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1 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA I. Analisar o processo inflamatório considerando tipos, conceitos e fisiopatologia II. Explicar o mecanismo de ação dos anti-inflamatórios, seus tipos e quando utilizá-los III. Descrever o tratamento não medicamentoso IV. Relacionar os sinais e sintomas do paciente com a fisiopatologia O processo inflamatório é uma resposta, de característica protetora que o organismo possui para livrá-lo tanto da causa inicial que levou à injúria celular quanto das consequências que essa injúria pode trazer. Sendo assim, inflamação é uma resposta dos tecidos vascularizados a infecções e tecidos lesados. Consiste em recrutar células e moléculas de defesa do hospedeiro da circulação para os locais onde são necessárias, com a finalidade de eliminar os agentes agressores. Dentre o processo inflamatório, os principais componentes são uma reação vascular e uma resposta celular; ambas são ativadas pelos mediadores que são derivados das proteínas do plasma e de várias células. As etapas da resposta inflamatória podem ser lembradas como os cincos: reconhecimento do agente lesivo, recrutamento de leucócitos, remoção do agente, regulação (controle) da resposta e resolução (reparo). As causas da inflamação incluem infecções, necrose dos tecidos, corpos estranhos, traumas e respostas imunológicas. Células epiteliais, macrófagos do tecido e células dendríticas, leucócitos e outros tipos de células expressam receptores que percebem a presença de microrganismos e de dano. As proteínas circulatórias reconhecem os microrganismos que, eventualmente, tenham entrado no sangue. 2 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA O resultado da inflamação aguda é a eliminação do estímulo nocivo, seguido de diminuição da reação e reparo do tecido lesado, ou a lesão persistente resultando na inflamação crônica. CARACTERÍSTICAS DA INFLAMAÇÃO No sangue há proteínas e leucócitos, os quais são os principais meios de defesa do organismo contra invasores estranhos. A presença desses mecanismos no sangue confere a eles a habilidade de alcançarem qualquer local onde possam ser utilizados, facilitando o processo inflamatório. Além disso, outra importância desses mecanismos de defesa estarem concentrados no sangue é o fato de que invasores como microorganismos e células necróticas estarem tipicamente presentes nos tecidos, fora da circulação, sendo assim, o sangue, logo, será um meio rápido de ser recrutar as proteínas e leucócitos para locais extravasculares. As reações vasculares e celulares da inflamação são disparadas por fatores solúveis que são produzidos por várias células ou derivadas de proteínas do plasma e são geradas ou ativadas em resposta aos estímulos inflamatórios. Microorganismos, células necróticas e mesmo a hipóxia podem disparar a produção de mediadores inflamatórios e então provocar a inflamação. Esses mediadores iniciam e amplificam a resposta inflamatória e determinam seu padrão, severidade e manifestações clínicas e patológicas. CONSEQUÊNCIAS NOCIVAS DA INFLAMAÇÃO As reações anti-inflamatórias de proteção contra infecções são, em geral, acompanhadas por lesão tecidual local e seus sinais e sintomas associados (p. ex., dor e perda funcional). Tipicamente, contudo, essas consequências nocivas são autolimitadas e se resolvem à medida que a inflamação vai se reduzindo, deixando pouco ou nenhum dano. Em contraste, há muitas doenças em que a reação inflamatória é mal direcionada (doenças autoimunes), ocorre contra substâncias ambientais normalmente inofensivas (alergias), ou é inadequadamente controlada. Em casos tais, a reação inflamatória normalmente protetora se torna a causa da doença, e o dano que produz é a característica dominante. As reações inflamatórias são a base das doenças crônicas comuns (artrite reumatoide, aterosclerose e fibrose pulmonar, reações de hipersensibilidade a picadas de insetos, fármacos e toxinas com risco de morte). De fato, a inflamação contribui para uma variedade de doenças que acreditamos ser primariamente metabólicas, degenerativas ou alterações genéticas (diabetes tipo 2, doença de Alzheimer e câncer). Em reconhecimento às consequências prejudiciais de amplo espectro da inflamação, ela é dramaticamente referida como o “assassino silencioso”. 3 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA MEDIADORES DA INFLAMAÇÃO São as substâncias que iniciam e regulam as reações inflamatórias. As reações vasculares e celulares da inflamação são deflagradas por fatores solúveis que são produzidos por várias células ou derivados de proteínas plasmáticas e são geradas ou ativadas em resposta aos estímulos inflamatórios. Microrganismos, células necróticas (qualquer que seja a causa da morte celular) e até mesmo a hipóxia podem estimular a produção de mediadores inflamatórios e, então, provocar inflamação. Esses mediadores iniciam e amplificam a resposta inflamatória, determinando seu padrão, severidade e manifestações clínicas e patológicas. Os mediadores de defesa incluem fagócitos, anticorpos e proteínas do complemento; os quais estão em constante circulação no sangue e, quando há necessidade, são desviados de outras regiões do corpo para o local de inflamação, este processo é chamado de recrutamento. O objetivo desse processo é concentrar uma maior quantidade de células de defesa no local afim de potencializar a defesa do organismo contra o patógeno. Depois da eliminação do patógeno que desencadeou o processo inflamatório, o organismo começa a reparar o tecido lesado. “Sem a inflamação, as infecções poderiam passar despercebidas, feridas poderiam nunca cicatrizar e os tecidos lesados permaneceriam com feridas permanentemente infectadas”. TIPOS DE INFLAMAÇÃO a. INFLAMAÇÃO AGUDA A inflamação aguda representa resposta inicial a uma agressão, no início do processo temos um agente agressor, que pode ser físico, químico, biológico ou uma miscelânea. A resposta inicial é pautada em aumento da permeabilidade vascular e migração de leucócitos, predominantemente neutrófilos. Localmente teremos os sinais cardinais da inflamação, porém, se a reação se torna intensa teremos envolvimento de linfonodos, regionais e até resposta sistêmica, caracterizada por neutrofilia e febre. Dessa forma, a diferença entre a reposta aguda e crônica se baseiam no tempo e que a resposta aguda é imediata com contenção desse agente agressor, sendo essa reposta baseada na rápida alteração vascular. Entretanto, quando não ocorre uma reposta eficaz ou quando ela é exacerbada, essa reposta progride para uma cronificação. 4 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA Os principais estímulos para gerar uma inflamação aguda são: 1) INFECÇÕES (BACTERIANAS, VIRÓTICAS, FÚNGICAS, PARASITÁRIAS) E SUAS RESPECTIVAS TOXINAS As respostas a essas infecções são bastante diversas e variam no prolongamento da resposta (aguda ou crônica), extensão da lesão tecidual (pouca/nenhuma ou muita) ou se serão confinadas ao local de inflamação ou sistêmica. Dependem do patógeno e até do hospedeiro. 2) NECROSE TECIDUAL: Independentemente da causa da necrose, isto é, da morte celular, haverá processo inflamatório. Dentre as causas da necrose estão a isquemia, trauma e lesões físicas ou químicas. 3) CORPOS ESTRANHOS Deflagram inflamação porque transportam microrganismos ou porque causam lesão tecidual traumática. Algumas substâncias deflagraram respostai inflamatória somente quando estas alcançarem uma quantidade excedente como no caso dos cristais de urato (doença de gota), cristais de colesterol (aterosclerose) e lipídeos (síndrome metabólica associada à obesidade). 4) REAÇÕES IMUNES (OU HIPERSENSIBILIDADE) Nesses casos, a própria respostado sistema imune é o causador da doença O organismo produzirá atividade inflamatória direcionada a estruturas próprias (ou transplantadas) ou substâncias que não causariam mal (alergias). Como essas estruturas não podem ser eliminadas, a resposta se tornará crônica e persistente. No caso das alergias, a substância alergênica geralmente é comum no ambiente, o que pode prejudicar o dia-a-dia do paciente. As reações imunes estão associadas a maior morbimortalidade. Mediadores da inflamação AGUDA: Os mediadores são secretados a partir de células ou produzidos a partir de proteínas plasmáticas. Os mediadores derivados de células são concentrados em grânulos intracelulares e podem ser rapidamente secretados por exocitose ou são sintetizados de novo em resposta a um estímulo. Os mediadores derivados do plasma são produzidos principalmente no fígado e estão presentes na circulação como 5 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA precursores inativos e precisam de uma série de processos proteolíticos para serem enfim ativados. Os mediadores são produzidos somente quando há uma considerável estimulação e essa característica garante que somente haja uma resposta inflamatória onde e quando for necessário. Essa estimulação pode ser feita por sinalizadores que podem ser células do sistema imune ou por meio de citocinas e quimiocinas. A maioria s mediadores tem vida curta e eles podem server de estimulação para liberação de outros mediadores. Estas características fazem com que haja um balanço e controle da resposta, de modo que a diminuição da concentração dos mediadores pode gerar a inibição da resposta (quando no momento da resolução) ou à amplificação da resposta (quando ela ainda está nas primeiras etapas). 1) Aminas vasoativas: histamina e serotonina São assim chamadas porque têm importante ação nos vasos sanguíneos e são armazenadas como moléculas préformadas nas células e por isso estão entre os primeiros mediadores liberados durante a inflamação. HISTAMINA As fontes mais importantes de histamina são os mastócitos presentes geralmente no tecido conjuntivo próximo aos vasos sanguíneos. Os basófilos e plaquetas também têm histamina. No caso dos mastócitos, a histamina é liberada por meio da desgranulação em resposta à lesão traumática, à ligação de anticorpos aos mastócitos (alergias) ou às anafilotoxinas (C3a e C5a) do sistema complemento. Neuropeptídeos como a substância P e citocinas IL-1 e IL-8 também causam a liberação de histamina. A histamina causa vasodilatação das arteríolas e o aumento da permeabilidade das vênulas, sendo considerada o principal mediador da fase transitória imediata do aumento da permeabilidade vascular, produzindo espaços interendoteliais nas vênulas. Esses efeitos são mediados pela ligação da histamina aos receptores H1 nas células 6 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA endoteliais. Por isso, algumas drogas anti-histamínicas podem ser utilizadas como anti-inflamatórias através do antagonismo dos receptores H1. SEROTONINA Presente nas plaquetas e certas células neuroendócrinas do trato gastrointestinal. Sua principal função é atuar como neurotransmissor no trato gastrointestinal. Atua causando vasoconstrição, mas sua importância na inflamação não é definida. 2) Metabólitos do ácido araquidônico: Prostaglandinas, leucotrienos e lipoxinas O AA está presente nos fosfolipídios da membrana, estimulando as reações vasculares e celulares na inflamação aguda. Pode ser oriundo tanto da ingestão quando da conversão a partir do ácido graxo essencial – linoleico; Estímulos físicos, químicos ou outros mediadores determinam a liberação do AA dos fosfolipídeos da membrana por meio de fosfolipases celulares, principalmente a A2; Os mediadores derivados do AA, ou eicosanoides, são sintetizados por 2 classes principais de enzimas: ciclooxigenases (geram prostaglandinas) e lipo-oxigenases (geram leucotrienos e lipoxinas). Os eicosanoides se ligam à proteína G e podem mediar praticamente cada etapa da inflamação. PROSTAGLANDINAS São produzidas pelos mastócitos, macrófagos, células endoteliais e muitos outros tipos celulares, e estão envolvidos em reações vasculares e sistêmicas da inflamação. São geradas a partir de duas ciclo-oxigenases, COX-1 e COX-2. A COX-1 é importante na função homeostática, inclusive na função renal e citoproteção do trato gastrointestinal. A COX- 2 é ativada por estímulos inflamatórios, produzindo as prostaglandinas, as quais estão envolvidas nesses processos inflamatórios. Porém a COX-2 é baixa ou ausente na maioria dos tecidos normais. As mais importantes prostaglandinas na inflamação são PGE2, PGD2, PGF2alfa, PGI2 (prostaciclina) e TXA2 7 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA (tromboxano A2). Cada qual derivado da ação de uma enzima específica em um intermediário da via e algumas enzimas são específicas de determinados tecidos. As plaquetas possuem a enzima tromboxano sintetase, que produz TXA2 – potente agregador plaquetário e vasoconstritor – porém ele é instável e inativado rapidamente. No endotélio vascular há muito pouco dessa enzima, mas possui a prostaciclina sintetase, a qual produz a prostaciclina (PGI2), o qual é potente vasodilatador e inibidor da agregação plaquetária. Um desequilíbrio nesse sistema pode ser responsável pela formação de trombos. A PGD2 é a principal prostaglandina produzida por mastócitos e, em conjunto com a PGE2, atua causando vasodilatação e aumento da permeabilidade das vênulas, potenciando a formação de edema. LEUCOTRIENOS São produzidos por leucócitos e mastócitos através da ação da lipoxigenase, e são envolvidos nas reações vasculares e do músculo liso, bem como no recrutamento de leucócitos. A 5-lipoxigenase é a mais importante e converte o AA em 5HPETE, o qual é quimiotático para neutrófilos e precursor dos leucotrienos. LTC4, LTD4 e LTE4 causam vasoconstrição intensa, broncoespasmo e aumento da permeabilidade das vênulas. Os leucotrienos são muito mais potentes que a histamina em aumentar a permeabilidade vascular e provocar broncoespasmo. LIPOXINAS Também são advindas do AA através da via das lipoxigenases, contudo, as lipoxinas têm atividade antiinflamatória, inibindo o recrutamento de leucócitos. Essa inibição é feita ao se inibir a quimiotaxia dos neutrófilos ao endotélio. São mais raras pois dependem da interação entre duas populações de células. Os leucócitos (principalmente os neutrófilos) produzem intermediários da síntese de lipoxinas e esses intermediários são convertidos nos produtos finais pelas plaquetas; ou seja, depende tanto dos leucócitos para fornecer os intermediários quanto das plaquetas para a produção dos produtos finais. 3) Citocinas e Quimiocinas As citocinas são proteínas produzidas por muitos tipos celulares que medeiam e regulam as reações imunológicas inflamatórias. 8 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA FATOR DE NECROSE TUMORAL E A INTERLEUCINA-I Ambas promovem importante papel no recrutamento e adesão dos leucócitos no local de inflamação. São produzidas principalmente por macrófagos e células dendríticas ativadas; o TNF ainda é produzido por Linfócitos T e a IL-1 por algumas células epiteliais. Os estímulos para a suas secreções podem ser lesões físicas, corpos estranhos ou imunocomplexos. As principais funções das citocinas na inflamação são: (1) ativação endotelial (aumento de eicosanoides, quimiocinas e moléculas de adesão); (2) ativação de leucócitos e de outras células (TNF potencializa respostas a toxinas bacterianas por exemplo; a IL-1 ativa fibroblastos e a produçãode colágeno e estimula a produção de TH17, presente na inflamação aguda); (3) resposta sistêmica da fase aguda (febre, falta de apetite e mobilização de lipídeos). Alguns antagonistas de TNF têm sido utilizados para tratamento de doenças inflamatórias crônicas como a artrite reumatoide e a psoríase, porém a pessoa fica mais susceptível às inflamações bacterianas pois há diminuição da atividade dos macrófagos, afinal, é trata- se de uma imunossupressão. QUIMIOCINAS São uma família de proteínas pequenas que agem primariamente como quimioatraentes para tipos específicos de leucócitos. As quimiocinas CXC são induzidas por produtos microbianos e citocinas como IL- 1 e TNF. São secretadas por células como macrófagos e o endotélio vascular. O principal exemplo é a IL-8 e causa a ativação e quimiotaxia de neutrófilos. As quimiocinas CC são quimioatraentes para monócitos, eosinófilos, basófilos e linfócitos e menos para os neutrófilos. As quimiocinas C são relativamente específicas para os linfócitos. As quimiocinas CX3C, seu único exemplo é a fractalcina. Se apresenta de 2 formas: ligada às células endoteliais ativadas por citocinas inflamatórias que promove forte adesão de monócitos e células T e outra forma solúvel derivada de proteólise da proteína ligada à membrana que também serve de quimioatraente para essas mesmas células. As citocinas possuem 2 funções primordiais: (1) potencialização do processo inflamatório, pois estimulam a ligação de leucócitos ao endotélio e auxilia na quimiotaxia dos leucócitos para o local de infecção – são as quimiocinas inflamatórias; (2) 9 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA manutenção da arquitetura dos tecidos, organizando regiões anatômicas dos tecidos como os linfócitos T e B em pequenas áreas do baço e linfonodos – são as quimiocinas homeostáticas. 4) Sistema Complemento É uma coleção de proteínas solúveis e de receptores de membrana que funcionam principalmente na defesa do hospedeiro contra microrganismos e nas reações inflamatórias patológicas. Durante sua ativação, há sucessivos processos de clivagem nas quais os produtos gerados provocam o aumento da permeabilidade vascular, quimiotaxia e opsonização. Durante a cascata proteolítca, a etapa crítica é a clivagem da C3, que pode seguir 3 vias distintas (clássica – fixação de C1 ao anticorpo IgM ou IgG; alternativa – moléculas de superfície de microrganismos na ausência de anticorpo; e das lectinas – na qual a lectina se liga à manose e aos carboidratos dos microrganismos). O sistema complemento é controlado por proteínas regulatórias, contudo estas podem estar sobrecarregadas durante doenças autoimunes. Dentre essas proteínas estão as inibidoras de C1 (C1 INH), que inibe a ativação clássica de C1, sua deficiência causa a angioedema hereditário. O fator de aceleração de decaimento (DAF) e a CD59 inibem a C3 convertase e a formação da MAC respectivamente. Suas ausências estão associadas à hemoglobinúria paroxística noturna (PNH). FATOR DE ATIVAÇÃO PLAQUETÁRIA O PAF é um mediador derivado de fosfolipídeos que pode ser produzido por plaquetas, basófilos, mastócitos, neutrófilos, macrófagos e células endoteliais e podem produzí-lo tanto na forma secretada quanto ligada à células. Causa vasoconstrição, agregação plaquetária e broncoconstrição. Em baixas quantidades causa vasodilatação e aumento da permeabilidade venular. CININAS São peptídeos vasoativos derivados de proteínas plasmáticas chamadas de cininogênio. Depois de alguns processos proteolíticos, o cininogênio produz a bradicinina, a qual aumenta a permeabilidade vascular e causa contração de músculo liso, dilatação dos vasos sanguíneos e dor quando injetada na pele. Os efeitos são similares àqueles da histamina. A bradicinina tem curta vida pois é rapidamente inativada pela enzima cininase e está presente como mediador em reações alérgicas importantes como na anafilaxia. 10 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEUROPEPTÍDEOS São secretados por nervos sensoriais e vários leucócitos, e têm participação na iniciação e na regulação de respostas inflamatórias. São produzidos no SNC e SNP. Os principais exemplos são a substância P (proeminente nos pulmões e no TGI e participa de funções como a transmissão de dor, regulação da PA, secreção hormonal e aumento da permeabilidade vascular) e a neurocinina A. A INFLAMAÇÃO AGUDA PROPRIAMENTE DITA As reações vasculares da inflamação aguda consistem em alterações no fluxo sanguíneo e na permeabilidade dos vasos, ambas destinadas à maximização do movimento das proteínas e leucócitos do plasma para fora da circulação, em direção ao local da infecção ou lesão. Dessa forma, ocorre uma vasodilatação visando diminuir o fluxo sanguíneo e, consequentemente, ocorre uma estase sanguínea fazendo com que mais moléculas cheguem até o tecido lesado. O deslocamento de fluidos, proteínas e células sanguíneas do sistema vascular para dentro do tecido intersticial ou das cavidades corporais é conhecido como exsudação. Exsudato é o fluido extravascular que apresenta uma elevada concentração proteica e contém resíduos celulares. Sua presença implica que há aumento de permeabilidade dos pequenos vasos sanguíneos provocada por algum tipo de lesão tecidual e uma reação inflamatória contínua. Em contraste, um transudato é um fluido com baixo conteúdo proteico (a maior parte composta de albumina), pouco ou nenhum material celular e baixa gravidade específica. Trata- se, essencialmente, de um ultrafiltrado de plasma sanguíneo que resulta de desequilíbrio osmótico ou hidrostático ao longo da parede do vaso sem aumento correspondente na permeabilidade vascular. O edema denota excesso de fluido 11 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA no tecido intersticial ou das cavidades serosas, que pode ser ou um exsudato ou um transudato. O pus, um exsudato purulento, é um exsudato inflamatório rico em leucócitos (principalmente neutrófilos), restos de células mortas e, em muitos casos, microrganismos. Com esses processos “instantâneos” já é possível justificar alguns itens da tríade da inflamação (eritema, calor e edema). Sendo assim, a vasodilatação promove o eritema e calor (decorrente a estase sanguínea), já o edema é justificado pelo aumento da permeabilidade celular. RESPOSTAS DE VASOS LINFÁTICOS E LINFONODOS Além dos vasos sanguíneos, os vasos linfáticos também participam da inflamação aguda. O sistema linfático e os linfonodos filtram e policiam os fluidos extravasculares. Normalmente, os vasos linfáticos drenam a pequena quantidade de fluido extravascular que saiu dos capilares. Na inflamação, o fluxo linfático é aumentado e ajuda a drenar o fluido do edema que se acumula devido ao aumento de permeabilidade vascular. Além do fluido, os leucócitos e os resíduos celulares, bem como os microrganismos, podem encontrar o caminho até a linfa. Os vasos linfáticos, assim como os vasos sanguíneos, se proliferam durante as reações inflamatórias a fim de lidar com o aumento da carga. Os vasos linfáticos podem tornarse inflamados de maneira secundária (linfangite), da mesma forma que os linfonodos de drenagem (linfadenite). Com frequência, os linfonodos inflamados são aumentados por causa da hiperplasia dos folículos linfoides e do aumento no número de linfócitos e macrófagos. Essa constelação de alterações patológicas recebe o nome de linfadenite reativa ou inflamatória. Para os clínicos, a presença de estrias vermelhas perto de uma ferida na pele é sinal revelador de infecção. Essas estrias seguem o curso dos canais linfáticos e são diagnósticas de linfangite; podem estar acompanhadas de aumento doloroso dos linfonodos dedrenagem, indicando linfadenite. 12 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA Após a preparação do tecido, ocorre a efetiva migração de leucócitos. Essas células de defesa vão destruir esses microorganismos, produzir fatores de crescimento, visando a reparação tecidual. É durante esse processo que ocorre o avanço para o funcionamento normal ou ocorrerá um processo de cronificação da inflamação. RECRUTAMENTO DE LEUCÓCITOS PARA OS LOCAIS DE INFLAMAÇÃO As mudanças no fluxo sanguíneo e na permeabilidade vascular são rapidamente seguidas por influxo de leucócitos no tecido. Esses leucócitos realizam a função principal de eliminar os agentes agressores. Os leucócitos mais importantes nas reações inflamatórias típicas são aqueles que podem realizar a fagocitose, em especial os neutrófilos e os macrófagos. Esses leucócitos ingerem e destroem bactérias e outros microrganismos, além de tecido necrótico e substâncias estranhas. Os leucócitos também produzem fatores de crescimento que ajudam no reparo. O preço pago pela potência de defesa dos leucócitos é que, quando fortemente ativados, eles podem induzir dano aos tecidos e prolongar a inflamação, pois os produtos dos leucócitos que destroem os microrganismos e ajudam a “limpar” os tecidos necróticos também podem lesar os tecidos do hospedeiro não envolvidos no processo. Esse processo é mediado e controlado por moléculas de adesão e citocinas chamadas quimiocinas. Sendo divididos em etapas: 1 – recrutamento, 2 – migração via endotélio (diapedese), 3 – migração pelos tecidos (quimiotaxia); O recrutamento envolve 3 etapas: marginalização (células de defesa vão mais para circulação periférica), rolamento (a selectinas promovem a maior adesão de leucócitos ao endotélio visando encontrar o local lesado) e adesão (o local lesado está rico em integrinas e assim, vai fazer com que os leucócitos se liguem ao ponto lesado). 13 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA Após “encontrar” o local lesado, os leucócitos necessitam ultrapassar os espaços endoteliais e assim, existem etapas de migração. 1) Migração via endotélio (diapedese) – a célula de “molda” para passar de dentro do vaso para fora 2) Migração pelos tecidos (quimiotaxia) – a célula chega ao causador da injúria através de uma diferença de gradiente químico. Ou seja, através da ação de quimiocinas ocorre a estimulação de receptores que vão gerar mais cálcio na célula, consequentemente, a contração a nível celular aumentando o transporte de leucócitos até o agente agressor. FAGOCITOSE E LIBERAÇÃO DO AGENTE AGRESSOR Uma vez que os leucócitos (em especial, os neutrófilos e monócitos) tenham sido recrutados para o local da infecção ou morte celular, devem ser ativados para realizar suas funções. As respostas desses leucócitos consistem em reconhecimento dos agentes agressores pelos TLRs e outros receptores, descritos anteriormente, os quais geram sinais que ativam os leucócitos para a fagocitose e destroem os agentes agressores. Dessa forma, inicia-se a remoção do agente agressor. Basicamente essa substância agressora é englobada, formando um vacúolo que se liga a um lisossomo (rico em fatores de destruição: enzimas, radicais livres) e assim, o microorganismo é eliminado. Essa fagocitose é facilitada pelo sistema complemento e depende da quimiotaxia, após a formação e ação do fagolissomo, ocorre a liberação do conteúdo para o espaço extracelular. 14 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA Obs.: em casos que o microorganismo não é combatido pelo fagolissomo, a célula sofre apoptose (como um kamicaze) visando eliminar de vez o agente agressor. Fim da resposta inflamatória (aguda): essa reposta acaba quando o agente agressor é neutralizado, ou seja, o grande marco da inflamação aguda é que ela tem fim. Como as células envolvidas no processo inflamatório tem uma meia vida curta, caso o agente seja eliminado não vai ocorrer estímulo e assim, o processo inflamatório é encerrado (fim do agudo). Além disso, existem sinalizadores de fim de inflamação: TGF-beta, IL-10. Por fim, a inflamação aguda tem 3 possíveis caminhos: 1) Resolução completa: eliminação completa com restauração do tecido normal. 2) Cura por substituição por tecido conjuntivo: exsudação abundante Fibrose. 3) Progressão para inflamação crônica: manutenção do agente causador da injúria, defeito no reparo. TIPOS DE INFLAMAÇÃO AGUDA: As características morfológicas marcantes de todas as reações inflamatórias agudas são a dilatação de pequenos vasos sanguíneos e o acúmulo de leucócitos e fluido no tecido extravascular. Entretanto, padrões morfológicos específicos são frequentemente sobrepostos nessas características gerais, dependendo da severidade da reação, de sua causa específica, do tipo de tecido e do local envolvidos: Inflamação Aguda Serosa: A inflamação serosa é marcada pela exsudação de fluidos com poucas células nos espaços criados pela lesão celular ou em cavidades corporais revestidas pelo peritônio, pleura e pericárdio. Tipicamente, o fluido na inflamação serosa não é infectado pelos organismos destrutivos, e não contém muitos leucócitos. Em cavidades corporais, o fluido pode ser derivado do plasma ou das secreções de células mesoteliais (como resultado de irritação local); o acúmulo de fluidos nessas cavidades é chamado de efusão. Exemplo: Bolhas de queimaduras. Inflamação Fibrinosa: Com maior aumento na permeabilidade vascular, grandes moléculas, tais como fibrinogênio, passam para fora do vaso, e a fibrina é formada e depositada no espaço extracelular. Um exsudato fibrinoso se desenvolve quando ocorrem grandes extravasamentos ou na presença de um estímulo prócoagulante local (p. ex., células neoplásicas). O exsudato fibrinoso é característico de inflamação no revestimento das cavidades do corpo, tais como meninges, pericárdio e pleura. Os exsudatos fibrinosos podem ser dissolvidos pela fibrinólise e removidos pelos macrófagos. Quando a fibrina não é removida, ao longo do tempo ela pode estimular o crescimento dos fibroblastos e vasos sanguíneos e, então, levar à cicatriz. 15 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA Inflamação Aguda Purulenta ou Abscesso: A inflamação purulenta é caracterizada pela produção de pus, um exsudato constituído por neutrófilos, resíduos liquefeitos de células necróticas e fluido de edema. A causa mais frequente da inflamação purulenta (também chamada supurativa) é a infecção por bactérias que causam a necrose por liquefação de tecidos, como os estafilococos; esses patógenos são chamados de bactérias piogênicas (produtoras de pus). São produzidos pela inoculação de bactérias piogênicas dentro de um tecido. Os abscessos têm uma região central que se parece com uma massa de leucócitos necróticos e células teciduais. Em geral, existe uma zona de neutrófilos preservados em torno desse foco necrótico e, fora dessa região, podem ocorrer dilatação vascular e proliferação parenquimatosa e fibroblástica, indicando inflamação crônica e reparo. Em tempo, o abscesso pode tornar- se confinado por cápsula e, finalmente, ser substituído por tecido conjuntivo. Inflamação Aguda com Úlcera: Uma úlcera é um defeito local ou escavação da superfície de um órgão ou tecido, que é produzida por perda (desprendimento) de tecido necrótico inflamado. A úlcera pode ocorrer somente quando a necrose do tecido e a inflamação resultante existem na superfície ou em suas proximidades. É mais comumente encontrada na mucosa da boca, estômago, intestinos ou trato genitourinário e na pele e no tecido subcutâneo das extremidades inferiores em pessoas mais velhas com distúrbios circulatórios que predispõem a uma extensa necrose isquêmica. RESULTADODA INFLAMAÇÃO AGUDA 1. Resolução completa: é o objetivo mais desejado no qual todo o processo inflamatório é satisfatório. Todos os agentes agressores são eliminados e todas as células lesadas conseguem se regenerar, além da eliminação de restos celulares incluindo os macrófagos e a absorção do fluido de edema pelo sistema linfático. 2. Cicatrização ou fibrose: ocorre quando a lesão é extensa, o tecido é incapaz de se regenerar ou existe grande quantidade de exsudato fibrinoso. Nesse cenário o tecido conjuntivo cresce para dentro das áreas de dano e converte-se numa massa de tecido fibroso – esse processo também é chamado de organização. 3. Avanço para inflamação crônica: ocorre quando a resposta inflamatória aguda não pode ser resolvida, como resultado da persistência do agente lesivo ou alguma interferência no processo normal de reparo 16 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA b. INFLAMAÇÃO CRÔNICA A inflamação crônica é a inflamação de duração prolongada (semanas ou meses) em que a inflamação, a lesão tecidual e as tentativas de reparo coexistem em variadas combinações. Ela sucede a inflamação aguda, ou pode se iniciar insidiosamente, como uma resposta de baixo grau e latente, sem nenhuma manifestação prévia de uma reação aguda. Causas da Inflamação Crônica: a) Infecções persistentes Quando alguns microrganismos (vírus, bactérias, fungos ou parasitas) são de difícil remoção, pode ocorrer uma reação imunológica chamada de hipersensibilidade do tipo tardia. Algumas vezes pode evoluir para uma reação granulomatosa; Além disso, uma reação aguda não resolvida pode progredir para esses casos. b) Doenças de hipersensibilidade São exemplificadas pelas doenças autoimunes e pelas doenças alérgicas; Tipicamente apresentam morfologias do tipo crõnica e aguda concomitantemente, já que se tratam de episódios repetitivos de uma mesma resposta inflamatória persistente. A fibrose pode dominar os estágios tardios. c) Exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos, tanto exógenos quanto endógenos A inalação persistente de sílica (não degradável) causa a silicose; A produção e deposição excessiva de colesterol e outros lipídeos nos vasos sanguíneos causa a aterosclerose. Características Morfológicas: Ao contrário da inflamação aguda, que é marcada por alterações vasculares, edema e infiltração predominantemente neutrofílica, a inflamação crônica é caracterizada por: Ação de 17 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA células mononucleadas: Infiltração com células mononucleares, que incluem macrófagos, linfócitos e plasmócitos. Destruição tecidual: induzida pelo agente agressor persistente ou pelas células inflamatórias. Tentativas de reparo pela substituição do tecido danificado por tecido conjuntivo, realizadas pela proliferação de pequenos vasos sanguíneos (angiogênese) e, em particular, fibrose. Como a angiogênese e a fibrose também fazem parte da cura das feridas, serão discutidas mais adiante, no contexto do reparo tecidual. Obs.: Durante esse processo ocorre a tentativa de eliminação do agente causador, assim, o tecido acaba sendo lesado junto ao processo, aumentando ainda mais o processo inflamatório. (Inflamação crônica = dano tecidual). Mediadores da inflamação CRÔNICA: MACRÓFAGO São as células dominantes na maioria das reações inflamatórias crônicas, os quais contribuem com a reação ao secretar citocinas e fatores de crescimento que agem em várias células, destruindo invasores estranhos e tecidos, bem como ativando outras células, em especial os linfócitos T. São células teciduais derivadas de células-tronco hematopoiéticas na medula óssea, bem como de células progenitoras no saco vitelino embrionário e no fígado do feto durante o desenvolvimento inicial. Essas células “iniciais” são os monócitos. Estão normalmente espalhados na maioria dos tecidos conjuntivos. Em locais específicos recebem nomes diferentes: fígadocélulas de Kupffer; baço e linfonodoshistiócitos sinusais; SNC micróglias; pulmõesmacrófagos alveolares Há duas vias de ativação dos macrófagos: 1. Via Clássica (M1): ativado por microorfanismos ou IFN-γ. Nessa via, a função fagocitária é potencializada e produzem NO e ERO. Contudo, essas células também são capazes de lesar o tecido do hospedeiro 2. Via Alternativa (M2): induzida por IFN-γ, IL-4 e IL-13. A função principal dos macrófagos M2 é o reparo tecidual por estimular TGF- β, o qual também tem efeito anti-inflamatório. *OBS: uma via inibe a outra! É por causa dessa intensa atividade fagocitária que um dos sintomas da inflamação crônica é a lesão tecidual. 18 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA LINFÓCITOS Podem ser a população predominante na inflamação crônica em doenças autoimunes e em doenças de hipersensibilidade Os microrganismos e outros antígenos do ambiente ativam os linfócitos T e B, o que amplifica e propaga a inflamação crônica. Eles usam moléculas de adesão e quimiocinas para migrar para os locais de inflamação. As citocinas dos macrófagos ativados – principalmente TNF, IL-1 e quimiocinas – promovem o recrutamento de leucócitos, preparando o campo para a persistência da resposta inflamatória. Há 3 subtipos de células TCD4+ que secretam espécies diferentes de citocinas e produzem tipos de inflamação distintos: 1. TH1: produzem IFN- γ, que ativa a via clássica dos macrófagos 2. TH2: secretam IL-4, IL-5 e IL-13, que recrutam e ativam eosinófilos e ativam a via alternativa dos macrófagos 3. TH17: secretam IL-17 e outras citocinas, que induzem a secreção de quimiocinas responsáveis pelo recrutamento de neutrófilos e monócitos para a reação TH1 e TH17 são importantes contra bactérias e vírus; TH2 são importantes contra parasitas helmínticos e em reações alérgicas; Os linfócitos e o macrófagos se interagem de forma bidirecional, ou seja, conseguem amplificar suas ações por um sistema de retroalimentação; Os linfócitos B ativados e os plasmócitos produtores de anticorpos estão presentes com frequência nos locais de inflamação crônica. EOSINÓFILOS Abundantes em reações imunológicas mediadas por IgE e em infecções parasitárias, causam a lise dos parasitas, mas também causa dano tecidual. MASTÓCITOS Secretam um grande número de citocinas e estão presentes em reações alérgicas a alimentos, venenos de insetos ou fármacos, podendo ser fatal devido o choque anafilático; Estão presentes em reações agudas e crônicas. NEUTRÓFILOS Mais característico das inflamações agudas, porém algumas inflamações crônicas podem apresentar os neutrófilos. 19 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA A INFLAMAÇÃO CRÔNICA PROPRIAMENTE DITA As células dominantes na maioria das reações inflamatórias crônicas são os macrófagos, que contribuem com a reação ao secretar citocinas e fatores de crescimento que agem em várias células, destruindo invasores estranhos e tecidos, bem como ativando outras células, em especial os linfócitos T. A ação dessa classe de células é imprescindível para formação dos granulomas, que são marcos de uma inflamação crônica. A inflamação granulomatosa é uma forma de inflamação crônica caracterizada por coleções de macrófagos ativos, frequentemente com linfócitos T, e, algumas vezes, associada à necrose central. A formação de granulomas é uma tentativa celular de conter um agente agressor difícil de eliminar. Nessa tentativa, comumente existe intensa ativação dos linfócitos T levando à ativação dos macrófagos, que pode causar lesão aos tecidos normais. Os macrófagos ativos podem desenvolver um citoplasma abundante e começar a se parecer com células epiteliais, sendochamados de células epitelioides. Alguns macrófagos ativos podem fundir-se, formando células gigantes multinucleares Obs.: A formação de granulomas é o marco da inflamação crônica, é como se fosse uma tentativa final de conter o agente agressor. Nesse caso o granuloma seria o esforço celular para conter o agente, esse granuloma é baseado em um grupo de macrófagos Existem dois tipos de granuloma, que diferem em suas patogêneses: Granulomas de corpos estranhos: são formados por corpos estranhos relativamente inertes, na ausência de respostas imunológicas mediadas por células T. Tipicamente, os granulomas de corpos estranhos se formam em torno de materiais como talco (associado ao abuso de droga intravenosa), suturas ou outras fibras que sejam grandes o suficiente para impedir a fagocitose por um único macrófago e não estimular nenhuma resposta inflamatória ou imunológica. As células epitelioides e as células gigantes são depositadas na superfície do corpo estranho. Usualmente, o material estranho pode ser identificado no centro do granuloma, em especial quando visto com luz polarizada, onde ele aparece refratário. Granulomas imunes: são causados por uma variedade de agentes capazes de induzir a resposta imunológica mediada por célula T. Em geral, esse tipo de resposta imunológica produz granulomas quando é difícil eliminar o agente iniciador, como é o caso de um microrganismo persistente ou auto antígeno. Em tais respostas, os macrófagos ativam as células T para produzir citocinas, como a IL-2, a qual ativa outras células T, perpetuando a resposta, e a IFN-γ, que ativa os macrófagos. Ainda não se estabeleceu quais citocinas ativadoras de macrófagos (IL-4 ou 20 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA IFN-γ) transformam as células em células epitelioides e células multinucleares gigantes. Os granulomas são encontrados em certas situações específicas; o reconhecimento do padrão granulomatoso é importante devido ao número limitado de condições (algumas com risco à vida) que o causam. Na presença de respostas de células T persistentes a certos microrganismos (p. ex., M. tuberculosis, Treponema pallidum, ou fungos), as citocinas derivadas de células T são responsáveis pela ativação crônica de macrófagos e pela formação de granulomas. Efeitos Sistêmicos da Inflamação A inflamação, mesmo quando localizada, é associada a reações sistêmicas induzidas por citocinas que, em conjunto, são chamadas de resposta de fase aguda. A resposta de fase aguda consiste em várias alterações clínicas e patológicas Febre, caracterizada por elevação da temperatura corporal, em geral de 1°C a 4°C, é uma das manifestações mais proeminentes da resposta de fase aguda, especialmente quando a inflamação está associada a uma infecção. As substâncias que induzem febre são chamadas pirógenos. O aumento da temperatura corporal é causado pelas prostaglandinas que são produzidas nas células vasculares e perivasculares do hipotálamo. As proteínas da fase aguda são proteínas do plasma, a maior parte sintetizada no fígado, cuja concentração plasmática pode aumentar em centenas de vezes como parte da resposta aos estímulos inflamatórios. Aleucocitose é uma característica comum das reações inflamatórias, especialmente aquelas produzidas por infecções bacterianas. Em geral, a contagem de leucócitos sobe para 15.000 ou 20.000 células/mL, mas, algumas vezes, pode chegar a níveis extraordinários de 40.000 a 100.000/mL. 21 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA II. Explicar o mecanismo de ação dos anti-inflamatórios, seus tipos e quando utilizá-los Nas classes dos anti-inflamatórios encontramos: esteroidais e não esteroidais. → ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS = são geralmente usados para reduzir a dor e inflamação resultantes de diversos tipos de lesões. FARMACOLOGIA = São ácidos orgânicos fracos que atuam principalmente nos tecidos inflamados e se ligam, significativamente, à albumina plasmática. Apresentam formas químicas variadas e, por isso, apresentam variadas características farmacocinéticas. A maior parte dos AINES é bem absorvida e sua biodisponibilidade não é consideravelmente modificada pela presença de alimento. Sua metabolização é, em grande parte por enzimas hepáticas, apesar de que a via renal seja a forma mais importante de eliminação desses fármacos, juntamente com a excreção biliar e a reabsorção. FARMACODINAMICA = Seu mecanismo de ação se baseia no bloqueio da síntese das prostaglandinas (envolvidas na inflamação). Os efeitos terapêuticos e colaterais dos AINES resultam principalmente da inibição da enzima COX, reduzindo assim, a síntese das PG e diminuindo a intensidade do processo inflamatório. LEMBRAR: As prostaglandinas são derivadas do ácido araquidônico, que é liberado na célula a partir de fosfolipídios de membrana. Lembrando que o ácido araquidônico é convertido em prostaglandinas pelas enzimas ciclooxigenases = COX 1 E COX2. A prostaglandina da origem ao tromboxano A2. DIFERENÇA ENTRE COX 1 E COX 2 (enzimas envolvidas na síntese das prostaglandinas pelo ac araquidônico) = cox 1, é uma enzima fisiológica ou constitutiva, ou seja, vai estar agindo mesmo quando nosso corpo não está sob um estado de inflamação, encontrada principalmente na mucosa duodenal e plaquetas; já a COX 2 é uma enzima inflamatória, encontrada de forma fisiológica nos rins, SNC e endotélio. É válido ressaltar que os AINS devem agir nas 3 ações patológicas das prostaglandinas: INFLAMAÇÃO, FEBRE E DOR. Dor – liberação de enzimas (pge2 e pgi2) que vão irritar as fibras nervosas locais e reduzir o limiar de ativação dos nocirreceptores (receptores relacionados a dor), as prostaglandinas estão muito relacionadas à dor crônica e justamente por isso que os anti-inflamatórios não esteroidais são usados em por exemplo doenças reumatológicas (doença crônica). Inflamação - relacionadas aos seus efeitos associados como a dor e a febre, as prostaglandinas são responsáveis pelos efeitos da inflamação como aumento do fluxo sanguíneo, aumento da permeabilidade vascular e infiltração leucocitária. 22 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA Febre – A PGE2= enzima prostaglandina, agindo no hipotálamo causando a febre. Logo: os principais objetivos do uso do anti-inflamatório não esteroidal é agir nesses 3 sintomas, por isso os AINS são analgésicos (dor), anti-inflamatórios (inflamação) e antitérmicos/piréticos (febre). AÇÃO DOS AINS = LEMBRAR QUE ELES INIBEM SOMENTE A AÇÃO DAS PROSTAGLANDINAS, NÃO VAO ACABAR COM A INFLAMAÇÃO PROPRIAMENTE DITA, MAS VAO REDUZIR OS EFEITOS PELO BLOQUEIO DE SUBSTANCIAS QUE SÃO MUITO IMPORTANTES NA PRODUÇÃO DOS EFEITOS DA INFLAMAÇÃO. CLASSIFICAÇÃO DOS AINS: SELETIVOS E NÃO SELETIVOS SELETIVOS = agem somente sobre a COX 2 Ação semelhante aos AINS tradicionais (não seletivos) e não trazem os efeitos adversos dos não seletivos (gastrintestinal). Ex: celecoxib, etoricoxib, parecoxib ... Efeitos adversos mais graves que os não seletivos, pois no nosso endotélio é rico em COX 2 que medeia a produção de PGI 2 (uma prostaglandina anticoagulante) e ao mesmo tempo temos a plaqueta rica em COX 1 produzindo o tromboxano 2 que tem função coagulante, logo: o inibidor seletivo vai bloquear a cox2 no endotélio mas n vai bloquear a cox 1 das plaquetas e com isso teremos uma diminuição do efeito anticoagulante, aumento da coagulação = aumento da chance de eventos trombóticos (infarto, avc, tromboembolismo ...) NÃO SELETIVOS = agem na COX 1 E COX 2, porém são pouco mais ativos no bloqueio da COX 1) AINS TRADICIONAIS = NÃO SELETIVOS = diclofenaco (inibe + a COX2), tem capacidade de penetrar na capsula articular ... por isso é mt usada na reumato e ortoped, ibuprofeno,naproxeno, cetoprofeno, piroxicam, meloxicam, nimesulida (atuação preferencial na COX2); ACIDO ACETILSALICILICO (ASPIRINA) = não tem propriedade anti-inflamatoria, é antitérmico e analgésico, tem somente a ação anti-infla em doses muito elevadas ... é um inibidor irreversível da cicloxigenase (não seletivo) ... tem efeito antiagregante plaquetário, por ser justamente um inibidor irreversível ... efeito adverso = gástrico, por conta do blok da cox 1 (que age na mucosa gástrica aumentando a produção do muco protetor …), ulceras, sangramento gástrico. Gastrite, ulcera .... Contraindicado em pacientes com asma e crianças pequenas (síndrome de reye); 23 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA PARACETAMOL = age principalmente em nível central, por isso que não tem efeitos adversos gástricos... tem fraca atividade anti-inflamatoria, age muito mais na dor e na febre ... doses altas: hepatotoxicidade; DIPIRONA = proibida nos EUA por conta do risco de aplasia medular e agranulocitose. FARMACODINÂMICA E EFEITOS COLATERAIS: SNC = cefaleias, zumbido, tontura e raramente meningite asséptica; CARDIOVASCULARES = retenção hídrica, hipertensão, edema e raramente ICC e infarto; TGI = OS efeitos colaterais podem variar desde leve dispepsia até hemorragia maciça causada por úlcera gástrica perfurada, como resultado de inibição da produção de prostaciclina. Vale notar que os efeitos colaterais gastrintestinais não se resumem apenas ao estômago. As prostaciclinas têm vários efeitos gástricos protetores; elas reduzem a quantidade de ácido estomacal produzido e mantêm uma camada de mucosa protetora, aumentando a produção de mucosa e melhorando o fluxo sanguíneo local. A irritação gástrica também pode ser causada por irritação direta dos próprios medicamentos. Embora os inibidores de COX-2 sejam mais específicos para a enzima COX-2, alguns ainda retêm certa inibição de COX-1, causando risco de sangramento gastrintestinal, embora menos que AINEs não-específicos; GEPÁTICOS = provas de função hepática anormais e raramente insuficiência; PULMONARES = Até 10% dos pacientes com asma têm doença exacerbada pelos AINEs. Um mecanismo de ação proposto é que a inibição do metabolismo do ácido araquidônico pela COX leve ao aumento na produção de leucotrienos. Os leucotrienos têm ações broncoconstritoras diretas; RENAIS = Sob condições fisiológicas normais, a prostaciclina e o óxido nítrico levam ao relaxamento do músculo liso no endotélio vascular e, portanto, à vasodilatação. As prostaciclinas desempenham papel essencial na regulação do tônus arterial aferente e eferente no glomérulo, conhecido por desempenhar um papel vital na preservação da função renal em estados hipovolêmicos. A inibição de produção de prostaciclinas pode levar a uma taxa menor de filtração glomerular, retenção de sal e água, e lesão renal aguda. Esses 24 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA mecanismos são particularmente importantes em pacientes com hipovolemia e insuficiência cardíaca crônica que sejam sensíveis a mudanças na pressão de perfusão renal. → ANTI-INFLAMATORIOS ESTEROIDAIS Os anti-inflamatórios esteroides ou corticosteroides exercem potente efeito anti-inflamatório (glicocorticoide). Os corticosteroides são hormônios são secretados pelas adrenais, tem-se 3 categorias: mineralocorticois= aldosterona, glicocorticoide= cortisol e andrógenos= progesterona, estradiol .... Sua ação mineralocorticoide deve ser considerada na escolha do fármaco, uma vez que pode provocar retenção de água e sal, hipertensão e perda de potássio. Corticosteroides com grande efeito mineralocorticoide são úteis na insuficiência suprarrenal, mas esta característica impede seu uso para doenças que necessitem de tratamento por tempo prolongado. Neste caso, como nas doenças reumáticas (artrite reumatoide, lupus eritematoso sistêmico, entre outras), prefere-se aqueles com pouco efeito mineralocorticoide. Conseguem reduzir radicalmente as manifestações da inflamação, pois reduz a concentração, distribuição e efetividade de leucócitos periféricos. Além disso, age 25 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA suprimindo citocinas e quimiocinas inflamatórias e outros mediadores da inflamação. Os glicocorticoides agem também inibindo algumas proteínas de adesão nas células endoteliais. Após a dosagem de um glicocorticoide de curta ação no organismo, ocorre um aumento da concentração de neutrófilos na circulação advindos da medula óssea, contudo há diminuição do recrutamento deles no local da inflamação, sendo que o saldo de neutrófilos no local da inflamação é negativo. FARMACODINÂMICA = Os Anti-inflamatórios esteroidais inibem a Fosfolipase A2 a partir da ativação da lipocortina, inibindo a formação de ácido araquidônico. É bom lembrar que os AINES apenas inibem a Cicloxigenase (COX), não interferindo na produção de leucotrienos, diferentemente dos Anti-inflamatórios esteroidais. Além de inibir a Fosfolipase A2, os glicocorticoides também inibem a expressão da enzima COX2, responsável pela síntese de prostaglandinas. Entretanto, eles não inibem a COX1, responsável pela formação de tromboxanos. Então, como efeito final, os glicocorticoides diminuem o ácido araquidônico, os leucotrienos e as prostaglandinas. Ocorre também uma diminuição da contagem de linfócitos T e B no local de inflamação, pois os glicocorticoides promovem a migração deles para o tecido linfoide. Os glicocorticoides também inibem as funções dos macrófagos e células apresentadoras de antígeno, de fagocitose e a produção de TNFalfa, IL-1, IL-12 e IFNgama. Inibem também a atividade da fosfolipase A2, diminuindo a produção de ácido araquidônico, precursor das prostaglandinas e leucotrienos e do fato de ativação de plaquetas (PAF). Inibem também a COX-2. Provocam vasoconstrição quando aplicados na pele pois reduzem a desgranulação de mastócitos e reduzem a permeabilidade capilar ao reduzirem a quantidade de histamina circulante. Não influenciam na ativação, mas na função do sistema complemento. O uso de glicocorticoides podem causar: insônia, euforia, depressão, diminuição da ACTH, GH, TSH e LH. Aumento da gordura visceral, facial, da nuca e supraclavicular. Podem interferir no efeito da vitamina D para absorção de cálcio. Aumentam o número de plaquetas e eritrócitos. Os glicocorticoides podem ser usados em bebês prematuros que ainda não tiveram seus pulmões completamente formados. REFERÊNCIAS ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. H. I. V. Imunologia celular e molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012; 26 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo - Patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Gen, Guanabara Koogan, 2016; KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.; MITCHELL, R. N. Robbins. Bases patológicas das doenças. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005; Antiinflamatórios não-esteroidais e sua farmacologia local; USP 2009; Aspectos celulares e moleculares da inflamação; Anilo Mesquita Jr., Júlio A. Pereira Araújo; Rev. Bras. Medicina. 2018.
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