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Bioética e Início/Final da Vida

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Prévia do material em texto

Ética e Humanização 
em Saúde
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dr.ª Karina Camasmie Abe
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Questões Bioéticas Contemporâneas
• Discutindo a Bioética e o Início da Vida;
• Questões Bioéticas e o Final da Vida.
• Refl etir sobre diversas questões polêmicas contemporâneas, relacionadas às etapas da 
vida, tal como o seu início e término, fertilização in vitro, aborto, clonagem, envelheci-
mento, eutanásia;
• Compreender a complexidade e os diferentes olhares sobre o mesmo objeto de discussão, 
a fi m de amadurecer a percepção crítica sobre assuntos polêmicos da atualidade. 
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
Questões Bioéticas Contemporâneas
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Questões Bioéticas Contemporâneas
Discutindo a Bioética e o Início da Vida
As questões que envolvem o nascer e morrer do ser humano muitas vezes se 
tornam conflitantes, dividem opiniões e dão origem a várias discussões bioéticas. 
Garrafa, Kottow e Saada (2006) dividem os dilemas da bioética em dois tipos: 
1. Bioética das situações persistentes: chamadas também de situações 
“cotidianas”, que incluem: 
• Exclusão social;
• Racismo;
• Decisão de alocação de recursos em Saúde – priorização, distribuição 
e controle; 
• Discriminação da mulher;
• Abandono de crianças e idosos;
• Poluição ambiental;
• Miséria;
• Aborto;
• Eutanásia;
• Educação etc. 
2. Bioética das situações emergentes: chamadas também de limites ou 
fronteiras e que incluem: 
• Doação, venda e transplantes de órgãos e tecidos; 
• Engenharia genética;
• Clonagem; 
• Células-tronco;
• Organismos transgênicos etc. 
Tais dilemas bioéticos apresentam como ponto central as discussões sobre o 
respeito à vida (GARRAFA; KOTTOW; SAADA, 2006). 
Até há pouco tempo, tanto o início como o final da vida humana escapavam 
por completo do nosso controle. Nascia-se por obra da natureza ou por “graças 
a Deus”. Igualmente se despedia da vida pelas mesmas razões. O conhecimento 
humano era pequeno em relação a esse processo. No entanto, atualmente vemos 
uma situação diferente: quase tudo passa pelo crivo da ação e/ou intervenção hu-
mana. Dessa forma nos perguntamos: quais valores e princípios estão presentes? 
(PESSINI, 2006).
8
9
Nem tudo o que é técnica ou cientificamente possível de ser realizado é eticamente 
aceitável. O imperativo tecnológico, de se fazer algo novo a qualquer custo, deve-
-se contrapor ao imperativo ético que perguntará, por que fazer? (PESSINI, 2006).
A seguir, discutiremos e problematizaremos algumas das principais ques-
tões de bioética envolvendo o início ou final da vida humana.
Técnicas de Reprodução Medicamente Assistidas 
A partir de 1978 houve uma verdadeira revolução na área da reprodução huma-
na, principalmente após o nascimento do primeiro ser humano produzido fora do 
organismo materno – mas que foi gerado no útero de sua mãe. Devido às técnicas 
denominadas reprodução assistida, desde então se tem conseguido realizar mi-
lhares de nascimentos que, em condições naturais, jamais teriam sido originados. 
Por intermédio dessa técnica inúmeros casos de infertilidade conjugal foram re-
solvidos; no entanto, geraram-se seres humanos cuja origem biológica é diferente 
daquela que durante milênios marcou a história dessa espécie.
Nunca na história houve dissociação entre o ato sexual e a reprodução. Exem-
plos de técnicas vão desde a estimulação da ovulação por meio de medicamentos, 
inseminação artificial intrauterina até a fertilização in vitro clássica e a realizada por 
meio de injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ALVES; OLIVEIRA, 2014).
Esse processo tem conduzido cientistas, biólogos, médicos, juristas, teólogos, 
sociólogos e até políticos a variados debates e reflexões em torno da questão do 
início da vida humana. A maior controvérsia surge associada às primeiras semanas 
da vida humana. Quando se inicia a vida? Algumas pessoas atribuem o estatuto de 
pessoa a toda vida humana desde o momento da fecundação; outras estabelecem 
como ponto para essa atribuição o aparecimento da linha primitiva – fase do de-
senvolvimento do embrião –, que ocorre por volta do 14o dia, quando termina a 
implantação (ALVES; OLIVEIRA, 2014).
Leia o artigo de Sandrina Maria Araújo Lopes Alves e Clara Costa Oliveira, intitulado Repro-
dução medicamente assistida: questões bioéticas, e conheça mais sobre as discussões éti-
cas da reprodução humana. Disponível em: http://bit.ly/2vmDBqq
Ex
pl
or
O que é infertilidade ou hipofertilidade?
Os fatores que levam à infertilidade podem ser absolutos ou relativos, enquadrando-se nas 
definições de esterilidade ou de hipofertilidade. A esterilidade pode ser compreendida como 
uma situação irreversível e, portanto, passível de resolução apenas mediante o recurso a 
técnicas de reprodução medicamente assistida. Já a hipofertilidade é a diminuição da ferti-
lidade e, muitas vezes, pode ser resolvida com o recurso a terapêuticas tradicionais. Quando 
um casal tenta ter filhos durante o período de um ano e isso não ocorre, há chances de que 
possa existir alguma alteração que venha a dificultar ou mesmo impedir a gravidez.
Ex
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UNIDADE Questões Bioéticas Contemporâneas
Possíveis causas da hipofertilidade ou infertilidade:
• Alta incidência de Doença Inflamatória Pélvica (DIP), originada pelas Doenças 
Sexualmente Transmissíveis (DST); 
• Fatores relacionados à saúde dos órgãos reprodutivos femininos (40 a 50%) – 
congênitos, ovarianos, tubários/peritoniais, uterinos, cérvico-vaginais; 
• Fatores relacionados à saúde dos órgãos reprodutivos masculinos (30 a 40%) – 
distúrbios estruturais e hormonais (testículos retidos, hipospádia varicocele e bai-
xos níveis de testosterona), distúrbios nutricionais, endócrinos, psicológicos e EST;
• Além destes fatores, a maior inserção da mulher na vida profissional originou a 
opção de postergar o momento de ter filhos. Para a resolução de problemas re-
lativos à infertilidade conjugal há diversas técnicas de fertilização em laboratório. 
Figura 1
Fonte: Getty Images
Mas em que as técnicas de reprodução assistida e a escolha do casal têm relação com a bio-
ética?Ex
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Devemosnos atentar a algumas considerações sobre a técnica de reprodu-
ção assistida – polêmicas em diversos setores da sociedade, a saber: 
• De ordem religiosa: a moral católica se opõe à fecundação in vitro ou em 
laboratório. Religiosos argumentam que o dom da vida deve se situar no con-
texto natural e de um relacionamento personalizado no amor;
• Do ponto de vista social: cada tentativa gera um custo de 8 a 10 mil reais. 
O casal tem de 20 a 25% de probabilidade de engravidar – portanto, é neces-
sária mais de uma tentativa. Além disso, há discussão sobre as prioridades de 
alocação de verbas para a saúde e suas determinantes;
10
11
• Características fetais: como garantir que a possibilidade de escolha do sexo 
– do embrião –, ou a semelhança com o genótipo dos pais não estabeleça cri-
térios discriminatórios? 
• Gravidez múltipla: risco materno e fetal – baixo peso ao nascer, problemas 
respiratórios –, aumento populacional, condições e estilo de vida atual para 
poucos filhos;
• Tráfico de embriões, sêmen e óvulos: materialização da vida; 
• Doações: o doador deve, por escrito, abandonar todos os direitos e deveres 
de descendência; 
• Embriões congelados: explosão populacional nos laboratórios de reprodução 
assistida. O excedente pode ser destruído? É considerado vida? 
• Post mortem: é ético utilizar material biológico armazenado de pessoas que 
já morreram? 
Atualmente, a biotecnologia é entendida como um conjunto de técnicas e processos bioló-
gicos que possibilitam a utilização da matéria viva para degradar, sintetizar e produzir outros 
materiais. Engloba a elaboração das próprias técnicas, processos e ferramentas, assim como 
o melhoramento das espécies, via seleção natural. As técnicas e os processos que viabilizam 
a manipulação do código genético, da molécula de ácido desoxirribonucleico (DNA), consti-
tuem um ramo importante da biotecnologia, denominado engenharia genética (PESSINI; 
BARCHIFONTAINE, 2007). No Brasil, a partir de 24 de março de 2005, passou a vigorar a Lei de 
biossegurança (Lei n.º 11.105), na qual: 
• É regulamentada a pesquisa com células-tronco embrionárias e a comercialização de 
produtos transgênicos;
• Fica permitido, no Brasil, o uso para pesquisa e terapia com células-tronco obtidas em 
embriões humanos de até 5 dias que sejam sobras do processo de fertilização in vitro, 
desde que sejam inviáveis para implantação e/ou estejam congelados há, pelo menos, 
três anos – sempre com o consentimento dos genitores;
• Fica proibido realizar engenharia genética em óvulos, espermatozoides e embriões hu-
manos, bem como técnicas de clonagem para produzir embriões humanos, seja para 
obter células-tronco – clonagem terapêutica –, seja para produzir um ser humano – 
clonagem reprodutiva (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2007).
Ex
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Clonagem 
Uma das descobertas mais fantásticas do século XX foi a que resultou na clona-
gem da ovelha Dolly. 
Nesse experimento, pesquisadores escoceses retiraram o núcleo contendo mate-
rial genético (DNA) de um óvulo e neste introduziram o DNA retirado de uma célula 
mamária adulta, já diferenciada.
11
UNIDADE Questões Bioéticas Contemporâneas
Para a surpresa do mundo, depois de quase trezentas tentativas, a célula resul-
tante gerou Dolly. 
Figura 2
Fonte: Getty Images
Apesar da preocupação e dos questionamentos éticos de muitos grupos da so-
ciedade em relação à clonagem humana, sabe-se que os avanços técnicos e cientí-
ficos nas áreas de reprodução humana e genética também trouxeram muitas espe-
ranças no tratamento de certas doenças. Assim, é importante conceituar os tipos 
de clonagem: 
Tabela 1
Diferenças
Clonagem Reprodutiva Clonagem Terapêutica
O núcleo de uma célula adulta é introduzido no óvulo 
“vazio” e transferido para um útero de “aluguel”, com 
a finalidade de gerar um feto geneticamente idêntico 
ao doador do material genético.
As células-tronco jamais serão introduzidas em 
algum útero. O DNA retirado de uma célula adulta do 
doador também é introduzido em um óvulo “vazio”, 
mas, depois de algumas divisões, as células-tronco 
são direcionadas no laboratório para fabricar tecidos 
idênticos aos do doador, tecidos que nunca serão 
rejeitados por esse.
Questionamentos bioéticos em relação à clonagem: 
• A clonagem terapêutica traz esperança de cura de doenças com a 
produção de órgãos e tecidos humanos, porém, surge a problemática 
ética da utilização das células-tronco embrionárias com a consequen-
te destruição do embrião;
• Para alguns, o embrião não é coisa ou um mero amontoado de células a 
ser manipulado, devendo ser tratado com dignidade de pessoa humana;
12
13
• No entanto, existem estudos que visam encontrar células-tronco 
adultas (medula óssea, sangue do cordão umbilical etc.) que, dessa 
forma, dispensaria a manipulação do embrião. (PESSINI; BARCHI-
FONTAINE, 2007)
Leia a seguinte reportagem e reflita sobre a questão ética envolvida:
Após experimento de cientista chinês, OMS cria painel para estudar ética na 
edição de genes
Genebra – A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a criação de um painel 
para estudar as implicações éticas da edição de genes, poucos dias após um cientista 
chinês afirmar ter criado os primeiros bebês geneticamente editados do mundo.
“Isso não pode ser feito sem diretrizes claras” – disse, em Genebra, Tedros Adhanom 
Ghebreyesus, o chefe do braço de saúde das Nações Unidas.
Ele fez os comentários depois da revelação de que um ensaio clínico, liderado pelo 
cientista chinês He Jiankui,  teria alterado com sucesso o DNA de duas meninas 
gêmeas — identificadas no experimento como Nana e Lulu –, com o objetivo de 
torná-las imunes ao vírus HIV, causador da Aids. O pai é HIV positivo, e a mãe, não. 
Ainda não está claro se de fato as crianças estão protegidas do vírus. 
“Temos que ter muito, muito cuidado [...] Não devemos entrar em edição genética 
sem entender as consequências não intencionais”.
O Ministério da Ciência e Tecnologia da China enfatizou sua oposição ao experi-
mento de edição genética de bebês e exigiu a suspensão das atividades científicas 
de He Jiankui.
Fonte: https://glo.bo/2HY9wjA
Qual é o seu posicionamento em relação a esse fato? Reflita e discuta com familiares e co-
legas sobre as limitações e os desafios de se “editar” o DNA. Será bem utilizado? Não será 
a origem de maiores preconceitos e menor diversidade biológica? Mas não poderia salvar 
vidas, tal como a prevenção da infecção por vírus, no caso relatado nesta notícia?
Ex
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Vejamos outros questionamentos que podem ser formulados: 
• Por que clonar humanos? 
• Curiosidade ou vaidade do cientista?
• Qual é a finalidade? Tornar eterno, imutável?
• Seria a mesma pessoa, caso fosse clonada?
• Seria ético possuir um reservatório de órgãos, no caso de se adoecer?
• Quem deveria ser clonado?
• O que seria feito dos clones que nascessem “defeituosos”?
• E se ocorressem problemas posteriores – na segunda ou terceira década? 
Quem se responsabilizaria?
13
UNIDADE Questões Bioéticas Contemporâneas
A utilização dos embriões congelados para pesquisa
com células-tronco traz à tona uma questão fundamental:
Quando se inicia a vida humana?
Se embrião é vida, então, a prática do abordo nas primeiras
semanas de gestação não seria um ato criminoso?
Figura 3
Aborto 
Aborto é considerado a expulsão ou extração de toda e qualquer parte da pla-
centa ou das membranas, sem um feto identificável, ou de recém-nascido vivo ou 
morto, que pese menos de 500 gramas (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2007).
Aborto: do latim abortus, corresponde à privação de nascimento, em que ab = privação e 
ortus = nascimento.Ex
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O aborto pode ocorrer de forma natural e não é crime; porém, torna-se crimi-
noso aquele proibido por Lei. Ou seja, há o aborto:
• Espontâneo: ocorre por causas naturais;
• Provocado ou induzido: acontece por intervenção do homem. 
No mundo existem 63 países onde o aborto é considerado uma prática legaliza-
da e as mulheres que desejam interromper a sua gravidez voluntariamentenão são 
presas por isso. No Brasil, essa prática é permitida em casos de estupro, risco de 
morte materna, ou ainda se o feto não tiver cérebro. 
14
15
Importante!
Que em 1969 o Canadá permitiu o aborto em casos de risco de morte ou à saúde da mãe? 
Já em 1973, a interrupção voluntária da gestação também deixou de ser crime nesse 
país, que é um dos mais liberais no mundo em relação ao tema. O procedimento pode 
ser realizado no sistema público de saúde.
Em 1931, o México foi o primeiro a legalizar o aborto em caso de estupro. Nesse país, os 
Estados possuem legislações independentes entre si, por isso há variância conforme a 
localidade: por exemplo, na Cidade do México, desde 2008 o aborto é totalmente lega-
lizado, sendo a única limitação ser realizado, no máximo, até a 12ª semana de gestação. 
Apesar disso, em 2009 outros Estados mexicanos proibiram de forma universal o aborto 
(AGÊNCIA PATRÍCIA GALVÃO, 2019).
Você Sabia?
Os questionamentos relativos ao tema são desafiadores, de modo que vejamos 
alguns argumentos favoráveis e outros contrários à prática:
Tabela 2
Favoráveis Contrários
Defesa do direito de escolha da mulher. Defesa dos direitos à vida do feto.
A legalização garantiria maior segurança no 
procedimento e menor risco de morte às mulheres.
A maioria dos grupos contrários é religiosa e considera 
que a vida se inicia no momento da concepção.
O custo da realização do procedimento de forma segura 
é menor do que as complicações dos abortos ilegais.
Acredita-se que o direito à vida do feto é maior que o 
direito de a mulher decidir pela interrupção da gravidez.
É dito que a proibição é pouco eficiente, pois os 
números indicam que as mulheres não deixam de 
abortar – apenas buscam fazer por procedimentos 
mais arriscados –, por isso a legalização seria uma 
questão de saúde pública.
São pedidos mais programas de apoio financeiro 
e psicológico às mulheres grávidas, assim como 
incentivos aos programas de adoção. Comumente 
esses grupos não são contrários ao aborto já previsto 
em Lei. 
Fonte: Adaptado de http://bit.ly/32ELFPC
Importante!
Que entre os anos 2008 e 2017 foram realizados entre 8 e 12 milhões de procedimentos 
de aborto no Brasil, com gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) ultrapassando 480 
milhões de reais com internações? Leia sobre em: http://bit.ly/398w8tJ
Você Sabia?
15
UNIDADE Questões Bioéticas Contemporâneas
Questões Bioéticas e o Final da Vida
Envelhecimento Humano 
O acelerado envelhecimento populacional é um fato mundial e preocupante. No 
caso, o Brasil já não é mais um país “jovem”, aumentando, ano a ano, o número 
de idosos em relação ao de nascimentos. As causas de morte se modificaram ao 
longo do tempo, a saber:
Tabela 3
Causas de morte
No início do século XX: Atualmente:
1. Epidemias;
2. Acidentes – com animais, 
a natureza etc.; 
3. Problemas no coração. 
1. Câncer;
2. Doenças crônicas cerebrais; 
3. Doenças crônicas do coração. 
Fonte: Adaptado de Pessini e Barchifontaine, 2007
Mudanças Culturais Relativas à Morte ao Longo dos Anos
A importância de se estudar o ritual de morte nas diferentes culturas reside na 
possibilidade de se compreender as implicações das manifestações humanas diante 
da morte para a vida dos indivíduos e da sociedade, principalmente as manifesta-
ções relacionadas ao sofrimento psíquico e à saúde mental. 
Antes do Século XVIII
A morte era uma cerimônia pública e, em muitos casos, organizada pelo próprio 
moribundo. A casa, inclusive o quarto do doente terminal, tornava-se lugar público, 
com entrada livre. Era importante a presença de parentes e amigos – levavam-se 
as crianças. Ritos de morte eram aceitos com simplicidade e cumpridos de modo 
cerimonial – mas sem caráter dramático ou gestos excessivos de emoções.
No Século XIX 
Tentava-se poupar o moribundo e ocultar a gravidade de seu estado. A morte 
tornou-se um evento que deveria ser evitado. Ao doente era ocultado, muitas vezes, 
de seu verdadeiro estado e de que a morte era iminente – tentava-se poupá-lo.
Do Século XX em Diante 
Houve mudança no tratamento das pessoas no final de suas vidas. O local da 
morte foi deslocado da casa e com os entes queridos para o hospital, de forma mais 
isolada – em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Atualmente a emoção é evitada, 
16
17
restando comoções particulares e escondidas. Crianças não podem se aperceber 
da ocorrência da morte. Sinais de luto não são mais utilizados (PESSINI; BARCHI-
FONTAINE, 2007). 
Figura 4
Fonte: Getty Images
Significado da Morte na Área da Saúde 
No hospital, a morte torna-se um fenômeno técnico declarado por decisão de 
profissionais qualificados – médicos, neurologistas etc. 
A morte é considerada um tabu ou algo de responsabilidade dos profissionais de 
Saúde. Há pouco tempo para uma reflexão familiar, filosófica, humana e espiritual 
sobre a morte e o processo de morrer. 
Os médicos são formados para tratar e salvar os pacientes de doenças, de modo 
que para esses profissionais a morte pode ser entendida como o fracasso do trata-
mento (BARCHIFONTAINE, 2002).
Em síntese, a morte é considerada um evento negativo e a falência da Ciência Médica. 
Importante!
Que os critérios para a definição de morte mudaram ao longo do tempo? 
Em 500 a.C., a morte era dada com a seguinte definição por Hipócrates:
Testa enrugada e árida, olhos cavos, nariz saliente, cercado de coloração escura. 
Têmporas deprimidas com cavas enrugadas, queixo franzido e endurecido, epi-
derme seca, lívida e plúmbea, pelos das narinas e dos cílios cobertos por uma 
espécie de poeira de branco fosco, fisionomia nitidamente conturbada e irreco-
nhecível. (PESSINI, BARCHIFONTAINE, 2007)
Porém, até pouco tempo atrás, o critério de morte era a cessação da respiração e a pa-
rada cardíaca. Atualmente a situação mudou, sendo a – falta de – atividade cerebral o 
aspecto decisivo de morte. Isso nos leva a refletir que o critério que julgamos diferenciar 
a vida da morte pode se alterar ao longo do tempo.
Você Sabia?
17
UNIDADE Questões Bioéticas Contemporâneas
A Busca pela Imortalidade
Os avanços da tecnologia se desenvolvem cada vez mais, à medida que o ser hu-
mano sente necessidade de ultrapassar a própria morte material, buscando a imor-
talidade. Essa busca desenfreada também seria analisada, por diversos filósofos, 
como o medo latente que o ser humano possui da morte e do que não consegue 
controlar – por isso surgem conflitos a respeito do papel da tecnologia no final 
da vida.
Não se pode ignorar que muitas vidas continuam e recuperam o seu potencial, 
sendo restituídas à saúde. Ademais, figuram problemas éticos sérios no sentido de 
manipular a dignidade da pessoa na fase final de sua vida (PESSINI, 2004a).
Reflita sobre os limites da Ciência e o desejo de as pessoas ultrapassarem a morte – própria 
e de entes queridos –, sendo até despendidos milhares de dólares na preservação de partes 
do corpo ou até mesmo do corpo inteiro – aos que possuem condições financeiras para isso. 
O processo de manutenção de um objeto em temperaturas muito baixas é conhecido como 
criogenia e as escolhas envolvidas suscitam questões de diversas naturezas: éticas, morais, 
psíquicas, de relacionamento, de decisão sobre a utilização de recursos financeiros, priorida-
des de pesquisa etc. Vejamos um exemplo prático:
Empresa oferece congelamento de cérebros para possível futura imortalidade
Quando a mãe de Alexei Voronenkov faleceu, ele pagou para congelar o cérebro 
dela e armazená-lo na esperança de que descobertas científicas possam um dia 
trazê-la de volta à vida.
Ela é um dos 71 cérebros e cadáveres humanos – que a empresa russa KrioRus 
chama de “pacientes” – que flutuam em nitrogênio líquido em um dos tanques 
de vários metros de altura em um galpão nos arredores de Moscou.
Eles são armazenados a 196 graus Celsius negativos com o objetivo de protegê-
-los contra a deterioração, embora atualmente não haja evidências de que a Ci-
ência será capaz de reviver os mortos. 
Ex
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or
Fonte:http://bit.ly/38bq82d
A Humanização no Evento da Morte
É necessária a tomada de consciência de que a pessoa em fase terminal, apesar 
de suas extremas fragilidades e vulnerabilidades, deve ser respeitada em sua auto-
nomia e dignidade. 
18
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Em tal contexto, levanta-se a questão da eutanásia, que será abordada a seguir. 
Eutanásia: Enquanto conceito clássico, eutanásia significa tirar a vida do ser humano por 
considerações humanitárias para a pessoa e sociedade.Ex
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Eutanásia no Século XX 
A supressão indolor voluntariamente provocada na vida de quem sofre ou pode-
ria sofrer de modo insuportável se dá de diferentes formas, vejamos: 
• Eutanásia ativa: positiva ou direta: ação médica pela qual se coloca fim à vida 
de uma pessoa enferma, por pedido do paciente ou à revelia deste;
• Eutanásia passiva ou negativa: ocorre pela omissão médica ou não aplicação 
de uma terapia com a qual se poderia prolongar a vida – por exemplo, desco-
nexão do respirador;
• Ortotanásia: quando o paciente tem a sua medicação e/ou os seus tratamen-
tos suspensos – por já não serem efetivos ou até o prejudicarem. É uma prática 
não prevista por Lei, mas permitida no Brasil por Resolução do Conselho 
Federal de Medicina (CFM).
Atualmente, a eutanásia é considerada crime de homicídio no Brasil. No entanto, 
na Bélgica, Holanda, Suíça, no Canadá,  na Colômbia e nos Estados Unidos é 
permitida, dependendo do caso.
Quanto aos cuidados paliativos, pode-se dizer o seguinte: 
• A filosofia dos cuidados paliativos constitui-se em uma resposta de cuidado 
integral ao paciente que está fora de possibilidades terapêuticas; 
• À medida que a doença avança, mesmo em vigência do tratamento com inten-
ção curativa, a abordagem paliativa deve ser ampliada, visando também cuidar 
dos aspectos psicológicos, sociais e espirituais;
• Na fase terminal, em que o paciente tem pouco tempo de vida, o tratamento pa-
liativo se torna prioritário para garantir qualidade de vida, conforto e dignidade;
• A transição do cuidado com objetivo de cura para o cuidado com intenção pa-
liativa é um processo contínuo e a sua dinâmica se difere para cada paciente;
• Oferece um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do 
paciente e com o seu próprio luto;
• Afirma a vida e encara a morte como um processo normal.
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UNIDADE Questões Bioéticas Contemporâneas
Veja a descrição de cuidados paliativos, divulgada em uma reportagem:
O trabalho funciona como um tipo de assistência ativa e integral, prestada por 
uma equipe multidisciplinar, a pacientes com doenças graves, incuráveis, pro-
gressivas e que ameaçam a continuidade da vida.
A descoberta de uma doença sem possibilidade curativa é uma situação de difícil 
aceitação, afinal, nunca se está preparado para morrer.
Segundo ela, a proposta é fazer com que o olhar não foque na doença, mas sim 
na pessoa. “Trabalhamos focados na busca pela dignidade que o paciente merece 
ter até o fim de seus dias. O objetivo não é prolongar a vida a qualquer custo, mas 
aliviar os sintomas de sofrimento e melhorar a qualidade de vida do paciente, 
assim como de sua família”, reforçou a enfermeira.
Nunca se está preparado para morrer. A meta de quem trabalha com a Medicina 
de cuidados paliativos é tentar responder à pergunta: “o que posso fazer para dar 
mais vida aos últimos dias que restam para este paciente?” 
Em outra reportagem, temos que:
Cuidados paliativos são reconhecidos pelo SUS. Embora não seja algo novo, esse 
tipo de cuidado tem ganhado visibilidade e força. No fim de 2018, foi aprovada 
a Resolução sobre a política nacional de cuidados paliativos pelo SUS – Sistema 
Único de Saúde. Normatizada no SUS, a aprovação impulsiona a ANS – Agência 
Nacional de Saúde Suplementar – a discutir e reconhecer as práticas de cuidados 
paliativos no rol de procedimentos cobertos por planos de saúde particulares. 
Esses cuidados envolvem médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e 
até advogados que, de acordo com a necessidade e vontade de cada paciente, 
deverão agir para que a qualidade de vida dele seja a melhor possível. 
Ex
pl
or
Fonte: https://glo.bo/2TkWYZ1 e http://bit.ly/381ioiV
Figura 5
Fonte: Getty Images
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Por fim, após ler, refletir e discutir sobre diversas questões que não possuem uma 
resposta ou um posicionamento único na sociedade, busque conhecer e se aprofun-
dar nessas questões e em diversas outras que existem ou surgem no nosso dia a dia.
Preste atenção aos diferentes pontos de vista e tente compreender a posição e 
experiência do outro, mesmo que você não concorde. Respeitar as pessoas e seguir 
valores humanísticos e éticos é primordial na sua trajetória profissional e pessoal.
Os profissionais da Saúde devem sempre saber escutar e evitar julgamentos pre-
cipitados em relação ao outro, seja entre outros profissionais ou pacientes. 
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UNIDADE Questões Bioéticas Contemporâneas
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
A QUEM pertence a vida? Eutanásia, Suicídio Assistido e a Bioética do Fim
https://youtu.be/yAKnojdUKCg
Bioética em Foco – Ética na Terminalidade da Vida
https://youtu.be/wa89pIIm-Q4
Quais os limites da bioética? 
http://bit.ly/3ceD1vv
 Leitura
Reprodução Medicamente Assistida: Questões Bioéticas
ALVES, S. M. A. L.; OLIVEIRA, C. C. Reprodução medicamente assistida: questões 
bioéticas. Revista Bioética, v. 22, n. 1, p. 66-75, 2014.
http://bit.ly/2vmDBqq
Bioética nas Questões da Vida e da Morte
KOVACS, M. J. Bioética nas questões da vida e da morte. Psicol. USP, São Paulo, v. 
14, n. 2, p. 115-167, 2003. 
http://bit.ly/3cglyTu
Rituais Fúnebres no Processo do Luto: Significados e Funções
SOUZA, C. P. de; SOUZA, A. M. de. Rituais fúnebres no processo do luto: significados 
e funções. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, DF, v. 35, p. 35.412, 2019. 
http://bit.ly/3a5eRl8
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Referências
AGÊNCIA PATRÍCA GALVAO. Os 15 primeiros países que legalizaram o 
aborto. 2019. Disponível em: <https://agenciapatriciagalvao.org.br/mulheres-de-
-olho/os-15-primeiros-paises-que-legalizaram-o-aborto>. Acesso em: 16 jan. 2020.
ALVES, S. M. A. L.; OLIVEIRA, C. C. Reprodução medicamente assistida: questões 
bioéticas. Revista Bioética, v. 22, n. 1, p. 66-75, 2014. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/bioet/v22n1/a08v22n1.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2020.
BARCHIFONTAINE, C. P. A dignidade no processo de morrer. In: ______.; PES-
SINI, L. Bioética. Alguns desafios. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002.
DINIZ, D. Tecnologias reprodutivas, ética e gênero: o debate legislativo brasileiro 
In: BARCHIFONTAINE, C. P.; PESSINI, L. Bioética. Alguns desafios. 2. ed. São 
Paulo: Loyola, 2002.
GARRAFA, V.; KOTTOW, M.; SAADA, A. (Org.). Bases conceituais da bioética 
– enfoque latino-americano. São Paulo: Gaia, 2006. 
PESSINI, L. Bioética. Um grito por dignidade de viver. São Paulo: Paulinas, 2006. 
______. Eutanásia. Por que abreviar a vida? São Paulo: Loyola, 2004a. 
______. A filosofia dos cuidados paliativos: uma resposta diante da obstinação 
terapêutica. In: ______.; BERTACHINI, L. Humanização e cuidados paliativos. 
São Paulo: Loyola, 2004b. p.181-208. 
______.; BARCHIFONTAINE, C. P. Problemas atuais de bioética. 7. ed. São 
Paulo: Loyola, 2007. 
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