Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI UNIVERSIDADE ABERTA DO PIAUÍ – UAPI CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA – CEAD COORDENAÇÃO DO CURSO DE FILOSOFIA / EAD CÉLIO HONÓRIO DOS SANTOS O LIVRE ARBITRÍO NA PERSPECTIVA DE SANTO AGOSTINHO GILBUÉS 2021 CÉLIO HONÓRIO DOS SANTOS O LIVRE ARBITRÍO NA PERSPECTIVA DE SANTO AGOSTINHO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Filosofia na Universidade Federal do Piauí, pelo centro de Educação à Distância, com requisito parcial para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II, sob a orientação do Professor Mestre José Luís de Barros Guimarães. GILBUÉS 2021 CÉLIO HONÓRIO DOS SANTOS O LIVRE ARBITRÍO NA PERSPECTIVA DE SANTO AGOSTINHO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Filosofia na Universidade Federal do Piauí, pelo centro de Educação à Distância, com requisito parcial para aprovação na disciplina. Trabalho de Conclusão de Curso II, sob a orientação do Professor Mestre José Luís de Barros Guimarães. Aprovado em: / /2021 BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Prof.Me. José Luís de Barros Guimarães _________________________________________________ (Examinador I) ______________________________________________________ (Examinador II) GILBUÉS 2021 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, ele que é o redentor e dono de todo saber, ele a quem me fez chegar onde estou, agradeço aos meus familiares e amigos que contaram com o meu sucesso, me fazendo a não desistir dos meus ideais, principalmente do curso, gratidão aos tutores professores e coordenação por ter me trazido conhecimentos que ater então eu não conhecia, por fim minha gratidão a todos que ajudaram direto e indiretamente. RESUMO O livre arbítrio de S. Agostinho tem como objetivo de nos mostrar uma realidade presente no nosso meio, trabalhando o nosso intelecto podemos ver a presença do mal em nós, vemos então a narrativa de S. Agostinho e Evódio que é o seu amigo e importante personagem para toda esta obra, Evódio faz então perguntas que talvez nós mesmo gostaríamos de fazer para um sábio, ou talvez outrora nos fazemos tais perguntas e ficamos indignados em não obter respostas, tais como a origem do mal, Deus seria o culpado do mal por ser ele o ser supremo e criador de tudo que à na face da terra? E se Deus não é culpado, de onde, pois vem o mal? Os seres inocentes que sofrem com a fome, pestes, doenças, as crianças que nada precisa sofrer Deus não ver isso que acontecer? De fato são muitas indagações, porem Agostinho nos vai dizer que Deus é um ser bom e somente bom, ele é tão bom que quis dar liberdade ao homem, e o deu o livre arbítrio, Deus não é o culpado do mal e muito menos autor dele, pois o pecado não provem do livre arbítrio, mais das paixões do homem, o homem é dominado pelas paixões, pelos desejos e assim começam a pecar, a praticar o mal movidos pelos desejos, e quanto aos que sofrem injustamente, Deus se faz depender dos sofrimentos de alguns para lhes dar um bem maior, e até mesmo para compensar os pecados de alguns, só por que ele é bom e quer a salvação do homem. PALAVRAS-CHAVE:Livre arbítrio, supremo criador, paixões, salvação. ABSTRACT The free will of St. Augustine aims to show us a reality present in our means, working with our intellect we can see the presence of evil in us, so we see the narrative of St. Augustine and Evodius who is his friend and important character for this entire work, Evodius then asks questions that perhaps we would like to ask a sage ourselves, or perhaps we once asked ourselves such questions and we are indignant at not getting answers, such as the origin of evil, God would be guilty of evil for be he the supreme being and creator of all that is on the face of the earth? And if God is not guilty, where does evil come from? Innocent beings who suffer from hunger, pestilence, disease, children who need nothing to suffer God doesn't see what happens? In fact, there are many questions, but Augustine will tell us that God is a good being and only good, he is so good that he wanted to give freedom to man, and gave him free will, God is not to blame for evil, much less the author of him, because sin does not come from free will, but from man's passions, man is dominated by passions, by desires and so they begin to sin, to do evil moved by desires, and as for those who suffer unjustly, God becomes he makes him depend on the sufferings of some to give them a greater good, and even to compensate for the sins of some, just because he is good and wants man's salvation. KEYWORDS:Free will, supreme creator, passions, salvation. SUMÁRIO 1-INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1 2 - A ORIGEM DO MAL............................................................................................... 3 2.1-O livre arbitrio é algo bom? ...................................................................................6 3- AS ESCOLHAS E O USO DO LIVRE ARBÍTRIO NA PESPECTIVA AGOSTINIANA .......................................................................................................... 10 3.1-Como resolver a questão do mal em nós ............................................................14 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 17 REREFÊNCIAS ......................................................................................................... 20 1 1-INTRODUÇÃO O foco principal deste trabalho é fazer uma investigação sobre o entendimento do que é o livre- arbítrio na concepção de Santo Agostinho um homem de relevância para a espiritualidade católica que nos apresenta uma necessidade do autoconhecimento. Assim iremos distinguir o que é ser livre por completo, o livre arbítrio é para nós não somente uma fonte reveladora do pecado, mais nos revela a potência divina sobre nós, Agostinho deixa claro que o livre arbítrio é dom de Deus, então qual é a origem do mal no homem? Certamente vamos conhecer esta realidade que o filosofo põe a mesa e juntamente com seu interlocutor Evodio eles buscam encontrar respostas de como se originou o mal e qual a relação deste como o homem . O trabalho tem como uma de suas propostas apresentar uma nova idéia sobre a compreensão que muitos fazem do mal e assim nortear caminhos para se viver uma vida tranqüila em um meio social, pois é uma identidade que estamos perdendo aos poucos, cada vez mais somos inimigos um dos outros por não estarmos fazendo um uso racional do livre arbítrio . S Agostinho vai nos explicar sobre este mau uso da liberdade como uma fonte reveladora das paixões. Santo Agostinho nasceu no ano de 354 em Tagaste na cidade de Numídia que é a atual Argélia, morreu sendo um autentico cristão, embora nem sempre isso ocorresse em sua juventude foi muito rebelde e quis experimentar de muitas paixões em sua vida, até se converter ao catolicismo, morreu em 430 com 75 anos de idade, sua mãe que se chamava Monica, uma católica devota, seu pai Patrício era o contrario da mãe, pois este que era pagão (CHAMPLIN, 1995). Agostinho foi filosofo escritor, bispo e teólogo, logo em sua juventude já pulsava nele o desejo de encontrar respostas para suas inúmeras perguntas, e porser inquieto buscou explicações para suas dúvidas em várias locais, iniciou seus estudos no seu país de origem, mais foi em Madura que começou seus estudos de retórica, ele ainda estudou música, física e matemática. Em 371 foi para Cartago, uma grande cidade como paganismo trasbordando, pois lá tinha cerimônias em honra dos milenares deuses protetores do império, onde santo Agostinho se deixou levar por essas influências e assim vivia sua vida não cristã, tornou-se professor de 2 retórica, e em 383 foi para Roma e no ano seguinte foi nomeador mestre de eloqüência em Milão. (CHAMPLIN 1995, p. 78) Santo Agostinho se tornou um critico, indagava sobre as questões do bem e do mal, logo ele adotou o maniqueísmo (religião fundada na antiga Pérsia por Maniqueu onde se admitia dois deuses) em filosofia, onde a razão seria a sua principal ferramenta de conhecer e explicar as coisas, o maniqueísmo tinha como explicação que, o homem não era culpado por seus pecados, pois isso era um destino, já se trazia o mal dentro de si, o bem e o mal constituíam princípios opostos e eternos, presentes em todas as coisas, o maniqueísmo juntava o evangelho, ocultismo, e astrologia e pregava uma doutrina. Ah! Suscitas precisamente uma questão que me atormentou por de mais, desde quando era ainda muito jovem.Após ter-me cansado inutilmente de resolvê-la, levou a precipitar-me na heresia (dos Maniqueu), com tal violência que fiquei prostrado.Tão ferido, sob o peso de tamanhas e tão inconsistentes fábulas, que se não fosse meu ardente desejo de encontrar a verdade, e se não tivesse conseguido o auxílio divino,não teria podido emergir de lá nem aspirar à primeira das liberdades – a de poder buscar a verdade. (AGOSTINHO 1996. P 28) Com alguns anos de maniqueísmo, resolve abandonar e recorrer ao ceticismo em busca de sanar suas dúvidas, afinal de contas muitas eram os questionamentos que permeavam sua mente: como se tudo que Deus criou é bom, porque existe o mal? Seria Deus então, o criador do mal? Em busca de respostas e inconformado em não ter encontrado a verdade ele foi procurar Ambrósio em 386 que era bispo, ele o procurou na tentativa de uma colocação oficial do professor, mais não foi bem isso que aconteceu, ao encontrá-lo algumas dúvidas ele pode tirar, e daí passa a assistir os sermões de Ambrósio e se encanta e acontece em seu coração uma mudança, o desejo de ingressar na fé cristã, trazendo consigo o seu filho se batizam juntos em 387, depois ele vende grande parte de suas propriedades e dar aos pobres, e em 391 se torna então sacerdote da província do império romano, e em 396 é sagrado bispo auxiliar de Hipona. 3 2 - A ORIGEM DO MAL Na obra “livre arbítrio” de Agostinho (1996) Evódio Indaga um assunto que guia todo trabalho filosófico de Santo Agostinho, Evódio busca em no diálogo com Agostinho sanar suas dúvidas a respeito da questão do mal, e já no princípio das indagações ele questiona qual a origem do mal, ou ainda, saber como o mal se apoderou do homem,Evódio interroga no intuito de que Agostinho lhe diga a respeito da questão da causa do mal , o porquê de o homem ser o que é no mundo de hoje, a principal suspeita é de que Deus é o autor do mal, de modo que Deus é o criador de tudo, nada passa despercebida sem que ele note, por tanto a originalidade desta maleficência seria vindo de Deus, visto que ele criou tudo, mais para Agostinho Deus não pode ser o autor do mal, para ele Deus não é um ser contraditório que pratica o bem e o mal, o ser Divino é bom e somente bom e não tem uma raiz ou ligação com o mal que existe no meio dos homens, como podemos ver logo no inicio do livro, uma resposta que Agostinho dá a Evódio: Pois bem, se sabes ou acreditas que Deus é bom – e não nos é permitido pensar de outro modo -, Deus não pode praticar o mal. Por outro lado, se proclamamos ser ele justo – e negá-lo seria blasfêmia, Deus deve distribuir recompensas aos bons, assim como castigos aos maus. E por certo, tais castigos parecem males àqueles que os padecem. (AGOSTINHO 1996, p 24) É esclarecido que Deus não pode ser o aquele que condena sua criação dando a eles o mal como troco, se o fizesse isso aplicando a maldade no homem, a origem do mal seria Deus e o homem seria isento de tal culpa. Deus não pode ser culpado do gênero maligno que está impregnado no homem, pois ele é sumo. Na visão de Agostinho o livre arbítrio concedido por Deus é algo muito positivo, o mal surge quando o homem não utiliza da forma correta esta dádiva dada por Deus, isso ocorre quando o homem não segue a razão iluminada da fé agindo com suas paixões ele age de forma maléfica abusando da liberdade concedida; logo o pecado vem da atitude baseada nas paixões e não na razão. Com as paixões em desordens no homem ele vai de encontro ao pecado, para Agostinho (354-430) o pecado é um dos piores males que devasta a raça humana e que o rastro deste mal ficaria gravado para sempre na história do homem pois as paixões fazem o homem 4 a praticar o mal, movidos pelas paixão, podemos ver nos nossos dia-a-dia como a maldade no homem se estende a ponto de não confiar ao seu próximo, pela livre vontade o homem deixa de obedecer as leis de Deus para deixar ser guiado pelas paixões e maus desejos. Agostinho vê que o problema da origem do mal está nas paixões que são vinculando à vontade do homem, Santo Agostinho busca em seu discurso inocentar Deus da acusação de ser o criador do mal, deixando claro que a razão principal do mal no mundo surge do abuso do livre-arbítrio, ele considera que vontade livre nada mais é do que um bem e um dom concedido aos homens por Deus. Somos conscientes que cabe a nós a responsabilidade por nossos atos o problema está no uso desta livre vontade assim como no valor dado a ela. Qual a verdadeira razão da vontade, e como podemos conquistá-la na sua forma mais perfeita "(BOEHNER; GILSON, p. 191, 1991). Na colocação de Agostinho, o mal vem do desejo tumultuado que o homem tem em um olhar voltado para as paixões da vida, de inicio Deus criou o homem com sua inocência para que ele tivesse uma vida feliz e tendo a verdade em seu coração, mais por ele ser justo, deu ao homem o livre arbítrio de pensar e de agir com forme suas necessidades e vontades, e lhes mostrou o que era bom e o que era mal ao homem, o livre arbítrio é uma criação divina e por tanto algo benéfico ao ser humano, logo foi Deus quem deu ao homem esta liberdade, mais pelo o mau uso do livre arbítrio o homem se afasta do seu sumo bem, do criador que é Deus. A existência da livre vontade (ou do ‘liberum arbitrium’) para Agostinho nunca foi um problema na sua concepção trata-se de uma verdade primária por isso não se pode contestar. Certamente, pois o mal não poderia ser cometido sem ter algum autor. Mas caso me perguntes quem seja o autor, não o poderia dizer. Com efeito, não existe um só e único autor. Pois cada pessoa ao cometê-lo é o autor de sua má ação. Se duvidares, reflete no que já dissemos acima: as más ações são punidas pela justiça, se não tivessem de modo voluntário. (AGOSTINHO 1996 p. 25) Observando esta problemática do mal se percebe que a questão está intimamente ligado a esse poder concedido ao homem, através dele o homem pode escolher seguir o caminho do bem ou do mal .Segundo Agostinho, no universo 5 criado por Deus, o mal não tem espaço este mal físico pode ser uma conseqüência das leis impostas pela natureza ou por falta de moralidade por parte do homem o mal pode está diretamente ligado as doenças ,castigos e sofrimentos sendo isso nada mais do que conseqüência do uso indevido do livre arbítrio. O homem, quando não faz o uso correto de sua livre vontade, pode adquirir males físicos (CF. STRIEDER,1998) . As causas do mal não interferem na ordem do universo gerido por Deus, estes são inclusospela ordem e contribuem harmonicamente com o universo o bispo de Hipona pressupõe que Deus fará bom uso dos males para que universo se mantenha em ordem , a correção de transgressor ,por meio do castigo, traz de volta à ordem. O criador da alma merece, pois, em tudo, louvores: – seja por ter posto na alma desde a sua origem um começo de aptidão para ascender até o sumo Bem; – seja porque Ele a ajuda a progredir; – seja porque dá a esses progressos contínuos um complemento e coroamento; – ou seja, enfim, porque, por uma muito justa e merecida condenação, ele a faz entrar na ordem conforme os seus deméritos, quando ela peca, isto é, quando recusa desde os seus primeiros passos se elevar para a perfeição, ou que retroceda após alguns progressos. Pois é certo que a alma não foi criada má, pelo fato de não ser ainda tão perfeita quanto a capacidade que recebeu de vir a sê-lo, ao progredir. Visto que bem abaixo de sua perfeição inicial encontram-se todas as perfeições dos corpos. Entretanto, apesar da inferioridade, esses corpos são em seu gênero dignos de louvor, conforme o bom julgamento de todo aquele que julga as coisas com sanidade. Logo, se a alma ignora o que há de fazer, é porque isso provém de uma perfeição ainda não obtida. Ela a obterá, porém, se usar bem o que lhe foi já dado. Ora, o que lhe foi dado é a capacidade de procurar com cuidado e piedade, caso o queira. (AGOSTINHO, 1996, p. 225-226). No ponto de vista de Santo Agostinho, o mal não foi naturalmente criado , mas surgiu de uma desordem, incorporada pela vontade livre dos homens. Para obter tal conclusão, Agostinho analisa atributos com as quais o mal se reveste. Visto isso Santo Agostinho observa as três esferas do mal : o físico, metafísico-ontológico e moral. Agostinha tinha a certeza de que somente aqueles seres que possuíam a faculdade da razão poderiam ser responsabilizados por seus males; porem como possuem o livre arbítrio esta opção é livre e quando se afastam da ordem estabelecida por Deus causam a desordem que é o mal . 6 2.1-O LIVRE ARBITRIO É ALGO BOM? Para poder chegarmos a um entendimento justo se livre arbítrio é bom ou não precisamos inicialmente entender o conceito de livre-arbítrio de forma simplificada, arbítrio significa que cada um de nós tem a liberdade de escolher entre o certo e o errado. Então livre-arbítrio na sua forma literal nada mais é do que o don que nos foi dados por Deus para seguirmos o caminho que desejarmos arcando com a conseqüências de nossas escolhas. Desta livre escolha é que nasce o pecado que simplesmente é o mau uso da liberdade que nos foi concedida as criaturas optaram para seguir o seu próprio bem desta forma buscando encontrar sua felicidade . Anselmo (2003) enfatiza que o ser humano possuía o livre arbítrio no inicio de tudo na mesma visão de Agostinho, ele deixa explicito que o homem tinha o poder de não cometer o pecado. Com tudo homem não cumpre a ordem divina quando se deixa levar pela tentação, e mesmo tendo o poder de não ceder às tentações, se deixa vencer. O homem inocente no paraíso, entre Deus e o demônio, foi criado a favor de Deus para que vencesse o demônio, não consentido quando este o incitava ao pecado, e assim saísse em defesa da honra de Deus e envergonhasse o demônio, já que sendo na terra mais frágil, não teria pecado consentindo na tentação de Satanás, o qual, não obstante sendo o mais forte e não tendo quem o tentasse se deixou ao pecado no céu. O homem poderia muito bem conservar esse posto que Deus lhe consignasse, e, no entanto, sem que ninguém o obrigasse, ele mesmo espontaneamente se deixou vencer seguindo a vontade do demônio e contrariando a vontade de Deus. (CANTUÁRIO, 2003, p. 84). Embora pelo mau uso do livre arbítrio e movido pela paixão o homem começa a praticar o mal, e o deu liberdade para bem viver, se Deus não tivesse dado a liberdade ao homem, não seriamos livres para nossas escolhas, e também não seriamos culpados por nenhum tipo de mal que cometêssemos, visto que não agiríamos pelos nossos próprios desejos, Deus deu a liberdade para que o homem por livre vontade saiba rejeitar o mal e voltar-se para o seu criador, mais se então Deus sabe de tudo antes mesmo de acontecer, não seria Deus o culpado de dar a livre vontade ao homem sabendo ele de suas fraquezas? S. Agostinho vai nos dizer a respeito da liberdade: 7 Eis no que consiste a nossa liberdade: estarmos submetidos a essa verdade. É ele o nosso Deus mesmo, o qual nos liberta da morte, isto é, da condição de pecado. Pois a própria Verdade que se fez homem, conversando com os homens, disse àqueles que nela acreditavam. Se permanecerdes na minha palavra sereis, em verdade, meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará ‟JO 8,31-32”. (AGOSTINHO 1995, p. 121). S. Agostinho bebeu muito da filosofia de Plotino filósofo grego fundador do neoplatonismo uns dos mais importantes da antiguidade, junto a ele Agostinho entende que o mal não é um ser substancial ou uma matéria, mais ao contrário de matéria que é imaterial ou substancial, com isso é por ele entendido que existem três formas para se entender o mal, que é o mau moral, o físico e o metafisico- ontológico. O mal físico é as doenças, os sofrimentos que sentimos ao nosso corpo e também a morte, o mal metafisico-ontológico podemos ver que o mal não é um ser substancial e perceptível no espaço. Nesta condição, Agostinho sugere a seguinte questão: “se o mal vem por ter sido ensinado. Isto permite deduzir sobre a necessidade de abordar a respeito da disciplina que parece ser, na verdade, mais uma forma de isentá-lo da culpa do pecado. Agostinho nega a possibilidade de provir dele alguma forma de corrupção. Neste ponto a intenção, do autor está dizendo é que ele nos deu um bem maior, cujo objetivo é outro nobre bem, despertar-nos a ciência. Sendo assim, não seria então contraditório que através desse bem obtivéssemos algum mal? É nesta perspectiva que temos pela primeira vez a noção de que se nos afastarmos de Deus do caminho proposto por ele surge o mal Santo Agostinho defende sobretudo que o livre-arbítrio é um bem concedido por Deus aos homens. Agostinho acreditava que o caminho mais fácil parte do homem, pelo mesmo ser a criatura mais completa, e através do mais completo, chega-se ao criador perfeito. Neste sentido o pensamento de Santo Agostinho segue a uma equivalência de valores ancestrais: sentidos objetivos, intrínsecos e razão (ABBAGNANO, 2000. p. 824.). Os exteriores captam os sentidos exteriores; os interiores direcionam os sentidos exteriores; e a razão, que assimila, processa é através das ligações feitas pela razão que podemos fazer ciência as informações absorvidas se transforma em conhecimento. Na visão de Agostinho, a razão é o que existe de mais importante e sublime na natureza. Porém, segundo Agostinho existe verdades que estão acima da razão: os números e a sabedoria. “Portanto, as leis dos números são invariáveis 8 e verdadeiras, pois as mesmas se apresentam de modos universais a todos os que as consideram, e são igualmente verdadeiras e invariáveis as regras da sabedoria.” Para Agostinho (AGOSTINHO, 1995. p. 113), a sabedoria é uma verdade única e imutável como os números, com isso ele mostra que existe uma verdade suprema e absoluta, da qual provêm outras verdades. O livre-arbítrio nada mais é do que a verdade que vem de Deus e que ele confiou aos homens. Agostinho diz: Eis no que consiste a nossa liberdade: estarmos submetidos a essa verdade. É ela a nossa mesmo Deus mesmo, o qual nos liberta da morte, isto é, da condição de pecado. Pois a própria verdade que se fez no homem, conversando com os homens, disse àqueles que nela acreditavam: ‘Se permanecerdes na minha palavra sereis em verdade, meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”JO.8:31-32”. (AGOSTINHO, 1995. 121). Santo Agostinho vê o livre-arbítrio como um bem supremo, através dele é que o homem pode ter sua capacidade de fazer escolhas respeitadas, deixando que este homem fique espiritualmente mais próximo de seu Deus. Más ainda assim se questiona: se o livre-arbítrio o que leva o homem a ter a escolha de pecar ou não, ele sendo proveniente de Deus, então seria Deus o causador do pecado? Os Maniqueu afirmavam que o mal provinha de Satanás, que para eles é um ser igual a Deus e fonte de todo mal. Agostinho quer contrapor essa idéia, pois, para ele, só há Deus. Não há outra entidade que esteja em igualdade a Deus e que dê movimento ao mal. Nas palavras de Agostinho: “Em absoluto, o mal não existe nem para Vós nem para as vossas criaturas, pois nenhuma coisa há fora vós que se revolte ou que desmanche a ordem que lhe estabelecestes.” (AGOSTINHO, 1996. p.188). Se o homem é bom, e quer viver virtuosamente, teria que ter sua livre vontade respeitada, sem a mesma não se poderia agir de forma decente. No entendimento de Agostinho pela vontade livre se peca, devemos entender que não foi para agir no erro que Deus nos deu. Existem argumentos para que o homem a receba, pois, sem ela o homem não pode proceder virtuosamente. Entretanto, se for dado à vontade livre para cometer pecado caberá a ele arcar com as conseqüências, pois recairá sobre ela o castigo de Deus. 9 Seria muito injusto por parte de Deus oferecer a vontade livre para cometer o pecado, pois assim o homem não viveria virtuosamente. Por esta ótica Santo Agostinho cita: Como se faria uma cobrança justa a quem pecou, se o mesmo fez uso da vontade que lhe foi permitida? O que Deus está querendo dizer ao pecador quando o pune, senão: Quando Deus pune quem peca, que coisa parece Deus dizer, senão: Porque é que não usaste da vontade livre para o fim para que eu te dei, isto é, para proceder honestamente? Por outro lado, como existiria essa bondade, com que a mesma justiça se enaltece ao condenar os pecados, e dignificar as boas ações, se o homem estivesse privado do livre arbítrio da vontade? Com efeito, o que não se faria por própria vontade livre, tanto seria injusto o castigo como o prêmio. Ora, não podia deixar de haver justiça, tanto na pena como no prêmio, pois esse é um dos bens que procedem de Deus. Deus devia, pois dar ao homem a vontade livre. (AGOSTINHO, 1990, p. 79/80). Agostinho cria fundamentos da relação do livre-arbítrio ser de fato o bem vindo de Deus, esse tipo de bem é o livre-arbítrio é uma das formas de provar a existência de Deus. Chegando à conclusão é que o livre-arbítrio é um bem intermediário, mostrando que a escolha de um bem superior o torna venturoso, já ao passo que um bem inferior com certeza o levará ao infortúnio. 10 3- AS ESCOLHAS E O USO DO LIVRE ARBÍTRIO NA PESPECTIVA AGOSTINIANA O mal era incompatível com a bondade e a perfeição do Deus cristão. Assim, Agostinho encontrou a sua origem na ação humana, definindo o mal desde então não mais como uma substância corpórea, um defeito na matéria, mas como carência, uma espécie de desvio do bem que ocorre pela liberdade presente nas criaturas. Para explicar a possibilidade desse desvio Santo Agostinho apela ao conceito “vontade”, “desejo”, pois estes, assim como a racionalidade, fazem parte da essência humana. A razão, dessa forma, é a capacidade de conhecer ao passo que a vontade é a faculdade de escolher. É daí que decorre seu conceito mais conhecido e comentado, o Livre-Arbítrio – entendido como a liberdade que têm os humanos de optar. O pecado tem origem no homem e tem finalidade no homem, Deus por tanto não é o culpado do mal, o homem tem a liberdade para escolher suas vontades, e por livre vontade deixa de fazer o bem, e na liberdade o homem se acha no direito de fazer o que bem entende, o que ele considera para a felicidade dele ele vai buscar, sem dar importância se isso vai ferir alguém ou se isso é pecado. Neste ponto o homem se corrompe e se mancha do pecado, sem duvida este é o elo que faz a criatura se afastar do seu criador. (GÊNESES 4,7) Se praticares o bem, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se precederes mal, o pecado estará a tua porta, espreitando-te; mas, tu deverás dominá-lo.Na concepção de Agostinho a respeito da origem do mal Deus é isento de qualquer responsabilidade de ser responsável pela criação do mal para ele o único responsável seria o próprio homem pois lhe foi dado o livre arbítrio onde ele era responsável por suas escolhas . A respeito disso Santo Agostinho diz: Já que a vontade move-se, afastando-se do Bem imutável para procurar um bem mutável, de onde lhe vem esse impulso? [...] E esse movimento, isto é, o ato de vontade de afasta-se de Deus, seu Senhor, constitui, sem dúvida, pecado. Poderemos, porém, designar Deus como o autor do pecado? Não! E assim esse movimento não vem de Deus. [...] De onde pode proceder aquele movimento de aversão que nós reconhecemos constituir o pecado – sendo ele movimento defeituoso, e todo defeito vindo do não-ser, não duvides de afirmar, sem hesitação, que ele não procede de Deus. Tal defeito 11 sendo voluntário, está posto sob nosso poder. Porque, se de fato o temeres, é preciso não o querer; e se não o quiseres, ele não existirá (O LIVRE-ARBÍTRIO. II. 20,54). Na visão de Agostinho o mal é fruto do livre arbítrio da vontade livre do ser humano: Agostinho (1990) “Sem o livre arbítrio, não haveria mérito ou demérito, glória nem vitupério, responsabilidade nem irresponsabilidade, virtude nem vício”. Tratamos esta questão da seguinte forma: se seguir pelo caminho do bem, poderá evitar muito sofrimento e dor. Ficam claros os avisos confirmando que algo vai mal literalmente, que estamos no caminho errado que devemos buscar o caminho correto. Deixando claro, que há uma escolha correta, a encruzilhada aqui tem só uma estrada a ser seguida, pois a outra levará ao sofrimento. Existe uma pré determinação para nossa vida, biológica ou espiritualmente para um fim pré estabelecido, talvez de bem-aventurança. Sobretudo devido à complexidade do ser humano e suas relações sociais, a consciência da escolha pelo bem ou mal não é tão simples, nem sempre se mostram verdadeiras. Se examinarmos cada um dos “pecados”, será possível encontrar a mesma base racional do que é da natureza humana ou um desvio, um tropeço no caminho, na direção da honestidade e responsabilidade que cada indivíduo maduro deve assumir. O lado religioso se apresenta de forma paradoxal, pois Deus como onipotente, onipresente e onisciente, sabe de tudo que irá acontecer e, portanto, não pode haver livre-arbítrio. Sobretudo, para não atribuir culpa a Deus pela existência do mal, Agostinho cria pressupostos e características divinas que o livram dessa culpa, devolvendo ao homem essa responsabilidade e, com isso, o livre-arbítrio: Mas Deus não pratica o mal, pois tu sabes por demonstração racional, ou acreditas por assentimento testemunhal que ele é bom, nem o contrário se pode admitir. Por outro lado, visto professarmos que Deus é justo, pois negá-lo é também sacrilégio, Ele assim como confere prêmios aos bons, assim inflige castigos aos maus, e tais castigos são evidentemente males para os que os sofrem. Deste modo, se ninguém é injustamente punido – o que temos de acreditar, pois acreditamos que o Universo é regido pela providência divina – Deus é o autor deste segundo gênero de males; do primeiro, porém que se referiu, não o é de modo nenhum. (Agostinho p. 442, 2004.) 12 Ao que nos remete a outra contradição, do merecer ou carma de religiões espíritas reencarnacionistas e alguns orientais: só posso ser punido se realmente for livre para fazer mal a quem não me fez nenhum mal que não tenha esse carma ou merecimento caso contrário esse processo cíclico não poderia teriniciado nunca. Todavia, não é fácil explanar as causas e motivos que despertam a vontade e, a partir dela, a realização de certas ações. Muito está em nossa natureza, muito está em nossa cultura e o resultado da combinação de ambas é conseqüentemente cometer o pecado. Conseqüentemente a ação do mal não é algo necessário ao homem, mas é uma escolha oriunda da sua própria vontade. Na obra confissões Santo Agostinho relata uma passagem de sua infância quando ele e alguns amigos furtavam peras nos pomares alheios, ele deixa claro que esta ação aconteceu de livre vontade sem que houvesse necessidade de praticar tal ato. Diz ele: “Furtei por livre vontade, eu quis praticar tão ação, não havia necessidade, mas somente pela escassez, simplesmente pela afronta a justiça e pela maldade apenas ” (CONFISSÕES. II. 4,9). A ação de praticar o mal é algo contrário aos princípios da justiça e do divino o ato praticado por Agostinho não foi algo necessário , mas apenas para satisfazer um desejo de não acatar os princípios da justiça .Como a vontade humana é livre, o mal consiste numa ação em que o homem realiza contrariamente aos preceitos divinos, que é Justiça. O furto de Agostinho não foi por necessidade que se tinha do objeto do furto, mas somente pelo prazer optativo de não obedecer a princípios da Justiça. O mal consiste em à vontade voltar as costas ao rumo que deveria tomar segundo a sua natureza. Se o impulso correto pode ser qualificado como conversão, analogamente o mal será caracterizado como perversão da vontade, isto é, não apenas um movimento diferente, mas uma ausência de movimento, que ofende, que contraria a natureza dela mesma, vontade (NOVAES FILHO, 2007, p. 293). Para Novaes Filho quando o homem utiliza seu livre arbítrio contra Deus ele está negando sua origem natural, pois o homem claramente tenta substituir quem o criou querendo assim ser superior voluntariamente com estas atitudes o homem nega quem criou todas as coisas.Agostinho coloca que o livre-arbítrio da vontade não é a habilidade para assegurar o desejo de poder escolher entre o bem ou mal. 13 Mas, o livre-arbítrio é uma dádiva que nos foi dada por Deus e, que permite que orientamos nossas escolhas baseadas nos ensinamentos de Deus . Sobre isso Agostinho diz: Quando Deus castiga o pecador, o que te parece que ele diz senão estas palavras: ‘Eu te castigo porque não usaste de tua vontade livre para aquilo a que eu a concedi a ti’? Isto é, para agires com retidão. Por outro lado, se o homem carecesse do livre-arbítrio da vontade, como poderia existir esse bem, que consiste em manifestar a justiça, condenando os pecados e premiando as boas ações? Visto que a conduta desse homem não seria pecado nem boa ação, caso não fosse voluntária (O LIVRE-ARBÍTRIO. II. 1,3). Assim sendo o livre arbítrio que Deus concedeu aos homens foi para que o homem na sua razão agisse com retidão. Esta é a função primária do livre arbítrio segundo o criador ele deu ao homem a condição de fazer escolhas, mas estas deveriam ser sempre voltadas para os desígnios de Deus assim sendo o homem não tem liberdade para fazer o mal, mas seguir sua vida de acordo o que é certo para Deus , qualquer ação diferente disso é negar ao criador. 14 3.1-COMO RESOLVER A QUESTÃO DO MAL EM NÓS A questão do mal é enigmática, esta foi à resposta dada pelos maniqueístas e por Plotino quando questionados sobre como resolver esta questão; para os seguidores de Mani o dualismo entre o bem e o mal era a questão principal já em Plotino o mal era simplesmente não ser a matéria, mas quando estes questionamentos envolveram Agostinho ele respondeu que seu problema metafísico estava diretamente ligado a Deus que é o criador do sumo bem e que não existe um bem maior do que Deus. Agostinho (2005, p. 3) afirma que neste sentido que: Deus é o Bem Supremo, acima do qual não há outro: é o bem imutável e, portanto, verdadeiramente eterno e verdadeiramente imortal. Todos os outros bens provem d’Éle, mas não são da mesma natureza que Ele. O que é da mesma natureza que Ele não pode ser senão Ele mesmo. [...] Assim, pois, o ser de todos os bens particulares, tanto os maiores como os menores, qualquer que seja o seu grau na escala das coisas, não pode proceder senão de Deus. (AGOSTINHO, 2005) Fazer o bem ou mal é uma escolha humana a sua vontade é que determina qual caminho deve seguir. É de extrema complexidade compreender que o homem, sendo filho de Deus e usufruindo do sopro de vida, o Espírito, não consegue exercer a asserção benéfica de seus atos. Parte-se do pressuposto de que Deus é o modelo de perfeição, e assim sendo, sua criação também deve está no patamar de categoria de perfeição e benevolência. Se o mal está nós , então como resolver esta questão visto que segundo Agostinho ele não vem de Deus ? A resposta de Agostinho (2004, p. 187) para tal questionamento é que toda a corrupção nasce da falta de algum bem assim afirma o bispo de Hipona: Por isso, se são privadas de algum bem, deixarão totalmente de existir. Logo, enquanto existem, são boas, e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois, se fosse substância, seria um bem. Na verdade, ou seria substância incorruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria substância corruptível e, nesse caso, se não fosse boa, não poderia se corromper. Assim sendo podemos afirmar que o mal não existe fora do bem cada vez que citamos o mal estamos esclarecendo que de alguma forma o bem está sendo 15 corrompido. Agostinho (2004, p. 190) chega à seguinte conclusão da questão da maldade: “Tentei entender o que era a maldade e não encontrei elemento, mas sim uma depravação da vontade desviada do elemento superior”. No pensamento de Agostinho a questão da vontade ou liberdade está no centro da discussão, pois é dela que se faz possível à construção de uma resposta ao problema de como resolver a questão do mal no homem. Deixando claro que as resoluções destes conflitos só chegarão ao fim quando o ser humano agir conforme os desígnios divinos e não culpando Deus pelos maus atos dos homens. O ser humano é dotado de sabedoria, portanto fazer uma escolha acertada de suas ações é o caminho para resolver esta problemática o homem deve agir com a razão divina e não com as paixões mundanas. A prática do mal ou o bem depende exclusivamente da liberdade, concedida por Deus ao homem usando a razão e não a paixão. O mal, entretanto, não é algo que nasce com ser, mas colocado para cada indivíduo no ato de poder fazer escolha na sua ação. Pois bem, se sabes ou acreditas que Deus é bom — e não nos é permitido pensar de outro modo —, Deus não pode praticar o mal. [...] Ev. Haverá então algum outro autor do primeiro gênero de mal, uma vez estar claro não ser Deus? Ag. Certamente, pois o mal não poderia ser cometido sem ter algum autor. Mas caso me perguntes quem o autor, não o poderia dizer. Com efeito, não existe um só e único autor. Pois cada pessoa ao cometê-lo é o autor de sua má ação (AGOSTINHO, 1995, I, 1, p. 25). A prática do mal não é somente agir de forma maléfica está acima disto é ter consciência e querer praticar o mal e isto esta dentro das escolhas. Praticar o mal está no ato em si e isso só cabe a quem é livre. A problemática do mal no homem deve ser vista como uma questão antropológica, pois quando a vontade do homem se afasta do bem é uma questão de má conduta e trás conseqüências maléficas . Agostinho enfatiza que o problema do mal no ser humano não estão nas coisas temporais, pois por serem criação de Deus são boas, o problema está no uso indevido dessas coisas pelo homem. Ainda é necessário aprender a distinguir o mal pessoal do coletivo. Não é plausível condenar um pelo mal cometido por outra pessoa e jamais ser condenadopela lei temporal como algo completamente justo, se assim tivessem feito, tantos mártires e até Jesus teriam sido condenados justamente. 16 Há lei eterna precisa ser servida, se o faz, garante, por ora, atuar de acordo com a lei temporal, a não ser que esta, ao ser criado, tenha sido corrompida pelo seu legislador. O fazer o mal, em suas formas variadas, é meramente reflexo da paixão interior. O estado de paixão, juntamente com o desejo incontrolável, faz o ser apegarem-se em bens, coisas e pessoas e ter medo de perdê-los. Com medo de que a perda aconteça, ele será capaz de qualquer coisa para garantir que seus bens não o sejam tirado. O medo faz com que ele cometa várias ações em prol de algo que não quer perder. O homem que almeja viver sem medo visa um bem pleno, mas esse desejo não é exclusivo de homens bons, mas também dos maus, por isso, não é possível generalizar e tornar válida toda e qualquer forma para usufruir da vida sem medo, afirma Santo Agostinho: Desejar viver sem temor, não só é próprio de homens bons, como também dos maus. Com esta diferença, porém: os bons o desejam renunciando ao amor daquelas coisas que não se podem possuir sem perigo de perdê-las. Para Agostinho Agir conduzido pelo livre-arbítrio representa comporta-se de acordo com seus desejos e agindo assim o homem não seria capaz de resolver este problema do mal. Existe apenas uma maneira de o homem vencer seus desejos e voltar-se para o criador: Isso ocorre quando a alma encontra abrigo no Deus existente nele. Para Agostinho, o ser humano deve obediência homem a Deus e,na sua visão, a obediência torna o homem livre e somente assim o homem conseguirá se libertar do mal em si. 17 4-CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa buscou responder alguns questionamentos sobre o livre arbítrio na perspectiva de Santo Agostinho. Foi questionado num primeiro momento qual seria a origem do mal? Ficou claro que Agostinho queria proteger Deus contra as acusações de ele ser o criador do mal, logo após procuramos responder se o livre arbítrio é algo bom e em seguida buscamos resposta sobre a percepção de Santo Agostinho sobre as escolhas do homem e o uso do livre arbítrio nestas ações e por ultimo buscamos responder como seria possível resolver a questão do mal existente em nós. No que concerne a questão do mal Agostinho nos faz entender que o mal tem origem no homem na sua vontade e que a partir do momento que Deus concede o poder do livre arbítrio ao ser humano ele se isenta de ser responsabilizado pela existência do mal trazendo esta responsabilidade exclusivamente para o homem pois ele é livre pra fazer suas escolhas , por esta razão o mal é posto como uma atitude voluntária do homem .Na percepção de Agostinho "O Livre – arbítrio” é um Dom de Deus dado ao homens que utilizam a razão para fazer suas escolhas de acordo sua vontade isso é o uso da liberdade consciente o livre arbítrio dado pelo criador é guiado pela vontade humana que farão uso desta dádiva pela razão mas por conta dos desejos e paixões serão responsável pelo surgimento do mal, Conclui-se, portanto que o livre arbítrio, ou seja, a vontade livre é a razão do mal. Assim, a vontade não basta por si só, precisa ser boa e, isso, acaba por determinar a causa das boas e más ações do homem. A bona voluntas, por ser causa não parte de nenhuma motivação externa que a condicione a cometer erros ou, até mesmo, fazer boas ações. Com tudo, o ser humano não cai em um determinismo e, muito menos, se torna um ser menos livre por isso.Como responsável por seus atos e isso faz com que a história de cada sujeito seja interpretada de forma única na sociedade. Na perspectiva de Santo Agostinho, ficou claro a compreensão e o motivo que pelo o qual o livre arbítrio influência na escolha das pessoas, o livre arbítrio possui tanto peso sobre as ações dos seres humanos que é causa determinante de qual caminho seguir. Muitas pessoas mesmo que de maneira inconsciente, acabam submissos a certos conceitos éticos e morais que não foram buscados por si, mas 18 que de certa forma foram criados e inseridos no meio da sociedade os levou a certo tipo de condicionamento. Para cada fator externos, há uma medida de fator interna existente no homem que o possibilita a viver secundum uma lex. aeternam, que está presente na sua anima que movimenta e dá vida ao corpo e que liga o ser ao seu estado divino. Podemos traduzir esta ligação como participação da pessoa humana na pessoa divina esta participação conduz o ser humano a buscar seu ente divino em um movimento crescente e dialógico. Concorrendo com a interpretação realizada sobre a origem do mal na visão de Santo Agostinho e como esta interpretação usa como base o livre arbítrio para se chegar à conclusão de como devemos fazer escolhas acertadas para não incorrer no pecado que é tão criticado na fala de Santo Agostinho. O que orientou este estudo foi à busca da compreensão do livre arbítrio na vida dos homens e como esta liberdade se não bem trabalhada pode dar origem as más ações que são muito mal vistas na perspectiva filosófica e religiosa. A conseqüência de afirmar que há no ser humano uma vontade livre que é causa sua dos seus males e que devido esta razão o homem não consegue acertar em todas as suas ações. Ora acerta, ora erra. Como superar isto? Bem, a pessoa por mérito próprio pode ser incapaz, mas pode vir a ser virtuosa em suas ações volitivas se Deus a der a sua graça. De acordo a situação exposta, a criatura precisa recorrer ao seu Criador pra contar com seu auxílio para superar este paradoxo interior de sua livre vontade. Não é interesse de o autor afirmar uma dependência do ser humano em relação a Deus. Pelo contrário, afirma-se que o ser humano tem a livre vontade de escolher entre o pedir a graça necessária para viver uma vita beata ou decidir permanecer autor de suas escolhas sem a ajuda de seu Criador. A escolha pode resultar numa vivência ruim ou não. Cabe a cada ser humano fazer suas escolhas em qualquer que seja a situação escolha. Por esta razão, o Livre Arbítrio é um é um bônus dado ao ser, para que ele, livremente, recorra ao seu Criador em um ato inteiramente livre e responsável. Estas colocações nos fazem a entender, que cada pessoa, ao buscar sua felicidade, procura recobrar a integridade interior de criatura divina, que foi criada a imagem e semelhança de, e aproximar-se dela. Todavia, por suas próprias forças, pode acabar fracassando durante a busca e vir a desistir, pois o caminho à virtude requer viver com retidão, modéstia e desapego das coisas temporais e amar as eternas. 19 Obviamente, nessa perspectiva, o ser humano precisa pedir a graça divina para que consiga recobrar sua integridade originária, tornando-se, em algum momento e dentro das suas condições e possibilidades, um ser perfeito e ordenado. Este trabalho nos mostra a percepção de uma composição conceitual harmoniosa que resulta em um belo elogio a Sabedoria e a Verdade imutáveis. A busca por esta sabedoria fica evidente quando o ser humano, ao buscá-las, não perde sua vida, pelo contrário, a ganha, pois, um dia sequer diante do Senhor vale mais do que milhares de anos longe dele. 20 REREFÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. AGOSTINHO, Santo. Confissões. Editora: Nova Cultural Ltda., São Paulo, 2004. AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Nova Cultura, 1996. (Os Pensadores) AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. 2. Ed. Braga Faculdade de Filosofia, 1990, p 79/80. AGOSTINHO, Santo O livre-arbítrio. São Paulo: Paulus, 1995. (Os Pensadores) AGOSTINHO, Santo O livre Arbítrio. Tradução de Nair de Assis Oliveira. SãoPaulo. Paulus, 1995. AGOSTINHO. S. O livre-arbítrio, Tradução, organização, introdução e notas Nairde Assis Oliveira, revisão Honório Dalbosco - São Paulo :Paulus, 1995.- (Patrística). AGOSTINHO DE HIPONA. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos, S.J., e A. Ambrósio de Pina, S. J. Introdução de José Américo Motta Pessanha. São Paulo: Nova Cultura, 1987. ARGODALE PAUL, A influencia de Platão sobre a religião,21/11/2017. acessado em: https://www.ehow.com.br/influencia-platao-sobre-religiao-info_27132/ BIBLIA AVE MARIA, bíblia digital, versão 5.5.9, criada em 27/11/2013 BOEHNER, Philotheu; GILSON, Étienne. História da Filosofia cristã: desde as origens até Nicolau de Cusa. Tradução Raimundo Vier. 5.ed. Petrópolis: Vozes, 1991. https://www.ehow.com.br/influencia-platao-sobre-religiao-info_27132/ 21 CANTUÁRIA, Anselmo. Porque Deus se Fez Homem. São Paulo, SP: Editora Novo Século, 2003. Cf. STRIEDER, I. “Meditação sobre o mal: do mal radical à banalidade do mal”. In: ULLMANN, R. A. (org.). Consecratio Mundi: consagração do mundo. Festschrift em homenagem a Urbano Zilles. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 440-441. CHAMPLIN, Russel Norman; BENTES, João Marques. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. v. 1, A-C. 3. ed. São Paulo: Candeia, 1995. RAFFAELLI, Rafael. Aspectos Cognitivos do Inconsciente. Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas. PPGICH, 2003. TAURISANO RICARDO, lançamento do livro “ o Livre Arbitrio” de Santo Agostinho, Ricardo Taurisano, tradutor da obra, editora Filocalia.Acessado em: https://www.youtube.com/watch?v=ySIT8AUTvp4. FILOSOFIA TOTAL COM PROF. ANDERSON,Santo Agostinho. Acessado em: https://www.youtube.com/watch?v=pa5FEpDH8ek. JOEL GRACIOSO,Introdução ao Pensamento de Santo Agostinho,acessado em:https://www.youtube.com/watch?v=z3fc89xo6tA NOVAES FILHO, Moacy Ayres. A Razão em exercício: estudos sobre a filosofia de Agostinho. São Paulo: Discurso Editorial, 2007. https://www.youtube.com/watch?v=ySIT8AUTvp4 https://www.youtube.com/watch?v=pa5FEpDH8ek https://www.youtube.com/watch?v=z3fc89xo6tA 1-INTRODUÇÃO 2 - A ORIGEM DO MAL 2.1-O LIVRE ARBITRIO É ALGO BOM? 3- AS ESCOLHAS E O USO DO LIVRE ARBÍTRIO NA PESPECTIVA AGOSTINIANA 3.1-COMO RESOLVER A QUESTÃO DO MAL EM NÓS 4-CONSIDERAÇÕES FINAIS REREFÊNCIAS