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Fichamento do Livro de Marina Gusmão e Marcos Cordeiro (1)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS – DCECO
COLEGIADO DO CURSO DE ECONOMIA
FICHAMENTO DOS CAPÍTULOS 1 AO 15 DO LIVRO
FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL
DE MARINA GUSMÃO E MARCOS CORDEIRO
Ibicaraí/Bahia
1
Julho/2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS – DCECO
COLEGIADO DO CURSO DE ECONOMIA
FICHAMENTO DOS CAPÍTULOS 1 AO 15 DO LIVRO
FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL
DE MARINA GUSMÃO E MARCOS CORDEIRO
 Trabalho apresentado ao Profº Zilney Matos de Almeida da disciplina de Formação Econômica do Brasil, turma T02, pelo aluno Carlos Eduardo Santana de Souza.
Ibicaraí/Bahia
Julho/2021
Sumário
1. A Importância da Análise Histórico-Econômica...........................................................................4
2. A Expansão Comercial Europeia, a Ocupação da América e os Modelos de Colonização........5
3. A Colonização Efetiva.................................................................................................................7
4. O Perfil do Colonizador...............................................................................................................9
5. A Solução Açucareira.................................................................................................................11
6. O Problema da Mão-de-Obra e a Solução Escravista...............................................................13
7. A Crise da Economia Açucareira...............................................................................................15
8. O Ciclo do Ouro.........................................................................................................................17
9. A Ocupação do Interior..............................................................................................................19
10. A Ruptura do Pacto Colonial......................................................................................................21
11. A Expansão Cafeeira.................................................................................................................23
12. A Abolição: Consequências ......................................................................................................25
13. O Modelo Primário-Exportador..................................................................................................27
14. A Consolidação Republicana e a Crise da Economia Cafeeira.................................................29
15. A Gênese da Industrialização Brasileira....................................................................................31
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Primeiro capítulo. A importância da Análise Histórico-Econômica (pp. 4 – 12). 
“A História Econômica surgiu como disciplina autônoma, tanto na História quanto na Economia Política, na Europa, na segunda metade do século XIX, em grande medida como resposta aos conflitos e contradições engendrados pelo desenvolvimento do capitalismo industrial. (...) verdadeiramente é após a queda de Napoleão que se forma a história econômica geral. Os tempos tinham mudado. Produzira-se a Revolução do vapor e do maquinismo e os seus efeitos faziam-se já sentir em áreas geográficas mais vastas e em setores mais largos da vida material e da sociedade.” (p. 4)
“Sem dúvida já Adam Smith utilizara profusamente informações históricas em A Riqueza das Nações, e em certos casos estas servem mesmo de base à explicação científica.” (p. 5)
“O materialismo histórico de Marx e Engels nasce precisamente nestes anos e nesta encruzilhada histórica, do impulso para continuar a linha mais progressista da Revolução Francesa. (...) Nesse sentido, o primeiro volume de O Capital, de Karl Marx, pode ser considerado como o marco fundador da História Econômica.” (p. 5)
“Assim, a História Econômica busca inserir o processo de produção econômica num contexto histórico-cultural ao longo do tempo.” (p. 5)
“O trabalho do historiador econômico pressupõe o domínio de uma teoria econômica, a partir da qual se podem formular corretamente os problemas básicos de uma pesquisa.” (p. 6)
“Concluindo, a análise histórico-econômica deve abranger problemas básicos ligados ao processo, não ao estático. O tempo, assim como o movimento são os pontos de partida para a identificação e a análise de dada estrutura. (...) o economista deve se situar como um cidadão que habita determinado país, que fala determinada língua e que reproduz um tipo específico de cultura.” (p. 8)
“Todos pensam primeiro em si e depois em tal mundo único. Não há nada de recriminável nessas atitudes. Da mesma forma, o estudioso brasileiro deve atuar sob o ponto de vista de sua sociedade. (...) quando um brasileiro olha para outro brasileiro frequentemente não se enxerga nesse outro. Somos um povo, dos pontos de vista étnico e cultural, muito variado.” (p. 9)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Segundo capítulo. A Expansão Comercial Europeia, a Ocupação da América e os Modelos de Colonização (pp. 15 – 25).
“(...) Durante a Idade Média, a sociedade compunha-se, basicamente, de três estamentos, quais sejam: sacerdotes, nobres e servos.” (p. 15)
“A medida de riqueza era determinada pela posse e pela propriedade da terra, que estava dividida em feudos. Como a Igreja Católica era a maior proprietária de terras da época, constituía também a instituição mais poderosa.” (p. 15)
“A instituição da servidão como mecanismo de extração do excedente fundia, no plano molecular da aldeia, a exploração econômica e a coerção político-legal.” (p. 16)
“Podemos resumir as relações entre senhores feudais, e entre estes e o rei, como sendo estabelecidas de acordo com regras de suserania e vassalagem. (...) Quanto às relações entre servos e senhores, estavam também regidas por normas estritas de suserania e vassalagem” (p. 16)
“(...) A escravidão constitui a forma absoluta de exploração do trabalho e de extração do excedente, uma vez que o escravo não detém sequer a propriedade sobre si mesmo. (p. 17)
“Podemos caracterizar a economia feudal como economia fechada e autossuficiente. (...) A sociedade feudal caracterizava-se, pois, pela rigidez e pela imobilidade.” (p. 17)
“(...) Outro não foi o objetivo das Cruzadas, iniciadas no século XI. (...) O grande episódio militar das cruzadas não é mais do que uma fachada épica à sombra da qual se intensifica o comércio pacífico.” (p. 18)
“As Cruzadas significaram uma grande transformação na economia e na sociedade feudal. (...) A partir dessas transformações, lançavam-se as bases para o desenvolvimento do comércio e, consequentemente, iniciava-se a desagregação do sistema feudal.” (p. 19)
“Ao desenvolvimento do comércio corresponderia, por sua vez, o desenvolvimento das cidades. (...) Como ressaltou Pirrene, a “cidade medieval é (...) essencialmente uma criação da burguesia. Existe só para os burgueses e graças a eles. Em seu interesse próprio e exclusivo criaram as instituições e organizaram a economia”.” (p. 19)
“A estrutura política, econômica e jurídica da sociedade feudal era, como se viu, incompatível com a expansão comercial. A burguesia (...) passaria a lutar por transformações naquela estrutura, aliando-se, para isso, ao rei, que pretendia ampliar sua autoridade. O resultado foi a centralização gradativa do poder real por meio do financiamento de exércitos mercenários. Em contrapartida, os monarcas passaram a garantir os meios para expansão do comércio, organizando, inclusive, as grandes navegações, a fim de permitir o acesso a novos mercados e às novas fontes fornecedoras de metais preciosos.” (p. 20)
“Em todo esse processo, Portugal ocupou um papel pioneiro (...) Ademais, em decorrência de sua posição geográfica privilegiada, o comércio havia se desenvolvido no litoral lusitano desde o século XII, formando-seali uma camada social ligada às atividades mercantis. (...) Todavia, o nascente grupo mercantil não controlava o poder político. (p. 20)
“Com o tempo, ocorreria uma transferência de renda dos antigos senhores feudais para a camada mercantil, que cresceu e, ao mesmo tempo em que se nobilitou, pôde acumular técnicas de comércio e de navegação, constituindo, assim, um capital comercial.” (p. 21)
“A partir de 1383, com o poder monárquico já centralizado, Portugal passou à busca de novos territórios, iniciando, no século XV, o chamado périplo africano, pelo qual iria percorrer toda a costa da África, estabelecendo feitorias e comercializando produtos de interesse para o mercado europeu.” (p. 21)
“É, pois, nesse quadro de expansão territorial e comercial que se inscreveram as grandes navegações, de que a descoberta da América constitui o episódio mais importante.” (p. 21)
“No que diz respeito aos modelos de colonização implantados na América (...) os povos que colonizaram o continente não tinham, a princípio, qualquer intenção de desenvolver o Novo Mundo.” (p. 22)
“No que diz respeito à América do Norte, a princípio não despertou o interesse europeu, principalmente considerando-se que não oferecia produtos extrativos que pudessem gerar lucros no comércio europeu. (...) Desse modo, surgiu na região um tipo de colonização baseado no povoamento e na pequena propriedade agrária de caráter familiar.” (p. 23)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Terceiro capítulo. A Colonização Efetiva (pp. 29 – 36). 
“Do ponto de vista cronológico, o período colonial brasileiro estendeu-se de 1500 – ano em que ocorreu a “descoberta” oficial das terras pela esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral – até 1822, quando se deu a independência política da metrópole portuguesa.” (p. 29)
“(...) Para Wallerstein, entre o final do século XV e o princípio do XVI, nasceu aquilo que poderíamos chamar de economia-mundo europeia. (...) É uma entidade econômica e não política, ao contrário dos impérios, das cidades-estado e das nações-estado. De fato compreende dentro de seus limites impérios, cidades-estado, e as emergentes nações-estado.” (p. 29)
“(...) podemos considerar que a colonização é parte integrante desse sistema mundial, não constituindo nada mais que uma decorrência do descobrimento.” (p. 30)
“(...) É relevante lembrar algumas das condições em que se encontrava o continente europeu nesse período: a gradativa desagregação do feudalismo, o crescimento das cidades, o renascimento do comércio, a formação de uma nova classe social – a burguesia, a busca de novos mercados e mercadorias, o êxodo rural, o fortalecimento monárquico, assim como todo um processo de inovação científica, tecnológica, artística, cultural e religiosa.” (p. 30)
“Portanto, na expansão marítima ocorrida a partir do século XV eram, primordialmente, os interesses comerciais europeus que estavam em jogo. Nesse sentido, os descobrimentos, da América em geral, e do Brasil em particular, nada mais são do que um capítulo da história do comércio europeu.” (p. 31)
“O que os portugueses queriam não eram terras, mas o império do comércio marítimo.” (p. 31)
“O Brasil possuía uma população rarefeita que, do ponto de vista antropológico, situava-se ainda na fase que se convencionou chamar “neolítica”, ou seja, organizada em tribos nômades, com pardo domínio da agricultura e da criação de animais, tendo pela frente um imenso território, de onde podia, facilmente, extrair aquilo de que necessitava para a sobrevivência.” (p. 32)
“A despeito de a ocupação e o povoamento não se configurarem como objetivos para os portugueses, na verdade não lhes restou alternativa. (...) Nosso litoral passou a receber frequentes expedições, notadamente de franceses e holandeses, o que constituía uma ameaça permanente ao domínio português sobre o território, surgindo a ocupação, pois, como única alternativa para se preservar a colônia.” (p. 32 – 33)
“Como se vê, no longo do processo de expansão comercial europeia, iniciada ainda no século XI, e que teve sua fase de apogeu durante o século XV, foi Portugal o principal foco dessa empreitada.” (p. 34)
“(...) O verdadeiro sentido da colonização brasileira foi ser uma vasta empresa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu.” (p. 34)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Quarto capítulo. O Perfil do Colonizador (pp. 39 – 48).
“A formação do povo português é muito complexa. A origem étnica dos primeiros lusitanos encontra-se numa mistura de iberos, ligures e celtas, os chamados celtiberos. Posteriormente, as terras portuguesas foram visitadas por gregos, cartagineses, fenícios e romanos. Também germânicos, como alanos vândalos, suecos e visigodos passaram pela península ibérica nos primeiros séculos da nossa era.” (p. 39)
“A luta pela expulsão dos árabes, porém, deu origem a uma relativa mobilidade social. Pessoas de baixa nobreza ou nativas de outros países cristãos apresentavam-se para a guerra contra os mouros. (...) Assim, à medida que os árabes eram expulsos, o monarca outorgava aos heróis das batalhas títulos de nobreza e de prosperidade das novas terras conquistadas. Esse fato estimulou o desenvolvimento de traços personalistas entre os portugueses.” (p. 40)
“É importante ter em conta que o pioneirismo português pode ser explicado pelo fato de que estava aquela sociedade aberta ao convívio de diferentes culturas, algo que se verificou ainda sobre o domínio dos mouros.” (p. 40)
“Quando verificamos a sociedade criada pelos portugueses no Brasil, podemos facilmente encaixá-lo no perfil do “aventureiro”. (...) Apesar do reconhecimento do potencial econômico do Brasil, este era visto pela maioria dos portugueses como um lugar de exílio e perigo; um lugar para enriquecer ou progredir na carreira, mas um lugar a ser evitado a qualquer custo” (p. 41 – 42)
“Diante disso, desde o primeiro momento, o português que veio para o Brasil criou formas para se beneficiar do trabalho de outrem. Assim, a exploração do pau-brasil deu-se a partir de um escambo muito lucrativo com os nativos; a criação e a concepção dos primeiros engenhos de açúcar já previam a utilização de mão-de-obra escrava, primeiro indígena, depois africana. (...) A partir dessa ambição de arrebanhar todas as riquezas com o mínimo de esforço, o português também se tornou o pioneiro na criação do mecanismo clássico da exploração colonial: a plantagem.” (p. 42)
“Nas regiões tropicais do globo, além do clima, caracterizado por altas temperaturas e maior intensidade de chuva, a vegetação e a fauna apresentavam-se (...) como obstáculos quase intransponíveis ao ser humano oriundo de regiões subtropicais e temperadas. (...) O português foi o primeiro povo europeu a conviver com essas dificuldades. Isso se deve, em grande parte, às diversidades étnica e cultural de sua formação.” (p. 42)
“De fato, o exemplo do português não foi suplantado. (...) Os holandeses, que dominaram o Nordeste brasileiro na primeira metade do século XVII, não conseguiram fincar raízes culturais junto aos nativos ou aos portugueses.” (p. 43)
“Durante as guerras contra os indígenas, somente os homens eram liquidados. Já as mulheres eram tomadas para relações familiares relativamente estáveis. Os primeiros “portugueses” nascidos no Brasil já eram fruto da dominação do homem branco sobre a mulher indígena. (...) A dominação sexual também se verificou com as mulheres negras.” (p. 43)
“Apesar de certa tolerância oficial ou até mesmo incentivo para a constituição de famílias mistas entre portugueses e indígenas, os núcleos formados por portugueses e africanas eram recriminados oficialmente.” (p. 44)
“(...) O papel dos proprietários de terras no Brasil (...) em suas posses,concentravam quase todos os poderes em suas mãos.” (p. 44)
“(...) Na análise do perfil dos colonizadores que ocuparam as terras brasileiras, um outro aspecto deve ser considerado e que diz respeito ao desenvolvimento de um verdadeiro desprezo pelo trabalho manual. (...) A maior parte dos ofícios era realizada por escravos.” (p. 45)
“O personalismo do português iria se refletir em um último aspecto: a organização do Estado. Em um sociedade estruturada para o benefício de uma minoria (...) e na qual a maior parte da população ou era escrava ou estava afastada da propriedade dos meios de subsistência, não podia existir qualquer laço duradouro de solidariedade entre os grupos sociais.” (p. 46)
“Dessa maneira, nossa sociedade assentou-se sobre dois pilares: o paternalismo e o poder coercitivo do Estado. (...) Esses laços paternalistas não conseguiram perdurar por muito tempo sem a presença coercitiva do Estado. As aspirações democráticas no Brasil dificilmente foram atendidas e, em geral, foram duramente reprimidas.” (p. 46)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Quinto capítulo. A Solução Açucareira (pp. 51 – 59).
“Podemos atribuir ao cultivo de cana-de-açúcar o principal motivo pelo qual as terras brasileiras se mantiveram em mãos portuguesas por tanto tempo. (...) somente a produção de um artigo tão procurado na Europa quanto o açúcar, cujo valor agregado compensava os riscos e os custos do transporte oceânico, poderia proporcionar os lucros necessários para a defesa e a manutenção das terras brasileiras.” (p. 51 – 52)
“ Foi na reorganização das técnicas de plantio de cana-de-açúcar e na produção em larga escala que os portugueses criaram, portanto, um modelo novo de colonização: a plantagem” (p. 52)
“É preciso ter em conta que os europeus somente utilizavam o açúcar em ocasiões especiais ou como artigo medicinal. O mel de abelha, à época, era o principal adoçante para culinária. (...) Em decorrência da expansão de sua técnica de produção, o açúcar passou por um processo de “desnatamento”, ou seja, gradativamente deixou de ser um produto restrito à nobreza para atingir mercados consumidores mais amplos. A produção portuguesa, que ampliou a oferta já no final do século XV, possibilitou o barateamento do produto, de tal forma que hoje poderíamos classificá-lo como uma commodity.” (p. 52)
“Além da expansão da oferta portuguesa, devemos considerar de substancial Importância o papel dos flamengos na ampliação do mercado consumidor (...) e foi esta popularização do açúcar que facilitou o crescimento da oferta mediante a produção brasileira.” (p. 53)
“Os primeiros indícios da produção de açúcar no Brasil em grandes quantidades dizem respeito ao engenho fundado por Martim Afonso de Souza, em São Vicente, provavelmente em 1534. Apesar de seu estabelecimento no atual Estado de São Paulo, o cultivo da cana logo encontrou melhores condições climáticas e de solo na região nordestina conhecida como Zona da Mata, faixa de terra que se estende desde o Recôncavo Baiano até a Paraíba. Foi nos atuais Estados da Bahia e de Pernambuco (...) que a produção alcançou grande escala, contribuindo para o desenvolvimento da colônia.” (p. 53)
“A produção brasileira de açúcar beneficiou-se da experiência portuguesa, desenvolvida nas Ilhas do Atlântico (Madeira e São Tomé), em meados do século XV. O empreendimento contava, num primeiro momento, com o apoio de comerciantes italianos (genoveses e venezianos), já que estes não apenas controlavam o comércio, como também monopolizavam a refinação de todo o açúcar consumido na Europa. Entretanto, à medida que a produção portuguesa ia-se ampliando, o monopólio dos italianos seria quebrado, possibilitando o sucesso da aliança formada por portugueses e flamengos.” (p. 54)
“Contudo, a estruturação da economia açucareira no Brasil encontrou dificuldades na insuficiência de trabalhadores para viabilizá-la. Devemos considerar a falta de mão-de-obra disponível em Portugal, que é um dado relevante. (...) A solução encontrada foi a utilização de mão-de-obra escrava, primeiramente indígena, depois africana.” (p. 55)
“É importante considerar ainda o fluxo de renda criado na colônia por conta da produção açucareira. Para tanto, é preciso ter em vista que a especialização colonial fazia que a maior parte dos recursos criados na esfera da produção fosse drenada pelo mecanismo comercial. Apesar dos elevados preços do açúcar, o grosso da acumulação de capitais verifica-se no âmbito da circulação.” (p. 56)
 
“Uma outra característica marcante do fluxo de renda da economia açucareira estava no fato de a renda disponível se concentrar nas mãos de um restrito número de senhores de engenho, uma vez que a população branca era rarefeita em relação aos indígenas e aos negros.” (p. 57)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Sexto capítulo. O Problema da Mão-de-Obra e a Solução Escravista (pp. 63 – 70).
“(...) A organização da colônia foi orientada, desde o início, para a produção de artigos comercializáveis na Europa, especialmente produtos tropicais e metais preciosos, necessários ao incremento da circulação de mercadorias.” (p. 63)
“Quanto ao Brasil, a aparente inexistência de metais condicionou os portugueses a procurarem organizar a colonização com base na produção açucareira voltada para o mercado europeu. (...) No quadro mais amplo da economia mundial, verifica-se que as colônias configuram-se, desde o início, como setores produtivos especializados dentro das grandes rotas comerciais.” (p. 63)
“Os objetivos apontados acima levariam à adoção, em toda a América, de formas de trabalho compulsórias: em algumas áreas, como é o caso das regiões mineiras colonizadas pela Espanha, por meio da servidão; nas demais, especialmente nas regiões tropicais, como é o caso do Brasil, mediante a implantação pura e simples do escravismo.” (p. 64)
“(...) Naquele momento, a Europa começava a “libertar” seus trabalhadores, num movimento em que os servos passaram a deixar o campo em direção às cidades, onde se transformariam em trabalhadores “livres”, isto é, assalariados.” (p. 64)
“A implantação do trabalho assalariado na colônia representaria, evidentemente, uma grande limitação a esses objetivos, principalmente considerando-se a quantidade de terras disponíveis, o que poderia levar os trabalhadores a se transformarem, com o tempo, em proprietários. Dessa forma, a simples transferência de mão-de-obra da metrópole para a colônia constituiria uma entrave à acumulação.” (p. 65)
“Contudo, por volta de 1580, a predominância dos negros era absoluta. Assim, as razões para a substituição do índio pelo africano devem ser buscadas em outros fatos. Primeiramente, havia a oposição da Igreja Católica à escravização dos indígenas. (...) Porém, deve-se ressaltar que esta oposição à escravização dizia respeito somente aos indígenas, não havendo qualquer objeção em relação aos negros.” (p. 66)
“Assim, na substituição dos indígenas por negros, um dos pontos que “talvez tenha importado é a rarefação demográfica dos aborígenes, e as dificuldades de seu apresamento, transporte, etc.”. Portanto, para a não-adoção sistemática da escravidão indígena são insatisfatórias e insuficientes algumas explicações correntes na historiografia (...) como aquelas referentes à “indolência” dos nativos ou à sua “inadaptação” ao trabalho disciplinado.” (p. 67)
“Verifica-se que os motivos para se adotar a escravidão africana são outros. Primeiramente, é importante lembrar a observação feita por Jacob Gorender, segundo a qual a escravidão “já se praticava na África negra antes da chegada dos portugueses”. (...) Em segundo lugar, lembre-se que o tráfico negreiro constituía, naquele momento, um dos mais importantes setores do comércio mundial, gerando altíssimos lucros e permitindo, ademais, a acumulação de grandes capitais na Europa.” (p. 67)
“(...)É possível concluir que o escravismo colonial e, especificamente, o escravismo africano não deve ser entendido como uma opção por um tipo de trabalhador supostamente mais dócil e disciplinado, mas sim como uma imposição das condições econômicas e históricas da época, porquanto a colonização, desde o início, se configurou como uma empresa comercial, com necessidade de se adaptar ao objetivo primordial da expansão mercantil e colonial, qual seja, onda promoção da acumulação capitalista” (p. 68)
“(...) a escravidão engrenou no Brasil uma sociedade essencialmente hierarquizada e violenta, em que a alguns indivíduos são concedidos todos os privilégios, enquanto a grande massa da população permanece à margem das decisões políticas e dos benefícios econômicos e sociais.” (p. 68)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Sétimo capítulo. A Economia Açucareira (pp. 73 – 80).
“Para compreendermos o processo de decadência da indústria açucareira, é essencial considerarmos, primeiramente, o quadro mais amplo das disputas entre os diversos países europeus pela hegemonia econômica mundial. (...) Com efeito, desde o início da colonização, o território brasileiro havia sido alvo de disputas entre os diversos países europeus. Os primeiros a tentarem se apossar da terra foram os franceses.” (p. 73)
“Ao longo de quase todo o século XVII, Portugal logrou derrotar os invasores e manter a soberania sobre a colônia. Esse domínio, porém, entraria em crise a partir de 1580, quando a monarquia lusitana passou a ser controlada pela Espanha, em decorrência da questão sucessória que levou ao fim a Dinastia de Avis.” (p. 73)
“Realmente, as lutas em que Portugal e Holanda se envolveram estão diretamente ligadas ao conflito entre esta e a Espanha e que durou de 1568 e 1648, com pequena trégua entre 1609 e 1621. (...) Assim, tendo em vista a incorporação de Portugal ao Império espanhol, esta provocou as primeiras disputas entre o reino lusitano e os Países Baixos, que tiveram início já em 1595, quando os holandeses promoveram a pilhagem de feitorias lusitanas na costa da África. Logo depois, atacaram Salvador.” (p. 74)
“A partir de 1621, o conflito seria retomado, sobretudo depois da criação da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. (...) Diante disso, entre 1624 e 1625, ocorreria a primeira invasão holandesa ao Brasil, tendo como alvo a Bahia. Em 1630, haveria novo ataque, dessa vez em Pernambuco.” (p. 75)
“Contudo, havia divergências profundas entre luso-brasileiros e holandeses. (...) Os holandeses não se tinham apoderado do Brasil com a intenção de colonizar. (...) Haviam-nos atraído os grandes lucros do açúcar, fabricado nos engenhos que os portugueses tinham fundado nas terras tropicais.” (p. 76)
“A luta pela expulsão dos holandeses (...) continuou mesmo depois do fim da dominação espanhola, principalmente porque os Países Baixos não mais pretendiam abrir mão da área conquistada no Nordeste brasileiro e dos lucros auferidos com o controle direto sobre a produção açucareira.” (p. 76)
“Apesar da vitória militar, as consequências das invasões seriam economicamente desastrosas para Portugal.” (p. 76)
“As exportações brasileiras encontravam, pois, a partir da segunda metade do século XVII, um poderoso concorrente no açúcar antilhano, e não apenas naquele produzido em colônias holandesas, mas também em ilhas ocupadas pela Inglaterra e pela França.” (p. 77)
“(...) Ocorreu na América, num primeiro momento, uma espécie de divisão de tarefas entre as colônias tropicais: de um lado, o Brasil produzia açúcar, enquanto as demais áreas se especializavam em outros produtos, como algodão e tabaco. (...) O resultado foi a formação de um poderoso grupo econômico nas Antilhas, que colocou em xeque o monopólio português do produto.” (p. 77)
“Assim, já na década de 1660, verificava-se no Caribe a existência de uma economia açucareira de grandes proporções, que funcionava com equipamentos mais novos e que se beneficiava de uma proximidade maior com os mercados consumidores europeus. (...) Por outro lado, o desenvolvimento da produção açucareira na região contribuiu também para o crescimento das economias nas colônias inglesas da América do Norte.” (p. 77)
“Verificou-se, pois, a organização de um inédito sistema econômico quadrangular no Novo Mundo, integrando pelo comércio as colônias de exploração antilhanas e as zonas de povoamento da América do Norte, o que permitia, inclusive, o desenvolvimento das Treze Colônias.” (p. 78)
“Todavia, para o Brasil, as consequências de todas essas transformações seriam graves e duradouras, pois de dominador absoluto do mercado, o açúcar brasileiro passa à posição de competidor. (...) Já para Portugal, os resultados seriam, do ponto de vista político e econômico, catastróficos.” (p. 78)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Oitavo capítulo. O Ciclo do Ouro (pp. 83 – 91).
“Já no final do século XVII, era evidente que os acordos assinados com o governo britânico não seriam capazes de solucionar a crise econômica decorrente da decadência da produção açucareira. A esperança voltar-se-ia, então, para as primeiras descobertas de ouro, realizadas ainda durante a década de 1690 por exploradores paulistas” (p. 83)
“Com a descoberta do ouro, teria início um novo ciclo na economia colonial, alterando-se também as relações entre Portugal e Brasil. (...) De fato, o ouro extraído do Brasil daria novo impulso aos negócios portugueses e seria parcialmente responsável (...) pelo financiamento da Revolução Industrial inglesa.” (p. 84)
“Apesar das esperanças representadas pela descoberta do ouro, a dependência de Portugal em relação à Inglaterra já era (...) irreversível, tendo sido agravada a partir da assinatura do Tratado de Methuem (...) O Tratado de Methuem representou a completa subordinação de Portugal aos interesses mercantis britânicos e a manutenção do país na órbita de influência da Inglaterra.” (p. 84)
“Com efeito, o tratado de 1703 garantiu a Portugal proteção da Inglaterra contra as investidas francesas e espanholas sobre território brasileiro.” (p. 85)
“Pode dizer que a descoberta de ouro e diamante no Brasil e a sua exploração em escala até então sem precedentes tiveram várias e profundas repercussões no mundo português. (...) conduziu uma grande percentagem da população das regiões costeiras de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro para as regiões mineiras do interior do Brasil. (...) Ao mesmo tempo que estimulava enormemente a economia colonial (...) atraía mão-de-obra escrava e livre das plantações de açúcar e de tabaco e das cidades costeiras, que procuravam um emprego mais remunerativo nas explorações mineiras.” (p. 85)
“Se as primeiras descobertas de ouro levaram para a região das minas um grande contingente de pessoas, logo atraíam a atenção e a fiscalização portuguesa. (...) Assim, já em 1700, Portugal enviou para as minas os primeiros provedores para garantir o recebimento do quinto da produção devido à Coroa, proibindo, no ano seguinte, a exportação do metal sem prova do pagamento do tributo. Em 1702, seria imposto o Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais Deputados para as Minas de Ouro, que, em linhas gerais, estabelecia as normas a que estaria submetida a região.” (p. 86)
“Ao mesmo tempo em que chamavam a atenção da Coroa, as jazidas de ouro atraíam também levas de forasteiros, vindos não só de Portugal, mas também da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro. (...) Essa afluência de “estrangeiros” provocaria ressentimento nos paulistas, que passaram a atacar os acampamentos e vilarejos onde se estabeleciam os forasteiros e dando origem à Guerra dos Emboabas, episódio que se estendeu entre 1707 e 1709.” (p. 86 - 87)
“(...) o ouro continuava a jorrar em grandes quantidades e as primeiras medidas impostas pela Metrópole se mostraram insuficientes para evitar o contrabando.(...) Assim, em 1713, houve a primeira tentativa de estabelecimento de Casas de Fundição e o ouro só poderia circular se fundido em barras com selo real.” (p. 87)
“O ciclo de mineração não ficou restrito ao ouro. Paralelamente, iniciou-se a exploração de diamantes, especialmente no Distrito Diamantino. As primeiras descobertas datam de 1729. (...) o governador foi obrigado a comunicar o achado a Lisboa e a Fazenda Real logo impôs normas rígidas sobre a região.” (p. 88)
“A mineração provocou mudanças consideráveis na vida da colônia. A ocupação do território, que desde o século XVI se dera sobretudo nas terras próximas ao litoral, agora se dirigia para o interior. (...) A própria capital – Salvador -, foi transferida para o Rio de Janeiro em 1763.” (p. 89)
“Portanto, verifica-se que a economia mineira foi responsável por transformações significativas na vida brasileira, sendo a principal delas o estabelecimento de uma civilização urbana em torno das regiões auríferas.” (p. 89)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Nono capítulo. A Ocupação do Interior (pp. 95 – 105).
“Um movimento de expansão territorial, iniciado ainda no século XVI, por meio de expedições cujos objetivos eram o apresamento de indígenas, a procura de minérios, o estabelecimento de áreas de criação de gado, ou o extrativismo na Amazônia, tinha, há muito, recuado as fronteiras da colônia para oeste.” (p. 95)
“O primeiro fluxo a ser analisado é aquele que partiu do litoral de São Paulo em direção ao interior da Capitania de São Vicente, tendo como foco de irradiação os engenhos de cana da Baixada Santista. (...) À medida que os colonos avançavam em direção ao interior, aumentavam também as resistências dos indígenas, o que deu origem a expedições, organizadas a partir de São Paulo, com o objetivo de apresamento e, se necessário, de extermínio dos nativos.” (p. 95)
“A partir do final do século XVI e início do século XVII, (...) o movimento das bandeiras tomaria novo impulso, em decorrência das dificuldades de obtenção de mão-de-obra africana, já que as guerras entre Espanha e Holanda haviam desorganizado o tráfico para as colônias da América. (...) De apresadoras de índios, as bandeiras logo passaram a buscar metais e pedras preciosas, o que levaria à descoberta das primeiras jazidas de ouro.” (p. 95 – 96)
“Além do interior de São Paulo e de Minas Gerais, a Amazônia também constituiu um foco inicial de atração. Primeiramente espanhóis (...) percorreram a região no sentido Oeste-Leste, em busca do paraíso tropical. Atrás do espanhóis seguiram (...) os ingleses e os holandeses. (p. 96)
“Uma outra fonte de infiltração no vale do Amazonas foram as ordens religiosas, em particular jesuítas e carmelitas. (...) A penetração das ordens religiosas não se limitou à região amazônica, tendo em vista que os seus propósitos confessionais (...) eram impregnados de ambições políticas. (...) Foi com esse objetivo que as ordens fundaram “missões”, não apenas na região Norte, mas também no Sul, particularmente na área que atualmente cobre as fronteiras ente Brasil, Paraguai e Argentina.” (p. 97 – 98)
“(...) áreas de criação de gado, se originaram no Nordeste brasileiro, tendo como objetivo o abastecimento dos engenhos daquela região. (...) O gado era utilizado basicamente em três funções: como forçar motriz dos engenhos, como instrumento de tração de carretas que transportavam lenha e açúcar e também para alimentação.” (p. 98 - 99)
“Os primeiros currais estabeleceram-se no interior da Bahia. A mão-de-obra era composta basicamente por indígenas. (...) O crescimento da produção na zona açucareira logo constituiria um estímulo à expansão dos currais, o que gerou conflitos entre criadores e proprietários de engenho. (...) O conflito acabou por empurrar a criação de gado cada vez mais para o Nordeste.” (p. 99)
“De qualquer forma, o crescimento cada vez maior da produção açucareira levou também ao surgimento de novas sesmarias. (...) Por sua vez, as novas sesmarias contribuíram também para a expansão das áreas de criação de gado. (p. 99 – 100)
“A ocupação da região das minas abriria uma nova fronteira para a criação de animais. A alta dos preços e a insuficiência do abastecimento incentivou a instalação de fazendas, não só no interior de Minas Gerais, mas também (...) Goiás e Mato Grosso do Sul.” (p. 101)
“(...) o interior do Paraná, de Santa Catarina e, inclusive, os pampas do Rio Grande do Sul começaram a ser também ocupados por gado oriundo das missões jesuíticas e que era comercializado em centros do interior de São Paulo. (...) Com a expansão das estâncias de gado no Sul, a produção desses artigos também seria exportada para o Norte da colônia.” (p. 101)
“Quanto ao sal, o crescimento da população no Centro-Sul da colônia levaria ao aumento do consumo. (...) Além do gado bovino e das salinas, um outro fator que contribuiu para a ocupação territorial foi a criação de equinos.” (p. 102)
“O cavalo foi reintroduzido na América pelos europeus (..) e o aumento do rebanho foi estimulado, dada a sua importância como meio de transporte. (...) Já a criação de mulas foi incentivada pelo aumento da produção mineira, que gerou a necessidade de transporte do ouro para o porto do Rio de Janeiro.” (p. 102)
“(...) A criação de animais permaneceu, ao longo de todo o período colonial, como uma das poucas atividades que não foram submetidas ao controle absoluto da Coroa, dando origem a uma camada de homens livres.” (p. 103)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Décimo capítulo. A Ruptura do Pacto Colonial (pp. 109 – 118).
“Até o final do século XVII, verificava-se na Europa o predomínio do capital comercial, em que o processo de acumulação dava-se, primordialmente, na esfera da circulação se mercadorias. (...) Dentro desse quadro, o sistema colonial exercia um papel fundamental, uma vez que garantia às burguesias metropolitanas o fornecimento de produtos que alcançavam elevados preços no comércio internacional, permitindo, dessa forma, o aumento da acumulação.” (p. 109)
“Após séculos de riqueza proveniente do comércio, a indústria finalmente assumia o predomínio da economia europeia. O desenvolvimento industrial, porém, era incompatível com a existência de monopólios. (...) a expansão da indústria requeria a conquista de mercados cada vez mais amplos, não apenas consumidores, mas também fornecedores de matérias-primas.” (p. 110)
“(...) Ao processo de desenvolvimento industrial corresponderia o início do questionamento de todos os monopólios, entre os quais se incluía, evidentemente, o pacto colonial. (...) Aliás, as investidas contra o pacto colonial não seriam conduzidas apenas por vozes ligadas aos interesses da indústria britânica. Também no Brasil houve manifestações de oposição à sua vigência.” (p. 110)
“Diante desse quadro, Portugal começaria a sofrer pressões para afrouxar as restrições que impunha ao comércio do Brasil, sua principal colônia.” (p. 111)
“O episódio da vinda da Família Real para o Brasil está diretamente ligado às guerras napoleônicas e à luta entre França e Inglaterra pela hegemonia econômica e política mundial.” (p. 111)
“Em 1806, Napoleão decide derrotar a Inglaterra pelo “Bloqueio Continental”. (...) Ainda no início de 1807, tendo em vista esses objetivos, Napoleão forçou os russos a aceitarem (...) a sua política, de que era peça fundamental o bloqueio da Europa ao comércio inglês. (...) Assim, em agosto de 1807, o governo de Lisboa recebia a nota franco-espanhola exigindo que Portugal declarasse guerra à Grã-Bretanha.” (p. 112)
“Evidentemente, Portugal não poderia resistir militarmente às forças napoleônicas, e a derrota era certa. A Inglaterra, por sua vez, não permitiria um abalo tão grande em seus interesses econômicos. Em face dessa perspectiva, a saída apontada pelos diplomatas britânicos foi a transferência da Família Real parao Rio de Janeiro. (...) Em 29 de Novembro de 1807, o Príncipe Regente D. João VI partiu com a Família Real para o Brasil.” (p. 112)
“(...) algumas medidas tinham que ser tomadas para a época em que terminasse o bloqueio na Europa, e as outras nações concorressem com a Grã-Bretanha no Brasil. Foi assim que, entre 1809 e 1810, foram assinados dois tratados, que conferiam imensos privilégios econômicos e políticos à Inglaterra. (...) O primeiro deles era, no dizer de Nelson Werneck Sodré, um modelo de perfeição quanto às concessões, pois concedia tudo, suavizando por vezes as concessões com o mito da reciprocidade. (...) O segundo versava, basicamente, sobre normas de comércio e navegação e, entre outras cláusulas, garantia aos navios ingleses o direito de pagar no Brasil as mesmas taxas que os navios portugueses pagavam nos portos britânicos.” (p. 113)
“As consequências, contudo, seriam muito mais amplas. (...) alguns setores da sociedade portuguesa tentariam, por meio da Revolução do Porto, reverter a situação, exigindo a volta da Família Real a Portugal e reimplantando o pacto colonial.” (p. 114) 
“Em face da possibilidade de reimplantação plena do pacto colonial, tomaram vulto as manifestações favoráveis à emancipação. (...) A independência viria, pois, como resultado da confluência dos interesses pessoais de D. Pedro (...) com os dos grandes proprietários de terra, empenhados em evitar as consequências de uma rebelião popular que pudesse pôr em risco seus privilégios.” (p. 115)
“Diante disso, a diplomacia britânica tratou de intermediar o reconhecimento da independência, defendendo principalmente os interesses da Inglaterra.” (p. 115)
“(...) em 1827, o Brasil assinou acordo com a Grã-Bretanha, em que, além de se comprometer a extinguir o tráfico negreiro dentro de quatro anos, garantia a manutenção dos direitos de 15% sobre as importações britânicas.” (p. 115)
Conseguia a Inglaterra, depois da independência, manter a economia brasileira submetida aos objetivos do expansionismo comercial britânico.” (p. 115)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Décimo primeiro capítulo. A Expansão Cafeeira (pp. 121 – 131). 
“(...) A extração de ouro e de pedras preciosas monopolizou a atenção da Metrópole portuguesa durante a maior parte do século XVIII. (...) O declínio da mineração acentuou-se no último quartel do século XVIII. O esgotamento das jazidas não foi acompanhado, naquele momento, por outra atividade que pudesse manter o nível de vida alcançado no auge do processo. (...) Apesar dessa decadência, (...) a mineração criou as bases para o desenvolvimento da principal atividade que a sucedeu: a cultura cafeeira.” (p. 121 – 122)
“A introdução do café no Brasil ocorreu ainda no início do século XVIII. (...) A maneira como se deu a introdução das primeiras mudas no País é incerta. (...) Vale notar que a introdução do café deu-se por contrabando de forma semelhante à saída das primeiras mudas de seringueiras da Amazônia. (...) Mesmo assim, a plantação de café se difundiria pelo território brasileiro, alcançando o Rio de Janeiro ainda em meados do século XVIII.” (p. 122 – 123)
“O crescimento do consumo mundial de café, associado à crescente urbanização e à industrialização que tomavam curso na Europa, favoreceu o desenvolvimento da cultura cafeeira. (...) Entretanto, o desenvolvimento do cultivo encontraria limitações em dois pontos fundamentais: o fornecimento de mão-de-obra e os custos de transportes.” (p. 123)
“(...) a escravidão atingiria, durante o século XIX, o seu auge, pois a expansão cafeeira exigiria um fluxo constante de mão-de-obra escrava. (...) O final do tráfico, em 1850, estimularia o comércio interno de escravos, verificando-se um deslocamento das regiões estagnadas para a região cafeeira. Devemos considerar também, como um agravante da crise de mão-de-obra, o fato de que a “vida útil” de um escravo era de aproximadamente sete anos.” (p. 124)
“Apesar das resistências dos cafeicultores, a extinção do tráfico indicava, para um futuro não muito distante, a abolição da escravatura.” (p. 125)
“Por mais que a mata pudesse ser derrubada para as novas plantações e que o problema da mão-de-obra fosse solucionado, ainda existia a restrição imposta pelos custos de transporte. (...) Até a implantação das primeiras ferrovias, o principal meio de escoamento da produção era a nula. (...) a introdução das primeiras ferrovias permitiria a superação das restrições impostas pelos meios de transporte, fazendo que o café se expandisse para uma região fértil: o Oeste Paulista.” (p. 125)
“É importante assinalar que as ferrovias seriam implantadas com técnicas e capitais britânicos, embora o governo brasileiro tenha tido uma participação direta no seu desenvolvimento, por meio da constituição de empresas, das quais era o principal acionista, e também pela concessão de aval aos empréstimos obtidos na Inglaterra.” (p. 126)
“Além da implantação do transporte ferroviário, um outro fator contribuiria para esta grande expansão cafeeira: trata-se da introdução da mão-de-obra imigrante nas novas regiões produtoras. (...) Na verdade, aproveitando-se da desestruturação da agricultura europeia, a partir de meados do século XIX (...) os produtores paulistas iniciaram o aliciamento de famílias para as suas plantações de café.” (p. 126 – 127)
“Viu-se que a introdução do transporte ferroviário e a implantação do trabalho de imigrantes viriam a eliminar os dois grandes entraves à expansão da agricultura cafeeira. A partir de então, o café tornar-se-ia o principal produto da economia brasileira. (p. 128)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Décimo segundo capítulo. A Abolição: Consequências (pp. 135 – 146). 
“Apesar do papel central exercido durante a época mercantilista, ao iniciar-se o século XIX, o tráfico negreiro e a própria escravidão seriam postos em xeque. (...) Passou-se a criticar a escravidão em nome da moral, da religião e da racionalidade econômica. Descobriu-se que o cristianismo era incompatível com a escravidão; o trabalho escravo menos produtivo do que o livre; e a escravidão uma instituição corruptora da moral e dos bons costumes.” (p. 136)
“Foi com esses argumentos que a escravidão e o tráfico passaram a ser questionados, especialmente pela Inglaterra, que pretendia remover todos os obstáculos ao avanço triunfante do capitalismo industrial, entre os quais se incluíam aqueles que limitavam a expansão do mercado.” (p. 136)
“O combate ao tráfico negreiro tornar-se-ia, doravante, um problema internacional. Os reflexos no Brasil não demorariam a se fazer sentir, tanto que, dos tratados de 1810 já constava a exigência de abolição gradativa do comércio de escravos, cláusula que foi renovada no acordo de 1827, pelo qual, entre outras medidas, o governo brasileiro se comprometia a acabar com o tráfico em 1831.” (p. 136)
“Contudo, a oposição dos grandes proprietários seria imensa. (...) os grandes proprietários rurais de forma alguma poderiam concordar com a adoção de medidas que, a médio prazo, provocariam a extinção do escravismo, sustentáculo de seu poder econômico e, consequentemente, de seu domínio político. (...) Em face da pressão dos grandes proprietários de terras, a cláusula do Tratado de 1827 que determinava a extinção do tráfico negreiro em 1831 tornar-se-ia letra-morta.” (p. 136 - 137)
“A Inglaterra não aceitaria o descumprimento do acordado, passando a tomar o tráfico como pirataria. (...) Assim, até meados da década de 1840, a questão permaneceria insolúvel: de um lado, a Inglaterra, que exigia o cumprimento do acordo que determinava a extinção do tráfico, (...) de outro, o governo brasileiro que, controlado pelos grandes proprietários, não se preocupava em cumprir a lei.” (p. 137)
“(...) a eliminação do tráfico significava, a médio prazo, o fim da escravidão. Os grandes fazendeiros, especialmenteaqueles ligados à agricultura cafeeira, passaram, então, a exigir soluções alternativas para o problema da obtenção de braços para a lavoura.” (p. 138)
“Como já foi assinalado, a substituição do escravo pelo trabalhador estrangeiro seguiu, num primeiro momento, a proposta feita pelo Senador Nicolau de Campos Vergueiro. Contudo (...) logo surgiram atritos entre proprietários de terras e trabalhadores, devido aos expedientes usados pelos fazendeiros para tornar a dívida dos trabalhadores perpétua. (...) Assim, rebeliões contra os maus-tratos eram frequentes, dado o inconformismo dos estrangeiros com a condição a que eram reduzidos.” (p. 139)
“A extinção do escravismo era, portanto, uma questão de tempo. Mas, enquanto a escravidão não fosse oficialmente abolida, haveria necessidade de se encontrar uma solução para a carência de braços na agricultura. Esta viria, finalmente, por meio da implantação do assalariamento.” (p. 140)
“(...) Desde a década de 1850, o Brasil vinha assistindo a um processo de modernização. (...) Os vultosos capitais comprometidos num comércio que originara algumas das maiores e mais sólidas fortunas brasileiras achavam-se agora disponíveis. Além disso, a lei Eusébio de Queiroz produzira uma relativa normalização nas relações entre Brasil e Inglaterra. O resultado foi um crescimento extraordinário e uma alteração na própria estrutura econômica. Surgiram bancos, indústrias e empresas comerciais, além de ter havido a ampliação dos meios de comunicação e de transportes.” (p. 141)
“O movimento abolicionista conheceria, a partir de então, um grande crescimento, estimulado pelo fato de, nas zonas urbanas, a mão-de-obra cativa não ser mais indispensável. (...) Todavia, a luta pelo fim da escravidão mostrar-se-ia longa, pois embora o movimento abolicionista crescesse, as forças escravistas ainda lograriam algumas vitórias.” (p. 142)
 
“A solução final viria em 1888, com a assinatura da Lei Áurea (...) a lei que aboliu a escravidão do Brasil. (...) As consequências porém, seriam amplas. Tendo perdido a sua principal base de apoio, o Império seria posto abaixo apenas um ano e meio depois do fim da escravidão, e as camadas dominantes encontrariam na República uma nova forma de organização política que lhes permitisse defender os seus interesses.” (p. 143)
“Um último aspecto a se considerar diz respeito à própria deformação das mentalidades provocada pela escravidão. (...) A escravidão deixava, pois, sua marca sobre o futuro, traduzida em racismo e exclusão social.” (p. 144)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Décimo terceiro capítulo. O Modelo Primário-Exportador (pp. 149 – 160). 
“(...) a economia brasileira – como, de resto, toda a economia latino-americana – organizar-se-ia, entre o final do século XIX e a crise de 1929, de acordo com o modelo primário-exportador. Ou seja: apesar de formalmente independente, o país mantinha a sua produção voltada para o fornecimento de artigos primários destinados a abastecer o mercado externo.” (p. 149)
“(...) É necessário remontar ao período (...) correspondente à primeira fase da Revolução Industrial. Esta constituiu-se numa das mais extraordinárias transformações da História, pois, pela primeira vez, o homem não mais estaria sujeito às intempéries e às variações climáticas para conseguir prover a sua subsistência.” (p. 149)
“Portanto, para se compreender a extensão das transformações provocadas pela revolução industrial, deve-se atentar (...) para os reflexos que o fenômeno engendrou nas economias agrárias ou naquelas em que havia pouco avanço tecnológico. (...) a atividade industrial permite romper os limites enfrentados pelas economias agrárias e aumentar a produtividade. O resultado é o aprofundamento da divisão de trabalho por meio de uso de máquinas cada vez mais complexas em maior quantidade.” (p. 150)
“A partir de então (...) o mundo assistiria ao processo de aprofundamento da Revolução Industrial, que entraria em sua segunda fase – correspondente, como se sabe, ao desenvolvimento do setor de transportes e das indústrias química, petrolífera e de base. Nessa etapa, consolidou-se, do ponto de vista político e ideológico, o livre-cambismo. Ao mesmo tempo, ampliou-se o sistema de divisão internacional do trabalho baseada no mercado mundial, em que a especialização não se limitava mais apenas aos trabalhadores de um mesmo setor, mas incorporava a esse sistema áreas e países inteiros.” (p. 150)
“(...) podemos resumir as características do sistema econômico mundial a partir da segunda metade do século XIX da seguinte forma: Crescimento econômico acentuado em muitos países que integram o sistema capitalista; Dinamização demográfica; Formação e expansão de um fundo de conhecimentos técnicos transmissíveis; Internacionalização crescente das economias industrializadas europeias e dos países exportadores de produtos primários; Desenvolvimento de países distantes da Europa; Aumento das transações financeiras internacionais; Crescimento do fenômeno do imperialismo e surgimento do neocolonialismo.” (p. 151 – 152)
“Não obstante a autonomia política ter sido obtida em 1822, a economia brasileira continuou reproduzindo as características básicas do modelo colonial ao longo de quase todo o século XIX. Tais características podem ser assim resumidas: latifúndio, monocultura, produção em larga escala, mercadorias tropicais destinadas aos países temperados, abastecimento de manufaturas por meio de importações e mão-de-obra escrava. (p. 154)
“Embora tenha a economia de tipo colonial persistido muito além de 1822, a História Econômica tende a classificar diferentes etapas na análise da economia brasileira daquele século. (...) por exemplo, a divisão adotada por João Manuel Cardoso de Mello: economia colonial (até 1822); economia mercantil-escravista cafeeira nacional (1822 a 1888); economia capitalista primário-exportadora (1888 a 1930).” (p. 155)
“No caso da economia mercantil-escravista cafeeira nacional, estava ela baseada na acumulação de capital feita ainda nos tempos coloniais. (...) O comissário de café foi o principal agente na organização e na centralização de capital que facilitou a criação das primeiras fazendas. (...) Superados os problemas da montagem do cafezal, as condições existentes, do ponto de vista da demanda, eram por demais favoráveis ao pleno desenvolvimento da cultura.” (p. 156)
“À medida que a produção brasileira ia se expandindo, a demanda internacional se alargava. Isto porque a produção em larga escala permitia o barateamento dos preços. (...) Essa produção em larga escala permitiu que o Brasil se tornasse o maior exportador já em 1830.” (p. 156)
“O primeiro grande obstáculo para a continuidade da expansão da economia cafeeira viria em 1850, com a extinção do tráfico negreiro. (...) A superação dessa carência de mão-de-obra pode ser explicada pela atuação de dois fatores: a introdução de inovações tecnológicas e a imigração.” (p. 156 – 157)
“O desenvolvimento do capitalismo na economia cafeeira contribuiu para o declínio político dos fazendeiros escravistas, centralizados na região do Vale do Paraíba e principais sustentáculos do regime monárquico. A abolição da escravatura, em 1888, foi a gota d’água que fez transbordar os últimos resquícios do equilíbrio de forças que mantinham o Império.” (p. 158)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Décimo quarto capítulo. A Consolidação Republicana e a Crise da Economia Cafeeira (pp. 163 – 173). 
“A implantação da República, em 1889, não encontrou maiores resistências por parte dos grandes proprietários rurais, notadamente aqueles vinculados à economia cafeeira. (...) Apesar do apoio das camadas dominantes e da total ausência de manifestações populares, a implantação do regime republicano não foi suficiente para promover a superação das contradições que se arrastaram desde a segunda metade do séculoXIX. (...) Com efeito, um dos primeiros problemas que vieram à tona após a Abolição foi o precário funcionamento do sistema financeiro.” (p. 163)
“Uma das primeiras medidas tomadas por Rui Barbosa, Ministro da Fazenda do Governo Provisório, foi a autorização para emissão de moeda em grande volume e a adoção de políticas que propiciassem a formação de um mercado de capitais, mediante o lançamento de ações para o financiamento de empresas. (...) Essas medidas, porém, provocaram uma febre especulativa e, já no início de 1891, o Estado brasileiro se veria diante de uma crise financeira de enormes proporções, conhecida como Encilhamento.” (p. 164)
“Assim, ao final de 1891, a situação econômica era caótica, com a ruína e a falência de inúmeras empresas, a queda do valor das ações na bolsa, inflação, crise aguda na balança de pagamentos, retração dos investimentos estrangeiros e desvalorização da moeda. Não bastassem essas dificuldades, apareciam (...) os primeiros sinais de uma crise de superprodução do café. (...) O problema foi agravado pelas disputas políticas entre os diversos grupos que haviam feito a República. (...) Essas disputas geraram inúmeros conflitos, responsáveis, em grande medida, pela instabilidade política dos primeiros anos da República. (...) Dentre esses, os mais importantes foram: a Revolução Federalista (1893 – 1895); a Revolta de Canudos (1893 – 1897).” (p. 165)
“Embora Prudente de Morais (1894 – 1898) tivesse conseguido esmagar esses movimentos, isto só foi possível a um preço muito alto, tanto em vidas humanas como em gastos militares. A República, que nascera sem grandes conflitos, via-se agora, menos de 10 anos depois, diante de uma crise econômica sem precedentes. (...) Dessa forma, quando Prudente de Morais encerrou seu mandato, a situação financeira do país era extremamente grave” (p. 166)
“Assim, quando Campos Salles (1898 – 1902) assumiu a Presidência, o País estava à beira da bancarrota. (...) Ao governo, portanto, não restou alternativa senão curvar-se às exigências britânicas e adotar medidas duras para combater a crise.” (p. 167)
“Logo no início, o governo Campos Salles contratou com os grandes bancos estrangeiros, liderados pela Casa Rotschild, um empréstimo conhecido com Funding Loan. Pelo acordo, os credores aceitavam conceder três anos de moratória para o pagamento das dívidas brasileiras. (...) Em contrapartida, foram decretada medidas econômicas restritivas, entre elas a valorização da moeda, corte nas despesas públicas, fim de qualquer estímulo às indústrias, aumento dos impostos, bem como queima de papel-moeda em quantidades equivalentes às emissões do Funding. (...) A ,partir de então, o Brasil tornou-se um campo seguro para investimentos externos e os efeitos das medidas logo se fizeram notar com a entrada maciça de capitais externos. Esses recursos foram aplicados principalmente em obras de infraestrutura e no setor de serviços.” (p. 167)
“É necessário salientar que a adoção dessas medidas foi possível a partir do absoluto controle do Estado por parte das oligarquias cafeeiras e que foi consubstanciada num arranjo político que se convencionou chamar de Política dos Governadores. (...) O governo central sustentaria assim os grupos dominantes nos Estados, enquanto eles, em troca, apoiariam a política do presidente da República. (...) A fraude eleitoral, notadamente nos municípios do interior do Brasil, tornou-se, assim, institucionalizada, e um de seus principais instrumentos foi o coronelismo.” (p. 168)
“A euforia com os lucros gerados pelo café era tão grande que o governo adotou uma política de incentivo oficial à imigração, com o propósito de obter braços supostamente mais dóceis para a lavoura Cafeeira. (...) Os altos preços atingidos pelo café no mercado internacional (...) incentivaram o aumento do cultivo em outros países e, já em 1906, o setor conheceria a primeira crise de superprodução, com a saturação do mercado consumidor e formação de grandes estoques.” (p. 169)
“Diante da magnitude da crise, os representantes dos estados produtores de café reuniram-se na cidade paulista de Taubaté, onde se deliberou a adoção de uma política de valorização do produto, por meio do financiamento externo dos estoques.” (p. 169)
“Com o final do conflito mundial, em 1918, o mercado consumidor voltou a crescer, e um novo surto de prosperidade verificou-se na economia Cafeeira. (...) O resultado foi a necessidade de novas medidas de valorização em 1924, quando foi criado o Instituto do Café de São Paulo. Dois anos depois, o problema estava de volta, estimulado pelo aumento da concorrência estrangeira e pelo acúmulo de estoques praticamente invendáveis.” (p. 170)
“Ficava clara a fragilidade de uma economia assentada praticamente sobre um único produto agrícola, cuja demanda era (...) inelástica e gerava benefícios exclusivamente para uma oligarquia.” (p. 171)
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Décimo quinto capítulo. A Gênese da Industrialização Brasileira (pp. 177 – 187). 
“O modelo de colonização adotado pelos portugueses no Brasil deixou marcas profundas em nossa estrutura econômica. (...) convivendo com o trabalho escravo até 1888, nosso país não se viu estimulado a criar uma estrutura industrial.” (p. 177)
“(...) As restrições impostas pelo pacto colonial impediram qualquer impulso manufatureiro no Brasil. (...) A abertura dos portos e a revogação do alvará de janeiro de 1785, assinando por Dona Maria I, que ordenara o fechamento de todas as fábricas na colônia, corresponderam, no dizer de Euclides da Cunha, aos efeitos de duas revoluções liberais.” (p. 177)
“Como se vê, a indústria brasileira era, em meados do século XIX – ou seja, exatamente na época da Segunda Revolução Industrial -, insignificante. De qualquer forma, assim como na Europa, o setor têxtil teve uma presença pioneira e ocupou uma posição de destaque nos primeiros momentos do processo de crescimento industrial. (...) Somente a partir da década de 1880 é que a industrialização brasileira conheceria um surto de crescimento vigoroso, aproveitando-se, para isso, da estrutura econômica e social que se formava em torno da atividade cafeeira.” (p. 178)
“Verifica-se que o café constituiu o principal motor da acumulação capitalista no Brasil, no período compreendido entre a década de 1880 e a Revolução de 1930. (...) Com efeito, a expansão da economia cafeeira deu grande impulso à urbanização no Estado de São Paulo, sobretudo na Capital e na cidade de Santos. Este processo propiciou a implantação de diversas empresas de serviços públicos, como de água e esgoto, bondes, eletricidade, gás e telefones.” (p. 179)
“A imigração para o trabalho na lavoura foi outro fator que deu novo impulso ao desenvolvimento econômico. Ela formou uma imensa massa de trabalhadores assalariados, que viria a se constituir, posteriormente, no mercado consumidor da indústria nacional, nos primeiros operários e, em alguns casos, também nos primeiros industriais.” (p. 180)
“Um último ponto que merece destaque na caracterização da economia cafeeira é o impacto das exportações de café, o principal item de pauta de comércio exterior, nas políticas fiscais e cambiais do Brasil. De fato, até o início da Segunda Guerra Mundial, o imposto de importação foi a principal fonte de recursos do governo federal.” (p. 180)
“A Proclamação da República, em 1889, deu grande impulso à industrialização. Os ideais positivistas de “Ordem e Progresso” apontavam para a indústria como a impulsionadora do desenvolvimento nacional. (...) Dentre as primeiras políticas destinadas a incentivar a industrialização do País, podemos destacar a tentativa de instituir um mercado de capitais, no período do Encilhamento. (...) O resultado desse processo foi a bancarrota geral e uma inflação galopante, graças à emissão desenfreada de algumas casas bancárias.” (p. 181)
“Apesar desse fracasso, a industrialização brasileira viria a ganhar impulso por duas brechas deixadaspela estrutura econômica da época: as dificuldades de caixa do governo e a queda dos preços do café no mercado externo. Para tanto, contribuiria a crise da Bolsa de Nova York de 1893 e a superprodução do produto, já verificada em 1892.” (p. 181)
“A solução adotada pelo governo federal para reduzir os prejuízos da burguesia cafeeira e equilibrar a balança comercial foi a desvalorização da moeda e a elevação das alíquotas de importação. (...) No entanto, há de considerar que as discussões sobre a política aduaneira a ser adotada pelo País encontraram fortes obstáculos resultantes das pressões dos protecionistas e livre-cambistas. (...) As tarifas de importação, mesmo que involuntariamente, acabaram servindo de barreira protecionista para a incipiente indústria, pois, (...) a maior parte das aquisições brasileiras no exterior referiam-se aos artigos manufaturados, quem eram alvo predileto de fisco.” (p. 181 - 182)
“(...) o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, veio a dar impulso extra ao desenvolvimento da indústria. (...) Entretanto, com a recuperação da capacidade de compra do País no exterior, resultante do fim da guerra e da melhoria dos termos de troca, o crescimento industrial sofreu um grande refluxo durante a década de 1920.” (p. 182 – 183)
“Um outro aspecto que explica as dificuldades sofridas pela indústria, a partir de 1922, foi a valorização e a estabilidade da taxa de câmbio. (...) Em síntese, a melhora na capacidade de importação do País ainda se constituía no principal obstáculo à industrialização substitutiva no Brasil.” (p. 184)
“(...) A implantação da indústria no Brasil deu-se de forma autônoma e espontânea, não tendo o Poder Público, até 1930, interferido deliberadamente em sua defesa e incentivo. Por outro lado, a falta de um sistema de crédito para os investimentos de maior vulto dificultou ainda mais a sua expansão.” (p. 185)

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