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1. CONTRATO DE COMISSÃO 1.1. CONCEITO O contrato de comissão, de acordo com o art. 693 do Código Civil, é aquele pelo qual o comissário tem por objeto a aquisição ou venda de bens, em seu próprio nome, à conta do comitente. Portanto, o comissário obriga-se perante terceiros em seu próprio nome, figurando no contrato como parte. 1.2. NATUREZA JURÍDICA O contrato de comissão é bilateral, tanto na formação, quanto nos efeitos, tento em vista que impõe direitos e obrigações para ambas as partes: o comissário possui a obrigação precípua de adquirir ou alienar bens móveis no interesse da outra parte, e o comitente assume o dever de pagar-lhe a remuneração devida. É um contrato consensual, pois torna-se perfeito pela simples convergência de vontades, consentimento das partes. Constitui contrato não solene e informal, pois a lei não lhe exige escritura pública ou forma escrita, admitindo-se, até mesmo, a sua celebração de forma verbal. É um contrato oneroso, ambas as partes, ao benefício experimentado, sofreram decréscimo patrimonial. Se trata de um contrato comutativo, as obrigações estabelecidas no contrato se equivalem, conhecendo os contratantes, ab initio, as suas respectivas prestações. E é contrato personalíssimo, fundado na confiança, na fidúcia que o comitente tem em relação ao comissário. 1.3. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO COMISSÁRIO A principal obrigação que decorre do contrato de comissão é imposta ao comissário, que assume o dever de adquirir ou vender bens em seu próprio nome e no interesse do comitente, que está previsto no art. 693 do Código Civil. Segundo o art. 695 do CC, O comissário tem a obrigação de concluir o negócio, agindo de conformidade com as ordens e instruções recebidas do comitente. Ou seja, embora o comissário realizar o negócio em seu próprio nome, o negócio deve ser celebrado com o consentimento do comitente. Se trata do princípio da eticidade, deverá o comissário agir de conformidade com as instruções recebidas, com o máximo cuidado e diligência, por imperativo do princípio maior da boa-fé objetiva. O art. 696, já transcrito, traz importante regra, impondo ao comissário o dever de atuar com cuidado e diligência, evitando qualquer prejuízo ao comitente, e visando a proporcionar- lhe o razoável lucro que se poderia esperar do negócio. Tais deveres, ainda que não fossem expressamente contemplados na lei, decorreriam da cláusula geral de boa-fé objetiva, implícita em todo e qualquer contrato. Saliente-se ainda que, de acordo com o parágrafo único do art. 696, o comissário é responsável por qualquer prejuízo causado ao comitente, salvo se demonstrar ocorrência de caso fortuito ou força maior, causas excludentes de responsabilidade civil por ruptura do nexo causal. Compete ao comissário, agindo em nome próprio, decidir o que é mais conveniente, toda vez que o contrato se mostrar incompleto ou omisso, tomando as providências necessárias para o bom desempenho do encargo, se as instruções tardarem a chegar, forem insuficientes ou inexistentes, e, inclusive no exercício da sua atividade, conceder dilação (prorrogação) de prazo para pagamento, segundo os usos e costumes do lugar, a menos que haja proibição expressa do comitente (CC, art. 699). As consequências do descumprimento das instruções imperativas do comitente vêm encontram-se dispostas no art. 700 do Código Civil: “Se houver instruções do comitente proibindo prorrogação de prazos para pagamento, ou se esta não for conforme os usos locais, poderá o comitente exigir que o comissário pague incontinenti ou responda pelas consequências da dilação concedida, procedendo-se de igual modo se o comissário não der ciência ao comitente dos prazos concedidos e de quem é seu beneficiário”. O comissário ficará sujeito às consequências da autorização concedida para o retardamento do pagamento, podendo ser obrigado a pagar o preço de imediato ou responder pelas consequências da dilação deferida. A regra também deve ser aplicada se o comissário não der ciência ao comitente dos prazos concedidos e de quem é seu beneficiário. Dispõe o art. 704 do Código Civil que, caso não exista estipulação em contrário, “pode o comitente, a qualquer tempo, alterar as instruções dadas ao comissário, entendendo-se por elas regidos também os negócios pendentes”. Destaca a possibilidade de haver modificação da tendência e da dinâmica do mercado, que recomendam a mudança de rumos, ao alvedrio do comitente. Não pode o comissário opor-se às novas diretrizes, tendo em vista que age no interesse do comitente, embora o faça em seu nome. As instruções podem ser passadas por escrito ou verbalmente, quando houver urgência, salvo estipulação em contrário. Em relação aos direitos do comissário, destaca-se o de ser reembolsado das despesas que efetuou, salvo estipulação em contrário, uma vez que, sendo o contrato concluído no interesse do comitente, deve ele suportar as despesas da operação. O valor por ele desembolsado vence juros a partir do desembolso. Dispõe o art. 706 do CC que “o comitente e o comissário são obrigados a pagar juros um ao outro; o primeiro pelo que o comissário houver adiantado para cumprimento de suas ordens; e o segundo pela mora na entrega dos fundos que pertencerem ao comitente”. O comissário despedido sem justa causa, terá direito a ser remunerado pelos trabalhos prestados, assim como a ser ressarcido pelas perdas e danos resultantes de sua dispensa (art. 705 do CC). Deve-se considerar a expressão justa causa como uma cláusula geral, a ser preenchida pelo juiz caso a caso. Tem direito o comissário, pelo serviço que presta, a uma remuneração denominada comissão, fixada de acordo com os usos da praça, caso não tenha sido ajustada. Pelas comissões ou reembolsos, o comissário é credor privilegiado na “falência ou insolvência do comitente” (CC, art. 707). Também é admitido que o comissário possa exercer direito de retenção sobre os bens e valores em seu poder em virtude da relação contratual, pelo reembolso das despesas feitas ou até que lhe seja paga a comissão devida (art. 708 do CC/2002; sem equivalente no CCom). Admite-se ainda ao comissário a celebração de contrato consigo mesmo. Sendo ele representante do comitente, que age, porém, em nome próprio, do ponto de vista jurídico, não há impedimento, a que realize a operação como contraparte, salvo se aquele a proibir ou o fato caracterizar conflito de interesses. O art. 117 do Código Civil de 2002 considera válido o autocontrato, “se o permitir a lei ou o representado”. 1.4. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO COMITENTE É obrigação do comitente executar o contrato concluído pelo comissário na conformidade de suas instruções. Submete-se a colocar as mercadorias, à disposição do comissário, nas situações de venda, antecipadamente ou no prazo fixado para sua entrega. Como o comitente conserva a propriedade das mercadorias depositadas, pode reivindicá-las na falência do comissário. Não pode, o comitente, despedir sem justa causa o comissário. Caso o faça, retirando os poderes que lhe atribuíra, sem comprovação de culpa, como se se tratasse de uma denúncia vazia, terá o dispensado não só direito a ser remunerado pelos trabalhos prestados, como também “a ser ressarcido pelas perdas e danos resultantes de sua dispensa” (CC, art. 705). O comitente tem a obrigação de pagar a remuneração devida, sob a forma de comissão, assim como a adiantar o numerário necessário às despesas do comissário. Deve fornecer, também, as instruções que possibilitem a este o bom desempenho do encargo, sob pena de sujeitar-se às deliberações por ele tomadas, na conformidade dos usos e costumes locais. As pessoas com quem o comissário contratar, agindo em seu próprio nome, não têm ação contra o comitente, nem este contra elas, salvo se aquele ceder seus direitos a qualquer das partes, expressamente previsto no art. 694 do CC.Ao comitente, pertence o crédito, de acordo com essa corrente, porque é por sua conta que o comissário age. A única possibilidade de isso acontecer, todavia, segundo os ditames do dispositivo legal supramencionado, será se o comissário ceder seus direitos ao comitente. O comitente possui o direito de alterar, a qualquer tempo, as instruções dadas ao comissário, que valerão também para os negócios pendentes, sem que este possa oferecer qualquer reclamação. Entretanto, se as novas instruções lhe trouxerem despesas, poderá exigir que lhe sejam adiantadas ou ressarcidas. Se lhe causarem prejuízo, terá direito de ser indenizado.
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