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DIABETES MELLITUS TIPO 2 Camila Rocha Almeida O PÂNCREAS ENDÓCRINO Fisiopatologia de Porth. A insulina Síntese e metabolismo O precursor da insulina, a pré-pró-insulina, é sintetizada nos ribossomos e entra no retículo endoplasmático das células B, onde forma a pró-insulina (conectada pelo peptídeo C); Na vesícula secretora, a pró-insulina é clivada em dois locais, para formar a insulina e o peptídio inativo; Regulação da secreção A glicose é o estimulante fisiológico primário da liberação de insulina; Quando seus níveis aumentam, as células β absorvem a glicose principalmente por meio do transportador de glicose 2 (GLUT2), uma proteína transportadora de soluto que também funciona como um sensor; Uma vez que a glicose entra, o catabolismo da glicose é ativado, aumentando a razão ATP/ADP intracelular, o que induz o fechamento dos canais de potássio dependentes de ATP na membrana plasmática; Isso despolariza a célula e permite o ingresso de Ca2+, que desencadeia a exocitose de grânulos contendo insulina; A glicocinase controla o primeiro passo no metabolismo da glicose e acredita-se que ela também possa funcionar como o sensor; Embora a glicose seja o estimulante mais potente da liberação de insulina, outros fatores, como aminoácidos ingeridos em uma refeição, ou o estímulo vagal, também podem causá-la; A secreção de insulina induzida por glicose pode, também, ser ampliada por vários hormônios entéricos, como o peptídio-1 semelhante ao glucagon (GLP-1); A secreção de insulina é inibida pelas catecolaminas e pela somatostatina; Mecanismo de ação Os receptores de insulina estão presentes no fígado, no músculo e no tecido adiposo; mas também pode ter efeito sobre tecidos que não são alvos clássicos através da interação com os receptores de insulina, ou por reatividade cruzada com os receptores do IGF-1; A ligação da insulina a seu receptor causa a autofosforilação, que inicia uma cascata dentro da célula e amplificam as moléculas sinalizadoras; Efeitos biológicos Nestes tecidos alvo, a insulina promove o armazenamento de nutrientes (anabolismo) e previne a desintegração e a liberação dos nutrientes já armazenados (catabolismo); No fígado promove o armazenamento de nutrientes pela estimulação da síntese e armazenagem de glicogênio; impede a saída de glicose do fígado pela inibição da gliconeogênese e da glicogenólise; estimula a glicólise (metabolismo da glicose em piruvato), promovendo a formação de precursores para a síntese de ácidos graxos; estimula a lipogênese, levando ao aumento da síntese de lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), partículas que entregam triglicerídios ao tecido adiposo, para armazenamento; inibe a oxidação de ácidos graxos e a produção de corpos cetônicos (cetogênese); DIABETES MELLITUS TIPO 2 Camila Rocha Almeida O PÂNCREAS ENDÓCRINO Fisiopatologia de Porth. A insulina Efeitos biológicos Nos músculos a captação de glicose pelos músculos é responsável pela grande maioria (85%) da distribuição de glicose estimulada por insulina; ela promove o armazenamento de glicose ao estimular a síntese de glicogênio e inibir o catabolismo do mesmo; também estimula a síntese protéica no tecido muscular; No tecido adiposo estimula o armazenamento de gordura ao ativar a lipase lipoprotéica; o aumento da captação de glicose, causado pela regulação para cima do transportador GLUT-4, também auxilia no armazenamento de gordura; inibe a lipólise, prevenindo a liberação de ácidos graxos; diminui a atividade da lipase sensível ao hormônio (enzima que hidrolisa os triglicerídeos armazenados); FISIOPATOLOGIA DA DM 2 A hiperglicemia no diabetes tipo 2 provavelmente resulta de interações genéticas complexas, cuja expressão é modificada por fatores ambientais, como peso corporal e exercício Fatores genéticos sugere-se que a doença resulta ou da combinação de defeitos genéticos ou da presença simultânea de genes de suscetibilidade múltipla e de fatores ambientais predisponentes as mutações genéticas candidatas para as formas poligênicas do DM 2 incluem as mutações do fator de transcrição 7 com 2 (TCF7L2), a região de codificação do gene de insulina, receptor ativado por proliferadores de peroxissomas-γ (PPAR-γ), canal de potássio sensível à adenosina trifosfato da célula β, proteína ligante 2 a ácido graxo intestinal, calpaína 10 e receptor β3 -adrenérgico Mecanismos que levam à disfunção das células β Em estado nutricional excessivo, semelhante ao encontrado na obesidade, muitas vezes estão presentes hiperglicemia e hiperlipidemia, favorecendo a RI e a inflamação crônica Nessas circunstâncias, as células β, devido a diferenças em sua suscetibilidade genética, estão sujeitas a pressões tóxicas, incluindo inflamação, estresse inflamatório, estresse metabólico/oxidativo, estresse amilóide, com o potencial de levar a uma perda de integridade das ilhotas A lipotoxicidade, a glucotoxicidade e a glucolipotoxicidade que ocorrem na obesidade, induzem estresse metabólico e oxidativo que leva ao dano às células β Um excesso de ácidos graxos e hiperglicemia levam à disfunção das células β, induzindo o estresse do retículo endoplasmático por meio da ativação das vias de resposta apoptótica Além disso, níveis elevados de glicose sustentados aumentam a biossíntese de pró-insulina e polipeptídeos amiloides das ilhotas (IAAP) em células β, levando ao acúmulo de insulina mal dobrada e IAAP e aumentando a produção de espécies reativas de oxigênio Esses efeitos alteram a mobilização fisiológica Ca 2+ e favorecem os sinais pró-apoptóticos, a degradação do mRNA da pró-insulina e induzem a liberação de IL-1 β que recruta macrófagos e aumenta a inflamação local das ilhotas DIABETES MELLITUS TIPO 2 Camila Rocha Almeida Fisiopatologia de Porth. FISIOPATOLOGIA DA DM 2 Condições que perpetuam a DM tipo 2 Nutrição A dieta ocidental hipercalórica contém grandes quantidades de gorduras e carboidratos que elevam a glicose no sangue e VLDL, quilomícrons e seus remanescentes (CMRs) que são ricos em triglicerídeos Isso induz um pico nas concentrações de espécies reativas de oxigênio, que por sua vez leva a uma geração anormal de moléculas inflamatórias Dado que a inflamação é um indutor reconhecido de estresse oxidativo, ocorre uma interação sinérgica entre os dois processos após uma refeição pesada, com a consequente amplificação dos efeitos pós-prandiais nocivos Um ambiente pró-oxidante leva à disfunção mitocondrial, estresse do retículo endoplasmático, ativação da NADPH oxidase (NOX) e produção de superóxido (O2 - ) O aumento de espécies reativas de oxigênio intracelulares causa angiogênese defeituosa em resposta à isquemia, ativa uma série de vias pró-inflamatórias e causa alterações epigenéticas de longa duração que conduzem a expressão persistente de genes pró-inflamatórios mesmo após normalização da glicemia Atividade física A redução da atividade física e o aumento do sedentarismo constituem um elo entre a obesidade e o DM2 e estão associados a marcadores aumentados de inflamação sistêmica de baixo grau crônica Nesta condição, as moléculas pró-inflamatórias são liberadas na corrente sanguínea e em tecidos específicos, como a interleucina 6 (IL-6), a proteína C reativa (CRP), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) ou a IL-1 induz um processo inflamatório estado conhecido como inflamação metabólica A IL-1 está envolvida na resposta autoimune às células β, na inibição da função das células β e na ativação do fator de transcrição do NF-κB, inibindo a função das células β e promovendo a apoptose A resistência à insulina Refere-se à diminuição na resposta metabólica das células responsivas à insulina ou, em um nível sistêmico, uma resposta prejudicada/inferior à insulina circulante pelos níveis de glicose no sangue Existem três categorias amplas de RI ou condições de deficiência de insulina: (1) secreção diminuída de insulina pelas células β; (2) antagonistas da insulina no plasma, devido a hormônios contra-reguladores ou corpos não hormonais que prejudicam os receptores ou a sinalização da insulina;(3) resposta à insulina prejudicada em tecidos-alvo A ação da insulina é influenciada pela interação de moléculas adicionais, incluindo o hormônio do crescimento e IGF-1 no estado de alimentação Durante o jejum, a resposta à insulina é mitigada por glucagon, glicocorticóides e catecolaminas para prevenir a hipoglicemia induzida por insulina A razão insulina/glucagon desempenha um papel importante nesta regulação, uma vez que determina o grau relativo de fosforilação das enzimas a jusante nas vias de sinalização regulatórias Enquanto as catecolaminas promovem a lipólise e a glicogenólise, os glicocorticóides promovem o catabolismo muscular, a gliconeogênese e a lipólise DIABETES MELLITUS TIPO 2 Camila Rocha Almeida Fisiopatologia de Porth. FISIOPATOLOGIA DA DM 2 A resistência à insulina As deficiências leves na ação da insulina são manifestadas, primeiramente, por uma incapacidade dos tecidos sensíveis à insulina de depurar cargas de glicose Clinicamente, isso resulta em uma hiperglicemia pós-prandial e TTGO anormal Os níveis de glicemia em jejum permanecem normais, pois existe ação da insulina suficiente para contrabalançar a saída hepática de glicose mediada pelo glucagon, que os mantêm Quando ocorre uma perda maior de ação da insulina, os efeitos do glucagon sobre o fígado não são contrabalançados suficientemente Logo, os indivíduos tanto têm a hiperglicemia pós-prandial como a hiperglicemia em jejum Em adição à hiperglicemia em jejum e pós-prandial, há desenvolvimento de cetose Fatores hormonais e metabólicos A falta acentuada de insulina permite a lipólise máxima dos estoques de gordura, a fim de suprir substratos para a estimulação da cetogênese no fígado, sem oposição do glucagon Os ácidos graxos liberados a partir do aumento da glicólise, além de serem metabolizados pelo fígado em corpos cetônicos, também podem ser reesterificados e embalados em VLDL Além do mais, a deficiência de insulina causa uma diminuição da lipase lipoproteica, a enzima que hidrolisa os triglicerídeos VLDL para o armazenamento de ácidos graxos no tecido adiposo, tornando lenta a depuração de VLDL Como a insulina estimula a captação de aminoácidos e a síntese de proteínas nos músculos, a diminuição da ação da insulina, no diabetes, resulta em redução da síntese protéica no tecido muscular Os aminoácidos não-captados pelos músculos são, em vez disso, desviados para o fígado, onde são utilizados como nutrientes para a gliconeogênese A superposição de hormônios contra-reguladores, induzida pelo estresse, ao que já é um estado de carência de insulina, exacerba as manifestações metabólicas da deficiência de ação da insulina Por exemplo, o estresse de uma infecção pode provocar a cetoacidose diabética
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