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Questões - Sobre o normal e o patológico no conto "O Alienista"

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: PSICOPATOLOGIA I SEMESTRE: 2021.1
DISCENTES: ANA JÚLIA SOARES 
3ª AVALIAÇÃO
01- No texto “INDIVÍDUO, ORGANISMO E DOENÇA [...]”, de Serpa Jr. (2003), discute-se sobre a ambiguidade no uso do termo “normal”, cuja semântica remete tanto à dimensão valorativa como a factual. Com base na leitura do texto e das discussões feitas nas aulas, faça uma relação entre a noção de Canguilhem sobre Normal e Patológico apresentada por Serpa Jr (2003), e os critérios utilizados por Simão Bacamarte para internação na Casa Verde no conto “O Alienista” (Machado de Assis, 1882).
[SERPA JR, O. D. Indivíduo, organismo e doença: a atualidade de “o normal e o patológico” de Georges Canguilhem. 2003.]
Como apontado por Serpa Jr. (2003), Canguilhem aponta em sua tese duas possibilidades de definir o normal, e assim por consequência o patológico, sendo uma voltada a uma perspectiva qualitativa e outra quantitativa. 
A perspectiva qualitativa traz à doença uma dimensão subjetiva, onde a sua presença implica, sobretudo, a vivência do sujeito doente, considerando o aspecto experiencial além da simples situação fisiológica do seu corpo. Nessa visão, “normal” é definido como aquilo como deve ser, depende assim de uma avaliação subjetiva que vai determinar determinado estado positivo (então saudável) e outro negativo (patológico). 
No conto “O Alienista” de Machado de Assis, ao criar a Casa Verde, Simão Bacamarte recebe nela os loucos de Itaguaí, aqueles que antes do asilo eram mantidos trancados em sua própria casa sem tratamento específico, apenas esperando a hora da morte. Entretanto, tempos depois os estudos de Bacamarte o orientam a expandir o conceito de loucura, passando a serem loucos todos aqueles que apresentavam “desequilíbrio das faculdades mentais”. 
Nesse novo conceito, pode-se ver a perspectiva qualitativa (valorativa) sendo usada pelo alienista para decidir quem deveria ser internado. Isso porque Bacamarte passa a buscar todos aqueles que ele julgava ter vícios, excessos e quaisquer outras características “anormais”, ou seja, que não tinham a razão como deveria ser. Internando, assim, indivíduos considerados demasiadamente generosos (ex.: Costa) ou cortês (ex.: Gil Bernardes), aqueles que se admiravam e davam valor excessivo a certas coisas (ex.: o albardeiro Mateus encantado com sua própria casa e a D. Evarista que se tornara amantes de vestidos e joias) e até mesmo os que pareciam mudar de opinião repentinamente (ex.: Crispim quando se coloca ao lado dos Canjicas ao ver o tamanho da revolta contra o alienista).
Por outro lado, a perspectiva quantitativa tem o “normal” como uma descrição estatística referente àquilo que se encontra mais frequentemente, que está na média. Nesse caso, os traços mais frequentes na população são os normais e os menos comuns são considerados patológicos. 
Em um certo ponto da história de Itaguaí Bacamarte percebe que depois da sua teoria que expande o conceito de loucura e das internações derivadas dela (abordada acima) quatro quintos da população da vila estavam internados. Com isso, chegou a conclusão de que sendo assim, não poderiam ser todos esses considerados loucos, loucos deveriam ser os diferentes dessa maioria, ou seja, os que teriam o “perfeito equilíbrio mental e moral”. Passou-se então a internar aqueles que se mostravam integralmente justos, tolerantes, leais.
Nesse caso, é possível notar que Simão Bacamarte troca seu critério para considerar o que é patológico, passando a ter uma perspectiva quantitativa, considerando doentes agora aqueles que se diferem da maior parte da população, ou seja, da média.
É importante ainda acrescentar à tese de Canguilhem a respeito da perspectiva quantitativa da noção de saúde e doença, que esse afirma que ao considerar normal e o patológico contidos numa mesma linha contínua é possível mensurar de forma objetiva o grau de afastamento que alguém estaria do considerado normal, entretanto o “ponto de corte” que diz onde termina o saudável e começa o patológico é um aspecto valorativo.
E essa falta do “ponto de corte”, do limite objetivo do patológico, pode ter sido um dos fatores que encaminharam ao desfecho do conto, em que Simão Bacamarte, após ter curado todos os loucos (aqueles perfeitamente equilibrados mentalmente), decide que eles não eram realmente loucos já que, por terem sido “curados”, talvez já fossem no fundo “desequilibrados” e no fundo a cura foi somente uma descoberta. 
2- Apoiado no conto de Assis e nas discussões em aula, comente a afirmação de Benilton Bezerra quanto à delimitação das fronteiras do normal e do patológico ser um exercício social. Aponte como isso aparece ilustrado no conto o Alienista.
[Café Filosófico com Benilton Bezerra: https://www.youtube.com/watch?v=r-XJtS0A1WQ ]
Ao afirmar que a delimitação das fronteiras do normal e patológico é um exercício social, Benilton Bezerra aponta que a psicopatologia (área do conhecimento destinada a estudar, dentre outras coisas, essa delimitação) não é um campo científico, considerando que os diagnósticos dependem de um contexto histórico e cultural, tanto que com o tempo alguns deixam de ser utilizados enquanto outros são criados.
O cunho contextual desses diagnósticos pode ainda ser visto, como citado por Bezerra, no fato de que até 1952, com o surgimento da psicofarmacologia, os tratamentos das psicopatologias eram psicossociais, e só a partir disso passaram a ser também medicamentosos. Além disso, é perceptível como um “estilo de vida” relacionado aos diagnósticos foi se tornando comum, onde medicamentos anteriormente escondidos agora são exibidos e até alvo de piadas e “memes”, assim como como o vocabulário classificatório em si se tornou uma forma de nomear sentimentos e características, descartando qualquer rigor teórico ou técnico.
Também como tendência atual, vê-se o número de classificações aumentando rapidamente visando abarcar todo e qualquer sofrimento (mesmo aqueles que poderiam simplesmente serem vistos como inerentes a vida humana), fazendo pensar que ser saudável é ser alguém em perfeito equilíbrio mental, feliz (na medida certa), sem estresse, tristezas, angústias, excessos, etc., o que chega a ser semelhante à primeira teoria de Simão Bacamarte, no livro O Alienista, sobre os loucos serem aqueles com algum “desequilíbrio das faculdades mentais”, levando em conta “excessos” e “vícios” grandes ou pequenos.
Benilton também fala sobre essa forma pouco criteriosa de diagnóstico, que parece, sobretudo, querer incluir na classificação de transtornos todos os comportamentos, traços de personalidade e particularidades do sujeito. O que lembra a classificação de Bacamarte já em sua segunda teorização sobre a loucura (quando os loucos eram aqueles com perfeito equilíbrio mental e moral), que incluía: modestos, tolerantes, verídicos, símplices, leais, magnânimos, sagazes, sinceros, etc.
Por fim, chama-se atenção para a afirmação de Bezerra sobre a psicopatologia ser uma atividade constante de demarcação do que é normalidade, diferença não-patológica e patologia. E se encarece, em partes, os atos do personagem Simão Bacamarte, que apesar das consequências desastrosas, esteve até o fim de sua vida fazendo esse exercício, estudando e testando diferentes definições para a patologia na comunidade de Itaguaí.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
 
CURSO DE PSICOLOGIA
 
 
DISCIPLINA: PSICOPATOLOGIA I SEMESTRE: 2021.1
 
DISCENTES: ANA JÚLIA SOARES 
 
 
3ª AVALIAÇÃO
 
 
01
-
 
No texto “INDIVÍDUO, ORGANISMO E DOENÇA [...]”, de Serpa Jr. (2003), 
discute
-
se sobre a ambiguidade no uso do termo “normal”, cuja semântica remete 
tanto à dimensão valorativa como a factual. Com base na leitura do texto e das 
discussões feitas nas aulas, 
faça uma relação entre a noção de Canguilhem sobre 
Normal e Patológico apresentada por SerpaJr (2003), e os critérios utilizados por 
Simão Bacamarte para internação na Casa Verde no conto “O Alienista” 
(Machado de Assis, 1882).
 
[SERPA JR, O. D. Indivíduo, organismo e doença: a atualidade de 
“
o normal e o 
patológico
”
 
de Georges Canguilhem. 2003.]
 
 
Como apontado por Serpa Jr
. (2003), 
Canguilhem aponta em sua tese duas 
possibilidades de definir o normal, e assim por consequência o patológico, sendo uma 
voltada a uma perspectiva qualitativa e outra quantitativa. 
 
A perspectiva qualitativa traz à doença uma dimensão subjetiva, o
nde a sua 
presença implica, sobretudo, a vivência do sujeito doente, considerando o aspecto 
experiencial além da simples situação fisiológica do seu corpo. Nessa visão, “normal” é 
definido como aquilo como deve ser, depende assim de uma avaliação subjetiva
 
que vai 
determinar determinado estado positivo (então saudável) e outro negativo (patológico). 
 
No conto “O Alienista”
 
de Machado de Assis
, ao criar a Casa Verde, Simão 
Bacamarte recebe nela os loucos de Itaguaí, aqueles que antes do asilo eram mantidos 
t
rancados em sua própria casa sem tratamento específico, apenas esperando a hora da 
morte. Entretanto, tempos depois os estudos de Bacamarte o orientam a expandir o 
conceito de loucura, passando a serem loucos todos aqueles que apresentavam 
“desequilíbrio d
as faculdades mentais”. 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
DISCIPLINA: PSICOPATOLOGIA I SEMESTRE: 2021.1 
DISCENTES: ANA JÚLIA SOARES 
 
3ª AVALIAÇÃO 
 
01- No texto “INDIVÍDUO, ORGANISMO E DOENÇA [...]”, de Serpa Jr. (2003), 
discute-se sobre a ambiguidade no uso do termo “normal”, cuja semântica remete 
tanto à dimensão valorativa como a factual. Com base na leitura do texto e das 
discussões feitas nas aulas, faça uma relação entre a noção de Canguilhem sobre 
Normal e Patológico apresentada por Serpa Jr (2003), e os critérios utilizados por 
Simão Bacamarte para internação na Casa Verde no conto “O Alienista” 
(Machado de Assis, 1882). 
[SERPA JR, O. D. Indivíduo, organismo e doença: a atualidade de “o normal e o 
patológico” de Georges Canguilhem. 2003.] 
 
Como apontado por Serpa Jr. (2003), Canguilhem aponta em sua tese duas 
possibilidades de definir o normal, e assim por consequência o patológico, sendo uma 
voltada a uma perspectiva qualitativa e outra quantitativa. 
A perspectiva qualitativa traz à doença uma dimensão subjetiva, onde a sua 
presença implica, sobretudo, a vivência do sujeito doente, considerando o aspecto 
experiencial além da simples situação fisiológica do seu corpo. Nessa visão, “normal” é 
definido como aquilo como deve ser, depende assim de uma avaliação subjetiva que vai 
determinar determinado estado positivo (então saudável) e outro negativo (patológico). 
No conto “O Alienista” de Machado de Assis, ao criar a Casa Verde, Simão 
Bacamarte recebe nela os loucos de Itaguaí, aqueles que antes do asilo eram mantidos 
trancados em sua própria casa sem tratamento específico, apenas esperando a hora da 
morte. Entretanto, tempos depois os estudos de Bacamarte o orientam a expandir o 
conceito de loucura, passando a serem loucos todos aqueles que apresentavam 
“desequilíbrio das faculdades mentais”.

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