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AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO PACIENTE Semiologia Clínica Veterinária Carolina Tatsch AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS A avaliação do comportamento do paciente é uma parte importante do exame clínico, que pode ser realizada ainda durante a anamnese e irá nortear os próximos passos da consulta. A primeira coisa a se fazer durante o exame clínico do paciente é a resenha, seguida de anamnese e inspeção visual, ambas são realizadas no mesmo momento. Durante a anamnese faz-se a inspeção geral, que deve incluir inicialmente quatro itens fundamentais, que denotam atenção: estado nutricional, posição que o animal se encontra, conformação do animal e o temperamento/ comportamento do animal no momento do exame. Todas estas informações estão interligadas, isto porque algumas doenças podem alterar o comportamento, nutrição e estado conformacional do animal. Se o comportamento e temperamento do animal não for avaliado neste momento, provavelmente teremos problemas a enfrentar ao decorrer do atendimento. A contenção do animal durante o exame clínico é diretamente proporcional à intensidade do comportamento do animal. Não avaliar corretamente o temperamento do animal pode levar a uma contenção incorreta e danos ao animal ou a pessoa que está manipulando-o. Alterações comportamentais: As alterações comportamentais estão relacionadas às doenças orgânicas, podendo ser causadas por elas ou podem vir a causar doenças orgânicas. Logo, um animal com alterações de comportamento, em determinadas ocasiões, como ambientes fechados, pode acabar se machucando e adquirir com isso uma doença orgânica. Um animal enclausurado pode vir a adquirir alguns hábitos danosos a sua saúde como aerofagia, coprofagia e lignofagia. O comportamento do animal pode se alterar frente a doenças orgânicas, mas ele também pode levar a ocorrência de doenças orgânicas. 02 SEMIOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA Temperamento da ascendência deste animal: os distúrbios de comportamento podem ter origem genética. Comportamento pregresso do paciente: como ele era antes de vir a apresentar estes distúrbios de comportamento. Procurar entender se houve, durante o progresso das alterações no animal alterações no ambiente ou de ambiente - mudar de casa, adição de novos animais no local. Pessoas envolvidas com o paciente: pessoas que convivem no ambiente com o paciente, por exemplo, pessoas de comportamento agressivo podem influenciar no comportamento do ambiente. Disponibilidade de plantas ou substâncias tóxicas no mesmo ambiente do animal. Aplicação de medicamentos: o animal não têm sofrendo aplicações medicamentosas que alterem o comportamento do animal. Devido a estes fatores, durante a anamnese é importante avaliar cuidadosamente às ações deste frente ao local em que ele está inserido: Exame do ambiente: Na clínica de pequenos animais não é comum que se faça o exame do ambiente, a não ser em casos excepcionais (atendimento em casa). No entanto, na clínica de grandes animais geralmente o veterinário se dirige até a propriedade e nestes casos deve-se observar o ambiente, visto que ele deixa marcas no animal e o animal deixa marcas no ambiente. Marcas físicas: marcas de coices, cama pisoteada por causa de irritabilidade, aerofagia e lignofagia - animal roendo partes do local, restos de alimentos, etc. Marcas vivas: observar a presença de plantas e outros animais no mesmo ambiente que já estavam lá ou foram incluídos - causam desconforto no animal mais antigo. AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS 03 SEMIOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA | Espécie: algumas apresentam comportamento linfático e outras sanguíneo. Raça: algumas têm predisposição a comportamento agressivo e outras são amistosas. Linhagem: Dentro de raças amistosas podem aparecer animais com temperamento mais agressivo ou não, devido às linhagens. Idade: O animal jovem tem comportamento bem amistoso, a medida que ele se desenvolve começa a demonstrar seu comportamento dentro da raça, e se porta já como adulto. Sexo: animais no cio em geral alteram muito o seu comportamento, bem como os garanhões ao perceberem éguas no cio - se tornam muito mais agressivos. Mudanças ambientais: já comentado anteriormente. Sistema a que o animal está submetido: em liberdade ou em ambiente restrito. Ambiente: sempre deve fazer parte da avaliação. Exame do paciente: Sempre é necessário observar o comportamento do animal frente ao examinador, atitude constante, e que deve ser feita inclusive durante a anamnese. Além disso, deve-se observar no animal sinais físicos de alterações comportamentais como dentes gastos (cães e cavalos que destroem coisas), o cavalo escoiceador apresenta higroma de jarrete, o cavador pode levar ao rompimento do piso da cocheira e a pinça dos cascos dos membros anteriores fica gasta, assim como a ferradura. Em cães é comum eles pegarem o hábito de roer, e neste caso as unhas apresentam intenso desgaste. Fatores que interferem no comportamento: Conhecer o comportamento natural dos animais é muito importante para realizar o discernimento de quando algo não está certo com a saúde destes, abaixo indico algumas dicas do comportamento de animais em determinadas espécies: → Os animais em geral fazem uma inspeção de novos objetos adicionados ao seu ambiente, logo ao adicionar uma planta nova no ambiente os felinos irão tentar reconhecer essa, mordiscando- a, e algumas são muito venenosas, como é o caso da flor de natal - resina muito cáustica - produz lesões graves na boca do animal. A planta comigo- ninguém-pode também é bastante venenosa e pode levar inclusive à morte dos animais. → A introdução de outra espécie de animal no ambiente também é algo problemático, pois os animais podem ficar muito estressados com a adição de outros no seu ambiente, levando a distúrbios do sono e do apetite. → No caso de animais jovens, que são naturalmente brincalhões, deve-se ter cuidado redobrado pois mesmo doentes eles irão responder às brincadeiras, então isso não deve ser utilizado como parâmetro da saúde do filhote. → Faz parte do comportamento do cão ser ambientado na vida dos humanos, se tornando um membro da família, e essa íntima relação do cão com o ambiente dos humanos acaba fazendo com que ele adote os costumes do homem, tirando proveitos, muito disso está relacionado a tendência do cão a se adaptar aos humanos. → Atentar-se a animais que vivem em agrupamentos, estes têm a característica de serem muito fiéis, sempre ficando no grupamento, logo, animais que se afastam do grupamento devem estar com problemas - sinal característico da anaplasmose. As éguas fazem grupamentos menores, geralmente de 2 a 3 éguas, sempre uma mais adiantada do que a outra - elas têm ciúmes das amizades e isso pode levar a brigas, a mais da frente é a dominante, a guardiã da companheira. Se uma dominante não se portar assim muito provavelmente tem algo de errado com ela. Manifestação de submissão e dominância: → É característica do comportamento de potros Anorexia. Bulimia. Parorexias ou alotrofagias: ingestão de elementos estranhos à dieta dos animais. Aerofagias: distúrbio ligado principalmente ao estar preso, comum em equinos. Os animais amparam os dentes para fazer a deglutição, animais que apresentam aerofagia tem problemas no estado físico, pois tendem a se alimentar menos - não ingerem a alimentação completa - excesso de ar no estômago, pode levar a cólicas por causa de gastrecfagia aguda podendo levar ao óbito - desqualifica muito o animal, a performance dele é irregular. Em alguns momentos eles podem se tornar imprestáveis e serem desqualificados das pistas. Lignofagia: animal roendo as madeiras e a maravalha da cama. Pode ser observada em cães que recebem polentas e quirelas de arroz, acabando por ingerir pedaços de mascarem no vazio/ar ao estar de frente a cavalos mais velhos, isto porque ele está pedindo licença para estar à frente do cavalo mais velho. → O cavalo que enfrenta o mais velho, têm um temperamento dominante, e se isso for observado éimportante que estes não fiquem no mesmo grupo de potros. Cio na alteração comportamental: → Éguas com filhotes costumam ser muito agressivas, não deixam os animais e humanos se aproximarem, sempre protegendo a prole, no entanto, quando ela entra no cio acaba não se importando tanto com seu potro. Este comportamento auxilia na observação do retorno ao cio da égua. Distúrbios do comportamento: Tiques: atitudes que o animal não consegue superar, é levado a fazer pois tem uma alteração que não o impede de fazer comportamentos estereotipados. Tiques ligados ao apetite: SEMIOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA 04 AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS madeira - neste caso o tique está ligado a carências nutricionais. Coprofagia: Se desenvolve muito rapidamente, um dia que o animal fique com fome ele pode sofrer de coprofagia. Isso é muito fácil de ocorrer nos equinos pois o potro nos primeiros dias de vida ingere as fezes da mãe, adaptando a microbiota intestinal para começar a se alimentar de fibras e não mais de leite, se ele ficar com fome este comportamento pode virar rotineiro. Geofagia: comer terra ou barro. Ingestão de plantas: cães da raça Border Collie costumam pastar e isso é normal para a raça. No entanto, alguns animais domésticos - carnívoros que se alimentam de plantas com frequência podem indicar distúrbios carenciais, buscam fibras, estão com muita fome, etc. Caminhador: animal que trota em espaços muito pequenos, parece um animal com autismo. Dançarino: parece que não vê nada do que está acontecendo ao redor. Escavador ou cavador: Ele dá atenção às pessoas. Está ligado à síndrome de inadaptação ou a presença de insetos desagradáveis na cocheira - formiga e condições cardíacas no lado direito, com formigamento - o animal acaba cavando para circular mais sangue no membro. → Formas de controle inicial da aerofagia: uso da coleira que impede a deglutição pois dribla a laringe, mas depois o animal acaba se acostumando e retorna ao hábito. Tiques ligados ao ambiente: Geralmente relacionados a mudanças bruscas no sistema ao qual o animal está acometido. Ex: potro que está acostumado a vida livre na cocheira e de repente é encerrado, domado e fica em ambientes fechados. Indica-se realizar essas alterações no inverno para que os animais se sintam abrigados e não presos. Destroçador: mais comum em cães e deve ser observado logo no início da vida, antes que se torne um hábito. Normalmente o cão jovem tem um pouco disso, principalmente ao ficar sozinho, porém, ele cresce e abandona isso, alguns animais têm isso como regra o que pode causar danos à saúde do animal. Escoiceador: comum em cavalos, ele passa sempre escoiceando a cocheira e pode levar aos higromas de jarrete. Mordiscador: animais que se mordem (animal morde os hipocôndrios e os metatarsianos - quando não se adaptam), e nos cães ocorre ao roer as unhas - pode ser causado pelo frio ou por cardiopatias esquerda - formigamento de extremidades. Head-shaker: os equinos fazem isso até mesmo correndo, levanta a cabeça e começa a girar. Para evitar isto é possível melhorar a condição do freio. Linguateio: comum em touros Jersey, o animal fica girando a língua para todos os lados copiosamente. A única maneira de parar é tirando os animais da cocheira - provavelmente ligada ao fato de não se adaptar a ela. Formas de amenizar estes tiques: → Companhia é uma forma de impedir que o animal seja um caminhador, o animal para de caminhar. No entanto, em alguns casos pode piorar a situação. → Destroçador: é possível corrigir o problema. animais muito jovens dentro de ambientes fechados deve-se ter cuidado com materiais elétricos. → Existem medicações que podem reverter o caso dos cavalos dançarinos - depakene. Tiques ligados ao autoflagelo: Geralmente os animais acabam causando danos graves a si mesmo: Outros tiques: SEMIOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA 05 AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS contráteis: são os tiques da cinomose, animal apresenta permanentemente, caminhando, parado, em estação, nunca abandona aquele hábito. Mascador de freio: hábito que desqualifica o animal e está relacionado com a doma de boca, com aquela pressão sobre os dentes, desgastando os pré-molares. Hábito de “mascar chiclete” ou mastigar no vazio: manifestação que os animais jovens fazem na frente dos adultos, pedindo licença para poder estar naquele ambiente - comportamento normal dos animais jovens frente a animais adultos. Comportamento arredio: primeira manifestação de mal estar dos animais de companhia, geralmente é sinal de maus tratos, ao sair do ambiente agressivo o animal muda seu comportamento. Onanismo: masturbação do macho, muito comum em equinos e em cães. Se eles não se controlarem podem passar mal, dormem mal, comem mal e passam a ter problemas de performance. Tristeza: por perda de companhia ou por ter sido maltratado. Sonolência: no caso de animais muito sonolentos é importante avaliar como foi a noite do animal, procurando o motivo para ele ter muito sono no outro dia. Desânimo: geralmente está associado a fraqueza. Alienação: pode levar o animal a apresentar alguns tiques. Algumas drogas podem levar a isso. Lipotimia: desmaio, podem ser provenientes de danos circulatórios agudos ou permanentes. Coma e torpor: consequência de outras doenças, na maioria das vezes se relacionando a fase final de algumas doenças. Alterações depressoras do comportamento: Todas elas são reflexos de alguma coisa. Excitação: pode estar relacionadas a saber quem é o tutor e quem está presente na vida do animal → pessoas que utilizam tarja pretas, drogas, etc, e o pet têm acesso a elas. Euforia. Agressividade. Alucinações: também estão relacionadas ao consumo de substâncias, como derivados do ácido lisérgicos. Se não existe ninguém depende de drogas é importante. Hiper-reflexia: ocorre no tétano e em intoxicações por estricnina. Convulsões: podem ser causadas por toxinas de parasitas (Toxocara canis) Agressividade: animal sempre agressivo, mesmo quando vai receber comida - provavelmente ele tenha sido muito maltratado. Alterações ativadoras: Um bom clínico está sempre atento aos sinais que os animais concedem que indicam doenças, logo, a avaliação do comportamento é uma parte extremamente importante na rotina clínica veterinária, e deve ser observada com cuidado e atenção, visto que, nossos pacientes não conseguem nos falar claramente onde dói, mas são capazes de demonstrar. SEMIOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA 06 AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Anotações:
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