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Direito Ambiental1 Direito Ambiental Aula 11 - Estudo de Impacto Ambiental Direito Ambiental2 Introdução da Aula Ao abordar o tema “Estudo de Impacto Ambiental”, é necessário conhecer definições importantes sobre impacto, a relação com o meio ambiente, com o fim de se alcançar a sistematização do Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Ultrapassada a definição, torna-se relevante observar os aspectos constitucionais relacionados ao EIA. Ao final desta aula, como objetivos propostos, você deverá: • Compreender a sistemática do EIA e • Avaliar as questões constitucionais relacionadas ao EIA. Reflexão Qual a importância do Estudo prévio de Impacto Am- biental (EIA)? Haverá a efetiva proteção ambiental com a implantação do EIA? Direito Ambiental3 Tópico 1 - Definições de Impacto, Meio Ambiente e de Impacto Ambiental O capítulo constitucional dedicado ao meio ambiente (artigo 225, § 1º, inciso IV do texto constitucional) determina a exigência de Estudo prévio de Impacto Ambiental (EIA) para a “instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente”. O texto constitucional ainda determina que seja dada publicidade ao EIA. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é uma das diferentes modalidades de estudos utilizadas para o exame dos diferentes custos de um projeto. O foco está nos custos ambientais. Estes são caracterizados pelos impactos positivos e negativos advindos da implantação do empreendimento. Lógica semelhante pode ser aplicável ao EIA, com alguns temperamentos. Estes temperamentos passam pelas repercussões sobre o meio social no qual o projeto se inserirá. Atenção Para a avaliação social, é extremamente importan- te a análise das externalidades dos projetos. Elas são os resultados não desejados advindos da im- plementação de um dado projeto (ANTUNES, 2016). Direito Ambiental4 As externalidades podem ser positivas ou negativas. 1. Positivas são aquelas que redundam em benefícios não previstos quando da planificação do projeto. 2. Negativas são as externalidades que implicam a criação de problemas insuspei- tados quando do planejamento e da implementação do projeto. Dentro das externalidades, as ambientais avultam pela importância e complexidade. Os EIA são uma evolução das análises do tipo custo/ benefício. Cuida-se da análise custo/benefício do proje- to, tomando-se como parâmetro a repercussão sobre o meio ambiente. Impacto é choque, modificação brusca causada por força exterior que tenha colidido com um objeto. Por sua vez, o impacto ambiental é uma modificação brusca causada no meio ambiente (ANTUNES, 2016). No primeiro momento, o EIA somente examina os impactos ambientais antrópicos (cau- sados pela pessoa humana). Mas, e as mudanças climáticas? Devem ser examinadas pelo EIA? Estudo Complementar O texto “Impactos das mudanças climáticas em ci- dades no Brasil”, de Wagner Ribeiro, merece desta- que nesta discussão. Direito Ambiental5 Em função do aumento da complexidade, o EIA poderá incluir a contribuição humana para a ocorrência de impactos ambientais naturais. O impacto ambiental causado por circunstâncias naturais pode ter repercussões ambien- tais e econômicas extraordinárias. Exemplo disto estão nas erupções vulcânicas. Saiba mais O vulcão Grimsvotn (Islândia, em 2011) teve a erupção mais forte registrada nos últimos cem anos. Veja a re- portagem “Vulcão entra em erupção na Islândia”. A erupção atingiu diversas localidades, como o norte da Grã-Bretanha e do Oceano Atlântico, Escócia, Ir- landa do Norte e Irlanda, além de partes da França e Espanha. Em 2010, a erupção de outro vulcão - o Eujafjallajökull - provocou um caos aéreo na Europa e um prejuízo de milhões de euros. Veja o vídeo a seguir: Direito Ambiental6 De acordo com a teoria geral sobre as externalidades, o impacto ambiental pode ser positivo e negativo. Normalmente, o direito ambiental está mais volta- do para o impacto ambiental negativo. O foco do EIA está em prever as possibilidades de gerar o dano ambiental e, consequentemente, a responsabilidade (ANTUNES, 2010). Porém, o EIA deve indicar todos os impactos ambientais, positivos e negativos, como for- ma de propiciar ao administrador os instrumentos necessários para a adequada avaliação do empreendimento. O conceito normativo de impacto ambiental não é simples. A Resolução n. 1/1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em seu artigo 1º estabeleceu que: Impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota [conjunto de seres vivos de uma região]; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais. A Resolução 237/1997 do CONAMA - artigo 1º, inciso III – estabeleceu um novo concei- to: o de impacto regional. A finalidade é a de definir os parâmetros para o licenciamento de atividades poluidoras que tenham características próprias. Direito Ambiental7 Conceito O impacto regional é todo e qualquer impac- to ambiental que afete diretamente (área de influência do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais Estados. O estudo de impacto ambiental regional pode ser visto na literatura como uma modalidade de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE). Dias (2001, p. 37) o considera como Avaliação Ambiental Regional: Avaliação Ambiental Regional – processo de avaliação das implicações ambientais e sociais regionais de propostas de desenvolvimento multissetorial numa dada área geográfica e durante um período determinado. A expectativa é que a edição legislativa recente sobre o tema –– abordasse o impacto ambiental regional. No entanto, a questão regional não foi contemplada em referida legislação. Ao tratar das ações administrativas da União – como o licenciamento ambiental (etapa posterior ao EIA) – não houve previsão de atividades regionais. Como estabelece o artigo 7º de referida Lei: Art. 7º São ações administrativas da União: (…) XIV – promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades: (a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; (b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva; Direito Ambiental8 (c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas; (d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); (e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados; (f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Ar- madas, conforme disposto na Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999; (g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen); ou (h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimen- to. Atenção Todo projeto que acarrete repercussão nega- tiva sobre a saúde dos indivíduos de uma de- terminada comunidade é impactante. Direito Ambiental9 A segurança deve ser entendida como segurança social contra riscos decorrentes da inadequada localização de materiais tóxicos, alteração significativanas condições de fi- xação do solo, possibilidade de enchentes, desabamentos, dentre outros aspectos (ANTUNES, 2016). Não se pode deixar de mencionar os riscos de ampliação de índices de criminalidade e ou- tros que afetam desfavoravelmente a segurança pública. Em relação ao bem-estar, este deve ser compreendido como um conjunto de condições que definem um determinado padrão de qualidade de vida que deve ser aferido levando-se em conta as condições peculiares de cada comunidade especificamente considerada. As atividades sociais e econômicas dizem respeito ao emprego, ao modo de produção da riqueza e dos bens. Utiliza-se como referencial o modo de vida das diferentes camadas da população que habitam determinada região. Os projetos de intervenção no meio ambiente serão socialmente nocivos se, em sua execu- ção, implantação e funcionamento, implicarem desagregação social, descaracterização de comunidades, deslocamentos indesejados, desapossamento de bens (ANTUNES, 2016). É o que aconteceu com a hidrelétrica de Belo Monte, no que tange à proteção das comunida- des indígenas, definido, inclusive, pela jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Outro ponto de importância para o estudo do EIA são os efeitos desfavoráveis sobre a biota. São aqueles que dizem respeito, diretamente, às condições de vida animal e vegetal na região considerada (ANTUNES, 2016). Direito Ambiental10 Além disso, também pode ser considerado como nocivo ao meio ambiente a alteração das condições estéticas e sanitárias são as transformações que produzem alterações de natureza paisagística ou visual ou mesmo olfativa, que potencialmente possam resultar em doenças para os membros de uma coletividade. Quanto à qualidade dos recursos ambientais, o projeto a ser implantado não poderá trazer alterações qualitativas aos recursos, tais como enfraquecimento genético de espécies, di- minuição de padrões de concentração de determinados elementos, dentre outros aspectos (ANTUNES, 2016). Direito Ambiental11 Tópico 2 - Aspectos Constitucionais do EIA No Brasil, a obrigatoriedade do EIA para a implantação de obras ou atividades potencial ou efetivamente causadores de significativa degradação ambiental é uma imposição constitu- cional (artigo 225, § 1º, inciso IV do texto constitucional). A constitucionalização do EIA não foi acompanhada de uma legislação ordinária apta a concretizar a determinação constitucional no plano da prática diária e administrativa. Fato é que a norma constitucional é aberta e necessita que o Poder Executivo defina cri- térios capazes de estabelecer, com segurança, qual é o conceito de atividade que efetiva ou potencialmente possa ser causadora de significativa degradação ambiental. Atualmente, a matéria permanece, em âmbito federal, regulada por ato administrativo de escala normativa inferior, que são as resoluções do CONAMA. Cuida-se de uma situação de inconstitucionalidade formal, pois uma norma constitucional foi “regulamentada” por uma resolução do CONAMA. O problema não é a regulamentação ser realizada pelo CONAMA, mas o texto constitucional conter a expressão “na forma da lei”. O EIA incide diretamente na esfera de direitos e garantias individuais, seja o direito ao meio ambiente equilibrado, seja o direito ao empreendedorismo empresarial. No caso, o ideal seria a existência de uma lei definindo diretrizes mínimas para o enqua- dramento de uma obra ou atividade no conceito de causadora de significativa degradação ambiental, remetendo ao Executivo a implementação de tais diretrizes. É importante considerar que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não tem con- siderado as regulamentações administrativas como aptas a dispor diretamente sobre ma- Direito Ambiental12 téria constitucional. - AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE INJUNÇÃO. ARTIGO 135 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. - TEXTO CONSTITUCIONAL NÃO SE REGULAMENTA ORIGINARIA- MENTE POR ATO ADMINISTRATIVO NORMATIVO, MAS, SIM, POR LEI, OU ATO NORMATIVO A ESTA EQUIVALENTE. NÃO SE CONFUNDE COM REGULAMENTAÇÃO - QUE SÓ E NECESSA- RIA QUANDO O DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL NÃO E AUTO-APLI- CAVEL - O ATO NORMATIVO EXPEDIDO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚ- BLICA PARA DISCIPLINAR SUA CONDUTA INTERNA NA APLICAÇÃO DE LEI VIGENTE OU DE TEXTO CONSTITUCIONAL AUTO-APLICAVEL. E O MANDADO DE INJUNÇÃO SÓ E CABIVEL QUANDO O DISPO- SITIVO CONSTITUCIONAL, POR NÃO SER AUTO-APLICAVEL, DEMANDA REGULAMENTAÇÃO. E CERTO QUE ESSA REGULAMENTAÇÃO PODE NÃO EXAURIR-SE COM A LEI REGULAMENTADORA, POR EXIGIR ESTA DECRETO QUE, POR SUA VEZ, A REGULAMENTE, E ATÉ, AS VEZES, POR NECESSITAR O DECRETO REGULAMENTADOR DA LEI, QUE REGULAMENTA O DIS- POSITIVO CONSTITUCIONAL, DE ATO NORMATIVO POR PARTE DA ADMINISTRAÇÃO QUE O TORNE EXEQUIVEL. NESSA HIPÓTESE, QUE Direito Ambiental13 PRESSUPOE SEMPRE A EXISTÊNCIA DE LEI QUE VISA A APLICABILIDA- DE DO TEXTO CONSTITUCIONAL, O MANDADO DE INJUNÇÃO SERÁ CABIVEL, POR TER SIDO INSUFICIENTE A REGULAMENTAÇÃO FEITA PELA LEI. - O ARTIGO 135 DA CONSTITUIÇÃO ESTABELECEU UM PRINCÍPIO GE- RAL CONCERNENTE A ADVOCACIA COMO INSTITUIÇÃO - A DE SER O ADVOGADO EM GERAL ÓRGÃO INDISPENSAVEL A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, SENDO INVIOLAVEL POR SEUS ATOS E MANIFESTAÇÕES NO EXERCÍCIO DA PROFISSAO, NOS LIMITES DA LEI -, MAS NÃO DISCI- PLINOU, OBVIAMENTE, A CARREIRA DOS ASSISTENTES JURIDICOS DA UNIÃO, PARA TER-SE QUE E ELA UMA DAS "CARREIRAS DISCIPLINA- DAS NESTE TÍTULO", COMO EXIGE O ARTIGO 135 DA CARTA MAGNA A FIM DE QUE SE APLIQUE A EXTENSAO NELE DETERMINADA. - NÃO HÁ SEQUER QUE FALAR-SE EM NÃO AUTO-APLICABILIDADE DO ARTIGO 39, PAR. 1., A QUE SE REPORTA O 135, AMBOS DA CONS- TITUIÇÃO, PORQUE A LEI, PREVISTA NAQUELE, JA EXISTE (LEI 8.112, DE 12.12.90, ARTIGO 12), E ESTA EM VIGOR POR INDEPENDER, NESSE PARTICULAR, DE REGULAMENTAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO (STF, MI 304, 1993). De certo ponto de vista, mesmo existindo a lei sobre a matéria, o STF exige a instituição de lei específica para regulamentar as questões urbanísticas e ambientais. Inclusive, isto foi decidido em sede de Repercussão Geral no RE 607940/DF. RE 607940/DF Ementa: CONSTITUCIONAL. ORDEM URBANÍSTICA. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS. PODER NORMATIVO MUNICIPAL. ART. 30, VIII, E ART. 182, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PLANO DIRETOR. DIRETRI- ZES BÁSICAS DE ORDENAMENTO TERRITORIAL. COMPREENSÃO. 1. A Constituição Federal atribuiu aos Municípios com mais de vinte mil habitan- tes a obrigação de aprovar Plano Diretor, como “instrumento básico da política Direito Ambiental14 de desenvolvimento e de expansão urbana” (art. 182, § 1º). Além disso, atribuiu a todos os Municípios competência para editar normas destinadas a “promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e contro- le do uso do solo, do parcelamento e da ocupação do solo urbano” (art. 30, VIII) e a fixar diretrizes gerais com o objetivo de “ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar dos habitantes” (art. 182, caput). Portanto, nem toda a competência normativa municipal (ou distrital) sobre ocu- pação dos espaços urbanos se esgota na aprovação de Plano Diretor. 2. É legítima, sob o aspecto formal e material, a Lei Complementar Distrital 710/2005, que dispôs sobre uma forma diferenciada de ocupação e parcelamento do solo urbano em loteamentos fechados, tratando da disciplina interna desses espaços e dos requisitos urbanísticos mínimos a serem neles observados. A edição de leis dessa espécie, que visa, entre outras finalidades, inibir a consolidação de situações irregulares de ocupação do solo, está inserida na competência norma- tiva conferida pela Constituição Federal aos Municípios e ao Distrito Federal, e nada impede que a matéria seja disciplinada em ato normativo separado do que disciplina o Plano Diretor. 3. Aprovada, por deliberação majoritária do Plenário, tese com repercussão geralno sentido de que “Os municípios com mais de vinte mil habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre programas e projetos específicos de ordenamento do espaço urbano por meio de leis que sejam compatíveis com as diretrizes fixa- das no plano diretor”. 4. Recurso extraordinário a que se nega provimento (STF, RE 607940/DF, 2015). No que concerne aos impactos ambientais, a Constituição Federal, com as alterações pro- movidas pela Emenda Constitucional 42, de 2002, estabeleceu que o exame dos impactos ambientais deve ser “diferenciado”, considerando-se os produtos, serviços e seus processos de elaboração e prestação (art. 170, VI). Assim, o inciso IV do § 1º do artigo 225 deve ser lido e compreendido em harmonia com o artigo 170, VI. Direito Ambiental15 O administrador não pode estabelecer exigências ambientais, notadamente no que se refere à análise de impactos ambientais que desconsiderem o porte dos empreendimentos e suas repercussões sobre o ambiente. Cuida-se da adoção de critério de maior proteção ambiental, sem custos excessivos (ANTUNES, 2016). Questão interessante e de Direito no tempo. Segundo o STJ, para atividade instalada antes da exigência regulamentar, não há a exigência do EIA: REsp 766.236/PR, 2007 PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL. RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL. DES- NECESSIDADE NO CASO CONCRETO. 1. O Estudo Prévio de Impacto Ambiental revela exigência administrativa que não se coaduna com o funcionamento de empresa instalada há mais de 3 (três) décadas, conjurando, a um só tempo, a evidência do direito e o periculum in mora (art. 273 do CPC). 2. Deveras, sobressai carente de prova inequívoca a ação que visa à referida exi- gência legal instituída após 1 (uma) década da instalação da empresa, por isso que, in casu, através de cognição exauriente e no curso da lide, prova técnica, sob contraditório, encerra meio pertinente à aferição da verossimilhança da alegação. 3. É defeso ao juiz, em nome do "poder geral de cautela", deferir medida anteci- patória satisfativa, porquanto diversos os requisitos para a concessão da tutela jurisdicionais referidas. É que a tutela cautelar reclama aparência (fumus boni juris), e a tutela satisfativa, evidência (prova inequívoca conducente à verossimi- lhança da alegação). 4. A fungibilidade dos requisitos viola o art. 273 do CPC, tanto mais que, in casu, a tutela antecipada visa a estagnação das atividades da empresa, caso não apre- sente o Estudo Prévio, sendo certo que a atividade resta exercida por 37 (trinta e sete) anos. Direito Ambiental16 5. Recurso Especial provido (STJ, REsp 766.236/PR, 2007). Porém, permanece uma exigência – que é a substituição por perícia (avaliação do impacto ambiental de forma posterior): REsp 1172553/PR, 2014 ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DA- NOS AO MEIO AMBIENTE. USINA HIDRELÉTRICA DE CHAVANTES. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. LEI 7.990/89. COMPENSAÇÃO FINANCEIRA PELA UTILIZAÇÃO DOS RE- CURSOS HÍDRICOS. DANOS AMBIENTAIS EVENTUAIS NÃO ABRANGI- DOS POR ESSE DIPLOMA NORMATIVO. PRECEDENTE STF. EXIGÊNCIA DE ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA/RIMA). OBRA IM- PLEMENTADA ANTERIORMENTE À SUA REGULAMENTAÇÃO. PROVI- DÊNCIA INEXEQUÍVEL. PREJUÍZOS FÍSICOS E ECONÔMICOS A SEREM APURADOS MEDIANTE PERÍCIA TÉCNICA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O Tribunal de origem apreciou adequadamente todos os pontos necessários ao desate da lide, não havendo nenhuma obscuridade que justifique a sua anulação por este Superior Tribunal. 2. A melhor exegese a ser dispensada ao art. 1º da Lei 7.990/89 é a de que a com- pensação financeira deve se dar somente pela utilização dos recursos hídricos, não se incluindo eventuais danos ambientais causados por essa utilização. 3. Sobre o tema, decidiu o Plenário do STF: "Compensação ambiental que se revela como instrumento adequado à defesa e preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações, não havendo outro meio eficaz para atin- gir essa finalidade constitucional" (ADI 3.378-DF, Rel. Min. AYRES BRITTO, DJe 20/06/2008). 4. A natureza do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado - funda- mental e difusa - não confere ao empreendedor direito adquirido de, por meio do desenvolvimento de sua atividade, agredir a natureza, ocasionando prejuízos de Direito Ambiental17 diversas ordens à presente e futura gerações. 5. Atrita com o senso lógico, contudo, pretender a realização de prévio Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) num empreendimento que está em atividade desde 1971, isto é, há 43 anos. 6. Entretanto, impõe-se a realização, em cabível substituição, de perícia técnica no intuito de aquilatar os impactos físicos e econômicos decorrentes das ativida- des desenvolvidas pela Usina Hidrelétrica de Chavantes, especialmente no Muni- cípio autor da demanda (Santana do Itararé/PR). 7. Recurso especial parcialmente provido (STJ, REsp 1172553/PR, 2014). REsp 1172553/PR, 2014 REsp 1172553/PR, 2014 Assim, com natureza constitucional, o EIA é uma informação técnica posta à disposi- ção da administração, com vistas a subsidiar o licenciamento ambiental de obra ou ati- vidade capaz de potencial ou efetivamente causar significativa degradação ambiental (ANTUNES, 2016). Direito Ambiental18 Encerramento A Administração Pública tem o dever constitucional de proteger o meio ambiente. Dentro dessa responsabilidade constitucional, o EIA apresenta-se como instrumento técnico capaz de subsidiar o Poder Público para evitar a potencial e efetiva degradação ambiental. Com o tratamento adequado conferido pelo EIA, há a grande possibilidade de subsidiar – de forma qualificada – o licenciamento ambiental de forma hermeneuticamente adequada. Agora que finalizamos, você está apto a realizar os exercícios desta aula. Fique atento a sua performance e frequência nas atividades!
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