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Resumo P R O D U Ç Ã O : V I T O R D A N T A S P R O D U T O R V E R I F I C A D O D O P A S S E I D I R E T O Vitor Dantas - METABOLISMO TUTORIA 05/SESSÃO 07 OBJETIVOS: → Descrever a função, tipo e transporte de l ipoproteínas → Descrever as alterações hormonais na obesidade → Relacionar os fatores psicossociais e hábito de vida coma obesidade → Descrever as medidas antropométricas que auxil iam na avaliação do perfil nutricional ↪ Descrever a função, tipo e transporte de lipoproteínas Os lipídios não circulam livremente no plasma sanguíneo (por ser um meio predominantemente aquoso), mas sim, evolvidos por complexos proteicos denominados lipoproteínas plasmáticas. As lipoproteínas é o complexo solúvel que serve de transporte para o colesterol e os lipídios em geral, uma vez que eles são insolúveis e precisam de algo para realizar esse transporte no sangue. A lipoproteína tem estrutura esferoide, de caráter micelar, em que na superfície estão os lipídios anfipáticos e no interior os lipídios hidrofóbicos. Além dos lipídios, há também a porção proteica, que pode ser mais periférica ou integral (atravessam toda a estrutura da lipoproteína). Os lipídios se condensam à apoproteína (porção proteica da lipoproteína), formando a estrutura esférica que caracteriza a lipoproteína plasmática. No centro dessa esfera, situam- se os compostos mais apolares: triglicerídeos, ésteres de colesterol. Mais na região periférica se concentram o colesterol e fosfolipídios (por serem menos apolar que aqueles compostos que ficam no centro). A partícula de lipoproteína é constituída por uma monocamada externa que contém colesterol livre, fosfolipídios e apoproteínas. Os ésteres de colesterol e os triglicerídeos localizam-se no interior da partícula. Em resumo, as lipoproteínas são partículas esféricas com um centro hidrofóbico (triglicerídeos e colesterol esterificado) e na superfície da membrana, apolipoproteínas, colesterol livre e fosfolipídios. → Classificação: Podem ser encontradas circulando na corrente sanguínea quatro diferentes tipos de lipoproteínas: quilomícrons, VLDL, LDL e HDL. O que diferencia uma da outra é o conteúdo que cada uma carrega. Esse grupo pode ser classificado quanto a dois critérios: Quanto à densidade: • Quilomícrons: são sintetizados no intestino delgado (enterócitos). São ricos em TGL provenientes da dieta. Possui um conteúdo proteico muito pequeno (cerca de 1% a 2% de sua massa), sendo então considerada uma molécula leve. Apresentam, principalmente 3 apoproteínas: Apo B48, Apo CII e CIII, Apo E, Apo AI e AII. • VLDL (Very Low Density Lipid): Sintetizada no fígado (hepatócitos). Transporta majoritariamente os TGL endógenos (sintetizados pelo próprio organismo a partir do excesso de carboidratos). Apresenta principalmente 2 apoproteínas: Apo B100 e Apo CIII. • LDL (Low Density Lipid): Transporta majoritariamente o colesterol livre. Tem como principal apoproteína associada a Apo B100. • HDL (High Density Lipid): também sintetizada pelo fígado, transporta principalmente fosfolipídios e ésteres de colesterol. De todas as lipoproteínas, é a que tem maior conteúdo proteico, daí sua designação como “alta densidade”. Tem como principais apoproteínas: Apo AI, Apo CII e a Apo E. OBS: Quanto maior o conteúdo proteico, maior a densidade. De acordo com a mobilidade eletroforética: - Quilomícrons - β-lipoproteína (LDL) - Pre-β-lipoproteína (VLDL) - α-lipoproteína (HDL) Apolipoproteínas: Para se tornar solúvel, o lipídio precisa se ligar às apoproteínas (ou apolipoproteínas). São as principais componentes das lipoproteínas, sendo classificadas de acordo com a designação alfabética de A a E. São responsáveis pelo reconhecimento da partícula pelos receptores. → Funções das Apolipoproteínas Fazem parte da estrutura das lipoproteínas. Ex: Apo B. São cofatores enzimáticos. Ex: Apo C-II da lipoproteína lipase; Apo A-I da lecitina colesterol- aciltransfrase. Servem como ligantes para a interação com os receptores de lipoproteínas dos tecidos. Ex: Apo B- 100 e apo E para o receptor-LDL (Apo B100/Apo E); Apo E para a proteína relacionada a receptor (LRP); Apo A-I para o receptor da HDL. → Principais enzimas do metabolismo das lipoproteínas • Lipoproteína Lipase (LPL): hidrolisa o triglicerídeo dos quilomícrons e VLDL estimulada pela ApoCII • Triglicerídeo Lipase Hepática (HTGL): hidrólise dos triglicerídeos das Lipoproteínas parcialmente digeridas pelaLPL, convertendo IDL em LDL. • Lecitina Colesterol Aciltransferase (LCAT): esterifica o colesterol remanescente da HDL. Vitor Dantas - METABOLISMO •Proteína Transferidora de Ésteres de Colesterol (CEPT): Transfere os ésteres de colesterol de HDL para VLDL ou LDL, em troca de triglicerídeos. → Quilomícrons Os quilomícrons (QM) são lipoproteínas de densidade muito baixa (menor que 1.006). São responsáveis por transportar os triglicerídeos da dieta do intestino para os tecidos periféricos. Suas principais características são: Densidade <1.006 Diametro 80 - 500 nm Triglicerides da dieta ApoB-48, apoA-I, apoA-II, apoA-IV, apoC-II/C-III, apoE Eletroforese: não migra, permanecendo no ponto de aplicação. A meia-vida é curta, inferior a uma hora. → Metabolismo dos Quilomícrons Os lipídios da dieta (TGL exógenos) passam pelo trato gastrointestinal e, em nível do enterócito, são ressintetizados, sendo associados a proteínas, formando assim os QM nascentes. A principal apoproteína sintetizada no intestino é a apo B48. Os QM nascentes passam para a circulação linfática. E em nível do ducto torácico, passam para o sangue. Nesse nível, o QM recebe Apo CII e a Apo E de uma partícula de HDL existente. Ao receber a Apo CII, os QM, agora ativos, sofrem ação da lipoproteína lipase vascular, presente nos capilares linfáticos. Estas atuam hidrolisando o TGL presente em uma concentração muito elevada nesses QM, liberando AG e glicerol, que serão captados por tecidos extra-hepáticos (periféricos). É dessa forma que os lipídios ingeridos começam a ser estocados no tecido adiposo ou transportados para os músculos. Com isso, essa lipoproteína perde cerca de 80% da massa de TGL inicial que continha, perdendo em grande parte seu diâmetro, passando a se chamar quilomícron remanescente. Ao ser hidrolisada, devolve à HDL as apo A e apo C, permanecendo apenas com a apo E. O destino dessa partícula é ser captada pelo fígado por meio do receptor da LDL (LDL Apo B100/Apo E) por reconhecer a apo E. O conteúdo dos QM, ao chegar ao fígado, é degradado para ser utilizado na formação das VLDL. OBS: A lipoproteína lipase é chamada de fator de clareamento do plasma, pois ao quebrar os TGL, deixa o soro mais límpido. Defeitos nessa enzima (ou na ApoCII) gera um acúmulo de TGL no sangue. OBS: O processo de clearence consiste na degradação (depuração) do QM remanescente no fígado, retirando-o do sangue. → VLDL A VLDL é uma partícula rica em TGL sintetizados no fígado (TGL endógeno). É um pouco mais denso que os QM, possuindo como apoproteínas: Apo B100, Apo E e as Apo CII e CIII. As principais características da VLDL são: Densidade >1.006 Diâmetro 30 - 80nm Transporta triglicerídeos endógeno ApoB-100, apoE, apoC-II/C-III Migração na eletroforese: pré-betalipoproteína Formado no fígado como VLDL nascente (contém: triglicerídeos, apoE and apoB-100) → SÍNTESE DA VLDL A síntese da VLDL ocorre no fígado, ao receber os TGL endógenos com a apo B100. A VLDL nascente apresenta uma grande quantidade de TGL, os quais foram sintetizados pelo fígado a partir da degradação dos QM remanescentes. A VLDL é então lançada no sangue. No sangue, a HDL doa a apo CII e apo E para a VLDL. A apo CII ativa então a lipoproteína lipase, que começa a digerir os TGL da VLDL, fazendo dela uma partícula menor, a VLDL remanescente (ou IDL – lipoproteínade densidade intermediária). A apo CII é então devolvida para a HDL. É dessa forma que o organismo estoca o excesso de lipídios e carboidratos no tecido adiposo. •A VLDL remanescente tem dois destinos: Ser absorvida pelo fígado e metabolizada; Grande parte da VLDL forma a LDL (rica em colesterol) por meio da enzima Triglicerídeo Lipase Hepática (HTGL). →LDL Lipoproteína de baixa densidade, formada a partir da VLDL da circulação. É chamada de "colesterol ruim" ou "colesterol mau", porque em altas taxas ela está relacionada com a aterosclerose, e, portanto está também indiretamente relacionada ao infarto e AVC, por exemplo. Em geral, o LDL transporta colesterol e triglicerídeos do fígado e intestino delgado às células e tecidos que estão necessitando destas substâncias. Densidade: 1.019 - 1.063 Diâmetro: 18-25nm Ésteres de colesterol ApoB-100 Migração na eletroforese: Beta Vitor Dantas - METABOLISMO • Valores de Referência: Desejável: < 130 mg/dL Risco moderado: 130-159 mg/dL Alto risco: >160 mg/dL → Síntese da LDL Na verdade, a LDL é formada a partir da VLDL remanescente, após a digestão dos TGL. Por isso, a LDL transporta principalmente o colesterol livre, tendo como função distribuir o colesterol às células. Todos os nossos tecidos reconhecem a LDL através de receptores para a apo B100, que captam a LDL circulante, retirando-a da circulação sanguínea (endocitose mediada por receptor). O colesterol é um excelente componente de membrana, sendo de grande importância no organismo. Além disso, nas glândulas suprarrenais e órgãos sexuais, é precursor dos hormônios esteroides. → Metabolismo da LDL Os LDL-receptores são sintetizados no RER e transportados ao CG, onde sofre transformações para serem liberados à membrana plasmática. Na MP, os receptores passam a se localizar em fendas revestidas por clatrinas. A apo B100 se liga ao receptor e se internaliza na célula formando um endossomo. Ao formar o endossomo, os LDL-receptores voltam à membrana plasmática em um mecanismo conhecido por reciclagem. Os lisossomos possuem enzimas digestivas que vão degradar a apo B100 a aminoácidos e quebrar o colesterol esterificado em colesterol livre, que será utilizado na estruturação da MP. OBS: Hipercolesterolemia familiar: doença genética caracterizada pela carência de receptores de LDL normais, que passam a não captar o colesterol devidamente, causando uma hipercolesterolemia. Pacientes acometidos apresentam um alto risco de desenvolver doenças coronarianas. O excesso do colesterol na célula é regulado de três formas: Inibição da síntese de receptores da LDL; Inibição da atividade da enzima HMG CoA redutase (enzima que regula a síntese de colesterol endógeno); Aumento da atividade da enzima ACAT (acil colesterol aciltransferase, que esterifica o colesterol livre dentro da célula). A enzima LCAT, diferentemente da ACAT, esterifica o colesterol dentro da HDL. → HDL Chamada de lipoproteína de alta densidade por ter um grande conteúdo proteico, sendo a principal proteína constituinte da HDL a apo A. Ela faz o transporte do colesterol dos tecidos para o fígado. É chamada de "colesterol bom", porque se acredita que ela seja capaz de retirar ateromas das artérias. Suas principais características são: Densidade: 1.063-1.210 Diâmetro: 5-12nm Ésteres de colesterol e fosfolipídeos apoA-I, apoA-II, apoC-II/C-III and apoE Migração eletroforética: posição alfa Função: faz o transporte reverso do colesterol (transporta o colesterol dos tecidos perifericos para o fígado). → Metabolismo da HDL Diferentemente da LDL, que é formada a partir da VLDL, a HDL é sintetizada independentemente. A HDL pode ser formada no fígado e no intestino delgado. Ao ser formada, apresenta um formato discoidal por possuir uma bicamada fosfolipídica. A HDL, bastante rica em lecitina, apresenta ainda a Apo AI. Essa apoproteína capta uma enzima plasmática conhecida como LCAT (lecitina colesterol acil transferase). OBS: Defeitos na apo AI, não haverá funcionamento da LCAT, por ser um co-fator dessa enzima. A LCAT esterifica o colesterol livre. Além disso, a LCAT cliva um ácido graxo da lecitina. Dessa forma, sob ação da LCAT, são produzidos um éster de colesterol e a liso- lecitina (lecitina sem AG na posição 2). A HDL transporta então os ésteres de colesterol, que se localizam mais no interior da lipoproteína por serem mais apolares, tornando-se menos disponíveis, então, para se livrarem (colesterol bom). A HDL faz uma troca de colesterol esterificado por TGL com os quilomícrons e VLDL, tornando-se uma partícula maior e menos densa. A HDL nascente, recém-formada no fígado, tem formato discoide, devido ao seu conteúdo de lipídios hidrofóbicos. Na medida em que é metabolizada, se enriquecendo de ésteres de colesterol, adquire uma forma mais esférica, passando a ser designada como HDL2. Esta é captada pelo fígado, tendo seu conteúdo de colesterol secretado pela bile. Quando maior for o conteúdo de colesterol HDL2 de um paciente, mais favorável, pois significa que está havendo uma boa esterificação e esse colesterol tende a ser excretado pelo fígado. → Funções da HDL Transfere proteínas para outras lipoproteínas (apo C e apo E). Adquire lipídeos de outras lipoproteínas. Adquire colesterol dos tecidos periféricos. Converte colesterol em ésteres de colesterol pela ação da LCAT. Transfere ésteres de colesterol para outras lipoproteínas (VLDL e quilomícron em troca de triglicerídeos pela ação da CETP) as quais as transfere para o fígado. Este processo é chamado de transporte reverso do colesterol. → Correlações clínicas • Hipercolesterolemia familiar: doença genética caracterizada pela carência de receptores de LDL normais, que passam a não captar o colesterol devidamente, causando uma hipercolesterolemia. Pacientes acometidosapresentam um alto risco de desenvolver doenças coronarianas. Vitor Dantas - METABOLISMO • Hipertrigliceridemia familar: causada por defeito genético envolvendo a lipoproteína lipase ou por defeito em seu co-fator (a Apo CII). • Estetose Hepática: Acúmulo de lipídios em células ou tecidos onde normalmente não ocorre, geralmente em onsequência de distúrbios metabólicos. Os lípides são quase sempre triglicérides. O fígado é o órgão que mais requentemente sofre esteatose, o que reflete seu papel central no metabolismo das gorduras. A esteatose hepática não é uma doença. É uma alteração morfofisiológica dos hepatócitos que ocorre em consequência de diversas desordens metabólicas. No ser humano, é observada principalmente em três situações: • Desnutrição crônica. • Diabetes mellitus descompensado. • Alcoolismo crônico. ↪ Descrever as alterações hormonais na obesidade A obesidade é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal, que pode prejudicar a saúde. Dados Universidade de Washington, nos Estados Unidos, mostram que 2,2 bilhões de pessoas (30% da população mundial) têm sobrepeso ou obesidade. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que a proporção de pessoas com excesso de peso no país avançou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011; nesse ano o percentual de obesos era 15,8%. O problema do excesso de peso não atinge somente os adultos. Segundo a OMS, em 2011, mais de 40 milhões de crianças menores de 5 anos estavam acima do peso. É importante destacar que 30 milhões dessas crianças vivem em ambientes urbanos de países de baixa e média renda, mostrando que o problema não é restrito a países desenvolvidos. Essa situação também é vista no Brasil, no qual, em 2009, uma em cada três crianças estava acima do peso. A causa fundamental da obesidade é o desequilíbrio energético entre as calorias consumidas e as calorias gastas. No mundo todo observa-se uma redução da prática de atividadefísica e um aumento no consumo de alimentos de alta densidade energética, ricos em açúcar e gordura. Atualmente, a obesidade adquiriu as características de uma pandemia e é considerada um problema de saúde pública por estar associada a um aumento no risco de doenças cardiovasculares , diabete melito tipo 2 (DM2), hipertensão arterial, dislipidemia, doença hepática e alguns tipos de cânceres. Tecido adiposo: Durante muito tempo acreditou-se que o tecido adiposo era apenas o principal local de armazenamento para o excesso calórico consumido. Hodiernamente, após diversos estudos, o tecido adiposo é conhecido como um órgão dinâmico metabolicamente, que além de ser o principal local de armazenamento para o excesso de energia, tem função endócrina, sendo capaz de sintetizar uma série de compostos biologicamente ativos que regulam a homeostase metabólica. Ele é formado por Adipócitos + Fração de estroma vascular(células sanguíneas, células endoteliais ,células precursoras adiposas, células do sistema imunológico, entre outras). Vários estudos têm demonstrado que o tecido adiposo produz uma série de substâncias, as quais são denominadas adipocinas, dentre as quais leptina, adiponectina, resistina e algumas citocinas, como interleucina- 6 (IL-6), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Tecido adiposo e inflamação: Investigadores têm percebido que existe um estado inflamatório induzido pelo estresse metabólico.O fator desencadeante é o excesso de nutrientes o qual se manifesta com aumento do tamanho do adipócito (hipertrofia) e também do seu número (hiperplasia). Essa adipogênese implica na diferenciação de pré- adipócitos em adipócitos maduros, os quais secretam adipocinas, que juntamente podem ter efeitos autócrinos, parácrinos e endócrinos. Sendo assim, o estado inflamatório que acomete indivíduos obesos é denominado inflamação metabólica ou metainflamação. Todo esse processo altera o funcionamento do tecido adiposo e de diversos de seus mecanismos, caracterizando, então, um tecido disfuncional. Dentre as características dessa disfunção, a massa adiposa vai apresentar mudanças na sua composição celular como, por exemplo, aumento na quantidade de células inflamatórias. Diversos fatores podem desencadear a resposta inflamatória no tecido adiposo em condições de sobrecarga nutricional, dentre eles a microhipóxia, estresse do retículo endoplasmático e, mais recentemente descrito, ácidos graxos saturados, um mecanismo dependente da ativação de receptor toll-like 4 (TLR4). A sobrecarga de carboidratos e lipídios que ocorre na obesidade acarreta um aumento do metabolismo celular. Um aumento de um desses substratos leva a um aumento na cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria, gerando uma hipóxia relativa devido à maior necessidade de oxidação de nutrientes, gerando uma quantidade acima do normal de espécies reativas de oxigênio, levando a um estado de estresse oxidativo e aumentando a produção de citocinas. Assim, o excesso de nutrientes e a obesidade estão relacionados com o estímulo dessas vias principais, levando à produção de quimiocinas e citocinas pró-inflamatórias. Essas citocinas, principalmente as quimiocinas, atraem monócitos da circulação, que ao se infiltrarem no tecido adiposo transformam-se em macrófagos, aumentando a produção de citocinas como TNF-α e IL-6, um fator importante para o desenvolvimento de resistência tecidual à insulina. Vitor Dantas - METABOLISMO Disfunção do tecido adiposo e consequências metabólicas: o papel das adipocinas Em circunstâncias normais, a insulina estimula a absorção da glicose pelo músculo esquelético, inibe a gliconeogênese e a produção hepática de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), além de diminuir a lipólise no tecido adiposo. No músculo esquelético e no tecido adiposo, a sinalização intracelular da insulina começa com sua ligação a um receptor específico de membrana, uma proteína heterotetramérica com atividade tirosina quinase intrínseca, composta por duas subunidades alfa e duas subunidades beta, denominada receptor de insulina (IR).36 A ativação do IR resulta em fosforilação em tirosina de diversos substratos, incluindo substratos do receptor de insulina 1 e 2 (IRS-1 e IRS-2). Após uma serie de eventos, ocorre a ativação da PI3k aumentando a fosforilação em serina da proteína quinase B (Akt) e isso permite o transporte de glicose através da translocação da proteína GLUT-4 para a membrana celular, permitindo a entrada da glicose por difusão facilitada. Outro mecanismo envolvido com a homeostase energética é a ativação da AMPK (proteína quinase ativada por AMP). Uma vez ativada, AMPK exerce efeitos sobre o metabolismo da glicose e lipídios, atuando em diversos órgãos. No fígado, diminui a síntese de lipídios e estimula a queima de gordura, além de bloquear a produção hepática de glicose. Na musculatura esquelética, estimula principalmente a captação de mais de 70% da glicose plasmática, por meio de dois mecanismos: aumentando a translocação do GLUT-4 e a sensibilidade à insulina. No entanto, resultados demonstram que a ativação crônica na produção de citocinas próinflamatórias no interior das células que sofrem a ação da insulina pode levar à deterioração da resposta do tecido ao hormônio. Assim, a ativação da resposta inflamatória por uma sobrecarga nutricional pode torna-se um fator promotor para o desenvolvimento da resistência à insulina e, consequentemente, disfunção do tecido adiposo. Por outro lado, a ativação da AMPK parece suprimir a resposta inflamatória no tecido adiposo de indivíduos obesos por meio da inibição da síntese de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α, IL-6 e IL-8.44 AMPK regula também os níveis de leptina e adiponectina. Leptina, adiponectina e resistina: Outras adipocinas como a leptina, adiponectina e resistina também participam do processo inflamatório e da resistência à insulina em condições de obesidade. • Leptina: Tem como função regular o nível de energia, consumo de alimento e mediadores inflamatórios. Ela proporciona a ligação funcional entre o sistema imunitário e a homeostase energética. Esse hormônio age centralmente no hipotálamo para reduzir a ingestão de alimentos e aumentar a utilização de energia e os seus níveis correlacionam-se diretamente com a massa adiposa. No entanto, de forma similar ao que ocorre com indivíduos com diabete melito, nos quais os níveis de insulina estão aumentados, é provável que ocorra um aumento da resistência periférica à leptina em indivíduos obesos. Esse paradoxo pode ser explicado por diversos mecanismos celulares. Um deles envolve um possível defeito no transporte da leptina através da barreira hematoencefálica. Uma menor expressão dos receptores da leptina nos obesos, associada à ingestão de dietas ricas em gorduras, também pode ser uma explicação. Obs: Com relação a doenças cardiovasculares, a leptina também parece ter uma variedade de funções pró-aterogênicas. Estimula a produção de citocinas pró-proliferativas e aumenta a agregação das plaquetas, causando disfunção endotelial e induzindo o estresse oxidativo. Outra ação pró-aterogênica da leptina é sua capacidade de induzir a expressão da proteína C reativa (PCR) em artéria coronária. Portanto, a leptina fornece uma ligação funcional entre obesidade e doenças cardiovasculares e seus níveis aumentam exponencialmente com a gordura corporal. • Resistina: A resistina é outra adipocina que foi identificada em 2001 como uma proteína especificamente secretada pelo adipócito. Esse hormônio Induz a expressão de moléculas de adesão celular vascular 1 (VCAM-1) e a molécula de adesão intercelular-1 (ICAM-1), além de citocinas como TNF-α e IL-6. Somado a isso, estudos mostram que elevados níveis de resistina estão associados com a presença e severidade da doença arterial coronariana. • Adiponectina A adiponectina é uma outra adipocinasintetizada não só pelos adipócitos mas também pelo músculo esquelético, células endoteliais e cardiomiócitos. Ao contrário de todas as outras adipocinas citadas, a adiponectina possui atividade anti-inflamatória e antiaterogênica, age como protetor cardiovascular e melhora a sensibilidade à insulina. ↪ Relacionar os fatores psicossociais e hábito de vida coma obesidade Obesidade e depressão, segundo a OMS, estão entre os maiores problemas de Saúde Pública no mundo. Diversos estudos apontam para importante associação entre ambas, o que pode resultar no agravamento do prognóstico das comorbidades, menor aderência ao tratamento, maior morbimortalidade, assim como comprometimento funcional e psicossocial dos obesos. A patologia é considerada uma síndrome multifatorial na qual a genética, o metabolismo e o ambiente interagem, assumindo diferentes quadros clínicos, nas diversas realidades sócio-econômicas. Atualmente, é considerada uma condição de elevada prevalência, que suscita a atenção do clínico, do pesquisador, assim como dos que trabalham na área social e sanitária. Embora alguns autores apontem a obesidade como causadora e não como consequência de sofrimento psíquico, outros afirmam que indivíduos com depressão apresentam maior risco para a obesidade. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica destaca que a obesidade aumenta em 55% o Vitor Dantas - METABOLISMO risco de depressão, e esta, em 58% o risco de obesidade, indicando possível circularidade entre as duas patologias. Mais do que a obesidade em si mesma, a percepção de estar acima do peso é fator de risco para sintomas depressivos. Além disso, fatores psicossociais, como estigma e discriminação, também podem contribuir para a depressão em obesos. Estigma é a identidade atribuída pela sociedade àqueles que não respondem aos padrões e características estabelecidos, o que os torna diferentes. No caso dos obesos, o caráter negativo do estigma se intensifica na medida em que as expectativas e exigências sociais os tornam indesejados, depreciados e marginalizados. Ou seja, obesidade não é apenas um problema individual, é também social. Como exemplos de atitudes e estereótipos negativos em relação à obesidade desde a infância, Staffiere (1967) relata como crianças descreviam outras, desenhadas como obesas: preguiçosas, burras e mentirosas. Segal (2000) ressalta que os obesos permanecem menos tempo na escola e posteriormente têm menos chances em empregos mais concorridos ou têm salários mais baixos. Alguns obesos, segundo o autor, têm também a percepção de serem tratados desrespeitosamente por profissionais de saúde, o que os leva a relutar em procurar ajuda relacionada a sua condição. Os padrões ideais de beleza da sociedade também elaboram mensagens que definem uma identidade negativa e depreciada dos obesos, promovendo um sentimento de desqualificação que prejudica sua inserção social e gera sofrimento subjetivo. Sofrimento emocional Araújo (2004) destaca o sofrimento emocional como fator retroalimentador na manutenção da obesidade. Os depoimentos indicam que a dificuldade para lidar com emoções negativas estimula a busca do alimento como conforto Consumo de alimentos ultraprocessados: Ao pensar em retrospecto em quais alimentos você consumiu hoje, quantos deles estavam in natura, ou seja, não haviam sido nada alterados depois de retirados da natureza? A probabilidade é que boa parte deles tenha sofrido algum grau de processamento, já que desde a década de 80, os produtos ultraprocessados apresentam participação crescente na dieta brasileira. Os alimentos ultraprocessados são formulações da indústria, feitos em sua maioria ou totalmente a partir de ingredientes e aditivos e contendo pouco ou nenhum alimento integral, como é o caso dos refrigerantes, do macarrão instantâneo e dos salgadinhos. Isso se diferencia da categoria dos highly processed (altamente processados, em inglês) por não se referir apenas à intensidade do processamento, mas também ao propósito, que é o de substituir alimentos in natura, e não de complementar a alimentação. Segundo o estudo sobre a “Participação crescente dos ultraprocessados na dieta brasileira” entre 1987 e 2009, publicado em 2013 na Revista de Saúde Pública, o aumento da aquisição de produtos prontos para consumo por domicílio metropolitano do Brasil nessas duas décadas se deu em todas as classes sociais. Nos anos 2000, a pesquisa foi feita em âmbito nacional e confirmou a amplitude do problema em todo o País. Paralelamente ao aumento, houve queda significativa na participação de alimentos e de ingredientes culinários na dieta brasileira nesse período. O Guia Alimentar para a População Brasileira propõe uma classificação inovadora dos alimentos, de acordo com seu grau de processamento industrial. Pensado para auxiliar e dialogar com a população em geral, não apenas com especialistas em nutrição, o guia fala mais de comida de verdade do que de nutrientes e alia as recomendações nutricionais a aspectos sociais, econômicos e ambientais da mesa brasileira. “Por ser inovador, o guia precisou mobilizar apoios. Ele tem um impacto na economia brasileira, na tendência de consumo de ultraprocessados ao incentivar os minimamente processados e as comidas preparadas. Essa orientação mexe com interesses poderosos. É uma “guerra surda”, o Produto Interno Bruto (PIB) da alimentação no País é muito grande e há vários agentes econômicos lutando pelos lucros”, relata Carlos Augusto Monteiro, professor da FSP-USP e coordenador técnico do guia em parceria com o Ministério, sobre o processo que deu origem à publicação. Ele diz ainda que a medicalização da alimentação está por trás da elaboração de guias nutricionais e alimentares, mas que a publicação de 2014 procura sair desse paradigma tradicional por considerar a redução da alimentação só a nutrientes “muito pobre” e pretender estimular as pessoas a repensarem suas vidas em termos dos hábitos alimentares. → O Guia alimentar propõe quatro categorias de alimentos, segundo seu grau de processamento: O impacto do aumento no consumo de ultraprocessados pelos brasileiros nas últimas três décadas atua tanto na saúde individual quanto em aspectos coletivos, como a cultura alimentar, a vida social e o meio ambiente. São muito pobres em fibras (essenciais para a prevenir as doenças do coração, diabetes e vários tipos de câncer) e suas características estimulam o consumo excessivo de calorias. Não trazem quantidade significativa de vitaminas, minerais e outras substâncias presentes em alimentos in natura ou minimamente processados, além de apresentarem maior teor de açúcar livre, sódio, gorduras totais e saturadas. Com esse perfil nutricional tão desfavorável, não é de se admirar que estejam entre os fatores da epidemia mundial de obesidade: “a causa da epidemia de obesidade mais importante é o consumo de ultraprocessados, que são rapidamente absorvidos pelo organismo e de baixo teor de saciedade. Famílias que compram mais desses produtos têm maior risco de obesidade e há estudos recentes relacionando o consumo ao aumento do Índice de Massa Corpórea (IMC) médio da população. É difícil combatê-los exatamente pelos atributos exaltados nas propagandas - “irresistível” ou “impossível parar de comer” são lugares-comuns dos anúncios de ultraprocessados, que são alimentos ultra saborosos, em http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/novembro/05/Guia-Alimentar-para-a-pop-brasiliera-Miolo-PDF-Internet.pdf Vitor Dantas - METABOLISMO geral vendidos em grandes porções, duráveis e convenientes, na maioria das vezes não requerem preparação culinária alguma, aliando por essas razões grande aceitação e baixo custo. “A atração que exercem naturalmente é magnificada pelo marketing. Por isso o guia é super importante do ponto de vista da regulação, de informar as pessoas para se contraporao estímulo da indústria”, reforça Monteiro para explicar de que forma as características sensoriais desses produtos e as estratégias agressivas de marketing contribuem para o crescimento acelerado do consumo desses produtos no Brasil. ↪Descrever as medidas antropométricas que auxiliam na avaliação do perfil nutricional A antropometria, conhecida por ser um conjunto de técnicas utilizadas para medir o corpo humano e suas partes, constitui uma ferramenta de grande importância na avaliação do estado nutricional de um indivíduo, sendo um dos indicadores diretos do estado nutricional do paciente. A qualidade das informações antropométricas é fundamental para garantir o correto diagnóstico nutricional. Sendo assim, a falta de capacitação e treinamento de profissionais envolvidos na obtenção das medidas antropométricas, pode implicar em baixa precisão e exatidão dos resultados, distorcendo as prevalências de desvios nutricionais e trazendo sérias consequências em níveis individual e populacional. As medidas antropométricas mais utilizadas na avaliação antropométrica são: peso, estatura, dobras/pregas cutâneas e circunferências. → Peso: O peso é a soma de todos os componentes corporais (água, gordura, ossos, músculos) e reflete o equilíbrio protéico-energético do indivíduo. • Peso atual: é o peso verificado em uma balança calibrada, onde o individuo é posicionado de pé, descalço, no centro da balança e com roupas leves. O valor obtido corresponde ao peso atual do individuo na referida data. • Peso usual: utilizado como referencia na avaliação das mudanças recentes de peso e em casos de impossibilidade de medir o peso atual. Geralmente é o peso que se mantém por maior período de tempo. • Peso ideal ou desejável ou teórico: é o peso definido de acordo com alguns parâmetros, tais como idade, biótipo, sexo e altura. Devido a variações individuais no adulto, o peso ideal pode variar na faixa de 10% abaixo e 10% acima do peso teórico. → Altura: São medidas que expressam o processo de crescimento linear do corpo humano. Estatura: é a medição em pé de crianças maiores de dois anos até a idade adulta. Utiliza-se o estadiômetro. Comprimento: é a medição em decúbito dorsal (deitado, de ventre para cima), utilizado para crianças até dois anos de idade (mesmo que esta já fique em pé). Utiliza-se o infantômetro. Classificação do estado nutric ional de adultos: Mudança de peso: a perda de peso involuntária constitui uma importante informação para avaliar a gravidade do problema de saúde, uma vez que existe uma elevada correlação com a mortalidade. Para determinar a variação de peso, pode ser utilizada a seguinte fórmula: →Circunferências: São medidas de crescimento e podem indicar o estado nutricional e o padrão de gordura corporal, com exceção da circunferência cefálica, que indica o crescimento cerebral. As principais medidas são: Circunferência da cintura (CC) Circunferência do quadril (CQ) Vitor Dantas - METABOLISMO Circunferência abdominal (CA) Circunferência do braço (CB) → Dobras/pregas cutâneas: A espessura da dobra cutânea reflete a espessura da pele e tecido adiposo subcutâneo em locais específicos do corpo. A aferição da dobra é um método relativamente simples, de baixo custo e não invasivo, para estimar a gordura corporal total, porém exige que o avaliador seja bem treinado. As dobras não são indicadas em indivíduos obesos, devido à dificuldade de medir os locais. * São medidas que expressam a quantidade de tecido adiposo corporal, por meio de medida da espessura de algumas dobras/pregas cutâneas e utilizando equações matemáticas (preditivas) que sempre devem ser adequadas à população avaliada, por faixa etária, sexo, etnia, atividade física, entre outras características. O seu uso correto depende de uma adequada coleta das medidas, e para tanto se deve seguir as instruções de locais padronizados para sua coleta e posteriormente fazer a escolha da melhor equação a ser utilizada. As principais dobras utilizadas são: Dobra cutânea triciptal (DCT) Dobra cutânea biciptal (DCB) Dobra cutânea subescapular (DCSE) Dobra cutânea suprailíaca (DCSI) FONTES: Bioquímica Clínica de Wagner de Jesus Pinto Artigo: Obesidade, inflamação e complicações metabólicas com autoria de Fabiane Valentini Francisqueti que é do Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista – UNESP Guia alimentar para a população brasileira do Ministério da Saúde Alimentos ultraprocessados são apontados como causa da epidemia de obesidade (Matéria no site da UNA- Sus) Artigo: Alimentos ultraprocessados e perfil nutricional da dieta no Brasil com autoria de Maria Laura da Costa Louzada que é do Programa de Pós-Graduação em Nutrição em Saúde Pública. Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil Apostila de avaliação nutricional da faculdade Assis Gurgacz Artigo: Percepções de obesos deprimidos sobre os fatores envolvidos na manutenção da sua obesidade: investigação numa unidade do Programa Saúde da Família no município do Rio de Janeiro
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