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Sócrates e os Sofistas 2012

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SÓCRATES E OS SOFISTAS 
Sócrates (470 - 399 a.C) nasceu em Atenas e tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Estudioso desde a juventude, Sócrates conheceu as doutrinas de seus contemporâneos: Anaxágoras, Parmênides, Heráclito e dos Sofistas (Mestres em retórica e oratória). A formação, pela qual, os sofistas foram responsáveis constituiu-se, basicamente, na preparação do cidadão grego para a participação na vida política da polis (Cidades - Estado). Em cada Cidade-Estado havia um espaço denominado Àgora, onde os gregos debatiam questões políticas. 
A preocupação com o desenvolvimento do pensamento racional e a política era tanta, que os gregos criaram o sistema de ensino denominado Paidéia, com objetivo de educar o cidadão para viver na polis. Em grego, Paidéia significa criança e as pessoas que conduziam as crianças à educação eram os Pedagogos. A primeira geração de sofistas possuia alguns valores morais e éticos. Protágoras de Abdera (490 - 421 a.C) e Górgias de Leontinos (487 - 380 a.C) foram os mais importantes e influentes sofistas que contribuíram para o desenvolvimento da língua grega, através da divisão das partes do discurso, do estabelecimento da análise etimológica e da sistematização da gramática. Ao contrário dos seus predecessores, os sofistas da última geração (sofistas políticos) não formaram uma escola, caracterizando-se como um grupo, somente por possuírem um objetivo comum, persuadir o interlocutor, sem levar em conta quaisquer valores éticos e morais. A educação sofística tinha objetivos pragmáticos, como, por exemplo: o sucesso dos políticos (seus alunos). Os sofistas eram contratados pelos políticos, que desejavam aprender a arte da retórica e da oratória para persuadir (convencer) o povo, independente dos valores éticos e morais daquilo que estava sendo dito e prometido. A crítica de Sócrates aos sofistas consistia em mostrar que seus ensinamentos se limitavam à mera técnica da habilidade argumentativa, que visava convencer o interlocutor daquilo que era dito, independente da veracidade do conteúdo discursado. 
Os sofistas influenciaram muito as decisões políticas das Assembléias, desvalorizando os princípios éticos e morais que, para eles, não eram fundamentais. Os sofistas não ensinavam o caminho para o conhecimento, mas sim, o caminho para a persuasão. Segundo Sócrates, essa perspectiva de educação marcou a profunda diferença entre a Filosofia e a Sofística. Sócrates valorizou muito os debates e ensinamentos orais, mas, ele nada escreveu. O que se conhece sobre o pensamento socrático foi escrito por seus discípulos, principalmente, Platão e Xenofonte. Sócrates iniciou o que se entende hoje por Filosofia Ocidental e seus primeiros estudos discorreram sobre a essência da natureza e da alma humana. O objeto de investigação de Sócrates, não era genericamente o homem e a natureza, como estudaram seus predecessores, mas sim, cada homem como objeto de si mesmo. Sócrates não fundou uma escola, preferindo realizar seu trabalho em locais públicos, como, praças e ginásios. Ele dialogava e fascinava muitas pessoas com suas ideias inovadoras, postulando que o homem era produto da razão - personalidade intelectual e moral, de conceitos éticos e da própria consciência. Para Sócrates, o grau de conhecimento que o homem poderia ter sobre si próprio estava relacionado à descoberta de sua própria essência - “Conhece-te a ti mesmo”. 
Foi ao pensar sobre os caminhos percorridos pelo pensamento, como e por que os homens chegam a pensar como pensam, é que a humanidade começou a deixar de lado o pensamento mitológico (revelado, divino) e passou, lentamente, a pensar de forma racional, lógica e argumentativa, isto é, a pensar filosoficamente. Cabe ressaltar, que a Filosofia (até o séc.XVIII - com as ideias de Descartes) era o conjunto de todos os conhecimentos, como, por exemplo: a matemática, a química e a física. Para atender aos anseios de ordem da alma, da mesma forma que se compreendia haver uma ordem no cosmos, Sócrates concebeu um novo conceito de logos (lógica), sendo este a própria racionalidade que confere valores às pessoas. Contrariamente, os sofistas compreendiam o logos, como, razão relacionada ao argumento que convence o outro, através da retórica e da oratória. O objetivo educacional socrático era levar a cabo uma revolução na percepção das pessoas sobre o papel da razão, o reconhecimento do seu valor normativo e não apenas instrumental. Sócrates afirmou haver diferença entre o bem e o mal. Para ele havia opiniões boas e corretas e más e incorretas. Por isso, opiniões irrefletidas e impostas não deveriam ter valor para o conhecimento verdadeiro. Para Sócrates o “vício”, ou seja, as más condutas era resultado da ignorância. As pessoas se constituiam más, não por escolha racional, mas sim, por não conhecerem o caminho do bem. Segundo Sócrates, as pessoas que conheciam o caminho do bem eram virtuosas e, consequentemente, tinham mais chances de serem felizes. A virtude pensada por Sócrates se expressava pela aquisição de conhecimentos críticos e reflexidos. Portanto, os indivíduos não virtuosos, assim o eram, por falta de conhecimentos e, os indivíduos virtuosos, agiam corretamente porque conheciam o caminho do bem. 
O método utilizado por Sócrates, com o objetivo de contribuir para o pensamento crítico e reflexivo (pensamento filosófico) foi denominado: Maiêutica, que significa: arte fazer o parto. Sócrates considerava-se um “parteiro de ideias”, uma analogia ao ofício de sua mãe que era parteira. Para Sócrates, os filósofos deveriam estimular os jovens a pensarem sobre os valores éticos e morais, principalmente, dos políticos da época. Sócrates também utilizou a técnica da ironia como instrumento desestabilizador das crenças humanas, levando o interlocutor a cair em contradições no decorrer de suas falas. A ironia despertava dúvidas sobre os valores e crenças estabelecidos e a percepção da ignorância humana diante do saber. A ironia socrática levava os interlocutores ao desespero por não conseguirem entender as palavras em seus sentidos habituais. “Só sei que nada sei” é uma fórmula socrática, reconhecida como ironia, porque induz o sujeito a reconhecer sua ignorância diante de tanto conhecimento. Sócrates afirmou que o indivíduo que reconhece suas limitações e incapacidade de tudo saber é um sabio, enquanto aquele que acha que sabe tudo, não passa de um tolo. Ao expor as fraquezas dos pensamentos atenienses, com seu método de ensino, Sócrates induziu os jovens a reflexões e questionamentos sobre a vida, a política e aos discursos sofistas. 
Foi através do Método Dialético (questionamento último ou primeiro de todas as coisas), que Sócrates e seus discípulos refletiram criticamente sobre as definições e conceitos da humanidade. Com o Método Dialético, Sócrates formulou diversos conceitos, como, por exemplo: de justiça, amor, ética, virtude e piedade. O Método Dialético, na Grécia Antiga, partia de uma tese primeira (sobre algo a ser definido, como, por exemplo: justiça) que deveria ser criticado, exaustivamente, para se chegar a uma tese segunda e, assim por diante, até que não houvesse mais crítica possível para o conceito em questão. Sócrates conquistou fervorosos discípulos, bem como, inimigos constantes que acabaram por pedir sua condenação à morte, aos 71 anos (399 a.C). Sócrates foi acusado, injustamente, de cometer vários crimes, dentre os quais: corromper a juventude, desrespeitar as tradições religiosas e ofender os deuses. Sócrates não cometeu nenhum crime. Na verdade, ele foi acusado de tê-los cometido, porque levou os jovens a pensarem criticamente sobre as questões políticas. Sócrates se negou a pedir uma pena para alternativa para livrar-se da morte (como seus discípulos desejavam) e, durante o mês que permaneceu na prisão, foi incentivado a fugir. Porém, ele preferiu morrer a negar coerênciaentre seus atos e ideais e, no dia marcado para sua execução, foi obrigado a beber uma taça de veneno na prisão (cicuta). No julgamento de Sócrates 500 jurados participaram da decisão e, por pouco, ele (que realizou a própria defesa), não foi absolvido. Por fim, cabe ressaltar que, para Sócrates, a natureza humana evita as contradições dos pensamentos e da vida. No entanto, uma vez consciente e em confronto com elas, a humanidade busca entendê-las, abrindo assim, os caminhos em direção à Filosofia.
REFERÊNCIA:
MARCONDES, Danilo. Iniciação à filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. 
 Cheila Szuchmacher 
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