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Projeto final escrito Prática de Ensino em Ciências UFAM

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS NATURAIS
A INFLUÊNCIA DA UMIDADE E LUMINOSIDADE NA CONCENTRAÇÃO DOS FUNGOS DA ORDEM AGARICALES NO PARQUE DO MINDU.
Beatriz Moutinho Costa – 21950017
Letícia Gabriella Dutra Perfeto – 21951201
Phablyna Câmara Cruz – 21952380
Sarah da Costa Silva – 21953393
Thais Gabriele Conceição dos Santos – 21951203
Manaus – AM
2021
INTRODUÇÃO
Fungos são os organismos popularmente conhecidos por bolores, mofos, levedos, orelhas-de-pau, trufas e cogumelos (MIRA, 2018). São espécies pertencentes ao reino Fungi, que podem ser macroscópicos ou microscópicos, uni ou pluricelulares, são eucariontes, ou seja, possuem membrana envolvendo o núcleo de suas células, e heterótrofos (não produzem seu próprio alimento) (MIRA, 2018). 
A diversidade de fungos é grande, as estimativas mais aceitas afirmam que existem cerca de 1,5 milhão de espécies de fungos no planeta Terra. Porém, alguns dos estudos mais recentes afirmam que esse valor possa ser de 3,5 a 5,1 milhões de espécies, visto que os fungos estão presentes na imensa maioria dos ambientes (BLACKWELL, 2011).
Os fungos desempenham diversos papeis na natureza, um dos principais é a sua atuação como decompositores: utilizam como matéria-prima resíduos de outros seres vivos para fazer a ciclagem dos nutrientes e obter sua nutrição a partir desse processo (SANTOS, 2015). Dessa forma os fungos colaboram para a renovação e reciclagem de materiais no solo e na água, exercendo um papel bastante importante para a manutenção do equilíbrio ecológico.
Além disso, os fungos são organismos de grande interesse humano por poderem ser utilizados na culinária, na medicina, farmacologia, indústria, em produtos domésticos etc. (BLACKWELL, 2011). Em contrapartida, várias espécies são parasitas, tanto dos seres humanos quanto de plantas e animais importantes economicamente (SANTOS, 2015).
A ordem Agaricales da classe Agaricomycetes foi o alvo desta pesquisa por ser uma das classes mais conhecidas dentre os fungos, apresentando relevante importância econômica e natural. De acordo com Souza e Aguiar (2004), Agaricales compreende cerca de 300 gêneros no planeta, sendo que deles, 136 gêneros e mais de 1010 espécies são encontrados no Brasil.
Ademais, Agaricales possui uma estrutura típica que facilita a identificação: o corpo de frutificação (Figura 1). Embora os fungos não formem tecidos verdadeiros, as frutificações macroscópicas possuem hifas (estruturas básicas filamentosas do fungo) especializadas organizadas em pseudotecidos (FRAZÃO, 2017). O corpo de frutificação pode ser encontrado em diversas formas: ovais, estreladas, corais, clavas, ramos, orelhas-de-pau ou cogumelos.
Figura 1. Representação esquemática da estrutura de um fungo Agaricales.
Os fungos, de maneira geral, conseguem se desenvolver em uma ampla gama de ambientes devido sua imensa diversidade de espécies e seus inúmeros papéis na natureza (MIRA, 2018). Porém, à medida que especificamos as classes taxonômicas, as espécies vão adquirindo comportamentos semelhantes e necessidades específicas.
Algumas das necessidades mais importantes para o bom desenvolvimento dos fungos são as características ambientais de onde o espécime se encontra (MIRA, 2018), como a incidência solar, taxa de umidade, nutrição e composição do substrato, composição do ar etc. Cada uma dessas variáveis pode trazer impactos diferentes para cada uma das ordens de fungos existentes (BLACKWELL, 2011).
Em se tratando da ordem Agaricales, de acordo com Souza e Aguiar (2004), sabe-se que a ordem tem preferência por substratos como a madeira ou folhas mortas ou vivas, entre musgos ou gramíneas no solo. Sobre seus hábitos, Agaricales geralmente formam relações de protocooperação como a micorriza endotrófica (união das micorrizas do fungo com as raízes de plantas favorecendo a nutrição de ambas), ou são sapróbias e parasitas (SOUZA e AGUIAR, 2004).
 Considerando a temperatura e umidade, sabe-se que Agaricales podem viver em diversos tipos de climas, mas as maiores concentrações encontram-se nas regiões tropicais (MORAES, PAES e HOLANDA, 2009), onde o regime de chuvas é muito mais intenso que o das outras partes do planeta e a incidência da radiação solar também é muito superior, como é o caso da floresta amazônica.
No entanto, apesar de existirem estudos comparando o desenvolvimento desses fungos em macrorregiões, os estudos em microrregiões (parques ou reservas florestais) na Amazônia só iniciaram nas duas últimas décadas (SOUZA e AGUIAR, 2004; SOUZA e AGUIAR, 2007; FRAZÃO, 2017). Trabalhos com ambientes naturais bem delimitados permitem conhecer mais a fundo as diferenças presentes entre espécies que concorrem pelo mesmo hábitat, e, por isso são essenciais para os estudos de diversidade de espécies.
Considerando isso, o ambiente de estudo deste trabalho será o Parque do Mindu (figura 2). Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMMAS), essa unidade de conservação abriga muitas espécies de fauna e flora bem no meio da cidade de Manaus, permitindo a visualização e proteção de espécies nativas de grande valor ecológico para a região. O parque conta com mais de 40 hectares e faz parte do Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, que abriga diversas espécies de fungos de várias ordens, incluindo a Agaricales, foco deste trabalho.
Figura 2. Entrada do Parque Municipal do Mindu (R. Domingos José Martins, S/n - Parque Dez de Novembro, Manaus - AM, CEP: 69098-257).
No que diz respeito a Agaricales, ainda existem muitos questionamentos não solucionados, principalmente voltados para a região amazônica. Devido a sua relevância ambiental, tanto para o homem quanto para outras espécies, é importante conhecer as condições necessárias para o desenvolvimento pleno dessas espécies. Afinal, compreender as influências dos fatores ambientais externos pode ajudar a prevenir muitos problemas como doenças, superpopulação ou até mesmo a extinção (MORAES, PAES e HOLANDA, 2009).
Considerando isso, entende-se a importância de buscar conhecer, mais a fundo, as “preferências ambientais” dos fungos Agaricales e como esses mesmos fatores podem afetar essas espécies. Assim, o presente trabalho busca responder o seguinte questionamento: Qual a influência da umidade e luminosidade na concentração dos fungos da ordem Agaricales no Parque do Mindu?”, considerando a hipótese H0 - A luminosidade e a umidade influenciam na distribuição e na concentração dos fungos Agaricales presentes no Parque do Mindu.
MODELO CONCEITUAL
MÉTODOLOGIA
Para responder à pergunta “Qual a influência da umidade e luminosidade na concentração dos fungos da ordem Agaricales no Parque do Mindu?”, o trabalho foi estruturado visando compreender como as variáveis “umidade e luminosidade” afetam a concentração de corpos frutificados de fungos Agaricales. A respeito dos conceitos de umidade e luminosidade, foram utilizadas as regras registradas na tabela a seguir.
Tabela 1. Regra geral para a classificação quanto à umidade e luminosidade.
	Variável
	Descrição
	Luminoso
	Ambiente descoberto e com maior parte do dia ensolarada (8h no mínimo);
	Sombreado
	Ambiente coberto e com maior parte do dia sombreado (8h no mínimo);
	Úmido
	Ambiente com proximidade do igarapé ou de lagos e poças; 
	Seco
	Ambiente com distância do igarapé ou de lagos e poças.
Dessa forma, as variáveis foram combinadas, formando 4 possibilidades de ambientes: úmido e ensolarado, úmido e sombreado, seco e ensolarado e seco e sombreado. Considerando esses 4 ambientes possíveis, o Parque do Mindu foi mapeado e dividido para que cada parte do mesmo correspondesse a alguma das possibilidades de ambientes citados anteriormente.
Após isso, foram sorteadas aleatoriamente 7 réplicas para cada um dos 4 tipos de ambiente, onde seriam feitas as buscas pelos espécimes, totalizando 28 amostras, uma em cada réplica sorteada. Ainda sobre as amostras, estas serão consideradas o espaço de 1x1m de terra ou substrato ao redorde onde o corpo de frutificação do fungo for encontrado.
A contagem deverá ser feita utilizando os corpos de frutificação pois são mais simples para a identificação do que os corpos vegetativos (ficam dentro do substrato). Além disso, a alta incidência de corpos de frutificação indica um ambiente muito favorável à vida dos fungos Agaricales, visto que a reprodução é um processo complexo e custoso para as espécies, que só é realizado quando as condições são minimamente suficientes.
Por fim, os dados foram registrados na Tabela de pesquisa de campo (Apêndice A) conforme exemplo (tabela 2), identificando as principais informações para a identificação da amostra e a quantidade de micélios de reprodução presentes em cada uma delas. Após o estudo dos dados, as informações foram utilizadas na criação de gráficos para melhor visualização dos resultados.
Tabela 2. Exemplo de tabela utilizada durante a visita de campo para identificação dos fungos.
	Amostra
	Luminosidade na amostra
	Umidade na amostra
	Corpos de frutificação por amostra
	1
	ensolarado
	úmido
	X
	2
	sombreado
	seco
	Y
RESULTADOS ESPERADOS
No gráfico 1, ao observar o eixo x, temos os padrões ambientais e no eixo y, a quantidade de fungos por amostra. Ainda sobre o eixo y, quanto mais acima estiver localizada a amostra, maior a quantidade de corpos reprodutivos encontrados nesta mesma amostra, quanto mais para baixo, menor foi a quantidade. Dessa forma, a distribuição das amostras por tratamento no gráfico representa a concentração de corpos frutificados em cada um dos ambientes.
Gráfico 1. Concentração de corpos frutificados de Agaricales em amostras de 1x1m em quatro condições ambientais diferentes *.
Ensolarado e Úmido
Sombreado e Úmido
Ensolarado e Seco
Sombreado e Seco
Quantidade de Fungos por Amostra (área de 1x1m ao redor do fungo).
*Gráfico criado com base nas informações do Apêncice A.
Como resultados esperados para este trabalho, temos a maior concentração de fungos Agaricales no ambiente classificado como “sombreado e úmido”, seguido pela segunda maior concentração em ambientes “ensolarados e úmidos”. Com a segunda menor concentração de fungos temos o ambiente “sombreado e seco” e, por último, “ensolarado e seco” (Gráfico 1).
Neste trabalho, consideramos a umidade do substrato e do ar para a classificação do ambiente em úmido ou não, visto que foram avaliados como “úmidos” ambientes com proximidade da água - seja ela do igarapé ou lagos e poças (Tabela 1) - onde a saturação de água no ar e no solo são muito altas devido ao alto fluxo de água líquida ou em vapor (CORREIA, 2007).
A presença de fungos Agaricales em maior concentração nos ambientes onde há maior taxa de umidade nos permite refletir sobre a real importância da alta umidade para essa ordem. De acordo com Moraes, Paes e Holanda (2009), a umidade ótima para o crescimento de fungos é próxima ou igual à da saturação, portanto, a quantidade de água no ar tem grande influência no seu desenvolvimento.
Além da quantidade de vapor de água no ar, o substrato úmido traz muitos benefícios para os fungos Agaricales, como a facilitação do transporte de substâncias entre suas próprias células e também para as células de plantas com as quais participam de relações protocooperativas (FRAZÃO, 2017).
Outro fator de grande importância é a necessidade da água para a realização dos processos de degradação para os fungos Agaricales decompositores, visto que a água é um catalizador essencial para que ocorra a transformação dos materiais orgânicos (BASSO, GALLO e BASSO, 2010).
Analisando o Gráfico 1, é notável que o fator que mais influenciou na concentração de corpos frutificados em cada um dos ambientes foi a umidade. No entanto, a incidência solar também possui importância para o bom desenvolvimento das espécies de Agaricales, visto que nos tratamentos onde o ambiente era sombreado as colônias foram significativamente maiores.
	Ambientes sombreados oferecem uma proteção importante para os fungos contra a radiação UV do sol, já que esse tipo de radiação que é fungicida (BLACKWELL, 2011). O excesso de luz ainda ajuda a ressecar as estruturas básicas do fungo – micorrizas – dificultando os processos básicos desses seres vivos. Além disso, o sombreamento pelas árvores, unido à alta incidência solar da região amazônica criam um ambiente abafado, similar à uma estufa, que permite a manutenção da temperatura na faixa dos 20 a 30ºC – temperatura ótima para os fungos segundo Moraes, Paes e Holanda (2009).
Por fim, conclui-se que a concentração de fungos Agaricales é fortemente influenciada pela umidade do ambiente, tanto na saturação do ar quanto na umidade do substrato onde ele está inserido. E, também pela quantidade de luz e radiação UV que recebe diariamente, já que, durante o experimento, notou-se que suas estruturas reprodutivas não desenvolvem com muita frequência e quantidade em ambientes ensolarados.
Dessa forma, neste trabalho compreende-se a necessidade de conhecer os fungos Agaricales e suas “preferências específicas” para o desenvolvimento ótimo de suas espécies em ambientes naturais da Amazônia. Entender o funcionamento e as relações desses seres vivos com o ambiente e outras espécies é um passo essencial para a conservação e preservação do equilíbrio na Floresta Amazônica, além de ajudar a compreender a desenvolver melhor os processos de uso sustentável dos recursos amazônicos.
REFERÊNCIAS
BASSO, Thalita Peixoto; GALLO, Cláudio Rosa; BASSO, Luiz Carlos. Atividade celulolítica de fungos isolados de bagaço de cana-de-açúcar e madeira em decomposição. Pesquisa agropecuária brasileira, v. 45, n. 11, p. 1282-1289, 2010.
BLACKWELL, Meredith. The fungi: 1, 2, 3… 5.1 million species? American Journal of Botany. 2011.
CORREIA, Francis Wagner Silva et al. Balanço de umidade na Amazônia e sua sensibilidade às mudanças na cobertura vegetal. Ciência e Cultura, v. 59, n. 3, p. 39-43, 2007.
FRAZÃO, Bruna Ketley Paes. Diversidade de fungos Agaricales no parque estadual Sumaúma, Manaus-Amazonas. UEA, 2017.
MIRA, William. Fungos. Quero Bolsa, 2018. Disponível em: https://querobolsa.com.br/enem/biologia/fungos. Acesso em: 20 jun. 2021.
MORAES, Aurea Maria Lage de; PAES, Rodrigo de Almeida, HOLANDA, Verônica Leite de; Micologia. In: MOLINARO, Etelcia Moraes; CAPUTO, Luzia Fátima Gonçalves; AMENDOEIRA, Maria Regina Reis. Conceitos e métodos para a formação de profissionais em laboratórios de saúde, v 1. Rio de Janeiro: EPSJV; IOC, 2009. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/8661/2/Livro%20EPSJV%20009570.pdf. Acesso em: 20 jun. 2021.
SANTOS, Elisandro Ricardo Drechsler dos. Material Complementar ao livro Sistemática Vegetal I: Fungos. Florianópolis, 2015.
SOUZA, Helenires Queiroz de; AGUIAR, Izonete de Jesus Araújo. Diversidade de Agaricales (Basidiomycota) na Reserva Biológica Walter Egler, Amazonas, Brasil. Acta Amazonica, 2004.
SOUZA, Helenires Queiroz de; AGUIAR, Izonete de Jesus Araújo. Ocorrência do gênero Marasmius Fr.(Tricholomataceae, Agaricales) na Reserva Biológica Walter Egler, Amazonas, Brasil. Acta Amazonica, 2007.
APÊNDICE A
	Amostra
	Luminosidade na amostra
	Umidade na amostra
	Corpos de frutificação por amostra
	1
	ensolarado
	úmido
	7
	2
	ensolarado
	úmido
	6
	3
	ensolarado
	úmido
	4
	4
	ensolarado
	úmido
	5
	5
	ensolarado
	úmido
	5
	6
	ensolarado
	úmido
	7
	7
	ensolarado
	úmido
	6
	8
	ensolarado
	seco
	1
	9
	ensolarado
	seco
	1
	10
	ensolarado
	seco
	2
	11
	ensolarado
	seco
	3
	12
	ensolarado
	seco
	2
	13
	ensolarado
	seco
	1
	14
	ensolarado
	seco
	2
	15
	sombreado
	úmido
	10
	16
	sombreado
	úmido
	9
	17
	sombreado
	úmido
	7
	18
	sombreado
	úmido
	8
	19
	sombreado
	úmido
	9
	20
	sombreado
	úmido
	9
	21
	sombreado
	úmido
	8
	22
	sombreado
	seco
	4
	23
	sombreado
	seco
	5
	24
	sombreado
	seco
	3
	25
	sombreado
	seco
	4
	26
	sombreado
	seco
	4
	27
	sombreado
	seco
	3
	28
	sombreado
	seco
	5

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