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tem de viajar para um mercado distante. Assim, um possuidor de mer-
cadorias pode apresentar-se como vendedor antes que outro como com-
prador. Com constante repetição das mesmas transações entre as mes-
mas pessoas, as condições de venda das mercadorias se regulam pelas
suas condições de produção. Por outro lado, vende-se o uso de certas
classes de mercadorias, por exemplo, uma casa, por determinado espaço
de tempo. Somente após o decurso do prazo fixado recebe o comprador
realmente o valor de uso da mercadoria. Ele a compra, portanto, antes
de pagá-la. Um possuidor de mercadorias vende mercadorias que já
existem, o outro compra como simples representante do dinheiro ou
como representante de dinheiro futuro. O vendedor torna-se credor, o
comprador, devedor. Como a metamorfose da mercadoria ou o desen-
volvimento de sua forma valor se altera aqui, o dinheiro assume outra
função. Converte-se em meio de pagamento.200
O caráter de credor ou devedor origina-se aqui da circulação sim-
ples de mercadorias. Sua mudança de forma imprime esse novo cunho
ao vendedor e ao comprador. Inicialmente, trata-se pois de papéis eva-
nescentes e desempenhados alternadamente pelos mesmos agentes de
circulação, do mesmo modo que os de vendedor e comprador. Porém,
a antítese parece agora desde sua origem menos confortável e tem
maior capacidade de cristalizar-se.201 Mas os mesmos caracteres podem
também apresentar-se em cena, independentemente da circulação de
mercadorias. Assim, por exemplo, a luta de classe no mundo antigo
apresenta-se principalmente sob a forma de uma luta entre credor e
devedor e termina em Roma com a decadência do devedor plebeu, que
é substituído pelo escravo. Na Idade Média essa luta termina com a
decadência do devedor feudal, que perde seu poder político com sua
base econômica. Contudo, a forma dinheiro — a relação entre credor
e devedor possui a forma de uma relação monetária — somente reflete
o antagonismo de condições de existências econômicas mais profundas.
Voltemos à esfera da circulação de mercadorias. Cessou o apa-
recimento simultâneo dos equivalentes mercadoria e dinheiro, sobre
os dois pólos de processo de venda. O dinheiro funciona agora, primeiro,
como medida de valor na determinação do preço da mercadoria vendida.
Seu preço fixado contratualmente mede a obrigação do comprador, isto
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200 Lutero distingue dinheiro como meio de compra e como meio de pagamento. “Fazes de mim
um gêmeo do avarento, de modo que não posso pagar aqui, nem comprar ali.” (LUTHER,
Martin. An die Pfarrherrn, wider den Wucher zu predigen. Wittenberg. 1540.)*
201 Sobre as relações entre devedor e credor, entre os comerciantes ingleses, no início do século
XVIII: “Entre os comerciantes, aqui na Inglaterra, reina tal espírito de crueldade que não
se encontra em nenhuma outra sociedade humana nem em nenhum outro país do mundo.”
(An Essay on Credit and the Bankrupt Act. Londres, 1707. p. 2.)
* Nós citamos Lutero conforme a 4ª edição de O Capital. (N. da Ed. Alemã.)

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