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Patologia Forense, Medicina Legal e Bioética Luccas Guerrier - 103 PERÍCIA MÉDICO-LEGAL ➢ Definição Conjunto de procedimentos médicos e técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da Justiça. ✓ São realizadas nas instituições médico-legais ou por médicos ou por profissionais liberais de nível superior da área de saúde; ✓ Profissionais são nomeados por autoridade que estiver à frente do inquérito; ✓ Podem ser realizadas nos vivos, nos cadáveres, nos esqueletos, nos animais e nos objetos. ➢ Nos vivos visam ao diagnóstico de: ❑ Lesões corporais, determinação de idade, de sexo, de grupo racial; ❑ Gravidez, parto e puerpério; ❑ Conjunção carnal ou atos libidinosos em casos de crimes sexuais; ❑ Determinação de paternidade e maternidade; ❑ Comprovação de doenças profissionais e acidentes de trabalho; ❑ Evidências de moléstias graves; ❑ Determinação do aborto; ➢ Nos cadáveres visam os diagnóstico: ❑ Da causa morte; ❑ Da causa jurídica da morte; ❑ Do tempo aproximado de morte; ❑ A identificação do morto; ❑ Da presença de veneno em suas vísceras; https://vassouras.myopenlms.net/course/view.php?id=1590 https://vassouras.myopenlms.net/course/view.php?id=1590 ❑ A retirada de um projétil. ➢ Nos esqueletos ❑ Fundamentalmente a identificação do morto; ❑ Quando possível, a causa da morte. ➢ Em animais: raras. ➢ Nos objetos: não raras; exemplos: exames de armas e projéteis, levantamento de impressão digital, sangue, urina, saliva, mucosidade vaginal, roupas, móveis e utensílios, entre outras. PERITOS ➢ Entende-se por Peritos pessoas qualificadas ou experientes em determinados assuntos, incumbidos por autoridades competentes, com a tarefa de esclarecer um fato de interesse da Justiça, ou a polícia acerca de fatos, pessoas ou coisas, a seu juízo, como início de prova, quando solicitadas. ➢ Desta maneira, qualquer um poderá ser convocado para este mister, desde que sejam nele reconhecidas capacidade e qualificação especificadas na lei adjetiva processual. ➢ Logo, o ideal nas perícias médico-legais seria atuação de um médico-legista. Porém, pode ser recrutado um médico de qualquer especialidade ou simplesmente um profissional com certa experiência na matéria, contanto que tenha habilitação técnica e título ou diploma de curso superior relacionados com a natureza da perícia. ATUAÇÃO DO PERITO ➢ Dá-se em qualquer fase do processo; ➢ Ou mesmo até após a sentença, em situações especiais; ➢ Difere-se da função da testemunha pois não termina coma reprodução da sua análise , continuando além dessa apreciação através de um juízo de valor sobre os fatos; ➢ Aponta às autoridades à frente do processo o observado hic et nunc (neste exato instante e local); ➢ Jamais se sobrepõe ao prudente arbítrio do julgador; ➢ Examina e relata fatos de natureza específica e permanente de esclarecimento necessário num processo; ➢ Visum et repertum; Ver e reportar. NOMEAÇÃO ➢ A escolha do perito é de alçada do juiz ou da autoridade que preside o inquérito, que poderá nomear, nas causas criminais, até dois peritos, como estabelece o art.421 do Código de Processo Civil: “O juiz nomeará o perito”. ➢ Em se tratando de peritos não oficiais os mesmos assinarão um termo de compromisso cuja aceitação é obrigatória, sendo que em casos de suspeição comprovada ou de impedimento previsto em lei exime-se a aceitação. ➢ Para que a Justiça não fique sempre na dependência direta dos peritos, foram criados Conselhos Médicos-Legais com o objetivo de emissão de pareceres médicos-legais mais especializados e como órgão de consulta dos próprios peritos. DECLARAÇÃO DE ÓBITO ➢ É Documento-base do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS); ➢ Composta de três vias autocopiativas, prenumeradas na, fornecida pelo MS e distribuídas pelas Secretarias Estaduais e Municipais se saúde conforme fluxo padronizado para todo o país; ➢ Tem função legal; ➢ Possui dois objetivos principais: 1. Ser o documento padrão para a coleta de informações sobre mortalidade, que servem de base para o cálculo das estatísticas vitais e epidemiológicas do Brasil; 2. Seu caráter jurídico: é o documento hábil, conforme a Lei 6.015/73 – Lei dos Registros Públicos, para lavratura da Certidão de Óbito, pelos Cartórios de Registro Civil, indispensável para as formalidades legais do sepultamento. ➢ Também utilizados para conhecer a situação da saúde da população e gerar ações visando melhoras; ➢ Deve ser fidedigna e refletir a realidade; ➢ As estatísticas de mortalidade são produzidas com base na DO emitida pelo médico. ➢ A emissão da DO é ato médico. FUNÇÕES DO MÉDICO 1. Preencher os dados de identificação da pessoa falecida com base em um documento oficial; 2. Registrar tais dados na DO com letra legível, sem abreviações ou rasuras; 3. Registrar a(s) causa(s) da morte, com um (01) diagnóstico por linha e o tempo aproximado entre o início da doença e a morte; 4. Revisar se todos os campos estão preenchidos corretamente antes de assinar. O MÉDICO NÃO DEVERÁ 1. Assinar a DO em branco; 2. Preencher a DO sem, pessoalmente, examinar o corpo e constatar a morte; 3. Utilizar termos vagos para o registro da(s) causa(s) morte; ex.: parada cardíaca, parada cardiorrespiratória ou falência múltipla dos órgãos. 4. Cobrar pela emissão da DO. Nota: O ato médico de examinar e constatar o óbito poderá ser cobrado desde que se trate de paciente particular aquém não vinha prestando assistência. O MÉDICO EMITIRÁ A DO ➢ Em todos os óbitos (natural ou violento); ➢ Quando a criança nascer viva e morrer logo após o nascimento, independentemente da duração da gestação, do peso do recém-nascido e do tempo que tenha permanecido vivo; ➢ No óbito fetal, se a gestação teve duração igual ou superior a 20 semanas, ou o feto com peso igual ou superior a 500 gramas, ou estatura igual ou superior a 25 centímetros EM QUE SITUAÇÕES NÃO EMITIR A DO ➢ No óbito fetal com gestação de menos de 20 semanas, ou o feto com peso inferior a 500 gramas, ou estatura menos a 25 centímetros. Nota: A legislação atual permite que, na pratica, a emissão da DO seja facultativa para os casos em que a família queira realizar o sepultamento do produto da concepção. ➢ Peças anatômicas amputadas, retiradas por atos cirúrgicos ou de membros amputados. Nesses casos, o medico elaborará um relatório em papel timbrado do hospital descrevendo o procedimento realizado. Esse documento será levado ao cemitério, caso o destino da peça venha a ser o sepultamento. QUEM DEVE EMITIR A DO ➢ Nos casos de Morte Natural/Doença ❑ Com assistência médica: o médico assistente/substituto; ❑ Sem assistência médica: o médico do SVO (Serviço de Verificação de Óbito); ➢ Morte não natural/Causas Externas(Homicídios, suicídios, mortes suspeitas, acidentes) ❑ Tem IML ✓ Médico Legista; qualquer que tenha sido o tempo entre o evento e a morte; ❑ Não tem IML ou SVO ✓ Qualquer médico da localidade, investido pela autoridade judicial ou policial, na função de perito legista eventual (ad hoc). ITENS QUE COMPÕEM A DO ➢ A DO é composta por nove (09) blocos de informações de preenchimento obrigatório, a saber: I. Parte da DO preenchida exclusivamente pelo Cartório de Registro civil; II. Identificação do falecido; III. Residência (endereço habitual do falecido); IV. Local de ocorrência do óbito; V. Específico para óbitos fetais e menores de um ano; VI. Condições e causas do óbito (atenção especial aos óbitos de mulheres em idade fértil); VII. VII. Dados do médico que assinou a DO; VIII. VIII. Causas externas (preenchidos sempre que se tratar de morte decorrente de lesões causadas por homicídios, suicídios, acidentes ou mortes suspeitas); IX. IX. Utilizado em onde nãoexistam médicos; o registro oficial de óbito será feito por duas testemunhas. ➢ CONCEITOS ✓ Óbito: é o desaparecimento de todo sinal de vida, em um momento qualquer depois do nascimento, sem possibilidade de ressuscitação, conforme definição da OMS. o Óbito por causa natural: a causa básica é uma doença ou um estado mórbido; o Óbito por causa externa: é a que decorre por uma lesão provocada por violência; o Óbito hospitalar: ocorre no hospital, após registro do paciente, independentemente do tempo de internação; o Óbito sem assistência médica: sobrevém em paciente que não teve assistência médica durante a doença. o Causa básica da morte: doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte, ou as circunstâncias do acidente ou violência que produziram a lesão fatal; o Instituto Médico Legal (IML): órgão oficial que realiza necropsias em casos de morte decorrentes de causas externas; o Serviço de verificação de Óbito (SVO): órgão oficial que realiza necropsias em pessoas que morreram sem assistência médica ou com diagnóstico de moléstia mal definida; o Nascido Vivo: expulsão/extração completa de um produto de concepção que respire ou apresente qualquer outro sinal de vida; o Declaração de óbito: formulário oficial no Brasil em que se atesta a morte. o Certidão de óbito: documento jurídico fornecido pelo cartório de Registro Civil após o registro do óbito. CAUSA MORTE NATURAL E JURÍDICA ➢ Aquisição da personalidade jurídica dá-se com a vida; ➢ Perda da personalidade jurídica ocorre com a extinção a pessoa natural, isto é, com a morte ➢ Código civil, artigo 6º: “A existência da pessoa natural termina com a morte(...)” Constatada a morte de uma pessoa, em regra, desaparecem seus direitos e obrigações de natureza personalíssima Para o Código civil, existem três tipos de mortes: 1) Morte Real: a sua prova faz-se pelo atestado de óbito ou por ação declaratória de morte presumida, sem decretação de ausência. A morte real extingue a capacidade e dissolve tudo; 2) Morte simultânea (ou comoriência): quando dois ou mais indivíduos morreram na mesma ocasião, sem saber quem faleceu primeiro, será presumido que todos morreram no mesmo instante; 3) Morte Presumida: pode ser com ou sem declaração de ausência. Presume-se a morte nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva ➢ A conceituação jurídica de morte ou morte clínica, como é mais frequente chamá-la, implica que o indivíduo (sujeito de direitos e obrigações) deixe de existir como unidade social, pouco importando que em seu corpo existam formas residuais de vida. ➢ Esta foi a posição oficial adotada no Congresso Mundial de Médicos, em 1968. Dúvidas comuns 1. Óbito ocorrido em ambulância com médico. Quem deve fornecer a DO? • A responsabilidade do médico que atua em serviço de transporte, remoção, emergência, quando o mesmo dá o primeiro atendimento ao paciente, equiparase à do médico em ambiente hospitalar e, portanto, se a pessoa vier a falecer, caberá ao médico da ambulância a emissão da DO, se a causa for natural e se existirem informações suficientes para tal. Se a causa for externa, chegando ao hospital, o corpo deverá ser encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) 2. Óbito ocorrido em ambulância sem médico é considerado sem assistência médica? • Sim. O corpo deverá ser encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO) na ausência de sinais externos de violência ou ao IML em mortes violentas. A DO deverá ser emitida por qualquer médico em localidades onde não houver SVO, em caso de óbito por causa natural, sendo declarado na parte I “CAUSA DA MORTE DESCONHECIDA” 3. Para recém-nascido com 450g que morreu minutos após o nascimento, deve-se ou não emitir a DO? Considera-se óbito fetal? • O conceito de nascido vivo depende, exclusivamente, da presença de sinal de vida, ainda que essa dure poucos instantes. Se esses sinais cessaram, significa que a criança morreu e a DO deve ser fornecida pelo médico do hospital. Não se trata de óbito fetal, dado que existiu vida extra-uterina. O hospital deve providenciar também a emissão da Declaração de Nascido Vivo, para que a família promova o registro civil do nascimento e do óbito 4. Médico do serviço público emite DO para paciente que morreu sem assistência médica. Posteriormente, por denúncia, surge suspeita de que se tratava de envenenamento. Quais as conseqüências legais e éticas para esse médico? • Ao constatar o óbito e emitir a DO, o médico deve proceder a um cuidadoso exame externo do cadáver, a fim de afastar qualquer possibilidade de causa externa. Como o médico não acompanhou o paciente e não recebeu informações sobre essa suspeita, não tendo, portanto, certeza da causa básica do óbito, deverá anotar, na variável causa, “óbito sem assistência médica”. Mesmo se houver exumação e a denúncia de envenenamento vier a ser comprovada, o médico estará isento de responsabilidade perante a justiça se tiver anotado, na DO, no campo apropriado, “não há sinais externos de violência” (campo 59 da Declaração de Óbito vigente) 5. Paciente chega ao pronto-socorro (PS) e, em seguida, tem parada cardíaca. Iniciadas manobras de ressuscitação, estas não tiveram sucesso. O médico é obrigado a fornecer DO? Como proceder com relação à causa da morte? • Primeiro, deve-se verificar se a causa da morte é natural ou externa. Se a causa for externa, o corpo deverá ser encaminhado ao IML. Se for morte natural, o médico deve esgotar todas as possibilidades para formular a hipótese diagnóstica, inclusive com anamnese e história colhida com familiares. Caso persista dúvida e na localidade exista SVO, o corpo deverá ser encaminhado para esse serviço. Caso contrário, o médico deverá emitir a DO esclarecendo que a causa é desconhecida
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