Buscar

Aula de Direito Consumidor Elementos da Relação de Consumo(1)

Prévia do material em texto

1
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CAMPUS I – CURITIBA 
 ESCOLA DE DIREITO PROFESSORA MARISTELA DENISE MARQUES DE SOUZA 
Relação de Consumo e seus elementos
Com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, passou-se a questionar o seu âmbito de incidência, haja vista a concomitante existência do Código Civil e do Código Comercial. Que espaço, portanto, se reserva à Lei 8.078/90?
Conforme se depreende do artigo 1º do estatuto em questão, dispõe ele sobre a proteção e a defesa consumidor, estatuindo normas de ordem pública e de interesse social nesse aspecto, em atendimento ao mandamento contido nos artigos 5º, XXXII, e 170, V, da Constituição Federal.
Ao depois, nos seus artigos 2º e 3º, trata o Código de Defesa do Consumidor da conceituação do que, para os seus efeitos, vêm a ser consumidor, fornecedor, produtos e serviços. Vê-se, pois, que a primeira preocupação do legislador de 1990 foi a de estabelecer parâmetros para a identificação dos componentes da relação jurídica de consumo, que é justamente o objeto desta aula.
1. Relação de Consumo
Partindo-se da premissa de que a relação jurídica é composta por um sujeito ativo - assim entendido como o beneficiário da norma -, um sujeito passivo - aquele sobre o qual incidem os deveres impostos pela norma -, um objeto - que se identifica com o bem sobre o qual recai o direito -, e um "fato propulsor" [footnoteRef:1] - assim considerado como o tipo de vínculo que liga o sujeito ativo ao sujeito passivo -, deve-se analisar a relação de consumo sob o ponto de vista de cada um de seus componentes, vale dizer, o consumidor, o fornecedor, o produto ou serviço, e o seu fato propulsor, seja ele contratual ou extracontratual. [1: in Lições Preliminares de Direito, Saraiva, 22ª edição, 1995, à página 211. No sentido da relevância do conceito de relação jurídica, veja-se, também, MARIA HELENA DINIZ, in Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, Saraiva, 7ª edição, 1995, à página 459, segundo a qual, citando Del Vecchio, "a relação jurídica consiste num vínculo entre pessoas, em razão do qual uma pode pretender um bem a que outra é obrigada. Tal relação só existirá quando certas ações dos sujeitos, que constituem o âmbito pessoal de determinadas normas, forem relevantes no que atina ao caráter deôntico das normas aplicáveis à situação. Só haverá relação jurídica se o vínculo entre duas pessoas estiver normado, isto é, regulado por norma jurídica". cf. MARIA HELENA DINIZ, obra citada, páginas 460/461. Para MIGUEL REALE, tal "fato propulsor" seria o "vínculo de atributividade" (cf. obra citada, página 213). 
] 
Ressaltamos, que a utilidade da correta identificação dos elementos componentes da relação jurídica de consumo prende-se, também, à necessidade da observância do princípio da legalidade disposto no artigo 5º da Constituição Federal, eis que o Código de Defesa do Consumidor é um estatuto multidisciplinar definindo inclusive tipos criminais, a par de regras de comportamento mais gravosas em cotejo com as estabelecidas pelo Código Civil e pelo Código Comercial.
2. Consumidor
Como se depreende do artigo 1º da Lei 8.078/90, é o consumidor o sujeito ativo da relação jurídica de consumo, já que a ele se destinam os meios de proteção e defesa instituídos. Trata-se apenas de dar efetividade aos mandamentos inseridos nos artigos 5º, XXXII, e 170, II, da Constituição Federal, a fim de resguardar o consumidor das mazelas do mercado, tendo em vista a constatação de que se hoje se vive em uma sociedade em que apenas o consumo é capaz de satisfazer as necessidades de seus componentes.[footnoteRef:2] [2: No que diz com a tutela constitucional das relações de consumo, vide JOSÉ AFONSO DA SILVA, in Curso de Direito Constitucional Positivo, Malheiros, 10ª edição, 1995, às páginas 254/256. ] 
Artigo 2º CDC – adota o conceito de consumidor em caráter estritamente econômico, ou seja, o sujeito ativo da relação de consumo adquire bens ou contrata a prestação de serviços como destinatário final, com vistas ao atendimento de uma atividade pessoal e não como desenvolvimento de outra atividade negocial.
CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA[footnoteRef:3], conceitua o consumidor partindo de três critérios distintos: elementos subjetivos, objetivos e teleológicos. [3: CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA, in Os Direitos dos Consumidores, Almeidina, 1982, às páginas 203 e 216.] 
Do ponto de vista do elemento subjetivo, entende o autor português dever ser o consumidor uma pessoa, enquanto sujeito de direitos; fecha a questão, ademais, no que pertine à possibilidade de as pessoas jurídicas também se incluírem no rol de consumidores, limitando o conceito àquelas que não tenham fins lucrativos. Sob o elemento objetivo, entende o autor esteja o consumidor ligado a bens (coisas) ou serviços. E, do ponto de vista teleológico, aduz o Professor da Faculdade de Direito de Lisboa que, para a correta noção de consumidor, devem os tais bens ou serviços ter como destino uma utilização final, que seja diversa de qualquer atividade profissional ou intermediária, ainda que pessoal ou privada.
No Brasil, antes da edição da Lei 8.078/90, ANTONIO HERMAN V. BENJAMIN[footnoteRef:4] mostrava concepção mais restritiva do conceito de consumidor, o qual seria "todo aquele que, para seu uso pessoal, de sua família, ou dos que se subordinam por vinculação doméstica ou protetiva a ele, adquire ou utiliza produtos, serviços ou quaisquer outros bens ou informação". Ressalta o membro do Ministério Público do Estado de São Paulo que se mostra inadmissível a inclusão incondicionada de pessoas jurídicas no rol dos consumidores, haja vista que a sua finalidade lucrativa as diferenciaria dos demais consumidores, eliminando o requisito da fragilidade que deve ser ínsito ao sujeito ativo da relação de consumo; todavia, não descarta o autor a possibilidade de se incluir no conceito de consumidor qualquer pessoa jurídica sem fins lucrativos.[footnoteRef:5] [4: in O Conceito Jurídico de Consumidor, Revista dos Tribunais, volume 628, às páginas 69 e seguintes. 
] [5: ] 
JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO[footnoteRef:6] tem visão igualmente restritiva do conceito de consumidor; para o referido autor seria o consumidor, portanto, toda a pessoa física que contrata, como destinatário final, a aquisição ou utilização de bens ou serviços.[footnoteRef:7] [6: cf. obra citada, à página 77.] [7: in Manual de Direitos do Consumidor, Atlas, 2ª edição, 1991, à página 27.] 
Num sentido mais ampliativo, destaca o Professor CARLOS ALBERTO BITTAR[footnoteRef:8] que o consumidor pode ser tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica, e bem assim a coletividade de pessoas ainda que indetermináveis, tendo em vista a clareza do texto do artigo 2º da Lei 8.078/90, com a condição de que constituam elas o "elo final da cadeia produtiva". [8: Não obstante sua concepção doutrinária, reconhece o autor o fato de a Lei 8.078/90 ter incluído as pessoas jurídicas no rol de consumidores; todavia, só as admite enquanto destinatárias finais (obra citada, página 28); ademais, conforme se infere dos comentários do autor ao Código de Defesa do Consumidor, Forense Universitária, 4ª edição, 1994, à página 27, "mais racional sejam consideradas aqui as pessoas jurídicas equiparadas aos consumidores hipossuficientes, ou seja, que não tenham fins lucrativos, mesmo porque, insista-se, a conceituação é indissociável do aspecto da mencionada hipossuficiência". ] 
ARRUDA ALVIM[footnoteRef:9] também esposa tese ampliativa, defendendo a teoria objetiva no que concerne à conceituação de consumidor; assim sendo, pouco importaria que o consumidor seja ou não profissional, fazendo-se mister tão-somente que ele funcionasse como destinatário final do produto ou serviço.[footnoteRef:10] [9: in Direitos do Consumidor, Forense Universitária, 4ª edição, à página 28.] [10: in Código do Consumidor Comentado, RT,2ª edição, 1995, à página 23. Ao contrário de JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO, ARRUDA ALVIM entende que o requisito que marca a figura do consumidor não é a sua hipossuficiência, mas sim a sua vulnerabilidade, característica que também pode ser estendida às pessoas jurídicas com fins lucrativos no elo final da cadeia produtiva. 
] 
A teoria finalista leva em consideração a interpretação restritiva do art. 2º do CDC, considerando consumidor “àquele que adquire (utiliza) um produto para uso próprio e de sua família” (EFING, p. 55). Os adeptos dessa teoria somente consideram consumidores os não profissionais, pois priorizam a vulnerabilidade do consumidor. Para eles, a tutela consumerista deve se dar especificamente à parte mais fraca da relação de consumo – o consumidor como destinatário final, ou seja, aos profissionais-consumidores não deve ser concedida essa tutela, tendo em vista que já estão protegidos pelo direito comercial/empresarial. Se pessoa jurídica ou profissional – consumidor – não poderá adquirir com a finalidade de obtenção de lucro, ou seja, como matéria prima, insumo, como reutilização com a finalidade de reinserir no mercado de consumo. 
Ao contrário sensu, a teoria maximalista adota a interpretação extensiva do conceito de consumidor, ou seja, considera que a definição do art. 2º do CDC é puramente objetiva, não importando se a pessoa física ou jurídica possua ou não o fim de lucro quando adquire um produto ou utiliza um serviço. Aqui, considera-se consumidor também o profissional, tendo em vista que essa corrente não leva em consideração a questão da tutela pela vulnerabilidade. 
A teoria finalista aprofundada ou mitigada – STJ leva em consideração a característica essencial do consumidor – VULNERABILIDADE – independentemente se o consumidor seja profissional ou não profissional. 
Consumidor equiparado – artigo 2 º parágrafo único do CDC (coletividade) – artigo 17 CDC (vítimas de acidente de consumo) – artigo 29 CDC (expostos às práticas comerciais e proteção contratual).
2. Fornecedor
Características: profissionalismo – habitualidade e lucratividade.
O artigo 3º do CDC define fornecedor de produtos e serviços, como sendo qualquer pessoa física ou jurídica, pública (nestas incluem as empresas públicas que desenvolvem atividade de produção e ainda as concessionárias de serviços públicos) ou privada, nacional ou estrangeira, que exportem produtos e serviços para o Brasil, arcando com a responsabilidade o importador por eventuais danos ou reparos, podendo regressivamente contra os fornecedores e exportadores.
Fornecedores ainda são denominados os entes despersonalizados, ou seja, os não dotados de personalidade jurídica, que tanto no âmbito civil, como no mercantil, exercem atividades produtivas de bens e serviços (Ex. Itaipu Binacional – consórcio entre os governos brasileiros e paraguaio). Exceção: entidades representativas ou associativas sem fins lucrativos (clubes) e condomínios edilícios.
Atividades desempenhadas pelos fornecedores, diretamente ligadas à atividade de cada um e desde que coloquem os produtos e serviços no mercado, surgindo daí a responsabilidade por danos causados aos consumidores (fato do produto):
· Produção
· Montagem
· Criação 
· Construção
· Transformação
· Importação
· Exportação
· Distribuição e comercialização de produtos
· Prestação de serviços
3. Objeto da relação de consumo: Produtos e Prestação de Serviços
A relação de consumo pressupõe relação jurídica entre consumidor-fornecedor e a coisa, objeto dos interesses das partes.
Produto é qualquer bem imóvel ou móvel, material ou imaterial, mais acertado seria adotarmos a nomenclatura de bens por ser conceito jurídico mais abrangente que produtos. Na concepção de SÍLVIO RODRIGUES[footnoteRef:11] , bens “são coisas que, sendo úteis aos homens, provocam a sua cupidez e, por conseguinte, são objeto de apropriação privada”. Destes bens podemos depreender os bens duráveis (bens tangíveis que normalmente sobrevivem a muitos usos – refrigeradores, roupas, utensílios eletroeletrônicos); bens não duráveis (bens tangíveis que são consumíveis em um ou alguns poucos usos – produtos alimentícios, produtos de higiene e limpeza) e serviços (atividades remuneradas, benefícios ou satisfações que são oferecidas à venda – corte de cabelo, consertos). [11: In Direito Civil (Parte Geral) São Paulo, Max Limonad, 1964, vol. 1, p.119. ] 
Para os efeitos do CDC, produto é qualquer objeto de interesse em dada relação de consumo, e destinado a satisfazer uma necessidade do adquirente, como destinatário final (consumidor) – definido no artigo 3º § 1º CDC.
O serviço está definido no artigo 3º, § 2º do CDC, como sendo “qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.
Não estão inseridas nesta conceituação, os tributos em geral (taxas, contribuições de melhoria e impostos de qualquer natureza) pois inserem-se nas relações de natureza tributária (fisco e contribuinte e não consumidor). 
No entanto as tarifas, espécie de tributo, estão inseridas no contexto de serviços para efeitos de consumo, também denominado de preço público, advêm da prestação de serviços públicos mediante concessão ou permissão à iniciativa privada ou sociedade de economia mista ou mesmo empresa pública – visam lucro – remuneradas - aplicar o CDC**. 
Profissionais liberais – são fornecedores. 
São igualmente considerados prestadores de serviços o trabalhador autônomo (dirige a sua própria atividade) e as instituições financeiras, como prestadoras de serviços aos correntistas, exceto os investidores do mercado imobiliário não são considerados como consumidores, não sendo, portanto, as instituições ou empresas que propiciam tal investimento não consideradas prestadoras de serviços.
1
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CAMPUS I 
–
 
CURITIBA 
 
 
ESCOLA DE DIREITO 
 
PROFESSORA MARIST
ELA DENISE MARQUES DE SOUZA 
 
 
 
Relação de Consumo e seus elementos
 
Com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, passou
-
se a 
questionar o seu âmbito de incidência, haja vista a concomitante existência do 
Código Civil e do Código Comercial. Que espaço, portanto, se reserva 
à Lei 
8.078/90?
 
Conforme se depreende do artigo 1º do estatuto em questão, dispõe ele sobre a 
proteção e a defesa consumidor, estatuindo normas de ordem pública e de interesse 
social nesse aspecto, em atendimento ao mandamento contido nos artigos 5º, 
XXXII
, e 170, V, da Constituição Federal.
 
Ao depois, nos seus artigos 2º e 3º, trata o Código de Defesa do Consumidor da 
conceituação do que, para os seus efeitos, 
vêm a ser consumidor, fornecedor, 
produtos e serviços.
 
Vê
-
se, pois, que a primeira preocupação do
 
legislador de 
1990 foi a de estabelecer parâmetros para a identificação dos componentes da 
relação jurídica de consumo, que é justamente o objeto desta aula.
 
 
1.
 
Relação de Consumo
 
Partindo
-
se da premissa de que a relação jurídica é composta por um 
sujeito a
tivo
 
-
 
assim entendido como o beneficiário da norma 
-
, 
um sujeito passivo
 
-
 
aquele 
sobre o qual incidem os deveres impostos pela norma 
-
, 
um objeto
 
-
 
que se 
identifica com o bem sobre o qual recai o direito 
-
, e um 
"
fato propulsor
" 
1
 
-
 
assim 
considerado co
mo o tipo de vínculo que liga o sujeito ativo ao sujeito passivo 
-
, 
deve
-
se analisar a relação de consumo sob o ponto de vista de cada um de seus 
componentes, vale dizer, o consumidor, o fornecedor, o produto ou serviço, e o seu 
fato propulsor, seja ele co
ntratual ou extracontratual
.
 
Ressaltamos, que a utilidade da correta identificação dos elementos componentes 
da relação jurídica de consumoprende
-
se, também, à necessidade da observância 
do princípio da legalidade disposto no artigo 5º da Constituição Fed
eral, eis que o 
Código de Defesa do Consumidor é um estatuto multidisciplinar definindo inclusive 
tipos criminais, a par de regras de comportamento mais gravosas em cotejo com as 
estabelecidas pelo Código Civil e pelo Código Comercial.
 
 
 
 
1
 
in
 
Lições Preliminares de Direito, Sar
aiva, 22ª edição, 1995, à página 211. No sentido da 
relevância do conceito de relação jurídica, veja
-
se, também, MARIA HELENA DINIZ, in 
Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, Saraiva, 7ª edição, 1995, à página 459, segundo 
a qual, citando Del Vecchi
o, 
"a relação jurídica consiste num vínculo entre pessoas, em razão 
do qual uma pode pretender um bem a que outra é obrigada. Tal relação só existirá quando 
certas ações dos sujeitos, que constituem o âmbito pessoal de determinadas normas, forem 
relevantes
 
no que atina ao caráter deôntico das normas aplicáveis à situação. Só haverá relação 
jurídica se o vínculo entre duas pessoas estiver normado, isto é, regulado por norma jurídica".
 
cf. MARIA HELENA DINIZ, obra citada, páginas 460/461. Para MIGUEL REALE, t
al "fato 
propulsor" seria o "vínculo de atributividade" (cf. obra citada, página 213). 
 
 
1 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CAMPUS I – CURITIBA 
 ESCOLA DE DIREITO 
PROFESSORA MARISTELA DENISE MARQUES DE SOUZA 
 
 
Relação de Consumo e seus elementos 
Com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, passou-se a 
questionar o seu âmbito de incidência, haja vista a concomitante existência do 
Código Civil e do Código Comercial. Que espaço, portanto, se reserva à Lei 
8.078/90? 
Conforme se depreende do artigo 1º do estatuto em questão, dispõe ele sobre a 
proteção e a defesa consumidor, estatuindo normas de ordem pública e de interesse 
social nesse aspecto, em atendimento ao mandamento contido nos artigos 5º, 
XXXII, e 170, V, da Constituição Federal. 
Ao depois, nos seus artigos 2º e 3º, trata o Código de Defesa do Consumidor da 
conceituação do que, para os seus efeitos, vêm a ser consumidor, fornecedor, 
produtos e serviços. Vê-se, pois, que a primeira preocupação do legislador de 
1990 foi a de estabelecer parâmetros para a identificação dos componentes da 
relação jurídica de consumo, que é justamente o objeto desta aula. 
 
1. Relação de Consumo 
Partindo-se da premissa de que a relação jurídica é composta por um sujeito ativo 
- assim entendido como o beneficiário da norma -, um sujeito passivo - aquele 
sobre o qual incidem os deveres impostos pela norma -, um objeto - que se 
identifica com o bem sobre o qual recai o direito -, e um "fato propulsor" 
1
 - assim 
considerado como o tipo de vínculo que liga o sujeito ativo ao sujeito passivo -, deve-
se analisar a relação de consumo sob o ponto de vista de cada um de seus 
componentes, vale dizer, o consumidor, o fornecedor, o produto ou serviço, e o seu 
fato propulsor, seja ele contratual ou extracontratual. 
Ressaltamos, que a utilidade da correta identificação dos elementos componentes 
da relação jurídica de consumo prende-se, também, à necessidade da observância 
do princípio da legalidade disposto no artigo 5º da Constituição Federal, eis que o 
Código de Defesa do Consumidor é um estatuto multidisciplinar definindo inclusive 
tipos criminais, a par de regras de comportamento mais gravosas em cotejo com as 
estabelecidas pelo Código Civil e pelo Código Comercial. 
 
1
 in Lições Preliminares de Direito, Saraiva, 22ª edição, 1995, à página 211. No sentido da 
relevância do conceito de relação jurídica, veja-se, também, MARIA HELENA DINIZ, in 
Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, Saraiva, 7ª edição, 1995, à página 459, segundo 
a qual, citando Del Vecchio, "a relação jurídica consiste num vínculo entre pessoas, em razão 
do qual uma pode pretender um bem a que outra é obrigada. Tal relação só existirá quando 
certas ações dos sujeitos, que constituem o âmbito pessoal de determinadas normas, forem 
relevantes no que atina ao caráter deôntico das normas aplicáveis à situação. Só haverá relação 
jurídica se o vínculo entre duas pessoas estiver normado, isto é, regulado por norma jurídica". 
cf. MARIA HELENA DINIZ, obra citada, páginas 460/461. Para MIGUEL REALE, tal "fato 
propulsor" seria o "vínculo de atributividade" (cf. obra citada, página 213).

Mais conteúdos dessa disciplina