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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
HISTÓRIA DA AMÉRICA I 
 
CAROLINE GARCIA MENDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo 
aplicado ao longo da apostila, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Elas são 
para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada uma com uma 
função especifica, mostradas a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
O MUNDO PRÉ-COLONIAL E A INVENÇÃO DA AMÉRICA ................... 5 
 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5 
 PARTIR RUMO AO DESCONHECIDO: REINOS IBÉRICOS SE LANÇAM AO MAR
 ........................................................................................................................... 5 
 OS POVOS NATIVOS ................................................................................................ 6 
 AMÉRICA CENTRAL ................................................................................... 7 
 ANDES ....................................................................................................... 12 
 A INVENÇÃO DA AMÉRICA.................................................................................... 16 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 18 
 
CONQUISTA E INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA À ECONOMIA EUROPEIA
 ................................................................................................................. 20 
 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 20 
 A CHEGADA E CONQUISTA DA AMÉRICA........................................................... 20 
 A CONQUISTA DO IMPÉRIO ASTECA ................................................................... 22 
 A CONQUISTA DO IMPÉRIO INCA ......................................................................... 24 
 A INTEGRAÇÃO À ECONOMIA EUROPEIA .......................................................... 25 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 28 
 
GOVERNO E ECONOMIA NA AMÉRICA COLONIAL ............................ 31 
 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 31 
 ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA COLONIAL ........................................................ 31 
 A MESTIÇAGEM NO NOVO MUNDO ...................................................................... 35 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 39 
 
COLONIZAÇÃO NA AMÉRICA: ESPANHÓIS E INGLESES .................. 42 
 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 42 
 SOCIEDADE NA AMÉRICA ESPANHOLA ............................................................. 42 
 IGREJA CATÓLICA NA AMÉRICA ESPANHOLA .................................................. 43 
 ENQUANTO ISSO, OS INGLESES NA AMÉRICA .................................................. 48 
 A DIVISÃO ENTRE COLÔNIAS DO NORTE E DO SUL ......................................... 52 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 55 
 
GUERRAS DE INDEPENDÊNCIA DO CONTINENTE AMERICANO ...... 59 
 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 59 
 ESTADOS UNIDOS .................................................................................................. 59 
 RUPTURA COM A INGLATERRA ........................................................................... 63 
 AMÉRICA HISPÂNICA ............................................................................................ 64 
 JOSÉ DE SAN MARTIN ........................................................................................... 67 
 SIMÓN BOLÍVAR ..................................................................................................... 68 
 NOVA ESPANHA (MÉXICO).................................................................................... 69 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 70 
 
TESES E FONTES SOBRE A AMÉRICA COLONIAL ............................. 74 
 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 74 
 COLONIZAÇÃO DE EXPLORAÇÃO x COLONIZAÇÃO DE POVOAMENTO ........ 74 
 AS CRÔNICAS ENQUANTO FONTE DE PESQUISA ............................................. 77 
 BARTOLOMEU DE LAS CASAS E SUA “BREVÍSSIMA RELAÇÃO” ................... 78 
 OUTROS CRONISTAS EUROPEUS ....................................................................... 80 
 UM CRONISTA NATURAL DO PERU: FELIPE DE AYALA ................................... 81 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 85 
 
REFERÊNCIAS ................................................................................... 90 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
05 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
Discutiremos como eram as civilizações encontradas na América 
quando os europeus chegaram a esse continente. Trataremos 
especificamente dos Astecas e dos Incas: principais características 
dessas sociedades, organização política, econômica e social. Por 
fim, analisaremos a importância dos valores europeus tardo-
medievais na construção do imaginário desses viajantes quando 
chegaram à América. 
Abordaremos como seu deu a conquista dos dois impérios 
localizados no Novo Mundo: o Asteca e o Inca. Analisaremos seus 
principais personagens e ações para, em poucos anos, 
conseguirem dominar uma população e uma região tão grandes. 
Ao final, pretendemos discorrer brevemente sobre como se iniciou 
a relação entre a Europa e a América através dos portos e cidades 
que se interligaram, tendo como o oceano Atlântico como estrada 
 
 
Depois de conhecermos as sociedades pré-colombianas e 
discutirmos como se deu a conquista perpetrada pelos espanhóis, 
nesta unidade vamos aprender como a sociedade se organizou na 
América a partir da extração de metais preciosos, das lavouras e 
da exploração da mão de obra indígena e depois africana. Por fim, 
abordaremos o interessante conceito de mestiçagem, proposto 
pelo historiador Serge Gruzinski para analisar o encontro de 
culturas que ocorreu no Novo Mundo. 
Nesta unidade discutiremos como se formou a sociedade na 
América Hispânica a partir dos ideais trazidos da Europa, além da 
participação fundamental da Igreja Católica no processo. 
Abordaremos ainda a colonização dos Estados Unidos, que se 
consolidou ao final do século XVII menos com a influência da 
Coroa inglesa e mais com a ação de Companhias e particulares – 
diferente, assim, do sistema espanhol e português no restantes do 
continente. 
 
Após aprendermos sobre a organização das colônias no continente 
americano, nesta unidade iremos discorrer sobre as guerras de 
independência que antecederam à criação dos Estados Unidos e 
de diversos países da atual América Latina. Veremos, assim, como 
o contexto europeu e ideais iluministas, além do descontentamento 
dos colonos foram fatores responsáveis pela insurreição e pelas 
batalhas que terminaram na separação entre as metrópoles e suas 
colônias. 
Na última unidade de nossa apostila, discutiremos a tese de que 
Estados Unidos e América Latina tiveram colonizações distintas 
que afetaram para sempre seu destino. Essa tese visa explicar o 
porquê das diferenças econômicas e social das duas regiões nos 
dias de hoje. Além disso, trouxemos ainda uma importante fontede 
pesquisa para conhecer o cotidiano da América espanhola naquele 
período: as crônicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
O MUNDO PRÉ-COLONIAL 
E A INVENÇÃO DA AMÉRICA 
 
 
 
 INTRODUÇÃO 
Seja bem-vindo à primeira unidade da nossa disciplina de História da 
América Colonial. Nessa unidade discutiremos como se deu a expansão ultramarina 
europeia, iniciada pelos reinos ibéricos de Portugal e Espanha. Além disso, 
apresentaremos as duas grandes civilizações que já estavam estabelecidas em 
nosso continente antes da chegada dos europeus e como elas se organizavam: no 
início do século XVI, Astecas e Incas já constituíam enormes impérios que 
desafiaram a compreensão europeia e seu etnocentrismo ao demonstrar avançado 
conhecimento, construções impressionantes, sistemas de contagem de população e 
até escrita. Suas grandes cidades poderiam ser comparadas aos principais centros 
urbanos da Europa. 
Abordaremos por fim uma questão fundamental para a compreensão de 
como foi a relação entre europeus e povos nativos: como se deu a “construção” da 
América a partir do imaginário europeu? Veremos como esse “Novo Mundo” teve de 
ser adaptado ao que já era conhecido pelos europeus para que fizesse sentido a 
eles. Esperamos que você sinta-se inspirado por essa discussão para repensar 
algumas ideias e procurar por novas informações a respeito desse tema tão atual e 
tão importante para nossa sociedade. 
 
 PARTIR RUMO AO DESCONHECIDO: REINOS IBÉRICOS SE LANÇAM AO 
MAR 
Portugal e Espanha foram os pioneiros na expansão ultramarina e os 
responsáveis pela colonização das atuais América Central, do Sul e parte da 
América do Norte. A historiografia atual identifica uma série de motivos pelos quais 
esses dois pequenos reinos foram os primeiros a partirem nas grandes navegações 
que movimentaram o século XV na Europa. Seu pioneirismo foi causado por uma 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
série de características que, reunidas nesses reinos, pode explicar como as duas 
Coroas foram responsáveis por uma realização gigantesca em tempos tão 
longínquos. Em primeiro lugar, o espírito da Reconquista ainda pairava nos ares 
espanhóis e, após conseguirem expulsar os mouros do sul do continente, aqueles 
cavaleiros imbuídos do pensamento medieval continuavam desejosos de “ganhar 
honra” já que essa honra e riqueza eram atingidas mais facilmente com a espada, e 
seriam formalizadas por um soberano agradecido pelos serviços prestados 
(ELLIOTT, 1990). 
A localização privilegiada voltada para o oceano Atlântico também foi um os 
motivos elencados para o pioneirismo ibérico, bem como os avanços tecnológicos 
alcançados naquela época. 
Devemos lembrar ainda que não só a Península Ibérica, mas toda a Europa 
passava por uma série de problemas causados pelos estragos da peste negra, 
como a escassa oferta de trabalho, a falta de recursos financeiros dos aristocratas e 
a competição entre monarcas e nobres por poder. Além disso, à boa localização 
dos dois reinos se somava o medo que a aproximação dos turcos islâmicos pelo 
lado leste provocava em todos os reinos católicos, o que tornava a saída pelo 
ocidente ainda mais atrativa (ELLIOTT, 1990). 
Assim, ao sul da Península, Sevilha se tornou a capital marítima e comercial 
que faria a ligação da Coroa de Castela com as demais regiões do império que se 
construía. 
 
 
 
 
 
 OS POVOS NATIVOS 
Trataremos brevemente das civilizações chamadas de pré-colombianas que 
fizeram parte do Império espanhol após a chegada dos conquistadores à América. 
Dividiremos o continente em duas partes: a América Central, que também engloba 
parte da atual América do Norte e também é conhecida como Mesoamérica e a 
região dos Andes, na parte oeste da América do Sul. Não convém para esta 
Reconquista: A Reconquista foi um grande movimento em direção ao sul da Península 
Ibérica para recuperar a região que estava ocupada pelos mouros. Ocorreu em 
diferentes épocas e, aos poucos, tanto Portugal quanto Espanha conseguiram, já no 
final do século XIII, reconquistar toda a área para os católicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
apostila, contudo, tratarmos da pré-história da região, assim, iremos discorrer sobre 
as populações existentes no período imediatamente anterior aos primeiros contatos 
e a decorrente conquista realizada sobretudo pelos espanhóis. 
 
Pesquisadores estimam que o continente americano recebeu seus 
primeiros habitantes por volta de 35.000 a.C., momento em que os 
primeiros seres humanos teriam alcançado esse continente através do 
Estreito de Bering. Na região do México, há vestígios da passagem 
humana por volta do ano 20.000 a.C. e alguns milênios teriam de 
transcorrer para que essas populações passassem de caçadores e 
coletores para a atividade da agricultura (LÉON-PORTILLA, 1990, p. 04-
05). 
 
 AMÉRICA CENTRAL 
Nesta região, os vestígios indicam que os primeiros grupos que começaram 
a erguer construções, sobretudo religiosas, foram os Olmecas por volta do ano 
1.300 a.C.. Miguel León-Portilla denomina “protourbanismo” os assentamentos de 
agricultores que começaram nesse período na região do Golfo do México e que se 
desenvolveram construindo pirâmides de barro, túmulos, altares, tumbas, 
sarcófagos e grandes praças que parecem indicar que essas cerimônias se 
realizavam ao ar livre. É possível identificar ainda certa divisão do trabalho já 
naquele período, havendo pessoas dedicadas à agricultura, mas também às artes e 
ao artesanato, à defesa, ao comércio, ao culto aos deuses e ao governo (LÉON-
PORTILLA, 1990) 
Os Olmecas influenciaram grande parte dos povos que se desenvolveram na 
América Central, como Maias e Astecas – o primeiro desapareceu anos antes do 
europeu chegar ao novo continente, mas o segundo manteve contato e entrou em 
conflito com o explorador espanhol – e foram responsáveis ainda pela criação de 
um calendário e da escrita. É possível considerar sua influência como uma “cultura 
mãe” que se espalhou por áreas distantes daquela região. 
 
A influência dos Olmecas – provavelmente através do comércio e quiçá 
também por uma espécie de impulso religioso ‘missioneiro’ – se manifesta 
em muitos sítios nas áreas próximas ao Golfo do México, e também na 
Meseta Central, em Oaxaca, na terra dos Maias e na parte ocidental do 
México (Guerrero e Michoacán) (LÉON-PORTILLA, 1990, p. 6, tradução 
nossa). 
 
Teotihuacan era uma cidade localizada na Meseta Central do atual México, 
chamada de “metrópole dos deuses”. Até hoje não se sabe muito sobre essa grande 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
cidade que poderia se comparar com os maiores centros urbanos europeus do 
mesmo período, a não ser que ela poderia ser o coração de um grande reino ou de 
uma confederação de diferentes povos. Além de um grande templo a Quetzalcólatl 
foram descobertos palácios, escolas e diferentes tipos de construções, organizadas 
em espécies de bairros com avenidas e ruas pavimentadas com pedras e até redes 
de esgoto. Ali eram adorados diferentes deuses que depois seriam invocados por 
outros povos da mesma região, como Tláloc e Chalchiutlicue (deus da chuva e 
deusa das águas terrestres), o próprio Quetzalcóatl (a serpente emplumada), 
Xiuhtecuhtli (senhor do fogo) e Xochipilli (príncipe das flores). Sua arte também iria 
influenciar outros povos da mesma região. 
 
Figura 1: Quetzalcoatl, a serpente emplumada. 
 
Fonte: Wikimedia Commons. 
Disponível em: https://bit.ly/3hWMESc 
 
Ao mesmo tempo em que se desenvolvia essa grande cidade, outros povos 
também começavam a aparecer na região central do continente, como os Maias. 
Esse povo era encontrado na Península de Yucatán, nas terras baixas e nas terras 
altas dos estados de Tabasco e Chiapas, na Guatemala, Belize e nas regiões de El 
Salvador e Honduras. Graças à arqueologia, sabemos de mais de cinquenta 
centros Maias de importância considerável. Os pesquisadores reconhecematualmente que os assentamentos que se estabeleciam nas ribeiras dos rios ou em 
áreas de floresta densa “compreendiam não só santuários para o culto dos deuses 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
e palácios para os chefes religiosos, mas também bairros onde as pessoas 
moravam” (LEÓN-PORTILLA, 1990, p. 7. tradução nossa), ou seja, os Maias 
também se organizavam em centros urbanos. 
É importante destacar as criações artísticas dos Maias, como a arquitetura, 
as esculturas e a pintura de murais. Também produziram milhares de textos, 
pinturas, cerâmicas, e livros ou códices que confirmam que os sacerdotes Maias 
possuíam uma cultura complexa – que chegava a calendários de grande precisão, a 
concepção de um símbolo para o zero (talvez herdado dos Olmecas) e um grande 
universo de ideias e símbolos. Para León-Portilla (1990), a civilização na América 
Central alcançou seu apogeu com os Maias. 
Todas essas grandes cidades e a maioria dos povos que começaram a se 
desenvolver no início do milênio desapareceram até o século X d.C.. Pesquisadores 
apenas supõem o que pode ter acontecido para essa decadência, que 
provavelmente aconteceu gradualmente e por diferentes motivos. A cidade de 
Teotihuacan pode ter passado por um grande incêndio, ou foi abandonada devido à 
forças exteriores ou ainda devido à lutas internas políticas e religiosas. Outros 
pesquisadores argumentam que o abandono da cidade pode ter ocorrido devido às 
mudanças climáticas relacionadas ao desmatamento e à seca dos lagos. 
Teotihuacan, assim, já se encontrava abandonada no ano de 650 d.C., enquanto 
outras cidades demoraram mais tempo para chegar à decadência: os centros Maias 
começaram a ser abandonados gradualmente, não existindo sinais de ataques 
exteriores ou incêndios que possam justificar o ocorrido. 
Ainda que esse período Clássico tenha terminado por volta do ano 950 d.C., 
as realizações desses povos sobreviveram inclusive após à conquista espanhola, 
como o urbanismo, as escolas comunais, os mercados, seus deuses e formas de 
culto, o calendário, a escrita hieróglifa, os conhecimentos astronômicos e 
astrológicos e “uma visão de mundo, formas elementares de organização 
socioeconômica, política e religiosa, a instituição de um mercado e um tipo de 
comércio que chegava à regiões distantes” (LÉON-PORTILLA, 1990, p. 9, tradução 
nossa). 
Em finais do século XV, a civilização Asteca começava a se estabelecer na 
mesma região do México central. Entre finais do século XV e início do XVI uma 
série de governos, finalizados com Montezuma II (1502-1520), foram responsáveis 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
pela extensão do poder Asteca: seu extraordinário poder militar resultou em uma 
contínua expansão política e econômica, já que diversos povos puderam ser 
submetidos a eles; “de suas formas organizadas de comércio derivou-se a 
crescente prosperidade do ‘império dos mexicas [Astecas]” (LÉON-PORTILLA, 
1990, p. 15, tradução nossa). 
A sociedade Asteca era formada por aldeias comunais que trabalhavam a 
terra de maneira coletiva. O povo comum trabalhava a terra para sua subsistência, 
sustentando uma camada dominante (pipiltin) que se apropriava do valor excedente 
da produção, distribuindo-a de maneira arbitrária entre seus próprios membros. Sua 
justificativa para a apropriação da produção era que eram eles quem regiam o povo 
e organizavam a realização de trabalhos públicos, como a construção de centros 
urbanos e obras de irrigação. 
 
Ainda que Montezuma fosse considerado a representação divina sobre a 
terra, não era entendido como uma reencarnação ou descendente de um 
deus. Ele era o chefe do exército e pontífice religioso, e também supremo 
juiz e senhor, a quem ninguém ousava contradizer. Desempenhava seu 
supremo papel por eleição, não por sucessão hereditária (LÉON-
PORTILLA, 1990, p. 17, tradução nossa). 
 
Os cargos administrativos mais importantes só poderiam ser exercidos pelos 
pipiltin, que recebiam títulos e a autorização do uso das terras. Ainda que haja certa 
indefinição entre os pesquisadores sobre se havia ou não a efetiva posse da terra, 
tudo parece indicar que o uso da terra se relacionava com o cargo e não com o 
indivíduo – o que, por outro lado, poderia significar a posse da terra por uma 
mesma família por várias gerações, tendo em vista que esse cargo costumava 
passar de pai para filho. Além disso, os pipiltin não pagavam tributos e poderiam 
alugar tantos trabalhadores quanto necessários para cultivar a terra. Também eram 
autorizados a ter quantas esposas pudessem sustentar, possuíam insígnias e 
vestuário especial, tinham acesso à formas de diversão e até algumas variedades 
de comidas e bebidas exclusivas. Seus filhos frequentavam espécies de escolas em 
que se preparavam para os cargos que ocupariam no futuro – esses jovens 
aprendiam a linguagem culta, hinos antigos, poemas e relatos históricos, doutrinas 
religiosas, o calendário, astronomia, astrologia, preceitos legais e a arte de 
governar. Quanto ao restante da população, sua força de trabalho era dividida de 
acordo com o sexo: os trabalhos agrícolas e artesanais eram de função dos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
homens; as mulheres eram responsáveis pelos trabalhos domésticos, que incluíam 
a elaboração da massa das tortillas (base de milho), fiar e tecer. Havia ainda outras 
especializações como a pesca e a mineração, a construção e as manufaturas. 
 
Figura 2: Império asteca no ano de 1519. 
 
Fonte: Wikimedia Commons 
Disponível em: https://bit.ly/3eEL5Xn 
 
Às vésperas da invasão espanhola a metrópole Asteca denominada México-
Tenochtitlan era o centro administrativo de um complexo conglomerado político e 
socioeconômico. Sua natureza política já foi definida como império, reino, 
confederação e até tribo, mas o que convém compreender é que diversos estados 
daquela região reconheciam o domínio Asteca; ainda que alguns chegassem a ter 
mandatários locais, reconheciam a metrópole como centro do qual saiam as ordens 
e para onde seriam enviados tributos. O idioma de Tenochtitlan, o náhualt, também 
se converteu em língua franca em grande parte da América Central. Foi esse o 
cenário complexo e grandioso que o conquistador Hernán Cortés encontrou em 
1519 quando chegou àquela região, e que em pouco tempo não seria mais o 
mesmo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 ANDES 
Para iniciar nossos estudos sobre a civilização Inca, leiam abaixo a citação 
do historiador Favre (1987, p. 5): 
Quando os espanhóis chegaram ao Peru, em 1532, os Incas já haviam 
estabelecido o seu domínio sobre o planalto e a planície costeira dos 
Andes. Seu Império estendia-se desde Cuzco até a Colômbia, ao norte; e 
até o Chile e a Argentina, ao sul. O brilho de sua civilização atingia o 
Panamá e chegava mesmo às longínquas praias atlânticas do Brasil, sob a 
forma de utensílios de cobre ou ornamentos de ouro e prata transportados 
de tribo em tribo, através da floresta amazônica. Em toda a América do Sul, 
vivendo ainda na Idade da Pedra, somente a Terra do Fogo escapava ao 
fascínio de sua magnificência, que deveria dar origem ao mito do Eldorado 
quando os espanhóis por sua vez foram por ela atraídos 
 
Acredita-se que a chegada da pequena tribo Inca à bacia de Cuzco teria 
acontecido em fins do século XIII. Os recém-chegados, contudo, ocuparam uma 
posição subordinada às tribos já existentes na região, adotando seus traços 
culturais como a língua quéchua. Com o passar do tempo, seus chefes de guerra 
alcançaram importantes vitórias militares, reforçando a posição dos Incas dentro da 
confederação cuzquenha e subordinando as demais tribos sob sua autonomia. Por 
volta do ano de 1400, dezenas de aldeias periféricas já estavam sob os domínios 
dos Incas e seu poder se expandia com o passar dos anos e dos avanços militares 
sob as demais tribos da região. Impressiona o tamanho que o Império atingiu nessa 
afã expansionista:Favre (1987) afirma que seu território alcançou cerca de 950 mil 
quilômetros quadrados, se estendendo do norte a sul das cordilheiras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
Figura 3: Expansão do Império Inca de acordo com os principais Imperadores 
 
Fonte: Wikimedia Commons 
Disponível em: https://bit.ly/2CySrgO 
 
A população andina se organizava a partir de pequenas coletividades 
agropastoris em aldeias em altitude muito elevada (oscilando entre 3600 e 3800 
metros acima do nível do mar). Essas aldeias eram habitadas por um conjunto de 
famílias unidas por laços de parentesco ou aliança, chamado de ayllu. 
Segundo Favre (1987), esses grupos não podem ser considerados nem clãs 
e nem linhagens, sendo a filiação traçada em linha masculina direta para os 
homens e em linha feminina direta para as mulheres, ou seja: homens são 
descendentes e carregam o nome do pai e mulheres descendem e carregam o 
nome da mãe, sistema que perdurou quase até o fim do período colonial. 
Essas famílias que constituíam um ayllu reconheciam um chefe, chamado de 
kuraka, geralmente o fundador do grupo. Era ele quem distribuía as terras, 
organizava os trabalhos coletivos e resolvia os conflitos. O pastoreio era praticado 
nas regiões andinas e baseava-se na domesticação de lhamas e alpacas, animais 
que serviam para o transporte, para o artesanato com sua lã, couro e ossos e até 
seus excrementos eram aproveitados como combustível. Se o pastoreio era 
praticado livremente pelas terras, o cultivo era dividido por lotes para cada família, 
onde plantavam quinoa, milho, vagem, pimenta, abóbora, mandioca, algodão e 
especialmente os tubérculos como a batata. Impressionam ainda as técnicas de 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
É fundamental a compreensão sobre o conceito da mita porque será também a partir 
dela que os espanhóis organizarão a exploração do trabalho na colônia. Assim, diferente 
de exigir tributos pagos pelas pessoas subordinadas a ele, o kuraka (e depois os 
espanhóis) era pago por prestações de trabalho. A tributação só aparecerá nos Andes 
com a conquista espanhola e, segundo Favre (1987), a administração colonial teve 
grande dificuldade em estabelecê-la devido à cultura da mita. 
terraplanagem e irrigação utilizadas pelos Incas para o cultivo de plantas pouco 
adaptadas às áreas frias e secas dos Andes, como o milho. O ayllu era então a 
base da sociedade, situado em redes de relações assimétricas em que um deles 
comandava todos os outros, organizando-se em grupos locais chefiados por esse 
kuraka superior aos demais ayllu. O kIuraka detinha um território cuja manutenção 
era obrigação dos ayIllu submetidos a ele: “nessas terras de extensão variável, a 
limpeza, a semeadura e a colheita eram feitas antes das dos lotes individuais pela 
coletividade de homens adultos que se mobilizava durante o ano na época de tais 
operações” (FAVRE, 1987, p. 36). 
Outra obrigação dos ayllu era deixar à disposição do kuraka uma certa 
quantidade de trabalhadores que ficariam responsáveis por seu rebanho, por fiar, 
tecer e realizar diferentes tarefas. Todos os homens adultos, assim, eram obrigados 
a alternarem-se na prestação desse serviço, conhecido como mita. 
 
O governo e a administração do Império Inca partiam da cidade de Cusco, 
sua capital. Era por ali que passavam duas linhas imaginárias que dividiam o 
Império em quatro e cada uma dessas sessões era dividida em unidades de dez mil 
famílias, que se dividiam em unidades de mil, de cem e de dez famílias; a lógica 
dos ayllu, assim, se estendia por todo o Império, cabendo aos trabalhadores 
também prestarem serviço nas terras do Imperador, também chamado de Sapa 
Inca. O controle de toda essa população era feito por um complexo sistema de 
censo que impressionou os europeus. Utilizando o quipo, um aparato com 
cordinhas e nós, se contava a população e controlava-se a mão de obra disponível 
em tão extenso território. Os serviços prestados pela população foram fundamentais 
na construção de um complexo sistema de estradas e pontes (com mais de 16 mil 
quilômetros de extensão) que interligava todo o Império e possuía inclusive um 
sistema de comunicação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
Figura 4: Quipo ou quipu, parte do acervo do Museu Larco, em Lima (Peru). 
 
Fonte: Wikimedia Commons 
Disponível em: https://bit.ly/3hROTGx 
 
Diferente da Europa e para espanto dos espanhóis, o governo do Império 
Inca não era hereditário, ainda que por vezes os filhos conseguissem assumir após 
a morte do pai. O fim de cada reinado abria, assim, um período de anarquia e luta 
pelo poder, sempre marcado pela violência e pela busca de autonomia de partes do 
Império que aproveitavam a paralisia administrativa. Favre (1987, p. 52), “o Império 
renascia a cada novo imperador”. 
Conseguindo o poder, o imperador era investido pelos sacerdotes como filho 
do Sol. A adivinhação era utilizada pelo imperador como política imperial e era 
através dela que ele manipulava o sobrenatural para justificar suas ações; o 
imperador tornava-se, assim, o mediador das relações deste mundo com o 
sobrenatural, cabendo a ele abrir os campos para proporcionar a fertilidade do solo 
e varrer as doenças do Império na estação das chuvas. “Não havia nenhum 
fenômeno natural que ele não pudesse interromper” (FAVRE, 1987, p. 57). 
Com o passar do tempo, o Inca, ou Sapa Inca, deixou de ser apenas um 
representante do deus Sol e tornou-se sua encarnação divina. Quando os 
espanhóis conseguiram chegar a Cusco liderados pelo conquistador espanhol 
Francisco Pizarro, em 1533, foram surpreendidos pelo tamanho da cidade e pela 
organização do Império, que mais tarde sucumbiu ao poder da Espanha. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
 
 A INVENÇÃO DA AMÉRICA 
Em primeiro lugar, convém fazer uma pergunta que, desde a pré-escola, 
achamos que sabemos a resposta: quem descobriu a América? Aprendemos desde 
crianças que Cristóvão Colombo, no intuito de chegar às Índias, acabou 
descobrindo o continente que mais tarde receberia esse nome. Mas, se ele não 
sabia o que estava descobrindo, é de fato seu descobridor? É a pergunta que 
coloca o historiador O’Gorman (1992) em seu livro intitulado A invenção da 
América. O exemplo que ele traz é bastante interessante: se em um arquivo um 
zelador encontra um “papel antigo” que, mais tarde, um professor descobrira tratar-
se de escritos de Aristóteles, quem descobriu? Seria correto o zelador ficar com os 
louros do achado já que ele não sabia que aquele documento era algo tão 
excepcional? Se Colombo não sabia que havia encontrado um novo continente, é 
correto que ele tenha sido seu descobridor? E se não, de onde surgiu a ideia de 
que ele teria sido o responsável por encontrar um novo continente? 
O’Gorman (1992) entende que, enquanto alguns investigadores ao longo dos 
séculos tenham afirmado que Colombo sabia ter chegado às Índias, a ideia de uma 
descoberta “por acidente” ou causalidade vigorou ao longo dos tempos. A partir de 
diversos exemplos, diferentes documentos e análises de vários escritos sobre o 
período, O’Gorman concluiu que não havia América em si antes que um europeu 
aparecesse e a denominasse como tal. Mais ainda: não fora Colombo que havia 
feito isso, já que ele nunca soube que havia chegado a um novo continente: seus 
planos eram voltados para alcançar as Índias e, sabendo da circularidade de Terra, 
nas quatro viagens que realizou ele tinha certeza de que havia chegado às Índias 
viajando pelo ocidente. 
 
[...] o mal que está na raiz de todo o processo histórico da ideia do 
descobrimento da América consiste no fato de se ter suposto que esse 
espaço de matéria cósmica, que agora conhecemos como continente 
americano, terá sido isso sempre, quando em realidade só o foi a partir do 
momento em que se lhe atribuiu essa significação e deixará de o ser no dia 
em que, por algumamudança na atual concepção do mundo, já não se lhe 
atribua (O’GORMAN, 1992, p. 63) 
 
Ou seja: aquele pedaço de terra existia desde muito tempo, mas não se 
chamava América, nem estava à espera de ser descoberto: a América, assim, foi 
inventada na medida em que ela ocupou o espaço destinado a um novo mundo que 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
 
já existia na mente europeia há muito tempo. 
O “aparecimento” da América no interior da cultura europeia, assim, não é o 
resultado de uma “súbita revelação de um descobrimento que tivesse exibido, de 
um golpe, um suposto ser misteriosamente abrigado”, mas foi o “resultado de um 
complexo processo ideológico que acabou [...] por atribuir-lhes um sentido peculiar 
e próprio: o sentido do ser da ‘quarta parte’ do mundo” (O’GORMAN, 1992, p. 178-
179). 
A ideia de que o mundo era composto por três partes – Europa, Ásia e África 
– e que foi encontrada “a quarta parte”, assim, foi uma invenção europeia para 
reconhecer, familiarizar-se e inserir o novo continente em seu próprio mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Velhos ameríndios, novos europeus: a (re)invenção do discurso dos viajantes na 
América. Nesse artigo de Bruno Campos Rodrigues você encontrará importantes 
reflexões acerca de como o discurso europeu foi reconstruído a partir do contato com as 
terras do Novo Mundo. Ver em: 
https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6720930. Acesso em: 25 out. 2019 
 
História: o descobrimento da América – José Carlos Vilardaga. Para saber mais 
sobre a época dos Grandes Descobrimentos, assista ao vídeo da VUNESP com a 
entrevista do professor da Universidade Federal de São Paulo, doutor José Carlos 
Vilardaga. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1diWRV9znUw. Acesso 
em: 07 nov. 2019; 
 
Machu Picchu Decodificada (2010) é um documentário produzido pelo canal National 
Geografic que trata das últimas pesquisas sobre essa cidade inca misteriosa, descoberta 
apenas no século XX. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=vqObjWK_W_Y. Acesso em: 06 nov. 2019; 
 
Tenochtitlán: a cidade asteca: Veja a descrição da cidade de Tenochtitlán feita pelo 
conquistador Bernal Diaz del Castillo, disponível no livro organizado pelo historiador 
Jaime Pinsky e disponível na Biblioteca Virtual. MEGGERS, Betty J. América pré-
histórica. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1972 APUD: PINSKY, Jaime (org.). História da 
América através de textos. 11 ed. São Paulo: Contexto, 2010. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
 
 FIXANDO O CONTEÚDO 
1. O que foi a Reconquista? 
a) Foi a expansão dos espanhóis rumo aos novos territórios encontrados. 
b) Foi a retomada do sul da Península Ibérica por portugueses e espanhóis. 
c) Foi a investida espanhola contra o rei francês que havia tomado a região da 
Catalunha. 
d) Foi o momento em que os espanhóis recuperaram a atual Cidade do México dos 
mexicas. 
e) Foi a retomada do território português para os domínios espanhóis. 
 
2. São características que fizeram com que os reinos ibéricos fossem os pioneiros 
nas Grandes Navegações, exceto: 
a) A posição geográfica. 
b) A ameaça dos turcos pelo lado oriental. 
c) O melhoramento tecnológico. 
d) O ideal da Reconquista. 
e) A herança romana 
 
3. Qual cultura pode ser considerada como a “mãe” da cultura da Mesoamérica? 
a) A Maia. 
b) A Olmeca. 
c) A Inca. 
d) A Espanhola. 
e) A Asteca. 
 
4. Quem eram os pipiltin na sociedade Asteca? 
a) Eram as pessoas comum, que trabalhavam a terra. 
b) Eram os familiares do chefe do Império. 
c) Eram os sacerdotes que viviam ao redor do imperador. 
d) Eram os militares que participavam da expansão territorial. 
e) Eram os estrangeiros que viviam nas cidades Astecas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
5. Com a morte do Imperador Inca, quem assumia o governo do Império? 
a) Seu filho primogênito do sexo masculino. 
b) Obrigatoriamente um membro da família como filho ou irmão. 
c) Havia luta generalizada até que alguém conseguisse tomar o poder para si. 
d) A esposa do imperador poderia assumir no caso de não haver filho do sexo 
masculino. 
e) O novo imperador era escolhido pelos sacerdotes de Cusco. 
 
6. Como os tributos eram pagos na sociedade inca? 
a) Eram pagos através de uma porcentagem dos metais preciosos. 
b) Eram pagos com parte da colheita das terras comuns. 
c) Eram pagos através da prestação de serviços. 
d) Não havia cobrança de nenhum tipo na sociedade inca. 
e) Só começou a haver cobranças em geral com a chegada dos conquistadores. 
 
7. Por que Edmundo O’Gorman entende que a América foi “inventada”? 
a) Porque os europeus demoraram centenas de anos para se darem conta que 
haviam descoberto um novo continente. 
b) Porque os europeus confundiram o novo continente com as Índias. 
c) Porque a ideia de América foi construída para atender ao imaginário europeu. 
d) Porque os europeus não levaram em conta o nome que o continente já possuía 
entre os nativos. 
e) Porque Cristóvão Colombo saiu em busca do novo continente desde o início. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
 
Além da interessante discussão proposta por O’Gorman (1992) sobre a descoberta da 
América e o fato de que Cristóvão Colombo nunca soube ter chegado a um novo 
continente, será que é possível utilizar o termo “descobrimento” para terras que já 
contavam com moradores? Qual seria a melhor palavra para descrever a chegada dos 
espanhóis a esse Novo Mundo? 
CONQUISTA E INTEGRAÇÃO DA 
AMÉRICA À ECONOMIA 
EUROPEIA 
 
 
 
 INTRODUÇÃO 
O encontro entre nativos e europeus no chamado Novo Mundo modificou 
para sempre as vidas de ambos, mas certamente quem saiu perdendo foram 
Astecas, Incas e demais povos americanos. Em pouco tempo esses dois 
impérios caíram diante do poder bélico (mas não só) dos espanhóis e esse 
pequeno grupo conquistou e integrou essas regiões à economia europeia, 
fornecendo matéria-prima e metais preciosos para o enriquecimento da Espanha. 
Veremos nessa unidade como se deu a conquista desses povos pelos recém-
chegados e como os novos territórios foram inseridos na Monarquia espanhola, 
sem esquecer da maneira violenta com que a conquista se deu e da importância 
de se pensar o que a chegada dos europeus significou para os povos nativos da 
América. 
 
 A CHEGADA E CONQUISTA DA AMÉRICA 
A expansão ultramarina e a chegada ao novo continente não pode ser 
entendida sem discutirmos os acontecimentos da Europa naquele momento. A 
renovação comercial que ocorria com o fim da Idade Média e a busca por um 
caminho para o Oriente foi fundamental para que portugueses e espanhóis se 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
lançassem na procura por um novo trajeto às Índias. Quando aportaram em um 
novo território e em pouco tempo se deram conta da riqueza que aquele 
continente podia oferecer para suas Coroas, começaram a conquista daqueles 
grandes impérios no intuito de satisfazer aos interesses europeus. 
 
[...] A busca de novos caminhos para atingir o Oriente, terra encarada como 
fonte de riquezas, passou a constituir uma questão de sobrevivência. Era 
preciso enfrentar o Atlântico, explorá-lo, buscando saídas, e para financiar 
um empreendimento desse porte era condição prévia a existência de 
Estados Nacionais com poder político centralizado e recursos financeiros 
volumosos [...]. Logo tratou-se de buscar na América ou Índias Ocidentais, 
como preferiam denominá-la os espanhóis, uma passagem para atingir as 
Índias Orientais, o que somente foi conseguido com a expedição de Fernão 
de Magalhães (1519-1522). Contudo, o contato com as riquezas Asteca e 
Inca acabou por atrair o interesse dos espanhóis, que passaram a ocupar-
se da conquista do novo continente (PINSKY, 2010, p. 23) (PINSKY, 2010, 
p. 23). 
 
A quantidade de novos súditos e o tamanho do território que passava a 
pertencer à Coroa espanhola impressiona quando comparamos aos seus 
domínios na própriaPenínsula Ibérica: com exceção de Portugal, a superfície da 
Península era de 500.000 km2; a América sob o domínio espanhol (excluindo 
assim os domínios portugueses marcados pelo Tratado de Tordesilhas) 
possuía 2.000.000 km2. Seus súditos em Castela e Aragão eram em torno de 
sete milhões; de maneira transitória (já que a conquista significou um enorme 
número de vítimas), a América significava mais 50 milhões de súditos para a 
Coroa espanhola (ELLIOTT, 1990). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Elliott (1990) compreende a conquista do continente americano pelos 
espanhóis por duas frente: a que foi responsável pela tomada do território asteca e 
TRATADO DE TORDESILHAS: Após as notícias da chegada de Cristóvão Colombo às 
novas terras, a Coroa espanhola se apressou em pedir ao Papa os direitos sobre os 
territórios encontrados. Assim, Alexandre VI concedeu à Espanha os direitos sobre as 
terras que estivessem a 100 léguas a oeste das ilhas dos Açores e Cabo Verde. Os 
portugueses não concordaram com a marcação e novas negociações resultaram na 
assinatura do Tratado de Tordesilhas (7 de junho de 1494) que estabelecia um 
meridiano passando a 370 léguas a oeste de Cabo Verde: a ocidente da linha seriam 
terras espanholas e a oriente, terras portuguesas (AB’SABER et al., 2007, p. 41). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
 
a que foi pelo sul, conquistando o império inca. Ainda segundo o historiador, a 
América espanhola continental foi conquistada entre os anos de 1519 e 1540: na 
região do México, entre os anos de 1519 e 1522 ocorreu o domínio dos astecas e o 
trajeto em direção ao norte, levando mais vinte anos para que centros maias como 
Yucatán fossem submetidos ao governo espanhol – entre 1529 e 1536, Nuño 
Guzmán criou o reino de Nova Galícia na região norte e oeste do México; a outra 
frente começou pelo atual Panamá, chegou até a Nicarágua e depois seguiu a rota 
do Pacífico em direção ao sul para a conquista do império inca entre 1531 e 1533 – 
depois do Peru, os conquistadores foram para o norte de Quito (1534) e Bogotá 
(1536), onde encontraram outros grupos que desciam das costas venezuelanas e 
colombianas. 
Ainda que houvesse a superioridade populacional elencada acima, a 
diversidade dos diferentes povos do continente americano favoreceu aos 
espanhóis. Além disso, nos dois impérios – Inca e Asteca – houve muitos povos 
que se voltaram contra o controle central, o que permitiu aos espanhóis colocar um 
grupo contra o outro e mesmo contra o chefe que odiavam e, após sua derrota, 
assumirem a liderança de povos já acostumados à subordinação. Outra vantagem 
dos invasores foram os cavalos (ainda que levassem poucos com eles, 
surpreendiam o inimigo) e a tecnologia empregada nos ataques contra os nativos. 
Mesmo que os espanhóis estivessem portando equipamentos distantes do poderio 
bélico encontrado na Europa, as armas de pedra e madeira de Astecas e Incas não 
eram comparáveis ao aço trazido por eles. 
 
 A CONQUISTA DO IMPÉRIO ASTECA 
O conquistador Hernán Cortés saíra da ilha de Cuba em fevereiro de 1519 
com 11 barcos, mais de 500 soldados e 110 marinheiros em direção à costa do 
México no intuito de dominar aquele território. Pouco antes de desembarcar, ficara 
sabendo de um governante poderoso chamado Montezuma, e seu intuito era fazer 
com que esse líder reconhecesse como seu senhor o rei da Espanha – 
transformando, portanto, todos os seus “súditos” em súditos do rei espanhol. O 
encontro dos dois ocorreu em 12 de novembro de 1519 e Cortés e seus soldados 
foram recebidos como convidados na cidade de Tenochtitlan. No percurso ao 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
 
Depois de conhecermos todos os males que os espanhóis e a colonização europeia 
viriam trazer aos nativos do Continente Americano, podemos nos perguntar por que 
eles não se rebelaram quando ainda estavam em um número muito superior diante 
dos poucos espanhóis que ainda estavam por aqui? Tzevetan Todorov explica que 
esses povos estavam acostumados à mesma exploração pelo governo Asteca e, 
portanto, parte deles encarou Hernán Cortés como alguém que os libertaria do jugo 
de Montezuma. 
interior que fez desde a costa, contudo, Cortés apresentou-se às tribos subjugadas 
pelo poder central – muitas vezes através da violência e dos tributos ostensivos – 
como um libertador, o que lhe deu aliados para o passo seguinte de prender 
Montezuma. 
O governador de Cuba enviou uma expedição contra Cortés que, sabendo de 
sua chegada, voltou ao litoral, deixando Montezuma sob o encargo de Pedro de 
Alvarado. Enquanto Cortés ganhava a batalha contra seus próprios compatriotas, 
Alvarado matou um grupo importante de astecas em uma festa religiosa e iniciou 
uma guerra. Na volta de Cortés para a capital, a cidade já estava sitiada, o que 
resultou na morte de Montezuma (até hoje mal explicada) e na noche triste ou Noite 
Triste, momento em que o conquistador tentou deixar a cidade, mas acabou 
perdendo metade de seus homens. 
Hernán Cortés voltou quatorze meses depois com as forças recuperadas e, 
sitiando a cidade ao cortar suas vias de acesso – já que se localizava no meio de 
um lago – e construir velozes bergantins, em poucos meses conquistou a cidade, 
levando cerca de dois anos nessa ação (TODOROV, 1998). 
Elliott (1990) explica ainda que as doenças levadas pelos espanhóis também 
ajudaram na conquista da cidade: especialmente em regiões muito povoadas como 
o México Central, as epidemias auxiliaram a diminuir a capacidade e a vontade de 
resistir, auxiliando na rapidez e no êxito espanhol. 
 
 
 
 
 
 
[...] o ouro e as pedras preciosas que atraíam os espanhóis já eram retidos 
como impostos pelos funcionários de Montezuma; não parece ser possível 
rejeitar essa afirmação como invenção dos espanhóis com o intuito de 
legitimar sua conquista [...] muitos testemunhos vão no mesmo sentido. [...] 
Há muita semelhança entre antigos e novos conquistadores e esses 
últimos o entenderam assim, porque eles mesmos descreveram os astecas 
como invasores recentes, conquistadores comparáveis com eles 
(TODOROV, 1998, p. 65, tradução nossa). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
 
 A CONQUISTA DO IMPÉRIO INCA 
Assim como Cortés na região do México, Francisco Pizarro também se 
aproveitou das tensões internas do Império Inca para conquistá-lo. As primeiras 
notícias de um império rico e poderoso ao sul começaram a chegar no Panamá no 
ano de 1523. O conquistador foi à Espanha entre os anos de 1528 e 1530 para tratar 
da conquista com a Coroa e trazer soldados para a ação, que se iniciou saindo do 
Panamá já em janeiro de 1531. A estrutura do Estado Inca, com as demandas de 
mão de obra reguladas de maneira meticulosa (a mita) pressionava os ayllus criando 
uma população submetida que, ainda que dócil, estava também ressentida, 
especialmente na região de Quito, onde o domínio Inca era relativamente recente 
(ELLIOTT, 1990). 
 
A medida que a área da conquista inca se estendia, os problemas de 
controle centra de Cuzco aumentavam, não obstante todas as guarnições 
cuidadosamente situadas e a complexa rede de comunicações. Esse rígido 
sistema de controle uniforme, mantido por uma casta de governantes Incas, 
só poderia funcionar com eficácia enquanto a própria casta mantivesse sua 
coesão e unidade interna, mas a morte de Huayna Cápac em 1527 
conduziu a uma luta pela sucessão entre seus dois filhos Huáscar e 
Atahualpa (ELLIOTT, 1990, p. 152, tradução nossa). 
 
Pizarro iria então se aproveitar dessa luta interna para conquistar o império, 
seguindo os passos de Cortés ao sequestrar o então imperador Atahualpa no intuito 
de transferir para os espanhóis o controle do império. O resgate pedido para libertar 
o imperador inca equivalia à produção europeia de ouro de meio século. Mesmo 
assim, o sistema imperial organizado foi capaz de pagar o valor pedido, o que 
significou não a libertação de Atahualpa, mas sua morte. No ano de 1533, osconquistadores tomaram a cidade de Cuzco e Pizarro nomeou o meio-irmão do 
imperador, chamado Manco Inca, para ter um inca como chefe que lhe serviria de 
marionete. A principal diferença entre a conquista do México e a do Peru foi que a 
geografia do sul dificultou sobremaneira a manutenção da conquista, tendo em vista 
que uma cidade longe da costa e de difícil acesso como Cuzco não beneficiaria a 
Coroa espanhola, o que fez com que Pizarro fundasse a cidade de Lima (1535), no 
litoral. Deixar o centro administrativo enfraqueceu seus domínios e o conhecimento 
territorial da população tornou possível a organização de revoltas e rebeliões ao 
longo dos anos. O próprio Manco Inca reagrupou forças incas no intuito de derrotar 
os espanhóis em revoltas que sacudiram o império entre os anos de 1536-1537, mas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
 
que não foram suficientes (ELLIOTT, 1990). 
 
 
 
 
 
 
 
 A INTEGRAÇÃO À ECONOMIA EUROPEIA 
O porto de Sevilha foi escolhido para fazer a ligação entre a Coroa 
espanhola e a América, sobretudo porque a Casa de Contratação se estabeleceu 
naquela cidade logo no ano de 1503. Na América, as cidade de Lima e Cidade do 
México tornaram-se os centros do império colonial espanhol, conectadas à 
Espanha através da região do Caribe: o México pelo porto de Vera Cruz e o Peru 
pelo istmo do Panamá. Essas cidades e os portos da região do Caribe se 
desenvolveram e existiam a partir das “carreiras”, ou seja, grupos de caravelas que 
atravessavam o oceano normalmente duas vezes ao ano, em conjunto, para evitar 
os ataques de piratas. Elas traziam manufatura e artigos alimentícios como trigo e 
vinho, e voltavam com metais preciosos, madeira e o que mais fosse valioso para a 
Europa (MACLEOD, 1990). 
 
Figura 5: Rio Guadalquivir, Sevilha, 2017 
 
Fonte: Acervo da Autora 
 
 
 
 
 
Regiões tão extensas e populações tão grandes não teriam sido facilmente conquistadas 
pelos espanhóis se já não houvesse uma organização central e a submissão infligida 
pelos impérios asteca e inca. Esses conquistadores, assim, herdaram um processo de 
expansão imperial que continuou depois de sua chegada. A consolidação da conquista só 
foi possível com a utilização do aparato fiscal e administrativo já existente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
CASA DE CONTRATAÇÃO: Local instituído pela Cora espanhola para administrar as 
atividades comerciais, arrecadar impostos e controlar o comércio colonial. Para 
melhorar o controle e evitar o contrabando, todas as mercadorias deveriam entrar por 
Sevilha, o que beneficiou a economia da cidade e a transformou na maior da Espanha. 
Atualmente é o Arquivo Geral das Índias, importante arquivo utilizado pelos 
pesquisadores de todo o mundo que buscam compreender e analisar o período colonial. 
 
 
 
 
 
 
O que poderia ser trazido para a América e produzido aqui para ser levado 
dependia das distâncias enfrentadas pelas caravelas: 
 
Logicamente, o peso e o volume eram ainda mais importantes que a 
duração das mercadorias na hora de decidir que lugares das colônias eram 
adequados para que se produzissem determinadas mercadorias. A cana de 
açúcar, um produto volumoso que necessitava de um cuidadoso processo 
de elaboração naquela época poderia, se fosse plantada em Cuba, por 
exemplo, chegar a Sevilha após uma viagem de 70 dias ainda trazendo 
lucro, enquanto que se fosse plantada nas terras baixas do México, próximo 
a Vera Cruz, depois de uma viagem até Sevilha de 130 dias era muito 
menos provável que fosse rentável (MACLEOD, 1990, p. 57, tradução 
nossa). 
 
Dentre as mercadorias que seriam levadas da América para a Espanha, a 
prata foi sem dúvida a principal delas devido não só ao alto valor que possuía mas 
também porque as principais jazidas se encontravam no México e no Peru. Tudo o 
que era produzido na América, assim, dependia das “carreiras” que chegavam da 
Espanha: se a economia espanhola estava em um bom momento, cultivos menores 
como a cochinilha (Oaxaca) e o anil (San Salvador) prosperavam à sombra da 
exportação da prata, mas em tempos difíceis, com poucos barcos chegando, os 
metais e pedras preciosas tomavam o lugar de qualquer produto marginal. Por fim, 
mas não menos importante, se um produto da América passava a ter maior procura 
na Espanha (por necessidade ou por “moda”), como o açúcar ou o chocolate, seu 
preço aumentava e compensava enviá-los através das distâncias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diferente dos costumes atuais, o chocolate era consumido na forma de uma bebida e, 
segundo a lenda asteca, era conhecido por esse povo há muito tempo. Era uma bebida 
amarga muito apreciada que possuía qualidades nutritivas, curativas e estimulantes, 
além de significados sociais e religiosos. Os espanhóis não só adaptaram a bebida 
adicionando açúcar, pimenta e canela como também aprimoraram sua técnica de 
fabricação, exportando para a Metrópole e depois espalhando para outras cortes 
europeias. Mesmo com diferenças nas formas de consumo e produção, o chocolate 
manteve durante os séculos XVII e XVIII muitos dos atributos que os nativos 
americanos lhe conferiam (ALGRANTI, 2009, p. 403). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Encontro de duas culturas: América e Europa. Neste artigo de Francisco Iglesias, o 
autor irá discutir os problemas em se chamar a chegada do europeu à América de 
“descobrimento” e como foram os embates entre as duas culturas. Disponível em: 
 http://www.scielo.br/pdf/ea/v6n14/v6n14a03.pdf Acesso em: 11 de nov. de 2019 
 
Construindo um Império Astecas: vídeo produzido pelo Canal History Channel traz 
uma explicação sobre o Império Asteca a partir da reconstrução do período para 
discorrer sobre a tecnologia empregada por esse povo, costumes, religião e 
organização. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=IayVQQf6Qko Acesso em: 13 nov. 2019 
 
A Era dos Descobrimentos 15/09/2019: nesse vídeo produzido pela TV Cultura para a 
comemoração dos 500 anos da circunavegação, podemos compreender melhor como 
era o período das Grandes Navegações com o auxílio de reconstruções e entrevistas 
com especialistas. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=SoQtSgLmOH8 Acesso em: 15 nov. 2019. 
 
História da América Latina, do autor Stefan Rinke: procure o capítulo 3 denominado 
“Descobrimento, conquista e construção do Império colonial (1492-1570) onde o autor 
analisa como se deu a organização dos espanhóis na América. Disponível na Biblioteca 
Virtual em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/54526/epub Acesso em: 
26 fev. 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
 
 FIXANDO O CONTEÚDO 
1. De acordo com Jaime Pinsky, qual era a ideia inicial dos espanhóis quando 
chegaram ao continente americano? 
a) Os espanhóis já chegaram com o intuito de encontrar metais preciosos. 
b) Retirar a maior quantidade de matéria-prima possível para enviar para a Espanha. 
c) Buscavam apenas um caminho para as Índias Orientais. 
d) Queriam negociar com os imperadores asteca e inca em nome do Rei Espanhol. 
e) Tinham o intuito de começar as primeiras cidades fora da Europa em nome da Coroa 
Espanhola. 
 
2. O que foi o Tratado de Tordesilhas? 
a) Foi um acordo entre as Coroas de Aragão e Castela sobre a divisão do Continente 
Americano. 
b) Foi um Tratado que estabeleceu a divisão dos vice-reinados nos domínios espanhóis. 
c) Foi um acordo entre o Rei Espanhol e o Rei Português para dividir o território do atual 
Brasil. 
d) Foi um tratado entre Portugal e Espanha, mediado pelo papa, para estabelecer os 
domínios das duas Coroas no Novo Mundo. 
e) Foi um acordo imposto por Hernán Cortés ao Imperador Asteca na conquista do México. 
 
3. Foram vantagens dos espanhóis na conquista da América, exceto: 
a) A chegada de muitos soldados e armamentos vindos em navios da Espanha justamente 
para a conquista. 
b) Os cavalos ea tecnologia trazida da Espanha, que mesmo inferior à que vinha sendo 
utilizada na Europa, ainda significou vantagem diante dos nativos. 
c) A centralização do poder nos Impérios Asteca e Inca. 
d) A insatisfação dos povos submetidos aos impérios da América, que acabaram virando 
aliados dos espanhóis. 
e) A confiança de Montezuma em Hernán Cortés, que pode aprisioná-lo sem muito esforço. 
 
4. O que foi a Noche Triste ou Noite Triste, que ocorreu durante o período da Conquista da 
América? 
a) Foi a saída de Hernán Cortés de Cuba rumo ao México. 
b) Foi a tentativa de Hernán Cortés e seus homens de deixar a cidade de Tenochtitlan em 
que mais da metade deles foram mortos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
 
c) Foi a quebra da promessa de Montezuma de apoiar o governo de Cortés no México. 
d) Foi o nome da batalha em que Hernán Cortés participou na costa do México, quando o 
governador de Cuba enviou tropas contra ele. 
e) Foi a sangrenta batalha envolvendo os homens de Montezuma e os de Cortés na cidade 
de Lima. 
 
5. Qual o principal motivo que fez com que os espanhóis conseguissem, em relativo 
pouco tempo, subjugar uma população de milhões de pessoas e espalhada 
sobre um grande território? 
a) A rapidez da conquista se deve principalmente ao armamento trazido pelos espanhóis. 
b) A técnica de guerra trazida pelos espanhóis foi a principal causa do rápido domínio da 
América. 
c) O poder centralizado dos impérios e o ressentimento dos povos subjugados foram os 
principais motivos da facilidade da conquista. 
d) Montezuma e Manco Inca se entregaram e passaram a seguir as ordens dos 
conquistadores, o que fez com que a população também se rendesse aos espanhóis. 
e) Tanto Hernán Cortés como Francisco Pizarro foram homens extremamente violentos e 
pouco diplomáticos, o que resultou na rapidez da conquista. 
 
6. O que ocorria no interior do Império Inca que foi utilizado por Francisco Pizarro 
na conquista do Peru? 
a) Uma epidemia que enfraqueceu a população. 
b) Uma luta interna pelo poder entre os filhos do imperador 
c) A tentativa de tomada de poder pelos sacerdotes do templo. 
d) A morte prematura do imperador sem deixar herdeiros. 
e) Uma rebelião interna dos ayllus contra o poder central. 
 
7. A partir da história da América, qual a origem das duas atuais capitais do Peru e 
do México? 
a) Tanto Lima como a Cidade do México são cidades de origem Pré-Colombiana. 
b) Lima foi fundada pelo Imperador Inca enquanto a Cidade do México teve origem após o 
domínio espanhol. 
c) A capital do Peru foi fundada para facilitar o domínio espanhol no período colonial, 
enquanto a cidade do México tem fundação mais recente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
 
d) Lima e Cidade do México são cidades recentes que não tem relação com o período 
colonial da América. 
e) Enquanto Lima foi fundada para facilitar o domínio espanhol (na costa), a Cidade do 
México foi erguida em cima da antiga capital Asteca. 
 
8. Escolha a alternativa que contém a melhor explicação sobre como os espanhóis 
escolhiam quais mercadorias produzir e levar para a Europa a partir da América: 
 
a) Os espanhóis se preocupavam com o peso e o volume que a mercadoria ocuparia na 
caravela. 
b) O preço da mercadoria influenciava o que seria produzido e levado da América para a 
Espanha. 
c) A duração do produto influenciava onde ele seria produzido para chegar à Espanha 
ainda levando lucros aos espanhóis. 
d) Se a demanda de um produto crescia devido à moda – como por exemplo o chocolate – 
compensava levá-lo da América para a Espanha. 
e) Todas as anteriores estão corretas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
GOVERNO E ECONOMIA NA 
AMÉRICA COLONIAL 
 
 
 
 INTRODUÇÃO 
Nesta unidade iremos discorrer sobre como se organizou a sociedade 
colonial na América espanhola. Após a conquista, diferentes dispositivos foram 
utilizados não só para submeter as populações nativas como para extrair delas a 
força de trabalho necessária na exploração das novas terras: além das minas de 
ouro e prata encontradas ainda nas primeiras décadas após a conquista, lavouras e 
pecuária foram estabelecidas em algumas regiões e a mão de obra nativa e de 
escravizados vindos do continente africano foi utilizada. 
Por fim, traremos ainda a interessante discussão proposta pelo historiador 
Serge Gruzinski sobre a mestiçagem e estabelecida na América a partir do encontro 
entre as culturas nativas e a europeia. Veremos assim que, sem esquecer a 
violência com que a conquista foi perpetrada, ocorreu na América a mistura de 
diferentes culturas cujos representantes aprenderam com o passar dos anos a 
conviver. 
 
 ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA COLONIAL 
Após a conquista, a Coroa Espanhola teve de organizar a administração do 
território e o fez a partir de suas próprias perspectivas; assim, muito do que foi 
utilizado para o governo da América veio da Europa e essa herança permaneceu 
durante muito tempo. Desde Madri, cidade escolhida como capital no ano de 1561, 
funcionava o Conselho das Índias, órgão de caráter consultivo responsável por 
levar ao monarca diversas questões a serem definidas. Nas Índias, os funcionários 
reais estavam atados por cadeias de papel ao governo central na Espanha, de onde 
chegavam com frequência resoluções sobre os mais variados assuntos (ELLIOTT, 
1990). 
 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
 
Pena, tinta e papel eram os instrumentos com os quais a coroa espanhola 
respondia aos desafios sem precedentes da distância, implícitos na 
possessão de um império de dimensões mundiais [...] Interessante notar 
que, dos 249 membros do Conselho das Índias até o ano de 1700, apenas 
7 estiveram presentes em alguma audiência em solo americano antes de 
se tornarem membros do Conselho, ou seja, “inevitavelmente, tinham a 
tendência de ver os problemas das Índias através do prisma de sua 
experiência peninsular (ELLIOTT, 1990, p. 06-07, tradução nossa). 
 
Nos primeiros anos da conquista, os principais representantes da coroa 
espanhola nas Índias eram os governadores, muitos deles reconhecidos como os 
primeiros conquistadores da América hispânica. O governador dispunha dos nativos 
e da terra, o que incentivava novas expedições e tornava-se, naquele início, a 
maneira ideal de ampliar o governo espanhol no novo continente. Após os primeiros 
anos, contudo, essa função começou a ser burocratizada e os novos nomeados 
deixaram de ser conquistadores para serem administradores, com funções judiciais 
e militares. A unidade administrativa mais importante das Índias seria o vice-reinado 
(ELLIOTT, 1990). 
Assim, as colônias espanholas foram divididas em quatro vice-reinos: Nova 
Espanha, Nova Granada, Peru e Rio da Prata. O vice-reino da Nova Espanha foi o 
conquistado por Hernán Cortés e compreende os atuais territórios do México, parte 
da América Central e parte dos Estados Unidos; O vice-reino do Peru, conquistado 
por Francisco Pizarro e Diego de Almagro compreende o atual Peru e parte da 
Bolívia; o vice-reino de Nova Granada era formado pelos países da Colômbia, 
Panamá e Equador; por fim, o vice-reinado do Rio da Prata era formado pela atual 
Argentina, Paraguai, Uruguai e ainda partes da Bolívia e do Peru – mas foi o vice-
reinado que permaneceu “marginal” à administração por não conter riquezas 
(PROBST, 2016). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O vice-rei era o representante do rei no Novo Mundo, possuindo corte em um palácio e 
trazendo com ele uma espécie de aura cerimonial da monarquia. Ele combinava os 
atributos do governador e do capitão geral (militar) e era considerado também o 
principal representante judicial da coroa. Assim, o prestígio do cargo e as possibilidades 
financeiras que oferecia transformaram a função de vice-rei em algo muito atrativo aos 
nobres castelhanos (ELLIOTT, 1990). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
 
A administraçãodo Novo Mundo era realizada através de leis e decretos 
vindos de Madri, sobretudo por provisões ou reais cédulas, assinadas diretamente 
pelo rei e que traziam as mais variadas ordens ou leis gerais a serem seguidas pelo 
representante real. Diferente do vice-rei que cumpria um tempo máximo em terras 
americanas (em torno de seis anos), os responsáveis pela justiça denominados 
ouvidores não possuíam um limite de tempo, o que proporcionava um importante 
elemento de continuidade nas chamadas Audiências, responsáveis por “guardar a 
lei” no Novo Mundo. Sua relação direta com o Conselho das Índias em Madri 
também os situava em local ideal para fiscalizar o vice-rei e enviar para a Coroa 
qualquer irregularidade cometida por seu representante. 
Cada cidade possuía seu próprio conselho ou cabildo, uma espécie de 
corporação que regulava a vida de seus habitantes e supervisionava as 
propriedades públicas como terras, bosques e pastos comunais. Compunham os 
cabildos os mais proeminentes membros da oligarquia local, que poderiam ser 
funcionários judiciais (alcaides) ou regedores, responsáveis pela economia e a 
administração municipal. Os governos das cidades eram, assim, corporações 
fechadas que representavam mais os interesses desse pequeno grupo do que o do 
restante dos moradores (ELLIOTT, 1990). 
 
 
No seio da elite criolla nas colônias desenvolvia-se um tipo passivo de 
resistência que pode ser reconhecido no lema ‘obedece-se, porém não se 
executa’. Isso relacionava-se ao fato de que o vice-rei podia requerer uma 
revisão das instruções do real e Supremo Conselho das Índias, quando 
aquelas não estavam adaptadas à realidade americana. Mais tarde, aquele 
princípio de resistência passiva seria usado em todos os níveis da 
administração. Além disso, havia ainda a corrupção na esfera executiva da 
administração, cuja existência já era reconhecida na fase inicial da 
conquista e que mais tarde iria estender-se até o cargo do vice-rei (RINKE, 
2017, p. 41). 
 
Nos primeiros duzentos anos do período colonial, o setor mineiro se 
desenvolveu e foi fundamental para a economia metropolitana. O primeiro contato 
com os grandes Impérios Asteca e Inca já havia demonstrado a existência dos 
metais preciosos no novo continente. As descobertas, assim, ocorreram logo nas 
primeiras décadas após a conquista e necessitavam de grande quantidade de mão 
de obra indígena. O recrutamento dessa mão de obra era realizado por sorteios e 
esses trabalhadores eram enviados às minas, retornando depois para serem 
substituídos por novos contingentes. Os espanhóis, assim, se aproveitaram do 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
sistema de trabalho inca conhecido como mita para fazer funcionar sua extração de 
metais preciosos na colônia (STEIN, 1976; apud PINSKY, 2010). 
Outra maneira utilizada para explorar a mão de obra nativa foi denominada 
de encomienda, um sistema que teve seu auge nas primeiras décadas após a 
conquista e que foi aos poucos sendo deixado de lado – ainda que tenha 
sobrevivido pontualmente em algumas regiões. Consistia no direito do espanhol 
sobre a terra e a um grupo de indígenas utilizado para o trabalho, no intuito de 
catequizá-los e pacificá-los em nome da Coroa. A escravidão indígena também foi 
utilizada, principalmente a partir do argumento da “Guerra Justa” e dos ideais da 
Reconquista que permaneciam no imaginário espanhol (veja a “controvérsia de 
Valladollid, no capítulo a seguir). Ainda na primeira metade do século XVI, contudo, 
a escravidão indígena foi abolida por Carlos V e não só a própria encomienda como 
outras maneiras foram empregadas para fazer com que o indígena americano 
trabalhasse para o espanhol. Mesmo assim, passou-se a utilizar com cada vez mais 
frequência na América o trabalho de africanos escravizados, especialmente após a 
anexação portuguesa aos domínios espanhóis, o que permitiu vários acordos entre 
os portugueses que já dominavam esse mercado (OHMSTEDE, 2014). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A orientação exportadora – característica inicial da economia latino-
americana e, até hoje, seu traço dominante e uma de suas principais 
heranças – foi o produto dos dois primeiros séculos do colonialismo 
espanhol e da forte expansão da mineração no altiplano e nos Andes 
centrais, regiões que até então abrigavam culturas avançadas, detentoras 
de tecnologia agrícola e densidade populacional. Foi exatamente nessas 
regiões que os espanhóis abriram minas e criaram os subsetores 
vinculados aos núcleos mineiros e às grandes propriedades fundiárias 
dedicadas à lavoura e à pecuária (STEIN, 1976; apud PINSKY, 2010, p. 
44). 
 
 
Em 1580, após o desaparecimento do jovem rei português Dom Sebastião no norte da 
África, Portugal foi anexado aos domínios do rei espanhol Felipe II. Por sessenta anos, 
Portugal fez parte da Monarquia Hispânica, período que ficou conhecido como União 
Ibérica. Em 1640, parte da nobreza portuguesa decidiu separar Portugal dos domínios 
de Felipe IV (neto de Felipe II), movimento denominado de Restauração Portuguesa. 
Depois de quase vinte anos de guerras bélicas e diplomáticas, finalmente Portugal teve 
sua autonomia reconhecida pela Espanha e por Roma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
 
Figura 6:: Imagem do Codex Kingsborough, conhecido também como Codex Tepetlaoztoc, 
manuscrito do século XVI que retrata os abusos dos encomenderos no México. Museu Britânico 
 
Fonte: Wikimedia Commons 
Disponível: https://bit.ly/37UX9AY 
 
Setenta ou oitenta anos foram necessários para que os espanhóis 
ocupassem o território que viria a se tornar seu império na América. Ao final do 
século XVI sua economia baseava-se: nos enclaves mineradores no México e no 
Peru; em áreas de agricultura e pecuária nas periferias desses enclaves e que 
forneciam gêneros alimentícios e matérias-primas; em um sistema comercial 
voltado para o envio da prata e do ouro para a Espanha, que retornava em produtos 
para as colônias. O sucesso da empresa mineira, de acordo com Stanley Stein, se 
deveu, assim, ao excedente agrícola e às habilidades e mão de obra indígenas. 
Esse sucesso, porém, dizimou essa população e destruiu as estruturas agrárias 
anteriores à conquista, (STEIN, 1976 apud PINSKY, 2010, p. 44). 
 
 A MESTIÇAGEM NO NOVO MUNDO 
As relações estabelecidas entre espanhóis e nativos americanos foram 
objeto da investigação de grandes historiadores ao longo dos anos. Serge Gruzinski 
foi um deles e introduziu o conceito de mestiçagem para trabalhar com os encontros 
ocorridos no Novo Mundo. Sem esquecermos a violência empregada pelos 
conquistadores, podemos pensar com a ajuda de Gruzinski em um processo de 
“mistura” de culturas ocorrendo na América no primeiro século após a conquista – o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
 
que o historiador entende como mestiçagem. Não só os nativos buscavam 
conhecer e adaptar-se aos invasores, mas também os próprios espanhóis 
aprenderam com a cultura asteca e inca ao longo dos anos. São vários os 
exemplos que esse autor elenca em seu livro As quatro partes do mundo, em que 
analisa as relações e os processos culturais que foram estabelecidos a partir da 
“mundialização” ocorrida após as Grandes Navegações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O mundo mestiço descrito pelo historiador pode ser encontrado em 
diferentes esferas da sociedade do Novo Mundo, como por exemplo nas questões 
do trabalho. Em poucas décadas os indígenas da Cidade do México aprenderam os 
ofícios europeus e os realizavam com perfeição, herdeiros que eram de velhas 
tradições artesanais e curiosos com as novidades trazidas da Espanha. 
 
O primeiro ofício espanhol adotado pelos índios é o de alfaiate, ‘porque não 
era difícil demais’. Outros se põem a fabricar cadeiras e todos os tipos de 
instrumentos de música: ‘Fazem flautas e fundem saquebutes [espécie de 
trompete] de boa qualidade’. Outros ainda aprendem a manejar teares de 
Castela. Em 1543, o cronistafranciscano Motolínia faz um balanço 
entusiasta: ‘Eram incontáveis os índios ferreiros, serralheiros, fabricantes 
de freios, cuteleiros’. As ferramentas em ferro do Velho Mundo já 
substituem as ferramentas tradicionais [...]”. Adquirindo as técnicas 
europeias, os ‘naturais’ se familiarizam com novas matérias: a lã, o couro, o 
ferro, o papel, os pigmentos de origem espanhola (GRUZINSKI, 2014, p. 
101). 
 
Esse aprendizado veio com a ajuda sobretudo dos homens da igreja, no 
início preocupados apenas com a atividade missionária. O ensino dessas técnicas 
também era uma maneira de controlar e ter autoridade sobre “esses dóceis 
 
A partir de um relato escrito pelo cronista asteca Domingo Francisco de Chimalpahin 
sobre a morte do rei francês Henrique IV, notícia escrita em língua nativa, em seu 
próprio diário e apenas 4 meses após o ocorrido, Gruzinski inicia sua análise sobre os 
horizontes intercontinentais que se abriam já no século XVI: a notícia do assassinato do 
rei francês, portanto vinda de Paris, passou por Madri, chegou a Sevilha e terminou na 
Cidade do México. Na mesma época, pintores japoneses também representavam o rei 
Henrique IV em companhia de outros príncipes do mundo em seus biombos. A 
monarquia espanhola, assim, se distinguia pelas circulações planetárias de seus 
membros, das informações e dos produtos que comercializava, processo denominado 
por Gruzinski como mundialização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 
trabalhadores cristãos”, já que era dentro dos conventos que se estabeleciam no 
Novo Mundo que ocorria o ensino de vários ofícios para os indígenas já convertidos 
(GRUZINSKI, 2014). 
A reação dos artesãos indígenas demonstra, assim, uma dimensão menos 
visível das relações que se estabeleceram no Novo Mundo já que havia uma 
participação ativa dos vencidos na implantação de uma nova organização do 
trabalho pela iniciativa e pelo voluntarismo dos próprios indígenas, que muitas 
vezes espionavam o artesão europeu que não queria compartilhar seu 
conhecimento. Essa autonomia, contudo, em pouco tempo é perdida e os mestres 
espanhóis tornam-se patrões exploradores do trabalho dos artesãos indígenas. 
Ainda que esse conceito seja interessante para a compreensão do que ocorria na 
América após conquista, não podemos esquecer que o contato entre as duas 
culturas foi marcado pela violência e pelo extermínio de uma sobre a outra. 
Reconhecer como os povos invadidos aprenderam a lidar com a violência que 
sofreram demonstra sua habilidade de adaptação, mas não diminui o genocídio 
ocorrido no Novo Mundo. Os resultados desse contato e da exploração podem ser 
vistos até os dias de hoje, com as populações descendentes ocupando as camadas 
mais baixas das sociedades latinas no que diz respeito à moradia, trabalho, 
alfabetização, saúde e renda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gruzinski, Serge. O Pensamento Mestiço. Para compreender um pouco mais sobre 
as ideias desse historiador, leia a resenha escrita pelo professor Antonio Carlos Amador 
Gil sobre essa obra de Gruzinski. Nela, ele aponta as principais definições propostas 
pelo autor e esboça brevemente os conceitos centrais de um dos mais importantes 
livros desse historiador. Revista Brasileira de História. Vol. 22 n. 44. São Paulo, 2002. 
Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010201882002000200014&script=sci_arttext. 
Acesso em: 20 nov. 2019. 
 
Maior genocídio da Humanidade foi feito por europeus nas Américas: 70 milhões 
morreram. Neste artigo escrito por Paulo Cannabrava Filho para a Revista Diálogos do 
Sul, o autor analisa as informações fornecidas pelo livro de Marcelo Grondin e Moema 
Viezzer sobre o tema. Segundo a obra, entre 90 e 95% da população nativa foi 
exterminada, o que poderia chegar a 70 milhões de pessoas. Matéria importante para 
conhecer como a exploração, as doenças e a violência dos europeus agiu nas 
populações locais em todo o continente americano e como só a partir do século XX 
políticas públicas começaram a ser pensadas para proteger essa população. Disponível 
em: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/direitos-humanos/58765/maior-genocidio-
da-humanidade-foi-feito-por-europeus-nas-americas-70-milhoes-morreram. Acesso em: 
22 nov 2019. 
 
História da América através dos textos, organizado por Jaime Pinsky: procure o 
tópico denominado “mineração e demografia”, no qual os autores irão analisar quais os 
impactos causados nas populações ameríndias com a chegada dos espanhóis. 
Disponível na Biblioteca Virtual em: 
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/54526/epub. Acesso em: 26 fev. 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
 
 FIXANDO O CONTEÚDO 
 
1. Qual era a função do Conselho das Índias? 
a) Coordenar o comércio com o extremo oriente. 
b) Buscar a colonização da Índia e de outras regiões da Ásia. 
c) Gerir o governo e as decisões das Índias Ocidentais (América), 
d) Controlar a extração de metais preciosos no Peru, 
e) Catequizar os índios da América. 
 
2. Escolha a alternativa que contém os quatro vice-reinados espanhóis na América. 
a) Nova Granada, Nova Sevilha, Rio da Prata e Uruguai. 
b) Nova Espanha, Nova Sevilha, Rio da Prata e Peru. 
c) Nova Granada, Nova Sevilha, Catalunha e Peru. 
d) Nova Espanha, Nova Granada, Peru e Rio da Prata. 
e) Espanha, Nova Sevilha, Rio da Prata e Peru. 
 
3. Quem eram os vice-reis dentro da administração colonial? 
a) Eram funcionários reais responsáveis pela justiça, cuja hierarquia estava abaixo 
do alcaide. 
b) Eram representantes do rei no Novo Mundo e contavam até com corte e palácio. 
c) Eram responsáveis pela aplicação da justiça no Novo Continente. 
d) Eram enviados pelo rei com funções exclusivamente militares. 
e) Junto com os cabildos, controlavam a arrecadação de metais preciosos e a 
aplicação. 
 
4. Explique o que era a encomienda: 
a) Era um prêmio em ouro dado pelo rei espanhol para os conquistadores. 
b) Era um sistema de organização Asteca utilizado pelos espanhóis na conquista. 
c) Era o envio de metais preciosos como ouro e prata para a Europa. 
d) Era uma maneira de organizar o trabalho que consistia na prestação de serviços 
indígenas nas terras dos espanhóis. 
e) Era quando um espanhol obtinha o direito sobre a terra e sobre um grupo de 
indígenas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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5. Em que se baseava a economia espanhola em suas colônias? 
a) Exclusivamente na agricultura da cana-de-açúcar. 
b) No envio de indígenas para trabalhar no continente europeu. 
c) Na exploração das matas nativas para extração de madeira. 
d) Majoritariamente extração de metais preciosos. 
e) No tráfico de africanos escravizados para a América. 
 
6. Mesmo sendo o principal ofício no interior da América colonial hispânica, o vice-
rei obtinha certa desvantagem diante dos ouvidores. Explique qual era essa 
desvantagem. 
a) Os ouvidores possuíam contato direto com o rei espanhol enquanto o vice-rei se 
comunicava apenas com os Conselhos. 
b) O vice-rei permanecia no máximo seis anos nesse ofício, enquanto os ouvidores 
permaneciam por mais tempo, acumulando saberes e interferências. 
c) Os ouvidores eram hierarquicamente superiores aos vice-reis devido aos 
costumes vindos da Espanha. 
d) Os vice-reis tinham de seguir as regras impostas pelos ouvidores no que diz 
respeito às leis em vigor nas principais cidades. 
e) As questões de defesa do território cabiam aos ouvidores e não aos vice-reis, o 
que fazia com que os primeiros obtivessem prêmios superiores quando entravam 
em conflito com indígenas e invasores. 
 
7. Defina o que foi a “mestiçagem”, conceito proposto pelo historiador Serge 
Gruzinski em sua análise sobre as relações entre as culturas na América colonial: 
a) Foi a mistura cultural ocorrida na América no contato entre europeus e 
populações

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