoria trabalho está relacionada ao homem e a natureza, em suas relações de produção para sua subsistência e para a manutenção do capital. Para Marx o trabalho é uma condição meramente humana (MARX, 2017). É o trabalho que torna a matéria- prima em mercadoria, assim tornando-se valor de uso. Mas, “a forma de trabalho em si não revela como este é constituído, quais as condições que é desenvolvido” (SANTOS; MELCHIORETO, 2021, p. 5). O trabalho é a base da formação da sociedade, ele dá forma as mercadorias, ele determina as condições de sobrevivência, assim como, determina relações sociais, econômicas e políticas, é por meio do trabalho que a sociedade evolui. Para Ricardo Antunes (2021, s. p.), em seu texto na Enciclopédia Latino Americana “o continente latino-americano nasceu sob a égide do trabalho”. Antes da colonização nosso trabalho era coletivo e para a subsistência, com a colonização nossas condições de trabalho passaram por profundas transformações que caracterizava a “expansão comercial e a acumulação primitiva” do capital (ANTUNES, 2021, s.p.). Podemos considerar que a primeira fase das condições de trabalho em nossa região esteve, portanto, organizada sobre a escravidão. A segunda nas condições de assalariamento devido a intensificação da Revolução Industrial na Europa e a terceira, nos dias atuais, além do trabalho assalariado, a informalidade, a precarização da força de trabalho na nossa região. Nos dias atuais, as condições de trabalho estão refletidas numa conjuntura de crise, pois a Covid-19 impactou a situação de trabalho na América Latina, principalmente entre grupos menos qualificados, entre mulheres e jovens e trabalhadores domésticos. Para a CEPAL e a Organização Internacional do Trabalho a retomada do mercado de trabalho na América Latina será lenta. A pandemia de COVID-19 ocorre em um momento de fragilidade econômica mica na região da América Latina e do Caribe: nos últimos anos, houve uma deterioração do PIB per capita, além de um aumento da informalidade do trabalho, que já está atingindo 56% dos trabalhadores. Algumas projeções estimam que, devido à crise causada pelo coronavírus, entre 5,4 e 18 milhões de empregos podem ser perdidos na região, o que ele- varia o percentual de trabalho informal para 62% de todos os empregos (ARBOLEDA et al., 2020, p. 1). Essa crise sanitária e de empregabilidade é um desafio para os Estados e as empresas que precisam lidar com a queda na produção, nos salários e no consumo. Essas condições atuais levaram ao aumento da desigualdade nas relações de trabalho, assim como, ao aumento das desigualdades sociais. Isso é marcado pela informalização do trabalho que tem crescido nos últimos anos e se agravado com a crise de saúde global. 63 Esse quadro atual revela desafios para todos e é preciso que o Estado possa garantir condições mínimas de renda para os trabalhadores, ou buscar estratégias de garantir condições de trabalho pós a crise, aumentar os investimentos e benefícios para pequenas e grandes empresas se recuperarem e possibilitar o aumento da oferta de trabalho na região, pois vários setores produtivos foram atingidos. A Enciclopédia Latino-americana foi publicada em 2007 e sua versão ele- trônica está disponível em: http://latinoamericana.wiki.br/. Ela é constan- temente atualizada e nos ajuda a entender temas como: arquitetura; artes plásticas; cinema; ciência e tecnologia; dança; ditaduras; diversidade cultu- ral; diversidade sexual; diversidade étnica; economia; educação; educação e universidade; energia; esporte; esquerda; estado; gastronomia e culiná- ria; geopolítica; geopolítica e relações internacionais; igrejas e religiões; li- deranças de movimentos e partidos; literatura; meio ambiente; migrações; movimentos sociais e partidos; mídia; música; neoliberalismo; país; pensa- mento social; questão agrária; questão ambiental; questão social; relações internacionais; teatro; trabalho etc. Todos os temas em questão englobam o contexto na América Latina. Vale a pena conhecer a enciclopédia. DICAS 3.1.1 Blocos econômicos da América Latina Chegamos ao nosso último item do Tópico 1. Aqui nos deteremos a conhecer o que são os blocos econômicos, quais são os tipos de blocos econômicos e quais os blocos que constituem a América Latina. Com a globalização e o aumentodas relações econômicas mundiais se foram estabelecendo cada vez mais relações de troca entre as economias mundiais, mas essas relações não se restringiram apenas à economia. As questões culturais, políticas e sociais também foram afetadas com esse processo que vem avançando desde a década de 1990. E sobre essa realidade que os blocos econômicos surgem como uma possibilidade de diminuir fronteiras que os países impõem sobre a circulação de pessoas e mercadorias. Os blocos estão divididos em níveis diferentes de integração e podem ser conhecidos como Zonas de Livre Comércio, União Aduaneira, Mercado Comum e União Econômica Monetária. Na América Latina, temos vários tipos de blocos tais como: Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA); Área de Livre Comércio das Américas (ALCA); Mercado Comum do Sul (MERCOSUL); Comunidade Andina (CAN). Cada um desses blocos é representado por diversos países membros ou associados. Além dos blocos econômicos da América Latina temos também blocos na Europa, na Ásia e na África. Veja alguns no mapa da Figura 10. 64 FIGURA 10 – PRINCIPAIS BLOCOS ECONÔMICOS DO MUNDO FONTE: <https://bit.ly/3pUGB6s>. Acesso em: 21 set. 2021. Vamos conhecer cada bloco que se constitui na América Latina. • Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA) Essa aliança foi proposta pelo ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, na III Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Associação de Estados do Caribe, realiza- da em 2001, na Ilha da Margarida na Venezuela. De acordo com a Declaração Conjunta entre o Presidente da República Bolivariana de Venezuela (Hugo Chávez Frías) e o Presi- dente do Conselho da República de Cuba (Fidel Castro Ruz) para a criação da ALBA (de- claração na íntegra no tópico da Leitura Complementar), eles consideram que a Aliança deve ser “guiada pela solidariedade mais ampla entre os povos da América Latina e do Caribe, que se baseia no pensamento de Bolívar, Martí Sucre, O’Higgins, San Martín, Hi- falgo, Petion, Morazán, Sandino e tantos outros heróis, sem nacionalismos egoístas ou políticas restritivas, que neguem o objetivo de construir uma Grande Pátria na América Latina, como sonhavam os heróis de nossas lutas emancipatórias”. Essa aliança ocorre contra os pressupostos da ALCA. Para os representantes da aliança a ALCA não cola- bora para a independência da América Latina e fortalece a condição de dependência desta região aos países economicamente mais desenvolvidos, ou os países do centro. Atualmente a ALBA é formada pela Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua e Dominicana. • Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) A ALCA foi criada em 1994 na Primeira Cúpula das Américas, mas mesmo com as posições favoráveis de alguns países, ela nunca foi efetivada. “A iniciativa partiu basicamente do Presidente Bill Clinton, retomando a ideia lançada por George Bush, 65 quando de sua visita à América Latina em 1992” (DRUMMOND, 2006, p. 1-2). Ela deveria ser o maior bloco econômico da América Latina, mas muitos países ainda receiam a efetividade do bloco, pois para estes, como é o caso do Brasil, da Venezuela e da Bolívia por exemplo, a ALCA sendo institucionalizada favoreceria apenas ao Estados Unidos devido as suas condições de desenvolvimento ser melhor que as dos países do continente americano. A ALCA tinha como proposta diminuir as barreiras alfandegárias e tarifárias, entre os países, facilitando desta forma o comércio na região. • Comunidade Andina (CAN) A CAN foi constituída pela Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, Chile, Venezuela em 26 de maio de 1969 pelo Acordo de Cartagena. Seu objetivo inicial era restringir a entrada do capital estrangeiro. Hoje seus objetivos estão direcionados para alcançar o desenvolvimento equilibrado e autônomo por meio da integração entre os países membros. Esses países membros nos dias atuais são: Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Observe os Quadros 2 e 3 elaborados por Sergio Goldbaum e Victor Nóbrega Luccas, da Fundação Getúlio Vargas, que publicaram, em 2001, um artigo na Escola de Economia da instituição sobre a Comunidade Andina. Nesses quadros podemos observar alguns acontecimentos importantes da Comunidade, tais como: seu surgimento, acordos e protocolos entre 1969 e 2010, suas crises e a saída da Venezuela. QUADRO 2 – COMUNIDADE ANDINA DAS NAÇÕES FONTE: Goldbaum e Luccas (2012, p. 5) 66 QUADRO 3 – CRONOLOGIA DAS CRISES DA CAN E DA SAÍDA DA VENEZUELA FONTE: Goldbaum e Luccas (2012, p. 18) Percebemos que a criação de um bloco econômico e sua manutenção não é fácil, pois envolve interesses econômicos e políticos dos países, gerando diferentes interesses entre os países membros, por isso a importância de definir os rumos do bloco, seus objetivos e o papel de cada país nessas relações. • Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) É o bloco mais importante da América Latina. Ele foi fundado em 1991, surgiu como um instrumento de cooperação do desenvolvimento para a América do Sul. O Brasil é um dos países mais importantes do bloco, seguido da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Esses foram os países signatários do Tratado de Assunção, que estabeleceu a criação do bloco. A Venezuela chegou a integrar o bloco em 2012, mas foi suspensa em 2016, devido a uma ruptura de ordem democrática do país. Os outros países sul- americanos participam na qualidade de estados associados. O objetivo do bloco é formar um mercado comum que vise à livre circulação interna de bens e serviços, assim como uma política comum entre os países no sentido econômico. Na Unidade 2 do nosso Livro Didático, nós vamos estudar com mais apro- fundamento este bloco devido a sua importância para a economia da América Latina e principalmente da América do Sul. Pois 69,2% do Produto Interno Bruto da América do Sul provém dos países membros do bloco. ESTUDOS FUTUROS 67 Chegamos ao final da Unidade 1, esperamos que você tenha aprendido muito, mas ainda não acabamos de fato. Como possibilidade de desenvolver novos conhecimento sugerimos que você possa ler a declaração conjunta dos representantes políticos da Venezuela e de Cuba na criação da ALBA. É um texto muito importante para compreendermos relações políticas, diferentes posicionamentos políticos e os caminhos e proposições para integrações econômicas. E após essa leitura faça a autoatividade para fixar os conteúdos que você aprendeu até aqui. Bom estudo! 68 DECLARAÇÃO CONJUNTA VENEZUELA – CUBA Fidel Castro Ruz Hugo Chávez Frías Durante a visita oficial do Presidente Hugo Chávez Frías a Cuba no décimo aniversário de seu primeiro encontro com o povo cubano, houve um amplo e profundo intercâmbio entre o Presidente da República Bolivariana da Venezuela e o Presidente do Conselho de Estado da Venezuela. República de Cuba, acompanhados de suas respectivas delegações. Ambos os Chefes de Estado concordaram em subscrever os seguintes pontos de vista: Ressaltamos que a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) é a expressão mais completa do apetite de dominação da região e que, se entrar em vigor, constituirá um aprofundamento do neoliberalismo e criará níveis de dependência e dependência sem precedentes, subordinação. Fazemos uma análise histórica do processo de integração da América Latina e do Caribe e constatamos que, longe de responder aos objetivos do desenvolvimento independente e da complementaridade econômica regional, tem servido como mecanismo para aprofundar a dependência externa e a dominação. Observamos também os benefícios obtidos nas últimas cinco décadas pelas grandes empresas transnacionais, o esgotamento do modelo de substituição de importações, a crise da dívida externa e, mais recentemente, a disseminação das políticas neoliberais, com maior transnacionalização das economias dos países latino- americanos e caribenhos, e com a proliferação de negociações para a conclusão de acordos de livre comércio da mesma natureza da ALCA, criam as bases que caracterizam o panorama de subordinação e a demora que hojesofre nossa região. Portanto, rejeitamos firmemente o conteúdo e os propósitos da ALCA, e compartilhamos a convicção de que a chamada integração em bases neoliberais que ela representa consolidaria o panorama descrito e só levaria à ainda maior desunião dos países latino-americanos, à maior pobreza e desespero dos setores majoritários de nossos países, à desnacionalização das economias da região e a uma subordinação absoluta aos ditames do exterior. Deixamos claro que embora a integração seja, para os países da América Latina e do Caribe, condição essencial para aspirar ao desenvolvimento em meio à crescente formação de grandes blocos regionais que ocupam posições predominantes na economia LEITURA COMPLEMENTAR 69 mundial, somente a integração baseada na cooperação, na solidariedade e na vontade comum de fazer avançar todo o consumo para níveis mais elevados de desenvolvimento, pode satisfazer as necessidades e desejos dos países latino-americanos e caribenhos e, ao mesmo tempo, preservar sua independência, soberania e identidade. Concordamos que a Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA), proposta pelo Presidente Hugo Chávez Frías por ocasião da III Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Associação de Estados do Caribe, realizada na ilha de Margarita em dezembro de 2001, delineia os princípios norteadores da verdadeira integração latino-americana e caribenha, com base na justiça, e nos comprometemos a lutar juntos para torná-la realidade. Afirmamos que o princípio fundamental que a ALBA deve guiar é a solidariedade mais ampla entre os povos da América Latina e do Caribe, que se baseia no pensamento de Bolívar, Martí, Sucre, O'Higgins, San Martín, Hidalgo, Petion, Morazán, Sandino e tantos outros heróis, sem nacionalismos egoístas ou políticas nacionais restritivas que neguem o objetivo de construir uma Grande Pátria na América Latina, como sonhavam os heróis de nossas lutas emancipatórias. Nesse sentido, concordamos plenamente que a ALBA não se realizará com critérios mercantilistas ou interesses egoístas de lucro corporativo ou benefício nacional em detrimento de outros povos. Somente uma visão latino-americanista ampla, que reconhece a impossibilidade de nossos países se desenvolverem e serem verdadeiramente independentes isolados, poderá realizar o que Bolívar chamou de “[...] ver a formação da maior nação do mundo na América, menos por seu tamanho e riqueza que pela sua liberdade e glória ", e que Martí concebeu como" América Nossa", para diferenciá-la das demais América, apetites expansionistas e imperiais. Expressamos também que o objetivo da ALBA é transformar as sociedades latino-americanas, tornando-as mais justas, cultas, participativas e solidárias e que, portanto, é concebido como um processo integral que garante a eliminação das desigualdades sociais e promove a qualidade de vida, participação efetiva dos povos na construção de seu próprio destino. Compartilhamos o critério de que, para atingir os objetivos declarados, a ALBA deve ser guiada pelos seguintes princípios e bases cardeais: 1. O comércio e o investimento não devem ser objetivos em si próprios, senão instrumentos para conseguir um desenvolvimento justo e sustentável, pois a verdadeira integração latino-americana e caribenha não pode ser filha cega do mercado e também não pode ser uma simples estratégia para ampliar os mercados externos ou estimular o comércio. Para consegui-lo, requere uma efetiva participação do Estado como regulador e coordenador da atividade econômica. 2. Tratamento especial e diferenciado, que leva em consideração o nível de desenvolvimento dos diversos países e o tamanho de suas economias, e que garante o acesso de todas as nações que participam dos benefícios derivados do processo de integração. 70 3. Complementaridade econômica e cooperação entre os países participantes e a não competição entre países e produções, de forma a promover uma especialização produtiva eficiente e competitiva compatível com o desenvolvimento econômico equilibrado de cada país, com estratégias de combate à pobreza e com a preservação da a identidade cultural dos povos. 4. Cooperação e solidariedade que se expressam em planos especiais para os países menos desenvolvidos da região, incluindo um Plano Continental contra o Analfabetismo, utilizando tecnologias modernas já testadas na Venezuela; um plano latino-americano de tratamento de saúde gratuito para os cidadãos que carecem desses serviços e um plano regional de bolsas de estudo nas áreas de maior interesse para o desenvolvimento econômico e social. 5. Criação do Fundo de Emergência Social, proposto pelo Presidente Hugo Chávez na Cúpula dos Países da América do Sul, realizada recentemente em Ayacucho. 6. Desenvolvimento integrativo de comunicações e transporte entre os países da América Latina e do Caribe, incluindo planos conjuntos para rodovias, ferrovias, linhas marítimas e aéreas, telecomunicações e outros. 7. Ações para promover a sustentabilidade do desenvolvimento por meio de regulamentações que protejam o meio ambiente, estimulem o uso racional dos recursos e evitem a proliferação de padrões de consumo esbanjadores e alheios à realidade de nossos povos. 8. Integração energética entre os países da região, que garante o abastecimento estável de produtos energéticos em benefício das sociedades latino-americanas e caribenhas, promovida pela República Bolivariana da Venezuela com a criação da Petroamérica. 9. Promoção do investimento de capitais latino-americanos na própria América Latina e Caribe, com o objetivo de reduzir a dependência dos países da região de investidores estrangeiros. Para tanto, seriam criados um Fundo Latino-americano de Investimentos, um Banco de Desenvolvimento do Sul e a Sociedade Latino- americana de Garantias Recíprocas, entre outros. 10. Defesa da cultura latino-americana e caribenha e da identidade dos povos da região, com particular respeito e promoção das culturas autóctones e indígenas. Criação da Televisora del Sur (TELESUR) como um instrumento alternativo a serviço da difusão de nossas realidades. 11. As medidas de normas de propriedade intelectual, ao mesmo tempo que protegem o patrimônio dos países latino-americanos e caribenhos contra a voracidade das empresas transnacionais, não freiam a necessária cooperação em todas as áreas entre nossos países. 12. Concertación de posiciones en la esfera multilateral y en los procesos de negociación de todo tipo con países y bloques de otras regiones, incluida la lucha por la democratización y la transparencia en los organismos internacionales, particularmente en las Naciones Unidas y sus órganos. No ano que comemora o 180º aniversário da gloriosa vitória de Ayacucho e da convocação ao Congresso Anfictiônico do Panamá, que procurou abrir caminho a um verdadeiro processo de integração de nossos países, frustrados desde então, 71 expressamos nossa convicção de que que agora, finalmente, com a consolidação da Revolução Bolivariana e o incontestável fracasso das políticas neoliberais impostas a nossos países, os povos latino-americanos e caribenhos estão a caminho de sua segunda e verdadeira independência. O surgimento da Alternativa Bolivariana para as Américas proposta pelo Presidente Hugo Chávez Frías no seu melhor. Assinado em Havana, no dia 14 de dezembro de 2004. Fidel Castro Ruz Presidente do Conselho de Estado da República de Cuba Hugo Chávez Frías Presidente da República Bolivariana da Venezuela FONTE: <https://bit.ly/3J3GKvZ>. Acesso em: 29 ago. 2021. 72 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Os países latino-americanos estão em processo de desenvolvimento e são países que apresentam baixa industrialização e predomínio do setor primário. • A industrialização dos países da América Latina foi tardia. • A agricultura é muito importante para a América Latina, pois temos países que são grandes produtores econômicos de commoditiese essas produção são importantes para o mercado externo. • A América Latina tem alguns blocos econômicos que facilitam as relações comerciais entre os países membros, como a ALBA, a CAN e o Mercosul. 73 1 Com base nos estudos sobre os blocos econômicos que constituem acordos comerciais da América Latina, podemos considerar que um bloco econômico pode ser caracterizado por seus diferentes níveis de integração e podem ser conhecidos como: assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Alba; Alca; CAN; Mercosul. b) ( ) Zona aduaneira, União Comum, Zona Monetária. c) ( ) Zonas de Livre Comércio, União Aduaneira, Mercado Comum e União Econômica Monetária. d) ( ) Alba, Zona Aduaneira, Mercosul, União Econômica. 2 As relações de trabalho nos últimos anos foram modificadas em função da globalização, da crescente industrialização, e com isso houve muitas mudanças nas relações de trabalho, nas leis trabalhistas, nas formas de contratação. Na América Latina essas mudanças impactaram muitos países. Neste sentido, analise as sentenças a seguir sobre as condições de trabalho na América Latina. I- Trabalhos baseados em flexibilização, terceirização, informalidade, tornam-se cada vez mais frequentes na América Latina. II- Com a globalização, o avanço das tecnologias, a expansão das multinacionais, as privatizações de empresas públicas o mercado de trabalho foi ampliado na América Latina, gerando mais renda e desenvolvimento para os países. III- A Covid-19 impactou profundamente as relações de trabalho na América Latina, prejudicando principalmente mulheres e jovens. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Os países da América Latina apresentam grandes desigualdades sociais. As condições de subdesenvolvimento são agravadas pelo desemprego, desestrutura urbana, migrações, modernização, aumento dos trabalhos informais etc. Sobre as desigualdades sociais na América Latina, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: AUTOATIVIDADE 74 ( ) Com a globalização e a modernização dos postos de trabalho, houve impactos significativos na América Latina, tais como: aumento do desemprego, perda de direitos e garantias dos trabalhadores, precarização do trabalho e aumento do trabalho informal. ( ) A América Latina é caracterizada pela pobreza, pela condição periférica e pelas desigualdades sociais. Mas países como o Brasil, Venezuela, Argentina e Chile fogem dessas caracterizações por serem grandes exportadores e produtores na economia mundial. ( ) Para a CEPAL, a maioria dos países da América Latina vão na contramão do desenvolvimento, pois a pobreza tem aumentado nos últimos anos, principalmente com a crise sanitária vivida pela Covid-19 no mundo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A industrialização dos países latino-americanos é considerada tardia, pois enquanto os países latino-americanos estavam na primeira fase da industrialização os países europeus já tinham avançado muito, isso pode ser explicado por fatores externos e internos. Explique, quais são esses fatores. 5 Podemos considerar a Área de Livre Comércio das Américas como um projeto de bloco econômico, pois foi criada em 1994 e ainda não efetivada. A ALCA foi estruturada para visar à integração econômica entre os países do continente Americano, que foi pensada no Governo de Geog W. Bush, dos Estados Unidos. Há uma conflitualidade na aceitação da Alca e por isso que sua criação ainda não foi efetivada. Explique o motivo dessa situação? 75 REFERÊNCIAS ADAS, M. Expedições geográficas: 8º ano. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2018. (Manual do professor). 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WASSERMAN, C. História da América Latina: cinco séculos (temas e problemas). 4. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS. 2010. p. 177-214. 80 81 RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA: TEORIAS ECONÔMICAS, MIGRAÇÕES E A ECONOMIA DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer as principais teorias econômicas da América Latina; • identificar os principais fatores dos fluxos migratórios na América Latina; • compreender os impactos decorrentes dos fluxos migratórios nos países de atração e nos de expulsão; • discutir sobre a economia dos principais países da América Latina; • analisar os impactos sociais e econômicos decorrentes dos governos militares na América Latina. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – TEORIAS ECONÔMICAS NA AMÉRICA LATINA TÓPICO 2 – MIGRAÇÕES TÓPICO 3 – ECONOMIA DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 82 CONFIRA A TRILHADA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 83 TÓPICO 1 — TEORIAS ECONÔMICAS NA AMÉRICA LATINA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos as principais teorias econômicas elaboradas pela Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). A Comissão Econômica para a América Latina foi criada em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a busca de soluções entorno dos problemas econômicos vivenciados pelos países latino-americanos. Lembre-se de que você conheceu um pouco da Cepal na Unidade 1. Aqui vamos nos deter a conhecer a estrutura da Cepal e a construção do seu pensamento para analisar a economia dos países da América Latina. As teorias do pensamento Cepalino têm como base o pensamento de autores como, Celso Furtado e Raul Prebisch. Essas teorias do desenvolvimento centram sua análise na economia latino-americana, estas são conhecidas como a teoria da dependência; a teoria da relação centro-periferia. As teorias Cepalinas apresentam análises sobre o subdesenvolvimento dos países latino-americanos e proposições de superação através dos investimentos em industrialização. Este tópico abrange também uma leitura sobre as relações econômicas da América Latina com os Estados Unidos, a Europa, África e Ásia. A América Latina, por ser uma região que engloba países que fazem parte da América do Sul e da América Central, tem diferentes relações econômicas, como veremos através das políticas externas estabelecidas entre os países. O estudo das teorias econômicas nos ajuda a compreender um período histórico im- portante para a economia da América Latina (1950-1960), um período pós-guerra que possi- bilitou a análise dos países em dois mundos: os dos desenvolvidos e os dos subdesenvolvidos. Neste contexto histórico, as teorias Cepalinas são desenvolvidas para analisar as raízes do subdesenvolvimento, a tardia industrialização e a condição dos países periféricos. No YouTube, há um curso promovido pelo Espaço de estudo e análise da América Latina (IELA) disponível gratuitamente. O nome do curso é: O que ler para entender a América Latina? Acesse: https://bit.ly/3LHs7QA. DICA 84 2 COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE (CEPAL): O PENSAMENTO CEPALINO A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) foi criada em 1948. A Cepal é uma comissão regional das Nações Unidas, tem sede no Chile. Sua fundação teve como objetivo contribuir para o desenvolvimento econômico da América Latina. Desde a sua fundação, a Comissão promove e reforça as relações econômicas entre os países da América Latina e do mundo. A Cepal tem ampliado seus estudos para além de fatores econômicos, cada vez mais estuda questões sociais, desenvolvimento sustentável, assentamentos humanos, assuntos de gênero, população e recursos naturais. Nos aspectos econômicos seus estudos estão relacionados ao comércio internacional, ao desenvolvimento produtivo, econômico e empresarial (CEPAL, 2021). De acordo com Almeida Filho e Corrêa (2011, p. 93), “a Cepal foi, durante os anos 1950, e até os anos 1970, uma Escola do Pensamento”, ou seja, esteve voltada para interpretar o desenvolvimento econômico da América Latina. Para os autores a Cepal confrontou pensamento da visão dominante sobre o desenvolvimento e buscou nortear uma análise sobre as condições de desenvolvimento econômico pós Segunda Guerra Mundial. As teorias dominantes sobre desenvolvimento destacavam dois mundos: os desenvolvidos e os subdesenvolvidos. Essas características atribuídas aos países estavam ligadas às condições históricas. Para as teorias dominantes os países iam se desenvolvendo conforme avançavam econômica, política e socialmente. As fases levariam aos diferentes estágios de desenvolvimento, neste sentido, os países subdesenvolvidos chegariam a condições melhores, ou seja, à medida que tendiam a crescer economicamente chegariam à condição de países desenvolvidos. Para contradizer essa lógica dominante a Cepal tinha outra vertente de análise. Para a Comissão os países subdesenvolvidos não atingiriam as mesmas condições de desenvolvimento dos países ricos, pois, o subdesenvolvimento foi impulsionado pela própria dominação dos países desenvolvidos que por meio da exploração colonial colocaram os países da América Latina na condição de periferia no sistema econômico mundial, e essa condição é essencial para a manutenção do aumento do capital e do poder dos países desenvolvidos sobre outras economias. De acordo com Santos e Oliveira 2008, p. 5), “as ideias formuladas pelos cepalinos buscaram identificar os problemas resultantes da tardia industrialização [...] e tiveram contribuição inquestionável para o surgimento de uma teoria do subdesenvolvimento econômico”. No primeiro ciclo de pensamento da Cepal, fins das décadas de 1940 e 1950, a solução para o subdesenvolvimento de acordo com os estudiosos da Comissão era o investimento massivo na industrialização, isso promoveria a melhoria das economias periféricas (SANTOS; OLIVEIRA, 2008). A Cepal, através de seus pensadores, contribuiu 85 para que os países da periferia pudessem pensar a partir de sua realidade com a sua própria interpretação, destituindo, desta forma, a leitura de sua realidade a partir da análise dos países dominantes. Uma segunda fase para a comissão é entre as décadas de 1950 e 1970. Nesse período, “os focos de análise foram os problemas que obstruíram o desenvolvimento econômico dos países periféricos” (SANTOS; OLIVEIRA, 2008, p. 6). Nesse período surgiram duas teses a respeito da inflação e da heterogeneidade estrutural. Um terceiro período que marca as fases da Cepal foi a década de 1990, com o avanço das tecnologias. Esta nova fase “apresenta a conquista da estabilização monetária as custas de rigorosas políticas de contenção fiscal por alguns países latino- americanos [...] e reformas econômicas” (SANTOS; OLIVEIRA, 2008, p. 6). A fundamentação das teorias da Cepal está baseada em alguns autores que merecem atenção neste nosso estudo, a saber: Raul Prebisch, Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso e Enzo Falleto. Cada um dos autores desenvolveu teorias para pensar a América Latina. Raul Prebisch, com sua teoria estruturalista, defendia que para a América Latina sair da condição periférica precisaria elevar a produtividade do trabalho. Para ele havia uma relação entre centro e periferia, ou seja, os países que englobavam o centro e a periferia determinavam, a partir de suas relações, a economia mundial. Celso Furtado, por sua vez, teve uma abordagem mais ampla, ele aprofundou o debate do subdesenvolvimento. Ou seja, os países periféricos, ou subdesenvolvidos tinham essas condições em função dos processos históricos, como a exploração europeia. Neste sentido, Furtado discorda que os países centrais passaram pelo estágio de subdesenvolvimento para chegar às condições atuais de desenvolvimento. Por fim, Falleto e Cardoso desenvolveram a teoria da dependência que evidenciava a subordinação dos países da periferia em relação aos países centrais. Para aprofundar seus estudos sobre as teorias da Cepal, você pode ler os seguintes livros: • CARDOSO, F. H.; FALETTO, E. Dependência e desenvolvimento na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. • BIELSCHOWSKY, R. Cinquenta anos de pensamento na Cepal. Rio de Janeiro: Record; Cofecon; Cepal, 2000. v. 1. • CANO, W. América Latina: do desenvolvimentismo ao neoliberalismo. In: FIORI, J. L. (Org.). Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 287-326. (Coleção Zero à Esquerda). • CARDOSO, F. H. Originalidade da cópia: a Cepal e a ideia de desenvolvimento. In: As ideias e seu lugar: ensaios sobre as teorias do desenvolvimento. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 27-80. DICA 86 2.1 A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO A definição do desenvolvimento no contexto da sociedade capitalista está estritamente vinculada aos aspectos econômicos, ou seja,ao crescimento da industrialização, da circulação, do lucro, do Produto Interno Bruto dos países, ou seja, todos os indicadores econômicos norteiam a definição de desenvolvimento. Esse pensamento sobre o desenvolvimento econômico, atrelado às ideias dos países centrais, evidenciou a necessidade de os países periféricos pensarem outra possibilidade de desenvolvimento, ou outra análise sobre a realidade dos países latino-americanos. A economia dos países subdesenvolvidos precisava passar por processo de transformação, ou seja, só conseguiriam ser desenvolvidas se estivessem superando os estágios do desenvolvimento econômico, tais como, modernização, industrialização, aumento produtivo. Mas, o que chama atenção nesta discussão é justamente o fato de a teoria do desenvolvimento não levar em consideração fatores históricos dos países periféricos. De acordo com Almeida e Salomão (2021, p. 11), Os modelos de desenvolvimento até então discutidos não abordavam a dimensão histórica do desenvolvimento econômico. Nesse sentido, supor a revolução industrial e a modificação do paradigma de produção subjacente à experiência inglesa como o único caminho de desenvolvimento a ser seguido – por qualquer país, em qualquer contexto – mostrava-se uma perspectiva limitada e irreal para a América Latina. Na América Latina, o pensamento Cepalino vai na contramão dessa análise eurocêntrica. A realidade dos países centrais não é capaz de ajudar na compreensão dos países periféricos, em função das distintas formas de organização do espaço econômico, social e político. Para explicar as diferenças existentes entre esses países e compreender a realidade dos países de economia periférica, os pensadores da Cepal tiveram como desafio construir um pensamento próprio sobre o desenvolvimento econômico dos países. Aqui merece atenção o pensamento de Raúl Prebisch e Celso Furtado que fizeram a análise de nossas condições de subdesenvolvimento a partir da realidade dos países da América Latina. Para os autores dessa perspectiva Cepalina, “o problema do subdesenvolvimento estaria relacionado às próprias estruturas dos países, as quais acarretariam uma deficiência na assimilação do progresso técnico e impossibilitariam a homogeneidade social” (ALMEIDA; SALOMÃO, 2021, p. 11). Raúl Prebisch foi um economista da Cepal. Exerceu cargos como: Secretário Executivo entre 1950-1963; Diretor do Instituto Latino-americano e do Caribe de Planejamento Econômico e Social (ILPES) e Diretor da Revista da Cepal. Prebisch deve ser lembrado como um pesquisador que em sua trajetória buscou construir uma região 87 politicamente forte, integrada, econômica e socialmente desenvolvida e igualitária, e internacionalmente aberta e dinâmica. Para Couto (2007, p. 47), o pensamento de Prebisch pode ser analisado por cinco fases, a saber: A primeira [...] entre os anos de 1943 e 1949: da sua aceitação do ciclo econômico e do repúdio as teorias do equilíbrio. Na Segunda Etapa, que cobre os anos de 1949 a 1959, são expostas as ideias [...] sobre o sistema centro-periferia e a deterioração dos termos de intercâmbio. Na Terceira Etapa, situada entre 1959 e 1963, aparece sua defesa pública pela criação de um mercado comum latino-americano e o conceito de insuficiência dinâmica da economia. A Quarta Etapa marca a passagem de Prebisch pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), entre os anos de 1963 e 1969. A Quinta Etapa tem início em meados dos anos 1970 e termina com sua morte em 1986. É o momento em que Prebisch se aproxima do pensamento de Karl Marx para propor uma síntese entre liberalismo e socialismo. As teorias de Prebisch tem como base teórica os problemas do desenvolvimento. Para o autor era necessário pensar alternativas para mudar os problemas da América- Latina. Segundo COUTO, sobre a base dos problemas Prebisch tinha como “objetivo desenvolver a industrialização, o comércio internacional, buscando a criação de um mercado comum latino-americano" [...] Ainda segundo COUTO, o autor via “a expansão do comércio mundial como um pré-requisito para o desenvolvimento da periferia [...] e novas formas de acumulação e distribuição da renda (COUTO, 2007, p. 61). Para complementar o pensamento sobre o desenvolvimento no âmbito da Cepal, Celso Furtado é de suma importância. Para o autor era preciso superar a nossa dependência em relação aos outros países. Furtado pensa o desenvolvimento para além dos aspectos econômicos, valoriza a análise dos aspectos sociais e revela em sua teoria “as implicações da distribuição de renda no processo de crescimento econômico” (FURTADO, 1974, p. 20). Assim demonstra como as condições econômicas e sociais são regidas pelas questões políticas dos países. De acordo com Lins e Marin (2014, p. 11), “a teoria de Furtado também chama atenção para a necessidade de reconhecimento da importância do trabalho simples [...] por meio da inclusão de alternativas que ocasionassem alterações nas questões da produtividade e [...] na distribuição de renda” (LINS; MARIN, 2014, p. 11.). Através do pensamento de Furtado, nós podemos analisar os conceitos de desenvolvimento e subdesenvolvimento. O subdesenvolvimento para o autor “nada tem a ver com idade de uma sociedade ou de um país” (FURTADO, 1974, p. 20), parâmetro para medir o grau de desenvolvimento ou subdesenvolvimento de um país está no “grau de acumulação aplicado aos processos produtivos” (FURTADO, 1974, p. 20). O desenvolvimento por sua vez, envolve questões produtivas e de acumulação do capital e está estritamente vinculado às questões econômicas dos países e às relações estabelecidas entre eles nos processos produtivos e na exploração dos recursos dos países periféricos para os países centrais (LINS; MARIN, 2014). 88 Esse debate anterior nos faz concluir que a Teoria do Desenvolvimento teve um papel importantíssimo para a Cepal, pois é a partir desta teoria que o objetivo de “fundar uma base institucional que criasse condições de desenvolvimento para os países” (DUARTE; GRACIOLI, 2007, p. 1) da América Latina e Caribe se constitui na Cepal. Os argumentos desta teoria “defendia que os países latino-americanos só se desenvolveriam a partir da montagem de um aparato industrial orientado pela ação do Estado” (DUARTE; GRACIOLI, 2007, p. 1), fator falacioso, uma vez que o modelo de desenvolvimento industrial impulsionado com a expansão do capital promoveu desenvolvimento para poucos e por outro lado, precarizou a vida de muitas pessoas nos países ditos subdesenvolvidos. 2.1.1 A teoria da dependência A teoria da dependência teve bastante notoriedade a partir da década de 1960. Os autores que merecem atenção nesta teoria são: Ruy Mauro Marini, Theotonio Santos e Vânia Bambirra. A teoria buscava “compreender as limitações de uma forma de desenvolvimento que se iniciou em um período histórico no qual a economia mundial já estava constituída sob a hegemonia de poderosos grupos econômicos e forças imperialistas” (DUARTE; GRACIOLLI, 2007, p. 1). O que caracteriza essa teoria é a condição de subordinação de alguns países em relação a outros no capitalismo. Ou seja, os países centrais dominam os países de economia periférica, estes que dependem dos primeiros. Os países centrais são os países que controlam a economia mundial, tais como, Estados Unidos, Japão e países da Europa, por outro lado, os países de economia periférica são os que sofreram com o processo de colonização e esses são os países da América Latina, África e alguns da Ásia. Para Theotônio dos Santos (2021, p. 255). La dependencia es una situación en la cual un cierto grupo de países tienen su economía condicionada por el desarrollo y expansión de otra economía a la cual la propia está sometida. La relación de interdependencia entre dos o más economías, y entre estas y el comercio mundial, asume la forma de dependencia cuando algunos países (los dominantes) pueden expandirse y autoimpulsarse,en tanto que otros países (los dependientes) solo lo pueden hacer como reflejo de esa expansión, que puede actuar positiva y/o negativamente sobre su desarrollo inmediato. De cualquier forma, la situación de dependencia conduce a una situación global de los países dependientes que los sitúa en retraso y bajo la explotación de los países dominantes. Com base nesta reflexão de Santos (2021), podemos considerar que a dependência está definida pela forma que os países se relacionam na economia mundial, a partir de seus processos produtivos. Os Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial, expandiram sua hegemonia econômica pelo mundo e com foco direcionado 89 para o setor industrial. Sua expansão provocou a integração da economia mundial, principalmente, nos países de antiga colonização. De acordo com Santos (2020, p. 17), essa expansão econômica dos Estados Unidos [...] serviu de base para o novo desenvolvimento industrial do pós-guerra e terminou se articulando com o movimento de expansão do capital internacional, cujo núcleo eram as empresas multinacionais criadas nas décadas de 40 a 60. Esta nova realidade contestava a noção de que o subdesenvolvimento significava a falta de desenvolvimento. Abria-se o caminho para compreender o desenvolvimento e o subdesenvolvimento como o resultado histórico do desenvolvimento do capitalismo, como um sistema mundial que produzia ao mesmo tempo desenvolvimento e subdesenvolvimento. Essa dicotomia entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento mostra os limites da expansão do capital no que se refere à lógica do desenvolvimento. Na teoria da dependência, a crítica estava direcionada "para compreender as limitações de um desenvolvimento iniciado num período histórico em que a economia mundial já estava constituída sob a hegemonia de enormes grupos econômicos e poderosas forças imperialistas” (SANTOS, 2020, p. 18). De acordo com Santos (2020), os economistas Magnus Blomstrom e Bjorn Hettne foram importantes historiadores da teoria da dependência. Para Santos (2000, p. 18), os autores identificaram dois antecedentes imediatos para o enfoque da dependência, a saber: “a) Criação de tradição crítica ao eurocentrismo implícito na teoria do desenvolvimento; b) O debate latino-americano sobre o subdesenvolvimento”. Desta maneira, a teoria da dependência abrange a leitura do desenvolvimento e do subdesenvolvimento, evidenciando como a economia dos países industrializados atingiram e se expandiram sobre os países de menor industrialização. Santos (2020), com base em André Gunder Frank (1991), destaca que os principais autores da teoria da dependência são, Fernando Henrique Cardoso, Enzo Faletto (que de acordo com o autor também estão ligados à Escola Estruturalista) e “os demais pensadores são: Baran, Frank, Marini, Dos Santos, Bambirra, Quijano, Hinkelammert, Braun, Emmanuel, Amin e Warren” (SANTOS, 2020, p. 20). A problemática da dependência está ligada ao sistema econômico mundial. É nesse sistema que temos as relações entre centro e periferia e podemos compreender o papel de cada país na economia mundial e como decidem suas condições de desenvolvimento social, econômico e político. Infelizmente, os países da América Latina ainda se encontram em condições de subordinação à economia dos países centrais e as decisões desses nas relações econômicas mundiais. Nesse sentido, compreender o papel dos países do centro e dos países da periferia é de suma importância para entender as condições sociais, econômicas, culturais, políticas e ambientais dos países da América Latina. 90 Existem vários livros sobre o debate da Cepal na América Latina. Indicamos dois que merecem nossa atenção. • KATZ, C. A teoria da dependência cinquenta anos depois. Tradução Maria Almeida. São Paulo: Ed. Expressão Popular, 2020. • SANTOS, T. dos. A teoria da dependência: balanços e perspectivas. Florianópolis: Editora Insular, 2020. DICA 2.2 RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA A noção de centro-periferia regeu durante as décadas de 1950 e 1960 o pensamento da Cepal. Essa noção desenvolvida por Raúl Prebisch demonstra uma realidade de países que centralizam o desenvolvimento econômico, ou seja, são países com grande potencial de produção, desenvolvimento tecnológico, mão de obra qualificada, por outro lado, o conceito de periferia está direcionado aos países com economia de baixo desenvolvimento. Neste conceito de periferia encaixam-se os países com condições de atraso econômico, baixa qualificação, altas taxas de desigualdades sociais e econômicas, dependência do mercado externo, por exemplo. A relação existente entre os países considerados do centro e da periferia podem ser expressas por processos atrelados ao desenvolvimento industrial, ao crescimento econômico, às relações de exportação e importação, à atuação de grandes empresas, por exemplo. O centro distingue-se da periferia, principalmente, em função do crescimento acelerado dos países desse grupo. As grandes empresas do centro passaram a se espacializar nos países da periferia, impulsionando, desta forma, o poder que os países do centro exercem sobre economias menos desenvolvidas. Para Furtado (1974, p. 43) “as economias periféricas agravam as desigualdades internas” em função dessa expansão industrial nos países periféricos”. Há um desafio, pois, “a intensidade do crescimento no centro condiciona a orientação da industrialização na periferia, pois as minorias privilegiadas desta última procuram reproduzir o estilo de vida do centro” (FURTADO, 1974, p. 45). Neste sentido, a relação entre centro-periferia é condicionada constantemente, pois, quanto maior as mudanças no centro mais rápido o crescimento da desigualdade na periferia, como afirma Furtado (1974, p. 45): “quanto mais intenso o fluxo de novos produtos no centro [...] mais rápida será a concentração de renda na periferia”. É nesta relação que permeiam as mudanças dos países periféricos e as imposições e controle dos países centrais sobre as economias periféricas, sendo essas sempre prejudicadas em relação às economias do centrais. 91 Por outro lado, os países periféricos têm adquirido papel importante em relação às economias centrais, pois “as novas formas que o capitalismo está assumindo nos países periféricos, faz com que estes não sejam independentes da evolução global do sistema” (FURTADO, 1974, p. 58). Pelo contrário, a periferia oferece aos países centrais recursos naturais, mão de obra barata e espaços para expandir as empresas dos países centrais. Contudo, são os países do centro que dominam essas relações e neste sentido, os países da periferia econômica, caracterizados em nosso estudo pelos países da América Latina, estão atrasados, subordinados e nesse sentido, podemos afirmar que, o crescimento dos países mais ricos, ou os centrais determinam as condições de pobreza dos países da periferia econômica, no contexto dos países da América Latina. De acordo com Medeiros (2006, p. 45), os países pobres exportam produtos primários para os países ricos que então industrializam (agregando valor) e os vendem de volta para as nações desprovidas. O valor adicionado das mercadorias custa sempre mais do que as matérias-primas usadas para criar aqueles produtos. Consequentemente, os países mais pobres nunca estariam ganhando o bastante das suas exportações para compensar o pagamento das importações. A fala de Medeiros (2006) é importante para compreendermos as condições de submissão dos países periféricos. Estes estão condicionados a serem apenas exportadores de matérias-primas, a produção dos seus bens não tem grande valor no mercado, como os bens produzidos pelos países do centro. Nessa relação, nós podemos afirmar que a ideia de desenvolvimento tão difundida pelos países do centro é um mito, pois, nessa lógica de dependência, os países da periferia não conseguem avançar economicamente para alcançar os padrões de desenvolvimento das economias centrais, pelo contrário, aumentam-sea desigualdade, a concentração de renda, a precarização do trabalho nesses países de economias periféricas. Você deve se perguntar, quais são os países do centro e quais são os países da periferia? Há países da periferia além dos da América Latina? Os países do centro são: Estados Unidos, Japão e os países do oeste europeu. Os países periféricos são divididos em duas categorias: semiperiféricos e periféricos, o que evidencia a necessidade de caracterizá-los. Os países semiperiféricos são países que estão na fase de desenvolvimento, são eles: Brasil, Rússia, índia, China, África do Sul, Chile, Turquia e México. E os periféricos são aqueles que estão à margem da economia mundial, pois, tendem a apresentar baixos índices de desenvolvimento social e econômico quando comparados aos outros países. Os países estão na África, na América Latina e na Ásia. Vamos explorar as relações dos países da América Latina com os Estados Unidos e com os países europeus nos próximos subtópicos. 92 2.3 RELAÇÕES ENTRE AMÉRICA LATINA E ESTADOS UNIDOS As relações econômicas entre os países da América Latina e dos Estados Unidos são consideradas turbulentas, segundo Tulchin (2016, s. p.), essa relação “é marcada predominantemente por períodos de mal-estar, às vezes intensos, e frequente menosprezo do Norte ao Sul e ressentimento no sentido inverso”. O primeiro reflexo dessa relação surge após o período colonial quando os Estados Unidos passam a considerar a América Latina “o seu quintal”. Essa posição dos E.U.A ocorreu a partir de 1823 com a Doutrina Monroe, quando o presidente James Monroe em seu discurso proferido em 2 de dezembro de 1823, disse que o “continente americano não deveria aceitar nenhum tipo de intromissão europeia”, uma vez que, nesse período o controle das potências europeias e as disputas entre as nações como Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e França era uma ameaça ao controle que os E.U.A. queriam expandir sobre a América Latina (PIÑERO, 2019). O interesse pelas nações da América Latina está nas riquezas minerais, naturais, energéticas, recursos alimentícios, diversidade biológica, fertilidade das terras (PIÑERO, 2019). A riqueza da América Latina é um grande “prato” para os interesses do capitalismo. Neste sentido, os Estados Unidos sempre estiveram, nas últimas décadas, apoiando golpes, invasões e ditaduras na América Latina. Para Tulchin “desde o surgimento como nações, tanto os Estados Unidos quanto os países latino-americanos, tiveram diferenças marcantes de visão sobre seu lugar na política internacional e sobre a função que sua política externa teria na luta pela estabilidade nacional” (TULCHIN, 2016, s. p.). O continente americano tem características semelhantes em relação ao período colonial, pois os países foram colônias dos países europeus. Contudo, existem bastantes diferenças entre as nações da América do Norte e da América Latina no que se refere a sua posição nas relações econômicas e políticas entre eles e em relação aos países de outros continentes, como da Europa, da Ásia e da África. Essas diferenças estão relacionadas ao poder que cada nação exerce na dinâmica do capital internacional. Outro período que merece destaque nessas relações entre os E.U.A e a América Latina é o período da Guerra Fria, que foi marcado por relações conflituosas entre os países em questão, mas é a partir do século XIX, “depois da Guerra Hispano-Americana de 1898, quando os EUA anexaram Porto Rico e estabeleceram um protetorado em Cuba”, que as relações se tornaram turbulentas. Os Estados Unidos fizeram intervenção militar e política nos países latino-americanos, o que evidencia a histórica hegemonia dos E.U.A. sobre os países latino-americanos (TULCHIN, 2016, s. p.). Essas relações foram determinadas desde a Segunda Guerra Mundial. Com o fim da guerra, muita tensão se estabeleceu entre os países, mas os Estados Unidos saíram fortalecidos da guerra e determinaram muitas relações econômicas e militares 93 entre os países latino-americanos. Mas, com o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) e o início da Guerra Fria, os países da América Latina sentiram na pele o avanço do intervencionismo dos Estados Unidos. O período da Guerra Fria foi caracterizado por uma abordagem cada vez mais maniqueísta por parte dos Estados Unidos na tentativa de proteger sua segurança no hemisfério. O país passou a dominar e expandir seu modelo de desenvolvimento capitalista e contra a ofensiva comunista da União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS). Neste sentido, os países latino-americanos iam se relacionando cada vez mais com a lógica econômica dos EUA, e eles “passaram a criar suas próprias organizações regionais” (TULCHIN, 2016, s. p.), isso já evidenciava as estratégias dos países estabelecerem cooperação para lidar com as relações do mercado internacional. Os EUA ocuparam, durante muitos anos, a hegemonia da economia mundial e o domínio aos países subdesenvolvidos. Domínio estendido a partir da importação de commodities, da exploração de recursos minerais, da expansão de suas multinacionais e até mesmo na determinação política dos países subdesenvolvidos. Essa hegemonia dos Estados Unidos sobre os países da América Latina, mudou muito atualmente, pois, muitos desses países mantêm fortes relações com economias asiáticas, tirando, desta forma, a hegemonia das relações econômicas com os Estados Unidos. 3 RELAÇÕES ENTRE AMÉRICA LATINA E EUROPA As relações entre a América Latina e os países europeus ocorreu desde o período colonial. Nos séculos XV e XVI, os países da Europa em função da expansão marítima comercial tornaram os países da América Latina colônias de exploração, as quais, eram exploradas, povoadas e tinham suas riquezas minerais, naturais e extrativistas exploradas para as nações europeias, especialmente, Espanha, Portugal, Holanda e Inglaterra. A exploração do território dos países hoje conhecidos como latino- americanos foi responsável pelas primeiras relações estabelecidas entre as nações, relações econômicas, sociais, políticas e ambientais. Neste sentido, a relação entre colônias e metrópoles colocavam as nações latino-americana em desvantagem. Desde a colonização, o papel dos países latino-americanos estava na exportação de produtos primários e os países europeus na transformação destes em mercadorias. As relações econômicas no contexto colonial eram de submissão. Todavia, com a independência das nações latino-americanas, a criação de comunidades econômicas e blocos econômicos foram modificando a posição da América Latina em relação aos países europeus. De acordo com Pinto (2006, p. 12), “as relações formais entre a Europa e os países da América Latina iniciaram-se desde que entraram em funcionamento as instituições da Comunidade Econômica Europeia em 1958”. 94 As relações estabelecidas entre os países europeus tinham como objetivo facilitar os fluxos econômicos entre os países membros, isso consequentemente, respaldou sobre questões políticas e sociais. Na América Latina, a criação de blocos como o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), o Mercado Comum Centro Americano (MCCA), o Pacto Andino e a Associação Latino-Americana de Desenvolvimento e Integração (ALADI) fizeram que os países europeus apoiassem a integração entre os países latino-americanos (PINTO, 2006). O apoio dos países europeus aos países latino-americanos para Sá Pinto (2006, p. 14), ocorre em virtude das “afinidades históricas e culturais” [...] entre os povos ibéricos e os povos latino-americanos”. A partir dessa posição de Messias de Sá Pinto (2006), podemos compreender que as trocas estabelecidas entre as regiões, o interesse financeiro, as articulações para exploração de recursos naturais, o fortalecimento das relações diplomáticas, relações econômicas e o apoio para diminuir as desigualdades foram um dos principais motivos para o fortalecimento entre as regiões em questão. De acordo com Messias de Sá Pinto (2006, p. 17),“foram os países ibéricos os grandes impulsionadores da focalização da UE na América Latina, particularmente no que respeita as relações comerciais com os países do Mercosul”. Cada vez mais, a União Europeia tem fortalecido sua parceria política e econômica com a América Latina. Segundo a European Commision, em notícia publicada em 2019, em sua plataforma eletrônica a relação entre a União Europeia e a América Latina estão pautadas em “quatro prioridades: prosperidade, democracia, resiliência e governança global eficaz para um futuro comum” (BILATERAL TRADE [...], 2019, s. p., tradução nossa). Observe como a parceria entre a União Europeia e a América Latina sistematiza as quatro prioridades. Parceria para a Prosperidade - apoiando o crescimento sustentável e empregos decentes; redução das desigualdades socioeconômicas; transição para uma economia digital, verde e circular; além de fortalecer e aprofundar ainda mais a já sólida relação comercial e de investimento. Parceria para a Democracia - fortalecendo o regime internacional de direitos humanos, incluindo a igualdade de gênero; empoderamento da sociedade civil; consolidar o Estado de Direito; e garantir eleições confiáveis e instituições públicas eficazes. Parceria para Resiliência - melhorando a resiliência climática, meio ambiente e biodiversidade; combate às desigualdades por meio de tributação justa e proteção social; combate ao crime organizado; aprofundar o diálogo e a cooperação em matéria de migração e mobilidade, em particular para prevenir a migração irregular e o tráfico de seres humanos. Parcerias para uma governança global eficaz - fortalecendo o sistema multilateral, inclusive para a governança climática e ambiental; aprofundar a cooperação em paz e segurança; e implementação da Agenda 2030 (BILATERAL TRADE [...], 2019, s. p., tradução nossa). 95 Tomando como base o princípio estabelecido nestas relações, percebemos que as economias estão interconectadas e buscam estabelecer novas possibilidades de ampliar o capital e explorar a classe trabalhadora, principalmente as dos países subdesenvolvidos. Pois, essas relações mesmo que baseadas em cooperação, ainda apresentam desigualdades extremas entre os países da União Europeia e os países da América Latina, pois, mesmo com todas as melhorias nos países da América Latina, a região ainda precisa equilibrar sua distribuição de renda, diminuir a pobreza, melhorar a segurança, avançar no crescimento econômico, diminuir os níveis de corrupção, diminuir os impactos ambientais são alguns dos desafios para melhorar as relações entre as regiões. Por fim, para a European Commision a parceria entre a União Europeia e os países latino-americanos também diz respeito a luta pelos “direitos humanos, democracia, princípios de boa governança”. Neste sentido, é a união de forças que estabelecida entre as nações pode construir para 2030 um futuro mais promissor (LATIN AMERICA, 2022, s. p.). A Comunidade Econômica Europeia foi um dos estágios da formação do bloco da União Europeia. Antes de se tornar um dos maiores blocos do mundo a União Europeia passou por diferentes estágios de desenvolvimento. O primeiro estágio foi o Benelux, um bloco criado na Segunda Guerra Mundial. Esse nome correspondia as iniciais dos países integrantes, Bélgica (BE), Holanda (NE) do inglês Netherland e Luxemburgo (Lux). O objetivo central era formar um mercado comum, reduzir as tarifas aduaneiras. O segundo estágio foi a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. A criação da CECA estabeleceu como objetivo um acordo com a Alemanha Ocidental e o intuito de compartilhar a produção de carvão mineral e minério, essa etapa do bloco ficou conhecida como período de integração do mercado siderúrgico. O terceiro momento é a criação em 1957 do Mercado Comum Europeu, ou como todos conhecem, Comunidade Econômica Europeia. A criação dessa fase do bloco se deu com o Tratado de Roma em 1957. O objetivo dos doze países membros estava voltado para estabelecer a livre circulação de pessoas, mercadorias e capitais. No ano de 1991 com a criação do Tratado de Maastricht, é estabelecido a criação da União Europeia, com objetivo de possibilitar a “livre circulação de pessoas, mercadorias, bens e serviços entre os países-membros” (PENA, 2022, s. p.). A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal. O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e 169 metas, para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta. São objetivos e metas claras, para que todos os países adotem de acordo com suas próprias prioridades e atuem no espírito de uma parceria global que orienta as escolhas necessárias para melhorar a vida das pessoas, agora e no futuro. FONTE: <https://bit.ly/3GTIje0>. Acesso em: 18 fev. 2022. NOTA NOTA 96 3.1 AMÉRICA LATINA E SUAS RELAÇÕES COM A ÁFRICA E A ÁSIA As relações entre os países em desenvolvimento podem ser destacadas como a cooperação Sul-Sul. Essa cooperação engloba os países em desenvolvimento, e inclui os países da África, da Ásia, América Latina e os países do Caribe e da Oceania. Nosso estudo estará centrado na análise da articulação política, trocas econômicas, relações científicas, tecnológicas e culturais estabelecidas entre os países da África, da Ásia e da América Latina. Os países do sul global podem ser identificados no mapa a seguir. Mesmo que economias como a China e o Brasil sejam grandes, elas são economias subdesenvolvidas, e são países que apresentam altos índices de desigualdades sociais, baixa escolarização, mortalidade infantil etc. (WOLFF, 2020) FIGURA 1 – PAÍSES DO NORTE E DO SUL GLOBAL Em branco são os países do Norte, ou os denominados países desenvolvidos. Os países pontilhados são os países do Sul, ou os países subdesenvolvidos. FONTE: <https://bit.ly/3t0h9hH>. Acesso em: 22 fev. 2022). Essas relações entre os países do Sul-Sul estabelecem o fortalecimento entre as economias subdesenvolvidas e, por outro lado, diminuem o poder das economias centrais sobre as nações. Os países emergentes, que se destacam nesse processo são: a China, o Brasil, a Índia e a África do Sul. Esses países passaram por uma reestruturação nas relações econômicas mundiais, aumentando sua participação nas exportações, nas relações comerciais, tendo um maior dinamismo econômico, por exemplo, o aumento da produção de commodities elevou a participação desses países nas relações internacionais e regionais, integrando-se cada vez mais a relação Sul-Sul com foco para a África, Ásia e América Latina. Os países emergentes, Brasil, Índia, China e África do Sul constituem junto com a Rússia os famoso BRICS (“acrônimo cunhado em 2001 pelo banco de investimentos Goldman Sachs, para indicar as potências emergentes que formariam, com os Estados Unidos, as cinco maiores economias do mundo no século XXI” (O QUE É BRICS, 2019, s. p.). 97 Aqui é importante questionar, qual é a contribuição desses países emergentes em suas relações econômicas para o conjunto dos países da América Latina? Para Gomes e Balardim (2020) os BRICS representam um novo paradigma para o desenvolvimento, da região da América Latina, pois apresentam propostas relevantes de reformas que beneficiam a região que ainda é demarcada pela profunda desigualdade socioeconômica. Neste sentido, os capitais dos países asiáticos e africano têm contribuído para muitos projetos de desenvolvimento na América Latina, principalmente, a relação estabelecida com a China. A China mantém relações mais intensas com Brasil, Peru, Colômbia, Chile, Argentina, Cuba e Venezuela. Essas relações centram-se na abertura de novos mercados, a exploração de produtos primários, o grande mercado consumidor da região da América Latina são alguns dos fatores que estabelecem a relação da China nos países latino-americanos e consequentemente esses países diminuem suadependência em relação aos Estados Unidos. 3.1.1 Políticas econômicas externas A economia dos países da América Latina passa por crises constantes em função das desigualdades estabelecidas na região. Com a crise do COVID-19, em 2020/2021, as taxas de desocupação, o aumento da pobreza, queda no crescimento econômico são alguns dos fatores que modificam as relações das políticas econômicas dos países da América Latina. De acordo com o “Estudo Econômico da América Latina e do Caribe 2020: principais condicionantes das políticas fiscal e monetária na era pós- pandemia de COVID-19", elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), as “relações de troca da região, caiu em média 4,7% em 2020, o choque negativo se concentrou nas economias exportadoras de hidrocarbonetos, enquanto as exportadoras de alimentos e metais foram menos afetadas” (CEPAL, 2020, p. 11). As políticas econômicas externas foram afetadas com a crise do COVID-19, os países da sub-região da América do Sul foram os mais prejudicados, de acordo com a Cepal (2020). Contudo, as relações econômicas externas se dão em diferentes níveis de integração, que podem ser vistos nas diferentes formas de integração regional e internacional. Como afirmam Santos, Camoça e Rodrigues (2020, p. 108-109), o “Mercado Comum do Sul (MERCOSUL); o Acordo de Livre Comércio das Américas (NAFTA); Nações Sul-Americanas (UNASUL); Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA)” são projetos de integração regional que possibilitam a expansão desses países para se fortalecerem e expandirem suas relações para os países desenvolvidos, como é o caso das relações econômicas que alguns países estabelecem com países europeus e os EUA. As relações econômicas externas são essenciais para um processo de integração na economia mundial. Torna-se importante manter essas relações para evitar isolamento diante das relações econômicas mundiais. Com a globalização a integração das economias e as relações externas têm impactos políticos, econômicos e sociais. 98 Para Santos, Camoça e Rodrigues (2020, p. 110-111), os aspectos positivos da integração entre países podem ser vistos em: • aproveitamento das economias de escala; • influência nas expectativas de investimento nacional e estrangeiro; • redução dos custos de transação; efeitos sobre as taxas de crescimento; • possível estabelecimento de uma arquitetura financeira regional; • incorporação do progresso científico-técnico e da articulação produtiva; • elevação da produção e da produtividade; • favorecimento da padronização de normas e regulações; • estabelecimento de negociações ou de consultas prévias a fim de evitar represálias; • desconstrução das assimetrias regionais; • intensificação da complementaridade produtiva; • ampliação da participação de componentes sociais; • impulsão de desenvolvimento com equidade; consecução de projetos de infraestrutura física e energética; • criação de mecanismos de defesa militar e econômica; e • inserção mundial mais soberana com a elevação do poder de barganha internacional. Esses pontos elencados por Santos, Camoça e Rodrigues (2020) no processo de integração entre as economias no mundo ou entre as relações regionais, mostram- nos que as trocas comerciais, econômicas e políticas entre os países são bastantes amplas e isso implica o direcionamento que o Estado toma em suas decisões, assim como, para manter sua soberania nacional. 99 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Existem teorias econômicas que explicam a condição de subdesenvolvimento e dependência dos países latino-americanos. • A Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) tem uma estrutura de pensamento que é embasada por autores como Celso Furtado, Raul Prebisch, Ruy Mauro Marini, Enzo Faletto, Fernando Henrique Cardoso, Vânia Bambirra. • As relações econômicas entre os países da América Latina, os Estados Unidos, a Europa, Ásia e África. • As raízes do subdesenvolvimento, a tardia industrialização e a condição dos países periféricos da América Latina. • As diferenças entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos na economia mundial. 100 1 A teoria da dependência explica relações econômicas entre os países. Essas relações se dão entre os países chamados periféricos e os países centrais. Neste sentido, a teoria da dependência, desenvolvida por Fernando Henrique Cardoso, Enzo Faletto, Ruy Mauro Marini, Theotonio dos Santos e Vânia Bambirra, a partir da década de 1960, possibilita a criação de relações políticas, sociais e econômicas entre os países. Mas, essa teoria se explica através de: Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Condição de subordinação dos países da América Latina em relação aos países de economias centrais. b) ( ) Compreensão das formas de desenvolvimento dos países do centro e da periferia, destacando como a economia da América Latina tem se desenvolvido nos últimos anos. c) ( ) Avanço do desenvolvimento dos países da América Latina após a Segunda Guerra Mundial. d) ( ) Problema do subdesenvolvimento relacionado as estruturas de dominação dos países da América Latina. 2 A Comunidade Econômica Europeia (CEE) foi um estágio importante para consolidar o bloco da União Europeia na economia mundial. A formação desse bloco passou por diversas fases e tornou-se muito importante para as relações dos países europeus e com os países da América Latina, pois o bloco passou a estabelecer as regras sob as relações de importações, exportações e circulação de pessoas. Assim como, impulsionou a criação de pactos comerciais entre os países. Com base no que estudamos, analise as sentenças a seguir: I- Cada vez mais, a União Europeia tem fortalecido sua parceria política e econômica com a América Latina e tem se baseado em quatro prioridades: prosperidade, democracia, resiliência e governança global eficaz para um futuro comum. II- O estabelecimento das relações econômicas entre a Europa e os países latino- americanos facilita que a região equilibre seu desenvolvimento igualando-se aos aspectos sociais e econômicos da Europa, principalmente, no que se refere à produção de commodities. III- Na América Latina, a criação de blocos como o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), o Mercado Comum Centro Americano (MCCA), o Pacto Andino e a Associação Latino-Americana de Desenvolvimento e Integração (ALADI) fizeram com que os países europeus apoiassem a integração entre os países latino-americanos. AUTOATIVIDADE 101 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 A Comissão Econômica da América Latina (CEPAL) durante a década de 1950 foi de suma importância para pensarmos as questões econômicas dos países latino- americanos. Suas análises sobre os países, a realidade econômica destes permitiu que os intelectuais da CEPAL discutissem as teorias econômicas para explicar as condições de desenvolvimento dos países. Essas teorias ficaram conhecidas como: sistema centro-periferia; estruturalismo cepalino; integração regional e seus pensadores podem ser identificados por: Celso Furtado, Maria da Conceição Tavaras, Raul Prebisch. Neste sentido, com base no que estudamos sobre as teorias econômicas desenvolvidas por autores da Comissão Econômica para a América Latina e sobre o pensamento de Celso Furtado, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O pensamento da Cepal pode ser analisado por autores como: Celso Furtado que abordou o debate do subdesenvolvimento, e explicou como os países periféricos se encontravam na condição de submissão em relação aos países centrais. ( ) Celso Furtado, defendia que a América Latina só conseguiria sair da condição de periferia se focasse na elevação produtiva e na industrialização. ( ) Furtado pensavao desenvolvimento além da economia, englobava os aspectos sociais em sua teoria e afirmava que “as implicações da distribuição de renda no processo de crescimento econômico” (FURTADO, 1974, p. 20). Assim demonstram como as condições econômicas e sociais são regidas pelas questões políticas dos países. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) foi criada em 1948. A Cepal é uma Comissão Regional das Nações Unidas, com sede no Chile. A Comissão ao longo das décadas de estudo tem ampliado seus objetivos e envolve em seus debates questões para além da economia, como: desenvolvimento sustentável, assuntos de gênero, população, recursos naturais e questões sociais. Esse objetivo atual foi modificado, pois o objetivo inicial da Cepal era: Disserte sobre o objetivo inicial da comissão e evidencie a importância de se discutir para além dos aspectos econômicos atualmente. 102 5 Na economia mundial os países do centro e da periferia estabelecem relações econômicas e políticas. Focando na relação entre os países da periferia, que incluem os países da África, da Ásia, da América Latina e os países do Caribe e Oceania, disserte sobre a importância de os países da periferia manterem relações econômicas e retirar o domínio dos países centrais sobre eles. 103 MIGRAÇÕES 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos as migrações na América Latina, o que são migrações, os tipos de migrações, os efeitos desse fenômeno, as crises migratórias e a xenofobia enfrentada pelos migrantes. A migração é considerada um movimento de pessoas que saem do seu local de residência habitual, para outro local, seja dentro do próprio país ou ultrapassando fronteiras internacionais. De acordo com a Organização Internacional para a Imigração (IOM) podemos identificar diversos conceitos-chave para identificar o fenômeno da migração, tais como: “migração climática, deslocamento, migração interna, migração internacional, migração irregular, migração de trabalho, migrante, migração segura, ordenada e regular” etc. (IOM, 2021, s. p). O fenômeno das migrações pode ser explicado por diversos momentos históricos, o deslocamento das populações esteve inicialmente ligado à sua sobrevivência. Contudo, no contexto atual, as condições migratórias são explicadas por diversas questões, tais como: crises ambientais, crises políticas, guerras civis, busca pelo trabalho, estudos, fuga de cérebros etc. Com a globalização houve uma intensificação dos fluxos migratórios e está estritamente ligado às condições de desenvolvimento econômico. As possibilidades de deslocamento aumentaram muito nos últimos anos, em virtude, do aumento das comunicações e facilidade de transportes. Por outro lado, esse fenômeno provoca pontos positivos e negativos, seja para o local de origem ou para o local receptor desses fluxos migratórios. No contexto da globalização e do avanço das relações internacionais, há o aumento de circulação não só de pessoas, mas também de capitais e mercadorias o que evidencia um romper de fronteiras e consequentemente uma inserção de influência de determinadas nações sobre outras, com símbolos, cultura, imagens, valores etc., sendo alterados devido às novas relações econômicas e políticas impostas por esse processo global (FERNÁNDEZ; PIZARRO, 2021). Neste sentido, o estudo das migrações na América Latina, nesta Unidade 2, evidencia as condições econômicas, políticas e sociais que promovem os fluxos migratórios na região e as consequências positivas e negativas desse fenômeno tão presente no contexto da economia mundial. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 104 Fenômeno relacionado à transferência de recursos na forma de capital humano de uma região para outra, denominado fuga de cérebros (brain drain), é particularmente importante. Esse fenômeno designa a emigração de trabalhadores qualificados e, ao envolver fluxos de capital humano, pode se configurar como alternativa para a redução da pobreza, crescimento regional e redução de desigualdades espaciais. Informações disponíveis em: SILVA, E. R. da. Composição e determinantes da fuga de cérebros no mercado de trabalho formal brasileiro: uma análise de dados em painel para o período 1995-2006 (DISSERTAÇÃO). Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Disponível em: https://bit.ly/3hY4NR0. DICA 2 GLOBALIZAÇÃO E MIGRAÇÃO INTERNACIONAL A globalização é considerada um estágio da internacionalização do capitalismo na economia mundial (SANTOS, 2000). Para Milton Santos (2006, p. 12), ela é “resultado das ações que asseguram a emergência de um mercado global”, que se utiliza dos grandes avanços das técnicas, tais como, as relações globais cada vez mais intensificadas pela era das redes, e o aumento das trocas de informações de maneira instantânea, são grandes marcas da globalização e que impactam sobre a mobilização populacional. Com o processo de globalização a migração internacional tornou-se bastante evidente no contexto da economia mundial. De acordo com o Instituto de Migrações e Direitos Humanos no ano de 2021, havia 281 milhões de pessoas fora do seu país de origem (MIGRANTES [...], 2021). Muitas são as motivações para os deslocamentos populacionais, a maior ainda está na questão econômica, na busca pelo emprego e pela melhoria da qualidade de vida. Mas, inúmeros fatores podem levar aos deslocamentos populacionais, tais como “deslocamentos forçosos [...] normalmente provocados por conflitos armados, domésticos e internacionais), as desigualdades sociais [...] as assimetrias na distribuição dos benefícios oferecidos pela economia internacional, as carências de capital humano e conhecimentos” (AVILA, 2005, p. 2). As migrações se dão no sentido Sul-Norte em função das disparidades econômicas entre as regiões, na primeira, as condições de subdesenvolvimento e as crescentes desigualdades sociais impulsionam os deslocamentos populacionais, essas áreas tornam-se conhecidas como áreas de repulsão. Já os países do Norte, em condições melhores de desenvolvimento e melhores distribuições de renda, tornam-se áreas de atração. De acordo com a Plataforma Eletrônica das Nações Unidas (INTERNATIONAL [...], 2021, s. p., tradução nossa), que menciona o relatório de destaque das migrações internacionais em 2020, “quase dois terços de todos os imigrantes internacionais vivem em países de alta renda, em contraste com apenas 31% em países de renda média e cerca de 4% em países de baixa renda”. No mesmo relatório chama-nos atenção o grupo de migrantes refugiados que se deslocam em sua maioria para países de renda baixa em média 50% dos migrantes internacionais, por outro lado, “os refugiados 105 representam cerca 3% de todos os migrantes internacionais em países de alta renda, em comparação com os 25% nos países de renda média (INTERNATIONAL [...], 2021, s. p., tradução nossa). É importante ressaltar aqui que há uma diferença entre migrantes e refugiados. Para o a Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR, s.d., s.p.) “os migrantes são pessoas que estão saindo voluntariamente de seus países de origem”, por outro lado, os refugiados “são pessoas que estão deixando sua nação devido a perseguições relacionadas à raça, nacionalidade, conflitos políticos, conflitos armados” (HÜSELMANN, 2019, s.p.). Essa diferença também estabelece as condições de vida desses grupos, pois o migrante pode voltar para seu local de origem sem riscos, mas, os refugiados, já enfrentam dificuldades e riscos para fazer um retorno a sua nação. No que tange aos deslocamentos populacionais da América Latina e Caribe, podemos considerar que esses deslocamentos se fazem presente desde o processo de colonização, com a chegada dos imigrantes europeus, africanos e asiáticos. De acordo com Avila (2005), podemos dividir o estudo sobre os fluxos migratórios na América Latinaem cinco fases. A primeira seriam as grandes ondas pré-colombianas; a segunda as ondas migratórias do período colonial, o terceiro ciclo seria a segunda onda de imigração europeia que foi complementada com importantes fluxos asiáticos (japoneses, chineses e árabes). O quarto ciclo é apresentado por Avila (2005) a partir dos grandes fluxos de migrações internas, ou o que o autor chama de processo de desenvolvimento para dentro. Podemos tomar como exemplo esse processo como os fluxos migratórios dos mexicanos para os Estados Unidos e o último ciclo é caracterizado pelos fluxos migratórios atuais, no sentido Sul-Norte. Podemos concluir que, ora a América Latina tinha seus países como focos de atração da imigração e no momento atual encontra-se como foco de repulsão. Quais fatores provocam isso? O que é atração e repulsão? Os principais fatores que condicionam os fluxos migratórios estão ligados às condições de desenvolvimento das regiões. A economia, as relações políticas e as condições de desenvolvimento são a base para a mudança no padrão dos fluxos migratórios em um país ou região. A condição de país repulsor está ligada às baixas possibilidades de empregabilidade, conflitos políticos, religiosos, desigualdades socioeconômicas. Por sua vez, os países atrativos, são aqueles com melhores condições de desenvolvimento, melhor qualidade de vida, melhores condições de saúde, segurança e educação. Podemos tomar como exemplo dessas relações os Estados Unidos e o México que, segundo Avila (2005), a comunidade mexicana nos EUA é majoritária e que os impactos decorrentes dos fluxos migratórios causam efeitos tanto nos países de repulsão quanto nos países de atração. Esses efeitos podem ser classificados em repulsão e atração. Ao primeiro, os principais efeitos são gerados devido à instabilidade econômica, falta de emprego, de oportunidades e baixos investimentos educacionais. Como efeitos dos fluxos migratórios, essas regiões têm uma diminuição de sua população economicamente ativa e tende a receber ativos financeiros da população que está fora de suas regiões. Por outro lado, os fatores de atração de um país estão na melhoria da qualidade de vida, na oportunidade de emprego, na melhoria educacional. 106 Outros fatores marcam os fluxos migratórios tais como: “desintegração familiar, fuga de cérebros (recursos humanos qualificados), dificuldades de adaptação as culturas diferentes, ao mercado de trabalho, vulnerabilidade social, discriminação, violação de direitos humanos” (AVILA, 2005, p. 10). Os fluxos migratórios, portanto, apresentam uma dinâmica que é conduzida pelas condições de desenvolvimento econômico, político, social e ambiental. No mundo existem instituições que dão apoio aos migrantes e aos refugiados. Essas instituições são importantes para garantir os direitos humanos, garantir assistência humanitária, inclusão social, laboral e possibilitar condições dignas para migrantes ou refugiados em condições de vulnerabilidade. Como exemplo, temos: Instituto Migração e Direitos Humanos (IDHM); Organização Internacional para as Migrações (OIM) que é coordenada pela Rede da Organização das Nações Unidas para Migração. Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). NOTA 2.1 MIGRAÇÕES NA AMÉRICA LATINA Os fluxos migratórios na América Latina decorrem de vários períodos históricos, como mencionado acima no subtópico 2. A partir do período colonial o impacto dos fluxos migratórios dos países europeus sobre os países da América Latina, resultaram em profundas marcas na cultura, no idioma, na religiosidade, na miscigenação populacional. Além desses impactos, os processos de desenvolvimento social, econômico, político foram frutos das migrações dos europeus para a América. Contudo, neste subtópico, nós abordaremos o estudo dos fluxos migratórios na América Latina a partir da globalização e das crises migratórias desta região no contexto atual. Muitos são os desafios dos fluxos migratórios na América Latina. Com o avanço da globalização, o crescimento econômico, as disparidades nas desigualdades sociais, provocam grandes problemáticas nas condições de vida da maioria da população, que precisam buscar alternativas para sobreviver. As desigualdades na América Latina impulsionam na região grandes fluxos migratórios, seja para os países desenvolvidos ou para os países com melhores condições dentro da própria região. Na América Latina, os fluxos migratórios são constantes, mas muitas coisas mudaram nas políticas migratórias, nas leis de proteção aos migrantes. Há países que determinam restrições em torno dos deslocamentos populacionais, outros têm mais flexibilidade com os fluxos migratórios, isso é condicionado em função do poder político que esteja no poder, ou seja, vai entrar em questão as perspectivas do governo que esteja atuando no país. Para André Derviche (2021, s.p.), em matéria publicada pelo jornal da Universidade de São Paulo no dia 24 de março de 2021, “existe um movimento pendular entre esse vai e vem de 107 preferências ideológicas, a depender de qual coalização ocupa o governo”, ou seja, as políticas migratórias, as aberturas de fronteiras e os fechamentos dessas está muito relacionado “a uma demanda da base do governo e de seus apoiadores e da sua própria agenda Na América Latina, nós temos um exemplo dessa mudança de políticas migratórias em relação aos governos. Na Argentina, em 2017, o ex-presidente Mauricio Macri promoveu alteração nas leis migratórias, como: Programa de Informação Antecipada de Passageiros, que determinava que, meia hora antes da saída de cada voo, as companhias aéreas informem ao governo nome, sobrenome, passaporte, número de voo e ticket de bagagem de todos os passageiros, caso as pessoas tivessem cometidos crimes em seus países poderiam ser impedidas de viajar ou deportadas, caso chegasse na Argentina (G1, 2017, s.p.). Por outro lado, com a mudança de governo argentino, o novo presidente Alberto Fernández, em 2021, revogou o decreto de Macri em relação à deportação de imigrantes com antecedentes criminais. Para Andre Derviche (2021, s.p.), atualmente, “o governo argentino sinaliza acolhimento a imigrantes com a Lei de Migração”. Outro fator migratório que merece destaque na América Latina são as crises migratórias, estas são provocadas por diversos fatores, políticos, econômicos, sociais, ambientais. Nos últimos anos, entre 2019 e 2021, a crise migratória tornou-se um fenômeno na América Latina, pois os grandes deslocamentos populacionais da Venezuela entre os países circunvizinhos, chamou atenção do mundo, pois o grande número de pessoas que se deslocava em busca de asilo e proteção fora muito grande. Outro fator de migração que chamou atenção nos últimos anos, foram as mudanças laborais no período da crise do Covid 19, com muita gente sem emprego, houve uma crise sem precedentes na região da América Latina (MOHOR, 2021). A crise migratória que mais chamou atenção nos últimos anos foi a crise da Venezuela, a partir do ano de 2015, as condições econômicas e sociais do país agravaram- se e com isso o fluxo populacional dos venezuelanos acentuou-se desde esse período de 2015 e com isso o Brasil recebeu muitos imigrantes em seu território, principalmente, na área de fronteira, região norte do Brasil, no estado de Roraima. Os destinos dos venezuelanos são os mais diversos, a tentativa para sair das condições precárias da região, faz com que os cidadãos que se deslocaram para outras regiões enfrentassem diversas dificuldades, o que torna o processo de migração mais difícil, pois muitas pessoas estão em condições de vulnerabilidade e com isso precisam de apoio das instituições de ajuda humanitária. Os principais pontos de passagem de migrantes na América Latina são sujeitos a riscos a própria vida, pois são passagens ilegais. De acordo com a Santacecilia (2021, s.p.), na América Latina muito migrantes “se movem a pé, utilizam cruzamentos fronteiriçosirregulares e atravessam rios, selvas, montanhas e desertos, assim como cruzando o mar em embarcações não adequadas a esse fim”. São passagens arriscadas, que levam a problemas como “sequestros, tráficos humanos, violência sexual, violência de gênero, exploração laboral, extorsão por gangues e grupos criminosos” (SANTACECILIA, 2021, s.p.). 108 Diante de graves crises migratórias, cabe aos países fornecer ajuda humanitária aos migrantes, pois a condição de vulnerabilidade estabelecida por meio das crises impacta a vida de crianças, mulheres, adolescentes, adultos, ou seja, todos os grupos populacionais, que se deslocam em busca da sobrevivência e na esperança de recomeçar sua vida. 2.2 FLUXOS MIGRATÓRIOS NA AMÉRICA DO SUL Os fluxos migratórios intrarregionais na América do Sul têm se acentuado nos últimos anos em virtude do crescimento econômico de alguns países e da facilidade de conseguir trabalho e os documentos de residências. Os países que constituem a América do Sul são: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Com as dificuldades de imigrar para a Europa e para os Estados Unidos as migrações inter-regionais se intensificaram. Os fluxos migratórios na América do Sul, tanto de entrada quanto de saída populacional mudou muito nos últimos anos. Com a crise econômica de 2008, as imigrações para o Brasil, Argentina e Equador foram acentuadas com a chegada de haitianos, senegaleses, filipinos e bengalis, cubanos, sírios, bolivianos e venezuelanos (UEBEL; ABAIDE, 2018). Para Uebel e Abaide (2018), esses grupos apresentam características em comum nos fatores migratórios. Os autores destacam que em torno de "25 mil cubanos passaram a residir nos países sul-americanos desde 2001 até 2006” (UEBEL; ABAIDE, 2018, p. 56). Os principais países que receberam fluxos migratórios dos cubanos foram: o Peru, Argentina, Brasil e a Colômbia. Já os fluxos migratórios dos haitianos, que se deu a partir de “2010, com o terremoto e depois em 2016 com o furacão Matthew de 2016. São em torno de 100 mil haitianos vivendo na América do Sul, os quais estão em países como, Brasil, Argentina e Equador” (UEBEL; ABAIDE, 2018, p. 56). Outro caso apontado pelos autores são os fluxos migratórios dos senegaleses, estes são em 25 mil e cujos países: Brasil, Argentina e Chile centram os maiores grupos de migrantes desse país. A dinamicidade das migrações revela na América do Sul, uma região atrativa e facilitadora dos fluxos migratórios. Os sírios são outro grupo populacional que se expandiu para o Brasil. É um grupo populacional que também enfrenta diversos desafios, tais como, adaptação cultural e adaptação linguística (UEBEL; ABAIDE, 2018). Uma das situações mais delicadas dos fluxos migratórios é a “situação das famílias bengalis e filipinas, cujo principal destino são as Guiana Francesa, Guiana, Suriname e o Brasil” (UEBEL; ABAIDE, 2018, p. 61). Temos as famílias bolivianas que segundo Uebel e Abaide (2018), “a imigração boliviana domina os rankings migratórios de Brasil, Argentina, Chile, Peru, Equador e estão entre os principais grupos no Paraguai, Venezuela e Colômbia” (UEBEL; ABAIDE, 2018, p. 61). Por fim, temos as famílias de venezuelanos que nos chamam atenção desde 2016, pois desde esse período as crises econômicas, 109 políticas, sociais e democráticas fragilizaram as condições de desenvolvimento do país. Esses fluxos inter-regionais evidenciam as fragilidades econômicas, políticas e sociais da América do Sul, assim como, destacam os principais países receptores de migração e as constantes mudanças provocada pela inserção populacional nos países. 2.3 FLUXOS MIGRATÓRIOS DO MÉXICO PARA OS ESTADOS UNIDOS Você já deve ter ouvido falar sobre os conflitos migratórios entre os Estados Unidos e o México, ou sobre, as barreiras nas fronteiras e a tentativa de muitas pessoas passarem pelas fronteiras sem serem percebidos pelos policiais. Por outro lado, você também já ouviu sobre imigração ilegal, deportação, exploração da força de trabalho dos imigrantes. Esses são algumas informações que a maioria da população sabe sobre os fluxos migratórios do México para os EUA. De acordo com Dias (2008, p. 12), “o início da emigração mexicana rumo ao Norte poderia apontar-se para 1848, ano em que se firmou o Tratado de Guadalupe Hidalgo, pelo qual o México se viu forçado a ceder aos Estados Unidos quase metade do seu território, incluindo áreas hoje de intensa presença mexicana como a Califórnia, o Arizona e parte do Novo México”. Neste sentido, podemos compreender que as relações entre os fluxos migratórios do México para os Estados Unidos é motivo de conflitos constantes. O México é um país subdesenvolvido que faz fronteira com os Estados Unidos, maior potência econômica mundial. Logo, é natural que as pessoas que estejam em condições de vulnerabilidade tendam a querer migrar para regiões mais desenvolvidas. De acordo com Morales (2009, p. 6), “o México é um dos países latino-americano com maior número de emigrantes”. Os emigrantes, são pessoas que saem do seu local de origem e tendem a imigrar para outro país ou região. Neste sentido, historicamente, os fluxos imigratórios são acentuados para os Estados Unidos. Os grandes fluxos migratórios para os EUA têm como base o sonho americano, que consiste numa “ideia popular, divulgada após a independência, que afirmava em documento que todos os homens são criados da mesma forma e tem como princípios básicos a liberdade, a vida, a propriedade e a busca pela felicidade. Isso resultou em um imaginário de um país livre, totalmente desenvolvido e democrático” (ORAZEM, 2021, s.p.). Esse imaginário torna-se atrativo para migrantes do México e de outros países. O México torna-se a porta de entrada para que pessoas de outros países tenham acesso ao sonho americano. Mas, o sonho pode tornar um pesadelo quando muito migrantes se deslocam de forma irregular, sujeito a deportação, exploração, violência, desaparecimento etc. A tentativa de entrar irregular no país coloca em risco a vida dos migrantes. 110 O controle dos fluxos migratórios nos Estados Unidos foi intensificado a partir de 11 de setembro de 2001 e isso gerou vários tipos de violências aos migrantes. O controle excessivo está delimitado por Leis, barreiras naturais, como montanhas e rios e barreiras artificiais, como a criação de muros. Para Moreira, a decisão de migrar não está apenas atrelada à vontade individual, para ele “existe uma cadeia de estruturas e atores sociais que condiciona essa decisão” (MOREIRA, 2016, p. 3). Para Moreira (2016, p. 3): Existe uma cadeia de estruturas e atores sociais que condiciona essa decisão. [...] A passagem pelo México tem um significado não só para os migrantes, mas para os círculos sociais que lhes apoiam, as redes criminosas que lucram com eles, as instituições financeiras que lucram com as remessas e as instâncias públicas que procuram dar um enquadramento legal à migração. Acrescenta-se a isso a demanda pela força de trabalho migrante no local de destino. Não se pode dizer que o migrante é estruturalmente lesivo à sociedade e à economia dos Estados Unidos. Pelo contrário, nem é por isso que o migrante é levado à condição de indocumentado ou “ilegal”. Existe aqui uma dialética de atração e repulsão, em que o sistema capitalista em crise necessita explorar a força de trabalho precária do migrante indocumentado para aumentar a taxa de lucro, e só pode fazê-lo se o migrante for levado à condição de indocumentado desde o início do processo, e mantido nela. Os fluxos migratórios aos Estados Unidos, passando pelo México, não são espontâneos, mas provocados e delimitados por atores e estruturas que se aproveitam da travessia e da força de trabalho dos migrantes indocumentado. Essas estruturas revelam como se torna necessário manter desigualdades socioeconômicas nos países e vender a ideia de que os países desenvolvidos sãoos espaços que podem melhorar a vida dos imigrantes. Isso leva a uma problemática estrutural que tem impactos na vida do migrante bem como na família dele. Isso causa efeitos diversos, econômicos, políticos e sociais, como veremos no próximo subtópico. Por outro lado, hoje o México já não é apenas considerado como país de trânsito migratório para os EUA. O país passou a ser considerado como “uma nação de acolhida e que tem como objetivo no ano de 2021 superar a cifra inédita de 100.000 solicitações de asilo” (TORRADO et al., 2021, s.p.). 3 EFEITOS DEMOGRÁFICOS, ECONÔMICOS, POLÍTICOS E SOCIAIS DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS Para a Declaração Universal de Direitos Humanos, migrar é um direito humano. Esse direito pertence a qualquer pessoa, etnia, cultura etc., contudo, os Estados têm limitado esse direito de migração, impondo barreiras e leis cada vez mais severas para os fluxos migratórios. Neste sentido, o direito de migrar passa a ser dificultado para muitas pessoas que migram em busca de melhores condições de vida e que não têm 111 condições em seu país de origem. Contudo, é importante, ressaltarmos aqui que, os fluxos migratórios não causam apenas impactos nos países receptores de imigrantes, os impactos também são causados desde o país de origem desses emigrantes. Podemos dividir os países, para compreendermos os efeitos migratórios, em países de atração e países de repulsão. Os primeiros são atrativos devido às condições de desenvolvimento e possibilidades de conseguir emprego e melhorar de vida. Por outro lado, os países de repulsão são aqueles que apresentam menores condições de desenvolvimento, baixos índices de empregabilidade e dificuldades sociais e econômicas. Neste sentido, os efeitos são distintos para cada país, seja os de atração ou os de repulsão. Contudo, o próprio migrante também sofre com algumas problemáticas, como dificuldade de adaptação, preconceito, dificuldade de moradia etc. Os países de atração tendem a ter um crescimento populacional, em virtude dos intensos fluxos migratórios, apresentam maiores índices populacionais, maiores ofertas de mão de obra, muitas vezes, essas são precarizadas. Muitos postos de trabalho desses países de atração são ocupados apenas por imigrantes, tais como, bares, restaurantes, supermercados, açougues, postos de gasolina, trabalhos de baixa remuneração. Por outro lado, os países de repulsão, normalmente, perdem sua força de trabalho ativa, ou seja, a PEA, pois muitos que estão em idade de trabalhar, nestes lugares, tendem a migrar. Outro fator que chama atenção é a diminuição da população, mas, normalmente, muitos ativos financeiros são enviados para as famílias que ficaram para trás, o que consequentemente, evidencia a possibilidade de movimentar a economia das regiões repulsoras com ativos enviados pelos migrantes. Para Rosa Pérez Perdomo (2007, p. 111), “as pessoas que emigram levam consigo sua própria cultura, hábitos, costumes, religião, crenças e estados de saúde”. Além dos desafios que são encontrados do ponto de vista econômico, têm-se os sociais, pois o emigrante precisa “adotar um novo ambiente social e cultural que o pode levar a redefinir seu sistema de valores” (PERDOMO, 2007, p. 112). Como também, sofrem com as condições de adaptação, procura de emprego, enfrentamento a preconceitos, mas principalmente o emigrante perde suas redes de apoio social e passa a sofrer com o isolamento ou marginalização no novo país. Portanto, as implicações decorrentes do processo migratório, vão além de impactos demográficos e econômicos, estas impactam a vida do imigrante, que sofre dificuldades no âmbito social, econômico e enfrente outras variáveis que podem agravar o processo de adaptação, como “barreiras de linguagem e os preconceitos sociais e étnicos” (PERDOMO, 2007, p. 112). 112 3.1 CRISES MIGRATÓRIAS NA AMÉRICA LATINA Crises migratórias podem ser consideradas a problemática de um grande número de pessoas que se deslocam para outras regiões por conflitos políticos, econômicos, escassez alimentar, escassez hídrica, intolerância religiosa, problemas ambientais, entre outros fatores. Essa crise normalmente provoca grande deslocamento populacional, em situação de desespero, para chegar a algum país que possa dar asilo para os refugiados que estão fugindo dos seus locais de origem. Na América Latina, as crises migratórias nos últimos anos estiveram centradas no grande deslocamento populacional dos haitianos e venezuelanos. Os haitianos têm ganhado destaque nos fluxos migratórios com o a destruição ocorrida no Haiti em 2010 por conta do terremoto. Essa destruição causou muitos problemas sociais e econômicos e muitos viram na migração a possibilidade de recomeçar. Os haitianos ainda continuam migrando dentro da América Latina, inicialmente, os principais países foram o Brasil e o Chile, atualmente, segundo Torrado et al. (2021, s. p.), intitulado: “O êxodo silencioso dos haitianos na América”, relata um pouco dessa migração contínua, que hoje está centrada na região de fronteiras da Colômbia e do Panamá. Ainda assim, de acordo com Torrado et al. (2021), até agosto de 2020, eram mais de 143.000 haitianos no Brasil, estes em sua maioria estão concentrados em São Paulo e Rio Grande do Sul. Na década de 2010 a 2020, muitos haitianos conseguiram residência permanente no Brasil. As principais razões para isso foram por “razões humanitárias”, pois, as condições de desenvolvimento no Haiti ainda são bastante precárias. No que se refere ao fluxo migratório dos venezuelanos, estes têm se deslocado devido à crise política e econômica do país. A Venezuela tem enfrentado uma crise sem precedentes, chegando a faltar produtos básicos e alimentos para a população. Essa crise fez com que muitos venezuelanos migrassem para outros países, como: Colômbia, Chile, Equador, Argentina, Peru e Brasil. De acordo com o “Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM), há mais de 4,6 milhões de venezuelanos fora do seu país” (CHIARINI, 2019, s.p.). Para o país receptor receber grandes fluxos migratórios é um desafio, em nosso caso, o estado de Roraima foi um estado que sofreu, e ainda sofre, com a chegada dos fluxos populacionais. Sem infraestrutura adequada para grandes contingentes populacionais, o enfrentamento a situação de migração e o apoio do estado são necessárias para que o imigrante possa ter condições de moradia, escolaridade e trabalho. Neste sentido, os imigrantes enfrentam diversas dificuldades para além das quais eles fugiram do seu local de origem, isso revela uma grande aversão dos estrangeiros pelo povo brasileiro, ou seja, a xenofobia, é outro fator que impacta na vida dos migrantes, nas condições sociais e econômicas. Por fim, o Estado, enquanto nação deve conseguir desenvolver políticas públicas para inserir as populações em condições de vulnerabilidade social. 113 3.1.1 Xenofobia O termo xenofobia refere-se ao medo que as pessoas têm do estrangeiro, ou refere-se ao “ódio, receio, hostilidade e rejeição em relação aos estrangeiros” (LA GARZA, 2011, p. 1). De acordo com La Garza (2011, p. 1), a xenofobia é uma “discriminação por preconceitos religiosos, históricos, culturais e nacionais) isso leva a uma segregação do imigrante”. A Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (LA GARZA, 2011, p. 1) afirma que “uma das formas mais comuns da xenofobia, é o racismo. Para a Convenção Internacional no Brasil, em seu Art. 1º parte I, destaca que a expressão “discriminação racial” significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica” (LA GARZA, 2011, p. 1). A xenofobia é a causa de atos violentos, atos preconceituosos, atos de injustiças, discursos de ódio contra os imigrantes em determinados países. Os trabalhadores migrantes são vistos como intrusos no mercado detrabalho do país de entrada. A xenofobia também é expressa em discursos de que os imigrantes são os responsáveis pelo aumento da criminalidade, da pobreza, da desigualdade social em alguns países. Contudo, a xenofobia se expressa de maneira diferente entre os imigrantes, pois há fatores que devem ser levados em consideração. A aversão pode ser por origem geográfica, gênero, etnia, classe social, religião. A depender dos casos em questão a xenofobia se manifesta de maneira bem distinta entre diferentes grupos. No Brasil, a xenofobia é crime de acordo com a Lei nº 7.716, de janeiro de 1989. Em seu artigo 1º a lei afirma que “serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” (MORAIS, 2018, s. p.). 114 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As migrações são deslocamentos populacionais e têm diversos fatores: políticos, econômicos e ambientais. E que as migrações podem ser consideradas como migração espontânea e migração forçada. • As migrações podem ter aspectos positivos e negativos, e no contexto da globalização as migrações tornaram-se bastante evidentes na economia mundial. • As migrações ocorrem em dois grandes sentidos: Sul e Norte, essa realidade ainda se dá em função das disparidades econômicas entre as regiões centrais e as regiões periféricas. • Há diferença entre os refugiados e migrantes. Os refugiados “são pessoas que estão deixando sua nação devido a perseguições” e os migrantes saem voluntariamente do seu local de origem. • Há diferentes intencionalidades no fluxo migratório, e que na América Latina, esses fluxos são distintos, mas, têm muita coisa em comum, como a precarização da mão de obra do trabalhador migrante, os impactos sociais, econômicos, políticos e demográficos que atingem o migrante e ao empresário. • A xenofobia é uma aversão ao estrangeiro e no Brasil é considerada crime. 115 1 As migrações podem ser consideradas como um fenômeno que está na base da formação da sociedade, pois os deslocamentos populacionais estão presentes em diversos momentos históricos. Nos dias atuais, as migrações podem ser classificadas como migração por crises ambientais, crises políticas, guerras civis, busca por trabalho, estudo, fuga de cérebros, ou seja, há diversos motivos para os fluxos migratórios. Tendo isso em vista, sobre as diversas formas de migrações, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As migrações internacionais entre os países do Sul-Norte têm como fator principal as disparidades econômicas entre os países. Nos países do Sul, as condições de desigualdades sociais provocam grandes deslocamentos populacionais. Nos países do Norte, por sua vez, por terem melhores condições de desenvolvimento são considerados países mais atrativos para os fluxos migratórios. b) ( ) A intensificação dos fluxos migratórios nos últimos anos decorre da abertura de fronteiras dos países desenvolvidos, pois a maioria dos países mais ricos precisa de mão de obra, devido à maior parte de sua população ser mais idosa, isso faz com que a maioria dos países ricos, facilitem a entrada de imigrantes em seus países. c) ( ) Com o avanço da globalização, a expansão das empresas nos países subdesenvolvidos e a melhoria da condição de vida dos países da América Latina, os fluxos migratórios têm diminuído nos últimos anos, pois não se tem mais a necessidade de migrar para conseguir emprego. A globalização permitiu que os países mais pobres ampliassem seus postos de emprego. d) ( ) As migrações na América Latina decorrem principalmente da busca por melhores condições de estudos, emprego. Os países que mais são atrativos dentro da América Latina são: Uruguai, Paraguai, Chile, Brasil e Venezuela. 2 Considera-se que a migração é um direito humano, isso está definido na Declaração Universal de Direitos Humanos. Neste sentido, o direito de migrar é atribuído a qualquer pessoa, etnia, cultura etc., mas, nos últimos anos, esse direito vem sendo limitado por muitos países que têm políticas migratórias restritivas, pois compreendem que os fluxos migratórios geram problemas para o desenvolvimento de seus países. Com base no texto acima, analise as sentenças a seguir: I- O México já não é apenas considerado como país de trânsito migratório para os EUA O país passou a ser considerado como “uma nação de acolhida”. II- O Brasil é um dos países da América Latina que mais controla os fluxos migratórios, nos últimos anos, devido à grande entrada de imigrantes do Haiti e da Venezuela. III- O controle dos fluxos migratórios nos Estados Unidos foi intensificado a partir de 11 de setembro de 2001 e isso gerou vários tipos de violências aos migrantes. AUTOATIVIDADE 116 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 De acordo com a Lei nº 9459, de 13 de maio de 1997, serão punidos os crimes “resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Com base nessa lei a xenofobia é considerada crime. Com base no termo xenofobia, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Podem ser considerados xenofobia, atitudes e comportamentos discriminatórios com os estrangeiros, ao migrante, ao refugiado. ( ) O Brasil por ser um país muito acolhedor, as pessoas que chegam aqui na condição de migrante ou refugiado, não sofrem com xenofobia, pelo contrário, existe apoio e acolhimento da população brasileira para ajudar o estrangeiro. ( ) Para O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, com o aumento da migração no mundo, devido ao aumento dos deslocamentos populacionais forçados, como guerras, perseguições políticas, violação dos direitos humanos, crises econômicas, a xenofobia e intolerância crescem na mesma medida. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Crises migratórias podem ser consideradas a problemática de um grande número de pessoas que se deslocam para outras regiões por conflitos políticos, econômicos, escassez alimentar, escassez hídrica, intolerância religiosa, problemas ambientais, entre outros fatores. Essa crise normalmente provoca grande deslocamento populacional, em situação de desespero, para chegar a algum país que possa dar asilo para os refugiados que estão fugindo dos seus locais de origem. Disserte sobre uma das maiores crises migratórias da atualidade na América Latina, os deslocamentos populacionais em massa da Venezuela para outros países. 5 Os fluxos migratórios causam impactos nos países receptores de imigrantes e nos países deixados por estes. Podemos dividir os países, para compreendermos os efeitos migratórios, em países de atração e países de repulsão. Os primeiros são atrativos devido às condições de desenvolvimento e possibilidades de conseguir emprego e melhorar de vida. Por outro lado, os países de repulsão são aqueles que apresentam menores condições de desenvolvimento, baixos índices de empregabilidade e dificuldades sociais e econômicas. Neste sentido, disserte sobre os impactos dos fluxos migratórios nos países de atração e nos países de repulsão. 117 TÓPICO 3 - ECONOMIA DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos a economia dos países latino-americanos. Os principais países que abordaremos, neste tópico, serão o México e suas relações econômicas com a América Anglo-Saxônica. Falaremos também dos países que mais têm destaque na economia na América Central e na América do Sul. Além da questão econômica, nós abordaremos a questão dos governos militares na América Latina, principalmente, no Brasil, na Argentina e na Venezuela. Falar da política desses países implica falarda posição destes nas condições econômicas mundiais, em seu contexto histórico e atual. Por fim, abordaremos a questão do Mercado Comum do Sul, sobre sua criação, suas características e sobre os países membros. O MERCOSUL é o bloco econômico mais importante da América Latina, principalmente para a América do Sul, este bloco é responsável por 69,2% do PIB da região. A economia dos países da América Latina tem passado por vários desafios, com uma estrutura econômica baseada na agricultura, pecuária, extrativismo e industrialização, os países da América Latina ainda possuem baixas condições de desenvolvimento. E mesmo que algumas economias se destaquem, como é o caso do Brasil, do Chile, do México, muitos países, assim como os citados anteriormente, vêm passando por uma profunda crise, altas inflações, fechamento de mercados, crescimento do subemprego, precarização do trabalho, aumento do trabalho informal, todas esses problemas, antes já existentes, foram agravados entre os anos de 2020 e 2021 em virtude, da pandemia da COVID-19. De acordo com o Estudo Econômico da América Latina e do Caribe 2021, publicado pela Cepal (2021, p. 7), a economia da América Latina tem um novo desafio, pois com a COVID-19 “as perspectivas econômicas mostram crescentes divergências entre os países”, alguns retomaram suas atividades econômicas e tendem a se recuperar e outros, em função da falta de políticas governamentais para auxiliar a população e no empenho em aplicar vacinas, para retomar as atividades, as condições de desigualdades aumentaram muito, diminuindo o poder de compra das populações, aumentando a insegurança alimentar e isso implica um baixo desenvolvimento na região. O estudo da economia dos países latino-americanos revela as diferenças produtivas na região e o alto índice de desemprego, fechamento de empresas, baixos investimentos. Neste sentido, nos próximos subtópicos, deteremos nosso estudo sobre essas problemáticas relacionando-as às principais economias da América Latina. UNIDADE 2 118 2 PRINCIPAIS ECONOMIAS DA AMÉRICA LATINA As dez maiores economias da América Latina são: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai. Observe o mapa para localizar os países. FIGURA 2 – PAÍSES DA AMÉRICA LATINA FONTE: Silva e Silva (2016, p. 45) 119 Todo país tem características que marcam o seu desenvolvimento econômico, estabelece relações com o mercado interno e com o mercado regional. Todavia, a predominância da economia na região ainda está centrada no setor primário, como o extrativismo, mineração e agropecuária. Na industrialização, os países da América Latina, iniciaram de forma tardia. Brasil, Argentina, México e Chile são países que tiveram impulso na industrialização com a Segunda Guerra Mundial, pois os países que estavam em guerra tinham dificuldades de exportar e importar os produtos que necessitavam. Com isso, Brasil, Argentina, México e o Chile tornaram-se foco das empresas para a expansão industrial, que se tornou tardia em relação aos países desenvolvidos, dos quais, muitos países latino-americanos são dependentes. As condições econômicas dos países latino-americanos são muito parecidas, são economias que tiveram como base a colonização. Tem base de dependência, altas concentração fundiária e desigualdade social, assim como apresentam altas inflações e altos impostos. As economias desses países, atualmente, especificamente no século XXI, têm enfrentado grandes desafios devido ao avanço neoliberal em seus territórios, que contribuem para agravar ainda mais os problemas socioeconômicos da região, favorecendo o fortalecimento do capital. No contexto pandêmico, a partir do ano de 2020, a crise sanitária da COVID-19, escancarou ainda mais as problemáticas da região, assim como a economia mundial, que teve uma retração, a América Latina se viu diante de uma problemática sem precedentes. Essa retração implica a diminuição da produção, circulação e consumo. No contexto da América Latina, muitos países que mantêm fortes relações econômicas com os países da Europa e da Ásia viram sua economia despencar devido à crise sanitária. De acordo com a Cepal (2020, p. 5), “a crise desencadeou uma contração do comércio internacional, resultando sob flutuação de preços, volatilidade dos mercados financeiros”, isso decorreu das medidas necessárias para combater a COVID-19, como as medidas de confinamento adotada por muitos países. Isso impactou vários setores da economia. As principais economias como, Brasil, México, Argentina, entre outras, sofreram bastante com a queda na economia em virtude da pandemia. Segundo o Banco Mundial (2022, s. p.), “a pandemia da COVID-19 expôs o Brasil a um desafio sanitário e econômico sem precedentes. Trouxe incertezas à estrutura de política macroeconômica, principalmente ao cenário fiscal, o que se traduz em riscos negativos que requerem uma forte consolidação fiscal e a adoção de reformas estruturais”. Contudo, não só o Brasil sofreu com os problemas decorrentes da pandemia, os países da América Latina, que já apresentam baixas condições de desenvolvimento, tiveram bastante dificuldades na adaptação das restrições sanitárias. O aumento do desemprego e da informalidade na região aumentou e gerou além da crise da saúde, o agravamento da crise econômica, já vivenciada pela maioria dos países latino- americanos. Mesmo diante dessa conjuntura, para a Bárcena (2021, s. p.) “a América Latina e o Caribe crescerão em 2021”. 120 Para Alicia Bárcena (2021, s. p.), secretária-executiva da Cepal, esse crescimento pode ser explicado “por uma baixa base de comparação [...] além dos efeitos positivos derivados da demanda externa e da alta nos preços dos produtos básicos (commodities) exportados pela região, bem como pelos aumentos da demanda agregada”. No site da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe são disponibilizados vários estudos de pesquisas, relatórios, coleções de livros, monografias, documentos de reuniões e conferências. Esses documentos englobam temas como: assuntos de gênero, agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, Covid-19, Comércio internacional, desenvolvimento econômico, produtivo, empresarial, social e sustentável, além de dados sobre estatísticas dos países latino-americanos em diversos campos de pesquisa, como população, recursos naturais, infraestrutura, gestão pública e planejamento. Para saber sobre essas informações não deixe de acessar o site da Cepal: https://www.cepal.org/pt-br. DICA 2.1 MÉXICO País localizado na América do Norte. Na divisão socioeconômica, encontra-se na região da América Latina. Concentra sua população em áreas urbanas. É um país marcado por grandes fluxos migratórios para os Estados Unidos, assim como local de passagem de migrantes para o EUA Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Geografia do México (INEGI, 2021), o país tem 125.200.000 habitantes em 2018, a religião predominante é a católica com 88% da população. Por outro lado, os protestantes e evangélicos são 5,2% da população e 4,3% professam outras religiões. O México é considerado, desde 1917 uma República representativa, democrática, laica, federal, composta de estados livres. Constitui-se de 31 estados. A capital do país é a Cidade do México, a média da expectativa de vida é de 75 anos. Em 2019, constatou- se que 41,9% da população vivia em situação de pobreza. A economia do México mantém fortes relações com os Estados Unidos e com os países da América Latina. De acordo com a Organização Mundial do Comércio, o México é 11º exportador do mundo e o 12º importador. De acordo com a site do Banco Santander (VALORES [...], 2021, s.p.), o México “exporta principalmente veículos e peças, máquinas de processamento de dados automáticos, combustíveis minerais, petróleo e maquinário. Quanto às importações, o México adquire óleos de petróleo, outros que não o bruto, parte de veículos e circuitos eletrônicosintegrados”. 121 Com uma economia extremamente dependente, o México relaciona-se com os Estados Unidos que compram mais de ¾ de suas exportações, além dos EUA, o México mantém relações com os países da União Europeia e o Canadá. No que tange às importações, o país concentra nos Estados Unidos, China, União Europeia e no Japão. O México mantém acordos econômicos com vários países, mas o principal acordo é com os Estados Unidos e o Canadá. Esse acordo, desde 1994, era conhecido como Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (NAFTA), porém, em julho de 2020, esse tratado foi atualizado para um novo acordo entre os países e substitui o NAFTA pelo USMCA, sigla correspondente ao nome dos países. Esse novo acordo oficializado no governo de Donald Trump objetiva o protecionismo dos Estados Unidos, no contexto de um mercado mais livre, seguro e favoreça o crescimento econômico. As mudanças desse acordo são (VALORES [...], 2021). QUADRO 1 – MUDANÇAS DO ACORDO ECONÔMICO EUA, MÉXICO E CANADÁ: DO NAFTA AO USMCA FONTE: Adaptado de Sousa (2022) • Setor automotivo: o novo acordo pretende impedir que indústrias se transfiram para locais de mão de obra mais barata. A ideia é que cerca de 75% das peças de um carro sejam fabricadas nos Estados Unidos por trabalhadores que recebam em média 16 dólares por hora. • Setor de laticínios: o Canadá concordou em diminuir as barreiras do setor de laticínios, já que o governo dos Estados Unidos classificava a proteção dos produtos lácteos injusta com altas tarifas de importação. Assim, amplia-se o mercado de laticínios entre Canadá e Estados Unidos. • Validade do acordo: o acordo deixará de vigorar em dezesseis anos. • Propriedade intelectual: aumento a proteção, oferecendo-a a farmacêuticos e inovadores agrícolas. Essa proteção também está direcionada para os direitos autorais de escritos e compositores. • Comércio eletrônico: USMCA veta produtos aduaneiros distribuídos digitalmente, como livros e jogos. Os acordos comerciais são necessários para que os países possam abrir seus mercados, eliminar as barreiras alfandegárias, contribuir para dinamizar a economia e consequentemente impulsionar o aumento da produtividade e fortalecer as relações políticas entre os países membros. Para os países subdesenvolvidos como o México, ter relações comerciais que impactam sobre a economia, geração de emprego e renda, viabilizam o aumento produtivo do país, por outro lado, acabam se subordinando aos interesses dos países mais desenvolvidos economicamente. Podemos constatar isso com a instalação das empresas maquiladoras no território do México a partir da década de 1960. De acordo com Arrieta (2022, s.p.), 122 as empresas maquiladoras são aquelas que realizam a manufatura parcial, encaixe ou empacotamento de um bem sem que sejam as fabricantes originais. Ou seja, são fábricas de encaixe, manufatureiras e de serviços, destinadas à transformação, elaboração ou reparo de mercadorias de procedência estrangeira cujo destino principal é a exportação para os Estados Unidos. A instalação das empresas maquiladoras no México resultaram de um acordo com os Estados Unidos na década de 1960, “estabeleceu-se a Política de Fomento à Indústria Maquiladora de Exportação em coordenação com o Programa de Industrialização da Fronteira Norte” (ARRIETA, 2022, s.p.). Esse acordo tinha como objetivo aumentar as condições de trabalho no México, mas principalmente diminuir os fluxos migratórios para os Estados Unidos. Isso foi possível devido aos benefícios que o governo mexicano cedeu às grandes indústrias, que se expandiam pelos países mais pobres em busca de diminuir os custos de produção e aumentar seus lucros. Portanto, o México, como país periférico, beneficiou a lógica das grandes empresas dando a elas: “cargas tributárias nulas, baixos custos de transporte, normas ambientais débeis, custo trabalhista mínimo” (ARRIETA, 2022, s.p.). Essas empresas impactam sobre a vida da população mexicana, os trabalhadores sofrem condições de precarização salarial e trabalhista e se submetem a essas empresas pela necessidade de sobrevivência. De acordo com Baumgratz e Cardin (2019, p. 90), a maquila não pode ser pensada como maneira exclusiva de desenvolvimento do país. Ela requer uma força de trabalho barata para garantir o lucro das indústrias, gerando a longo prazo uma superexploração de uma força de trabalho desqualificada e [...] o lucro das empresas são investidos no país de origem, o imposto cobrado é baixo, e parte dele ainda pode ser revertido para a empresa, sem mencionar os danos ambientais causados e muitas vezes não considerados. Portanto, as empresas maquiladoras ao mesmo tempo que contribuem para o desenvolvimento da economia mexicana, diminuindo o desemprego, por exemplo, ainda assim provocam uma extrema dependência do México em relação aos Estados Unidos, o que permite ainda um intenso fluxo migratório na região. 2.1.1 Relações econômicas do México com a América Anglo- Saxônica As relações econômicas do México com os países da América Anglo-Saxônica, Estados Unidos e Canadá destacam-se pelo acordo político com o NAFTA em 1994 e que hoje é um acordo denominado USMCA (sigla referente ao nome dos países Estados Unidos, México e Canadá). Essas relações entre dois países mais desenvolvidos economicamente e um país com baixo desenvolvimento estabelece acordos nas exportações, importações, 123 fluxo de mercadorias e serviços, legislações alfandegárias e consequentemente a dominação dos mais desenvolvidos sob o menos desenvolvido. Contudo, em nosso estudo, queremos destacar a forte relação do México com os Estados Unidos, inicialmente conflituosa desde a Guerra que os dois países tiveram entre os anos 1946-1948. Atualmente, essa relação se dá no campo econômico, através da USMCA, das trocas comerciais, exportações e importações e das empresas maquiladoras. Economicamente, a integração dos países latino-americanos é muito importante. O México, por exemplo, tem uma forte dependência dos Estados Unidos, por outro lado, essa relação é econômica, pois, na circulação de pessoas, o México e os EUA têm conflitos constantes por serem países de região de fronteira entre si. No entanto, esse conflito não está ligado apenas às migrações, o México é um país subdesenvolvido, que apresenta altos índices de desigualdade social, com isso aceita as imposições estadunidenses e continua um país extremamente dependente dos EUA nas relações econômicas. Além dessa dependência, os conflitos são constantes entre os dois países e para Naddi (2015), esses conflitos se dão em função das relações estabelecidas ao longo do tempo, como os conflitos territoriais. Vejamos a fala dela: Os conflitos ocorridos entre estes dois países, pautados principalmente no aspecto territorial, faz com que o México baseie sua desconfiança jus- tamente sob este ímpeto expansionista e intervencionista estaduniden- se. Por outro lado, os Estados Unidos, possuindo instituições mais madu- ras, desconfia das instituições, governo e estrutura social mexicana, pois entende esta instabilidade de seu vizinho do sul como uma ameaça à sua segurança nacional. A partir dos governos desenvolvimentistas mexica- nos no século XX, a histórica desconfiança entre os vizinhos foi adminis- trada por meio de uma troca de garantias. Enquanto os Estados Unidos não interviessem na democracia mexicana e em sua autonomia externa, o México garantiria sua estabilidade interna no sentido de não perturbar a segurança nacional dos Estados Unidos (NADDI, 2015, p. 81. Naddi (2015) nos ajuda a compreender como os dois países estabelecem relações diplomáticas para garantir a segurança nacional dos EUA e a democracia mexicana. Mas, isso não é tão fácil de se estabelecer, uma vez que, o México por ser menos desenvolvido e está no limite territorial com os EUA, é a área de maior acesso para os fluxos migratórios, tanto de migrantes estrangeiros quanto do próprio país. A relaçãoentre o México e os EUA é marcada pelo comércio produtivo e pela expansão das maquilas, como falamos anteriormente. O sistema empreendido pelas maquiladoras, de importação de produtos de alto valor agregado para aplicação de trabalho com o uso extensivo de mão de obra, e posteriormente, reexportação destes ao mercado estadunidense, cria uma relação de dependência entre as exportações e importações (NADDI, 2015, p. 81). 124 É nessa dependência que ocasiona falta de dinamismo econômico no México, pois a produção está direcionada para exportação. Nessa dependência, consequentemente, a industrialização do país torna-se tardia e os investimentos nas relações de trabalho são baixos, pois paga-se baixos salários. Mas, por outro lado, as empresas recebem bastante benefícios para gerar emprego e se fazer presente na economia mexicana (NADDI, 2015). Vemos que as relações entre os países impactam sobre ambos, quando os Estados Unidos sofreram a crise econômica em 2008, o México também sofreu economicamente, pois o país depende das exportações para os EUA, contudo, podemos dizer que, há uma dependência mútua nessas relações econômicas entre os países, mas claro que essa dependência não é igual, uma vez que os EUA é a primeira potência econômica mundial. 2.2 AMÉRICA CENTRAL Observe a Figura 3, a seguir, ela destaca o território da América Central. Já vimos na Unidade 1, um pouco das características da América Central, quando falamos da regionalização do continente americano. Sabemos que a América Central se subdivide em continental e insular. A parte continental está nos limites fronteiriços com a América do Norte e a América do Sul, nessa parte tem-se sete países: Costa Rica, Belize, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá. Na parte insular, formada por ilhas, temos ilhas localizadas no Mar das Antilhas, que se divide em: grandes Antilhas, pequenas Antilhas e Bahamas. Essa parte é o famoso mar do Caribe, que constitui o território de Cuba, Haiti, Jamaica, Haiti, Porto Rico e República Dominicana. As pequenas Antilhas englobam as nações Antígua e Barbuda, Barbados, Dominica, Granada, Santa Lúcia, São Cristóvão, Nevis, São Vicente, Granadinas e Trinidad e Tobago, e cinco possessões do Reino Unido: Anguilla, Ilhas Cayman, Ilhas Turks e Caicos, Ilhas Virgens Britânicas e Montserrat, Holanda, França e Estados Unidos também têm possessões nessa região. A Holanda tem as Antilhas Holandesas e Aruba. França, Guadalupe e Martinica e os Estados Unidos, as Ilhas Virgens Americanas (GUITARRARA, 2022). 125 FIGURA 3 – AMÉRICA CENTRAL FONTE: <https://bit.ly/3s9tU9z>. Acesso em: 18 fev. 2022. A América Central é conhecida por uma economia com pouco desenvolvimento e tem como base o turismo, a agricultura e pequenas indústrias. Esta região tem como aporte econômico o Bloco do Mercado Comum Centro-Americano (MCCA). Este bloco surgiu em 1960 e o objetivo foi de promover a paz na região, afetada por graves conflitos bélicos (REPRESENTAÇÃO [...], 2022). A América Central tem a maioria dos seus países constituída de povos indígenas, mestiços e europeus. Nesta região, o idioma principal é o espanhol, mas, em outros territórios há outros idiomas, como: inglês, francês, holandês e outros dialetos. No que se refere à industrialização, o país produz alimentos, bebidas, tabacos e se concentra na produção de roupas, sapatos, medicamentos, produtos químicos, cimento, papel e produtos de madeira. Outro fator que contribui para a economia da região é o turismo, que movimento muito a economia da região (OLIVEIRA, 2019). De acordo com Palicer (2017), a América Central é considerada uma região fraca, com pouca influência no sistema internacional. A região para o autor é palco de altos índices de pobreza e desigualdade social com todas suas terríveis consequências como a forme e a violência. Além desses fatores a região conta com baixa capacidade industrial, consequentemente, é uma região cujo Produtos Interno Bruto é muito baixo e ainda tem maior dependência estrangeira (PALICER, 2017, p. 45). Mesmo com dependência estrangeira a América Central atua economicamente no cenário internacional e se organiza através de blocos econômicos como o MCCA. Veremos no próximo subtópico, a questão da economia e do desenvolvimento na região. 126 2.3 AMÉRICA CENTRAL: ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO Palicer (2017, p. 52) afirma que “o adjetivo Central que se transforma em elemento do substantivo composto América Central se refere à posição estratégica dessa região, que se encontra entre as Américas do Sul e do Norte”. Essa fala de Palicer (2017), retrata a importância geoestratégica da região, que é constituída de pequenos Estados, baixo desenvolvimento e considerada como uma região periférica. A economia da América Central é considerada periférica devido aos baixos índices de desenvolvimento, mão de obra barata e matérias-primas de baixo custo. Esses fatores já foram muito importantes na economia para a expansão das grandes empresas para territórios subdesenvolvidos. Hoje, com as novas relações de trabalho, a necessidade de qualificação da força de trabalho para atender às necessidades do mercado, assim como, as facilidades dos transportes e da comunicação, são fatores que evidenciam a desvalorização da região no contexto da economia internacional. Neste sentido, o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo que produz riqueza, gera pobreza. Isso é próprio do sistema capitalista que vivenciamos. Essas desigualdades provocadas pelo capital podem ser expressas através das desigualdades sociais, territoriais, baixo investimento produtivo, na indústria, na cultura, no turismo, baixo investimento tecnológico. A economia da região é centrada na produção do café, açúcar, frutas tropicais e bananas. Esses produtos são voltados para a economia de exportação. A América Central também depende muito da economia dos Estados Unidos, pois o país é uma potência econômica mundial e exerce muita influência em países subdesenvolvidos. Portanto, o desenvolvimento desigual provocado pelo sistema capitalista também explica a formação de paraísos fiscais na região das Ilhas das Bahamas e Cayma, devido às flexibilidades nas cobranças de impostos. A América Central para integrar-se regionalmente criou o Mercado Comum Centro- Americano, que teve vigor a partir de 4 de junho de 1961. O Bloco conta com a integração de Honduras, Nicarágua, Costa Rica, El Salvador e Guatemala (KYNOSHITA, 2012). O objetivo do MCCA de acordo com seus artigos primeiro e segundo dizem o seguinte: Artículo I. Los Estados contratantes acuerdam establecer entre ellos um mercado común que deberá quedar perfeccionad o em um plazo máximo de cinco años a partir de la fecha de entrada em vigencia de este Tratado. Se comprometen además a constituir uma unión aduanera entre seus territorios. Articulo II. Para los fines del artículo anterior las Partes contratantes se comprometen a perfeccionar uma zona centroamericana de libre comnercio em um plazo de cinco anõs y adoptar um arancel centroamericano uniforme em los términos del Convenio Centroamericano sobre Equiparación de Gravámenes a la importación (KINOSHITA, 2012, s. p.). 127 Podemos ver que no artigo primeiro, já na década de 1960, os países objetivavam estabelecer um mercado comum entre eles, comprometendo-se a construir uma união aduaneira entre seus territórios e constituírem uma zona de livre comércio entre os países membros. Muitos fatores determinaram o pouco avanço do bloco, em virtude de conflitos políticos e de acordo com KINOSHITA (2012, s. p.) “escassez de recursos e de oportunidades de expansão do mercado interno; escassa vinculação pelo que se refere a infraestrutura limítrofe dos países membros e a instabilidade política”. O desenvolvimento da América Central com todos os limites políticos, sociais e econômicos, torna-se um desenvolvimento periférico, além do mais, seu bloco tem como parceiro principal a maior potênciaeconômica mundial, os Estados Unidos, o que evidencia, consequentemente, uma condição de dependência. Os paraísos fiscais são países que tem flexibilidade na cobrança de impostos, para o dinheiro depositado nas instituições financeiras. Nesse esquema tem-se a garantia do anonimato dos donos do dinheiro. De acordo com Alonso, na Enciclopédia Latino Americana), “os paraísos fiscais funcionam como refúgio seguro para indivíduos e empresas que burlam os fiscos nacionais [...] são considerados espaços de lavagem de dinheiro, como dinheiro obtido com atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e armas, a corrupção política e o contrabando”. FONTE: <https://bit.ly/3tQmabM>. Acesso em: 18 fev. 2022. ATENÇÃO 3 AMÉRICA DO SUL Começamos esse subtópico identificando a América do Sul através da representação cartográfica. Observe o mapa a seguir: 128 FIGURA 4 – AMÉRICA DO SUL FONTE: <https://bit.ly/3LLz42W>. Acesso em: 8 nov. 2021 A América do Sul é constituída de 12 países e um território, a Guiana Francesa. Essa porção do continente americano constitui-se de uma diversidade geológica, climática, econômica, política e cultural. A língua predominante nesta região é o Português e o Espanhol, em virtude do processo colonial europeu sobre o território americano. Esse processo colonial dizimou povos originários da região e que até os dias atuais, seus descentes reivindicam o direito à terra, reconhecimento de seu território, história, cultura e costumes. No Brasil, por exemplo, temos os indígenas que têm sofrido com diversos tipos de violência por parte do Estado, da sociedade civil, dos grandes grileiros de terras, donos do setor do agronegócio, que têm dizimados os indígenas para expandir a exploração das terras produtivas, provocando conflitualidades que, muitas vezes, destrói modos de vida indígena, provoca mortes, violência. Por outro lado, a luta indígena é forte, mesmo que o impacto desses conflitos ainda seja grande no Brasil e em alguns países da América do Sul. 129 A região também é conhecida por sua diversidade na fauna, na flora e nos recursos hídricos. A diversidade de paisagens na região vai de desertos, cordilheiras, geleiras, florestas úmidas. Há também na região climas tropicais com altas temperaturas e subtropicais com temperaturas mais amenas. Em relação ao relevo apresenta-se na região cadeias de montanhas, planícies centrais, planaltos, serras. Os recursos hídricos é outra riqueza presente na região, como a bacia amazônica e platina (POLON, 2022). A América do Sul tem economias subdesenvolvidas. A economia dos países da América do Sul representa baixo desenvolvimento industrial e centram a produção na produção de commodities. A região apresenta um fraco desempenho econômico em relação a outras economias mundiais. Além de fraco desenvolvimento econômico, a região lida com um histórico de países que tiveram ditaduras. Ainda hoje muitos países vivenciam crises políticas e altos níveis de corrupção. Esses fatores impactam sobre as condições socioeconômicas da população, impactando em desemprego, falta de renda, informalidade, miséria, desigualdades sociais extremas na região. A industrialização na região se deu de forma tardia, e os países que mais têm se destacado no setor industrial é o Brasil, o Chile, a Argentina, Colômbia e Uruguai. Tendo os principais setores sendo destacados pelo beneficiamento de produtos da agricultura, principalmente do setor do agronegócio, e da produção de bens de consumo. Entretanto, o Brasil e a Argentina são dois países que têm se destacado em uma indústria mais avançada, principalmente, nos setores de extração, siderurgia e refino do petróleo. 3.1 GOVERNOS MILITARES NA AMÉRICA LATINA: BRASIL; ARGENTINA E VENEZUELA As décadas de 1960 e 1980 marcaram as formas de governo ditatoriais na América Latina, principalmente, na América do Sul (COGGIOLA, 2001). As ditaduras deixaram marcas profundas na sociedade, devido aos impactos decorrentes dessa forma de governo, que determinava repressões, fechamento de instituições, como sindicatos, ameaças aos mais diversos grupos de movimentos sociais, instabilidade econômica, falta de liberdade de expressão, censuras e perseguições política. Para COGGIOLA (2001, p. 11), há alguns pontos em comum nos regimes militares, sejam os regimes mais populistas ou os regimes mais repressivos, “é o intenso poderio econômico, social e político da instituição militar”. 130 Para Emir Sader (2022, s. p.), na Enciclopédia Latino-americana, as ditaduras implantadas no século XX, tiveram como objetivo principal “a doutrina de segurança nacional”. Isso refletiu a instalação desse regime em países como o Brasil (1964), Bolívia (1964), Argentina (1966 e 1976); Chile (1973) e Uruguai (1973). Esses regimes militares, que foram os responsáveis pela implantação de ditaduras, surgiram no contexto da Guerra Fria, com apoio dos Estados Unidos, cujo discurso permeava o combate ao comunismo. Para Emir Sader (2022, s. p.), existiam diferenças entre a forma como a ditadura ocorreu nos países latino-americanos, para ele A brasileira, instalada ainda no longo ciclo expansivo do capitalismo internacional, pôde beneficiar-se de investimentos, imprimir um novo ciclo expansivo à economia do país e manter a presença do Estado na economia, particularmente mediante empresas estatais. A ditadura militar Argentina, instalada em 1966, fracassou e, quando os militares voltaram ao poder, em 1976, a economia mundial já se encontrava em recessão, condenando o regime militar à estagnação. A ditadura na Venezuela é marcada pela eleição de Hugo Chavéz, em 1998 e início do seu governo em 1999. Com a ascensão dos militares ao poder, a democracia se enfraqueceu e instalou-se no país uma ditadura de esquerda. Diferentemente do Brasil e Argentina, que tiveram forte poder político de direita. As ditaduras militares marcaram a “derrota de forças populares, movimentos sociais”, repressão a intelectuais críticos ao sistema (SADER, 2022, s. p.). Além disso, as ditaduras foram marcadas por violência, mortes, sequestros, perseguição, tortura e assassinato de militantes e opositores. Até os dias atuais, boa parte desses crimes que aconteceram na ditadura “ficaram impunes em todos os países em que elas existiram” (SADER, 2022, s.p.). Sader (2022), afirma que alguns países, como o Chile e a Argentina, tiveram algumas condenações correspondentes pelos crimes, como o caso de Augusto Pinochet, que foi processado. Observe o mapa a seguir retirado da plataforma eletrônica da Fundação Getúlio Vargas, que nos dá um panorama das ditaduras nos países latino-americanos. 131 FIGURA 5 – DITADURAS MILITARES NA AMÉRICA LATINA FONTE: <https://bit.ly/3ByF1vF>. Acesso em: 18 fev. 2022. Na Argentina, quando visualizamos o mapa, vemos que torturas, repressão, desaparecimentos, guerrilha rural e urbana foram comuns no país. De acordo com o Memorial da Democracia (COMEÇA [...], 1976, s. p.), o regime ditatorial no país foi “responsável pela morte e desaparecimento de cerca de 30 mil pessoas num período de sete anos – um em cada mil argentinos, a maioria jovens, foi assassinado por militares”. No Brasil, a ditadura teve início a partir da década de 1964, decorrente de um golpe militar realizado contra o Governo João Goulart, o “Jango”. O governo de Jango era visto como uma ameaça ao país, pois por ser populista, próximo aos movimentos sociais e aos sindicatos, discutia-se que o presidente era um “perigo comunista”. A ditadura em nosso país aconteceu em um contexto de guerra fria, período quando havia duas disputas na economia mundial, uma comandada pelos Estados Unidos, com um viés estritamente capitalista e outra comandada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) de cunho socialista. Nesse sentido, havia medo da expansão do comunismo, com isso os EUA passaram a apoiar os militares no Brasil. 132 A ditadura no Brasil durou 21 anos, até 1985. Esse período foi marcadopor vários governos, Castelo Branco (1946-1967); governo de Costa e Silva (1967-1969); governo Médici (1969-1974); governo de Geisel (1974-1979) e, por fim, o governo de Figueiredo (1979-1985). As principais características que marcaram o poder militar no Brasil foram perseguições políticas, torturas, desaparecimento de corpos assassinados pelo Estado, censura. De acordo com Lara e Silva (2015, p. 276), a ditadura promoveu “o declínio dos direitos sociais e o avanço do poder político e econômico das classes dominantes”. Em cada governo da ditadura militar foram criados cinco Atos Institucionais. Esses atos tinham como objetivo realizar mudanças nas eleições, conceder poder às Forças Armadas, ao Poder Executivo. Esses atos estabeleceram eleições diretas, votação da Constituição de 1967 e dava direito ao Presidente da República para intervir nos estados sem limites constitucionais. Esses atos são considerados como os aparatos da repressão, pois regularam censura, sequestro, tortura, execuções e ataques à bomba. Para melhor entender os atos institucionais recomenda-se a leitura deles na íntegra no Portal da Legislação. Disponível em: https://bit.ly/3LK1QB3. DICA Os principais apoiadores do Golpe de 1964 foram: empresários, imprensa, classe média e Estados Unidos. O apoio desses grupos contribuiu para que ocorressem milhares de mortos e desaparecidos, aumento da desigualdade social, alta inflação, endividamento do país, aumento da corrupção. Na Venezuela, as repressões, o desaparecimento e a guerrilha rural marcaram o período ditatorial. Mas, um fator que marca a história da ditadura na Venezuela é que ela não se deu como na Argentina e no Brasil, ou seja, tomada do poder por militares. A Venezuela teve sua ditadura instalada pela “regressão constitucional”, ou seja, pelo processo de corrompimento das instituições. Com a instabilidade política e econômica provocada pela crise do petróleo na década de 1958, “um grupo de militares liderados por Hugo Chávez se rebelou contra o presidente Carlos Andrés Pérez, o golpe falhou, mas Chávez ganhou a admiração de muitos venezuelanos” e concorreram as eleições, sendo eleito em 1998 com 56% dos votos”. (MUNDO EDUCAÇÃO, s.p.). De acordo com Ramos (2020, s.p.), o governo de Chavéz (1993-2013) teve como principais características: 133 Steven Levitsky e Daniel Ziblatt – dois conceituados professores de Harvard elaboraram uma análise sobre o colapso as democracias, no livro intitulado: Como as Democracias morrem? Esse livro é muito importante para compreendermos discussões sobre o governo de Hitler, Mussolini, sobre as ditaduras na América Latina e o contexto atual. NOTA • implantação de medidas socialistas; • forte interferência política; • centralização do poder; • enfraquecimento democrático; • perseguição; • prisão de opositores políticos. A ditadura de Chávez finalizou com sua morte em 2013 e teve acesso ao poder seu vice Nicolás Maduro, que continuou com as mesmas políticas de Chavéz. Atualmente, a Venezuela passa por uma crise política e econômica que tem impactado na vida de milhares de venezuelanos. As problemáticas da Venezuela provocaram uma forte crise migratória, na qual milhares de venezuelanos buscavam refúgio para conseguir melhores condições de vida. Isso decorreu em um grande conflito político entre Maduro e a oposição, representada por Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente do país em 2019 e que até hoje não conseguiu derrubar Maduro do poder (RAMOS, 2020, s.p.). 3.1.1 Mercado Comum do Sul (Mercosul): criação, características e países membros Na Unidade 1, nós conhecemos um pouco do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Neste subtópico, nosso intuito é abranger a discussão explanando sobre a criação do bloco, as principais características, os países membros, a importância para a economia dos países membros e para a América Latina como um todo. O MERCOSUL foi estabelecido pelo Tratado de Assunção em março de 1991. Esse tratado foi assinado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com o objetivo de fortalecer a economia dos países membros. Além dos países membros, o bloco conta com os países associados, devido aos acordos financeiros, relações políticas, econômicas e sociais. Esses países são: Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru. A Venezuela também fazia parte do bloco, mas está suspensa do Bloco, perdeu seus direitos. Esse fato é decorrente do desrespeito por parte do Estado venezuelano aos princípios democráticos do MERCOSUL. Por outro lado, o Estado Plurinacional da Bolívia atualmente encontra-se em processo de adesão ao bloco. 134 De acordo com a Plataforma Eletrônica do Mercosul (OBJETIVOS [...], 2021, s. p.), o bloco tem como objetivos principais: 1. Circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países, através de outros, da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente. 2. O estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros econômico-regionais e internacionais. 3. A coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados Partes – de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, monetária, cambial e de capitais, de serviços, alfandegária, de transportes e comunicações e outras que se acordem –, a fim de assegurar condições adequadas de concorrência entre os Estados Partes. 4. O compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes para lograr o fortalecimento do processo de integração. O Mercosul é muito importante para estabelecer políticas econômicas entre os países membros. O bloco permite a livre circulação de pessoas e serviços. Os principais produtos exportados pelo bloco são: automóveis de passageiros, partes e acessórios dos veículos, papel e cartão, veículos rodoviários e produtos de indústria de transformação. O Brasil é um dos principais exportadores do bloco. Os principais destinos da exportação são: Argentina, Paraguai e Uruguai. Os principais produtos importados pelo Brasil dos países membros, principalmente no ano de 2020, foram: veículos automóveis para transporte de mercadorias e usos especiais, produtos de indústria de transformação, veículos automóveis de passageiros, cereais, farinhas e leite. O principal parceiro do Brasil na importação é a Argentina, com 66% de importação dos nossos produtos. O Mercosul é muito importante para os países membros e associados, ele permite as relações para além da América do Sul. O Brasil, por ser o país de maior participação, acaba tendo grande representatividade e importância para o bloco, seja nas relações inter-regionais ou nas relações internacionais. 135 O AMANHÃ NÃO ESTÁ À VENDA Ailton Krenak Parei de andar mundo afora, cancelei compromissos. Estou com a minha família na aldeia Krenak, no médio rio Doce. Há quase um mês, nossa reserva indígena está isolada. Quem estava ausente regressou, e sabemos bem qual é o risco de receber pessoas de fora. Sabemos o perigo de ter contato com pessoas assintomáticas. Estamos todos aqui e até agora não tivemos nenhuma ocorrência. A verdade é que vivemos encurralados e refugiados no nosso próprio território há muito tempo, numa reserva de 4 mil hectares – que deveria ser muito maior se a justiça fosse feita –, e esse confinamento involuntário nos deu resiliência, nos fez mais resistentes. Como posso explicar a uma pessoa que está fechada há um mês num apartamento numa grande metrópole o que é o meu isolamento? Desculpem dizer isso, mas hoje já plantei milho, já plantei uma árvore. Faz algum tempo que nós na aldeia Krenak já estávamos de luto pelo nosso rio Doce. Não imaginava que o mundo nos traria esse outro luto. Está todo mundo parado. Quando engenheiros me disseram que iriam usar a tecnologia para recuperar o rio Doce, perguntarama minha opinião. Eu respondi: “A minha sugestão é muito difícil de colocar em prática. Pois teríamos de parar todas as atividades humanas que incidem sobre o corpo do rio, a cem quilômetros nas margens direita e esquerda, até que ele voltasse a ter vida”. Então um deles me disse: “Mas isso é impossível”. O mundo não pode parar. E o mundo parou. Vivemos hoje esta experiência de isolamento social, como está sendo definido o confinamento, em que todas as pessoas têm de se recolher. Se durante um tempo éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido da nossa vida, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa demanda. Assistimos a uma tragédia de gente morrendo em diferentes lugares do planeta, a ponto de na Itália os corpos serem transportados para a incineração em caminhões. Essa dor talvez ajude as pessoas a responder se somos de fato uma humanidade. Nós nos acostumamos com essa ideia, que foi naturalizada, mas ninguém mais presta atenção no verdadeiro sentido do que é ser humano. É como se tivéssemos várias crianças brincando e, por imaginar essa fantasia da infância, continuassem a brincar por tempo indeterminado. Só que viramos adultos, estamos devastando o planeta, cavando um fosso gigantesco de desigualdades entre povos e sociedades. De modo que há uma sub-humanidade que vive numa grande miséria, sem chance de sair dela – e isso também foi naturalizado. LEITURA COMPLEMENTAR 136 O presidente da República disse outro dia que brasileiros mergulham no esgoto e não acontece nada. O que vemos nesse homem é o exercício da necropolítica, uma decisão de morte. É uma mentalidade doente que está dominando o mundo. E temos agora esse vírus, um organismo do planeta, respondendo a esse pensamento doentio dos humanos com um ataque à forma de vida insustentável que adotamos por livre escolha, essa fantástica liberdade que todos adoram reivindicar, mas ninguém se pergunta qual o seu preço. Esse vírus está discriminando a humanidade. Basta olhar em volta. O melão-de- são-caetano continua a crescer aqui do lado de casa. A natureza segue. O vírus não mata pássaros, ursos, nenhum outro ser, apenas humanos. Quem está em pânico são os povos humanos e seu mundo artificial, seu modo de funcionamento que entrou em crise. É terrível o que está acontecendo, mas a sociedade precisa entender que não somos o sal da terra. Temos que abandonar o antropocentrismo; há muita vida além da gente, não fazemos falta na biodiversidade. Pelo contrário. Desde pequenos, aprendemos que há listas de espécies em extinção. Enquanto essas listas aumentam, os humanos proliferam, destruindo florestas, rios e animais. Somos piores que a Covid-19. Esse pacote chamado de humanidade vai sendo descolado de maneira absoluta desse organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos. Os únicos núcleos que ainda consideram que precisam se manter agarrados nessa Terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta, nas margens dos rios, nas beiras dos oceanos, na África, na Ásia ou na América Latina. Esta é a sub-humanidade: caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes. Existe, então, uma humanidade que integra um clube seleto que não aceita novos sócios. E uma camada mais rústica e orgânica, uma sub-humanidade, que fica agarrada na Terra. Eu não me sinto parte dessa humanidade. Eu me sinto excluído dela. Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade e nos alienamos desse organismo de que somos parte, a Terra, passando a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo que exista algo que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza. Nós, a humanidade, vamos viver em ambientes artificiais produzidos pelas grandes corporações, que são os donos da grana. Agora esse organismo, o vírus, parece ter se cansado da gente, parece querer se divorciar da gente como a humanidade quis se divorciar da natureza. Ele está querendo nos “desligar”, tirando o nosso oxigênio. Quando a Covid-19 ataca os pulmões, o doente precisa de um respirador, um aparelho para alimentação de oxigênio, senão ele morre. Quantas máquinas dessas vamos ter de fazer para 7 bilhões de pessoas no planeta? A nossa mãe, a Terra, nos dá de graça o oxigênio, nos põe para dormir, nos desperta de manhã com o sol, deixa os pássaros cantar, as correntezas e as brisas se moverem, cria esse mundo maravilhoso para compartilhar, e o que a gente faz com ele? O que estamos vivendo pode ser a obra de uma mãe amorosa que decidiu fazer o filho 137 calar a boca pelo menos por um instante. Não porque não goste dele, mas por querer lhe ensinar alguma coisa. “Filho, silêncio”. A Terra está falando isso para a humanidade. E ela é tão maravilhosa que não dá uma ordem. Ela simplesmente está pedindo: “Silêncio”. Esse é também o significado do recolhimento. Quem dera eu pudesse fazer uma mágica para nos tirar desse confinamento, que pudesse fazer todos sentirem a chuva cair. É hora de contar histórias às nossas crianças, de explicar a elas que não devem ter medo. Não sou um pregador do apocalipse, o que tento é compartilhar a mensagem de um outro mundo possível. Para combater esse vírus, temos de ter primeiro cuidado e depois coragem. Vemos algumas pessoas defenderem a manutenção da atividade econômica, dizendo que “alguns vão morrer” e é inevitável. Esse tipo de abordagem afeta as pessoas que amam os idosos, que são avós, pais, filhos, irmãos. É uma declaração insensata, não tem sentido que alguém em sã consciência faça uma comunicação pública dizendo “alguns vão morrer”. É uma banalização da vida, mas também é uma banalização do poder da palavra. Pois alguém que fala isso está pronunciando uma condenação, tanto de alguém em idade avançada, como de seus filhos, netos e de todas as pessoas que têm afeto uns com outros. Imagine se vou ficar em paz pensando que minha mãe ou meu pai podem ser descartados. Eles são o sentido de eu estar vivo. Se eles podem ser descartados, eu também posso. Governos burros acham que a economia não pode parar. Mas a economia é uma atividade que os humanos inventaram e que depende de nós. Se os humanos estão em risco, qualquer atividade humana deixa de ter importância. Dizer que a economia é mais importante é como dizer que o navio importa mais que a tripulação. Coisa de quem acha que a vida é baseada em meritocracia e luta por poder. Não podemos pagar o preço que estamos pagando e seguir insistindo nos erros. Michel Foucault tem uma obra fantástica, vigiar e punir, na qual afirma que essa sociedade de mercado em que vivemos só considera o ser humano útil quando está produzindo. Com o avanço do capitalismo, foram criados os instrumentos de deixar viver e de fazer morrer: quando o indivíduo para de produzir, passa a ser uma despesa. Ou você produz as condições para se manter vivo ou produz as condições para morrer. O que conhecemos como Previdência, que existe em todos os países com economia de mercado, tem um custo. Os governos estão achando que, se morressem todas as pessoas que representam gastos, seria ótimo. Isso significa dizer: pode deixar morrer os que integram os grupos de risco. Não é ato falho de quem fala; a pessoa não é doida, é lúcida, sabe o que está falando. Desde muito tempo, a minha comunhão com tudo o que chamam de natureza é uma experiência que não vejo ser valorizada por muita gente que vive na cidade. Já vi pessoas ridicularizando: “ele conversa com árvore, abraça árvore, conversa com o rio, contempla a montanha”, como se isso fosse uma espécie de alienação. Essa é a minha experiência de vida. Se é alienação, sou alienado. Há muito tempo não programo atividades para “depois”. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos deparar de vender o amanhã. Penso naqueles versos do Carlos Drummond de Andrade: “Stop./ A vida parou/ ou foi o automóvel?”. Essa é uma parada para valer. O ritmo de hoje não é o da semana passada nem o do ano novo, do verão, 138 de janeiro ou fevereiro. O mundo está agora numa suspensão. E não sei se vamos sair dessa experiência da mesma maneira que entramos. É como um anzol nos puxando para a consciência. Um tranco para olharmos para o que realmente importa. Tem muita gente que suspendeu projetos e atividades. As pessoas acham que basta mudar o calendário. Quem está apenas adiando compromissos, como se tudo fosse voltar ao normal, está vivendo no passado. O futuro é aqui e agora, pode não haver o ano que vem. Ninguém escapa, nem aquelas pessoas saindo de carro importado para mandar seus empregados voltarem ao trabalho, como se fossem escravos. Se o vírus os pegar, eles podem morrer, igual a todos nós. Com ou sem Land Rover. As cidades são sorvedouros de energia: se faltar eletricidade, as pessoas morrem fechadas nos seus apartamentos, sem conseguir descer. Não tivemos capacidade crítica para pensar as consequências de uma crise sanitária nos grandes centros urbanos, e preciso confessar que tenho dó de quem vive nessas metrópoles. Muitas pessoas vivem sozinhas nesses centros, deixamos de ser sociais porque estamos num local com mais 2 milhões de pessoas. Em artigo que li sobre a pandemia, o sociólogo italiano Domenico De Masi cita a obra profética A peste, de Albert Camus: a peste pode vir e ir embora sem que o coração do homem seja modificado. Ele cita um trecho inteiro do romance em que o personagem diz algo assim: o bacilo que trouxe aquela mortandade, que parece que tinha sido dominado, podia continuar oculto em alguma dobra, algum corrimão, janela, poltrona, só esperando o dia em que, infortúnio ou lição aos homens, a peste acordará seus ratos para mandá-los morrer numa cidade feliz. Tomara que não voltemos à normalidade, pois, se voltarmos, é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro. Depois disso tudo, as pessoas não vão querer disputar de novo o seu oxigênio com dezenas de colegas num espaço pequeno de trabalho. As mudanças já estão em gestação. Não faz sentido que, para trabalhar, uma mulher tenha de deixar os seus filhos com outra pessoa. Não podemos voltar àquele ritmo, ligar todos os carros, todas as máquinas ao mesmo tempo. Seria como se converter ao negacionismo, aceitar que a Terra é plana e que devemos seguir nos devorando. Aí, sim, teremos provado que a humanidade é uma mentira FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/37maHcE>. Acesso em: 18 fev. 2022. 139 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As economias da América Latina têm baixo desenvolvimento, e com a crise da COVID-19, essas economias passaram a enfrentar uma crise sem precedentes devido ao fechamento de setores econômicos e aumento do desemprego. • As principais economias da América Latina são: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai. • A economia da maioria dos países da região está centrada no setor primário. • O México tem como principal parceiro comercial os Estados. • No México existem empresas maquiladoras resultantes de acordo econômico do país com os Estados Unidos na década de 1960. • O México tem grande dependência econômica dos Estados Unidos. • A América Central está entre a América do Sul e América do Norte. A região é conhecida por ter uma economia de baixo desenvolvimento e o aporte econômico dela está no Mercado Comum Centro-Americano. • Alguns países da América-Central são sedes de paraísos fiscais. Estes países têm flexibilidade na cobrança de impostos em relação ao dinheiro depositado nas instituições financeiras. • Os países da América do Sul são em 12 e que nesta região está o Brasil. • A América do Sul é rica em flora, fauna e recursos hídricos, porém a economia dos países tem baixo desenvolvimento. • Entre as décadas de 1960 e 1980, os países da América Latina vivenciaram formas de governos ditatoriais que deixaram profundas marcas. • O MERCOSUL é o principal bloco econômico da América do Sul e o Brasil é o país que mais se destaca em relação às exportações e importações. 140 1 Com base no que estudamos sobre a economia dos países latino-americanos, sabemos que eles têm características em comum em função do processo colonial na região. A economia dos países latino-americanos, especificamente no século XXI, enfrenta grandes desafios devido ao avanço do neoliberalismo nos países. Isso determina um padrão econômico que pode ser explicado por: a) ( ) Industrialização tardia, dependência econômica, alta concentração fundiária e elevado grau de desigualdade social. b) ( ) Crescimento econômico acelerado para os países do MERCOSUL, devido ao aumento de exportações dos países membros para países europeus. c) ( ) Recuperação econômica acentuada da maioria dos países latino-americanos após a crise do COVID-19. d) ( ) Aumento na geração de emprego, em função do crescimento econômico dos países latino-americanos, aumento das exportações para países europeus, forte articulação econômica com as maiores potências mundiais. 2 Considera-se que as empresas maquiladoras no México têm grande importância para a economia do país, pois o acordo estabelecido entre os Estados Unidos e o México para instalação das empresas no país tinha como objetivo aumentar as condições de trabalho no México. Esse acordo estabeleceu a Política de Fomento à Indústria Maquiladora de Exportação em coordenação com o Programa de Industrialização da Fronteira Norte. Sobre as empresas maquiladoras, analise as sentenças a seguir: I- As empresas maquiladoras são aquelas que realizam a manufatura parcial, encaixe ou empacotamento de um bem sem que sejam as fabricantes originais. Ou seja, são fábricas de encaixe, manufatureiras e de serviços, destinadas à transformação, elaboração ou reparo de mercadorias de procedência estrangeira cujo destino principal é a exportação para os Estados Unidos. II- As empresas maquiladoras são muito importantes para o México, pois diminuiu os fluxos migratórios da população mexicana, uma vez que, essas empresas têm altos salários, investimento na qualificação da mão-de-obra e tornou-se responsável pela autonomia econômica do México. III- A instalação das maquilas no México foi possível porque o governo mexicano cedeu para as grandes indústrias benefícios tais como: cargas tributárias nulas, baixos custos de transportes, normas ambientais débeis e custo trabalhista mínimo. AUTOATIVIDADE 141 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 As formas de governo ditatoriais implantadas na América Latina tiveram como objetivo a doutrina da segurança nacional e o combate ao comunismo. Sabemos que esse regime se instalou em países como o Brasil (1964); Bolívia (1964); Argentina (1966 E 1976); Chile (1973); Uruguai (1973) e Venezuela (1998). De acordo com o que estudamos sobre as ditaduras na América Latina, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As ditaduras militares marcaram a “derrota de forças populares, movimentos sociais”, repressão a intelectuais críticos ao sistema. As ditaduras foram marcadas por violência, mortes, sequestros, perseguição, tortura e assassinato de militantes e opositores. ( ) Os crimes cometidos na ditadura foram todos resolvidos nos últimos anos, e a maioria dos militares que provocaram esses crimes sofreram penalidades e perderam seus cargos. ( ) No Brasil, a ditadura durou 21 anos. Foi um período marcado por cinco governos e perseguições “políticas, torturas, desaparecimento de corpos assassinados pelo Estado, censura”. Assinale a alternativa que apresenta a sequênciaCORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A ditadura na Venezuela teve início com o governo de Hugo Chávez que se rebelou contra o presidente Andrés Pérez. Mesmo com a falha do golpe Chávez ganhou admiração popular e foi eleito com 56% dos votos nas eleições da Venezuela em 1993. De acordo com o que estudamos sobre a ditadura na Venezuela, principalmente no governo de Chavéz, explique quais são as principais características do governo no período que atuou (1993-2013). 5 O MERCOSUL foi estabelecido pelo Tratado de Assunção em março de 1991. Os países que assinaram o tratado foram, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O objetivo central do bloco é fortalecer a economia dos países membros. Mas, há outros objetivos que direcionam a relação econômica entre os países. Disserte sobre os objetivos que ampliam as relações econômicas do MERCOSUL. 142 REFERÊNCIAS A AMÉRICA LATINA e o Caribe crescerão 5,9% em 2021, refletindo um arrasto estatístico que se moderará para 2,9% em 2022. Cepal, Santiago, 2022. Disponível em: https://bit. ly/362OeAF. Acesso em: 18 fev. 2022. ACNUR. Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). (s.d.). 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Acesso em: 18 fev. 2022. 149 O BRASIL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA: DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO, INTEGRAÇÃO E LIDERANÇA REGIONAIS UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer a formaçãoterritorial do Brasil; • compreender como o Brasil se apresenta no contexto mundial; • conhecer as políticas externas brasileiras; • entender as relações de conflitos territoriais e políticos do país; • analisar as relações bilaterais entre Brasil e Argentina; • conhecer os governos militares do Brasil e da Argentina; • compreender a importância dos movimentos sociais na América Latina; • mostrar os principais blocos econômicos da América Latina. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL E SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS TÓPICO 2 – DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO: RELAÇÕES ENTRE BRASIL E ARGENTINA TÓPICO 3 – BLOCOS ECONÔMICOS: INTEGRAÇÃO E LIDERANÇAS REGIONAIS DA AMÉRICA LATINA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 150 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 151 TÓPICO 1 — FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL E SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos a formação territorial do Brasil e suas relações internacionais. A formação territorial do Brasil tem como ponto de partida o período colonial ao longo do século XVI. A formação do país ocorre por determinações externas, europeias, que determinaram nossa condição de país periférico. O período colonial determinou os rumos econômicos, sociais e políticos que foram se constituindo no Brasil. Conhecer esse período histórico de formação do nosso território torna-se essencial para compreendermos as relações atuais do Brasil na economia mundo e sua posição nas relações políticas e econômicas no contexto global. Ainda, no Tópico 1, nosso estudo abordará a questão das revoltas coloniais e o papel que exerceram para os conflitos no território brasileiro. Tinham essas revoltas dois tipos de interesses: os nativistas e os separatistas. As primeiras eram caracterizadas como conflitos entre os colonos e os interesses da elite colonial. Já a revolta separatista defendia a independência em relação ao território de Portugal. Para finalizar este tópico estudaremos as políticas externas do país e as relações fronteiriças, pois estas determinaram conflitos territoriais, como a questão Cisplatina, que foi um conflito entre 1825 e 1828. Esse conflito ocorreu entre o Brasil e Argentina. Essa guerra foi considerada a primeira do Brasil, o país saiu derrotado e com isso agravaram-se crises econômicas no período do governo de Dom Pedro I. Apesar da guerra ter sido estabelecida entre o nosso país e a Argentina, com o fim dela, esse último perdeu a área da Cisplatina e quem a obteve foi a República Oriental do Uruguai. Para que possamos embarcar neste tópico, sugerimos que faça as leituras de autores que podem contribuir para pensar essa análise no Brasil, tais como, Celso Furtado, Antônio Carlos Robert de Moraes, Caio Prado Jr, Ruy Moreira e Gilberto Freyre. 2 O BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL O território brasileiro foi consolidado no período colonial. Para Moraes (2011, p. 18) “o território é um espaço social, que não pode existir sem uma sociedade que o crie e qualifique [...] sendo construído com base na apropriação e transformação dos meios criados pela natureza”. A criação do território brasileiro, considerado como produto social, 152 resultou de interesses externos. Esses interesses foram marcados pelo período colonial, foi nesse período que tivemos uma das bases da criação para os estados nacionais da América Latina (MORAES, 2011). Esse primeiro momento histórico marca a relação do Brasil com as fronteiras mundiais. Por ser um país de grande extensão territorial, de grandes riquezas naturais, de diversidades de espécies e com um grande potencial produtor, o Brasil, historicamente tem uma importância nas relações internacionais. No período Colonial (1500-1822), era considerado como um país exportador de matérias-primas. No período Imperial (1822-1889), o país continuava exercendo um importante papel internacional, com abertura de portos em 1808, aumentou as possibilidades de integração econômica e social, com a entrada de pessoas em nosso país. No período Republicano (período dividido em República Velha (1989 – 1930); Era Vargas (1930 – 1945); República Populista (1945 – 1964); Governo Militar (1964 – 1985) e o Brasil atual) a força econômica do Brasil esteve centrada na sua condição de agroexportador. O país exportava café, algodão, açúcar, ou seja, os produtos primários eram e ainda são a principal fonte de nossas relações econômicas no que se refere às exportações. Nos dias atuais, o Brasil de acordo com o texto da Constituição de 1988, no artigo 4º, tem as relações internacionais regidas pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Além disso, no que se refere às relações no contexto da América Latina, a Constituição em seu Parágrafo único do artigo 4, afirma que: “a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações” (BRASIL, 1988). Vimos que o Brasil e suas relações no contexto mundial e na América Latina é regido pela própria Constituição, com isso podemos destacar a importância do nosso papel nas relações globais, uma vez que temos a garantia dessas relações e dos princípios que as regem pautada no principal documento do país. Neste sentido, o Brasil tem uma participação importante nas relações globais, no contexto econômico e político. O papel que o país desempenha nas relações com outros países, sejam os países centrais ou periféricos é muito importante para as políticas internas e externas. A posição do Brasil, ou de qualquer país nas relações globais não são estanques, pelo contrário, modifica-se constantemente por diversos fatores: políticos, econômicos, sociais. Neste sentido, o país tem um papel diferente de acordo com as mudanças ocorridas no mundo e dentro do próprio território nacional. Para Oliveira (1999) o fim da Guerra Fria (1947-1989), tinha-se como perspectiva mundial a expansão das ideias liberais, ou seja, o livre mercado, a proteção da propriedade privada, liberdades individuais e baixa participação do Estado. Contudo, os 153 valores liberais na América Latina foram vistos como a possibilidade de que os Estados Unidos estabelecessem uma relação mais liberal com a região, ou seja, modificariam suas formas de relacionamento com a região, mas os Estados Unidos continuaram sendo hegemônicos em suas determinações econômicas. Nas palavras de Oliveira (1999, p. 206), isso resultou em “duas macrotendências no contexto latino-americano: uma liberalização traduzida pelo processo de aberturas de seus mercados e outro projeto de renegociação do sistema interamericano”. Nesse primeiro momento pós-Guerra Fria, os Estados Unidos foi o centro de influências das trocas comerciais entre o Brasil, no contexto da América Latina. Contudo, a partir do avanço da participação dos países asiáticos na economia mundial, a expansão das relações econômicas se ampliou e o Brasil com sua forte participação no Mercado Comum do Sul e sua ascensão a partir dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foi estabelecendo outras formas de participar da economia e da política internacional, com a ampliação da abertura de mercados, trocas comerciais, exportações e participação em cúpulas climáticas, por exemplo. Neste texto, vamos evidenciar o país no contextomundial em dois aspectos: econômicos e políticos. O primeiro a que nos detemos é o econômico. Como o Brasil participa da economia mundial? No contexto econômico, as relações internacionais do Brasil podem ser destacadas pela sua participação no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), nas suas relações a partir do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e sua participação no G20. Cada uma dessas relações exerce objetivos diferentes. Por exemplo, o Brasil no Mercosul tem um papel de grande importância, pois o país é responsável por boa parte do PIB gerado entre os países membros. Por ser o país mais importante do MERCOSUL, seguido pela Argentina, estes acabam tendo mais vantagens nas relações comerciais. Essa posição de liderança que o Brasil tem diante do MERCOSUL se dá em função de suas condições de desenvolvimento econômico serem melhor do que os países membros e com isso, o país determina um grande papel para si e para a América do Sul nas relações políticos econômica mundiais. Contudo, na participação dos BRICS, o Brasil perdeu um papel significativo nos últimos anos, de acordo com Alexandre Busch (2021, s.p.), na página eletrônica do Brasil de Fato “o decepcionante desenvolvimento econômico dos países na última década é a principal razão por que, hoje, o termo BRICS quase não tem relevância”. Com pouca aproximação política entre os países, e grande competitividade entre eles, se coloca uma diferença entre os países que fazem referência a tal acrônimo, que era usado para englobar os países emergentes que tinham possibilidades de alcançar os mais ricos. Na conjuntura apresentada por Busch (2021, s.p.), o Brasil “quase não oferece produtos competitivos para o mercado mundial [...] a indústria está encolhendo” o poder de compra do povo brasileiro encolheu nos últimos anos, houve o aumento da pobreza, esse contexto reflete uma retração do país no grupo dos países emergentes, sendo visto no contexto atual, como um país em recessão na questão econômica. 154 O país também faz parte do G-20, que é um grupo formado pelas maiores economias do mundo e a União Europeia. O Brasil está entre as economias emergentes que fazem parte deste grupo e tem como objetivo favorecer negociações internacionais. Os países membros são responsáveis por 80% da economia mundial e participam de reuniões anuais quando discutem questões políticas, econômicas, ambientais e de saúde. A participação do Brasil no grupo permitiu ao país novas possibilidades e perspectivas no âmbito internacional e trouxe novos desafios. O país teve forte influência no grupo na crise de 2008, quando o G-20 se reuniu em Seul. Essa influência decorreu do crescimento econômico do Brasil no período e suas fortes relações internacionais devido à política diplomática do governo Lula. Nos dias atuais o país vem passando por um desafio, pois a crise econômica, ampliada em função da pandemia da COVID-19, nos anos de 2020/2021 e com a crise política do governo atual, o país tem registrado baixo crescimento. Quando comparado aos países membros do grupo, o crescimento para 2022, é avaliado como o menor. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI) “o crescimento esperado para o país em 2022 é o menor projetado em relação a outros países emergentes como Rússia, Argentina e África do Sul” (CARRANÇA, 2021, s.p.). O cenário do Brasil nos aspectos políticos está associado as questões econômicas, uma vez que, as relações políticas determinam as relações econômicas entre os países. O Brasil tem sofrido no âmbito internacional devido à postura adotada pelo governo nos últimos anos. O país tem sido visto, no âmbito global, como instável desde 2016, período do Impeachment. Com a crise pandêmica nossa situação se agravou, uma vez que o governo em vigor, vai na contramão das políticas internacionais adotadas pela Organização Mundial da Saúde. A crise gerou a ampliação do desemprego, da pobreza e da instabilidade econômica do país. Reflete desta forma, para as relações externas e internas fragilidade política diante da resolução dos problemas que o país enfrenta (MATTA; SOUTO; SEGATA; 2021). 2.1 BRASIL NA AMÉRICA LATINA E NA AMÉRICA DO SUL O Brasil está posicionado tanto na América do Sul quanto na América Latina, debate já abordado em outros tópicos deste livro didático. Aqui queremos evidenciar a liderança do país na América do Sul e na América Latina. O Brasil tem um peso diferente nas regiões da América, devido sua economia e seu contingente populacional. O país tem reforçado seu setor produtivo, modernizando-o e isso gerou uma “estabilização econômica” nos últimos anos. Faz parte dessa estabilização a criação do MERCOSUL, por exemplo (SORJ; FAUSTO, 2013). Nesta direção, na América do Sul, o Brasil é lembrado por sua forte posição no MERCOSUL. Na América Latina, o Brasil se caracteriza pelas desigualdades sociais e condições de subdesenvolvimento, assim como por sua liderança regional em virtude do grande número populacional e o desenvolvimento industrial da região. 155 Para a Michel Alaby (2020, s.p.), em sua plataforma eletrônica, nos últimos anos o Brasil “abriu mão de sua liderança natural na América Latina em questões políticas e de integração econômica, energética e comercial, permitindo que nosso peso político na região diminuísse”. As relações do Brasil com seus países vizinhos na América Latina são muito importantes para manter estabilidade entre as relações comerciais. Essas devem ser mantidas por questões políticas e econômicas. Para Sorj e Fausto (2013, p. 8) “a América Latina tem sido dominada pelo discurso da integração regional”, essa integração tem resultado em “termos de fluxos de investimentos, de bens, serviços, de pessoas e de infraestrutura”. Por exemplo, “as exportações brasileiras para a América Latina [...] (SORJ E FAUSTO, 2013, p. 8). As principais exportações do Brasil para seus países vizinhos estão nos produtos manufaturados e nas commodities (ALABY, 2020). Para Sorj e Fausto (2013, p. 68) “é na esfera econômica onde os desafios do Brasil na afirmação de sua liderança aparecem mais desordenados. Por um lado, vários países da região veem o Brasil como um país extremamente protecionista. Por outro lado, o Brasil tem na América Latina seu principal mercado para suas manufaturas”. Esse espaço vem sendo perdido em função da expansão dos produtos chineses em escala global, com isso o número de importações da Ásia tem aumentado nos últimos anos pelos países latino-americanos. A presença da China na América Latina ocorre com a expansão econômica do país asiático em meados dos anos 2000. Essa expansão deu lugar para que países emergentes ocupassem e se destacassem nas relações econômicas internacionais. Com a China a influência sobre os países latino-americanos ocorreu em diversos setores tais como: importação, exportação e investimentos. As relações sul-sul são importantes para a expansão das economias periféricas, para o Observatório de Política da China (COLABORAN [...], 2008, s.p.) as relações do país com a América Latina tornam-se possível pois, “os dois lados estão em estágios semelhantes de desenvolvimento e compartilham uma ampla gama de interesses”. Nessa relação, a China ao longo dos últimos anos, desde 2000, tornou-se um importante parceiro comercial dos países da América Latina e da América do Sul. O país asiático “firmou uma série de acordos de cooperação econômica e tecnológica com países latino-americanos, oferecendo garantias de que as relações econômicas bilaterais se desenvolverão de maneira saudável e sólida” (COLABORAN [...], 2008, s.p.). Com essa cooperação, a abertura de mercados, as políticas de mitigação sociais e o aumento das exportações o Brasil tornou-se um grande parceiro da China, e também foi modelo econômico a ser seguido, principalmente no governo Lula, devido às políticas sociais, para mitigação da pobreza. 156 Para Abi-Rama (2020) o papel brasileiro na América do Sul pode-se analisar a partirde diferentes percepções, tais como subimperialismo, capital-imperialismo, posição intermediária do país entre os centros imperialistas e a periferia. Para esclarecermos o imperialismo e o subimperialismo descrito na fala de Abi-Rama, o autor destaca que: O imperialismo surge da enorme concentração de capital em determinados países e de seu transbordamento para além de suas fronteiras estatais. O subimperialismo, por sua vez, nasce de um processo similar que, contudo, se coloca em marcha com grande poder do capital dos países centrais. Esses capitais encontram-se no âmago das economias “intermediárias” e são responsáveis por uma aceleração de seu processo de industrialização, monopolização e exportação de manufaturas e capitais. Diferente da chegada dos países imperialistas a esta etapa, nos subimperialistas é o capital internacional que impulsiona a expansão industrial e a atuação internacional, desnacionalizando, contudo, os setores mais dinâmicos dessas economias (ABI-RAMA, 2020, p. 60). Os países subimperialistas, como é o caso do Brasil, exercem uma influência regional, mas essa influência também é condicionada pelos investimentos dos capitais dos países centrais. O país exerce influência no contexto da América do Sul, principalmente, no setor industrial. Para Abi-Rama (2020, p. 76) a “produção brasileira manteve-se diversificada, dominando ramos consideráveis com grau de tecnologia”. Nos últimos anos, o país atingiu setores econômicos na América do Sul, que outros países não chegaram, assim o país passa a dominar as relações de exportação para a América do Sul, mas mantendo as importações de produtos primários (ABI-RAMA, 2020). O Brasil tem um importante papel na integração regional dos países da América Latina e da América do Sul. Esse papel exercido pelo país decorre de sua força regional, que atua cada vez mais organizando as estratégias para manter os projetos dentro das relações da América do Sul e da América Latina. Portanto, o Brasil tem uma atuação regional muito importante que determina suas relações fronteiriças, seja no mercado inter-regional ou no mercado internacional. Essas relações fronteiriças do Brasil tornam-se importantes, pois de acordo com a Castilho (2015, p. 1-2) “a faixa de fronteira brasileira abarca 11 Unidades da Federação, 588 municípios e mais de 10 milhões de habitantes. A extensão de suas [...] fronteiras e o número de países com os quais faz divisa conferem à região papel central na integração regional com os vizinhos sul-americanos e também no desenvolvimento do país”. 157 2.1.1 As relações fronteiriças do Brasil Acadêmico, antes de discutirmos as principais relações fronteiriças no Brasil, é importante distinguir alguns conceitos, como fronteira, limite e divisa. As fronteiras são conhecidas pela separação entre países, essas podem ser artificiais (pontes, estradas, monumentos, ou seja, criada pelas pessoas) e naturais (montanhas, vales, rios, criadas pela natureza). A divisa, por sua vez, é usada para separar estados, como divisas entre Santa Catarina e Paraná, por exemplo. E os limites são usados para separar os municípios, como Blumenau e Pomerode. Dito isto, nosso estudo discorrerá sobre as fronteiras entre o Brasil. Como já sabemos, o Brasil é um país de grande extensão territorial com 8.516.000 km² localizado na América do Sul, e a faixa de fronteira do Brasil está delimitada com 10 países dos 12 existentes na América do Sul. Os únicos países que não fazem fronteira com o Brasil são o Chile e o Equador. Observe o Quadro 1, ele retrata as extensões territoriais de fronteiras entre os países da América do Sul e o Brasil. QUADRO 1 – EXTENSÃO DAS FRONTEIRAS ENTRE BRASIL E PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL PAÍSES DEFINIÇÕES BOLÍVIA A fronteira do Brasil com a Bolívia tem extensão de 3.423,2 km, dos quais 2.609,3 km são por rios e canais, 63,0 km por lagoas e 750,9 km por linhas convencionais. Estados brasileiros que fazem fronteira com a Bolívia: Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. PERU A fronteira do Brasil com o Peru tem extensão de 2.995,3 km, dos quais 2.003,1 km são por rios e canais, 283,5 km por linhas convencionais e 708,7 km por divisor de águas. Estados brasileiros que fazem fronteira com o Peru: Acre e Amazonas. VENEZUELA A fronteira do Brasil com a Venezuela tem extensão de 2.199,0 km, dos quais 90,0 km são por linhas convencionais e 2.109,0 km por divisor de águas. Estados que fazem fronteira com a Venezuela: Amazonas e Roraima. COLÔMBIA A fronteira do Brasil com a Colômbia tem extensão de 1.644,2 km, dos quais 808,9 km são por rios e canais, 612,1 km por linhas convencionais e 223,2 km por divisor de águas. Estado brasileiro que faz fronteira com a Colômbia: Amazonas. GUIANA A fronteira do Brasil com a Guiana tem extensão de 1.605,8 km, dos quais 698,2 km são por rios e canais e 907,6 km por divisor de águas. Estados brasileiros que fazem fronteira com a Guiana: Roraima e Pará. PARAGUAI A fronteira do Brasil com o Paraguai tem extensão de 1.365,4 km, dos quais 928,5 km são por rios e 436,9 km por divisor de águas. Estados brasileiros que fazem fronteira com o Paraguai: Paraná e Mato Grosso do Sul. 158 ARGENTINA A fronteira Brasil com a Argentina tem extensão de 1.261,3 km, dos quais 1.236,2 km são por rios e apenas 25,1 km por divisor de águas. Estados brasileiros que fazem fronteira com a Argentina: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. URUGUAI A fronteira do Brasil com o Uruguai tem extensão de 1.068,1 km, dos quais 608,4 km são em rios e canais, 140,1 km em lagoas, 57,6 km por linhas convencionais e 262,0 km por divisor de águas. Estado brasileiro que faz fronteira com o Uruguai: Rio Grande do Sul. GUIANA FRANCESA A fronteira do Brasil com a Guiana Francesa tem extensão de 730,4 km, dos quais 427,2 km são por rios e 303,2 km por divisor de águas. Estado brasileiro que faz fronteira com a Guiana Francesa: Amapá. SURINAME A fronteira do Brasil com o Suriname tem extensão de 593,0 km, dos quais os 593,0 km são por divisor de águas. Estados brasileiros que fazem fronteira com o Suriname: Amapá e Pará. FONTE: Castilho (2015, p. 1-2) Todas as fronteiras entre os Estados decorrem da necessidade de separar os territórios e delimitar a soberania de cada país. Cada fronteira determina onde começa e onde termina um país, ou seja, onde está demarcado o poder do país sobre o território em que ele se localiza. Essas fronteiras servem também para proteger o território e evitar entrada ilegal de pessoas, armas, drogas, contrabando de uma forma geral (FREITAS, 2022). Na Figura 1, podemos visualizar as fronteiras que demarcam os países da América do Sul. FIGURA 1 – AS FRONTEIRAS BRASILEIRAS FONTE: <https://bit.ly/3pfkG9E>. Acesso em: 29 dez. 2021. 159 De acordo com Santos e Barros (2016, p. 56), a faixa de fronteira brasileira é derivada do processo histórico, que teve como principal fundamento a preocupação com a segurança e soberania nacional da colônia, desde os seus tempos do descobrimento, passando pelos dois períodos do Império, pelas fases das República e chegando aos dias recentes. As fronteiras no Brasil e seus países vizinhos geraram conflitos e confrontos, como a Guerra do Paraguai (1864-1870). Mas, foi no início do século XX, que o “chanceler Barão do Rio Branco, encerrou as disputas com os países vizinhos”, essas disputas não tiveram confrontos, mas “consolidou a demarcação das fronteiras nacionais tanto ao norte [...] quanto ao sul” do país (SANTOS; BARROS, 2016, p. 57). Essas relações bilaterais do Brasil foram consolidadas a partir de acordos, possibilitando a demarcação de fronteiras e as relações entre os países. Para Santos e Barros (2016, p. 59) as relações bilaterais entre os países de fronteiras podem ser definidas em três níveis: i) elevado: são aqueles países em que há uma sinergia considerada de integração; ii) moderado: são aqueles países em que existe uma integração mediana e/ou iniciante;e iii) baixa: são aqueles países em que não há nenhuma integração oficial ou inexistem ações conjuntas. Esses níveis evidenciam os graus de integração entre os países fronteiriços. Para os autores, no primeiro nível, encontram-se Argentina e Uruguai. No segundo nível, teríamos Paraguai, Venezuela, Colômbia, Bolívia e Peru e no terceiro, seriam as relações com o Suriname, a Guiana e a Guiana Francesa (SANTOS; BARROS, 2016). Prezado acadêmico! Se você tem interesse sobre o surgimento das fronteiras no Brasil, recomendamos o livro do professor Soares Teixeira intitulado “História da formação das fronteiras do Brasil”. O livro discorre sobre a história e a geopolítica construtoras de fronteiras; a fusão das fronteiras do Brasil; o imperialismo inglês e francês na Amazônia brasileira; demarcação das fronteiras do Brasil com as Guianas francesa, holandesa e inglesa; fronteira com a Venezuela; do Brasil com a Colômbia; a fronteira do Peru é abordada sobre uma leitura do grande caminho do Pacífico para o Atlântico; destaca as relações de pressões na fronteira do Brasil com a Bolívia; os limites do Brasil com o Paraguai, Argentina e Uruguai e, por fim, faz uma abordagem de como há interesses em torno do mar nessas fronteiras e as delimitações marítimas dos territórios da América do Sul. Para adquirir o livro você pode acessar o link a seguir e baixá-lo em seu computador. Acesse: https://bit.ly/37hYyFt. DICA 160 3 AS POLÍTICAS EXTERNAS BRASILEIRAS Você sabia que no Brasil temos um Ministério das Relações Exteriores? Ele é o responsável pela política externa do país. Ela é considerada como “uma política pública, ou seja, um conjunto definido de medidas, decisões e programas utilizados pelo governo de um país”. As políticas externas dos países direcionam-se para negociações econômicas, comerciais, aproximação política e cultural. Essas políticas podem ser definidas de duas formas: bilateralmente: relação entre dois países e multilateralmente: quando os países participam de organizações ou fóruns internacionais. De acordo com Borelli (2018, s.p.), A formulação da política externa deve levar em conta o que ocorre tanto em nível nacional, como em nível internacional. Apesar de ser uma política voltada para o exterior, sua direção e os parâmetros a serem seguidos são determinados pelas autoridades do país no plano nacional. Sendo assim, a formulação de uma Política Externa deve considerar tanto as questões internas – como os interesses da sociedade e os valores culturais do país – quanto questões internacionais – como a distribuição de poder no cenário internacional e a atuação das organizações internacionais. De forma geral os principais exemplos de políticas externas são: visitas oficiais (visitas de Estado); encontro de ministros; acordos bilaterais ou multilaterais; representações no exterior; participação em organização internacional; formação de blocos ou grupos econômicos; participações em missões de paz (BORELLI, 2018). Os representantes da política externa em um país são os chefes de Estado ou de Governo. No Brasil nosso maior chefe é o Presidente da República. Mas há outras figuras importantes nessas relações exteriores como: os diplomatas, o chanceler ou Ministro das Relações Exteriores, embaixadores, cônsules e adidos militares. Além dos agentes oficiais para a execução das políticas externas temos os “atores informais – ou não oficiais – [...] figuras públicas, a mídia, organizações nacionais e internacionais, grandes empresas, estudiosos e acadêmicos”. Normalmente esse grupo informal é considerado como “grupo de interesses” (BORELLI, 2017a, s.p.) Após essa breve abordagem em que caracterizamos o que é política externa, quais são os agentes responsáveis e como ela atua de forma mais genérica, agora nos deteremos nas especificidades do Brasil. O país sempre foi considerado um Estado diplomático, ou seja, mais pacífico. Assim, a forte diplomacia do Brasil é uma grande característica do país nas relações exteriores. Os princípios que regem nossa política externa concentram-se em: soberania, autonomia, desenvolvimento nacional e não intervenção. Na história do Brasil, o início das relações exteriores foi marcado pelo “pai da diplomacia brasileira” o Barão do Rio Branco, cujo nome oficial era José Maria da Silva Paranhos Júnior. O Barão esteve no Ministério das Relações Exteriores no início do século XX (1902-1912). Nos dez anos que atuou no Ministério marcou sua gestão “por 161 grandes feitos, como a negociação para o estabelecimento das fronteiras territoriais e uma arquitetura política relativamente estável e mais amistosa com os países da América do Sul” (BORELLI, 2017b, s.p.). Para saber mais do processo histórico das relações exteriores em diversos períodos históricos recomenda-se o estudo do livro de CERVO, A.; BUENO, C. História da política exterior do Brasil. 2. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002, que se encontra disponível na internet. DICA 3.1 DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS POLÍTICAS As disputas territoriais decorrem de fatores políticos, econômicos e estratégicos, no intuito de aumentar seu território, dominar áreas específicas, que muitas vezes são detentoras de recursos naturais que ajudam na produção econômica de alguns países, como é o caso do petróleo. A configuração territorial brasileira que conhecemos hoje nem sempre se apresentou assim. Nossa primeira delimitação do território foi feita com o Tratado de Tordesilhas, no ano de 1494. O Tratado foi um acordo entre Portugal e Espanha para demarcar e dividir as terras conquistadas. A ampliação do nosso território teve a participação do movimento dos bandeirantes e os entradistas, que foram precursores na expansão das fronteiras no Brasil (OLIVEIRA, 2015). A expansão territorial na história do Brasil explica-se por fatores políticos, econômicos e sociais. Merecem destaque os conflitos da Guerra da Cisplatina, Guerra do Paraguai e a Revolução Acreana. A Guerra da Cisplatina foi a primeira na história do Brasil, enquanto nação independente. O período do conflito foi entre 1825 e 1828. Esse conflito ocorreu entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina). A disputa pelo controle da Cisplatina, que hoje é uma região correspondente ao Uruguai, decorreu da tensão que existia entre os habitantes dessa região, e visava garantir o controle sobre o estuário (porto) sul da América e sobre todo o comércio que era transportado dali (SILVA, 2022). A Guerra do Paraguai (1864 – 1870) foi considerada como um dos maiores conflitos armados da América Latina. Essa guerra foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança (composta por Império brasileiro, Argentina e Uruguai). O início decorreu de um conflito interno que surgiu no Paraguai, mas que tomou proporções regionais. As principais causas desse conflito se expressam nos 162 “desentendimentos quanto às fronteiras entre os países, a liberdade de navegação dos rios platinos, as disputas pelo poder por parte das facções locais” (GOIÁS, 2022, s.p.). A Revolução Acreana é outro marco dos conflitos territoriais no Brasil, decorrente do enfrentamento entre Brasil e Bolívia, cujo foco estava no conflito pelo controle da borracha. A revolução durou entre 1889 e 1903. Essa disputa fez com que o Brasil, a partir do Tratado de Petrópolis, adquirisse o território do Acre em 1904, tornando-o parte do território, mas seu reconhecimento enquanto estado só ocorreu no ano de 1962. 4 CONFLITOS COLONIAIS O período colonial ficou marcado pelo domínio de Portugal sobre o território brasileiro. Esse período histórico também foi marcado por revoltas e conflitos. As revoltas desse período ficaram divididas em nativistas e separatistas. Essas revoltas ocorrem devido ao regime político da época, o Pacto Colonial, que regia o mercantilismo entre os Estados. A lógica desse regime pautava-se na relação econômica entre a metrópolee a colônia. Para alguns historiadores, esse regime determinava que a colônia servia para atender às necessidades da metrópole. O Pacto Colonial entre a metrópole (Portugal) e a colônia (Brasil) era determinado pelas relações comerciais entre ambas, nas quais a Metrópole possuía o monopólio comercial e produtivo, controlava a economia da colônia e enriquecia com base na exploração que não podia produzir manufaturas, exportava recursos primários como: metais preciosos, matérias-primas e gêneros tropicais. Foi dessa relação econômica que os conflitos nativistas e separatistas aconteciam. O primeiro caracterizava-se por conflitualidades entre os colonos e buscavam o fim do regime colonial, os principais conflitos foram: a Revolta de Beckman, a Revolta dos Emboabas, a Revolta dos Mascates, a revolta de Filipe dos Santos e as revoltas dos povos originários, como os indígenas e os povos negros africanos que foram escravizados. Já os conflitos separatistas desejavam a separação de Portugal, lutando pela independência em relação à metrópole, os conflitos mais conhecidos foram a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana (PEREIRA, 2021). Observe o mapa na Figura 2, ele retrata os principais locais que ocorreram as revoltas do período colonial. 163 FIGURA 2 – CONFLITOS NO PERÍODO COLONIAL FONTE: <https://bit.ly/35ryYge>. Acesso em: 21 fev. 2022. 164 No que tange às revoltadas nativistas, a Revolta dos Beckman ocorreu no estado do Maranhão em 1684. Tinha como objetivo melhorias na administração colonial. Essa revolta foi liderada por dois irmãos: Manuel Beckman e Tomas Beckman. A Revolta dos Emboabas tinha como objetivo lutar pela exclusividade na exploração do ouro. Os bandeirantes foram a principal figura dessa guerra, que aconteceu entre 1708 e 1709. A Guerra dos Mascates por sua vez ocorreu no estado de Pernambuco, entre 1710 e 1711. O conflito era entre os senhores de engenho de Olinda e os comerciantes portugueses que viviam em Recife. De acordo com Brandão (2014, s.p.) as revoltas nativistas “focavam em insatisfações pontuais contra o domínio português para melhorar certas condições de ordem pública”. Outra revolta nativista que merece atenção é a de Filipe Santos (ou Vila Rica), ocorrida no ano de 1720, que marcou o “descontentamento dos donos de minas de ouro em Vila Rica com a cobrança do quinto e a instalação das casas de fundição” (NAUJORKS, 2020, p. 2). As revoltas indígenas se deram basicamente em função da expansão da ocupação de terras em nosso país. Como a Guerra dos Bárbaros, envolveu centenas de indígenas que resistiam à expansão dos portugueses, por outro lado, há histórico de indígenas que se alinharam aos holandeses, por exemplo, durante a ocupação de Pernambuco. Portanto, os indígenas também conflitavam entre si e com seus colonizadores. De acordo com Moraes (2001), os conflitos entre os colonizadores, portugueses e holandeses, contribuiu também para a fuga de escravos que criaram Palmares. Para Moraes (2001, p. 110) a consolidação de Palmares foi uma fratura na soberania dos colonizadores. A guerra entre holandeses e portugueses no Brasil acabou levando à grande fuga dos escravos. A tática portuguesa de desarticular os engenhos e botar fogo nos canaviais propiciou grande fuga de escravos, que foram se concentrando em Alagoas, na serra da Barriga, gerando a segunda fratura do ponto de vista da soberania: o Quilombo de Palmares. O episódio de Palmares foi minimizado na história brasileira. Primeiro, vale lembrar que Palmares durou quase cem anos, um século. No seu auge, por volta de 1650, chegou a ter 70.000 habitantes, que era mais ou menos a população da área mais povoada da colônia, na época, o Recôncavo Baiano. Então não foi uma coisa secundária. Palmares foi uma clara situação de extraterritorialidade no domínio português, era um Estado autônomo, que inclusive negociava com portugueses e holandeses. Foi uma segunda fratura: Palmares, durante o século XVII. Os movimentos separatistas como mencionamos anteriormente: a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana, para Brandão (2014, s.p.) “ocorreram justamente contra as exigências, as cobranças e os abusos cometidos pela metrópole portuguesa para com a sociedade dos colonos brasileiros, essa que já se encontrava em um certo grau de interação social que permitia questionar tais fatos”. A Inconfidência Mineira (Minas Gerais, em 1789) foi marcada pela luta da independência de Minas e contra a exploração dos portugueses. Um dos principais punidos por essa luta foi Tiradentes, que foi esquartejado e morto em praça pública, para que servisse de exemplo a quem tentasse organizar outra revolta. A Conjuração 165 Baiana por sua vez teve como objetivo separar o Brasil de Portugal e pôr fim ao trabalho escravo. Esta revolta ocorreu em 1798. Os conflitos fazem parte da história do Brasil, estes determinaram a constituição de novos espaços, novas relações de poder, novas posturas políticas e novas relações econômicas. 4.1 A QUESTÃO CISPLATINA NO PERÍODO IMPERIAL BRASILEIRO A maioria dos conflitos territoriais entre países tem como foco o interesse econômico, devido aos potenciais de exploração de determinados territórios. Na questão Cisplatina não foi diferente. Lembre-se de que, cisplatino é um adjetivo que se refere ao que está aquém do Rio da Prata, nesse caso o Uruguai. A guerra ocorreu entre 1825 e 1828 no período Imperial do Brasil, que envolveu nosso território e Buenos Aires. A província Cisplatina, hoje é território do Uruguai. A cobiça sobre esse território esteve ligada ao seu potencial hídrico, devido ao Rio da Prata e sua localização estratégica para navegações. A origem do conflito teve como principal motivo “o bloqueio naval dos portos do Rio da Prata”. Para Siqueira (2018, p. 65), o estudo desta guerra nos ajuda a compreender “as origens e a história da política externa entre Brasil e Argentina”. Os fatores históricos da guerra podem ser considerados por períodos. • 1821: anexação da Província Oriental do Uruguai, ao Brasil, como Província Cisplatina. • 1822: Dom Pedro rompeu com Portugal e iniciou a Guerra da Independência do Brasil. Ainda nesse ano, houve divisão entre as tropas que ocupavam o território da Cisplatina. Alguns desejavam a independência e outros queriam continuar sob o domínio de Portugal. • 1825: Os uruguaios solicitaram independência do Brasil e apoio de Buenos Aires. Declararam, nesse mesmo ano, sua separação do Brasil, solicitando a incorporação das Províncias Unidas, tratado aceito por Buenos Aires. • 1828 – O Uruguai foi reconhecido como território independente pelo Brasil e pela Argentina (PROVÍNCIA CISPLATINA, 2022). O estudo sobre esse pedaço da América nos permite compreender as raízes dos países platinos, pois “o Prata carrega consigo um conjunto de experiências políticas, culturais, étnicas, surgimento de identidades e de atores sociais que modelam e reinventam a todo momento as relações sociais e os conflitos políticos ali estabelecidos” (SIQUEIRA, 2018, p. 65). O Brasil perdeu o território da Cisplatina, que se tornou independente e o Imperador Dom Pedro I, perdeu sua popularidade. A Guerra da Cisplatina foi a primeira na história do Brasil, enquanto nação independente. De acordo com Silva (2022, s.p.), os principais objetivos da Guerra da 166 Cisplatina era “garantir o controle sobre o estuário (porto) sul da América e sobre todo o comércio que era transportado ali”; garantir o domínio sobre parte das colônias espanholas”, Apesar desses objetivos gerais da Guerra, cada país tinha seus próprios interesses sobre o território. Para o Brasil o desejo era colocar “fim à rebelião e retomar o controle da Cisplatina”. Para o Uruguai, o principal objetivo era “anexar a região às Províncias Unidas (Argentina)” e para as Províncias Unidas “derrotar o Brasil e garantir a anexação da Cisplatina” (SILVA, 2022, s.p.). A Guerra não permitiu nem ao Brasil nem as Províncias anexar seu território