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Psicologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Gisele L. Fernandes Revisão Textual: Profa. Ms. Fátima Furlan Análise do Comportamento • Introdução • Behaviorismo • Comportamento Respondente e Comportamento Operante • Reforçamento • Reforço Primário, Secundário e Generalizado • Esquiva, Fuga e Extinção • Controle de Estímulos · Objetiva-se que o estudante, ao concluir a unidade de estudo, seja capaz de distinguir as principais características do Behaviorismo Me- todológico, das principais características do Behaviorismo Radical, reconhecendo esse último como base para a Análise do Comporta- mento, uma das principais abordagens da Psicologia. · Pretende-se ainda que o estudante possa identificar alguns dos con- ceitos básicos da Análise do Comportamento, tais como: compor- tamento operante, reforçamento, reforço positivo, reforço negativo, estímulo aversivo, punição, discriminação e generalização, em situa- ções do dia a dia. OBJETIVO DE APRENDIZADO Análise do Comportamento Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Análise do Comportamento Introdução A Análise do Comportamento, umas das principais abordagens da Psicologia é pautada no Behaviorismo Radical, proposto por Burrhus Frederic Skinner. Portanto, para compreender a Análise do Comportamento é importante retomarmos a história do próprio Behaviorismo, e, especialmente, a distinção entre Behaviorismo Metodológico e Behaviorismo Radical. Behaviorismo O termo Behaviorismo foi inaugurado por John Broadus Watson (1878-1958) em seu artigo intitulado “Psicologia: como os behavioristas a veem”, publicado em 1913. Por meio de seu artigo, Watson propunha um novo rumo à psicologia. Na época, as investigações na área da Psicologia eram feitas por meio da introspecção, porém, os defen- sores do behaviorismo acreditavam que o autoexame não era método suficiente para conferir à Psicologia o caráter de ciência. E no artigo, Watson, representando os behavioristas, criticava o fato de a psicologia, como estava sendo desenvolvida, se assemelhar mais a “algo de esotérico”, sem procedimentos e métodos que pu- dessem ser replicados. Figura 1 – John Broadus Watson Fonte: Wikimedia Commons Importante! O título original do artigo de Watson é “Psychology as the Behaviorist Views it”. Behaviorist, ou como dizemos na Língua Portuguesa, behaviorista, é uma palavra derivada do substantivo behavior, do idioma inglês cuja tradução para o nosso idioma é comportamento. Você Sabia? Para Watson a psicologia deveria “descartar toda referência à consciência”, evitar termos como “estados mentais”, “mente”, “conteúdos introspectivamente verificáveis”, entre outros, mas dedicar-se a estudar o “fato observável”. Os defensores do behaviorismo buscavam, desta forma, conferir à psicologia status de ciência, postulando-lhe um objeto de estudo “observável, mensurável, cujos experimentos poderiam ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos” (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2005, p. 45). 8 9 Para compreendermos mais ainda acerca do Behaviorismo e de sua evolução, dois pensadores merecem destaque: Watson e Skinner. O primeiro, Watson, como já vimos se tornou percussor e porta- voz da abordagem behaviorista, especialmente após a publicação do artigo de 1913. Mas Skinner é considerado o principal autor da abordagem. A distinção do pensamento desses estudiosos se assemelha à distinção entre o chamado Beha- viorismo Metodológico e o Behaviorismo Radical, sobre as quais trataremos adiante. Figura 2 – Burrhus Frederic Skinner Fonte: Wikimedia Commons Behaviorismo Metodológico Como já dito, Watson foi o porta-voz do behaviorismo, rogando ao comporta- mento a posição de objeto de estudo da Psicologia e reagindo à abordagem menta- lista que vigorava na época, mas o que isso quer dizer mais especificamente? Conforme explica Staats: “... antes do aparecimento do Behaviorismo, o método fundamental para a Psicologia era o da introspecção. Por algum tempo, os psicólogos pensaram que a tarefa da psicologia era investigar os conteúdos, a estrutura e o funcionamento da mente, realizando o sujeito um autoexame e relatando a sua experiência (...).” (STAATS, 1980, p. 97). Para os Behavioristas Metodológicos, e daí a origem do nome, importava a psicologia como ciência estabelecer uma metodologia de estudo confiável e replicável, o que não era possível por meio da prática de autoexame e de relato da autoexperiência, denominada introspecção. Os behavioristas defendiam que só seria objeto de estudo da psicologia o que fosse possível de ser investigado a partir de um método fidedigno, rigoroso e controlado, o restante não deveria ser envolvido nessa ciência. Por isso, postulam que o objeto de estudo da psicologia seria apenas o comportamento observável. O Behaviorismo Metodológico ficou conhecido como Teoria S-R, o S represen- tando estímulo do ambiente (stimuli em inglês) e R a resposta do organismo. O Behaviorismo Metodológico fundamenta-se nos experimentos de Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936), um fisiologista russo, que a partir de experimentos com a saliva de cães, teorizou um importante processo para a Psicologia: o Condicionamento Clássico. Ao estudar a ação de enzimas no estômago dos animais, Pavlov percebeu e interessou-se pelo fato de os cães salivarem sem a presença de alimento. Ou seja, Pavlov percebeu que os cães salivavam tanto diante de estímulos, denominados por ele incondicionados, como por estímulos, aos quais ele denominou condicionados. Analisemos um exemplo de experimento de Pavlov. 9 UNIDADE Análise do Comportamento Figura 3 – Experimento de Pavlov com cães Fonte: Wikimedia Commons Os cães salivavam quando lhes era apresentado o alimento, o que era uma resposta esperada. Assim, dizemos que o alimento (estímulo) elicia, ou provoca, a resposta salivar. Esse estímulo (comida/alimento) era então denominado um estímulo incondicionado. Alimento Salivar (S) (R) Todavia, ao associar o estímulo alimento ao estímulo som de uma campainha, ou seja, apresentar ao cão o alimento e ao mesmo tempo o soar o toque de uma campainha. A resposta do cão era de salivar. Essa associação, ou pareamento, era repetidavárias vezes até que o soar do toque da campainha, sem o alimento, passava também a eliciar a resposta de salivar. Som da campainha Salivar (S) (R) Desta forma, o som da campainha, que anteriormente fora um estímulo neutro para a resposta de salivar, passava a ser um estímulo condicionado. Para ficar mais claro como esse processo se dá, segue um exemplo bastante comum: a fragrância de um perfume. Não é raro ao sentirmos a fragrância de um perfume nos lembramos de uma pessoa, de uma época ou de um lugar. O perfume, que a princípio seria um estímulo neutro, ao ser associado com uma pessoa, por exemplo, passa a ser um estímulo condicionado e elicia a resposta de pensarmos nessa pessoa. A esse processo se dá o nome de Condicionamento Clássico ou Respondente. Os Behavioristas Metodológicos, especialmente Watson, adaptaram esses conceitos ao estudo do comportamento humano, reproduzindo experimentos principalmente com crianças. 10 11 Skinner iniciou seus estudos na Psicologia seguindo os caminhos de Watson. Todavia, suas pesquisas o levaram a questionar o Behaviorismo Metodológico, propondo avanços para essa escola da Psicologia. Por esses avanços, Skinner é considerado, como já foi dito, o mais importante teórico do Behaviorismo. Behaviorismo Radical Como visto, os defensores do Behaviorismo Metodológico estavam preocupados com o método de estudo. Para os behavioristas metodológicos era considerado objeto de estudo da Psicologia apenas o comportamento observável. Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), defensor do Behaviorismo Radical, propõe que o objeto de estudo deve sim ser o comportamento dos seres vivos, especialmente o homem. Todavia, ao usar o termo comportamento, Skinner não se refere apenas aos comportamentos observáveis, mas também a eventos ditos encobertos, tais como: o pensamento e a emoção; sentimentos acessíveis ao próprio sujeito (MATOS e TOMA RANI, 2002). O foco de Skinner, e dos behavioristas radicais, não era a metodologia de estudo acerca do comportamento, mas quais aspectos eram importantes para explicar o comportamento humano. Nas palavras do próprio Skinner vemos as distinções entre as duas abordagens e entre o próprio mentalismo: “O mentalismo, ao fornecer uma aparente explicação alternativa, mantinha a atenção afastada dos acontecimentos externos antecedentes que poderiam explicar o comportamento. O behaviorismo metodológico fez exatamente o contrário: com haver-se exclusivamente com os acontecimentos externos antecedentes, desviou a atenção da auto- observação e do autoconhecimento. O behaviorista radical restabelece certo tipo de equilíbrio. Não insiste na verdade por consenso e pode, por isso, considerar os acontecimentos ocorridos no mundo privado dentro da pele. Não considera tais acontecimentos inobserváveis e não os descarta como subjetivos. Simplesmente questiona a natureza do objeto observado e a fidedignidade das observações.” (SKINNER, 1982, p. 19). Para Skinner, todos os eventos são passiveis de serem estudados, tanto eventos observáveis, como eventos encobertos. O comportamento não pode ser compre- endido apenas como a resposta observável, mas sim como a atividade do organis- mo como um todo e sua interação com o ambiente, conforme sua história de vida. Portanto, a posição de Skinner, que define o Behaviorismo Radical como uma filosofia da ciência e não como uma ciência é importante à medida que evidência os questionamentos que a abordagem faz, bem como que a busca pelo conhecimento acerca do comportamento humano, não como algo pronto e acabado, mas um conhecimento em transformação. 11 UNIDADE Análise do Comportamento Skinner ressalta ainda a necessidade de avaliar o controle do ambiente sobre nosso autoconhecimento, ou seja, a maneira como reagimos e como explicamos nossos comportamentos encobertos não está livre de influência do ambiente em que somos criados. Podemos dizer que sentimos medo, fome ou alegria; mas essas respostas nos foram ensinadas; talvez o sentimento denominado alegria em um país ocidental seja diferente do sentimento com a mesma denominação em um país oriental. Skinner propõe que o comportamento humano seja analisado considerando-se que o homem sofre influências de contingências filogenéticas (influências do banco genético das espécies), de contingências ontogenéticas (influência do repertório comportamental do próprio indivíduo) e de contingências culturais (influências das práticas grupais de uma cultura ou sociedade). A integração destes três níveis de influência trouxe aos analistas do comportamento a ferramenta para avaliar o sujeito como um todo, incluindo os seus aspectos subjetivos como a consciência e o autoconhecimento, por exemplo, (MATOS E TOMANARI, 2002). Uma importante contribuição do trabalho de Skinner foi a teorização do comportamento, ao qual denominou: Operante, o que veremos mais adiante. Comportamento Respondente e Comportamento Operante Assim como Watson, Skinner estudava o chamado Comportamento Respon- dente, do qual tratamos inicialmente. Descascamos uma cebola e choramos, somos expostos a uma luz muito forte e nossas pupilas contraem; todos esses são exem- plos de comportamentos respondentes ou reflexos. Figura 4 Fonte: iStock/Getty images 12 13 O respondente é eliciado pelo estímulo que o antecede. Ou seja, o comportamento respondente não pode ser definido nem pelo estímulo e nem pela resposta, mas por sua relação, representada pelo padrão S[R. Neste caso a resposta é causada pela ocorrência ambiental. A partir de seus estudos Skinner teoriza sobre o que chamou de Comportamento Operante. No comportamento operante a ênfase está na relação entre a resposta e a consequência no ambiente. Comportamento operante inclui todas as reações do organismo que são antecedidas por um estímulo e seguidas por uma consequência. Ler esse texto é um comportamento operante. O texto é o estímulo antecedente, a leitura é a resposta e o conhecimento adquirido é a consequência. Ao ouvir a ordem: “- Levante o braço.”, você pode decidir se irá ou não levantar o braço. Caso decida levantar o braço, podemos dizer que o estímulo – a ordem: “Levante o braço.”, selecionou a resposta levantar o braço. Por outro lado, se você decidir não levantar o braço, podemos dizer que o estímulo não selecionou a resposta. Uma das contribuições da inclusão da noção de comportamento operante no estudo acerca do comportamento humano é a mudança na compreensão da relação homem-ambiente. Antes a relação do homem com o ambiente era tratada como uma relação S-R. Um estímulo do ambiente elicia um comportamento do organismo. O homem era visto como resultado do ambiente. A partir da teorização do comportamento operante a relação do homem com o ambiente passa a ser vista como uma interação. Skinner sintetiza a relação do homem com o ambiente na seguinte frase: “Os homens agem sobre o mundo e o modificam e, por sua vez, são modificados pelas consequências de sua ação.” (Skinner, 1957, p.1) Aqui vale uma ressalva: Skinner e, por consequência a Análise do Comporta- mento, ainda hoje recebe muitas críticas que não são pertinentes ao seu trabalho. Muitos pensadores acreditam que Skinner não considerava o comportamento en- coberto como objeto de estudo da Análise do Comportamento e nem via o homem como capaz de agir e reagir ao ambiente, considerando-o apenas como produto desse ambiente. Tal equívoco se dá muitas vezes pela má compreensão desta es- cola da psicologia. Um dos motivos, até bem simples, é que se lermos textos produzidos por Skinner no início de suas pesquisas, nos depararemos com um modo de pensar, mas ao longo de sua carreira, Skinner foi desenvolvendo novas formas de compreender o homem. Skinner não estava se contradizendo, mas mostrando o progresso de seus estudos. No livro “Sobre o Behaviorismo”, escrito em 1982, Skinner comenta um pouco sobre as críticas ao Behaviorismo. Mas retomemos ao Comportamento Operante. Para Skinner o homem é produtoe produtor do ambiente. A relação do homem com o ambiente é representada do seguinte modo: R-S, sendo R (Resposta) e S (Estímulo). O comportamento do organismo resulta num novo estímulo. 13 UNIDADE Análise do Comportamento Assim como existem dois tipos de comportamento: Respondente e Operante; existem também dois tipos de condicionamento: Condicionamento Clássico e Condicionamento Operante. Do primeiro, Condicionamento Clássico, tratamos no tópico intitulado “Beha- viorismo Metodológico”. Descoberto por Pavlov, o condicionamento clássico, ou respondente, trata de um estímulo neutro que se torna estímulo condicionado, provocando determinada resposta. O Condicionamento Operante é a base do trabalho de Skinner. “É o processo pelo qual a resposta de um indivíduo é seguida por uma consequência (positiva ou negativa), e essa consequência nos ensina a repetir a resposta ou diminuir sua consequência”. (BOLTON e WARWINK, 2005, p. 115). Dentre os experimentos desenvolvidos por Skinner, alguns feitos com ratinhos de laboratório são muito comentados e repetidos até hoje nos cursos de Psicologia. Para a realização de seus experimentos, Skinner desenvolveu diversos equipamentos, dentre esses criou a Caixa de Skinner. A Caixa de Skinner é uma caixa fechada, com uma porta em vidro na frente. Na caixa há uma barra, a qual ao ser pressionada inicia um mecanismo que libera uma gota de água ou um grão de alimento. Figura 5 – Caixa de Skinner Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Ao colocar um ratinho, com fome1, na Caixa de Skinner, espera-se que esse pressione a barra e receba um grãozinho de alimento. O procedimento inicial é a modelagem da resposta. Essa modelagem consiste em reforçar respostas que sejam próximos à esperada (a esperada é pressionar a barra). Assim, quando o ratinho chegar próximo da barra, libera-se um grão, depois quando ele cheirar a barra e assim sucessivamente até que ele pressione a barra. 1 Antes de ser colocado na Caixa de Skinner, os ratinhos ficam um período sem ingerir comida. 14 15 De acordo com Whaley e Malott “através do processo gradual, as respostas que se assemelham cada vez mais ao comportamento terminal são, sucessivamente, condicionada até que o próprio comportamento terminal seja condicionado” (1980, p. 96). Quando instaurada a resposta de pressionar a barra, o ratinho a pressiona repetidas vezes em busca de alimento. Mas é importante ressaltar que o ratinho pressiona a barra porque recebe o grão, que lhe é reforçador, uma vez que ele está com fome. Caso ao pressionar a barra o ratinho fosse surpreendido com um leve choque, ele deixaria de pressionar a barra. Esse processo é comum no nosso cotidiano. A todo instante aprendemos novas formas de nos comportar. Mas aprendemos esses comportamentos por meio de reforços que recebemos, sendo que esses reforços podem ser positivos ou negativos. Reforçamento Reforçamento é uma das formas de selecionar as consequências de um determinado comportamento. O reforçamento pode ser por meio de um reforço positivo ou de um reforço negativo. O reforço positivo é todo evento que aumenta a probabilidade futura de uma resposta. O reforço negativo é todo evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o remove ou atenua. “Quando nosso comportamento é reforçado positivamente, nós dizemos que gostamos do que estamos fazendo; dizemos que estamos felizes.” (Skinner, 1978 , p.5) Um exemplo de reforço positivo é o que citamos anteriormente, o ratinho na Caixa de Skinner. Quando o ratinho pressiona a barra na Caixa de Skinner e recebe um grão de alimento, o grão é um reforço positivo ao ratinho e, por isso, a probabilidade da resposta “pressionar a barra” aumenta. Um exemplo de reforço negativo, pensando no ratinho, pode ser o seguinte: imagine que o assoalho da Caixa de Skinner está liberando um leve choque, ao pressionar a barra, o choque cessa. Pressionar a barra passa a ser seguido por um reforço negativo, o qual elimina ou atenua o choque. Reforço negativo não deve ser confundido com punição. A punição é um evento que diminui a probabilidade futura da resposta. Pensando novamente no ratinho: ao pressionar a barra ele recebe um leve choque. Com o tempo ele deixará de pressionar a barra, diminuindo esse comportamento. 15 UNIDADE Análise do Comportamento Esses conceitos são comumente usados na modificação do comportamento humano. Quando queremos ensinar algo a uma criança, usamos reforço positivo, negativo ou mesmo a punição. Mas não é só com crianças que o reforçamento é utilizado. Para evitar atrasos ou faltas, muitas empresas estabelecem descontos nos salários: esse não é um exemplo de punição? Ou ainda, é comum o pagamento de bônus para aqueles funcionários que atingem determinada meta: isso não é reforço positivo? Na educação, o reforçamento também é bastante utilizado, quer por meio de notas, elogios ou castigos. Usamos reforçamento nos relacionamentos familiares, profissionais e amorosos. Enfim, a todo o momento estamos reforçando positiva ou negativamente aqueles que nos cercam. Todavia, o próprio Skinner enfatiza a eficácia do reforço positivo sobre a punição. Aprendemos melhor e mais rapidamente quando somos reforçados positivamente, do que quando recebemos algum tipo de castigo. Outro conceito importante a ser abordado sobre reforçamento é o tipo de reforço. Nem tudo o que pode ser reforçador para uma pessoa, será para outra. A teoria behaviorista estabelece três tipos de reforçadores: reforço primário, reforço secundário e reforço generalizado. Reforço Primário, Secundário e Generalizado Os reforços primários são eventos reforçadores para toda a espécie, dentre eles estão: alimento, água, afeto, atenção social, entre outros. Experimentos têm demonstrado que atenção social pode ser um reforço primário considerado mais importante que reforçadores como alimento e água (FOXALL, 1990). Além dos reforços primários, existem outras duas classes de reforços que são denominados reforços secundários e reforços generalizados. Os reforços secundários são reforçadores aprendidos, isso porque adquiriram a função quando foram pareados, por meio de condicionamento, com reforçadores primários. Um exemplo: receber flores e se sentir querido. Nesse caso, as flores, que eram um evento neutro para a resposta de afeto, ao serem pareadas com esse reforçador primário, passam a ser um reforçador secundário para afeto também. O reforço generalizado é aquele que foi pareado com muitos outros reforçadores. O dinheiro é um bom exemplo de reforçador generalizado, pois em nossa sociedade, ele é pareado com vários reforçadores primários ou secundários. Algo interessante sobre o dinheiro é que é pouco provável que haja saciação desse reforçador. Podemos ficar empanturrados de tanto comer e não querer nem ver comida pela frente. Nesse caso, a comida deixará, pelo menos por um período, 16 17 de ser reforçadora. Mas, dificilmente você encontrará alguém “empanturrado” de dinheiro que nem queira mais recebê-lo. Importante! Dinheiro, em particular, é um reforçador extremamente poderoso. Isso se deve ao fato dele possibilita a permuta com uma infi nita variedade de reforçadores primários e secundários. Você Sabia? Ainda sobre reforçamento outros conceitos merecem destaque, são eles: a esquiva e a fuga - que são dois processos decorrentes do reforço negativo - e a extinção. Esquiva, Fuga e Extinção A esquiva é o processo no qual um estímulo aversivo condicionado ou incon- dicionado está separado por um intervalo de tempo apreciável, possibilitando ao individuo se comportar de modo a reduzir ou evitar esse estímulo. Bock, Furtado e Teixeira (2005) dão alguns exemplos: o raio (primeiro estímulo) precede a trovoada (segundo estímulo); o som do “motorzinho” usado pelo dentista precede a dor no dente (segundo estímulo); assim, o primeiro estímulo permite ao indivíduo evitar ou reduzir a magnitude do segundo. Tapamos o ouvido para evitar o estouro dostrovões ou desviamos o rosto para evitar a broca do dentista. Outro exemplo, bastante comum, é quando temos que pedir algum favor para uma pessoa. Quando percebemos que o semblante dela não está para conversa (primeiro estímulo), tendemos a evitar fazer o pedido naquele momento, nos poupando assim de uma resposta negativa (estímulo aversivo). Na fuga, o comportamento reforçado é o que termina com o estímulo negativo. A diferença é que na esquiva o estímulo negativo ainda não se iniciou, temos um estímulo primeiro que sinaliza o estímulo aversivo, mas na fuga não há esse estímulo que antecede o estímulo aversivo, ao contrário, o estímulo aversivo já está em andamento e fugimos dele. Imaginemos que não percebemos o raio e quando nos demos conta a trovoada já havia começado e aí sim tapamos o ouvido. Não percebemos que aquela pessoa, a quem iríamos pedir um favor, não estava boa para conversa, e quando já estamos pedindo o favor, recebemos a resposta negativa e tentamos marcar outra data para falarmos sobre o assunto, fugindo assim da situação. Por fim, a extinção é o processo no qual a resposta deixa de ser reforçada abruptamente. Como consequência, tal resposta, com o tempo, deixará de ser emitida. Um bom exemplo, citado por Bock, Furtado e Teixeira (2005) é quando alguém a quem se está paquerando deixa de demonstrar atenção, as “investidas” tenderão a desaparecer. 17 UNIDADE Análise do Comportamento É evidente que o processo de extinção irá variar de comportamento para comportamento, isso a depender do reforçador utilizado. Caso o reforçador não seja tão poderoso, a extinção do comportamento poderá ser mais fácil, mas se o reforçador for importante para o indivíduo ele continuará se comportando durante um período maior de tempo, mesmo sem o reforço, até que a extinção se concretize. Pensamos novamente no exemplo da paquera. Quanto maior for o interesse do paquerador, mesmo que o alvo de sua paquera não lhe dê atenção, esse irá insistir por um longo período antes de desistir. O mesmo acontece com uma criança que quer a atenção dos pais ou um doce em um supermercado: a depender do valor desse reforçador ela poderá desistir rapidamente ou insistir por um longo período antes que a resposta seja extinta. Em síntese, vimos até aqui diferentes formas de consequências à resposta do organismo. Ou seja, caso consequência a uma resposta do organismo seja um estímulo positivo – algo agradável, prazeroso – podemos afirmar que houve algum tipo de reforço, positivo ou negativo. Em uma situação na qual a consequência à resposta do organismo seja um estímulo aversivo ou a retirada de um estímulo positivo, teremos então a punição. E a extinção é a ausência de reforço. Mas além da consequência à resposta do organismo, observar e analisar os eventos antecedentes, ou seja, aqueles que ocorrem antes da resposta, também são importantes na compreensão do comportamento humano. Controle de Estímulos Dois importantes processos merecem ser tratados, quando se aborda a questão do controle dos estímulos que o ambiente exerce sobre nós, são eles: a Discriminação e a Generalização. O conjunto de estímulos que precede a resposta do indivíduo poderá alterar a sua probabilidade de emissão. Isso acontecerá porque em situações passadas, nas quais o mesmo conjunto de estímulo estava presente, determinado tipo de resposta resultou em reforço. Por esse motivo, o indivíduo, diante de situações semelhantes – ou, em termos técnicos, diante de um determinado conjunto de estímulos antecedente – tenderá a emitir determinada resposta, visto que isso será reforçador. 18 19 O controle de estímulos sobre o organismo pode ser Discriminação ou por Generalização. No caso da discriminação, essa ocorre quando agimos de forma diferente perante um estímulo que percebemos como diferente. O semáforo é um bom exemplo, pois nos comportamos de forma diferente perante os três estímulos que ele emite, as cores: vermelha, amarela e verde. Aprendemos como nos comportar perante cada um desses estímulos. Mas, nosso comportamento é controlado por vários outros estímulos. Agimos de modo diferente quando estamos diante de um superior; quando comparado ao modo como agimos com um colega de trabalho. Comportamos-nos também de forma diferente quando estamos em nossa casa, ou no trabalho, ou mesmo na escola, pois discriminamos que cada um desses lugares requer um comporta- mento diferente. Na generalização, ao contrário da discriminação, agimos de forma parecida perante estímulos que percebemos como parecidos. Ou seja, agimos de forma igual perante todos os superiores da empresa, mesmo que esses não sejam meu chefe, pois generalizamos que são estímulos semelhantes: todos superiores hierarquicamente a mim. Conforme ressalta Bock, Teixeira e Furtado (2005), o principio da generalização é fundamental para a aprendizagem. Podemos transferir conhecimentos para as diferentes situações. E isso acontece no trabalho, na escola e nas relações sociais. O fi lme “O Show de Truman: o Show da Vida”, escrito por Andrew Niccol e estreado em 1998, aborda a infl uência do ambiente sobre o indivíduo. Truman, o personagem principal do fi lme, é também personagem principal de um reality show de audiência mundial, mas sem saber. Vivendo em uma ilha cenográfi ca e relacionando-se com atores e atrizes que acredita serem seus verdadeiros familiares e amigos, Truman tem sua vida controlada pelo diretor de TV Christof. Assista ao fi lme, que traz cenas que podem ser associadas com conceitos da Análise do Comportamento, e outras que mostram interpretações errôneas dessa abordagem. Ex pl or Enfim, o Behaviorismo é uma importante escola da Psicologia e seus conheci- mentos são empregados no nosso cotidiano, nos possibilitando analisar, reforçar e mesmo modificar nossos comportamentos. 19 UNIDADE Análise do Comportamento Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; e TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, capítulo 3. Vídeos BEHAVIORISMO Aplicações https://youtu.be/JOQG9T_eNd8 DAVIDSON FILMS. B. F. Skinner https://youtu.be/9XumLBjBCaQ O CÃO de Pavlov https://youtu.be/YhYZJL-Ni7U MOREIRA, Márcio Borges. Condicionamento de um rato (pressionar a barra) https://goo.gl/nBf3yw Leitura Análise Experimental do Comportamento Histórico da Análise Experimental do Comportamento: de Skinner aos dias atuais. https://goo.gl/D7GxXv Clássico Traduzido: A Psicologia como o Behaviorista a Vê WATSON, J. B. Clássico traduzido: a psicologia como o behaviorista a vê. Temas em psicologia. vol.16 nº 2. Ribeirão Preto. 2008. https://goo.gl/n12iMR 20 21 Referências BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; e TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. BOLTON, Lesley e WARWICK, Lynda L. O livro completo da Psicologia: explore a psique humana e entenda o porque fazemos as coisas que fazemos. São Paulo: Madras, 2005. MATOS, M. A. e TOMANARI, G. Y. A análise do comportamento no laboratório didático. São Paulo: Manole, 2002. SKINNER, B. F. Comportamento Verbal. São Paulo: Cultrix, 1957. ________.Sobre o Behaviorismo. Tradução Maria da Penha Villalobos. São Paulo: Cultrix, 1982. STAATS, A. W. Behaviorismo social: uma ciência do homem com liberdade e dignidade. In: Arquivos brasileiros de psicologia. 32(4): 97-116. 1980. WATSON, J. B. Clássico traduzido: a psicologia como o behaviorista a vê. Temas em psicologia. vol.16 nº 2. Ribeirão Preto. 2008. Disponível on-line em: http://pepsic. bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2008000200011, acessado em dezembro de 2016. WHALEY, Donald. L. e MALOTT, Richard W. Princípios elementares do comportamento. São Paulo: EPU, 1980. 21
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