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CAPÍTULO 2 Modalidades Contratuais A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � As características e particularidades das diferentes espécies contratuais. � A aplicação da lei civil e dos princípios gerais do direito contratual às espécies estudadas. � A análise dos contratos estudados, visando garantir o interesse das partes 44 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais 45 Modalidades Contratuais Capítulo 2 Contextualização No capítulo anterior foi estudada a teoria geral das obrigações contratuais e analisados os elementos genéricos e aplicáveis para todas as espécies de contrato, como: princípios, requisitos de validade, formas de extinção, dentre outros. Neste capítulo, passaremos ao estudo dos contratos em espécie, realçando suas características próprias, suas semelhanças e diferenças. O Código Civil brasileiro, em seu Título VI, trata das várias espécies de contratos. Nesta parte estão disciplinados os contratos de compra e venda, doação, locação, empréstimo, depósito, apenas para mencionar alguns. Como abordado no capítulo anterior, são os contratos nominais ou típicos, que possuem regras legais próprias, já tratados na letra da lei. Isto não significa, porém, que sejam as únicas espécies contratuais existentes, sendo, na verdade, um rol exemplificativo e não taxativo: é permitido às partes que se criem novos tipos contratuais (contratos inominados ou atípicos), desde que respeitadas as condições gerais já estudadas. Assim, apesar de parâmetros genéricos a serem respeitados por todas as relações contratuais, alguns contratos possuem certas peculiaridades já disciplinadas em lei, motivo pelo qual as partes, ainda que desejando, não podem alterá-las. Compreender tais detalhes contribui, certamente, para que o pacto seja firmado em observância aos princípios da boa-fé, supremacia da ordem pública e da função social do contrato. Vejamos, pois, o estudo das diversas modalidades contratuais. Contrato de Compra e Venda A compra e venda é a primeira espécie de contrato disciplinada no Código Civil, sobre a qual se dispõe dos artigos 481 a 532. Fundamentado na ideia de troca de bens, o contrato de compra e venda não possui origem histórica bem definida, sendo possível localizá-lo em diversas civilizações antigas. Conforme Gonçalves (2014, p. 152): “Denomina-se compra e venda o contrato bilateral pelo qual uma das partes (vendedor) se obriga a transferir o domínio de uma coisa a outra (comprador), mediante a contraprestação de certo preço em dinheiro”. Em outras palavras, o contrato de compra e venda tem por objetivo a aquisição de um bem mediante o pagamento de um preço, uma contraprestação. O contrato de compra e venda tem por objetivo a aquisição de um bem mediante o pagamento de um preço, uma contraprestação. 46 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais Desta forma, podemos dizer que se trata de um negócio jurídico bilateral, visto a necessidade da existência de duas partes para sua realização: quem compra e quem vende. Uma vez realizado o pacto, as partes ficam obrigadas a cumpri-lo, sendo que a venda em si só será efetuada com a tradição. No caso de bens móveis, a tradição é a simples entrega da coisa; no caso de bens imóveis, é o registro. Além disso, sua principal característica é a presença de um sinalagma, o que o torna um contrato bilateral e sinalagmático. E o que isso significa? Conforme Loureiro (2002, p. 138): “Nos contratos bilaterais ou sinalagmáticos, ao contrário, os contratantes são simultânea e reciprocamente credor e devedor do outro. Em tais contratos são criados direitos e obrigações para ambas as partes; cada uma delas fica adstrita a uma prestação”. Assim, o sinalagma pode ser compreendido como essa contraprestação realizada para compensar a entrega da coisa. Suponhamos que Rafaela venda um Samsung Galaxy 7 para Janaína, pelo valor de R$ 1.000,00 (mil reais). Da perspectiva de Rafaela, o sinalagma será o valor a ser recebido; da perspectiva de Janaína, será o próprio celular. Vejamos, agora, os elementos essenciais de um contrato de compra e venda. a) Elementos essenciais da compra e venda O Código Civil, em seu artigo 482, assim preceitua: “A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço”. A partir deste dispositivo, é possível inferir a existência de ao menos três elementos essenciais do contrato de compra e venda: consentimento, coisa e preço. Conforme Gonçalves (2014, p. 152): “Denomina-se compra e venda o contrato bilateral pelo qual uma das partes (vendedor) se obriga a transferir o domínio de uma coisa a outra (comprador), mediante a contraprestação de certo preço em dinheiro”. O Código Civil, em seu artigo 482, assim preceitua: “A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço”. 47 Modalidades Contratuais Capítulo 2 Após as negociações preliminares, as partes irão firmar consentimento a respeito dos detalhes negociais: o que se compra, por qual preço, mediante qual tipo de pagamento, etc. Quanto à forma, importante observar que, caso a compra e venda refira-se a bem imóvel, as partes obrigatoriamente devem observar o disposto no artigo 108 do Código Civil (BRASIL, 2002): Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Quanto à coisa, esta deverá obedecer aos requisitos gerais de validade do negócio jurídico, ou seja, ser um bem lícito, possível, determinado ou determinável. Além disso, Gagliano e Pamplona Filho (2014) lembram a possibilidade de contratos de compra e venda de coisas futuras serem firmados. Assim, ainda que o bem não exista no momento de celebração do pacto, ele deverá ser determinável em momento futuro quando, só então, o contrato produzirá seus devidos efeitos. Neste diapasão, o artigo 484 determina que no caso de amostras, protótipos ou modelos, está implícito que o vendedor assegura que o produto final virá com as qualidades a ele correspondentes. Caso haja discrepância entre o que foi acordado, o que foi entregue e o protótipo, prevalecerá este último, pois foi por ele que o comprador definiu sua vontade. Por fim, o preço é diretamente regulado pelo Código, em seus artigos 485 a 489. Em regra, ele deverá ser estipulado pelas partes contratantes, em observância à equivalência de prestações – quanto de fato vale o produto e quanto está se ofertando por ele. É possível, porém, que as partes, gozando da autonomia que lhes cabe, acordem que um terceiro irá determinar o valor a ser pago, ou ainda, que este valor seja regulado por outros fatores, como a taxa de mercado. É legalmente vedada, porém, a hipótese de fixação do preço por apenas uma das partes, no intuito de evitar abusos e ilícitos. b) Despesas com o contrato de compra e venda Conforme já explicado, a compra e venda só importa em transferência de propriedade quando há: a efetiva entrega da coisa, no caso de bens móveis, e o registro imobiliário, no caso de bens imóveis. Infere-se, pois, que estes atos concernentes à tradição, especialmente o registro, podem vir a ter custos. E de que forma estes custos deverão ser suportados? 48 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais O artigo 490 é explícito, nesta situação: as despesas relativas à escritura e ao registro (bens imóveis) são do comprador; já as da tradição (bens móveis) devem ser pagas pelo vendedor. Esta regra, porém, poderá ser modificada conforme desejo das partes, atuando de forma supletiva caso o contrato seja silente sobre tal ponto.c) Responsabilidade civil pelos riscos da coisa Caso o objeto da compra e venda pereça por caso fortuito ou força maior, antes da tradição ou registro, quem deverá arcar com este prejuízo? Se nos lembrarmos que a transferência de propriedade só se efetiva com a tradição ou registro, a resposta lógica é a de que tal prejuízo deverá ser suportado pelo vendedor, que ainda é dono do bem. É o que diz o artigo 492 do Código Civil: “Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador.” Todavia, imaginemos a seguinte situação. Reginaldo está interessado em comprar 200 cabeças de gado de Leopoldina; assim, pede-se a ele que leve 300 animais a determinado local, para que, a partir deles, sejam escolhidos os que serão comprados. Porém, acontece um desmoronamento de terra e 50 cabeças perecem. Quem irá arcar com este prejuízo? Segundo o artigo 492, §1º, o comprador será o responsável pelas perdas e danos, pois no momento do acidente os objetos já estavam à sua disposição para efetivação do contrato. Da mesma forma, o §2º do mesmo artigo diz que, caso a coisa pereça por demora do comprador em buscar o bem que lhe é devido, ele e não o vendedor deverá enfrentar as despesas. Por fim, cumpre mencionar a hipótese do perecimento de coisa entregue fora do local onde o negócio deveria ser realizado. Conforme o artigo 493, o lugar a se realizar a entrega do bem deve ser aquele no qual a coisa se encontra. Assim, imaginemos que Paulo possui uma coleção de revistas raras, que irá vender a Guilherme. As revistas estão localizadas em Porto Alegre-RS, sendo que, legalmente, a tradição deveria ocorrer nesta cidade. Mas Guilherme mora em Campina Grande-PB, não podendo se locomover até o sul do país para obter as revistas. Sua amiga Nina está de férias em Porto Alegre e se prontifica a levá-las até ao Nordeste. Desta forma, Guilherme diz expressamente para Paulo que as revistas deverão ser entregues para Nina. Caso algum acidente as deteriore, os prejuízos deverão ser assumidos por Guilherme, que foi quem expressamente permitiu que os bens fossem entregues por meio de um portador. As despesas relativas à escritura e ao registro (bens imóveis) são do comprador; já as da tradição (bens móveis) devem ser pagas pelo vendedor. 49 Modalidades Contratuais Capítulo 2 Situação diferente ocorreria, porém, caso Paulo se recusasse a enviar as revistas por Nina e as despachasse ele mesmo por correio. Qualquer desvio na entrega seria sua responsabilidade, já que ele assumiu para si o ônus da entrega fora do local determinado sem expressa concordância do comprador. Essas situações estão elencadas no artigo 494: “Se a coisa for expedida para lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correrão os riscos, uma vez entregue a quem haja de transportá-la, salvo se das instruções dele se afastar o vendedor”. d) Questões especiais referentes a compra e venda O artigo 496 e seu parágrafo único do Código Civil trata da venda entre ascendente e descendente: Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória (BRASIL, 2002). Assim, a venda entre pais e filhos, avôs e netos etc. é passível de anulação caso seja feita sem autorização do cônjuge e dos demais descendentes. Observa- se que o dispositivo mencionado recai apenas sobre as situações de compra e venda, não sendo aplicável às doações e outros tipos contratuais. Outras situações peculiares são as elencadas no art. 497, que tratam da ilegitimidade subjetiva para compra e venda. São elas: a compra, por parte de tutores, curadores, testamenteiros e administradores, de bens confiados à sua guarda; a compra, por parte dos servidores públicos, de bens ou direitos da pessoa jurídica a que servem, ou que estejam sob sua administração; a compra, por parte de juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, de bens ou direitos no lugar onde servirem; e ainda, a compra por parte de leiloeiros e seus prepostos de bens que devam vender. Segundo o mencionado artigo, a compra e venda feita nesses casos será considerada nula. O art. 504 do Código Civil, a seu turno, cuida da venda a condômino: Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência. 50 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte vendida os coproprietários, que a quiserem, depositando previamente o preço (BRASIL, 2002). Por este dispositivo, a parte do condômino é indivisível, motivo pelo qual cada um dos consortes desta coisa terá direito de preferência. Os consortes, porém, deverão adquiri-lo em igualdade às propostas ofertadas por terceiros. Como afirmam Gagliano e Pamplona Filho (2014, s.p.): Assim, se o condômino Bacildes anunciou a venda de sua parte pelo preço de R$ 1.000,00, Badja e Higuita — também coproprietários — deverão pagar o referido valor, não tendo direito a abatimento, preferindo, entretanto, a um eventual terceiro, que também demonstre interesse na aquisição da coisa. Por fim, há que se falar da venda entre cônjuges e companheiros. O art. 499 do Código Civil assim determina: “É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão”. Isso porque, no caso de bens que já integrem o patrimônio do casal (como nos casos da comunhão universal, ou as coisas adquiridas após o casamento na comunhão parcial de bens), o contrato seria inútil. e) Venda ad corpus e venda ad mensuram O Código Civil, em seu artigo 500, regulamenta hipótese aplicável a bens imóveis, a saber: Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço (BRASIL, 2002). Esta estipulação nada mais é que a chamada venda ad mensuram, na qual o preço será calculado com base nas dimensões do imóvel. Desta maneira, caso as dimensões sejam menores que o acordado, o comprador poderá exigir a complementação do terreno. Caso esta seja impossível, poderá optar pela resolução do contrato ou por abatimento no preço já pago. Se, ao invés de falta houver excesso de medidas, o comprador poderá escolher entre completar o valor faltante ou devolver o excesso de terreno, desde que o vendedor prove que tinha motivos para não saber a exata medida do que vendeu. 51 Modalidades Contratuais Capítulo 2 As compras ad mensuram se contrapõem às compras ad corpus, que são aquelas efetuadas com base na coisa em si, independentemente de suas medidas. Assim, o § 3º do art. 500 prescreve que “não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus”. Sobre o tema, Gonçalves (2014, p. 174) aduz: Não exige a lei, para que uma venda se caracterize como ad corpus, que o contrato o diga expressamente. O juiz, para decidir sobre sua natureza, se ad mensuram ou ad corpus, deve apurar a real intenção das partes,consultando o contrato. Não existindo declaração expressa, ou sendo esta dúbia, deverá o magistrado valer-se de elementos extraídos da descrição do imóvel, de sua finalidade econômica e até de indícios e presunções, que lhe “permitam inferir se o objeto da venda foi coisa certa ou foi uma área”. Assim, infere-se que a natureza da venda deverá ser auferida no caso concreto. f) Promessa de compra e venda A promessa de compra e venda refere-se a um contrato preliminar celebrado entre as partes, cujo objeto é a elaboração de um contrato de compra e venda. É regulamentada pelos artigos 1.417 e 1.418 do Código Civil, que assim preceituam: Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel. Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel (BRASIL, 2002). Sua forma pode ser via escritura pública ou particular, sendo obrigatoriamente pública nos casos do art. 108 do Código Civil (alienação de direitos reais imobiliários que superam 30 salários mínimos). Neste caso, o direito do comprador que emerge com a celebração do contrato é um direito real sobre a coisa, similar à propriedade. Caso o contrato de promessa não seja cumprido pelo comprador, ele será constituído em mora e perderá a posse do bem. A promessa de compra e venda refere-se a um contrato preliminar celebrado entre as partes, cujo objeto é a elaboração de um contrato de compra e venda. 52 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais Uma vantagem nos casos de promessa irretratável de compra e venda (ou seja, quando o contrato é firmado sem cláusula de arrependimento) é a possibilidade de adjudicação compulsória da coisa. Assim, se o bem estiver devidamente registrado, o comprador pode obtê-lo judicialmente. Caso não haja registro, a parte prejudicada poderá utilizar-se da execução específica da obrigação de fazer, na forma da lei processual. g) Cláusulas especiais Os contratos de compra e venda podem contar, ainda, com cláusulas acidentais que afetam a eficácia deste tipo contratual. O Código Civil cuida de cinco destes elementos (art. 505 e seguintes), a serem abordados a seguir. A primeira cláusula a ser estudada é a retrovenda. Trata-se de um pacto acessório segundo o qual o vendedor resguarda para si a prerrogativa de resolver o negócio, em caso de evento futuro e incerto, restituindo o valor recebido e reembolsando o comprador. Seu prazo máximo é o de três anos. A segunda refere-se à venda contento e à venda sujeita à prova, que se referem a uma condição suspensiva imposta ao contrato de compra e venda, submetida ao agrado do comprador ou à adequação da coisa para a finalidade desejada pelo adquirente. O comprador tem o direito de testar a coisa antes de adquiri-la em definitivo. Até emitir um aceite expresso, o comprador atua como comodatário do bem, sendo que o domínio e as eventuais perdas e danos correm por risco do vendedor. A terceira cláusula será a de preferência, segundo a qual o vendedor pode estipular que, se em momento futuro o comprador quiser vender o bem, deverá procurá-lo novamente, pois dele será a preferência. O comprador, quando quiser vender o bem, tem o dever de comunicar àquele vendedor original; o vendedor, por sua, vez, terá direito de invocar esse direito de preferência ainda que o antigo comprador silencie sobre o assunto. A quarta cláusula é a reserva de domínio, que se refere a um contrato de compra e venda no qual a efetiva transferência da propriedade está subordinada ao pagamento integral do preço. Antes do pagamento, o comprador é um mero guardião da coisa, adquirindo a propriedade quando pagar o valor acordado. Os riscos da posse, porém, correm por conta do comprador. A quinta cláusula refere-se à venda sobre documentos. Trata-se, pois, de uma compra e venda na qual a tradição do bem é substituída pela entrega de título representativo (art. 529, CC). Se a documentação estiver em ordem, o comprador não pode alegar defeito no bem para evitar pagamento. 53 Modalidades Contratuais Capítulo 2 Troca ou Permuta A troca, também chamada de permuta, é aquele contrato no qual as partes acordam em dar uma coisa por outra, excluindo da relação o dinheiro, tendo neste elemento sua principal diferença para com o contrato de compra e venda. Ela pode envolver coisas distintas de quantidades diversas e, ainda, coisas futuras. Trata-se de um contrato bilateral, oneroso e comutativo, bastante similar à compra e venda. De fato, o artigo 533 do Código Civil estabelece que ao contrato de permuta se aplicam todas as disposições a respeito da compra e venda, com duas exceções: 1) Salvo disposição Atividade de Estudos: 1) É certo afirmar: I. Nos contratos de compra e venda de bens móveis e imóveis, admite-se que a venda ocorra de forma ad mensuram ou ad corpus. II. São características do contrato de compra e venda: a bilateralidade; a consensualidade; a onerosidade; geralmente, a comutatividade; e a instantaneidade. III. A venda com reserva de domínio é cláusula especial do contrato de compra e venda pela qual o comprador assume a posse da coisa, mas só se torna seu proprietário após pagar o preço integral. IV. As cláusulas especiais do contrato de compra e venda previstas no Código Civil são cláusulas obrigatórias por rigor legal, sendo opcionais somente naqueles negócios em que a própria lei criar a exceção. Analisando as proposições, pode-se afirmar: a) Somente as proposições I e III estão corretas. b) Somente as proposições II e IV estão corretas. c) Somente as proposições I e IV estão corretas. d) Somente as proposições II e III estão corretas. A troca, também chamada de permuta, é aquele contrato no qual as partes acordam em dar uma coisa por outra, excluindo da relação o dinheiro, tendo neste elemento sua principal diferença para com o contrato de compra e venda. 54 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; 2) É anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento expresso dos outros descendentes e do cônjuge do alienante. Contrato Estimatório O contrato estimatório é aquele no qual um indivíduo (consignante) entrega bens móveis a outro (consignatário) para que os venda, dentro de um determinado prazo. Caso o consignatário obtenha sucesso em sua venda, retirará desta uma margem de lucro. É o caso das galerias de arte que se comprometem a expor e vender obras de determinados artistas, auferindo uma porcentagem de lucro. Sua natureza jurídica assemelha-se a uma espécie de mandato para vender com obrigação alternativa, já que a venda em si não é obrigatória. O consignatário pode obter o bem para si, pagando o valor devido, ou devolvê-lo ao consignante. O artigo 535 do Código Civil estabelece que os riscos decorrentes de possíveis deteriorações do bem deverão ser suportados pelo consignatário, em posse do bem. Já o artigo 537 impede que o consignante disponha da coisa enquanto o contrato estiver em vigência, findo o prazo estabelecido, haverá a restituição do bem tanto pela coisa em si quanto por valor equivalente, a critério do consignatário. Doação O contrato de doação é aquele no qual um indivíduo, por vontade própria, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra pessoa (art. 538, CC). Trata-se de um contrato, em regra, gratuito, unilateral e solene. Sua gratuidadeestá diretamente relacionada à liberalidade do doador, que não exige qualquer contraprestação do beneficiário para que o contrato se firme. É o que chamamos de doação pura. Caso o doador estabeleça qualquer tipo de encargo, porém, a doação perde sua característica de gratuidade e se torna onerosa. Quanto à unilateralidade, o contrato de doação O contrato estimatório é aquele no qual um indivíduo (consignante) entrega bens móveis a outro (consignatário) para que os venda, dentro de um determinado prazo. Caso o consignatário obtenha sucesso em sua venda, retirará desta uma margem de lucro. O contrato de doação é aquele no qual um indivíduo, por vontade própria, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra pessoa (art. 538, CC). 55 Modalidades Contratuais Capítulo 2 cria obrigação para somente uma das partes. Porém, caso torne-se oneroso, será também bilateral. Em geral, trata-se de um contrato solene porque a lei impõe a forma escrita (art. 541, CC), salvo a de bens móveis de pequeno valor, que pode ser verbal (art. 541, Parágrafo Único, CC). Importante mencionar desde já que o doador não se sujeita às consequências da evicção ou do vício redibitório, já abordados em capítulo anterior, pois não seria justo que surgissem obrigações para quem praticou uma liberalidade. Porém, caso a doação seja onerosa, a responsabilidade irá subsistir nesses casos (art. 552, CC). Além disso, nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, o doador ficará sujeito à evicção, salvo convenção em contrário (art. 552, CC). O contrato de doação possui dois elementos principais: subjetivo e objetivo. Os elementos subjetivos são o acordo de vontades e a liberalidade, ou seja, a vontade de doar sem receber nada em troca. Já o elemento objetivo refere- se à diminuição patrimonial do doador e consequente aumento patrimonial do donatário. a) Requisitos do contrato de doação Para ser firmado, o contrato de doação precisa seguir requisitos de ordem subjetiva e objetiva. Vejamos cada um deles. O primeiro dos requisitos subjetivos refere-se à capacidade do sujeito, tanto ativa quanto passiva. No primeiro caso, o doador deve possuir a capacidade de fato, ou seja, ser maior de 18 anos ou emancipado, além de capacidade específica para alienar os próprios bens. Já no segundo caso, não se exige nenhum tipo específico de capacidade, sendo que os civilmente incapazes podem receber doação, desde que o seu representante legal não se oponha, no caso dos nascituros, desde que seus pais aceitem a doação. Neste sentido, cumpre mencionar desde já algumas hipóteses especiais de doação, como a doação dos pais para os filhos. Nesse caso, não é necessária a autorização dos demais filhos, mas considera-se tal doação como adiantamento de legítima (art. 544, CC). Outra hipótese é a doação de bens imóveis de pessoa casada. Neste caso, para doar bens imóveis, tanto marido quanto mulher necessitam da autorização um do outro, a qual chamamos outorga uxória. Caso essa autorização não esteja presente no negócio, teremos uma invalidade e o ato poderá ser anulado até dois anos após o término da sociedade conjugal. 56 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais O cônjuge adúltero, por sua vez, é proibido de realizar doações a seu amante (art. 550, CC); o negócio poderá ser anulado pelo outro cônjuge ou seus herdeiros necessários (descendentes e ascendentes do doador) até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. Ainda sobre cônjuges, as doações de um cônjuge ao outro não são proibidas, desde que não visem a burlar o regime de separação de bens. Por fim, importa especificar que o mandatário para doar coisa do mandante deve ter poderes especiais, constantes da procuração com o nome do donatário. Desta mesma forma, os administradores em geral não podem doar coisas sob sua administração. Tal é o caso dos representantes legais dos incapazes. Passamos agora aos requisitos objetivos, relativos ao objeto da doação. Como em todo negócio jurídico, o objeto de doação poderá ser todo bem livre para o comércio: lícito, possível, determinado ou determinável. Além disso, o doador deve doar coisa própria, devendo possuir o poder de disposição da coisa. As doações a título universal, ou seja, a doação total de um patrimônio é proibida, assim como as doações acima da legítima dos herdeiros necessários. Essas últimas são as doações que ultrapassem 50% do patrimônio do doador; desta forma, caso uma pessoa tenha herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge), não pode doar mais do que 50% de seus bens, já que os outros 50% são devidos a seus sucessores. Por fim, cumpre mencionar que a doação de bens futuros é válida, ou seja, uma pessoa pode doar, por exemplo, os filhotes de sua cadela que ainda estão por nascer. Veremos agora as formas de aceitação da doação, elemento indispensável para aperfeiçoamento do negócio. b) Aceitação Para que o contrato de doação se efetive, é necessário que o donatário aceite o bem a ser entregue pelo doador. Assim, é possível mencionar quatro formas de aceitação: expressa, tácita, presumida e ficta. A aceitação expressa pode ser manifestada de forma verbal, escrita ou mímica, por gestos. Em geral, é possível encontrá-la no próprio instrumento contratual, sendo permitido, ainda, que seja emitida após a doação em si. Para que o contrato de doação se efetive, é necessário que o donatário aceite o bem a ser entregue pelo doador. 57 Modalidades Contratuais Capítulo 2 A aceitação tácita é aquela manifestada a partir do comportamento do donatário, que embora não diga expressamente que aceita o bem doado, demonstra por meio de atos a sua concordância. Por exemplo, embora Valcir não declare aceitar a doação de um veículo feita por Silvana, passa a usá-lo e providencia a regularização da documentação, em seu nome. A aceitação será presumida quando o doador fixa o prazo ao donatário, para declarar se aceita, ou não, a liberalidade. Passado o prazo sem manifestação do donatário, sendo a doação pura e simples, presume-se aceita; sendo modal, ou seja, com encargo, presume-se recusada (art. 539, CC). Outra hipótese de aceitação presumida ocorre quando a doação é feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, e o casamento se realiza. Desta forma, o casamento gera presunção de aceitação (art. 546, CC). Por fim, trataremos da aceitação ficta, que ocorre nas hipóteses de doação pura a um sujeito incapaz. Trata-se de uma ficção jurídica, elencada no artigo 543 do Código Civil, segundo o qual os absolutamente incapazes podem aceitar doações gratuitas independentemente de seus representantes legais. Todavia, caso o representante entenda que a doação é prejudicial ao incapaz, ele pode recusá-la. Situação interessante refere-se à morte de uma das partes antes de se efetivar a doação. O que acontece? Se antes da aceitação quem morre é o doador, o contrato prevalece, sujeito ao aceite do donatário. Se quem vem a falecer, entretanto, é o donatário, o contrato é extinto. Veremos agora a classificação dos diversos tipos de doação. c) Classificação dos contratos de doação Existem diversos tipos de doação a serem realizados. A mais comum é a doação pura, efetuada como simples ato de liberalidade em que nada é exigido do donatário; ele recebe o bem doado sem qualquer condição ou encargo. Em contrapartida, é possível que para a realização da doação, o doador estabeleça algum tipo de encargo. Assim, temos a doação modal ou com encargo, que sujeita o donatário à realização de certa tarefa, um dever jurídico. Em geral, o doador estipula prazo para a realização do É possível que para a realização da doação, o doador estabeleça algum tipo de encargo. Assim, temos a doação modal ou com encargo, que sujeita o donatário à realização de certa tarefa, um dever jurídico.58 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais encargo; caso o prazo não seja observado, será necessário constituí-lo em mora, antes de exigir o cumprimento. Neste caso, o doador fixará um prazo razoável para que o donatário cumpra o encargo. Se ainda assim o encargo estabelecido não for cumprido, o doador PODE exigi-lo, sob pena de revogar a doação. A doação também pode ser condicional, ou seja, subordinada a evento futuro e incerto; manual, que é a doação de bens móveis de pequeno valor, disciplinada pelo art. 541 do Código Civil; remuneratória, quando visar a remunerar, a título de agradecimento, serviços prestados (como no caso da gorjeta); meritória, nos casos em que o doador queira contemplar o merecimento do donatário (por exemplo: quando o pai presenteia o filho por ter passado em um concurso público); e indenizatória, quando o objetivo é compensar alguém pelos prejuízos causados. Por fim, há que se falar ainda na doação com cláusula de reversão. O artigo 547 do Código Civil permite que o doador estipule o retorno, ao seu patrimônio, dos bens doados, se sobreviver ao donatário. Desta forma, se José doa um imóvel a Túlio com cláusula de reversão, caso Túlio morra, o imóvel retorna a José. Veremos, agora, as hipóteses de revogação da doação. d) Revogação da doação Existem casos nos quais a legislação permite que doação seja revogada. O mais aparente deles é o descumprimento do encargo, nas doações modais, que poderá ser exigido pelo doador. Além disso, entretanto, há o que chamamos de ingratidão do donatário. Nesta hipótese, o Código Civil reputa ingrato o donatário que atente contra a vida do doador ou cometa crime de homicídio doloso contra ele; o donatário que ofenda fisicamente o doador; aquele donatário que injurie, calunie ou difame o doador; e, finalmente, o donatário que negue alimentos ao doador, desde que tivesse o dever e as condições materiais de ministrá-los, e desde que fosse solicitado a fazê-lo, pois não é obrigado a adivinhar que o doador necessita de alimentos. Se, nestes casos arrolados acima, o ofendido for irmão, cônjuge, ascendente ou descendente do doador, a doação também poderá ser revogada. Nos casos de homicídio tentado, ofensas físicas e atentado contra a honra, a doação pode ser revogada, independentemente de condenação criminal. Porém, se o donatário for julgado inocente no juízo criminal, a doação não poderá ser revogada. O direito de revogar não se transmite aos herdeiros do doador, a não ser no caso de homicídio doloso contra a vida do doador. Nesta hipótese, seus herdeiros 59 Modalidades Contratuais Capítulo 2 poderão pleitear a revogação, a não ser que o doador tenha perdoado o donatário antes de morrer. É evidente que se o doador morrer, depois de intentar a ação, seus herdeiros poderão continuá-la. Caso o donatário já tenha morrido, os bens doados são transmitidos a seus herdeiros e, portanto, a doação não pode mais ser revogada. Além disso, não são revogáveis as doações com encargo, desde que este já tenha sido cumprido. Locação Neste tópico trataremos da locação geral de bens, uma vez que a locação de imóveis é matéria específica da Lei n. 8.245/91 (Lei do Inquilinato). Nas palavras de Gonçalves (2014, p. 215), “locação de coisas é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a conceder à outra o uso e gozo de uma coisa não fungível, temporariamente e mediante remuneração”. Desta forma, infere-se que a locação é um contrato no qual um indivíduo empresta um bem a outro, mediante pagamento; uma característica importante é a de que o bem deve retornar ao seu dono após o fim do contrato. GAGLIANO, PABLO STOLZE. O Contrato de Doação: Análise Crítica do atual Sistema Jurídico e os seus Efeitos no Direito de Família e das Sucessões. São Paulo: Saraiva, 2014. Nas palavras de Gonçalves (2014, p. 215), “locação de coisas é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a conceder à outra o uso e gozo de uma coisa não fungível, temporariamente e mediante remuneração”. A locação é um contrato no qual um indivíduo empresta um bem a outro, mediante pagamento; uma característica importante é a de que o bem deve retornar ao seu dono após o fim do contrato. 60 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais O contrato de locação é oneroso, já que existe prestação e contraprestação a ambas as partes; comutativo, já que as prestações são recíprocas e certas; não solene, pois sua forma é livre; e de trato sucessivo, pois se prolonga no tempo. Seus elementos principais são: objeto, preço e consentimento. O objeto pode ser um bem móvel ou imóvel. No primeiro caso, o bem deve ser infungível; bens móveis fungíveis só poderão ser locados por prazo certo e para fins de ornamentação. Além disso, os bens móveis consumíveis também não podem ser objeto de locação. O bem poderá ser locado por inteiro ou por partes. No caso de um prédio comercial, por exemplo, é possível alugar um andar inteiro ou apenas uma sala. Se não houver especificação no instrumento, a locação abrange tanto o objeto principal quanto os bens acessórios da coisa (art. 566, I, CC). Questão controvertida é a da possibilidade de se locar coisa alheia. Sobre o tema, diz Gonçalves (2014, p. 217): Embora controvertida a possibilidade de se locar coisa alheia, Carvalho de Mendonça afirma não ser o fato estranho ao direito positivo, podendo o credor pignoratício alugar a coisa do devedor. Cunha Gonçalves, por sua vez, depois de lembrar que a doutrina mais autorizada é no sentido de que o contrato de locação não é translativo de propriedade, mas sim produtor de obrigações, conclui que “a locação de coisa alheia será válida enquanto durar a posse do locador; e somente ficará sem efeito quando a coisa locada for reivindicada pelo seu verdadeiro proprietário, pois ficando evicto o locador, evicto ficará também o locatário. Todavia, o proprietário evictor tem a faculdade de manter o locatário mediante novo arrendamento”. Pode ainda o proprietário ratificar o contrato e com esse ato provocar o convalescimento da locação. Desta forma, entende-se que a locação de coisa alheia é possível apenas enquanto o locador tem a posse do bem em questão. O segundo elemento dos contratos de locação é o preço, também chamado de aluguel ou remuneração. Ele deve ser fixado pelas partes, determinado, determinável ou, ainda, variável conforme índices legais. Deve, ainda, ser sério e real, não convencionado em valor ínfimo ou irrisório. Em geral, o pagamento é feito em dinheiro, de forma sucessiva, podendo também ser pago em uma única parcela por todo o período de locação, como nos contratos de temporada. 61 Modalidades Contratuais Capítulo 2 Quanto ao consentimento, terceiro elemento constituinte do contrato, este poderá ser expresso ou tácito e o locador não necessariamente precisa ser proprietário do bem, como no caso dos pais que irão locar bem dos filhos incapazes. Trata-se da figura do proprietário aparente que, sendo possuidor de boa-fé, usufruindo da coisa, pode locá-la. O locatário deve ser estranho ao bem, já que o locador não pode ser locatário de si mesmo, exceto quando o uso da coisa, por força de contrato ou de lei, pertencer a terceiro. Quanto ao prazo, as partes são livres para determiná-lo, sendo que, conforme o art. 571 do Código Civil, o locador não pode reaver a coisa antes do término estipulado e nem o locatário devolvê-la antes do combinado, sob pena de perdas, danos e eventuais multas. Passemos, agora, às obrigações do locador. a) Obrigações do locador O artigo 566 do Código Civil estabelece obrigações ao locador: I - a entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, em estado de servir ao uso a que se destina, e a mantê-la nesse estado, pelo tempo do contrato, salvo cláusula expressa em contrário; II - a garantir-lhe, durante o tempo do contrato, o uso pacífico da coisa.(BRASIL, 2002, s.p.). Assim, o locador deve entregar o bem com os acessórios e pertenças, a não ser que estejam expressamente excluídos. As pertenças são bens móveis “afetados por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outro, como os tratores destinados a uma melhor exploração de propriedade agrícola e os objetos de decoração de uma residência, por exemplo” (GONÇAVES, 2014, p. 219). Se não houver qualquer reclamação por parte do locatário, presume-se que o bem foi recebido nos termos acordados. A não entrega por parte do locador gera inadimplência, podendo o locatário exigir a resolução do contrato mais perdas e danos. Além disso, o locador deve zelar para que o bem seja mantido em condições de uso, exceto convenção em contrário. Os pequenos estragos, porém, que independem do tempo ou do uso, são de responsabilidade do locatário. Por fim, nos termos do inciso II do art. 566, o locador não pode praticar qualquer ato que perturbe o uso e gozo do bem, devendo também proteger o locatário de embaraços e turbações de terceiros (art. 568, CC). O locador também está sujeito às consequências dos vícios redibitórios, por força do art. 568 do Código Civil. 62 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais b) Obrigações do Locatário As obrigações do locatário estão disciplinadas no artigo 569 do Código Civil, que assim diz: Art. 569: O locatário é obrigado: I - a servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou presumidos, conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem como tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse; II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do lugar; III - a levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que se pretendam fundadas em direito; IV - a restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, salvas as deteriorações naturais ao uso regular (BRASIL, 2002). Desta forma, o locatário é obrigado a usar o bem locado para os usos convencionados e a tratá-lo como se fosse seu, com cuidado. Por exemplo, Alexandre loca o imóvel de Sidney para moradia, não poderá instalar nele o seu comércio. O uso indevido do bem autoriza o locador a rescindir o contrato e a exigir perdas e danos (art. 570, CC). O locatário deve pagar o aluguel nos prazos ajustados ou conforme os costumes do lugar, caso não haja nenhum ajuste. Se o locatário se recusa ao pagamento, estará em mora. Pode ser estipulado, ainda, que o locatário, além de pagar o aluguel, responda por impostos e taxas que incidam sobre o imóvel locado. É dever do locatário, ainda, levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, fundadas em direito (inciso III). Como já mencionado, o locador tem a obrigação de resguardar o locatário dos embaraços e turbações de terceiros. Para que possa cumprir tal obrigação, porém, é necessário que ele tenha ciência do fato, a ser dada pelo locatário. Por fim, cabe ao locatário restituir a coisa no estado em que a recebeu, salvo as deteriorações naturais. É possível que ele exija relação por escrito do estado do imóvel, quando realizada a entrega, de forma a se resguardar. Caso o locatário tenha danificado a coisa, deverá indenizar o locador. c) Disposições complementares Conforme o art. 571 do Código Civil, o “locador [pode] reaver a coisa alugada antes do vencimento do prazo”, desde que pague ao locatário as “perdas e danos resultantes”. É possível, ainda, que a coisa seja devolvida ao locador desde que o locatário pague a multa acordada no contrato. Essa norma pode ser alterada pela vontade das partes, e não se aplica à locação de prédios urbanos, os quais têm regulamentação própria. O locatário é obrigado a usar o bem locado para os usos convencionados e a tratá-lo como se fosse seu, com cuidado. 63 Modalidades Contratuais Capítulo 2 O parágrafo único do mencionado artigo dispõe que o locatário “gozará do direito de retenção, enquanto não for ressarcido”. Trata-se de uma proteção ao locatário, tornando mais fácil o pagamento da indenização que lhe deve o locador quando pedir de volta o bem antes do prazo de locação acordado. O contrato de locação “por tempo determinado cessa de pleno direito findo o prazo estipulado” (art. 573, CC). Assim, se o locatário não devolve o bem, passa a ter posse injusta e de má-fé. Porém, se não tiver oposição do locador, presume-se que o contrato foi prorrogado pelo mesmo valor de aluguel (art. 574, CC). Caso a locação não tenha prazo determinado, é necessário que o locatário seja notificado pelo locador de sua vontade em reaver o bem. Se o locatário, já notificado, “não restituir a coisa, pagará, enquanto a tiver em seu poder, o aluguel que o locador arbitrar, e responderá pelo dano que ela venha a sofrer, embora proveniente de caso fortuito” (art. 575, CC). É uma forma que o locador possui de obrigar o locatário a cumprir com sua obrigação. Empréstimo No empréstimo, uma das partes entrega um bem a outra, com objetivo de reavê-lo ao fim do contrato. Transmite-se temporariamente a posse da coisa, não lhe sendo cedida a propriedade. No Código Civil são elencadas duas espécies principais de empréstimo: o comodato e o mútuo; a semelhança entre eles é a entrega do bem, mas os dois institutos possuem diferenças profundas. Vejamos cada um deles. a) Comodato Conforme art. 579 do Código Civil, “comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis”, concretizado com a tradição do objeto. Conhecido como empréstimo de uso, o bem será utilizado por uma das partes, voltando a seu dono original no fim do contrato. Trata-se de contrato gratuito, a respeito de objeto infungível que se aperfeiçoa com a simples entrega do bem. É ainda unilateral, personalíssimo, temporário e não solene, pois não exige forma específica. No empréstimo, uma das partes entrega um bem a outra, com objetivo de reavê-lo ao fim do contrato. 64 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais Uma vez firmado o comodato, o comodatário terá direito de uso e gozo sobre a coisa, com as seguintes obrigações: a) Conservar o bem, não podendo abandoná-lo ainda que haja caso fortuito ou força maior (art. 582, 583 CC); b) Usar o bem de maneira adequada (art. 582, CC); e c) Restituir a coisa no prazo convencionado, podendo ser constituído em mora no caso de atraso na entrega, devendo, ainda, pagar aluguel pelo tempo extra (art. 582, CC). Quanto ao comodante, sua obrigação principal é a entrega do bem acordado. Caso surjam despesas extraordinárias e urgentes para conservação da coisa em posse do comodatário, o comodante deverá lhe reembolsar. Se o bem apresentava vício oculto conhecido por ele, deverá indenizar o comodatário por eventuais prejuízos que tenha sofrido pela falta de aviso. Seus direitos são: a) exigir do comodatário que conserve a coisa como se fora sua, usando-a apenas de acordo com sua destinação, finalidade e natureza; b) exigir que o comodatário efetue os gastos ordinários para conservação, uso e gozo da coisa emprestada, restituindo-a findo o prazo convencionado ou presumido; c) arbitrar e cobrar aluguel, como penalidade e para satisfação de perdas e danos, em caso de atraso na restituição (GONÇALVES, 2014, p. 241). O contrato de comodato se extingue das seguintes formas: a) Pelo fim do prazo acordado; b) Por resolução, caso o comodatário descumpra suas obrigações; c) Por sentença judicial caso o comodante comprove necessidade urgente e imprevisível (art. 581); d) Caso o comodato seja personalíssimo, pela morte do comodatário; e) Por resilição unilateral por qualquer das partes; f) Pelo perecimento do bem, com a devida indenização a ser paga para o comodante. b) Mútuo O mútuo, por sua vez, é definido pelo art. 586 do Código Civil como o “empréstimo de coisas fungíveis”, no qual o mutuário deve “restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade”. Alémdisso, o mutuário se torna proprietário do objeto, sendo responsável por todos os riscos decorrentes desde a tradição (art. 587, CC). Conforme art. 579 do Código Civil, comodato “é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis, concretizado com a tradição do objeto”. 65 Modalidades Contratuais Capítulo 2 É também conhecido como contrato de empréstimo para consumo, já que o mutuário pode fazer o que bem entender com a coisa emprestada, devendo restituir outra de mesma espécie. A fungibilidade da coisa emprestada é o principal requisito para o contrato de mútuo (ver art. 86, CC). Trata-se de um contrato real, que se aperfeiçoa com a entrega da coisa; em regra, gratuito, podendo ser oneroso no caso do empréstimo de dinheiro; unilateral, temporário e não solene. Cumpre destacar que o empréstimo de dinheiro é também conhecido como mútuo feneratício, sendo dele cobrados juros (art. 591, CC). Ademais, o Código Civil, em seu artigo 315, adotou o chamado princípio do nominalismo, segundo o qual o valor da moeda a ser considerado é nominal. Não importam, portanto, as alterações inflacionárias e o poder de compra existente no ato do empréstimo e no ato do pagamento; o valor a ser pago será sempre o mesmo, ainda que haja desvalorização monetária. Para realizar contrato de mútuo, o mutuante deve ser proprietário da coisa, além de deter capacidade civil plena. O Código Civil em seu art. 588 estabelece que o mútuo feito a menor sem autorização de seu representante não pode ser reavido do mutuário ou de seus fiadores. Essa regra não será aplicável, entretanto: a) se o representante do menor “ratificar” o empréstimo; b) se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair empréstimo “para os seus alimentos habituais”; c) “se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho”, caso em que a execução do credor “não lhes poderá ultrapassar as forças”; d) se o empréstimo “reverteu em benefício do menor”; e e) se este “obteve o empréstimo maliciosamente” (art. 589, CC; GONÇALVES, 2014, p. 244). Quanto às obrigações das partes, o mutuante deve entregar o bem conforme acordado, sendo “sua a responsabilidade pelos prejuízos decorrentes de vícios ou defeitos da coisa, de que tinha conhecimento, e a respeito dos quais não informou O mútuo é definido pelo art. 586 do Código Civil como o “empréstimo de coisas fungíveis”, no qual o mutuário deve “restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade”. 66 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais o mutuário, malgrado se trate de hipótese rara” (GONÇALVES, 2014, p. 248). Terá o direito, ainda, de exigir garantia de restituição caso a situação econômica do mutuário se altere de forma notória antes do fim do contrato (art. 590, CC). O mutuário, por sua vez, tem apenas uma obrigação: “restituir, no prazo convencionado, a mesma quantidade e qualidade de coisas recebidas e, na sua falta, pagar o seu valor, tendo em vista o tempo e o lugar em que, segundo a estipulação, se devia fazer a restituição, quando o contrato não tiver dinheiro por objeto” (GONÇALVES, 2014, p. 248). Por fim, podemos estabelecer as seguintes diferenças entre o contrato de mútuo e o de comodato: Comodato Mútuo Empréstimo de uso Empréstimo de consumo Comodatário deve restituir a própria coisa Mutuário deve devolver coisa de mesma espécie Não há transferência de domínio Há transferência de domínio Não permite alienação da coisa Permite alienação da coisa emprestada Quadro 2 – Diferenças entre o contrato mútuo e o de comodato Fonte: A autora. Depósito O contrato de depósito é aquele no qual uma das partes transfere a outra a guarda de um bem móvel, para conservação, que será devolvido posteriormente. O depositário não poderá utilizar este bem, exceto se expressamente autorizado. LEITE, Júlio de Assis Araújo Bezerra. O Direito do Idoso e o Mútuo Bancário: Aplicação do Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto do Idoso. 2007. Dissertação (Mestrado em Direito Constitucional). Universidade de Fortaleza, Fortaleza Biblioteca Depositária: UNIFOR. Disponível em: <https://uolp.unifor.br/oul/conteudosite/F1066343189/ Dissertacao.pdf>. Acesso em 29, jan. 2018. O contrato de depósito é aquele no qual uma das partes transfere a outra a guarda de um bem móvel, para conservação, que será devolvido posteriormente. 67 Modalidades Contratuais Capítulo 2 Poderá ser unilateral ou bilateral, caso haja estipulação de pagamento; gratuito ou oneroso; real, pois se aperfeiçoa com a entrega do bem; solene, pois a lei exige que seja celebrado de forma escrita (art. 646, CC); e temporário. Para celebrar contrato de depósito, as partes devem ser civilmente capazes; o bem, entretanto, só poderá ser móvel, ainda que consumível. Deve ser restituído da mesma forma em que foi entregue (selado, lacrado, etc.; art. 630, CC), exceto em ocasiões excepcionais de perigo e urgência. Vejamos, agora, as espécies de depósito. a) Tipos de depósito No ordenamento jurídico brasileiro podemos encontrar três espécies de depósito: 1) Depósito contratual; 2) Depósito judicial e; 3) Depósito necessário. O depósito contratual é aquele elencado no art. 627 do Código Civil, sendo a base de nossos estudos neste tópico. O depósito judicial, por sua vez, deriva de uma sentença, como nas ações de consignação em pagamento ou de sequestro. Quanto ao depósito necessário, ele se ramifica em legal e miserável e está elencado no art. 647 do Código Civil: “Art. 647. É depósito necessário: I — o que se faz em desempenho de obrigação legal; II — o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque” (BRASIL, 2002). O inciso primeiro refere-se ao depósito oriundo de uma exigência legal, por exemplo, “o que ocorre quando o sujeito encontra coisa alheia perdida, impondo- se-lhe, a teor dos arts. 1.233 a 1.237 do Código Civil, que se encaminhe a uma delegacia de polícia, para efetuar o depósito, sob pena de incorrer no crime de apropriação indébita de coisa achada” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014, sp). Já o segundo trata do depósito miserável, oriundo de uma situação de desespero, como naufrágio ou saque. Cumpre destacar que o depósito de bagagens de hóspedes é equiparado ao depósito necessário legal (art. 649, CC), atingindo hotéis, albergues, pensões etc. b) Direitos e obrigações das partes Nos casos de depósito gratuito, as obrigações são exclusivas do depositário, que deverá guardar, conservar e devolver o bem que lhe foi confiado (art. 629, CC). Se oneroso, o depositante terá como obrigação o pagamento por sua atividade. 68 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais Caso a coisa produza frutos, estes deverão ser entregues junto ao bem principal, assim como eventuais benfeitorias. A restituição deve ser feita no lugar em que o bem foi guardado, às custas do depositante (art. 631, CC). Se o bem depositado for de interesse de terceiro, este deve autorizar a restituição (art. 632, CC). Caso haja mais de um depositante e a coisa seja divisível, o depositário deverá restituir a cada um a parte que lhe cabe, exceto se forem solidários (art. 639, CC): Um exemplo vale por mil palavras: suponhamos que Jassa e Odessa sejam proprietários de uma tonelada de soja, depositada em poder de Oliveiros. Neste caso, tratando-se de coisa divisível, deverá o depositário entregar a cada um dos depositantes a sua respectiva parte (500 kg, se o contrato não dispuser de forma diferente). Todavia, se houver entre eles solidariedade, poderá o depositário entregar todo o bem para apenas um dos depositantes, que o reclamar (art. 275, CC-02; art. 904, CC-16; GAGLIANO, PAMPLONA FILHO, 2014, s.p). Se o depositário sub-rogar o bem para guarda de terceiro, ainda que autorizado, responderão juntos por eventuais danos (art. 640, CC); e ainda, se o depositário for acometido dealguma incapacidade, seu curador deverá restituir a coisa depositada (art. 641). Além disso, o depositário não pode se negar a restituir a coisa, exceto nos seguintes casos: a) Direito de retenção; b) Embargo judicial do objeto depositado; c) Execução pendente sob a coisa depositada; e d) Motivo justo sobre a ilicitude do objeto (art. 633 e 634, CC). É possível, ainda, que o depositário faça depósito judicial quando tiver motivo justo para devolver a coisa e o depositante não queira recebê-la (art. 635, CC). Sobre o direito de retenção, o artigo 644 do Código Civil estabelece que será legítimo quando: a) O depositante não tiver pagado remuneração previamente acordada; b) O depositante não pagar o valor das despesas que o depositário tenha realizado em função da coisa; e c) O depositário não tenha recebido indenização devida oriunda de eventual prejuízo do depósito. Fora esses casos, a negação de restituição da coisa torna o depositário infiel, aparentemente passível de prisão nos termos do artigo 652 do Código Civil. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal afastou a hipótese de prisão na Súmula Vinculante 25, que assim dispõe: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. Esta súmula foi emitida em razão da celebração do Pacto de San José da Costa Rica, incorporado ao direito positivo brasileiro, que restringiu as hipóteses de prisão por dívida a apenas um caso: dívida oriunda de pensão alimentar. Assim, o depositário que se negar a restituir o bem não pode ser preso. O Supremo Tribunal Federal afastou a hipótese de prisão na Súmula Vinculante 25, que assim dispõe: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. 69 Modalidades Contratuais Capítulo 2 c) Extinção do contrato de depósito O depósito pode ser extinto das seguintes formas: a) Advento do termo acordado; b) Por solicitação do depositante; c) Por devolução justificada do depositário; d) Perecimento do objeto; e) Morte do depositário, se o contrato for personalíssimo. Mandato Nos termos do art. 653 do Código Civil, o mandato é um contrato no qual uma das partes confere a outra poderes para praticar atos jurídicos em seu nome; baseia-se, portanto, na ideia de representação. Grande parte dos atos jurídicos pode ser efetuada por meio de representante escolhido, ainda que não tenham cunho patrimonial, como bem lembra Gonçalves (2014, p. 286): A adoção e o reconhecimento do filho natural, por exemplo, podem ser efetuados por meio de mandato. Até mesmo o casamento, que é um dos atos mais solenes do Código Civil e de reconhecida importância para a vida das pessoas, pode ser celebrado “mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais ” (CC, art. 1.542). O referido autor (2014) cita como exceções os atos personalíssimos, como: o concurso público, o testamento e o serviço militar. Atividade de Estudos: 1) Em relação ao contrato de depósito, é correto afirmar que a) é sempre gratuito. b) se o depósito se entregou fechado, colado, selado, ou lacrado, nesse mesmo estado se manterá. c) o depositário responde pelos casos de força maior. d) se voluntário, provar-se-á por qualquer forma. O mandato é um contrato no qual uma das partes confere a outra poderes para praticar atos jurídicos em seu nome; 70 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais O mandato é contrato personalíssimo, pois se baseia na confiança existente entre representante e representado; é não solene, apesar do art. 653 afirmar que “a procuração é o instrumento do mandato”; e, em regra, é gratuito, desde que não haja acordo em contrário ou nos casos em que o pagamento é essencial à representação (no caso de mandato confiado a advogado, por exemplo). É importante destacar desde já que, embora o mandato tenha por base a ideia de representação, as duas figuras não se pressupõem. É possível que haja mandato sem representação, como no caso do contrato de comissão (a ser estudado adiante neste mesmo capítulo), assim como há hipóteses de representação sem mandato, como no caso dos representantes legais ou judiciais (pais ou tutores). a) Requisitos para outorgar a procuração e receber o mandato O artigo 654 do Código Civil estabelece que todas as pessoas civilmente capazes podem outorgar procuração, sendo requisito de outorga, portanto, a simples capacidade civil. O mandato, entretanto, estará adstrito aos atos que o mandante pode, pessoalmente, praticar; o mandatário não pode extrapolar esses limites. Por outro lado, o artigo 666 do Código Civil permite que os menores de 18 e maiores de 16, relativamente incapazes, atuem como mandatários. Caso o contrato seja mal executado, porém, o risco é integralmente do mandante. Conforme elenca Gonçalves (2014, p. 291), não podem exercer mandato: a) os acionistas brasileiros não podem fazer-se representar nas reuniões de assembleia geral por mandatários estrangeiros (Dec.-Lei n. 2.063, de 7-3-1940, art. 199); b) o funcionário público, mesmo aposentado, não pode ser procurador perante qualquer repartição (Dec. n. 23.112, de 11-4-1934, e art. 22, XL, da Lei n. 8.122, de 1990), mas pode ser mandatário nos demais casos. Trataremos, agora, da procuração. b) A procuração Apesar de ser contrato não solene e, portanto, não exigir forma para que seja válido, o mandato escrito é o mais comum, tendo como instrumento a procuração. De acordo com o artigo 654, §1º, “O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do Apesar de ser contrato não solene e, portanto, não exigir forma para que seja válido, o mandato escrito é o mais comum, tendo como instrumento a procuração. 71 Modalidades Contratuais Capítulo 2 outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos”. Além disso, o terceiro que irá tratar com o mandatário pode exigir reconhecimento de firma (art. 654, §2º, CC). O artigo 657, por sua vez, orienta que a procuração seja feita da mesma forma exigida para o ato a ser praticado. Assim, exemplifica Gonçalves (2014, p. 291): “Se o ato objetivado exigir instrumento público, como a compra e venda de imóvel de valor superior à taxa legal, por exemplo, a procuração outorgada para a sua prática deve observar, necessariamente, a forma pública”. Há ainda que se falar na possibilidade de o mandatário “terceirizar” a procuração, por meio de substabelecimento. Nos termos do artigo 655 do Código Civil, este pode ser feito por instrumento particular ainda que a procuração seja por instrumento público, com reserva de poderes (ou seja, o mandatário atua junto da pessoa a quem foi entregue o substabelecimento) ou sem reserva (hipótese na qual o mandatário renuncia à sua função e a entrega ao substabelecido, integralmente). Segundo Gonçalves (2014, p. 292), “O substabelecimento pode ser também total ou parcial. No primeiro caso, o substabelecido outorga a outrem todos os poderes recebidos; no segundo, o substabelecido fica inibido de praticar certos atos”. c) Espécies de mandato Existem diversos tipos de mandato. De acordo com o Código Civil, ele poderá ser expresso, tácito, verbal ou escrito (art. 656); gratuito ou oneroso (art. 658); judicial ou extrajudicial (art. 692), simples ou empresário (art. 966 e 1.018), geral ou especial (art. 660), em termos gerais com poderes especiais (art. 661), solidário, sucessivo ou fracionado (art. 672). Comecemos pelo tácito. Em algumas hipóteses, a lei considera a existência de um mandato tácito, a partir de atos que presumem que o mandatário o aceitou. Gonçalves (2014, p. 293) elenca como exemplo: O art. 1.643 e incisos I e II do mencionado diploma autorizam os cônjuges, independentemente de autorização um do outro, a “comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica” e a “obter,por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir”; o art. 1.324 presume representante comum “o condômino que administrar sem oposição dos outros”; o art. 1.652, II, responsabiliza o cônjuge que estiver na posse dos bens particulares do outro “como procurador, se tiver mandato expresso ou tácito para os administrar”. Além disso, a legislação cambial e o art. 891 do novo Código Civil presumem ter o portador de título de crédito mandato para inserir a data e o lugar da emissão. A jurisprudência tem admitido a existência de mandato tácito pelo início da execução, em alguns casos, especialmente nos de mandato judicial, sem o efetivo poder de representação. 72 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais Em relação à forma, o mandato poderá ser verbal nos casos em que a lei não exija forma escrita, notadamente “nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados” (art. 227, CC). O escrito pode ser outorgado por instrumento particular ou público (art. 654, CC). Poderá, ainda, ser gratuito ou oneroso, a depender da relação estabelecida entre mandante e mandatário; judicial (art. 692, CC), que habilita o advogado para agir em juízo por seu cliente, ou extrajudicial; e simples ou empresários, este último restrito aos negócios mercantis (art. 966, CC). Quanto à extensão dos poderes conferidos ao mandatário, pode ser especial, limitado à celebração de um ou mais negócios determinados pelo mandante, ou geral, valendo para a prática de qualquer ato (art. 660). Em relação ao mandato de termos gerais, o art. 661 o limita a poderes de administração; para ultrapassar esses poderes gerais de administração são necessários poderes especiais expressos (art. 661, §1º). Por fim, vejamos o artigo 672 do Código Civil: Sendo dois ou mais os mandatários nomeados no mesmo instrumento, qualquer deles poderá exercer os poderes outorgados, se não forem expressamente declarados conjuntos, nem especificamente designados para atos diferentes, ou subordinados a atos sucessivos. Se os mandatários forem declarados conjuntos, não terá eficácia o ato praticado sem interferência de todos, salvo havendo ratificação, que retroagirá à data do ato. Assim, presume-se que caso o mandato seja outorgado a mais de um indivíduo, será solidário. Para que atuem em negócios diferentes, deve haver menção expressa no instrumento; se forem declarados conjuntos, só poderão agir de forma conjunta, ainda que com ratificação posterior; se forem sucessivos, devem atuar na ordem de sua nomeação. d) Obrigações do mandatário e do mandante As obrigações do mandatário são: a) Agir em nome do mandante, conforme os poderes que lhe foram conferidos; caso esses poderes sejam extrapolados, deverão ser convalidados pelo mandante (art. 665, CC); b) Atuar com diligência e assumir a responsabilidade por eventuais prejuízos causados por ele ou por indivíduo a quem substabeleceu (art. 667, CC); c) Prestar contas ao mandante, transferindo a este as vantagens oriundas do mandato (art. 668, CC); d) Apresentar o instrumento do mandato aos terceiros com quem tratar em nome do mandante (art. 673, CC); e) Concluir negócio já iniciado quando houver perigo na demora, ainda que haja mudança de estado do mandante (art. 674, CC). 73 Modalidades Contratuais Capítulo 2 Já o mandante tem dois grupos principais de obrigações. O primeiro, refere- se a satisfazer obrigações assumidas pelo mandatário (art. 675, CC), ainda que alguma de suas instruções não seja atendida, cabendo direito de regresso (art. 679, CC). O segundo, refere-se às obrigações de caráter pecuniário: O mandante é obrigado a adiantar a importância das despesas necessárias à execução do mandato, quando o mandatário lho pedir, ou reembolsá-lo, com os juros eventualmente devidos pelo atraso, do valor das despesas por ele despendido, uma vez que o mandatário pode, ao seu alvitre, efetuar as despesas e em seguida solicitar seu reembolso, ou pedir ao mandante que adiante as importâncias necessárias ao desempenho do mandato; a pagar-lhe a remuneração ajustada; e a indenizá-lo dos prejuízos experimentados na execução do mandato (CÓDIGO CIVIL, arts. 675 a 677, 2002; GONÇALVES, 2014, p. 300). O mandatário age em nome do mandante, portanto, qualquer prejuízo patrimonial que tenha sofrido deverá ser suportado pelo mandante, exceto em caso de culpa. e) Extinção do mandato Segundo o art. 682 do Código Civil, são quatro as formas de extinção do mandato: 1) Revogação ou renúncia; 2) Morte ou interdição das partes; 3) Mudança de estado que inabilite mandante ou mandatário; 3) Pelo termo final ou conclusão do negócio. Em algumas hipóteses, porém, o mandato pode se tornar irrevogável por força de lei, como preceituado dos artigos 683 a 686. Segundo Gonçalves (2014, p. 304), Pode-se afirmar que o mandato é irrevogável quando: a) contiver cláusula de irrevogabilidade; b) for conferido com a cláusula “em causa própria” (art. 685); c) a cláusula de irrevogabilidade for condição de um negócio bilateral (mandato acessório de outro contrato), ou tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário; d) contenha poderes de cumprimento ou confirmação de negócios encetados, aos quais se ache vinculado (art. 686, parágrafo único). Vejamos, agora, o contrato de comissão. 74 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais Comissão O contrato de comissão, nas palavras de Gonçalves (2014, p. 312), é um negócio jurídico pelo qual um dos contraentes, denominado comissário, obriga-se a realizar negócios em favor do outro, intitulado comitente, segundo instruções deste, porém em nome daquele. O comissário obriga-se, portanto, perante terceiros em seu próprio nome, figurando no contrato como parte. Neste, em geral, não consta o nome do comitente, porque o comissário age em nome próprio. Nada impede, contudo, que venha a constar, por conveniência de melhor divulgação do produto e incrementação dos negócios. No contrato de comissão, o objeto é a compra e venda de bens por conta de outrem, bens estes sempre móveis. Gagliano e Pamplona Filho (2014, p. 397) apontam, como exemplo, a atividade empresarial empreendida “pelas agências de viagens que, contratando em próprio nome, fazem jus à remuneração devida (comissão) pela venda de passagens aéreas”. Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, comutativo, não solene e intuito personae, pois é celebrado em razão da pessoa do comissário, por suas qualidades específicas e profissionais. a) Remuneração do comissário Geralmente, a remuneração é calculada em porcentagem sobre os valores das vendas ou de outros negócios, sendo devida desde a conclusão do contrato. Se por motivos de morte ou força maior o comissário não puder concluí-lo, “será devida pelo comitente uma remuneração proporcional aos trabalhos realizados” (art. 702, CC). ALVARENGA, Luiz Carlos. A REPRESENTAÇÃO NOS ATOS NOTARIAIS CELEBRADOS CONSIGO MESMO: análise do art. 117 do novo Código Civil. Revista Qualitas, Campina Grande, v. 06, n. 02, 2007. Disponível em: <http://revista.uepb.edu.br/index.php/ qualitas/article/view/84>. Acesso em 29 jan. 2018. No contrato de comissão, o objeto é a compra e venda de bens por conta de outrem, bens estes sempre móveis. 75 Modalidades Contratuais Capítulo 2 A remuneração do comissário é devida ainda que este tenha dado motivo a eventual dispensa, em razão dos serviços úteis já prestados; o comitente, entretanto, poderá, nestes casos, exigir indenização por perdas e danos (art. 703, CC). Embora a expressão serviços úteis seja vaga, Gonçalves (2014, p.313) entende que “deve-se interpretá-la em sentido amplo, levando em conta não apenas o aspecto patrimonial, mas qualquer outra vantagem ou benefício demonstrados”. Se o comissário, no entanto, for despedido sem justa causa, deverá receberpelos trabalhos prestados e por eventuais perdas e danos decorrentes da dispensa (art. 705, CC). Cumpre mencionar que o comissário tem direito a reter os bens adquiridos para o comitente como forma de garantir o reembolso das despesas efetuadas para realizar o negócio convencionado (art. 708, CC). A morte de qualquer das partes extingue o contrato. b) Deveres do comissário Para efeitos didáticos, dividiremos os deveres do comissário em duas espécies: os deveres em relação ao comitente, já que precisa agir em nome dele; e os deveres em relação a terceiros, já que contrata em seu próprio nome. Quanto aos deveres em relação ao comitente, tem-se que: 1) Uma vez aceito o encargo, obriga-se o comissário na forma e segundo as ordens e instruções recebidas; 2) Obriga-se o comissário em relação às pessoas com as quais ele contrata, sem que estas tenham ação contra o comitente, e nem este contra elas, a menos que o comissário ceda seus direitos a qualquer uma das partes (art. 694, CC); 3) Deve proceder com diligência de forma e evitar prejuízo e auferir lucro para o comitente (art. 696, CC); 4) Não pode conceder prazo para pagamento, se tiver ordens em contrário. Na omissão de disposição sobre o assunto, a presunção é que houve autorização (art. 699, CC); 5) Nas vendas de mercadorias a prazo, vencidos os pagamentos, o comissário é obrigado a realizar a cobrança (art. 700, CC); 6) Cabe-lhe cuidar da conservação dos direitos e da guarda das coisas do comitente; 7) Deve pagar os juros se incidir em mora na entrega dos fundos ou valores devidos ao comitente, como a este também incumbe a satisfazer os juros das quantias em dinheiro que o comissário, a seu benefício, houver adiantado (art. 706, CC); e 8) Deve avisar o comitente dos danos sofridos pelas mercadorias sob sua guarda. Já em relação a terceiros, o comissário deve: 1) Assumir a responsabilidade pelas obrigações efetuadas (art. 694, CC); e 2) Responsabilidade pela perda ou extravio do dinheiro e de qualquer bem que se encontre em seu poder, ainda que o dano decorra de caso fortuito ou força maior, a menos que prove que tenha empregado a diligência necessária na guarda. 76 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais c) Direitos e deveres do comitente O comitente tem a obrigação de pagar a remuneração ao comissário, nos seguintes termos: Art. 701. Não estipulada a remuneração devida ao comissário, será ela arbitrada segundo os usos correntes no lugar. [...] Art. 703. Ainda que tenha dado motivo à dispensa, terá o comissário direito a ser remunerado pelos serviços úteis prestados ao comitente, ressalvado a este o direito de exigir daquele os prejuízos sofridos. Art. 704. Salvo disposição em contrário, pode o comitente, a qualquer tempo, alterar as instruções dadas ao comissário, entendendo-se por elas regidos também os negócios pendentes. Art. 705. Se o comissário for despedido sem justa causa, terá direito a ser remunerado pelos trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido pelas perdas e danos resultantes de sua dispensa.” (BRASIL, 2002). A comissão ou remuneração devida pelo comitente deve ser paga depois de concluído o negócio, não sendo condicionada à sua execução. Além disso, o comitente deve 1) Fornecer fundos suficientes ao comissário a fim de possibilitar os negócios; 2) Ressarcir as despesas desembolsadas pelo comissário; 3) Assumir os riscos oriundos da devolução de fundos em poder do comissário, exceto se ele se desviar das instruções emanadas do comitente, ou fizer as devoluções por motivos diversos dos comumente usados no local da remessa. Em contrapartida, são direitos do comitente: 1) Opor todas as exceções permitidas ao comissário, como o descumprimento das obrigações; 2) Exigir que o comissário responda pelos prejuízos acontecidos, se o mesmo não comunicar, ao receber as mercadorias, as avarias, a diminuição ou mudança de seu estado; 3) Solicitar a restituição, em caso de falência do comissário, das mercadorias que se encontrarem em seu poder, e pleitear junto a terceiros os preços ainda não pagos das mercadorias vendidas pelo comissário; 4) Não responder, junto a terceiros, pelas obrigações assumidas pelo comissário, eis que este age em seu nome próprio; 5) Acionar terceiros, no caso de sub-rogação nos direitos assumidos pelo comissário; e 6) Alterar as instruções dadas ao comissário, a menos que tenham disposto o contrário as partes (art. 704, CC). d) Comissão del credere Em geral, o comissário não responderá pela insolvência das pessoas com quem tratar. Todavia, existem dois casos nos quais isto pode ocorrer: em caso de culpa do comissário, e na vigência de cláusula del credere (art. 697, CC). Sobre o assunto, assim dispõe o artigo 698 do Código Civil: 77 Modalidades Contratuais Capítulo 2 [...] se do contrato de comissão constar a cláusula del credere, responderá o comissário solidariamente com as pessoas com que houver tratado em nome do comitente, caso em que, salvo estipulação em contrário, o comissário tem direito a remuneração mais elevada, para compensar o ônus assumido. Esta cláusula tem por objetivo estimular o comissário a tomar cuidado ao realizar seus negócios, pois, como consequência dela, torna-se devedor solidário do negócio firmado. Agência e Distribuição O artigo 710 do Código Civil assim preceitua: Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando- se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada. Desta forma, é possível inferir que o agente é um indivíduo que atua como promotor de negócios de empresas. Diferencia-se do corretor porque não conclui os negócios, fomenta o negócio, mas não é seu representante, nem é obrigado a concluir transações. Para Gonçalves (2014, p. 321): Como exemplos de pessoas que exercem essa atividade podem ser citados os agentes de seguros, de aplicações financeiras, de atividades artísticas, podendo ser lembrada, ainda, a atividade do agente que se encarrega de indicar novos atletas de futebol ou de outro esporte para determinada agremiação esportiva. A atividade do agente limitar-se-á aos atos preparatórios que lhe foram incumbidos: prepara o negócio em favor do agenciado, mas não o conclui necessariamente. A obrigação do representante comercial autônomo, ao contrário, é de concluí-lo. Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, comutativo, não solene e intuitu personae. a) Características do contrato de agência O contrato de agência possui as seguintes características: O agente é um indivíduo que atua como promotor de negócios de empresas. Diferencia-se do corretor porque não conclui os negócios, fomenta o negócio, mas não é seu representante, nem é obrigado a concluir transações. 78 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais 1) Independência hierárquica, já que o agente possui autonomia na organização e promoção dos negócios do agenciado; 2) Habitualidade, pois as atividades a serem desenvolvidas são habituais, de vínculo duradouro; 3) Intermediação, uma vez que o agente realiza negócios de interesse do agenciado; 4) Remuneração, já que o agente recebe uma contraprestação pelos serviços agenciados; e 5) Delimitação espacial, pois o agente deverá praticar seus atos dentro de um espaço convencionado em contrato. Além disso, o artigo 710, Parágrafo único, dispõe que “o proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos”. Neste caso, estaremos diante de um contrato de representação comercial autônoma, disciplinado pela Lei 4.886/1965. Aqui, diferentemente do contrato de agência regulamentado pelo Código Civil, as partes são necessariamente empresárias. b) Características do contrato de distribuição Os contratos de agência
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