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* Pós-Graduanda em Engenharia Ambiental e Saneamento Básico da Universidade Estácio de Sá. Email carolt.l@hotmail.com. Pegada hídrica e seus componentes, sua relevância frente à sustentabilidade mundial Caroline Teixeira Lopes* Resumo Questões ambientais vem ganhando espaço em importantes discusões mundiais, e falar desse tema tem se tornado cada vez mais frequente dentro dos mais diversos espaços e ambientes. Diante disso, compreender sobre assuntos ambientais e sustentabilidade é algo cada vez mais necessário, e deter esses conhecimentos não é nada complexo ou inacessível. Uma forma clara e simples de compreender a degradação ambiental é através da aplicação de indicadores sustentáveis, que fornecem informações que tornam visíveis e mensuráveis problemas de gerenciamento dos recursos naturais. Dentro desses indicadores temos a Pegada Ecológica (PE), e uma de suas vertentes é a Pegada Hídrica (PH), que expressa o consumo de água utilizada de forma direta e indireta na produção de bens e serviços, ela possui seus componentes que compilados levam ao seu valor final. Conhecer a PH de um indivíduo, empresa ou até mesmo país enfluencia em tomadas de decisões em relação ao uso de recursos hídricos, manutenção da sua qualidade e quantidade, entre outras questões que contribuem para um desenvolvimento sustentável. Palavras-chave: Pegada Ecologica; Pegada Hídrica, Recursos Hídricos; Sustentabilidade. Introdução Indicadores ecológicos e/ou de sustentabilidade são elaborados como uma forma de mensurar o estado de conservação e degradação do meio ambiente, levando em conta fatores ambientais como alterações no ecossistema, mudanças na qualidade de elementos, mudanças de volume hídrico e outros aspectos. Com as crescentes modificações vivenciadas pela humanidade, consequências recaindo sobre o planeta e o meio ambiente, houve também uma necessidade crescente de buscar mensurar esses rastros gerados, como uma forma de alertar e buscar formas de regredir esse processo de degradação, nesse contexto que os indicadores são aplicados. Tendo como base a degradação ambiental e a emissão de carbono gerada por ela, foi criado o indicador ambiental Pegada Ecológica (PE), seu objetivo é medir a quantidade de CO2 gerado pelas atividades humanas e quanto hectares de florestas são necessários para absorver esse gás. Uma das ramificações da PE é a Pegada Hídrica (PH) que busca determinar os impactos do uso direto e indireto da água. A Pegada Hídrica surgiu para estimar o quão impactado está hidrológicamente o planeta pelas ações humanas. A água é um bem não renovável que ocupa dois terços do território terrestre e que está cada vez mais sendo poluído. Sua escassez em determinadas regiões, vem aumentando a necessidade e o interesse em obter informações a seu respeito e formas de controlar seus parâmetros de consumo, qualidade e quantidada cada dia são mais aplicadas. Diante disso, os conhecimentos abordados de forma coerente e compreensível pela PH podem auxiliar nesse processo, possibilitando uma abrangência que vai da individual até mundial. Perante a importância de se obter os valores de degradação ambiental ao longo do tempo, e o impacto humano sobre a água, esse trabalho tem por finalidade auxiliar na compreensão do indicador ambiental Pegada Hídrica. Para isso, conceitos e informações serão apresentados com o propósito de compreender o motivo do seu uso e sua aplicação, e assim colaborar para a execução de ações que contribuam para a redução desses valores e também as consequências ambientais. Levando em conta a quantidade de água presente no nosso planeta sendo usada de forma não sustentável, e a necessidade de se conhecer e compreender meios de calcular o consumo humano e seu impacto na degradação hídrica, ambiental e no planeta de forma geral, o assunto Pegada Hídrica vai ser abordado. Tendo como fatores influenciadores para o desenvolvimento a educação ambiental e o aumento da importância dada a assuntos relacionados a esse tema, devido a visível degradação do meio ambiente. Com o objetivo de dismistificar o uso de índices ambientais, seus conceitos e aplicação, o tema PH foi escolhido para ser trabalhado. Neste artigo será utilizada uma metodologia baseada no levantamento de dados de literatura especializada, buscando expor uma reflexão sobre o assunto ressaltando sua importância e dando informações que permitem uma maior conscientização sobre o uso de água, tendo como objetivo fazer com que sua utilização seja o mais adequada e sustentável possível. Para isso, foram apresentados informações pertencentes a Agenda 21, importante documento sobre educação ambiental elaborado durante a Rio-92 e aprimorado nos seguintes edições, além de outros importantes instrumentos que auxiliam no desenvolvimento do conhecimento necessários ao auxilio de práticas de preservação e sustentabilidade ambiental. Serão apresentadas definições e questões indispensáveis para compreender de uma forma mais a fundo a PH, como o termo sustentabilidade. Além disso a definição e os componentes da pegada hídrica serão introduzidos no texto, assim como mapas com a mensuração dos valores mundiais gerais e de cada componente do cálculo. Alguns países que se destacam no assunto serão listados, e também o impacto e relação de cada setor no valor isolado da PH e também no valor geral. Por fim, possíveis mudanças de hábitos e atitudes com possível aplicação serão apresentados. Sustentabilidade Sustentabilidade é dar suporte a alguma condição, a algo ou álguém em algum processo ou tarefa. Está relacionada ao desenvolvimento sustentável, conjunto de ideias, estratégias e demais atitudes ecologicamente corretas, viáveis no âmbito econômico, socialmente justas e culturalmente diversas. Etimologicamente, a palavra sustentável tem origem no latim sustentare, que significa "sustentar", "apoiar" e "conservar" (SIGNIFICADOS, 2019). Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. (WWF,2019). Com as mudanças no meio ambiente, esse termo tem sido bastante utilizado para nomear o bom uso de recursos naturais do planeta, e vem ganhando destaque em importantes discuções e eventos globais sobre meio ambiente.. As Conferências das Nações Unidas sobre desenvolvimente sustentável, Rio-92, Rio +10 e Rio +20, tiveram papel relevantes na discussão do tema e na criação de uma consciência mais sustentável. Conservar a natureza em todas as suas formas e mesmo assim criar condições de sustentar uma população em um planeta finito, é o desafio do século 21 e das gerações futuras. Com base nesse desafio a ONU criou metas para alcançar o desenvolvimento sustentável até 2030. As metas são (WWF, 2019): 1. Erradicação da pobreza; 2. Fome zero e agricultura sustentável; 3. Saúde e bem-estar; 4. Educação de qualidade; 5. Igualdade de gênero; 6. Água potável e saneamento; 7. Energia limpa e acessível; 8. Trabalho descente e crescimento econômico; 9. Indústria, inovação e infraestrutura; 10. Redução das desigualdades; 11. Cidades e comunidades sustentáveis; 12. Consumo e produção responsáveis; 13. Ação contra a mudança global do clima; 14. Vida na água; 15. Vida terrestre; 16. Paz, justiça e instituições eficazes; 17. Parcerias e meios de implementação. Percebe-se que o objetivo da ONU é criar um mundo com condições para suprir todas as necessidades dessa geração e das gerações futuras. Mostrando que um desenvolvimento sustentávelé construído com a união de ações econômicas, sociais e ambientais. Origem e definição de Pegada Hídrica De forma mais ampla, toda vez que se pensa em indicadores ecológicos estamos pensando de forma direta em sustentabilidade. Palavra essa que tem como significado sustentar, dar suporte ou apoio, ou seja, sustentabilidade é algo ecologicamente correto e viável. Esse termo ganhou maior destaque diante das mudanças ambientais vivenciadas no âmbito mundial atualmente. A partir da Rio-92 acordos para se alcaçar um desevolvimento mais sustentável, reduzindo as emições de gases nocivos e a produção de resíduos. Nessa conferência foi elaboarada a Agenda 21, com o objetivo de harmonizar eficiência econômica, proteção ambiental e justiça social, e é usada como base para problemáticas que envolvem meio ambiente (AGENDA 21, 1992). A Rio+10 revisou as metas da Agenda 21, buscando conciliar o desenvolvimento econômico e social com a preservação do meio ambiente para as gerações futuras, focando nas áreas mais urgentes e carentes para implementação. Já a Rio+20 teve como objetivo rever todos os objetivos listados e renovar os laços diante das urgências ambientais, buscando nesse momento minimizar os efeitos da degradação ambiental. Diante desse contexto de sustentabilidade e da necessidade de conscientização ambiental, os indicadores de sustentabilidade e ecológicos começaram a ser estudados e aplicados, como uma forma de mensurar os rastros deixados pelo ser humano. Em 1996, os especialistas William Rees e Mathis Wackernagel publicaram o livro Our Ecological Footprint: Reducing Human Impact on the Earth (Pegada Ecológica: reduzindo impactos do ser humano na Terra), inserindo o conceito de Pegada Ecológica e posteriormente Pegada Hídrica (WWF BRASIL, 2012). A Global Footprint Network (2013) define PE como a medida da quantidade de área de terrra e de água biologicamente produtiva que um indivíduo, população ou atividade requer para produzir os recursos que consume e absorver os recusrsos que gera, sua unidade de medida é em hectares globais. A Pegada Ecológica foi criada com o objetivo de saber a capacidade regenerativa do planeta, através da quantificação de recursos utilizados baseado na forma de consumo, alimentação, poluição e produção de resíduos. A partir de então pode-se extimar o quanto o ser humanao usa dessa capacidade. Esse indicador demostra através de uma forma simples e clara as áreas mais impactadas pelas ações humanas (GAODI ET AL, 2012). Segundo a WWF (2019) esse incador possui uma grande abrangência de ação, e possui ramificações que se complementam, a “família das pegadas”, eles juntos analisam múltiplos aspectos das consequências das atividades humanas no meio ambiente. Pegada Ecológica: mensura os impactos humanos analizando a área bioprodutiva necessária para suprir a demanda e absorver o carbono gerado; Pegada de Carbono: mede os impactos sobre a biosfera e quantifica seus efeitos sobre as mudanças climáticas; Pegada Hídrica: faz a relação entre o impacto sobre os recursos hídricos causados de forma direta e indireta. Em 2002, o professor Arjen Y. Hoekstra criou a Pegada Hídrica e disse em um de seus relatos (WATER FOOTPRNT, 2013): O interesse na pegada hídrica está enraizado no reconhecimento de que os impactos humanos nos sistemas de água doce podem ser ligados ao consumo humano e que questões como escassez de água e poluição podem ser melhor compreendidas e abordadas considerando a produção e as cadeias de suprimento como um todo. Existe ainda a definição de água virtual, que pode ser difinida como a mensuração da água contida num produto, mercadoria, bem ou serviço, em relação ao volume de água doce utilizada nas fases de sua cadeia produtiva. O termo água virtual faz referência ao ato da água gasta na produçã não estar presente no produto final (HOEKSTRA e MEKONNEN, 2012). Pegada hídrica e seus componentes A pegada hídrica não é apenas uma medida de impacto ambiental, mas sim um indicador que quantifica o resultado da intervenção humana sobre os recursos hídricos. Intervenção essa que pode levar a falta de qualidade ou escassez desse recurso. A Agenda 21 (1992) em seu capítulo 18 descreve: A escassez generalizada, a destruição gradual e o agravamento da poluição dos recursos hídricos em muitas regiões do mundo, ao lado da implantação progressiva de atividades incompatíveis, exigem o planejamento e manejo integrados desses recursos. Essa integração deve cobrir todos os tipos de massas inter- relacionadas de água doce, incluindo tanto águas de superfície como subterrâneas, e levar devidamente em consideração os aspectos quantitativos e qualitativos. Deve-se reconhecer o caráter multissetorial do desenvolvimento dos recursos hídricos no contexto do desenvolvimento socio-econômico, bem como os interesses múltiplos na utilização desses recursos para o abastecimento de água potável e saneamento, agricultura, indústria, desenvolvimento urbano, geração de energia hidroelétrica [...] e outras atividades. Diante da necessidade de considerar aspectos da qualidade e quantidade hídrica, a PH possui sua a aplicação dividida em quatro fases: i) definição do objetivo e escopo do que se deseja trabalhar; (ii) contabilização da pegada hídrica de um processo, produtor/consumidor ou em uma determinada área geográfica; (iii) avaliação da sustentabilidade da pegada hídrica; e (iv) formulação de estratégias de resposta à pegada hídrica (Hoekstra et al., 2011). A avaliação de sustentabilidade hídrica tem o objetivo de comparar a pegada hídrica humana com a capacidade que o planeta. A pegada hídrica de uma região não será sustentável se as vazões ambientais necessárias ou os padrões de qualidade da água estiverem comprometidos, ou quando a reserva da água dentro de uma bacia for classificada como incompaível ou ineficiente. Para avaliar a sustentabilidade da PHverde e PHazul, leva-se em conta dados sobre a escassez da água, obtidos a partir da razão entre a pegada e a disponibilidade de água do local. Para a analisar a sustentabilidade da PHcinza, é utilizado o nível de poluição da água. Dizer se os parâmetros encontrados se classifica entre sustentável, aceitável ou insustentável varia de acordo com o local e suas características hídricas. As PHverde e PHazul são tidas como insustentáveis quando a demanda excede a disponibilidade hídrica do local. Já a PHcinza quando o nível de poluição excede os padrões de qualidade (PROGRAMA ÁGUA BRASIL, 2014). A pegada hídrica de um indivíduo ou grupo é estimada tendo como base os bens de consumo e serviço utilizados e a água utlizada no processo de produção de cada um. A PH consiste de partes interna, consumo de recursos dentro do país e externa, leva em conta os recursos hídricos adivindo de outro país. Compreender os valores de PH de um país é importante para desenvolver políticas públicas, ambientais e sociais mais condizentes (HOEKSTRA e MEKONNEN, 2012). A sustentabilidade da PH pode ser analisada sob três pontos de vista: ambiental, social e econômica. A ambiental determina padrões de qualidade para a água e também a quantidade mínima de vazão. A social determina uma demanda mínima de água doce necessária para suprir as necessidades humanas. Já a econômica estabelece que a água precisa ster seu uso feito de forma eficaz, levando em conta a relação custo benefício. A PH permite responder perguntas como (WATER FOOTPRNT NETWORK, 2019): Onde está a maior dependência da água nas operações ou na cadeia de suprimentos da empresa? Quão sustentáveis são os nossos alimentos ou energia? Como tornar os produtos produzidos mais sustentáveis? Qual o nível de aplicação das leis e normas que protegem os recursos hídricos? O que fazer para reduzir a pegada hídrica e como melhor gerenciar o uso da água? De acordocom a informação que se deseja obter, a PH pode ser medida em metros cúbicos por tonelada de produção, metros cúbicos por hectare de terra cultivável, metros cúbicos por unidade monetária ou em outras unidades funcionais. Ela ajuda a compreender com quais objetivos a água doce está sendo consumida e/ou poluída. O impacto gerado pelo consumo depende do local de onde a água é retirada e quando. As consequências vão ser mais graves se o local de retirada possuir água em escassez (GIACOMIN e OHNUMA JR., 2012). A PH é obtida pelo somatório de três componentes: verde, azul e cinza. Juntos fornecem uma visão abrangente do uso da água (HOEKSTRA E MEKONNEN, 2012): PHverde refere-se a parcela da precipitação retida no solo, consumida durante o processo de crescimento de plantas e capaz de ser medida por meio de estimativas de evapotranspiração. É relevante na produção de produtos agrícolas e em florestas; PHazul é resultante do consumo da água de fontes superficiais e subterrâneas, que quando captada pode ser incorporada ao produto e/ou processo e não retorna para a bacia hidrográfica de origem. A indústria e o uso doméstico podem ter pegada azul; PHcinza é o volume de água necessário para diluir a carga de poluentes das atividades humanas, até se atingir os padrões de qualidade da água do corpo receptor. Pode ser proveniente do escoamento superficial e descarga de dejetos. A PH global entre os anos de 1996-2005 foi de 9087.109 m³/ano, e o valor per capita é de 1385 m3/ano. Sendo as porcentagens dentro de suas ramificações PHverde 74%, PHazul 11%, e PHcinza 15%. Abaixo serão mostrados mapas com ao valores de PH do período acima (HOEKSTRA et al., 2012). Figura 1: PHverde da humanidade de 1996-2005 (mm/ano). Fonte: Hoekstra e Mekonnen (2012). Figura 2: PHazul da humanidade de 1996-2005 (mm/ano). Fonte: Hoekstra e Mekonnen (2012). Figura 3: PHcinza da humanidade de 1996-2005 (mm/ano). Fonte: Hoekstra e Mekonnen (2012). Figura 4: PH da humanidade de 1996-2005 (mm/ano). Fonte: Hoekstra e Mekonnen (2012). A primeira imagem mostra a PHverde mundial, nele quanto mais escuro estiver o país no mapa maior sua pegada, o mesmo acontece com as figuras seguintes que representam a PHazul e a PHcinza respectivamente. No caso da quarta figura, que representa a PH geral, os países em tons de verde tem sua PH menor que a média global, e os em tons de amarelo, laranja e vermelho possuem sua seu valor de PH maior que a média mundial. Países e suas pegadas Os principais fatores de determinação da pegada hídrica de um país são: o volume de consumo (em relação ao PIB), o padrão de consumo (por exemplo, alto e baixo consumo de carne e outros produtos), as condições climáticas (condições de crescimento das culturas agrícolas) e práticas agrícolas (uso eficiente da água). A influência dos indicadores é responsável pela variação da PH de um país para o outro. Nos Estados Unidos o consumidor tem PH média de 2842 m3/ano, enquanto os cidadãos na China tem PH 1071 m3/ano, Brasil 2027 m3/ano e Índia 1089 m3/ano per capita, respectivamente. (HOEKSTRA e MEKONNEN, 2012) Nos países industrializados a Pegada Hídrica varia de 1250 - 2850 m3/ano per capita, enquanto os países em desenvolvimento a variação é maior de 550 - 3800 m3/ano per capita. No ranking globam a China é o país que possui maior pegada hídrica de consumo, com um valor total de 1368.109 m3/ano, seguido por Índia com 1145.109 m3/ano e EUA 821.109 m3/ano. China ocupa a primeira posição por possuir uma grande população. Por isso, é sempre importante observar a pegada per capita junto com a total. (MEKONNEN e HOEKSTRA, 2011) Setores e suas pegadas De acordo com o Programa Água Brasil (2014) conforme a área de aplicação da PH o uso dos seus componentes vai ter peso diferente ou até mesmo não fazer parte do cálculo. Na agricultura, os três componentes estão presentes, pois as culturas agrícolas retêm água da chuva que é absorvida pelas raízes (PHverde), fazem uso de irrigação (PHazul) e existe a contaminação dos corpos d’água da bacia à qual pertence pelos fertilizantes agrícolas utilizado (PHcinza) (PROGRAMA ÁGUA BRASIL, 2014). A pegada hídrica do setor pecuário leva em conta a produção de carne e leite, é o setor mais significativo quanto à demanda hídrica, levando em conta o uso direto para hidratação dos animais (PHazul) e, indireto, para alimentação tanto no pastoreio quanto para ração (PHverde). Nesse setor a PHcinza não é considerada (PROGRAMA ÁGUA BRASIL, 2014). O setor de reflorestamento leva em consideração culturas para fins comerciais. Neste caso a base de calculo é a mesma da agricultura para PHverde e PHcinza. Já a PHazul não é contabilizada, pois a irrigação ocorre apenas no processo inicial do crescimento e pode ser desconsiderada (PROGRAMA ÁGUA BRASIL, 2014). No setor de abastecimento existem vários fatores que devem ser levados em conta: o número de habitantes, a demanda média de água por habitante e a perdas no sistema de distribuição. O fornecimento de água se baseia na captação, tratamento, reserva e distribuição com o objetivo de suprir as necessidades de consumo direto, sendo considerado para isso apenas a PHazul (PROGRAMA ÁGUA BRASIL, 2014). A pegada hídrica do saneamento envolve somente a PHcinza, pois nesse setor delimita-se para estudo a coleta e o tratamento de dejetos (PROGRAMA ÁGUA BRASIL, 2014). Segundo informações da UNESCO o volume de água movimentado pelo comércio global de alimentos é algo em torno de 1600x109 m³ por ano, destes 80% estão relacionados com o comércio de produtos agrícolas e o restante está relacionado com produtos industriais. O que torna a agricultura a maior contribuinte para o valor elevado da PH global, sendo responsável por 92% (WWF, 2010). Além da PH de casa setor ou país, outro ponto que vale a pena ressaltar é a média de água global utilizada na produção de cada produto. Sendo assim, a alimentação e o estilo de vida recaem sobre o valor final. A tabela a seguir mensura o gasto médio de água na produção de alimentos e outros itens presentes na rotina diária. Tabela 1: Quantidade de água utilizada na produção de alguns itens. Produto Água gasta na produção (litros) Folha de papel A4 (80g) 10 Fatia de pão (30g) 40 1 maçã 70 1 copo de cerveja (200 ml) 75 1 copo de vinho (125 ml) 120 1 xícara de café 140 1 kg de milho 900 1 kg de trigo 1.350 1 kg de arroz 3.000 1 kg de carne bovina 16.000 1 litro de leite 1.000 1 camisa de algodão 2.000 1 par de sapato de couro 8.000 Fonte: Water Footprint Network Redução da pegada hídrica Consumidores, produtores, investidores e governo, todos tem responsabilidade sobre os impactos gerados pelo mau uso dos recursos hídricos. - devem compartilhar a responsabilidade. Este capítulo irá analisar as opções disponíveis para que os consumidores, produtores, investidores e o governo possam reduzir suas pegadas hídricas e, também, mitigar os impactos. Consumidores são responsáveis pelo que consomem, sendo assim responsáveis indiretos pelo uso de recursos. Se estes tomarem consciência dos seus atos e exigir produtos mais sustentáveis, os produtores terão que se adequar as exigências. Pode-se também pensar de forma contrária, os produtores são responsáveis por fabricar o produto, podendo fazer o processo se tornar mais sustentável. Os investidores podem considerar o uso da água de forma sustentável ao escolher empresas para investire. E o governo não pode se esquivar da responsabilidade de regulamentar padrãos de qualidade para a água, além de incentivar medidas para a sua proteção (HOEKSTRA et al., 2011). Como a PHverde é a que mais interfere no valor final, e essa se baseia na área de produção agrícola e de floresta, é nítido que essa merece mais atenção. Dentre as possíveis medidas pra sua redução,podem ser citadas a implantação de uma agricultura onde a água é melhor aproveitada, ou seja, sua produtividade é maior. No caso da PH azul, uma forma de reduzir seu valor pode ser através da ecomonia de água na industria, atravé do seu melhor aprovitamento ou da implantação de técnicas de produção que demandem menor volume de água. Já quando o assunto é PHcinza, deve-se pensar em como reduzir o volume de água poluída e técnicas que permitem conseguir uma maior qualidade dessa água após o tratamento. Isso pode ser obtido através do aumento do controle da qualidade da água que vai para o corpo receptor após o tratamanto e através do incentivo e conscientização da importância do tratamento do esgoto. Vale ressaltar que cada região deve reduzir a PH que possui maior impacto na sua realidade, e aplicar medidas que melhor condiem com a sua rotina e possibilidades. Formas individuais de reduzir a própria PH podem ser feitas, como por exemplo: Mudar hábitos alimentares, buscando produtos que satisfaçam as necessidades do corpo e com menor PH; Reavaliar hábitos de consumo, optando sempre por produtos que sejam mais sustentáveis; Optar por jardins com gramas e árvores ao invés de cimentados, para que assim a água da chuva possa escoar livremente; Instalar aparelhos mais eficientes energeticamente e utilizar formas de energia mais limpas como por exemplo a solar; Fazer o reuso de água; Se interar sobre assuntos relacionados ao bom aproveitamento hídrico e se possível participar de grupos sobre. Conclusão Com uma melhor compreensão acerca do tema indicadores de sustentabilidade, mas especificamente Pegada Hídrica, sua importância e funcionamento, com toda sua abrangência e peculiaridades, fica mais claro e tangível a necessidade da sua aplicação no cotidiano da sociedade. Mesmo com suas limitações que podem ocorrer devido a falta de dados de algumas áreas ou setores, sua fácil compreensão e monitoramento ao longo do tempo pesam a seu favor. Pois permite a instituição, setor ou grupo que esta fazendo sua aplicação ter uma base de dados para mudança de atidudes e processos. Tem-se também que com a escassez de recursos naturais e a necessidade de manutenção da qualidade, o interesse e a necessidade de aplicação de indicadores de sustentabilidade vai aumentar nos próximos anos. Sendo de suma importância ter ciência sobre suas peculiaridades e uso. Referências Agenda 21; Disponível em <http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/agenda21/Agenda_21_Global_Inte gra.pdf > Acesso: 24 de julho de 2019. Gaodi, X. et al. 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