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1 Disciplina: Educação inclusiva e dificuldades de aprendizagem Autores: Esp. Ana Paula Machuca Marcon Revisão de Conteúdos: Esp. Irajá Luiz da Silva / D.ra Maria Tereza Costa Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Ana Paula Machuca Marcon Educação inclusiva e dificuldades de aprendizagem 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA MARCON, Ana Paula Machuca. Educação inclusiva e dificuldades de aprendizagem / Ana Paula Machuca Marcon. – Curitiba, 2018. 57 p. Revisão de Conteúdos: Irajá Luiz da Silva / Maria Tereza Costa. Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki. Material didático da disciplina de Educação Inclusiva e dificuldades de aprendizagem – Faculdade São Braz (FSB), 2018. ISBN: 978-85-5475-235-4 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Na disciplina de Educação Inclusiva e Dificuldades de Aprendizagem, serão feitas abordagens relacionadas às diferentes formas de inserção de alunos com necessidade educacionais especiais em classes regulares da educação básica, a forma como ocorre, a evolução da educação inclusiva no Brasil, os agentes envolvidos no processo e o papel da escola e da família, bem como a reflexão entre as teorias que embasam as leis e diretrizes e a prática (inclusiva ou não) que acontece dentro das escolas. No segundo momento, faz-se importante conhecer a anatomia da aprendizagem, compreendendo o funcionamento do cérebro e das células do aprendizado. Também é proposta a análise dos fatores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem e como influenciam positiva ou negativamente na aquisição dessa aprendizagem. Após, propomos a reflexão a respeito dos fatores relacionados às dificuldades para aprendizagem, apresentando a diferença entre transtorno e dificuldade e o conhecimento acerca dos transtornos de aprendizagem mais comuns em sala de aula. Por fim, algumas sugestões de estratégias para trabalhar com crianças com dificuldade para aprendizagem ou com transtorno de aprendizagem. É importante ressaltar que o material apresenta reflexões e propostas de atividades que possibilitam a ampliação do conhecimento e a busca de respostas aos seus questionamentos. 6 Aula 1 - Concepções básicas sobre Educação Inclusiva e dificuldades de aprendizagem no processo de alfabetização Nesta aula serão abordados os aspectos teóricos e práticos da educação inclusiva no Brasil e seu impacto no cotidiano escolar. O ponto de partida será em uma reflexão sobre os conceitos básicos da inclusão, seguido da análise de como acontece o processo inclusivo nas escolas, refletindo a respeito da teoria fundamentada nas leis para inclusão, comparando-as com a realidade prática dentro das salas de aulas. Sabe-se que está muito longe de sermos uma sociedade inclusiva e tampouco de termos escolas que recebem os alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), com infraestrutura adequada, currículo adaptado e inclusivo, professores capazes de compreender e respeitar as diferenças e, sobretudo, usar do amor para promover um ambiente saudável, inclusivo e igualitário para todos. 1.1 Concepções básicas http://www.educarcursos.com.br/uploads/_thumb/cedoc_doc_15614/img15614_tlr3cep0wf5swy shc6i3iwz0rhewugsz15fveb0ieucgklxem09j3aygfij56ralwnxkoc7hxk17ynhudgzizy8gwxjk6vklln1t. jpg Em 2007, com o decreto n. 6094, o Plano de Desenvolvimento da Educação-PDE apresentou um conjunto de ações a fim de garantir o acesso e permanência de alunos com deficiência no ensino regular, fornecendo apoio técnico e financeiro para a acessibilidade nas escolas da rede pública, sendo um 7 grande passo para o processo de construção da política nacional de educação especial que passa a ser definida como: A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços, orienta quanto à utilização e processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. (BRASIL, 2008, p.21). Assim sendo, a educação especial atende aos alunos com Deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) / Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Altas Habilidades ou Superdotação, assegurando o acesso às salas regulares. Para Refletir Mas então, o que significa inclusão escolar? Maria Teresa Eglér Mantoan, em seu livro Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? Descreve a inclusão escolar como: “(...) uma inovação que implica um esforço de modernizar e reestruturar a natureza atual da maioria de nossas escolas. Isso acontece à medida que as instituições de ensino assumem que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam, em grande parte, do modo como o ensino é ministrado e de como a aprendizagem é concebida e avaliada”. (MANTOAN, 2015). Esse é o desafio! Reestruturar a escola de forma a reconhecer a sua responsabilidade dentro das necessidades educacionais especiais. Criar um ambiente inclusivo é mais do que dispor de espaços adaptados e professores especializados, é atender as diferenças de forma transformadora em que TODOS os alunos sejam incluídos. 8 Ví deo O vídeo Papo Especial ¼- Inclusão traz uma reflexão em relação à construção de uma escola para todos e sobre a importância de oportunizar às crianças pequenas o convívio com as diferenças, pois é na infância que os relacionamentos sociais se iniciam. É preciso preparar as escolas para receber todos os alunos “com ou sem laudos” para adequar o currículo de forma que ninguém fique de fora das atividades. Sugere que o profissional da educação se abra para entender e conhecer as diferenças para poder ser verdadeiramente colaborativo. https://www.youtube.com/watch?v=m-24NMBT0vs 1.2 Um olhar sobre a Inclusão no Brasil Quando falamos em Educação Inclusiva, é importante analisar dois pontos: a inclusão teórica- aquela embasada nas leis, pareceres e declarações e a inclusão prática- a que acontece (ou não) nas escolas dentro das salas de aula. Fonte:http://movimentopelamoradia.com.br/wp-content/uploads/2014/03/EDUCACAO_INCLUSIVA_2006.jpg O Ministério da Educação vem apontando, nos últimos anos, um crescimento significativo nas matrículas da educação especial nas classes comuns do ensino regular. Estão em classes comuns estudantes com Deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) / Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Altas Habilidades ou Superdotação, isso, devido às políticas de inclusão implementadas pelo governo federal. 9 Vocabula rio Deficiência: considera-se alunos com deficiência àqueles que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Transtornos globais do desenvolvimento: os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. *Dentre os transtornos funcionais específicos estão: dislexia, disortografia, disgrafia, discalculia, transtorno de atenção e hiperatividade, entre outros. Altas habilidades/superdotação: alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. (BRASIL, 2008). Para minimizar as dificuldades de atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais, alguns programas do MEC preveem a acessibilidade nas escolas (recursos e adequações estruturais), salas de recursos multifuncionais (escolas públicas) e formação continuada em educação especial. Em 2008, foi lançada a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, aprovada por meio de emenda constitucional, com base na convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência. De acordo com a convenção, devem ser assegurados sistemas educacionais inclusivos em todos os níveis. O Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008, dispõe sobre o atendimento educacional especializado. A Declaração de Salamanca (1994) traz uma interessante e desafiadora concepção de Educação Especial, ao utilizar o termo: “pessoa com necessidades educacionais especiais” estendendo-o a todas as crianças ou http://portal.mec.gov.br/component/docman/?task=doc_download&gid=424&Itemid= 10 jovens que têm necessidades decorrentes de suas características de aprendizagem. O princípio é que as escolas devem acolher a todas as crianças, incluindo às com deficiências, superdotadas, crianças que vivem nas ruas, que trabalham, de populações distantes, nômades, pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais, de outros grupos desfavorecidos ou marginalizados. Para isso, sugere que se desenvolva uma pedagogia centrada na relação com a criança, capaz de educar com sucesso a todos, atendendo às necessidades de cada um, considerando as diferenças existentes entre elas. Para Refletir Mas será que todas essas políticas públicas garantem um atendimento de qualidade ao aluno com necessidades educacionais especiais? Saiba Mais Breve histórico da Inclusão no Brasil: ✓ Constituição Federal (1988). ✓ Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/1990). ✓ Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/1996). ✓ Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Lei n.7.853/1989). ✓ Plano Nacional de Educação (Lei n. 10.172/2001). ✓ Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Resolução CNE/CEB n.02/2001). ✓ Decreto n. 3.956/2001 que promulgou a Convenção interamericana para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência. 11 1.3 A inclusão no âmbito escolar e suas implicações no processo de ensino Fonte: https://www.wreducacional.com.br/img_cursos/prod/img_610x320/educacao/educacao- inclusiva.jpg Muitas leis e decretos garantem o acesso de alunos com necessidades educacionais especiais na educação básica regular, mas essas leis não podem garantir que dentro da escola ou mesmo da sala de aula, a inclusão ocorra com sucesso. Isso porque a educação não é feita só de leis no papel, ela é composta pelo agente humano, este é quem aplica e executa as leis. Dessa forma, os agentes envolvidos no processo de ensino e aprendizagem devem estar dispostos a, não apenas, receber alunos com necessidades educacionais especiais, mas preparar o ambiente, formar seus professores, compreender a dimensão das ações educativas e as consequências desastrosas a nível educacional, pessoal e social que a exclusão pode causar. Pensando em minimizar as questões negativas das barreiras para a inclusão, o MEC está, constantemente, elaborando materiais de orientação aos profissionais da educação. Um deles é o documento subsidiário à política de inclusão, elaborado pela Secretaria de Educação Especial em 2005, com objetivo de transformar as escolas públicas em espaços inclusivos de qualidade, apresentando reflexões críticas aos referenciais que fundamentam a educação 12 especial na perspectiva da coletividade, unindo ações entre a comunidade escolar e a rede de apoio à inclusão. Até o momento da elaboração desse documento, o processo de inserção de alunos com necessidades educacionais especiais na educação básica regular havia passado por muitas experiências: Fonte: http://inclusaosocialreal.blogspot.com/p/imagens.html As experiências vão desde a exclusão que ocorre quando os alunos são privados de ingressar direta ou indiretamente no ensino básico regular; a segregação, quando há a inserção do aluno em escolas especiais separadas das escolas para alunos sem necessidades educacionais especiais; a integração, processo de atendimento em salas exclusivas para alunos com NEE ou quando este aluno tem acesso à matrícula no sistema comum de ensino, mas este sistema não se modifica para atender às suas peculiaridades, 13 permanecendo inalterado, e a inclusão, a qual propõe o ensino em salas de aula de ensino regular com adaptações curriculares, métodos de ensino que atendam a todos os alunos de forma igualitária e adaptações estruturais. Pesquise Pesquise em que época o movimento de integração dos alunos com necessidades educacionais especiais teve início no Brasil, observando a forma como acontecia e quais motivos fizeram com que fosse substituído pela inclusão. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia Inclusão Escolar: Pontos e Contrapontos (Maria Teresa Eglér Mantoan e Valéria Amorim Arantes). O Livro apresenta os labirintos da inclusão escolar analisando, com muito rigor científico e competência, suas diferentes facetas. Aborda pontos polêmicos e controvertidos que vão desde as inovações propostas por políticas educacionais e práticas escolares que envolvem o ensino regular e especial, até as relações entre inclusão e integração escolar. 1.4 O papel da escola X O papel da família na inclusão https://www.ciadoslivros.com.br/meta/autor/maria-teresa-egler-mantoan 14 Fonte: http://www.bomjesusdooeste.sc.gov.br/thumbs/394/1418876_resize_1500_840.png Não podemos esperar a inclusão escolar sem que primeiro haja a união de todos os agentes envolvidos no processo de ensino e aprendizagem da criança ou jovem. A família é a primeira“sociedade” que a criança é inserida ao nascer, nela ela inicia seu aprendizado em conviver com os outros, e, dessa forma vai construindo sua identidade. Assim, a família inicia um processo que terá continuidade na escola. A família e a escola devem caminhar juntas, com os mesmos princípios norteadores em relação aos objetivos que pretendem alcançar. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica enfatizam a participação da família para a ampliação total do educando desde a primeira etapa de educação. Conforme o Art. 22: “A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a ação da família e da comunidade”. (BRASIL, 2010). Essa relação se estende nos demais parágrafos do mesmo artigo, quando se lê: § 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida social devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensificação deve ocorrer ao longo da Educação Básica. § 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços promovendo ações a partir das quais as unidades de Educação Infantil sejam dotadas de condições para acolher as crianças, em estreita relação com a família, com agentes sociais e com a sociedade, prevendo programas e projetos em parceria, formalmente estabelecidos. (BRASIL, 2010). Na prática, os casos de sucesso relacionados à inclusão vêm acompanhados de um grande suporte e atendimento prestado pelas famílias e acompanhados pela escola. A boa comunicação entre a escola e a família é fundamental para que os alunos que necessitam de atendimento educacional especializado possam evoluir em seu processo de aprendizado. 15 1.5 Currículo Inclusivo Fonte: https://cursosescon.com.br/uploads/33bf581a55c3af2bcb099323558f9113.jpg Embora as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica não deixem claro a forma que a adaptação curricular deve acontecer, considera que as dificuldades de aprendizagem mais simples ou transitórias na escola apareçam constantemente e podem ser resolvidas com ações pedagógicas diferenciadas, sem que necessitem de grandes adaptações. As mais complexas ou permanentes devem contar com uso de recursos e técnicas especiais, abordagens graduais e progressivas adaptações. Em casos singulares em que o aluno possua graves comprometimentos intelectuais ou múltiplos e não acompanhe o currículo da base comum, deverá ser proporcionado um currículo funcional que atenda às necessidades da vida prática, buscando meios úteis e práticos para favorecer o desenvolvimento das competências sociais, acesso ao conhecimento, à cultura e às formas de trabalho. Ainda, nesses casos, a escola deve promover avaliação e certificação diferenciadas, fundamentadas no histórico escolar e de desenvolvimento, de forma descritiva, contendo as habilidades e capacidades do aluno, baseada em avaliação pedagógica. 16 É certo que a educação inclusiva precisa ser naturalizada na prática e não apenas no discurso. Sabemos que ainda há enormes desafios sobre o que é, como fazer e porque incluir, mas estamos caminhando, ainda que vagarosamente, para um entendimento e aceitação de que todos somos diferentes, e, de alguma forma, precisamos de adaptações e adequações em nossos “currículos diários”, para que possamos executar nossas tarefas com êxito. O processo de inclusão é lento, difícil, árduo, mas não impossível, devendo começar por cada um de nós e dentro de nós, para só depois transpor as barreiras físicas e mentais da ignorância. RESOLUÇÃO Nº 4, DE 2 DE OUTUBRO DE 2009 Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. Art. 2º O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, consideram-se recursos de acessibilidade na educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços. Art. 3º A Educação Especial se realiza em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE como parte integrante do processo educacional. Art. 4º Para fins destas Diretrizes considera-se público-alvo do AEE: I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem- se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra 17 especificação. III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade. (*) Resolução CNE/CEB 4 Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também, em centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios. Art. 6º Em casos de Atendimento Educacional Especializado em ambiente hospitalar ou domiciliar, será ofertada aos alunos, pelo respectivo sistema de ensino, a Educação Especial de forma complementar ou suplementar. Art. 7º Os alunos com altas habilidades/superdotação terão suas atividades de enriquecimento curricular desenvolvidas no âmbito de escolas públicas de ensino regular em interface com os núcleos de atividades para altas habilidades/superdotação e com as instituições de ensino superior e institutos voltados ao desenvolvimento e promoção da pesquisa, das artes e dos esportes. Art. 8º Serão contabilizados duplamente, no âmbito do FUNDEB, de acordo com o Decreto nº 6.571/2008, os alunos matriculados em classe comum de ensino regular público que tiverem matrícula concomitante no AEE. Parágrafo único. O financiamento da matrícula no AEE é condicionado à matrícula no ensino regular da rede pública, conforme registro no Censo Escolar/MEC/INEP do ano anterior, sendo contemplada: a) matrícula em classe comum e em sala de recursos multifuncionais da mesma escola pública; b) matrícula em classe comum e em sala de recursos multifuncionais de outra escola pública; c) matrículaem classe comum e em centro de Atendimento Educacional Especializado de instituição de Educação Especial pública; d) matrícula em classe comum e em centro de Atendimento Educacional Especializado de instituições de Educação Especial comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. Art. 9º A elaboração e a execução do plano de AEE são de competência dos professores que atuam na sala de recursos multifuncionais ou centros de AEE, em articulação com os demais professores do ensino regular, com a participação das famílias e em interface com os demais serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros necessários ao atendimento. Art. 10. O projeto pedagógico da escola de ensino regular deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na sua organização: I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos; II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino regular da própria escola ou de outra escola; III – cronograma de atendimento aos alunos; IV – plano do AEE: identificação das necessidades educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas; V – professores para o exercício da docência do AEE; VI – outros profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuem no apoio, principalmente às atividades de alimentação, higiene e locomoção; VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissional, da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros que maximizem o AEE. 2 Parágrafo único. Os profissionais referidos no inciso VI atuam com os alunos público alvo da Educação Especial em todas as atividades escolares nas quais se fizerem necessários. Art. 11. A proposta de AEE, prevista no projeto pedagógico do centro de Atendimento Educacional Especializado público ou privado sem fins lucrativos, conveniado para essa finalidade, deve ser aprovada pela respectiva Secretaria de Educação ou órgão equivalente, contemplando a organização disposta no artigo 10 desta Resolução. Parágrafo único. Os centros de Atendimento Educacional Especializado devem cumprir as exigências legais estabelecidas pelo Conselho de Educação do respectivo sistema de ensino, quanto ao seu credenciamento, autorização de funcionamento e organização, em consonância com as orientações preconizadas nestas Diretrizes Operacionais. 18 Art. 12. Para atuação no AEE, o professor deve ter formação inicial que o habilite para o exercício da docência e formação específica para a Educação Especial. Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado: I – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da Educação Especial; II – elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais; IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola; V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade; VI – orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e participação; VIII – estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. Art. 14. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf 1.6 Dificuldades de aprendizagem no processo de alfabetização Para definir dificuldades de aprendizagem, primeiro precisamos passar pelo conceito do que é aprendizagem. Estudos comprovam que não há dúvida de que o ato de aprender está sediado no sistema nervoso central – SNC, onde ocorrem modificações funcionais de ordem genética do indivíduo ou associado ao ambiente em que ele está inserido. Há ainda uma complexa rede de funções sensitivo-sensorial e motora-práxica controlada pelo afeto e pela cognição associadas ao ato de aprender. As alterações funcionais e neuroquímicas envolvidas no processo produzem modificações mais ou menos permanentes no sistema nervoso central - SNC e a isso se dá o nome aprendizagem. Portanto, o ato de aprender é um ato de plasticidade cerebral modulado por fatores intrínsecos - questões de ordem genéticas e extrínsecas - por meio de experiências vividas. A partir desse conceito de aprendizagem pode-se dizer que dificuldades para aprendizagem são resultado de alguma falha intrínseca ou extrínseca desse processo ou de ambas. Usamos o termo dificuldades de aprendizagem para abranger um grupo heterogêneo de problemas capazes de alterar as possibilidades de a criança aprender, independentemente de suas condições http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf 19 neurológicas para fazê-lo. Já a expressão transtornos de aprendizagem deve ser reservada para aquelas dificuldades primárias ou específicas que são resultados de alterações do sistema nervoso central e que constituem os transtornos capazes de comprometer o desenvolvimento. As dificuldades de aprendizagem são mais percebíveis no período de alfabetização, quando a criança necessita fazer inúmeras associações para conseguir aprender a ler e escrever. Dessa forma, o professor deve estar atendo a qualquer sinal de dificuldade que a criança possa demonstrar e avisar a equipe pedagógica e familiares, podendo assim ser encaminhada para um profissional habilitado para diagnosticá-la. RESUMO DA AULA 1 Nesta aula foram apresentados o conceito de inclusão, um breve histórico da educação especial no Brasil e de como ela é compreendida, os documentos legais que amparam a educação inclusiva, as diferentes abordagens ao longo do tempo, a importância da família no processo de inclusão e as dificuldades de aprendizagem no processo de alfabetização. Atividade de Aprendizagem Com base em seus estudos produza um texto a respeito da inclusão escolar nos dias de hoje, estabelecendo um paralelo entre o que a teoria prevê e o que acontece na prática dentro das escolas de educação básica. Reflita sobre o papel da família, dos profissionais e das políticas públicas como agentes do processo de inclusão. 20 AULA 2 - Inclusão escolar e o processo de alfabetização Fonte: http://www.cubatao.sp.gov.br/arquivos/noticias/thumb/2017_8_1_16_53_2_65375.jpg Sabemos que a inclusão, além de lei, é necessária para garantir o direito de todos os alunos a frequentarem escolas regulares, mas a lei, por si só, não basta. É preciso que a comunidade escolar se conscientize da importância e dos benefícios que a inclusão traz para a escola, para os alunos e para a sociedade. Para que a inclusão seja eficiente, ou seja, que os alunos que necessitam de Atendimento Educacional Especializado (AEE) se beneficiem dele, é preciso compreender a necessidade de cada um. Essas necessidades muitas vezes são de aprendizagem, outras podem ser biológicas, físicas, neurológicas etc., mas trataremos, com maior ênfase, as necessidades que interferem no processo de aprendizagem. Antes, porém,é preciso saber como acontece esse processo no cérebro, analisar o que pode estar interferindo e, então, tentar corrigir. Muitas das dificuldades para a aprendizagem que os alunos apresentam podem ser amenizadas com ações pedagógicas eficazes, basta conhecer para poder auxiliar. http://www.cubatao.sp.gov.br/arquivos/noticias/thumb/2017_8_1_16_53_2_65375.jpg 21 2.1 Anatomia da aprendizagem O aprendizado, sob o ponto de vista neuropediátrico, acontece no cérebro, mas é evidente que existam outros componentes envolvidos neste processo como: o ambiente, o aprendiz, o professor, o estado emocional da criança e muitos outros. No cérebro, ele acontece no Sistema Nervoso Central- SNC que engloba: o cérebro, o cerebelo e a medula. Também não podemos deixar de ressaltar a importância da memória para o aprendizado, pois quando uma informação é recebida ela gera uma lembrança que nada mais é do que uma memória e, ao chegar ao sistema nervoso central uma informação inteiramente nova, ela nada evoca, mas produz uma mudança na estrutura e na função do SNC, isto é um aprendizado. Nesta aula vamos compreender as bases anatômicas gerais do SNC relacionadas com a aprendizagem normal. APRENDIZADO: Fonte: elaborado pelo autor (2018). Informação nova Lembrança Memória Mudança na estrutura e na função do SNC Aprendizado 22 Como acontece a aprendizagem no SNC Fonte: elaborada pelo autor (2018) O cérebro está localizado dentro da caixa craniana, faz parte do SNC, para onde convergem todas as informações que recebemos. Ele comanda as atividades como o controle das ações motoras, a integração dos estímulos sensoriais e as atividades neurológicas como a memória e a fala. O cérebro é formado por dois tecidos superpostos. O córtex cerebral: externo, mais extenso, de coloração cinza, composto pelos corpos celulares dos neurônios e outras células nervosas e o núcleo central: tecido de coloração branca, rico em fibras nervosas, que estabelecem comunicação entre o córtex cerebral, os órgãos sensoriais e os músculos de todo o corpo. O cerebelo é responsável pelo equilíbrio, tônus musculares, coordenação motora, foco, atenção e manutenção da atenção, aprendizagem e linguagem. A medula é responsável pelas aprendizagens motoras e encarregada de transmitir impulsos aferentes e eferentes do SNC. Dentro dela há uma substância cinzenta (onde estão os neurônios) e fora, uma substância branca (onde estão as vias neurais). Aprendizagem SNC Cérebro Cerebelo Medula 23 Sistema Nervoso Central Fonte: https://www.todamateria.com.br/sistema-nervoso-central/ O Sistema Nervoso Central (SNC) é responsável por receber e transmitir informações para todo o organismo. Podemos compará-lo a uma central de comando que transmite ordens e informações e coordena as atividades do corpo todo. Importante Neuroplasticidade é um conceito que passa por mudanças. É a capacidade de regeneração ou de recuperação funcional das células nervosas. https://www.todamateria.com.br/sistema-nervoso-central/ 24 Sabendo que o SNC recebe e transmite as informações para o restante do corpo, é importante saber as células envolvidas nesse processo, as denominadas células do aprendizado. São elas: Neurônios: muito numerosos, próximo de 100 bilhões, com diferentes formas e funções. Sua capacidade específica é de aprender. Comunicam-se entre si e com outras células. Células gliais: são 10 a 15 vezes mais numerosas que os neurônios, modificam-se com a chegada de novas informações do SNC, participam da neurotransmissão e dos mecanismos celulares do aprendizado. Outra forma de entender a organização neuroanatômica é fundamentada no esquema proposto pelo neuropsicólogo russo Alexander Romanovich Luria: apesar de cada hemisfério ter as suas peculiaridades, o cérebro funciona como um todo no que se refere à condição e conduta do indivíduo. Segundo Lúria, há três sistemas micro funcionais: Importante Para o domínio da anatomia da aprendizagem é necessário o conhecimento do funcionamento do cérebro das crianças e dos aspectos maturacionais. À medida que elas crescem, se desenvolvem e aprendem. Diferentes aprendizados ocorrem em diferentes locais, mas também são consolidados em diferentes momentos. Além disso, os aprendizados não são uniformes em seu conteúdo e podem ter componentes oriundos de diferentes áreas. 2.2 Dificuldades para aprendizagem Até o momento, estudamos as estruturas cerebrais envolvidas no processo de aprendizagem. Quando estas estruturas estão funcionando corretamente, a aprendizagem acontece de forma normal e natural. As dificuldades para a aprendizagem não acontecem somente no sistema nervoso central. Um cérebro com estrutura normal, com condições funcionais e neuroquímicas corretas e com um elenco genético adequado, não garante 100% 25 de um aprendizado normal, pois sabemos que para que o cérebro aprenda normalmente, são necessárias situações adequadas de origem interna e externa. As situações internas estão relacionadas com as condições do próprio corpo, com a integridade anatomofuncional, cognitiva e com a estruturação e organização dos estímulos. As situações externas estão relacionadas com o campo dos estímulos. Os problemas psicomotores perceptivos, gnósticos, práxico-afetivos e socioafetivos constituem as dificuldades a serem vencidas por todas as crianças e não só por aquelas que apresentam dificuldades, sendo que para a criança com dificuldade, no entanto, é mais difícil superá-los. Muitos desses problemas serão resolvidos se as técnicas pedagógicas usadas para as crianças forem aplicadas largamente no ensino regular. Vocabula rio Práxicas: correspondem às áreas motora primária, área suplementar e córtex pré-motor. São responsáveis por integrar as funções mentais e motoras para que ocorra a elaboração gestual com os movimentos adquiridos pelo aprendizado. Gnosias: faculdade de percepção e reconhecimento de objetos e sensações. Os números assustadores que representam o fracasso escolar, a evasão escolar e a reprovação escolar, têm chamado atenção de diversos estudiosos e especialistas em diferentes áreas e apontam que a identificação precoce dos problemas envolvidos pode ser capaz de auxiliar, corretamente, o atendimento em cada caso. A definição das dificuldades para aprendizagem passa, em primeiro lugar, pelo conhecimento da aprendizagem. Mas não há dúvida de que o ato de aprender está aliado ao sistema nervoso central, onde ocorrem modificações funcionais e condutais que dependem do contingente genético de cada criança, 26 associado ao ambiente onde está inserida. O ambiente é responsável pelo aporte sensitivo-sensorial. O ato de aprender é um ato de plasticidade cerebral modulado por fatores intrínsecos genéticos e extrínsecos experienciais. Dificuldades para aprendizagem é um termo genérico que abrange um grupo heterogêneo de problemas capazes de alterar a possibilidade de a criança aprender, independentemente de suas condições neurológicas para fazê-lo. A expressão transtornos de aprendizagem deve ser reservada para aquelas dificuldades primárias ou específicas que são resultado de alterações no sistema nervoso central e que constituem os transtornos capazes de comprometer o desenvolvimento. Para Refletir Por que algumas crianças com condições de aprendizagem iguais apresentam resultados acadêmicos diferentes? Ví deo Interpretando o problema - Dificuldades de aprendizagem Este vídeo trazexemplos comuns de alunos com dificuldades de aprendizagem e mostra como pode haver erros de interpretação do problema, e como precisamos estar atentos à necessidade de cada um e não “rotular” os alunos. Link: https://www.youtube.com/watch?v=2IKlsW15vLY Os fatores envolvidos nas dificuldades para aprendizagem podem ser divididos em: https://www.youtube.com/watch?v=2IKlsW15vLY 27 1. Fatores relacionados com a escola: para que a criança tenha um bom aproveitamento escolar, é fundamental que a escola crie situações e ofereça condições físicas, com salas de aula e ambiente seguro, ventilado, com boa iluminação, condições pedagógicas, com disponibilidade de material didático adequado para cada faixa etária e condições do corpo docente no que se refere à motivação, dedicação e qualificação aos professores. 2. Fatores relacionados com a família: a família deve oferecer condições para que aprendizagem ocorra com sucesso. Alguns fatores como a escolaridade dos pais, hábito de leitura, estimulação pedagógica, condições socioeconômicas, histórico familiar de alcoolismo e uso de drogas, comportamentos antissociais e outros fatores de riscos familiares, podem interferir no processo de ensino e aprendizagem da criança. 3. Fatores relacionados com a criança: nos fatores que se relacionam a criança deve se distinguir problemas físicos em geral, transtornos psiquiátricos, deficiência intelectual e patologias neurológicas. Os problemas físicos são as dificuldades sensoriais como visuais e auditivas ou problemas hereditários e congênitos como doenças crônicas. Dentro dos problemas psicológicos encontram-se situações prévias de fundo psicológico, que constituem um fator agravante para o aprendizado como timidez, insegurança, ansiedade, baixa autoestima, necessidade de afirmação ou falta de motivação. Também podemos encontrar transtornos psíquicos envolvidos. Dentro dos problemas neurológicos podemos encontrar a paralisia cerebral e a epilepsia. É importante que a escola, ao detectar qualquer situação que apresente dificuldade para aprendizagem de uma criança, chame os pais ou responsáveis e solicite o encaminhamento a um profissional responsável e capacitado para que possa fazer a correta avaliação de sua dificuldade e, na sequência, apresente um retorno à escola para que esta saiba a melhor forma de trabalhar com a criança. Somente com um trabalho na tríade família-escola-profissional é que se torna possível fazer com que as crianças atinjam o seu potencial máximo para a aprendizagem. 28 Saiba Mais O objetivo deste ícone é expandir o conhecimento do aluno, apresentando um conteúdo que esteja diretamente relacionado à temática estudada. Poderá ser um fragmento de um artigo, uma reportagem, textos, biografia de alguma personalidade citada no material, entre outros. No caso de reportagem ou artigo, fazer somente uma breve chamada e indicar o link de acesso para a leitura de cada um. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia a obra de Nádia A. Bossa na qual ela responde a perguntas de pais, professores, psicopedagogos, crianças e adolescentes. Por meio da linguagem utilizada e das ilustrações cuidadosamente elaboradas, a autora auxilia o adulto a promover um efeito terapêutico junto à criança ou ao adolescente. Resumo da aula 2 Nesta aula conhecemos a anatomia da aprendizagem, compreendendo onde ocorre o processo, o funcionamento do cérebro e das células de aprendizagem: neurônios e células gliais. Também apresentamos os diferentes componentes que contribuem ou interferem no processo de ensino- aprendizagem, encerrando com a compreensão dos fatores envolvidos nas dificuldades para a aprendizagem que podem ser relacionados com a escola, com a família e com a criança. 29 Atividade de Aprendizagem Ao deparar-se, em sua prática, com uma criança que está apresentando dificuldades para a aprendizagem, como você reagiria? Quais estratégias utilizaria para fazer um diagnóstico inicial? E qual prática pedagógica adotaria para auxiliá-la? AULA 3 - Estudo das principais dificuldades para aprendizagem encontradas no período de alfabetização Atualmente existe uma preocupação com o número de crianças que vem repetindo os anos iniciais, ou seja, na fase de alfabetização. Esse número significativo de crianças, que apresentam dificuldades escolares, nos mostra que há uma distância considerável entre a possibilidade de a criança aprender e as técnicas de ensino utilizadas para a fase de aquisição da leitura e da escrita. No período de alfabetização, é importante a aquisição de pré-requisitos relacionados com a capacidade das funções perceptivas e motoras da criança, por meio de experiências que lhes permitam formar estruturas mentais indispensáveis para a aprendizagem posterior, possibilitando à criança, relacionar sua vivência com a situação abstrata em cada momento. Para que a aprendizagem aconteça, é necessário prestar atenção na estreita relação entre os aspectos intelectuais e afetivos, com os aspectos motores e com as experiências corporais da criança. Uma vez que nessa faixa etária a criança aprende por meio de atividades lúdicas e cinestésicas sensoriais. Estudos mostram que é importante realizar uma avaliação para verificar a prontidão da criança para alfabetização, definindo o estado de prontidão como aquele que se integra ao potencial da linguagem e ao nível de experiência adequado da criança. Deve ter enfoque multidisciplinar das dificuldades de aprendizagem. Como vimos na aula dois, “dificuldades para a aprendizagem” é um termo genérico, que abrange um grupo heterogêneo de problemas capazes de alterar as possibilidades de a criança aprender, independentemente de suas condições neurológicas para fazê-lo. As falhas na dificuldade para aprendizagem podem 30 ser intrínsecas ou extrínsecas. As falhas intrínsecas, por sua vez, podem ser primárias ou secundárias. Vimos também que existem fatores envolvidos nas dificuldades para a aprendizagem que são relacionados à família, à escola e à criança. Diferentes fatores contribuem para as dificuldades de aprendizagem: ➢ Fatores orgânicos: vão desde a integridade dos órgãos dos sentidos até os problemas de desnutrição proteica. ➢ Fatores específicos: adequação perceptomotora e os problemas de análise e síntese, todos com íntima relação com situações como lateralidade mal estabelecida e falta de condicionamento do esquema corporal. ➢ Fatores psicogênicos: de origem psíquica ou genética. ➢ Fatores ambientais: as possibilidades oferecidas por seu meio, a quantidade e qualidade de materiais e a qualidade dos estímulos ofertados à criança. Portanto, para o atendimento de crianças com dificuldades para a aprendizagem, é necessária uma equipe multidisciplinar, para que possa entender a criança como um ser global. Por exemplo: as dificuldades sensitivas sensoriais devem ser atendidas por um fonoaudiólogo, otorrinolaringologista ou oftalmologista; as dificuldades perceptomotoras, por um psicopedagogo ou psicomotricista; as dificuldades motoras por um fisioterapeuta, psicomotricista ou terapeuta ocupacional; as dificuldades psicológicas por um psicólogo ou psiquiatra e as sociais pelo sistema social que dá apoio à família. O tratamento deverá ser feito de acordo com o diagnóstico e os problemas que estão interferindo na aprendizagem escolar. É muito importante ficarmos atentos a quantidade de crianças que têm sido atendidas por neurologistas, psiquiatras e outros profissionais, pois é necessário usar de bom senso e de um diagnóstico bastante detalhado para observação da necessidade real de atendimento e principalmente de intervenção medicamentosa a essas crianças. Nesse momento, conta-se com o imprescindível olhar amoroso do professor que poderáentrar em contato com os profissionais e passar as informações necessárias para o auxílio no diagnóstico preciso de cada caso. 31 3.1 Dificuldades para aprendizagem ou Transtornos de aprendizagem? Fonte:https://i.uai.com.br/TIgfjLIRArmT3poOwPeDSJy8Hhg=/imgsapp2.uai.com.br/app/noticia_ 133890394703/2016/05/31/190119/20160425125810751389e.jpg As dificuldades específicas para aprendizagem se referem aquelas situações que ocorrem com a criança que não consegue um grau de adiantamento escolar compatível com sua capacidade cognitiva e que não apresenta problemas auditivos, visuais, sensoriais ou psicológicos importantes, que possam explicar tais dificuldades. É preciso cuidar com os termos utilizados tais como: distúrbios, dificuldades, problemas, descapacidades, transtornos etc., que são muitas vezes aplicados de forma errônea. As dificuldades de aprendizagem podem ser chamadas de percurso, causadas por problemas da escola ou da família, que nem sempre oferecem condições adequadas para o sucesso da criança, ou as dificuldades que a própria criança possa apresentar em algum momento de sua vida, além de problemas psicológicos ou de baixa autoestima que pode apresentar ao longo de sua vida. As dificuldades podem ser secundárias a outros quadros e diagnosticáveis como alterações das funções sensoriais, doenças crônicas, transtornos psiquiátricos, deficiência intelectual, doença neurológica. Os quadros mais frequentes, que causam dificuldade para aprendizagem, são a paralisia cerebral, o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), a deficiência intelectual, o transtorno do espectro autista e a epilepsia. 32 Os transtornos de aprendizagem compreendem uma inabilidade específica como de leitura, escrita, linguagem ou matemática em indivíduos que apresentam resultados significativamente abaixo do esperado para o seu nível de desempenho, escolaridade e capacidade intelectual. O transtorno de aprendizagem pode ser suspeitado naquela criança que apresenta algumas características como: inteligência normal, ausência de alterações motoras ou sensoriais, bom ajuste emocional e nível sócio-econômico-cultural aceitável. Atualmente a descrição dos transtornos de aprendizagem pode ser encontrada nos manuais de diagnóstico como a Classificação Internacional de Doenças - 10ª versão (CID-10) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-V). O transtorno específico da aprendizagem, é um transtorno do neurodesenvolvimento, com uma origem biológica que é a base das anormalidades no nível cognitivo, as quais são associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações verbais ou não verbais, com eficiência e exatidão. Conforme o DSM-V, Transtornos do Neurdesenvolvimento são um grupo de condições com início no período do desenvolvimento. Os transtornos tipicamente se manifestam cedo no desenvolvimento, em geral antes de a criança ingressar na escola, sendo caracterizados por déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Os déficits de desenvolvimento variam desde limitações muito específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou inteligência. (DSM V, 2014). Nos transtornos de aprendizagem os padrões normais da aquisição de habilidades estão perturbados desde os órgãos iniciais do desenvolvimento, ou seja, não são adquiridos em decorrência da falta de estimulação acadêmica ou de qualquer forma de traumatismo ou doença cerebral. Faz-se necessário diferenciar os transtornos, das variações normais nas realizações escolares. De uma maneira geral, para classificar um transtorno, utiliza-se os manuais disponíveis e deve-se considerar que o grau de comprometimento deste deve estar substancialmente abaixo do esperado para uma criança com a mesma idade e nível de escolarização. Será um transtorno quando: 33 ➢ O transtorno está presente desde os primeiros anos de escolaridade; ➢ O transtorno persiste, apesar do atendimento específico adequado; ➢ A avaliação cognitiva afastou deficiência intelectual, foram afastadas causas como dificuldades de percurso ou secundárias e existe história de antecedentes familiares com dificuldades para aprendizagem. Saiba Mais Transtorno Específico da Aprendizagem - Critérios Diagnósticos A. Dificuldades na aprendizagem e no uso de habilidades acadêmicas, conforme indicado pela presença de ao menos um dos sintomas a seguir que tenha persistido por pelo menos 6 meses, apesar da provisão de intervenções dirigidas a essas dificuldades: 1. Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (p. ex., lê palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e hesitante, frequentemente adivinha palavras, tem dificuldade de soletrá-las). 2. Dificuldade para compreender o sentido do que é lido (p. ex., pode ler o texto com precisão, mas não compreende a sequência, as relações, as inferências ou os sentidos mais profundos do que é lido). 3. Dificuldades para ortografar (ou escrever ortograficamente) (p. ex., pode adicionar, omitir ou substituir vogais e consoantes). 4. Dificuldades com a expressão escrita (p. ex., comete múltiplos erros de gramática ou pontuação nas frases; emprega organização inadequada de parágrafos; expressão escrita das ideias sem clareza). 5. Dificuldades para dominar o senso numérico, fatos numéricos ou cálculo (p. ex., entende números, sua magnitude e relações de forma insatisfatória; conta com os dedos para adicionar números de um dígito em vez de lembrar o fato aritmético, como fazem os colegas; perde-se no meio de cálculos aritméticos e pode trocar as operações). 6. Dificuldades no raciocínio (p. ex., tem grave dificuldade em aplicar conceitos, fatos ou operações matemáticas para solucionar problemas quantitativos). B. As habilidades acadêmicas afetadas estão substancial e quantitativamente abaixo do esperado para a idade cronológica do indivíduo, causando interferência significativa no desempenho acadêmico ou profissional ou nas atividades cotidianas, confirmada por meio de medidas de desempenho padronizadas administradas individualmente e por avaliação clínica abrangente. Para indivíduos com 17 anos ou mais, história documentada das 34 dificuldades de aprendizagem com prejuízo pode ser substituída por uma avaliação padronizada. C. As dificuldades de aprendizagem iniciam-se durante os anos escolares, mas podem não se manifestar completamente até que as exigências pelas habilidades acadêmicas afetadas excedam as capacidades limitadas do indivíduo (p. ex., em testes cronometrados, em leitura ou escrita de textos complexos longos e com prazo curto, em alta sobrecarga de exigências acadêmicas). D. As dificuldades de aprendizagem não podem ser explicadas por deficiências intelectuais, acuidade visual ou auditiva não corrigida, outros transtornos mentais ou neurológicos, adversidade psicossocial, falta de proficiência na língua de instrução acadêmica ou instrução educacional inadequada. Nota: Os quatro critérios diagnósticos devem ser preenchidos com base em uma síntese clínica da história do indivíduo (do desenvolvimento, médica, familiar, educacional), em relatórios escolares e em avaliação psicoeducacional. Fonte: DSM-V p.107/108 3.1.1 Transtorno de leitura é caracterizado por uma dificuldade específica em compreender palavras escritas. Desta forma, pode-se afirmar que se trata de um transtorno específico de habilidades da leitura, em que foram eliminadas todas as outras causas. 3.1.2 Transtorno de matemática, também conhecido como discalculia,não é relacionado à ausência de habilidades matemáticas básicas como contagem e sim a forma com que a criança associa as suas habilidades com o mundo que a cerca. A aquisição dos conceitos matemáticos, bem como o raciocínio, é afetada nesse transtorno cuja, baixa capacidade para manejar números e conceitos matemáticos não é originária por lesão ou outra causa orgânica. 3.1.3 Transtorno da expressão escrita refere-se apenas a ortografia e caligrafia, na ausência de outras dificuldades da expressão escrita neste transtorno. Geralmente é uma combinação de dificuldades na capacidade de compor textos escritos, evidenciada por erros de gramática, pontuação dentro das frases, organização dos parágrafos e múltiplos erros de ortografia, na ausência de outros prejuízos na expressão escrita. 35 3.2 Dificuldades para a aprendizagem e transtornos da aprendizagem mais frequentes na fase de alfabetização As dificuldades para aprendizagem geralmente são percebidas na fase inicial da alfabetização, na qual a criança apresenta certa lentidão ou não consegue adquirir as habilidades de leitura e escrita. Para compreendermos melhor, dividimos as dificuldades para aprendizagem em primárias e secundárias: As dificuldades para a aprendizagem primárias seriam aquelas cuja causa ainda não pode ser atribuída a elementos psiconeurológicos, bem estabelecidos ou esclarecidos. Seriam considerados os transtornos de leitura, da matemática, da expressão escrita, bem como os transtornos da linguagem falada, os quais englobam tanto os transtornos da linguagem expressiva e mista. As dificuldades para aprendizagem secundárias seriam aquelas consequentes de alterações biológicas específicas e bem estabelecidas e de alterações comportamentais emocionais bem esclarecidas. Converse Com Seus Colegas Em sua prática, quais as dificuldades mais comuns que você percebe em seus alunos e/ou pessoas próximas? Os transtornos mais frequentes percebidos em sala de aula, na fase de alfabetização, são os transtornos de linguagem oral, da linguagem escrita, da matemática e da atenção. Linguagem é a capacidade humana de se comunicar por meio de um código simbólico adquirido, que permite transmitir seus pensamentos, ideias e emoções. É a forma peculiar que o homem tem de se comunicar com seus semelhantes, por meio de símbolos gestuais orais ou escritos. A aquisição da linguagem se faz por etapas interdependentes, sendo elas: ➢ Sensação: capacidade de sentir o som; 36 ➢ Percepção: capacidade pela qual se reconhece o som; ➢ Elaboração: capacidade de reflexão sobre os sons percebidos; ➢ Programação ou Organização das respostas e articulações: capacidade de permitir a emissão sonora que depois depende da articulação da fala. A linguagem pode ser dividida em oral, gestual, escrita e Braille. Para o desenvolvimento da linguagem, é necessária uma sequência mais ou menos constante e dependente da audição e da fala das outras pessoas, o que significa o estímulo ambiental. A linguagem possui dois componentes: expressão e recepção e é constituída de sons, fonemas estudados na fonologia, morfemas - as partes que constituem a palavra, sintaxe ou gramática - o conjunto de regras pelas quais se combinam as palavras, semântica - correspondente ao significado das palavras e prosódia - relacionado ao ritmo e entonação. Maturação da Linguagem 0-3 meses Produção de sons: choro, gritos, barulhos e discriminação de sons familiares. 4-8 meses Discriminação de sons da fala, compreensão da palavra, “balbucio”, produção de vogal mais consoante e expressão facial. 7-9 meses Balbucio reduplicado (bababa) de forma interativa, produção gestual comunicativa e aponta objetos. 10-12 meses Primeiras palavras reais, contato visual, expressões faciais, vocalizações e gestos. 37 12-18 meses Produção de 10-15 palavras e algumas frases e chama atenção para receber resposta verbal de um adulto. 2 anos Produz 150-200 palavras, além de algumas frases de 2 a 3 palavras e nomeia objetos quando inquirida. 3 anos Produz sentenças gramaticais e formula questões. 4 anos Clara sintaxe - completa inteligibilidade é esperada para 4 anos e 6 meses, para fonologia do português e inglês. Fonte: Transtornos da Aprendizagem, Artmed, 2016.p.119. 3.3 Transtorno da linguagem oral Este tipo de transtorno é considerado, pelo DSM V, um transtorno específico da fala. Subdividido em: a) Transtorno da fonação: podem ser orgânicos ou funcionais, secundários, de lesões nos nervos cranianos que inervam as cordas vocais ou a região laringofarigeorinobucal. b) Transtorno da articulação da palavra: fala explosiva, com interrupções bruscas e sem precisão nos movimentos articulatórios. c) Transtorno do ritmo ou da fluência da fala: destacam-se gagueira, alterações de velocidade da fala (taquilalia ou bradilalia) e o clustter (grupo de duas ou mais consoantes seguidas). d) Retardo da fala: caracteriza-se por um vocabulário pobre, dificuldade na articulação das palavras, supressão, trocas e inversões de fonemas. e) Afasias: impossibilidade ou dificuldade de expressão da linguagem, adquirida por lesão nas regiões cerebrais, especificamente envolvida no processo linguístico, após a sua estruturação. 38 f) Disfasias: inabilidade para adquirir a linguagem oral em uma criança com competência cognitiva adequada, sem doença ou lesão cerebral, sem alterações sensitivo-motoras, sem explicações aparentes. 3.4 Transtorno da Linguagem escrita: Dislexia É um transtorno manifestado por dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita, independentemente da instrução convencional, inteligência adequada e oportunidade sociocultural. A dislexia pode ser de causa genética, adquirida, multifatorial ou mista. ➢ Genética: por pontos de mutação, anulação, trissomia ou herança genética. ➢ Adquirida: malformação do sistema nervoso central, mal desenvolvimento do sistema nervoso central, problemas perinatais, danos pós- natal, privação ambiental ou oportunidade educacional inadequada. ➢ Multifatorial ou mista: integração entre a genética e a adquirida. Em relação à dislexia, dentro de sala de aula é possível observar algumas formas de apresentação, por meio da análise de material escrito das crianças. O professor não deve diagnosticar, emitir laudos ou pareceres, mas, ao observar e notar alguma das dificuldades apresentadas pelas crianças, deve informar a coordenação pedagógica. Assim sendo, a escola deverá chamar os pais e pedir encaminhamento a um profissional competente. 3.5 Critérios a serem observados em uma produção de texto: ➢ Leitura e escrita muitas vezes incompreensíveis da criança; ➢ Confusões de letras com diferente orientação espacial (p/q, b/d); ➢ Confusões de letras com sons semelhantes (p/b, d/t, g/j); ➢ Inversões de sílabas ou palavras (par/ para, lata /alta); ➢ Substituições de palavras com estrutura semelhante (contribuiu/ construiu); ➢ Supressão: adição de letras ou de sílabas (caalo/ cavalo, berba /Bela); ➢ Repetição de sílabas ou palavras (eu jogo jogo bola, bolo de chococolate); 39 ➢ Fragmentação incorreta (querojo/ quero jogar bola); ➢ Dificuldade para entender o texto lido; A dislexia costuma diminuir seus sintomas com o avanço da idade, o que reafirma a importância do tratamento precoce. Por outro lado, é fundamental a parceria que deve ser estabelecida entre os profissionais que atuam no diagnóstico e no tratamento da criança, como pais e os professores. Só assim poderão ser evitadas situações que impedem esse progresso ou expectativas maiores do que a capacidade da criança, o que pode resultar em frustração. Saiba MaisNota: os quatro critérios diagnósticos devem ser preenchidos com base em uma síntese clínica da história do indivíduo (do desenvolvimento, médica, familiar, educacional), em relatórios escolares e em avaliação psicoeducacional. Nota para codificação: especificar todos os domínios e sub- habilidades acadêmicos prejudicados. Quando mais de um domínio estiver prejudicado, cada um deve ser codificado individualmente conforme os especificadores a seguir. Especificar se: 315.0 (F81.0). Com prejuízo na leitura: precisão na leitura de palavras; velocidade ou fluência da leitura; compreensão da leitura. Nota: dislexia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades de aprendizagem caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fluente de palavras, problemas de decodificação e dificuldades de ortografia. Se o termo dislexia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades, é importante também especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais como dificuldades na compreensão da leitura ou no raciocínio matemático. 315.2 (F81.81). Com prejuízo na expressão escrita: precisão na ortografia. Precisão na gramática e na pontuação. Clareza ou organização da expressão escrita. Fonte: DSM V, p.107. 40 3.6 Matemática: Discalculia A discalculia é definida como uma alteração específica em aritmética que ocorre no domínio das habilidades computacionais básicas de adição, subtração, multiplicação e divisão, mais do que nas habilidades matemáticas abstratas e envolvidas em álgebra, trigonometria ao cálculo. A partir dos 3 anos de idade, pode-se aplicar testes verbais em crianças, a fim de avaliar as seguintes etapas: ➢ O desenvolvimento do conceito numérico; ➢ A habilidade para contar; ➢ O desenvolvimento da aritmética, fatos e procedimentos numéricos; ➢ A comunicatividade e associatividade; ➢ A complementaridade. O conceito numérico se desenvolve seguindo os seguintes passos: ➢ Compreensão do princípio da correspondência de um para um; ➢ Compreensão de que um conjunto de coisas tem uma representação numérica e que a manipulação do conjunto afeta essa representação; ➢ Compreensão de que o conjunto de números não precisa ser visível como, por exemplo, (as três badaladas de um sino da igreja); ➢ Reconhecimento de pequenos números em contagem verbal. Os distúrbios e dificuldades em matemática podem ser de causas neurológicas, sendo primário ou secundário. ➢ Primário: acalculia e discalculia do desenvolvimento. ➢ Secundário: deficiência intelectual, epilepsia, síndrome de Turner, fenilcetonúria tratada, síndrome do X frágil, síndrome fetal alcoólica, baixo peso, TDAH, dislexia, disfasia e outros. Pode ser também por causas não neurológicas como fatores escolares, fatores sociais e ansiedade. 41 A intervenção em crianças com discalculia será bem-sucedida quando as noções de números, elementos de 0 a 9, a produção de novos números, as noções de quantidade, ordem, tamanho, espaço, distância, hierarquia, cálculo com as quatro operações e o raciocínio matemático forem trabalhados primeiramente como experiências não verbais significativas. Amplie Seus Estudos (F81.2) Com prejuízo na matemática: Senso numérico Memorização de fatos aritméticos Precisão ou fluência de cálculo Precisão no raciocínio matemático Nota: discalculia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informações numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes. Se o termo discalculia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades matemáticas, é importante também especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais como dificuldades no raciocínio matemático ou na precisão na leitura de palavras. Especificar a gravidade atual: Leve: alguma dificuldade em aprender habilidades em um ou dois domínios acadêmicos, mas com gravidade suficientemente leve que permita ao indivíduo ser capaz de compensar ou funcionar bem quando lhes são propiciados adaptações ou serviços de apoio adequados, especialmente durante os anos escolares. Moderada: dificuldades acentuadas em aprender habilidades em um ou mais domínios acadêmicos, de modo que é improvável que o indivíduo se torne proficiente sem alguns intervalos de ensino intensivo e especializado durante os anos escolares. Algumas adaptações ou serviços de apoio por pelo menos parte do dia na escola, no trabalho ou em casa podem ser necessários para completar as atividades de forma precisa e eficiente. DSM V, p.108 42 3.7 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDAH O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade - TDAH constitui uma síndrome comum na infância, que é reconhecida como um problema médico- social importante, sendo objeto de extrema investigação. Suas abordagens diagnósticas e suas formas de prevenção e tratamento são estudadas por diferentes profissionais. Caracteriza-se por alterações nos sistemas motores perceptivos cognitivos e do comportamento, comprometendo a aprendizagem da criança com potencial intelectual adequado. O DSM-5 definiu o TDAH como um padrão persistente de desatenção e hiperatividade mais frequente e grave do que aquele observado normalmente em indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento. São estabelecidos três tipos: o combinado o predominantemente desatento e o predominantemente hiperativo-impulsivo. Quando pensamos em TDAH, não devemos imaginar um cérebro defeituoso. Devemos ter um olhar diferenciado, pois o cérebro da pessoa com TDAH tem um funcionamento peculiar que lhe traz um comportamento típico, que chamamos de TRIO DE BASE: alterações da atenção, da impulsividade e da velocidade da atividade física e mental. ➢ Alteração da atenção: principal sintoma, imenso desafio em manter-se concentrado em algo, por menor tempo que seja (desvios de atenção). Na idade adulta gera depressão, problemas de relacionamento, dificuldade de organização, cansaço mental e físico. ➢ Impulsividade: reação diante a um estímulo externo, por sua mente funcionar como um receptor de alta sensibilidade. Ao captar o menor sinal, reage automaticamente. DISPARAR A AÇÃO – PENSAR - LAMENTAR - reações por impulso: dizer o que vem à cabeça, envolver-se em brincadeiras perigosas, brigar, reações exageradas e tudo mais que pode render-lhe rótulos negativos como: mal-educadas, má, grosseira, egoísta, irresponsável, autodestrutiva etc. ➢ Hiperatividade física e mental: física (agitação, para lá e para cá, andar aos pulos, mexer em objetos etc. Nos adultos: mexem as pernas, rabiscam papeis, roem unhas, mexem nos cabelos, “dançam nas cadeiras” etc.); mental 43 (ruído mental, interromper fala alheia, muda de assunto rapidamente, insônia, agitação psíquica, gerando inaptidão social, sentir que os demais não acompanham seu ritmo elétrico. Importante O que diferencia uma criança agitada de uma com TDAH é a Intensidade, frequência e a constância em que as características aparecem. O TDAH é de origem biológica, marcado pela hereditariedade e que se manifesta na criança ainda bem jovem, antes dos sete anos de idade, independentemente de ela ser proveniente de um ambiente hostil ou estar passando por problemas como: ➢ Família: punição, castigos, comentários, rótulos e constantes reclamações. Sente-se rejeitada, infeliz e pode servir de “bode expiatório” pelos demais irmãos. Uma criança com TDAH pode desestruturar o ambiente familiar. ➢ Escola e amizades: Vida escolar problemática, dificuldade de ajustar-se às regras da instituição, resistência a rotina, desempenho instável, incapacidadede manter-se quieta em seu lugar, em conquistar e manter amizades. Os comportamentos das pessoas com TDAH precisam ser bem administrados por eles e pelas pessoas com quem convivem. Consequências no agir poderão se manifestar de diferentes formas: agressividade, descontrole alimentar, uso de drogas, gastos demasiados, compulsões, fala excessiva. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia a obra de Ana Beatriz Barbosa Silva, Mentes inquietas, que traz informações relevantes sobre um transtorno com forte componente genético, que não distingue sexo, credo, raça ou situação socioeconômica e traz soluções de como gerenciá-lo no dia a dia. 44 Resumo da aula 3 Nesta aula estudamos as principais dificuldades de aprendizagem encontradas no período de alfabetização, observamos os fatores que influenciam na aprendizagem como: orgânicos, específicos, psicogênicos e ambientais. Percebemos a diferença entre transtornos de aprendizagem, dificuldades para a aprendizagem e os transtornos mais comuns em sala de aula, como os transtornos de leitura, de escrita, de linguagem, de matemática e de atenção. Atividade de Aprendizagem Será que todos os alunos agitados, inquietos, distraídos e que estão com notas baixas têm TDAH? Como diferenciar? Quais os critérios de diagnóstico? AULA 4 - Recursos e estratégias pedagógicas para trabalhar as dificuldades para aprendizagem no processo de alfabetização Fonte:http://educacaopublica.cederj.edu.br/revista/wp-content/uploads/2017/07/1-02- 300x300.jpg 45 Apresentação da aula 4 Nesta aula, serão apresentados alguns recursos metodológicos e situações estratégicas para trabalhar diretamente com as dificuldades na aprendizagem. A expectativa da aula é poder despertar a amplitude pedagógica para o desenvolvimento e progresso do aluno. 4.1 Processos de alfabetização – Recursos e estratégias Como apresentado anteriormente, as dificuldades para a aprendizagem e os transtornos de aprendizagem ficam mais evidentes na fase de alfabetização. Isto ocorre porque nesse período a criança está em contato direto com os elementos da língua materna e precisa fazer uso de todas as suas habilidades e capacidades para a compreensão e aquisição da leitura e da escrita. Nesse momento é que algo que não esteja transcorrendo naturalmente é evidenciado. Precisamos, antes de tudo, ter em mente que cada criança é um ser individual, com seu ritmo e seu estilo de aprendizagem. Lembre-se de que nenhum cérebro se desenvolve igualmente, tudo depende dos estímulos, do ambiente, das relações sociais, da personalidade etc., uma vez que vários fatores influenciam na formação e na aprendizagem. Mas graças à plasticidade cerebral é que podemos agir sobre a trajetória dessa aprendizagem e contribuir com estratégias que facilitem, acelerem ou intensifiquem o processo de aquisição da aprendizagem da leitura e escrita. Ao percebermos que uma criança apresenta uma (ou mais) dificuldades de aprendizagem e todos os procedimentos já foram executados, como avisado à coordenação/direção pedagógica da escola, chamado os responsáveis e encaminhado ao profissional adequado, nos deparamos com duas possibilidades: a) A família encaminha à criança ao profissional que emite um laudo ou parecer e inicia com o atendimento especializado, informando à escola quais as melhores estratégias de aprendizagem para o caso em questão. O trabalho, dessa forma, flui multidisciplinarmente. Seria o ideal para todas as crianças com dificuldades ou transtornos. 46 b) A família toma conhecimento, mas não encaminha a criança e passa para a escola a responsabilidade do atendimento diferenciado. Nesse caso, como já estudamos, cada parte, a escola, a família e o estado têm suas responsabilidades. Cabe à escola que, no caso é a instituição que recebe a criança, agir legalmente, cobrando a participação das partes por meio de processos administrativos. Nos dois casos o professor terá que agir. No primeiro, com sugestões de estratégias e encaminhamento de atividades e, no segundo, fazendo uso de seu instinto, conhecimento e amor. Não cabe ao professor o “tratamento”. Esse é restrito aos profissionais adequados. Cabe a ele utilizar de bom senso para conseguir auxiliar as crianças no processo de ensino-aprendizagem. Como o nome já nos diz, cada um com suas responsabilidades: 4.2 Algumas ações simples podem ajudar muito nesse processo: ➢ Colocar a(s) criança(s) com dificuldades de aprendizagem sentada(s) próximo ao professor, nas primeiras carteiras. Isso estreitará o vínculo e facilitará, ao professor, ficar mais atento às produções da criança; ➢ Tentar encontrar estratégias para motivar a criança, que por algumas vezes poderá ficar desatenta. Um pequeno detalhe na apresentação do material, um acréscimo na didática, poderá ter um ganho na atenção da criança; ➢ Cobrar o desempenho dentro das possibilidades da criança, evitando frustrações e prejuízos ainda maiores em sua autoestima. À medida que for Ensino Aprendizagem Escola Professor Criança Escola Professor Família 47 observando avanços, ir, gradualmente, exigindo um pouco mais. Procurar dividir as tarefas, em partes, para não sobrecarregar e acumular conteúdos; ➢ Evitar correções exageradas e comentários depreciativos. Quando algo deve ser refeito, chame a criança próxima e explique como fazer, tantas vezes quantas forem necessárias; ➢ Manter diálogo aberto com a coordenação/direção, a família e os profissionais que atendem a criança, aceitando sugestões de estratégias para melhor auxiliá-la; ➢ Ao perceber que o momento está estressante, que a criança está agitada, ansiosa, não consegue produzir em sala, é preciso retirá-la do ambiente, oferecer água, acalmá-la, e depois retomar as atividades com calma, até que ela se sinta confortável novamente. Um dos pontos de destaque é a autoestima. Crianças com dificuldades ou transtornos tendem a refletir, em seus comportamentos, aquilo que estão sentindo, seja por meio de “mal comportamento”, agitação, impulsividade, comportamento opositivo, agressividade etc., ou “ser boazinha”- aquela criança que não incomoda em sala de aula, mas também não produz nada, fica quieta, é tímida, não reage a estímulos etc. Enfim, as palavras que são ditas fazem a diferença. Proferir palavras de encorajamento e de confiança elevam a autoestima e dão força para a criança continuar a caminhada. Podemos encontrar diferentes dificuldades em sala de aula. Por esse motivo, as estratégias não podem ser direcionadas para aquela ou essa criança. Em geral, atividades e atitudes elaboradas com cuidado tendem a atingir um número maior de casos. Seguem sugestões de atividades que podem ser realizadas com todas as crianças da turma, em pequenos grupos ou em momentos de atendimento individual. Estas têm por objetivo auxiliar as crianças com dificuldades em seu processo de aprendizagem. 48 4.3 Atividades que contribuem com o desenvolvimento e aprimoramento da linguagem oral: ➢ Cantar diferentes tipos de música, em sala, em roda, em um momento cantar alto, baixo, rápido ou bem devagar. Cantar uma música por dia; ➢ Estimular para que as crianças falem, conversem e contem sobre elas; ➢ Produção de contos no qual o professor elabora cartões com personagens mágicos, lugares, ações (elementos que podem compor uma narrativa) e os coloca em uma caixinha. Cada dia uma criança retira um cartão e a turma terá que elaborar uma história sobre a imagem; ➢ Elaborar um mural com envelopes ou bolsinhos para conter diferentes imagens ou até mesmo objetos; ➢ Elaborar fantoches ou propor que as crianças se caracterizarem para apresentar um conto, dramatizando-o. 4.4 Atividades que contribuem
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