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2 CAP relacoes_obrigacionais_contrat (1)

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CAPÍTULO 2
Modalidades Contratuais
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� As características e particularidades das diferentes espécies contratuais. 
� A aplicação da lei civil e dos princípios gerais do direito contratual às espécies 
estudadas.
� A análise dos contratos estudados, visando garantir o interesse das partes
44
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
45
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
Contextualização
No capítulo anterior foi estudada a teoria geral das obrigações contratuais 
e analisados os elementos genéricos e aplicáveis para todas as espécies de 
contrato, como: princípios, requisitos de validade, formas de extinção, dentre 
outros. Neste capítulo, passaremos ao estudo dos contratos em espécie, 
realçando suas características próprias, suas semelhanças e diferenças. 
O Código Civil brasileiro, em seu Título VI, trata das várias espécies de 
contratos. Nesta parte estão disciplinados os contratos de compra e venda, 
doação, locação, empréstimo, depósito, apenas para mencionar alguns. 
Como abordado no capítulo anterior, são os contratos nominais ou típicos, que 
possuem regras legais próprias, já tratados na letra da lei. Isto não significa, 
porém, que sejam as únicas espécies contratuais existentes, sendo, na verdade, 
um rol exemplificativo e não taxativo: é permitido às partes que se criem novos 
tipos contratuais (contratos inominados ou atípicos), desde que respeitadas as 
condições gerais já estudadas. 
Assim, apesar de parâmetros genéricos a serem respeitados por todas 
as relações contratuais, alguns contratos possuem certas peculiaridades já 
disciplinadas em lei, motivo pelo qual as partes, ainda que desejando, não podem 
alterá-las. Compreender tais detalhes contribui, certamente, para que o pacto seja 
firmado em observância aos princípios da boa-fé, supremacia da ordem pública e 
da função social do contrato. Vejamos, pois, o estudo das diversas modalidades 
contratuais. 
Contrato de Compra e Venda
A compra e venda é a primeira espécie de contrato disciplinada no Código 
Civil, sobre a qual se dispõe dos artigos 481 a 532. Fundamentado na ideia de 
troca de bens, o contrato de compra e venda não possui origem histórica bem 
definida, sendo possível localizá-lo em diversas civilizações antigas. 
Conforme Gonçalves (2014, p. 152): “Denomina-se compra e 
venda o contrato bilateral pelo qual uma das partes (vendedor) se obriga 
a transferir o domínio de uma coisa a outra (comprador), mediante a 
contraprestação de certo preço em dinheiro”. Em outras palavras, o 
contrato de compra e venda tem por objetivo a aquisição de um bem 
mediante o pagamento de um preço, uma contraprestação. 
O contrato de 
compra e venda 
tem por objetivo 
a aquisição de 
um bem mediante 
o pagamento de 
um preço, uma 
contraprestação.
46
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Desta forma, podemos dizer que se trata de um negócio jurídico bilateral, 
visto a necessidade da existência de duas partes para sua realização: quem 
compra e quem vende. Uma vez realizado o pacto, as partes ficam obrigadas a 
cumpri-lo, sendo que a venda em si só será efetuada com a tradição. No caso de 
bens móveis, a tradição é a simples entrega da coisa; no caso de bens imóveis, é 
o registro. 
Além disso, sua principal característica é a presença de um sinalagma, o 
que o torna um contrato bilateral e sinalagmático. 
E o que isso significa?
Conforme Loureiro (2002, p. 138): “Nos contratos bilaterais ou sinalagmáticos, 
ao contrário, os contratantes são simultânea e reciprocamente credor e devedor 
do outro. Em tais contratos são criados direitos e obrigações para ambas as 
partes; cada uma delas fica adstrita a uma prestação”. Assim, o sinalagma pode 
ser compreendido como essa contraprestação realizada para compensar a 
entrega da coisa. 
Suponhamos que Rafaela venda um Samsung Galaxy 7 para Janaína, pelo 
valor de R$ 1.000,00 (mil reais). Da perspectiva de Rafaela, o sinalagma será o 
valor a ser recebido; da perspectiva de Janaína, será o próprio celular. 
Vejamos, agora, os elementos essenciais de um contrato de compra e venda. 
a) Elementos essenciais da compra e venda
 
O Código Civil, em seu artigo 482, assim preceitua: “A compra e 
venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que 
as partes acordarem no objeto e no preço”. A partir deste dispositivo, é 
possível inferir a existência de ao menos três elementos essenciais do 
contrato de compra e venda: consentimento, coisa e preço. 
Conforme Gonçalves (2014, p. 152): “Denomina-se compra e 
venda o contrato bilateral pelo qual uma das partes (vendedor) se 
obriga a transferir o domínio de uma coisa a outra (comprador), 
mediante a contraprestação de certo preço em dinheiro”.
O Código Civil, em 
seu artigo 482, assim 
preceitua: “A compra 
e venda, quando 
pura, considerar-se-á 
obrigatória e perfeita, 
desde que as partes 
acordarem no objeto 
e no preço”.
47
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
Após as negociações preliminares, as partes irão firmar consentimento a 
respeito dos detalhes negociais: o que se compra, por qual preço, mediante qual 
tipo de pagamento, etc. Quanto à forma, importante observar que, caso a compra 
e venda refira-se a bem imóvel, as partes obrigatoriamente devem observar o 
disposto no artigo 108 do Código Civil (BRASIL, 2002): 
Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial 
à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, 
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre 
imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo 
vigente no País.
Quanto à coisa, esta deverá obedecer aos requisitos gerais de validade do 
negócio jurídico, ou seja, ser um bem lícito, possível, determinado ou determinável. 
Além disso, Gagliano e Pamplona Filho (2014) lembram a possibilidade de 
contratos de compra e venda de coisas futuras serem firmados. Assim, ainda que o 
bem não exista no momento de celebração do pacto, ele deverá ser determinável 
em momento futuro quando, só então, o contrato produzirá seus devidos efeitos. 
Neste diapasão, o artigo 484 determina que no caso de amostras, protótipos 
ou modelos, está implícito que o vendedor assegura que o produto final virá com 
as qualidades a ele correspondentes. Caso haja discrepância entre o que foi 
acordado, o que foi entregue e o protótipo, prevalecerá este último, pois foi por ele 
que o comprador definiu sua vontade.
Por fim, o preço é diretamente regulado pelo Código, em seus artigos 
485 a 489. Em regra, ele deverá ser estipulado pelas partes contratantes, em 
observância à equivalência de prestações – quanto de fato vale o produto e 
quanto está se ofertando por ele. É possível, porém, que as partes, gozando da 
autonomia que lhes cabe, acordem que um terceiro irá determinar o valor a ser 
pago, ou ainda, que este valor seja regulado por outros fatores, como a taxa de 
mercado. É legalmente vedada, porém, a hipótese de fixação do preço por apenas 
uma das partes, no intuito de evitar abusos e ilícitos. 
b) Despesas com o contrato de compra e venda
 
Conforme já explicado, a compra e venda só importa em transferência de 
propriedade quando há: a efetiva entrega da coisa, no caso de bens móveis, e 
o registro imobiliário, no caso de bens imóveis. Infere-se, pois, que estes atos 
concernentes à tradição, especialmente o registro, podem vir a ter custos. E de 
que forma estes custos deverão ser suportados?
48
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O artigo 490 é explícito, nesta situação: as despesas relativas 
à escritura e ao registro (bens imóveis) são do comprador; já as da 
tradição (bens móveis) devem ser pagas pelo vendedor. Esta regra, 
porém, poderá ser modificada conforme desejo das partes, atuando de 
forma supletiva caso o contrato seja silente sobre tal ponto.c) Responsabilidade civil pelos riscos da coisa
 Caso o objeto da compra e venda pereça por caso fortuito ou 
força maior, antes da tradição ou registro, quem deverá arcar com este prejuízo?
 
 Se nos lembrarmos que a transferência de propriedade só se efetiva 
com a tradição ou registro, a resposta lógica é a de que tal prejuízo deverá ser 
suportado pelo vendedor, que ainda é dono do bem. É o que diz o artigo 492 do 
Código Civil: “Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do 
vendedor, e os do preço por conta do comprador.” 
 Todavia, imaginemos a seguinte situação. Reginaldo está interessado em 
comprar 200 cabeças de gado de Leopoldina; assim, pede-se a ele que leve 300 
animais a determinado local, para que, a partir deles, sejam escolhidos os que 
serão comprados. Porém, acontece um desmoronamento de terra e 50 cabeças 
perecem. Quem irá arcar com este prejuízo?
 Segundo o artigo 492, §1º, o comprador será o responsável pelas perdas 
e danos, pois no momento do acidente os objetos já estavam à sua disposição 
para efetivação do contrato. Da mesma forma, o §2º do mesmo artigo diz que, 
caso a coisa pereça por demora do comprador em buscar o bem que lhe é devido, 
ele e não o vendedor deverá enfrentar as despesas. 
 Por fim, cumpre mencionar a hipótese do perecimento de coisa entregue 
fora do local onde o negócio deveria ser realizado. Conforme o artigo 493, o lugar 
a se realizar a entrega do bem deve ser aquele no qual a coisa se encontra. 
 Assim, imaginemos que Paulo possui uma coleção de revistas raras, que 
irá vender a Guilherme. As revistas estão localizadas em Porto Alegre-RS, sendo 
que, legalmente, a tradição deveria ocorrer nesta cidade. Mas Guilherme mora em 
Campina Grande-PB, não podendo se locomover até o sul do país para obter as 
revistas. Sua amiga Nina está de férias em Porto Alegre e se prontifica a levá-las 
até ao Nordeste. 
Desta forma, Guilherme diz expressamente para Paulo que as revistas 
deverão ser entregues para Nina. Caso algum acidente as deteriore, os prejuízos 
deverão ser assumidos por Guilherme, que foi quem expressamente permitiu que 
os bens fossem entregues por meio de um portador. 
As despesas 
relativas à escritura 
e ao registro (bens 
imóveis) são do 
comprador; já as 
da tradição (bens 
móveis) devem 
ser pagas pelo 
vendedor.
49
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
Situação diferente ocorreria, porém, caso Paulo se recusasse a enviar as 
revistas por Nina e as despachasse ele mesmo por correio. Qualquer desvio na 
entrega seria sua responsabilidade, já que ele assumiu para si o ônus da entrega 
fora do local determinado sem expressa concordância do comprador. 
Essas situações estão elencadas no artigo 494: “Se a coisa for expedida para 
lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correrão os riscos, uma vez 
entregue a quem haja de transportá-la, salvo se das instruções dele se afastar o 
vendedor”.
d) Questões especiais referentes a compra e venda
O artigo 496 e seu parágrafo único do Código Civil trata da venda entre 
ascendente e descendente:
Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, 
salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante 
expressamente houverem consentido.
Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o 
consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da 
separação obrigatória (BRASIL, 2002).
Assim, a venda entre pais e filhos, avôs e netos etc. é passível de anulação 
caso seja feita sem autorização do cônjuge e dos demais descendentes. Observa-
se que o dispositivo mencionado recai apenas sobre as situações de compra e 
venda, não sendo aplicável às doações e outros tipos contratuais. 
Outras situações peculiares são as elencadas no art. 497, que tratam da 
ilegitimidade subjetiva para compra e venda. São elas: a compra, por parte de 
tutores, curadores, testamenteiros e administradores, de bens confiados à sua 
guarda; a compra, por parte dos servidores públicos, de bens ou direitos da pessoa 
jurídica a que servem, ou que estejam sob sua administração; a compra, por parte 
de juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou 
auxiliares da justiça, de bens ou direitos no lugar onde servirem; e ainda, a compra 
por parte de leiloeiros e seus prepostos de bens que devam vender. Segundo o 
mencionado artigo, a compra e venda feita nesses casos será considerada nula.
O art. 504 do Código Civil, a seu turno, cuida da venda a condômino:
Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender 
a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por 
tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da 
venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte 
vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta 
dias, sob pena de decadência.
50
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que 
tiver benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o 
de quinhão maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte 
vendida os coproprietários, que a quiserem, depositando 
previamente o preço (BRASIL, 2002).
Por este dispositivo, a parte do condômino é indivisível, motivo pelo qual 
cada um dos consortes desta coisa terá direito de preferência. Os consortes, 
porém, deverão adquiri-lo em igualdade às propostas ofertadas por terceiros. 
Como afirmam Gagliano e Pamplona Filho (2014, s.p.):
Assim, se o condômino Bacildes anunciou a venda de 
sua parte pelo preço de R$ 1.000,00, Badja e Higuita — 
também coproprietários — deverão pagar o referido valor, 
não tendo direito a abatimento, preferindo, entretanto, a 
um eventual terceiro, que também demonstre interesse 
na aquisição da coisa.
Por fim, há que se falar da venda entre cônjuges e companheiros. O art. 499 
do Código Civil assim determina: “É lícita a compra e venda entre cônjuges, com 
relação a bens excluídos da comunhão”. Isso porque, no caso de bens que já 
integrem o patrimônio do casal (como nos casos da comunhão universal, ou as 
coisas adquiridas após o casamento na comunhão parcial de bens), o contrato 
seria inútil.
e) Venda ad corpus e venda ad mensuram
O Código Civil, em seu artigo 500, regulamenta hipótese aplicável a bens 
imóveis, a saber:
Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida 
de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não 
corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o 
comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, 
não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato 
ou abatimento proporcional ao preço (BRASIL, 2002).
Esta estipulação nada mais é que a chamada venda ad mensuram, na qual 
o preço será calculado com base nas dimensões do imóvel. Desta maneira, 
caso as dimensões sejam menores que o acordado, o comprador poderá exigir 
a complementação do terreno. Caso esta seja impossível, poderá optar pela 
resolução do contrato ou por abatimento no preço já pago. 
Se, ao invés de falta houver excesso de medidas, o comprador poderá escolher 
entre completar o valor faltante ou devolver o excesso de terreno, desde que o 
vendedor prove que tinha motivos para não saber a exata medida do que vendeu. 
51
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
As compras ad mensuram se contrapõem às compras ad corpus, que são 
aquelas efetuadas com base na coisa em si, independentemente de suas medidas. 
Assim, o § 3º do art. 500 prescreve que “não haverá complemento de área, nem 
devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, 
tendo sido apenas enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não 
conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus”. Sobre o tema, Gonçalves 
(2014, p. 174) aduz:
Não exige a lei, para que uma venda se caracterize como ad 
corpus, que o contrato o diga expressamente. O juiz, para 
decidir sobre sua natureza, se ad mensuram ou ad corpus, deve 
apurar a real intenção das partes,consultando o contrato. Não 
existindo declaração expressa, ou sendo esta dúbia, deverá 
o magistrado valer-se de elementos extraídos da descrição 
do imóvel, de sua finalidade econômica e até de indícios e 
presunções, que lhe “permitam inferir se o objeto da venda foi 
coisa certa ou foi uma área”.
Assim, infere-se que a natureza da venda deverá ser auferida no caso 
concreto. 
f) Promessa de compra e venda
A promessa de compra e venda refere-se a um contrato preliminar 
celebrado entre as partes, cujo objeto é a elaboração de um contrato 
de compra e venda. É regulamentada pelos artigos 1.417 e 1.418 do 
Código Civil, que assim preceituam:
Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que 
se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento 
público ou particular, e registrada no Cartório de Registro 
de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à 
aquisição do imóvel.
Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode 
exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os 
direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva 
de compra e venda, conforme o disposto no instrumento 
preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação 
do imóvel (BRASIL, 2002).
Sua forma pode ser via escritura pública ou particular, sendo obrigatoriamente 
pública nos casos do art. 108 do Código Civil (alienação de direitos reais 
imobiliários que superam 30 salários mínimos).
Neste caso, o direito do comprador que emerge com a celebração do 
contrato é um direito real sobre a coisa, similar à propriedade. Caso o contrato 
de promessa não seja cumprido pelo comprador, ele será constituído em mora e 
perderá a posse do bem. 
A promessa de 
compra e venda 
refere-se a um 
contrato preliminar 
celebrado entre as 
partes, cujo objeto é 
a elaboração de um 
contrato de compra 
e venda.
52
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Uma vantagem nos casos de promessa irretratável de compra e venda 
(ou seja, quando o contrato é firmado sem cláusula de arrependimento) é a 
possibilidade de adjudicação compulsória da coisa. Assim, se o bem estiver 
devidamente registrado, o comprador pode obtê-lo judicialmente. Caso não 
haja registro, a parte prejudicada poderá utilizar-se da execução específica da 
obrigação de fazer, na forma da lei processual.
g) Cláusulas especiais
 Os contratos de compra e venda podem contar, ainda, com cláusulas 
acidentais que afetam a eficácia deste tipo contratual. O Código Civil cuida de 
cinco destes elementos (art. 505 e seguintes), a serem abordados a seguir. 
 
A primeira cláusula a ser estudada é a retrovenda. Trata-se de um pacto 
acessório segundo o qual o vendedor resguarda para si a prerrogativa de resolver 
o negócio, em caso de evento futuro e incerto, restituindo o valor recebido e 
reembolsando o comprador. Seu prazo máximo é o de três anos.
 A segunda refere-se à venda contento e à venda sujeita à prova, que se 
referem a uma condição suspensiva imposta ao contrato de compra e venda, 
submetida ao agrado do comprador ou à adequação da coisa para a finalidade 
desejada pelo adquirente. O comprador tem o direito de testar a coisa antes de 
adquiri-la em definitivo. Até emitir um aceite expresso, o comprador atua como 
comodatário do bem, sendo que o domínio e as eventuais perdas e danos correm 
por risco do vendedor. 
 A terceira cláusula será a de preferência, segundo a qual o vendedor pode 
estipular que, se em momento futuro o comprador quiser vender o bem, deverá 
procurá-lo novamente, pois dele será a preferência. O comprador, quando quiser 
vender o bem, tem o dever de comunicar àquele vendedor original; o vendedor, 
por sua, vez, terá direito de invocar esse direito de preferência ainda que o antigo 
comprador silencie sobre o assunto. 
 A quarta cláusula é a reserva de domínio, que se refere a um contrato de 
compra e venda no qual a efetiva transferência da propriedade está subordinada 
ao pagamento integral do preço. Antes do pagamento, o comprador é um mero 
guardião da coisa, adquirindo a propriedade quando pagar o valor acordado. Os 
riscos da posse, porém, correm por conta do comprador. 
 A quinta cláusula refere-se à venda sobre documentos. Trata-se, pois, 
de uma compra e venda na qual a tradição do bem é substituída pela entrega 
de título representativo (art. 529, CC). Se a documentação estiver em ordem, o 
comprador não pode alegar defeito no bem para evitar pagamento. 
53
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
Troca ou Permuta
A troca, também chamada de permuta, é aquele contrato no qual 
as partes acordam em dar uma coisa por outra, excluindo da relação 
o dinheiro, tendo neste elemento sua principal diferença para com 
o contrato de compra e venda. Ela pode envolver coisas distintas de 
quantidades diversas e, ainda, coisas futuras. 
Trata-se de um contrato bilateral, oneroso e comutativo, bastante 
similar à compra e venda. De fato, o artigo 533 do Código Civil 
estabelece que ao contrato de permuta se aplicam todas as disposições 
a respeito da compra e venda, com duas exceções: 1) Salvo disposição 
Atividade de Estudos:
 1) É certo afirmar:
 I. Nos contratos de compra e venda de bens móveis e imóveis, 
admite-se que a venda ocorra de forma ad mensuram ou ad 
corpus.
 II. São características do contrato de compra e venda: a 
bilateralidade; a consensualidade; a onerosidade; geralmente, a 
comutatividade; e a instantaneidade.
 III. A venda com reserva de domínio é cláusula especial do 
contrato de compra e venda pela qual o comprador assume a 
posse da coisa, mas só se torna seu proprietário após pagar o 
preço integral.
 IV. As cláusulas especiais do contrato de compra e venda 
previstas no Código Civil são cláusulas obrigatórias por rigor 
legal, sendo opcionais somente naqueles negócios em que a 
própria lei criar a exceção.
 Analisando as proposições, pode-se afirmar: 
 a) Somente as proposições I e III estão corretas. 
 b) Somente as proposições II e IV estão corretas. 
 c) Somente as proposições I e IV estão corretas. 
 d) Somente as proposições II e III estão corretas.
A troca, também 
chamada de 
permuta, é aquele 
contrato no qual 
as partes acordam 
em dar uma coisa 
por outra, excluindo 
da relação o 
dinheiro, tendo 
neste elemento sua 
principal diferença 
para com o contrato 
de compra e venda.
54
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o 
instrumento da troca; 2) É anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes 
e descendentes, sem consentimento expresso dos outros descendentes e do 
cônjuge do alienante.
Contrato Estimatório 
 O contrato estimatório é aquele no qual um indivíduo (consignante) 
entrega bens móveis a outro (consignatário) para que os venda, dentro 
de um determinado prazo. Caso o consignatário obtenha sucesso em 
sua venda, retirará desta uma margem de lucro. É o caso das galerias 
de arte que se comprometem a expor e vender obras de determinados 
artistas, auferindo uma porcentagem de lucro.
 Sua natureza jurídica assemelha-se a uma espécie de mandato 
para vender com obrigação alternativa, já que a venda em si não é 
obrigatória. O consignatário pode obter o bem para si, pagando o valor 
devido, ou devolvê-lo ao consignante.
O artigo 535 do Código Civil estabelece que os riscos decorrentes de 
possíveis deteriorações do bem deverão ser suportados pelo consignatário, em 
posse do bem. Já o artigo 537 impede que o consignante disponha da coisa 
enquanto o contrato estiver em vigência, findo o prazo estabelecido, haverá a 
restituição do bem tanto pela coisa em si quanto por valor equivalente, a critério 
do consignatário. 
Doação
O contrato de doação é aquele no qual um indivíduo, por vontade 
própria, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra 
pessoa (art. 538, CC). Trata-se de um contrato, em regra, gratuito, 
unilateral e solene. 
Sua gratuidadeestá diretamente relacionada à liberalidade do 
doador, que não exige qualquer contraprestação do beneficiário para 
que o contrato se firme. É o que chamamos de doação pura. Caso o doador 
estabeleça qualquer tipo de encargo, porém, a doação perde sua característica 
de gratuidade e se torna onerosa. Quanto à unilateralidade, o contrato de doação 
O contrato 
estimatório é aquele 
no qual um indivíduo 
(consignante) 
entrega bens 
móveis a outro 
(consignatário) 
para que os venda, 
dentro de um 
determinado prazo. 
Caso o consignatário 
obtenha sucesso em 
sua venda, retirará 
desta uma margem 
de lucro.
O contrato de 
doação é aquele no 
qual um indivíduo, 
por vontade própria, 
transfere do seu 
patrimônio bens ou 
vantagens para o de 
outra pessoa (art. 
538, CC).
55
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
cria obrigação para somente uma das partes. Porém, caso torne-se oneroso, será 
também bilateral. 
Em geral, trata-se de um contrato solene porque a lei impõe a forma escrita 
(art. 541, CC), salvo a de bens móveis de pequeno valor, que pode ser verbal (art. 
541, Parágrafo Único, CC). 
Importante mencionar desde já que o doador não se sujeita às consequências 
da evicção ou do vício redibitório, já abordados em capítulo anterior, pois não seria 
justo que surgissem obrigações para quem praticou uma liberalidade. Porém, caso 
a doação seja onerosa, a responsabilidade irá subsistir nesses casos (art. 552, 
CC). Além disso, nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, 
o doador ficará sujeito à evicção, salvo convenção em contrário (art. 552, CC).
O contrato de doação possui dois elementos principais: subjetivo e objetivo. 
Os elementos subjetivos são o acordo de vontades e a liberalidade, ou seja, 
a vontade de doar sem receber nada em troca. Já o elemento objetivo refere-
se à diminuição patrimonial do doador e consequente aumento patrimonial do 
donatário.
a) Requisitos do contrato de doação
Para ser firmado, o contrato de doação precisa seguir requisitos de ordem 
subjetiva e objetiva. Vejamos cada um deles. 
O primeiro dos requisitos subjetivos refere-se à capacidade do sujeito, tanto 
ativa quanto passiva. No primeiro caso, o doador deve possuir a capacidade 
de fato, ou seja, ser maior de 18 anos ou emancipado, além de capacidade 
específica para alienar os próprios bens. Já no segundo caso, não se exige 
nenhum tipo específico de capacidade, sendo que os civilmente incapazes podem 
receber doação, desde que o seu representante legal não se oponha, no caso dos 
nascituros, desde que seus pais aceitem a doação. 
Neste sentido, cumpre mencionar desde já algumas hipóteses especiais de 
doação, como a doação dos pais para os filhos. Nesse caso, não é necessária a 
autorização dos demais filhos, mas considera-se tal doação como adiantamento 
de legítima (art. 544, CC).
Outra hipótese é a doação de bens imóveis de pessoa casada. Neste caso, 
para doar bens imóveis, tanto marido quanto mulher necessitam da autorização 
um do outro, a qual chamamos outorga uxória. Caso essa autorização não esteja 
presente no negócio, teremos uma invalidade e o ato poderá ser anulado até dois 
anos após o término da sociedade conjugal.
56
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O cônjuge adúltero, por sua vez, é proibido de realizar doações a seu 
amante (art. 550, CC); o negócio poderá ser anulado pelo outro cônjuge ou seus 
herdeiros necessários (descendentes e ascendentes do doador) até dois anos 
depois de dissolvida a sociedade conjugal. Ainda sobre cônjuges, as doações de 
um cônjuge ao outro não são proibidas, desde que não visem a burlar o regime de 
separação de bens.
Por fim, importa especificar que o mandatário para doar coisa do mandante 
deve ter poderes especiais, constantes da procuração com o nome do donatário. 
Desta mesma forma, os administradores em geral não podem doar coisas sob 
sua administração. Tal é o caso dos representantes legais dos incapazes.
Passamos agora aos requisitos objetivos, relativos ao objeto da doação.
Como em todo negócio jurídico, o objeto de doação poderá ser todo bem 
livre para o comércio: lícito, possível, determinado ou determinável. Além disso, o 
doador deve doar coisa própria, devendo possuir o poder de disposição da coisa.
As doações a título universal, ou seja, a doação total de um patrimônio é 
proibida, assim como as doações acima da legítima dos herdeiros necessários. 
Essas últimas são as doações que ultrapassem 50% do patrimônio do doador; 
desta forma, caso uma pessoa tenha herdeiros necessários (descendentes, 
ascendentes e cônjuge), não pode doar mais do que 50% de seus bens, já que os 
outros 50% são devidos a seus sucessores. 
Por fim, cumpre mencionar que a doação de bens futuros é válida, ou seja, 
uma pessoa pode doar, por exemplo, os filhotes de sua cadela que ainda estão 
por nascer. 
Veremos agora as formas de aceitação da doação, elemento indispensável 
para aperfeiçoamento do negócio.
b) Aceitação
Para que o contrato de doação se efetive, é necessário que o 
donatário aceite o bem a ser entregue pelo doador. Assim, é possível 
mencionar quatro formas de aceitação: expressa, tácita, presumida e 
ficta. 
A aceitação expressa pode ser manifestada de forma verbal, 
escrita ou mímica, por gestos. Em geral, é possível encontrá-la no próprio 
instrumento contratual, sendo permitido, ainda, que seja emitida após a doação 
em si. 
Para que o contrato 
de doação se efetive, 
é necessário que o 
donatário aceite o 
bem a ser entregue 
pelo doador.
57
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
A aceitação tácita é aquela manifestada a partir do comportamento do 
donatário, que embora não diga expressamente que aceita o bem doado, 
demonstra por meio de atos a sua concordância. Por exemplo, embora Valcir 
não declare aceitar a doação de um veículo feita por Silvana, passa a usá-lo e 
providencia a regularização da documentação, em seu nome.
A aceitação será presumida quando o doador fixa o prazo ao donatário, para 
declarar se aceita, ou não, a liberalidade. Passado o prazo sem manifestação do 
donatário, sendo a doação pura e simples, presume-se aceita; sendo modal, ou 
seja, com encargo, presume-se recusada (art. 539, CC). 
Outra hipótese de aceitação presumida ocorre quando a doação é feita 
em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, e o 
casamento se realiza. Desta forma, o casamento gera presunção de aceitação 
(art. 546, CC). 
Por fim, trataremos da aceitação ficta, que ocorre nas hipóteses de doação 
pura a um sujeito incapaz. Trata-se de uma ficção jurídica, elencada no artigo 
543 do Código Civil, segundo o qual os absolutamente incapazes podem aceitar 
doações gratuitas independentemente de seus representantes legais. Todavia, 
caso o representante entenda que a doação é prejudicial ao incapaz, ele pode 
recusá-la. 
Situação interessante refere-se à morte de uma das partes antes de se 
efetivar a doação. O que acontece?
Se antes da aceitação quem morre é o doador, o contrato prevalece, sujeito 
ao aceite do donatário. Se quem vem a falecer, entretanto, é o donatário, o 
contrato é extinto. 
Veremos agora a classificação dos diversos tipos de doação.
c) Classificação dos contratos de doação
Existem diversos tipos de doação a serem realizados. A mais comum 
é a doação pura, efetuada como simples ato de liberalidade em que nada 
é exigido do donatário; ele recebe o bem doado sem qualquer condição 
ou encargo.
Em contrapartida, é possível que para a realização da doação, o 
doador estabeleça algum tipo de encargo. Assim, temos a doação modal 
ou com encargo, que sujeita o donatário à realização de certa tarefa, um 
dever jurídico. Em geral, o doador estipula prazo para a realização do 
É possível que para 
a realização da 
doação, o doador 
estabeleça algum 
tipo de encargo. 
Assim, temos a 
doação modal ou 
com encargo, que 
sujeita o donatário à 
realização de certa 
tarefa, um dever 
jurídico.58
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
encargo; caso o prazo não seja observado, será necessário constituí-lo em mora, 
antes de exigir o cumprimento. Neste caso, o doador fixará um prazo razoável para 
que o donatário cumpra o encargo. Se ainda assim o encargo estabelecido não for 
cumprido, o doador PODE exigi-lo, sob pena de revogar a doação. 
A doação também pode ser condicional, ou seja, subordinada a evento futuro 
e incerto; manual, que é a doação de bens móveis de pequeno valor, disciplinada 
pelo art. 541 do Código Civil; remuneratória, quando visar a remunerar, a título 
de agradecimento, serviços prestados (como no caso da gorjeta); meritória, 
nos casos em que o doador queira contemplar o merecimento do donatário (por 
exemplo: quando o pai presenteia o filho por ter passado em um concurso público); 
e indenizatória, quando o objetivo é compensar alguém pelos prejuízos causados.
Por fim, há que se falar ainda na doação com cláusula de reversão. O artigo 
547 do Código Civil permite que o doador estipule o retorno, ao seu patrimônio, dos 
bens doados, se sobreviver ao donatário. Desta forma, se José doa um imóvel a 
Túlio com cláusula de reversão, caso Túlio morra, o imóvel retorna a José. 
Veremos, agora, as hipóteses de revogação da doação.
d) Revogação da doação
Existem casos nos quais a legislação permite que doação seja revogada.
O mais aparente deles é o descumprimento do encargo, nas doações modais, 
que poderá ser exigido pelo doador. Além disso, entretanto, há o que chamamos de 
ingratidão do donatário. 
 Nesta hipótese, o Código Civil reputa ingrato o donatário que atente contra 
a vida do doador ou cometa crime de homicídio doloso contra ele; o donatário 
que ofenda fisicamente o doador; aquele donatário que injurie, calunie ou difame 
o doador; e, finalmente, o donatário que negue alimentos ao doador, desde que 
tivesse o dever e as condições materiais de ministrá-los, e desde que fosse solicitado 
a fazê-lo, pois não é obrigado a adivinhar que o doador necessita de alimentos. 
Se, nestes casos arrolados acima, o ofendido for irmão, cônjuge, ascendente ou 
descendente do doador, a doação também poderá ser revogada.
Nos casos de homicídio tentado, ofensas físicas e atentado contra a honra, a 
doação pode ser revogada, independentemente de condenação criminal. Porém, se 
o donatário for julgado inocente no juízo criminal, a doação não poderá ser revogada. 
O direito de revogar não se transmite aos herdeiros do doador, a não ser no 
caso de homicídio doloso contra a vida do doador. Nesta hipótese, seus herdeiros 
59
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
poderão pleitear a revogação, a não ser que o doador tenha perdoado o donatário 
antes de morrer. É evidente que se o doador morrer, depois de intentar a ação, seus 
herdeiros poderão continuá-la.
Caso o donatário já tenha morrido, os bens doados são transmitidos a seus 
herdeiros e, portanto, a doação não pode mais ser revogada. Além disso, não são 
revogáveis as doações com encargo, desde que este já tenha sido cumprido.
Locação
Neste tópico trataremos da locação geral de bens, uma vez que 
a locação de imóveis é matéria específica da Lei n. 8.245/91 (Lei do 
Inquilinato).
 
Nas palavras de Gonçalves (2014, p. 215), “locação de coisas é 
o contrato pelo qual uma das partes se obriga a conceder à outra o 
uso e gozo de uma coisa não fungível, temporariamente e mediante 
remuneração”. Desta forma, infere-se que a locação é um contrato no 
qual um indivíduo empresta um bem a outro, mediante pagamento; uma 
característica importante é a de que o bem deve retornar ao seu dono 
após o fim do contrato. 
GAGLIANO, PABLO STOLZE. O Contrato de Doação: Análise 
Crítica do atual Sistema Jurídico e os seus Efeitos no Direito de 
Família e das Sucessões. São Paulo: Saraiva, 2014.
Nas palavras de Gonçalves (2014, p. 215), “locação de coisas é 
o contrato pelo qual uma das partes se obriga a conceder à outra o 
uso e gozo de uma coisa não fungível, temporariamente e mediante 
remuneração”.
A locação é um 
contrato no qual 
um indivíduo 
empresta um bem 
a outro, mediante 
pagamento; uma 
característica 
importante é a de 
que o bem deve 
retornar ao seu 
dono após o fim do 
contrato.
60
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O contrato de locação é oneroso, já que existe prestação e contraprestação 
a ambas as partes; comutativo, já que as prestações são recíprocas e certas; não 
solene, pois sua forma é livre; e de trato sucessivo, pois se prolonga no tempo. 
Seus elementos principais são: objeto, preço e consentimento. 
O objeto pode ser um bem móvel ou imóvel. No primeiro caso, o bem deve 
ser infungível; bens móveis fungíveis só poderão ser locados por prazo certo e 
para fins de ornamentação. Além disso, os bens móveis consumíveis também não 
podem ser objeto de locação. 
O bem poderá ser locado por inteiro ou por partes. No caso de um prédio 
comercial, por exemplo, é possível alugar um andar inteiro ou apenas uma sala. 
Se não houver especificação no instrumento, a locação abrange tanto o objeto 
principal quanto os bens acessórios da coisa (art. 566, I, CC).
Questão controvertida é a da possibilidade de se locar coisa alheia. Sobre o 
tema, diz Gonçalves (2014, p. 217):
Embora controvertida a possibilidade de se locar coisa alheia, 
Carvalho de Mendonça afirma não ser o fato estranho ao 
direito positivo, podendo o credor pignoratício alugar a coisa 
do devedor. Cunha Gonçalves, por sua vez, depois de lembrar 
que a doutrina mais autorizada é no sentido de que o contrato 
de locação não é translativo de propriedade, mas sim produtor 
de obrigações, conclui que “a locação de coisa alheia será 
válida enquanto durar a posse do locador; e somente ficará 
sem efeito quando a coisa locada for reivindicada pelo seu 
verdadeiro proprietário, pois ficando evicto o locador, evicto 
ficará também o locatário. Todavia, o proprietário evictor tem a 
faculdade de manter o locatário mediante novo arrendamento”. 
Pode ainda o proprietário ratificar o contrato e com esse ato 
provocar o convalescimento da locação.
Desta forma, entende-se que a locação de coisa alheia é possível apenas 
enquanto o locador tem a posse do bem em questão. 
O segundo elemento dos contratos de locação é o preço, também chamado 
de aluguel ou remuneração. Ele deve ser fixado pelas partes, determinado, 
determinável ou, ainda, variável conforme índices legais. Deve, ainda, ser sério e 
real, não convencionado em valor ínfimo ou irrisório. 
 
Em geral, o pagamento é feito em dinheiro, de forma sucessiva, podendo 
também ser pago em uma única parcela por todo o período de locação, como nos 
contratos de temporada. 
61
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
Quanto ao consentimento, terceiro elemento constituinte do contrato, 
este poderá ser expresso ou tácito e o locador não necessariamente precisa 
ser proprietário do bem, como no caso dos pais que irão locar bem dos filhos 
incapazes. Trata-se da figura do proprietário aparente que, sendo possuidor de 
boa-fé, usufruindo da coisa, pode locá-la. 
O locatário deve ser estranho ao bem, já que o locador não pode ser locatário 
de si mesmo, exceto quando o uso da coisa, por força de contrato ou de lei, 
pertencer a terceiro.
Quanto ao prazo, as partes são livres para determiná-lo, sendo que, conforme 
o art. 571 do Código Civil, o locador não pode reaver a coisa antes do término 
estipulado e nem o locatário devolvê-la antes do combinado, sob pena de perdas, 
danos e eventuais multas.
Passemos, agora, às obrigações do locador.
a) Obrigações do locador
O artigo 566 do Código Civil estabelece obrigações ao locador: 
I - a entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, 
em estado de servir ao uso a que se destina, e a mantê-la 
nesse estado, pelo tempo do contrato, salvo cláusula expressa 
em contrário; II - a garantir-lhe, durante o tempo do contrato, o 
uso pacífico da coisa.(BRASIL, 2002, s.p.).
Assim, o locador deve entregar o bem com os acessórios e pertenças, a não ser 
que estejam expressamente excluídos. As pertenças são bens móveis “afetados por 
forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outro, como os tratores destinados 
a uma melhor exploração de propriedade agrícola e os objetos de decoração de 
uma residência, por exemplo” (GONÇAVES, 2014, p. 219). Se não houver qualquer 
reclamação por parte do locatário, presume-se que o bem foi recebido nos termos 
acordados. A não entrega por parte do locador gera inadimplência, podendo o 
locatário exigir a resolução do contrato mais perdas e danos. 
Além disso, o locador deve zelar para que o bem seja mantido em condições 
de uso, exceto convenção em contrário. Os pequenos estragos, porém, que 
independem do tempo ou do uso, são de responsabilidade do locatário.
 
Por fim, nos termos do inciso II do art. 566, o locador não pode praticar qualquer 
ato que perturbe o uso e gozo do bem, devendo também proteger o locatário de 
embaraços e turbações de terceiros (art. 568, CC). O locador também está sujeito 
às consequências dos vícios redibitórios, por força do art. 568 do Código Civil.
62
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
b) Obrigações do Locatário
 As obrigações do locatário estão disciplinadas no artigo 569 do Código 
Civil, que assim diz:
Art. 569: O locatário é obrigado: I - a servir-se da coisa alugada 
para os usos convencionados ou presumidos, conforme a 
natureza dela e as circunstâncias, bem como tratá-la com o 
mesmo cuidado como se sua fosse; II - a pagar pontualmente 
o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo 
o costume do lugar; III - a levar ao conhecimento do locador as 
turbações de terceiros, que se pretendam fundadas em direito; IV 
- a restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, 
salvas as deteriorações naturais ao uso regular (BRASIL, 2002).
Desta forma, o locatário é obrigado a usar o bem locado para os 
usos convencionados e a tratá-lo como se fosse seu, com cuidado. Por 
exemplo, Alexandre loca o imóvel de Sidney para moradia, não poderá 
instalar nele o seu comércio. O uso indevido do bem autoriza o locador 
a rescindir o contrato e a exigir perdas e danos (art. 570, CC). 
O locatário deve pagar o aluguel nos prazos ajustados ou conforme os 
costumes do lugar, caso não haja nenhum ajuste. Se o locatário se recusa ao 
pagamento, estará em mora. Pode ser estipulado, ainda, que o locatário, além de 
pagar o aluguel, responda por impostos e taxas que incidam sobre o imóvel locado. 
É dever do locatário, ainda, levar ao conhecimento do locador as turbações 
de terceiros, fundadas em direito (inciso III). Como já mencionado, o locador tem a 
obrigação de resguardar o locatário dos embaraços e turbações de terceiros. Para 
que possa cumprir tal obrigação, porém, é necessário que ele tenha ciência do 
fato, a ser dada pelo locatário. 
Por fim, cabe ao locatário restituir a coisa no estado em que a recebeu, salvo 
as deteriorações naturais. É possível que ele exija relação por escrito do estado 
do imóvel, quando realizada a entrega, de forma a se resguardar. Caso o locatário 
tenha danificado a coisa, deverá indenizar o locador.
c) Disposições complementares
Conforme o art. 571 do Código Civil, o “locador [pode] reaver a coisa alugada 
antes do vencimento do prazo”, desde que pague ao locatário as “perdas e danos 
resultantes”. É possível, ainda, que a coisa seja devolvida ao locador desde que o 
locatário pague a multa acordada no contrato. Essa norma pode ser alterada pela 
vontade das partes, e não se aplica à locação de prédios urbanos, os quais têm 
regulamentação própria. 
O locatário é 
obrigado a usar 
o bem locado 
para os usos 
convencionados 
e a tratá-lo como 
se fosse seu, com 
cuidado.
63
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
O parágrafo único do mencionado artigo dispõe que o locatário “gozará do 
direito de retenção, enquanto não for ressarcido”. Trata-se de uma proteção ao 
locatário, tornando mais fácil o pagamento da indenização que lhe deve o locador 
quando pedir de volta o bem antes do prazo de locação acordado.
O contrato de locação “por tempo determinado cessa de pleno direito findo o 
prazo estipulado” (art. 573, CC). Assim, se o locatário não devolve o bem, passa a 
ter posse injusta e de má-fé. Porém, se não tiver oposição do locador, presume-se 
que o contrato foi prorrogado pelo mesmo valor de aluguel (art. 574, CC).
Caso a locação não tenha prazo determinado, é necessário que o locatário 
seja notificado pelo locador de sua vontade em reaver o bem. Se o locatário, já 
notificado, “não restituir a coisa, pagará, enquanto a tiver em seu poder, o aluguel 
que o locador arbitrar, e responderá pelo dano que ela venha a sofrer, embora 
proveniente de caso fortuito” (art. 575, CC). É uma forma que o locador possui de 
obrigar o locatário a cumprir com sua obrigação. 
Empréstimo
No empréstimo, uma das partes entrega um bem a outra, com 
objetivo de reavê-lo ao fim do contrato. Transmite-se temporariamente a 
posse da coisa, não lhe sendo cedida a propriedade. 
No Código Civil são elencadas duas espécies principais de empréstimo: o 
comodato e o mútuo; a semelhança entre eles é a entrega do bem, mas os dois 
institutos possuem diferenças profundas. Vejamos cada um deles. 
a) Comodato
Conforme art. 579 do Código Civil, “comodato é o empréstimo gratuito de 
coisas não fungíveis”, concretizado com a tradição do objeto. Conhecido como 
empréstimo de uso, o bem será utilizado por uma das partes, voltando a seu dono 
original no fim do contrato. Trata-se de contrato gratuito, a respeito de objeto 
infungível que se aperfeiçoa com a simples entrega do bem. É ainda unilateral, 
personalíssimo, temporário e não solene, pois não exige forma específica.
No empréstimo, 
uma das partes 
entrega um bem a 
outra, com objetivo 
de reavê-lo ao fim 
do contrato.
64
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Uma vez firmado o comodato, o comodatário terá direito de uso e gozo 
sobre a coisa, com as seguintes obrigações: a) Conservar o bem, não podendo 
abandoná-lo ainda que haja caso fortuito ou força maior (art. 582, 583 CC); b) 
Usar o bem de maneira adequada (art. 582, CC); e c) Restituir a coisa no prazo 
convencionado, podendo ser constituído em mora no caso de atraso na entrega, 
devendo, ainda, pagar aluguel pelo tempo extra (art. 582, CC). 
Quanto ao comodante, sua obrigação principal é a entrega do bem acordado. 
Caso surjam despesas extraordinárias e urgentes para conservação da coisa 
em posse do comodatário, o comodante deverá lhe reembolsar. Se o bem 
apresentava vício oculto conhecido por ele, deverá indenizar o comodatário por 
eventuais prejuízos que tenha sofrido pela falta de aviso. Seus direitos são:
a) exigir do comodatário que conserve a coisa como se 
fora sua, usando-a apenas de acordo com sua destinação, 
finalidade e natureza; b) exigir que o comodatário efetue os 
gastos ordinários para conservação, uso e gozo da coisa 
emprestada, restituindo-a findo o prazo convencionado ou 
presumido; c) arbitrar e cobrar aluguel, como penalidade e para 
satisfação de perdas e danos, em caso de atraso na restituição 
(GONÇALVES, 2014, p. 241).
O contrato de comodato se extingue das seguintes formas: a) Pelo fim 
do prazo acordado; b) Por resolução, caso o comodatário descumpra suas 
obrigações; c) Por sentença judicial caso o comodante comprove necessidade 
urgente e imprevisível (art. 581); d) Caso o comodato seja personalíssimo, pela 
morte do comodatário; e) Por resilição unilateral por qualquer das partes; f) Pelo 
perecimento do bem, com a devida indenização a ser paga para o comodante.
b) Mútuo
O mútuo, por sua vez, é definido pelo art. 586 do Código Civil como o 
“empréstimo de coisas fungíveis”, no qual o mutuário deve “restituir ao mutuante 
o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade”. Alémdisso, o mutuário se torna proprietário do objeto, sendo responsável por todos os 
riscos decorrentes desde a tradição (art. 587, CC). 
Conforme art. 579 do Código Civil, comodato “é o empréstimo 
gratuito de coisas não fungíveis, concretizado com a tradição do 
objeto”.
65
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
É também conhecido como contrato de empréstimo para consumo, já que 
o mutuário pode fazer o que bem entender com a coisa emprestada, devendo 
restituir outra de mesma espécie. A fungibilidade da coisa emprestada é o principal 
requisito para o contrato de mútuo (ver art. 86, CC). 
Trata-se de um contrato real, que se aperfeiçoa com a entrega da coisa; 
em regra, gratuito, podendo ser oneroso no caso do empréstimo de dinheiro; 
unilateral, temporário e não solene. 
Cumpre destacar que o empréstimo de dinheiro é também conhecido como 
mútuo feneratício, sendo dele cobrados juros (art. 591, CC). Ademais, o Código 
Civil, em seu artigo 315, adotou o chamado princípio do nominalismo, segundo o 
qual o valor da moeda a ser considerado é nominal. Não importam, portanto, as 
alterações inflacionárias e o poder de compra existente no ato do empréstimo e 
no ato do pagamento; o valor a ser pago será sempre o mesmo, ainda que haja 
desvalorização monetária. 
Para realizar contrato de mútuo, o mutuante deve ser proprietário da coisa, 
além de deter capacidade civil plena. O Código Civil em seu art. 588 estabelece que 
o mútuo feito a menor sem autorização de seu representante não pode ser reavido 
do mutuário ou de seus fiadores. Essa regra não será aplicável, entretanto:
a) se o representante do menor “ratificar” o empréstimo; b) 
se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a 
contrair empréstimo “para os seus alimentos habituais”; c) “se 
o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho”, caso em que 
a execução do credor “não lhes poderá ultrapassar as forças”; 
d) se o empréstimo “reverteu em benefício do menor”; e e) 
se este “obteve o empréstimo maliciosamente” (art. 589, CC; 
GONÇALVES, 2014, p. 244).
Quanto às obrigações das partes, o mutuante deve entregar o bem conforme 
acordado, sendo “sua a responsabilidade pelos prejuízos decorrentes de vícios ou 
defeitos da coisa, de que tinha conhecimento, e a respeito dos quais não informou 
O mútuo é definido pelo art. 586 do Código Civil como o 
“empréstimo de coisas fungíveis”, no qual o mutuário deve “restituir 
ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, 
qualidade e quantidade”.
66
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
o mutuário, malgrado se trate de hipótese rara” (GONÇALVES, 2014, p. 248). Terá 
o direito, ainda, de exigir garantia de restituição caso a situação econômica do 
mutuário se altere de forma notória antes do fim do contrato (art. 590, CC). 
O mutuário, por sua vez, tem apenas uma obrigação: “restituir, no prazo 
convencionado, a mesma quantidade e qualidade de coisas recebidas e, na sua 
falta, pagar o seu valor, tendo em vista o tempo e o lugar em que, segundo a 
estipulação, se devia fazer a restituição, quando o contrato não tiver dinheiro por 
objeto” (GONÇALVES, 2014, p. 248).
 Por fim, podemos estabelecer as seguintes diferenças entre o contrato de 
mútuo e o de comodato:
Comodato Mútuo
Empréstimo de uso Empréstimo de consumo
Comodatário deve restituir a própria coisa
Mutuário deve devolver coisa de mesma 
espécie
Não há transferência de domínio Há transferência de domínio
Não permite alienação da coisa Permite alienação da coisa emprestada
Quadro 2 – Diferenças entre o contrato mútuo e o de comodato
Fonte: A autora.
Depósito
O contrato de depósito é aquele no qual uma das partes transfere 
a outra a guarda de um bem móvel, para conservação, que será 
devolvido posteriormente. O depositário não poderá utilizar este bem, 
exceto se expressamente autorizado. 
LEITE, Júlio de Assis Araújo Bezerra. O Direito do Idoso e o Mútuo 
Bancário: Aplicação do Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto 
do Idoso. 2007. Dissertação (Mestrado em Direito Constitucional). 
Universidade de Fortaleza, Fortaleza Biblioteca Depositária: UNIFOR. 
Disponível em: <https://uolp.unifor.br/oul/conteudosite/F1066343189/
Dissertacao.pdf>. Acesso em 29, jan. 2018.
O contrato de 
depósito é aquele 
no qual uma das 
partes transfere a 
outra a guarda de 
um bem móvel, 
para conservação, 
que será devolvido 
posteriormente.
67
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
Poderá ser unilateral ou bilateral, caso haja estipulação de pagamento; 
gratuito ou oneroso; real, pois se aperfeiçoa com a entrega do bem; solene, pois a 
lei exige que seja celebrado de forma escrita (art. 646, CC); e temporário. 
Para celebrar contrato de depósito, as partes devem ser civilmente capazes; 
o bem, entretanto, só poderá ser móvel, ainda que consumível. Deve ser restituído 
da mesma forma em que foi entregue (selado, lacrado, etc.; art. 630, CC), exceto 
em ocasiões excepcionais de perigo e urgência. 
Vejamos, agora, as espécies de depósito. 
a) Tipos de depósito
No ordenamento jurídico brasileiro podemos encontrar três espécies de 
depósito: 1) Depósito contratual; 2) Depósito judicial e; 3) Depósito necessário. 
O depósito contratual é aquele elencado no art. 627 do Código Civil, sendo a 
base de nossos estudos neste tópico.
O depósito judicial, por sua vez, deriva de uma sentença, como nas ações de 
consignação em pagamento ou de sequestro.
Quanto ao depósito necessário, ele se ramifica em legal e miserável e está 
elencado no art. 647 do Código Civil: “Art. 647. É depósito necessário: I — o que 
se faz em desempenho de obrigação legal; II — o que se efetua por ocasião 
de alguma calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque” 
(BRASIL, 2002).
O inciso primeiro refere-se ao depósito oriundo de uma exigência legal, por 
exemplo, “o que ocorre quando o sujeito encontra coisa alheia perdida, impondo-
se-lhe, a teor dos arts. 1.233 a 1.237 do Código Civil, que se encaminhe a uma 
delegacia de polícia, para efetuar o depósito, sob pena de incorrer no crime de 
apropriação indébita de coisa achada” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014, 
sp). Já o segundo trata do depósito miserável, oriundo de uma situação de 
desespero, como naufrágio ou saque. 
Cumpre destacar que o depósito de bagagens de hóspedes é equiparado ao 
depósito necessário legal (art. 649, CC), atingindo hotéis, albergues, pensões etc. 
b) Direitos e obrigações das partes
Nos casos de depósito gratuito, as obrigações são exclusivas do depositário, 
que deverá guardar, conservar e devolver o bem que lhe foi confiado (art. 629, CC). 
Se oneroso, o depositante terá como obrigação o pagamento por sua atividade. 
68
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Caso a coisa produza frutos, estes deverão ser entregues junto ao bem 
principal, assim como eventuais benfeitorias. A restituição deve ser feita no lugar 
em que o bem foi guardado, às custas do depositante (art. 631, CC). Se o bem 
depositado for de interesse de terceiro, este deve autorizar a restituição (art. 632, 
CC). Caso haja mais de um depositante e a coisa seja divisível, o depositário 
deverá restituir a cada um a parte que lhe cabe, exceto se forem solidários (art. 
639, CC):
Um exemplo vale por mil palavras: suponhamos que Jassa 
e Odessa sejam proprietários de uma tonelada de soja, 
depositada em poder de Oliveiros. Neste caso, tratando-se de 
coisa divisível, deverá o depositário entregar a cada um dos 
depositantes a sua respectiva parte (500 kg, se o contrato não 
dispuser de forma diferente). Todavia, se houver entre eles 
solidariedade, poderá o depositário entregar todo o bem para 
apenas um dos depositantes, que o reclamar (art. 275, CC-02; 
art. 904, CC-16; GAGLIANO, PAMPLONA FILHO, 2014, s.p).
Se o depositário sub-rogar o bem para guarda de terceiro, ainda que 
autorizado, responderão juntos por eventuais danos (art. 640, CC); e ainda, se o 
depositário for acometido dealguma incapacidade, seu curador deverá restituir a 
coisa depositada (art. 641).
Além disso, o depositário não pode se negar a restituir a coisa, exceto nos 
seguintes casos: a) Direito de retenção; b) Embargo judicial do objeto depositado; 
c) Execução pendente sob a coisa depositada; e d) Motivo justo sobre a ilicitude 
do objeto (art. 633 e 634, CC). É possível, ainda, que o depositário faça depósito 
judicial quando tiver motivo justo para devolver a coisa e o depositante não queira 
recebê-la (art. 635, CC). 
Sobre o direito de retenção, o artigo 644 do Código Civil estabelece que será 
legítimo quando: a) O depositante não tiver pagado remuneração previamente 
acordada; b) O depositante não pagar o valor das despesas que o depositário 
tenha realizado em função da coisa; e c) O depositário não tenha recebido 
indenização devida oriunda de eventual prejuízo do depósito.
Fora esses casos, a negação de restituição da coisa torna o 
depositário infiel, aparentemente passível de prisão nos termos do artigo 
652 do Código Civil. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal afastou 
a hipótese de prisão na Súmula Vinculante 25, que assim dispõe: “É 
ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade 
do depósito”. Esta súmula foi emitida em razão da celebração do Pacto 
de San José da Costa Rica, incorporado ao direito positivo brasileiro, 
que restringiu as hipóteses de prisão por dívida a apenas um caso: 
dívida oriunda de pensão alimentar. Assim, o depositário que se negar 
a restituir o bem não pode ser preso. 
O Supremo Tribunal 
Federal afastou 
a hipótese de 
prisão na Súmula 
Vinculante 25, que 
assim dispõe: “É 
ilícita a prisão civil 
de depositário infiel, 
qualquer que seja 
a modalidade do 
depósito”.
69
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
c) Extinção do contrato de depósito
O depósito pode ser extinto das seguintes formas: a) Advento do termo 
acordado; b) Por solicitação do depositante; c) Por devolução justificada do 
depositário; d) Perecimento do objeto; e) Morte do depositário, se o contrato for 
personalíssimo. 
Mandato
Nos termos do art. 653 do Código Civil, o mandato é um contrato 
no qual uma das partes confere a outra poderes para praticar atos 
jurídicos em seu nome; baseia-se, portanto, na ideia de representação. 
Grande parte dos atos jurídicos pode ser efetuada por meio de representante 
escolhido, ainda que não tenham cunho patrimonial, como bem lembra Gonçalves 
(2014, p. 286):
A adoção e o reconhecimento do filho natural, por exemplo, 
podem ser efetuados por meio de mandato. Até mesmo o 
casamento, que é um dos atos mais solenes do Código Civil e 
de reconhecida importância para a vida das pessoas, pode ser 
celebrado “mediante procuração, por instrumento público, com 
poderes especiais ” (CC, art. 1.542).
O referido autor (2014) cita como exceções os atos personalíssimos, como: o 
concurso público, o testamento e o serviço militar. 
Atividade de Estudos:
 1) Em relação ao contrato de depósito, é correto afirmar que
 a) é sempre gratuito.
 b) se o depósito se entregou fechado, colado, selado, ou lacrado, 
nesse mesmo estado se manterá.
 c) o depositário responde pelos casos de força maior.
 d) se voluntário, provar-se-á por qualquer forma.
O mandato é 
um contrato no 
qual uma das 
partes confere 
a outra poderes 
para praticar atos 
jurídicos em seu 
nome;
70
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O mandato é contrato personalíssimo, pois se baseia na confiança existente 
entre representante e representado; é não solene, apesar do art. 653 afirmar que 
“a procuração é o instrumento do mandato”; e, em regra, é gratuito, desde que 
não haja acordo em contrário ou nos casos em que o pagamento é essencial à 
representação (no caso de mandato confiado a advogado, por exemplo).
É importante destacar desde já que, embora o mandato tenha por base 
a ideia de representação, as duas figuras não se pressupõem. É possível que 
haja mandato sem representação, como no caso do contrato de comissão (a 
ser estudado adiante neste mesmo capítulo), assim como há hipóteses de 
representação sem mandato, como no caso dos representantes legais ou judiciais 
(pais ou tutores). 
a) Requisitos para outorgar a procuração e receber o mandato
O artigo 654 do Código Civil estabelece que todas as pessoas civilmente 
capazes podem outorgar procuração, sendo requisito de outorga, portanto, a simples 
capacidade civil. O mandato, entretanto, estará adstrito aos atos que o mandante 
pode, pessoalmente, praticar; o mandatário não pode extrapolar esses limites. 
Por outro lado, o artigo 666 do Código Civil permite que os menores de 18 
e maiores de 16, relativamente incapazes, atuem como mandatários. Caso o 
contrato seja mal executado, porém, o risco é integralmente do mandante. 
Conforme elenca Gonçalves (2014, p. 291), não podem exercer mandato: 
a) os acionistas brasileiros não podem fazer-se representar nas 
reuniões de assembleia geral por mandatários estrangeiros 
(Dec.-Lei n. 2.063, de 7-3-1940, art. 199); b) o funcionário 
público, mesmo aposentado, não pode ser procurador perante 
qualquer repartição (Dec. n. 23.112, de 11-4-1934, e art. 22, 
XL, da Lei n. 8.122, de 1990), mas pode ser mandatário nos 
demais casos.
Trataremos, agora, da procuração.
b) A procuração
Apesar de ser contrato não solene e, portanto, não exigir forma 
para que seja válido, o mandato escrito é o mais comum, tendo como 
instrumento a procuração. 
De acordo com o artigo 654, §1º, “O instrumento particular 
deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do 
Apesar de ser 
contrato não solene 
e, portanto, não 
exigir forma para 
que seja válido, o 
mandato escrito é o 
mais comum, tendo 
como instrumento a 
procuração.
71
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e 
a extensão dos poderes conferidos”. Além disso, o terceiro que irá tratar com o 
mandatário pode exigir reconhecimento de firma (art. 654, §2º, CC).
O artigo 657, por sua vez, orienta que a procuração seja feita da mesma 
forma exigida para o ato a ser praticado. Assim, exemplifica Gonçalves (2014, p. 
291): “Se o ato objetivado exigir instrumento público, como a compra e venda de 
imóvel de valor superior à taxa legal, por exemplo, a procuração outorgada para a 
sua prática deve observar, necessariamente, a forma pública”.
Há ainda que se falar na possibilidade de o mandatário “terceirizar” a 
procuração, por meio de substabelecimento. Nos termos do artigo 655 do Código 
Civil, este pode ser feito por instrumento particular ainda que a procuração seja por 
instrumento público, com reserva de poderes (ou seja, o mandatário atua junto da 
pessoa a quem foi entregue o substabelecimento) ou sem reserva (hipótese na qual 
o mandatário renuncia à sua função e a entrega ao substabelecido, integralmente). 
Segundo Gonçalves (2014, p. 292), “O substabelecimento pode ser também total 
ou parcial. No primeiro caso, o substabelecido outorga a outrem todos os poderes 
recebidos; no segundo, o substabelecido fica inibido de praticar certos atos”.
c) Espécies de mandato
Existem diversos tipos de mandato. De acordo com o Código Civil, ele 
poderá ser expresso, tácito, verbal ou escrito (art. 656); gratuito ou oneroso (art. 
658); judicial ou extrajudicial (art. 692), simples ou empresário (art. 966 e 1.018), 
geral ou especial (art. 660), em termos gerais com poderes especiais (art. 661), 
solidário, sucessivo ou fracionado (art. 672).
Comecemos pelo tácito. Em algumas hipóteses, a lei considera a existência 
de um mandato tácito, a partir de atos que presumem que o mandatário o aceitou. 
Gonçalves (2014, p. 293) elenca como exemplo:
O art. 1.643 e incisos I e II do mencionado diploma autorizam 
os cônjuges, independentemente de autorização um do 
outro, a “comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à 
economia doméstica” e a “obter,por empréstimo, as quantias 
que a aquisição dessas coisas possa exigir”; o art. 1.324 
presume representante comum “o condômino que administrar 
sem oposição dos outros”; o art. 1.652, II, responsabiliza o 
cônjuge que estiver na posse dos bens particulares do outro 
“como procurador, se tiver mandato expresso ou tácito para 
os administrar”. Além disso, a legislação cambial e o art. 891 
do novo Código Civil presumem ter o portador de título de 
crédito mandato para inserir a data e o lugar da emissão. A 
jurisprudência tem admitido a existência de mandato tácito 
pelo início da execução, em alguns casos, especialmente nos 
de mandato judicial, sem o efetivo poder de representação.
72
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Em relação à forma, o mandato poderá ser verbal nos casos em que a lei 
não exija forma escrita, notadamente “nos negócios jurídicos cujo valor não 
ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que 
foram celebrados” (art. 227, CC). O escrito pode ser outorgado por instrumento 
particular ou público (art. 654, CC).
Poderá, ainda, ser gratuito ou oneroso, a depender da relação estabelecida 
entre mandante e mandatário; judicial (art. 692, CC), que habilita o advogado 
para agir em juízo por seu cliente, ou extrajudicial; e simples ou empresários, este 
último restrito aos negócios mercantis (art. 966, CC).
Quanto à extensão dos poderes conferidos ao mandatário, pode ser especial, 
limitado à celebração de um ou mais negócios determinados pelo mandante, ou 
geral, valendo para a prática de qualquer ato (art. 660). Em relação ao mandato 
de termos gerais, o art. 661 o limita a poderes de administração; para ultrapassar 
esses poderes gerais de administração são necessários poderes especiais 
expressos (art. 661, §1º). 
Por fim, vejamos o artigo 672 do Código Civil:
Sendo dois ou mais os mandatários nomeados no mesmo 
instrumento, qualquer deles poderá exercer os poderes 
outorgados, se não forem expressamente declarados conjuntos, 
nem especificamente designados para atos diferentes, ou 
subordinados a atos sucessivos. Se os mandatários forem 
declarados conjuntos, não terá eficácia o ato praticado sem 
interferência de todos, salvo havendo ratificação, que retroagirá 
à data do ato.
Assim, presume-se que caso o mandato seja outorgado a mais de um 
indivíduo, será solidário. Para que atuem em negócios diferentes, deve haver 
menção expressa no instrumento; se forem declarados conjuntos, só poderão 
agir de forma conjunta, ainda que com ratificação posterior; se forem sucessivos, 
devem atuar na ordem de sua nomeação.
d) Obrigações do mandatário e do mandante
As obrigações do mandatário são: a) Agir em nome do mandante, conforme 
os poderes que lhe foram conferidos; caso esses poderes sejam extrapolados, 
deverão ser convalidados pelo mandante (art. 665, CC); b) Atuar com diligência 
e assumir a responsabilidade por eventuais prejuízos causados por ele ou por 
indivíduo a quem substabeleceu (art. 667, CC); c) Prestar contas ao mandante, 
transferindo a este as vantagens oriundas do mandato (art. 668, CC); d) 
Apresentar o instrumento do mandato aos terceiros com quem tratar em nome do 
mandante (art. 673, CC); e) Concluir negócio já iniciado quando houver perigo na 
demora, ainda que haja mudança de estado do mandante (art. 674, CC).
73
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
Já o mandante tem dois grupos principais de obrigações. O primeiro, refere-
se a satisfazer obrigações assumidas pelo mandatário (art. 675, CC), ainda que 
alguma de suas instruções não seja atendida, cabendo direito de regresso (art. 
679, CC). O segundo, refere-se às obrigações de caráter pecuniário:
O mandante é obrigado a adiantar a importância das despesas 
necessárias à execução do mandato, quando o mandatário lho 
pedir, ou reembolsá-lo, com os juros eventualmente devidos 
pelo atraso, do valor das despesas por ele despendido, uma vez 
que o mandatário pode, ao seu alvitre, efetuar as despesas e 
em seguida solicitar seu reembolso, ou pedir ao mandante que 
adiante as importâncias necessárias ao desempenho do mandato; 
a pagar-lhe a remuneração ajustada; e a indenizá-lo dos prejuízos 
experimentados na execução do mandato (CÓDIGO CIVIL, arts. 
675 a 677, 2002; GONÇALVES, 2014, p. 300).
O mandatário age em nome do mandante, portanto, qualquer prejuízo 
patrimonial que tenha sofrido deverá ser suportado pelo mandante, exceto em 
caso de culpa.
e) Extinção do mandato
Segundo o art. 682 do Código Civil, são quatro as formas de extinção do 
mandato: 1) Revogação ou renúncia; 2) Morte ou interdição das partes; 3) 
Mudança de estado que inabilite mandante ou mandatário; 3) Pelo termo final ou 
conclusão do negócio. 
Em algumas hipóteses, porém, o mandato pode se tornar irrevogável por 
força de lei, como preceituado dos artigos 683 a 686. Segundo Gonçalves (2014, 
p. 304),
Pode-se afirmar que o mandato é irrevogável quando: a) 
contiver cláusula de irrevogabilidade; b) for conferido com 
a cláusula “em causa própria” (art. 685); c) a cláusula de 
irrevogabilidade for condição de um negócio bilateral (mandato 
acessório de outro contrato), ou tiver sido estipulada no 
exclusivo interesse do mandatário; d) contenha poderes de 
cumprimento ou confirmação de negócios encetados, aos 
quais se ache vinculado (art. 686, parágrafo único).
Vejamos, agora, o contrato de comissão. 
74
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Comissão
O contrato de comissão, nas palavras de Gonçalves (2014, p. 312), é um 
negócio jurídico pelo qual
um dos contraentes, denominado comissário, obriga-se a 
realizar negócios em favor do outro, intitulado comitente, 
segundo instruções deste, porém em nome daquele. O 
comissário obriga-se, portanto, perante terceiros em seu 
próprio nome, figurando no contrato como parte. Neste, em 
geral, não consta o nome do comitente, porque o comissário 
age em nome próprio. Nada impede, contudo, que venha a 
constar, por conveniência de melhor divulgação do produto e 
incrementação dos negócios.
No contrato de comissão, o objeto é a compra e venda de bens 
por conta de outrem, bens estes sempre móveis. Gagliano e Pamplona 
Filho (2014, p. 397) apontam, como exemplo, a atividade empresarial 
empreendida “pelas agências de viagens que, contratando em próprio 
nome, fazem jus à remuneração devida (comissão) pela venda de 
passagens aéreas”.
Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, comutativo, não solene e 
intuito personae, pois é celebrado em razão da pessoa do comissário, por suas 
qualidades específicas e profissionais. 
a) Remuneração do comissário
Geralmente, a remuneração é calculada em porcentagem sobre os valores 
das vendas ou de outros negócios, sendo devida desde a conclusão do contrato. 
Se por motivos de morte ou força maior o comissário não puder concluí-lo, “será 
devida pelo comitente uma remuneração proporcional aos trabalhos realizados” 
(art. 702, CC). 
ALVARENGA, Luiz Carlos. A REPRESENTAÇÃO NOS ATOS 
NOTARIAIS CELEBRADOS CONSIGO MESMO: análise do art. 117 
do novo Código Civil. Revista Qualitas, Campina Grande, v. 06, 
n. 02, 2007. Disponível em: <http://revista.uepb.edu.br/index.php/
qualitas/article/view/84>. Acesso em 29 jan. 2018. 
No contrato de 
comissão, o objeto 
é a compra e 
venda de bens por 
conta de outrem, 
bens estes sempre 
móveis.
75
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
A remuneração do comissário é devida ainda que este tenha dado motivo 
a eventual dispensa, em razão dos serviços úteis já prestados; o comitente, 
entretanto, poderá, nestes casos, exigir indenização por perdas e danos (art. 
703, CC). Embora a expressão serviços úteis seja vaga, Gonçalves (2014, 
p.313) entende que “deve-se interpretá-la em sentido amplo, levando em conta 
não apenas o aspecto patrimonial, mas qualquer outra vantagem ou benefício 
demonstrados”.
Se o comissário, no entanto, for despedido sem justa causa, deverá receberpelos trabalhos prestados e por eventuais perdas e danos decorrentes da 
dispensa (art. 705, CC). Cumpre mencionar que o comissário tem direito a reter 
os bens adquiridos para o comitente como forma de garantir o reembolso das 
despesas efetuadas para realizar o negócio convencionado (art. 708, CC). 
A morte de qualquer das partes extingue o contrato.
b) Deveres do comissário
Para efeitos didáticos, dividiremos os deveres do comissário em duas 
espécies: os deveres em relação ao comitente, já que precisa agir em nome dele; 
e os deveres em relação a terceiros, já que contrata em seu próprio nome. 
Quanto aos deveres em relação ao comitente, tem-se que: 1) Uma vez aceito 
o encargo, obriga-se o comissário na forma e segundo as ordens e instruções 
recebidas; 2) Obriga-se o comissário em relação às pessoas com as quais ele 
contrata, sem que estas tenham ação contra o comitente, e nem este contra elas, 
a menos que o comissário ceda seus direitos a qualquer uma das partes (art. 694, 
CC); 3) Deve proceder com diligência de forma e evitar prejuízo e auferir lucro para 
o comitente (art. 696, CC); 4) Não pode conceder prazo para pagamento, se tiver 
ordens em contrário. Na omissão de disposição sobre o assunto, a presunção é que 
houve autorização (art. 699, CC); 5) Nas vendas de mercadorias a prazo, vencidos 
os pagamentos, o comissário é obrigado a realizar a cobrança (art. 700, CC); 6) 
Cabe-lhe cuidar da conservação dos direitos e da guarda das coisas do comitente; 
7) Deve pagar os juros se incidir em mora na entrega dos fundos ou valores devidos 
ao comitente, como a este também incumbe a satisfazer os juros das quantias em 
dinheiro que o comissário, a seu benefício, houver adiantado (art. 706, CC); e 8) 
Deve avisar o comitente dos danos sofridos pelas mercadorias sob sua guarda. 
Já em relação a terceiros, o comissário deve: 1) Assumir a responsabilidade 
pelas obrigações efetuadas (art. 694, CC); e 2) Responsabilidade pela perda ou 
extravio do dinheiro e de qualquer bem que se encontre em seu poder, ainda que 
o dano decorra de caso fortuito ou força maior, a menos que prove que tenha 
empregado a diligência necessária na guarda.
76
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
c) Direitos e deveres do comitente
 O comitente tem a obrigação de pagar a remuneração ao comissário, nos 
seguintes termos:
Art. 701. Não estipulada a remuneração devida ao comissário, 
será ela arbitrada segundo os usos correntes no lugar. [...]
Art. 703. Ainda que tenha dado motivo à dispensa, terá o 
comissário direito a ser remunerado pelos serviços úteis 
prestados ao comitente, ressalvado a este o direito de exigir 
daquele os prejuízos sofridos.
Art. 704. Salvo disposição em contrário, pode o comitente, 
a qualquer tempo, alterar as instruções dadas ao comissário, 
entendendo-se por elas regidos também os negócios pendentes.
Art. 705. Se o comissário for despedido sem justa causa, terá 
direito a ser remunerado pelos trabalhos prestados, bem como 
a ser ressarcido pelas perdas e danos resultantes de sua 
dispensa.” (BRASIL, 2002). 
A comissão ou remuneração devida pelo comitente deve ser paga depois de 
concluído o negócio, não sendo condicionada à sua execução. 
Além disso, o comitente deve 1) Fornecer fundos suficientes ao comissário 
a fim de possibilitar os negócios; 2) Ressarcir as despesas desembolsadas pelo 
comissário; 3) Assumir os riscos oriundos da devolução de fundos em poder do 
comissário, exceto se ele se desviar das instruções emanadas do comitente, ou fizer 
as devoluções por motivos diversos dos comumente usados no local da remessa.
Em contrapartida, são direitos do comitente: 1) Opor todas as exceções 
permitidas ao comissário, como o descumprimento das obrigações; 2) Exigir que o 
comissário responda pelos prejuízos acontecidos, se o mesmo não comunicar, ao 
receber as mercadorias, as avarias, a diminuição ou mudança de seu estado; 3) 
Solicitar a restituição, em caso de falência do comissário, das mercadorias que se 
encontrarem em seu poder, e pleitear junto a terceiros os preços ainda não pagos 
das mercadorias vendidas pelo comissário; 4) Não responder, junto a terceiros, 
pelas obrigações assumidas pelo comissário, eis que este age em seu nome 
próprio; 5) Acionar terceiros, no caso de sub-rogação nos direitos assumidos pelo 
comissário; e 6) Alterar as instruções dadas ao comissário, a menos que tenham 
disposto o contrário as partes (art. 704, CC). 
d) Comissão del credere
Em geral, o comissário não responderá pela insolvência das pessoas com 
quem tratar. Todavia, existem dois casos nos quais isto pode ocorrer: em caso de 
culpa do comissário, e na vigência de cláusula del credere (art. 697, CC). Sobre o 
assunto, assim dispõe o artigo 698 do Código Civil:
77
Modalidades Contratuais Capítulo 2 
[...] se do contrato de comissão constar a cláusula del credere, 
responderá o comissário solidariamente com as pessoas com 
que houver tratado em nome do comitente, caso em que, 
salvo estipulação em contrário, o comissário tem direito a 
remuneração mais elevada, para compensar o ônus assumido.
Esta cláusula tem por objetivo estimular o comissário a tomar cuidado ao 
realizar seus negócios, pois, como consequência dela, torna-se devedor solidário 
do negócio firmado. 
Agência e Distribuição
O artigo 710 do Código Civil assim preceitua:
Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, 
em caráter não eventual e sem vínculos de 
dependência, a obrigação de promover, à conta de 
outra, mediante retribuição, a realização de certos 
negócios, em zona determinada, caracterizando-
se a distribuição quando o agente tiver à sua 
disposição a coisa a ser negociada.
Desta forma, é possível inferir que o agente é um indivíduo que 
atua como promotor de negócios de empresas. Diferencia-se do corretor 
porque não conclui os negócios, fomenta o negócio, mas não é seu 
representante, nem é obrigado a concluir transações. Para Gonçalves 
(2014, p. 321):
Como exemplos de pessoas que exercem essa atividade 
podem ser citados os agentes de seguros, de aplicações 
financeiras, de atividades artísticas, podendo ser lembrada, 
ainda, a atividade do agente que se encarrega de indicar 
novos atletas de futebol ou de outro esporte para determinada 
agremiação esportiva. A atividade do agente limitar-se-á aos 
atos preparatórios que lhe foram incumbidos: prepara o negócio 
em favor do agenciado, mas não o conclui necessariamente. A 
obrigação do representante comercial autônomo, ao contrário, 
é de concluí-lo.
Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, comutativo, não solene e intuitu 
personae.
a) Características do contrato de agência
O contrato de agência possui as seguintes características:
O agente é um 
indivíduo que atua 
como promotor 
de negócios 
de empresas. 
Diferencia-se do 
corretor porque não 
conclui os negócios, 
fomenta o negócio, 
mas não é seu 
representante, nem 
é obrigado a concluir 
transações.
78
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
1) Independência hierárquica, já que o agente possui autonomia na 
organização e promoção dos negócios do agenciado; 2) Habitualidade, pois 
as atividades a serem desenvolvidas são habituais, de vínculo duradouro; 3) 
Intermediação, uma vez que o agente realiza negócios de interesse do agenciado; 
4) Remuneração, já que o agente recebe uma contraprestação pelos serviços 
agenciados; e 5) Delimitação espacial, pois o agente deverá praticar seus atos 
dentro de um espaço convencionado em contrato. 
Além disso, o artigo 710, Parágrafo único, dispõe que “o proponente pode 
conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos”. 
Neste caso, estaremos diante de um contrato de representação comercial autônoma, 
disciplinado pela Lei 4.886/1965. Aqui, diferentemente do contrato de agência 
regulamentado pelo Código Civil, as partes são necessariamente empresárias.
b) Características do contrato de distribuição
Os contratos de agência

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